• Nenhum resultado encontrado

As tradições populares como factor de desenvolvimento turístico local no concelho de Chaves

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "As tradições populares como factor de desenvolvimento turístico local no concelho de Chaves"

Copied!
145
0
0

Texto

(1)

AS TRADIÇÕES POPULARES COMO FACTOR DE

DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO LOCAL NO

CONCELHO DE CHAVES

Dissertação de Mestrado em Turismo (Gestão)

MARIA ADELAIDE MADUREIRA CABELEIRA

(2)

As Tradições Populares como factor de desenvolvimento

turístico local no concelho de Chaves

Dissertação de Mestrado em Turismo (Gestão)

Maria Adelaide Madureira Cabeleira

UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

PÓLO DE CHAVES

Tese de Mestrado com vista à obtenção do grau de Mestre em Turismo (Gestão) na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro – Pólo de Chaves pela candidata Maria Adelaide Madureira Cabeleira, sob a coordenação do Professor Doutor Artur Carlos Crespo M. Cabugueira.

(3)

Agradecimentos

Como todos nós sabemos é sempre ingrata a tarefa de um agradecimento,

principalmente, quando se sente que esta corre o risco de ter muitas omissões, devo no entanto, deixar aqui expresso o meu reconhecimento a todos aqueles que, desde a primeira hora, me deram apoio, solidariedade e estímulo.

A todos vós o meu profundo agradecimento.

Ao professor Dr. Artur Carlos Crespo Martins Cabugueira, pela forma como orientou a execução deste trabalho, bem como pelos incentivos e confiança que sempre me transmitiu.

À minha colega Emídia pelas suas sugestões apresentadas, pela leitura e revisão do trabalho, bem como o seu apoio que sempre me manifestou.

A todos os amigos para quem durante este ano estive menos disponível.

Finalmente o meu reconhecimento muito especial, à minha mãe e restante família pelo tempo que não lhes dediquei.

(4)

Resumo

Com este projecto de investigação pretendemos compreender a importância das tradições populares e até que ponto estas podem desempenhar um papel activo no desenvolvimento local.

A nossa amostra consiste nas freguesias de: Calvão - Castelões; Curalha; Lamadarcos - Vila Frade e Seara velha. A nossa metodologia centra-se na análise de um estudo de caso e na análise qualitativa do material recolhido. Para isso, as técnicas utilizadas foram a observação participante, entrevista semi-estruturada e a análise documental.

As tradições populares, com a sua componente lúdico-cultural podem funcionar como um produto turístico, contribuindo assim para o desenvolvimento cultural da região, apostando numa oferta de turismo rural e comunitário, aposta essa que terá de contar com o interesse das entidades públicas e privadas com interesse no turismo no concelho de Chaves.

É neste sentido que o projecto procurará dar uma resposta, tendo em conta todo o processo dinâmico e muito próprio existente nesta região, pois o futuro destas e outras povoações, passará pela preservação das tradições que se estão a perder cada vez mais.

Com base nos resultados obtidos retiramos algumas conclusões, das quais destacamos: as tradições populares podem ser um factor de desenvolvimento local, através de uma recreação comunitária, desenvolvendo uma oferta turística, sustentada na região e respectiva transformação da sua realidade.

Palavras-Chave – Tradições Populares; Desenvolvimento Local; Cultura; Concelho Chaves; Turismo

(5)

Abstract

With this research we want to understand the importance of folk traditions and to what extent can they play an active role in local development.

Our sample consists of the parishes: Calvão - Castelões; Curalha; Lamadarcos - Vila Frade and Seara Velha. The methodology consists on examining a case study and the qualitative analysis of the collected material. For this, the techniques used were participant observation, semi-structured interviews and documentary analysis.

Popular traditions, with its cultural-entertainment component, may function as a tourism product, thus contributing to the cultural development of the region and investing in rural and community tourism, such commitment is only possible with participation of public and private entities with interest in tourism in this region.

In this sense, this project will try to give an answer, considering the dynamic and present process in the region, because the future of these and other villages will include the preservation of the traditions that are being lost.

Based on the results obtained we conclude that popular traditions can be a factor in local development through community recreation, developing a sustained touristic offer, sustained in the region and in the transformation of their reality.

(6)

Índice Geral

Agradecimentos ………. I

Resumo ……… II

Abstract ………. III Índice geral ……… IV Índice de figuras ……… VII Índice de fotografias ………. VII Glossário de siglas ………. VIII

Introdução ……….

1

Capítulo I – Contextualização do estudo ………

4

1.1 – A Problemática ……… 4

1.2 – Objecto de estudo ………. 5

1.3 – Principais questões de investigação ………. 5

1.4 – Objectivos de investigação ………. 5

1.5 – Limitações de estudo ………. 6

Capítulo II – Revisão bibliográfica

………. 7

2. 1-

Cultura

………. 7

2.1.1 - Algumas considerações históricas sobre o termo cultura ………. 7

2.1.2 – Conceito de cultura ………. 8

2.1.3 – Cultura e diferenças culturais ………. 10

2.1.4 – Concepções de cultura ………. 13 2.1.5 – Cultura popular ………. 14 2.1.6 – Identidade cultural ……… 19 2.1.7 – Património cultural ………. 21 2.1.8 – Tradição ………. 26 2.1.9 – Tradições populares………

(7)

2.1.10. – Animação e Tradições Populares ………. 27

2.1.11. – A Cultura e o Turismo……… 34

Capítulo III - Metodologia de Investigação……….

38

3.1 – Metodologia ………. 38 3.1.1. – Método ………. 39 3.1.2. - Estudo de Caso ……… 39 3.1.3. – Análise qualitativa ………. 40 3.2 – Técnicas utilizadas ………. 41 3.2.1. – Análise documental ………. 41 3.2.2. – Observação participante ………. 41 3.2.3. – Entrevistas ……… 42

Capítulo IV – Enquadramento Contextual……….

45

4.1. – Unidade de análise ………. 45

4.1.1. – Caracterização geográfica……… 45

4.1.1.1. – Caracterização territorial ……… 46

4.1.1.2. – Caracterização demográfica ……… 47

4.1.1.3. – Acessibilidades ……… 48

4.1.1.4. – Património cultural e natural ……… 48

4.1.1.5. – Indústria ………. 50

4.1.1.6. – Turismo ……… 50

4.1.1.7. – A cultura em Chaves ………. 51

4.1.1.8. – Nível de instrução ……… 53

4.1.1.9. – Breve caracterização das freguesias da amostra ……… 54

(8)

5.1 – Análise crítica dos dados ………. 65

5.1.2. – Tradições populares do concelho de Chaves ………. 67

Capítulo VI -Considerações Finais ……….

73

6.1. – Propostas e sugestões ……… 75

Referências bibliográficas ……… 79

Anexos

84

1. Alguns indicadores de tradições populares (artesanato, agricultura tradicional,

literatura popular de tradição oral, festas e romarias, gastronomia, medicina popular, jogos populares, festividades cíclicas e outras tradições populares).

Apêndices

120

1.Entrevista realizada ao professor de História – José Alfredo Paulo Faustino

121 2. Entrevista realizada ao Presidente da Junta de Calvão.

124 3. Entrevista realizada ao Presidente da Junta de Curalha

127 4. Entrevista realizada ao Presidente da Junta de Lamadarcos

130

(9)

Índice de Figuras

Figura 1 – Mapa com a localização de Chaves

Índice de Quadros

45

Quadro n.º 1 – Resumo de categorias de tradições populares do concelho de

Chaves

68

Índice de Fotografias

Fotografia 1 – Igreja de Calvão 54

Fotografia 2 – Cruzeiro de Castelões 58

Fotografia 3 – Castro de Curalha 59

Fotografia 4 – Casa de Lamadarcos 60

Fotografia 5 – Igreja Paroquial Vila Frade 62

Fotografia 6 – Santo padroeiro Santiago Seara Velha 63 Fotografia 7 – Habitante de Castelões a fazer na meia 85 Fotografia 8 – Andor da Sr.ª do Amparo de Calvão 90

Fotografia 9 – Confecção do Pão 92

Fotografia 10 – A tenderem o Pão no forno de Castelões 93 Fotografia 11 – Pão saído do forno - Calvão 93

Fotografia 12 – Forno do Povo - Castelões 94

Fotografia 13 – Ervas aromáticas – Seara Velha 96

Fotografia 14 – Popular a assar castanhas 103

Fotografia 15 – Sino da Igreja 105

(10)

Lista de Siglas

AMU –

Áreas Mediamente Urbanas

APR –

Áreas Predominantemente Rurais

APU –

Áreas Predominante Urbanas

ICOM –

Conselho Interno de Museus

ICOMOS –

Conselho Internacional de Monumento e Sítios

INE –

Instituto Nacional de Estatística

NUTS – Nomenclaturas de unidades territoriais para fins estatísticos

UNICER –

União Nacional Indústria e Cervejas

UNESCO –

Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura

UTAD –

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

(11)

Introdução

A maioria das características que nos identificam, enquanto elementos pertencentes a um determinado grupo social e a um local específico, é sedimentado através dos tempos e transmitido por outros indivíduos já pertencentes a um grupo, família, vizinhos, escola, trabalho, etc.

É dessa comunidade que recebemos grande parte dos testemunhos materiais (utensílios, objectos, máquinas) e as memórias intangíveis ou imateriais (hábitos e rituais). Esses testemunhos fazem parte do património que herdamos ou seja, o património cultural e histórico que recebemos como herança dos nossos antepassados.

Mas a herança cultural e histórica, como qualquer outra pode e deve ser acrescentada, pois cada geração é responsável por juntar-lhes as marcas do seu tempo, assim como a cultura, a tradição e o património cultural sendo estas expressões de identidade comunitária que vão de alguma forma sofrendo algumas alterações com o decorrer dos tempos.

Tendo como tema principal desta nossa investigação, as Tradições Populares, como factor de desenvolvimento turístico local, (limitamo-nos a algumas, as que, depois de uma ampla investigação exploratória, nos levaram à conclusão de que seriam as que estavam mais presentes no contexto do concelho de Chaves).

Devemos empenhar-nos para que as tradições não caiam no esquecimento das populações mais jovens, sendo assim transmitidas de geração em geração, passando então a conhecer melhor os verdadeiros tesouros bem guardados dentro do sentimento popular.

Tendo nascido e vivido durante muito tempo na aldeia de Castelões, muitas dessas tradições foram para nós interessantes.

De qualquer forma, passamos por certas e determinadas tradições, que nos marcaram a nível pessoal.

(12)

Em toda e qualquer sociedade a educação tem um papel fundamental, dizemos muitas vezes que uma reflecte a outra. Através da educação a sociedade adquire regras e é sob o respeito destas, que todos os membros vivem, sendo portanto, muito sociais.

O saber dado pela escola é também um factor de desenvolvimento, pois, novos conhecimentos satisfazem novas necessidades e trazem necessariamente o progresso. É com muito orgulho nosso, que tais tradições, ainda permanecem na nossa memória, desde as crenças, lendas, contos, rezas, orações, superstições, adivinhas etc.

Com esta investigação pretendemos de alguma forma contribuir para que pelo menos, uma pequena parte da nossa identidade não fique no esquecimento, permitindo, assim, que algumas tradições populares sejam aproveitadas para alguns fins turísticos.

Quisemos saber quais as tradições populares mais dominantes no concelho de Chaves, qual o seu valor para a comunidade e o que tem sido feito de forma a dar-lhes continuidade, não facilitando assim o seu desaparecimento.

A nossa amostra é composta por quatro freguesias do concelho de Chaves com número de população idêntica, de acordo com os Censos de 2001 do INE (Instituto Nacional de Estatística) situando-se estas em vários pontos do concelho.

- Do Noroeste flaviense a freguesia de Calvão composta por Calvão e Castelões; - Da ribeira flaviense: Curalha;

- Da veiga flaviense: Lamadarcos composta pela mesma e Vila Frade; - Do Noroesteflaviense: Seara Velha.

Apresenta-se, de seguida, o resultado de um ano de trabalho que terminou neste trabalho de Investigação. Antes de mais, fazemos uma síntese da estrutura do trabalho, sendo este composto por seis capítulos.

(13)

O primeiro capítulo trata da contextualização do tema, da apresentação, da problemática a ser estudada, seguida dos objectivos do estudo a realizar.

O segundo capítulo refere-se à revisão bibliográfica, no qual se fazem algumas considerações históricas, se apresentam os conceitos e concepções sobre o termo cultura, definições de tradição e tradições populares.

No terceiro apresenta-se a metodologia aplicada, os métodos e técnicas usados para a obtenção de dados, para que esta tese fosse elaborada.

No quarto capítulo é abordada a unidade de análise, dando ênfase ao concelho de Chaves, as aldeias da amostra, assim como os dados resultantes do trabalho de campo e de toda a pesquisa.

No quinto capítulo apresenta-se a análise de dados recolhidos através de técnicas de investigação adoptadas.

No sexto capítulo apresentam-se as considerações finais e por fim algumas propostas.

Consideramos que dentro deste tema há muito ainda a investigar, pois devido à sua abrangência, foi preciso uma fase exploratória, tendo algum tempo sido dedicado ao trabalho de campo e com algum poder de síntese para poder apresentar resultados de bastante informação recolhida.

Aconselhamos pois, a quem desejar optar por uma investigação ligada às tradições populares, a selecção de apenas umas das categorias, e aí basear toda a sua atenção. De qualquer forma é um tema bastante interessante e vale a pena!

(14)

Capítulo I - Contextualização do Estudo

1.1 –

A Problemática

Uma boa parte das aldeias estão em risco de desaparecer. Alguns esforços têm sido feitos no sentido de inverter essa tendência. O desenvolvimento das economias, das vias de comunicação, da rede escolar, do apoio às famílias, etc.

As áreas rurais do país representam mais de 80% do território e nelas vive mais de um terço da população. Encerram um grande e diversificado potencial de recursos naturais, humanos e culturais, mas são também afectadas por importantes insuficiências em termos de desenvolvimento económico e social e de acesso às condições de suporte à vida das pessoas e à actividade das empresas. Tal como acontece nas outras regiões do sul do mediterrâneo e ibérico, em Portugal os contrastes de desenvolvimento entre as áreas urbanas e as áreas rurais são acentuados, em desfavor destas últimas.

Pelas razões objectivas assinaladas, mas também por opção, as políticas de desenvolvimento rural têm vindo a ocupar em Portugal um lugar reforçado na luta por uma sociedade territorialmente mais equilibrada e saudável.

Contudo, uma das facetas que não pode ser desprezada nas aldeias é a da valorização das Tradições Populares. É de salientar que muitas destas tradições perdem o risco de se perderem com o passar do tempo, desde (contos, adivinhas populares, ditos populares e diversas tradições orais). É uma grande perda para o património cultural da humanidade se estas tradições não forem salvaguardadas. Em muitas aldeias, poucas são já as tradições que existem e é como diz o ditado “Tradição já não é o que era”.

A valorização da cultura tem vários caminhos. Um deles pode ser o das Tradições Populares, o que nelas existe e o uso que se lhes pode dar.

(15)

1.2 – Objecto de Investigação

O presente trabalho tem por objecto de estudo, as Tradições Populares no concelho de Chaves.

1.3 – Principais questões de investigação:

Pergunta de partida:

Poderão as Tradições Populares ser um factor de desenvolvimento cultural e turístico no concelho de Chaves?

As tradições populares apoiadas por uma promoção qualificada que zele pela qualidade, genuidade e tradição, podem desempenhar um papel importante no desenvolvimento de uma região.

Até que ponto, podem as tradições populares contribuir para o desenvolvimento turístico do concelho, assim como a sua mercantilização, revitalização, são susceptíveis de atrair mais pessoas à própria localidade?

1.4 –

Objectivos de Investigação

Este estudo de investigação possui como objectivos principais a avaliação do ponto de vista qualitativo do interesse e motivação das associações locais, associações estas, como a autarquia e entidades públicas e privadas, que estejam interessadas no sector do turismo da região, implementando assim roteiros tradicionais.

Os Roteiros incluem cozer o pão no forno comunitário, matança do porco, chega de bois, artesanato, literatura popular de tradição oral, festas e romarias, medicina popular e festividades cíclicas.

O interesse neste sector tem por objectivo dar uma dinamização cultural justificada nas tradições orais e populares do concelho a fim de revitalizar o sector turístico da região,

(16)

aproveitando, assim, avaliar o grau de importância destas tradições para a comunidade onde se encontram inseridas e qual o seu estado actual.

1.5

– Limitações de estudo

Ao longo da realização desta investigação, uma das dificuldades que encontrámos foi o facto deste produto turístico estar pouco desenvolvido e pouco divulgado, tornando-se assim mais difícil o seu estudo e a sua concretização prática.

Além de mais, temos ainda muito pouco suporte escrito, pois muitas tradições já se perderam no tempo, embora haja algumas memórias vivenciadas das pessoas da terra, as quais parte delas estão a ser trabalhadas para este projecto.

É de referir também que o sucesso de um desenvolvimento turístico requer uma certa dinamização de processos, através de actividades e/ou técnicas capazes de potenciar e promover um turismo que estimule os turistas para a participação na descoberta de locais, monumentos, sítios e tradições.

Sendo assim, a rota que vamos propor, muito provavelmente não irá ser aplicada. Quem sabe se, futuramente, se poderá tentar chegar a um acordo com a Câmara Municipal de Chaves, inserindo-a, em programas de desenvolvimento turístico ou rotas temáticas.

Para que tal aconteça é necessário haver uma consciencialização e participação activa por parte da colectividade na gestão do seu próprio futuro, conquistando, assim, uma certa autonomia. Só que esta autonomia não surge de uma forma natural, espontânea.

(17)

Capítulo II – Enquadramento Teórico - Conceptual

2.1. - Cultura

2.1.1. – Algumas considerações históricas sobre o termo Cultura

Antes de referir as Tradições Populares como elo de ligação à parte recreativa, acho importante reflectir sobre os termos como cultura, evolução histórica do conceito, diferenças culturais e vários tipos de cultura.

Cultura é porventura um dos conceitos mais difíceis de definir, na medida em que cada autor tem a sua própria definição, dependendo da área de estudo em que está inserido. O termo cultura existe no vocabulário de todas as civilizações, embora com significados diferentes.

No século XV a palavra cultura utilizava-se apenas como sinónimo de produção agrícola. A palavra cultura deriva do verbo latino “colere”. Este verbo tem dois significados: cultivar a terra e render culto aos deuses.

No Renascimento a cultura passou a estar ligada com a literatura e as artes. Ou seja, é algo que o homem cria, embora neste caso, homem signifique apenas: artistas, literatos e filósofos. Foi igualmente no século XV (1510) que a palavra foi introduzida no inglês. Nesta altura a palavra, segundo o dicionário de Oxford, significaria “o esforço por desenvolver qualidades próprias de algum objecto ou de alguma qualidade. De aí Vêm expressões como cultura de milho ou cultura das artes”. (Ander-Egg, 1999:39).

Foi também nesta altura introduzida no francês como sinónimo de cultura do pensamento.

O filósofo e educador Samuel Püffendorf contribuiu bastante para a evolução do conceito. A sua definição de cultura é bastante semelhante às definições actuais. Na sua obra Acerca do Direito Natural (1684), afirma que “a cultura é algo criado pelo Homem, não é como a natureza, e resulta da actividade do ser humano como complemento da sua natureza interna e externa”.

(18)

2.1.2. – Conceito de Cultura

O conceito antropológico de cultura compreende-a como modo de vida, isto é, o modo como os seres humanos pensam, falam, agem e constroem. Este conceito tenta diminuir o etnocentrismo e o elitismo afirmando o universalismo da Cultura Humana e o particularismo das culturas. O significado antropológico de cultura como modo de vida é alargado e nega a simples redução da cultura às actividades ligadas às belas artes.

E, se o significado antropológico de cultura entende a cultura como impregnada em tudo, o sociológico entende a cultura como um campo de acção específico combinado com outros – económico, político – estando estratificados de acordo com determinados critérios. O conceito sociológico de cultura entende esta como um campo de conhecimento dos grupos humanos. A noção sociológica de cultura fala da cultura como produção e consumo de actividades culturais, daí a sua ligação com as políticas culturais. Deste ponto de vista, a cultura passa a ser entendida como espectáculo, como política, produção e consumo. Para a noção antropológica a cultura é um processo, resultado da participação e da criação colectiva, para a noção sociológica a cultura é uma “indústria cultural”.

Noutra perspectiva, o uso estético do conceito de cultura descreve actividades intelectuais e artísticas como por exemplo a música, a literatura, o teatro, o cinema, a pintura, a escultura e a arquitectura. Este conceito define a criação artística como forma de cultivo humano do espírito. É sinónimo de “Belas Artes” e exige níveis de instrução educativa formal. Por extensão, pensa-se que uma pessoa que conhece e pratica estas manifestações artísticas tem que ser diferente da gente comum, atribuindo-lhe a categoria de culto, em oposição ao “inculto” ou de “pouca cultura”. Portanto, a noção estética de cultura entende-se como aquilo que a gente faz depois de jantar, por exemplo ir à ópera, isto é, como “alta cultura”, a produção cultural de uma minoria para uma elite letrada de iniciados.

Actualmente, as distinções entre “alta cultura” e “baixa cultura”, cultura de elite e cultura de massas, cultura culta e cultura popular, já se esbateram, ficando os limites muito ambíguos. Isto não significa que não devamos programar alternativas de produção cultural críticas e moralmente defensíveis. Ocorre hoje um processo de mercantilização e politização da cultura cuja complexidade deve ser explorada mas também reflectida.

(19)

De acordo com Greg Richards (2000, 70:96), “a cultura não pode ser apenas entendida como um produto, e sim como um processo de transmissão de ideias, valores e conhecimentos”.

Segundo o mesmo autor, o acréscimo no número de visitas culturais tem uma relação directa com o aumento do número de atracções culturais a visitar, isto é, alarga-se cada vez mais o conceito de cultura, de produção cultural e de consumo cultural, em constante redefinição e segmentação pelo mercado e os agentes produtores. Esta produção é utilizada com fins de rentabilidade económica, mas também política, social e cultural.

Na minha maneira de ver e pensar cultura é o conjunto no qual estão incluídos conhecimentos, crenças, artes, moral, leis, costumes e tradições, assim como hábitos recebidos pelo homem dentro da sociedade.

Sendo o homem portador de cultura, só este a cria, a possui e a transmite também.

Pois ao nascer todos nós recebemos a cultura como herança. Enquanto crianças começamos por receber uma série de influências do grupo em que nascemos, principalmente dos nossos ascendentes através de: os modos de nos alimentarmos, o vestuário, a língua falada, a identificação de um pai e de uma mãe etc.

À medida que o homem recebe hábitos e costumes, este cada vez mais amplia os seus horizontes, passando a ter novos contactos com grupos diferentes tanto em hábitos, costumes, língua ou tradições.

“A cultura pode, num futuro próximo, tornar-se uma das mais importantes mais-valias para o desenvolvimento económico local e simultaneamente, ser um factor de coesão regional e dar um novo dinamismo local” (Richards, 1999:11).

Partilhando da mesma ideia e neste sentido Cunha (2001:122), afirma:

“A cultura foi desde sempre um dos mais importantes factores de desenvolvimento do turismo e torna-se, cada vez mais, acentuado: grande parte das viagens realiza-se para destinos que dispõem de factores culturais notáveis, tais como locais históricos, monumentos, centros arqueológicos, concentrações de carácter étnico e muitos

(20)

2.1.3. -

Cultura e diferenças culturais

Segundo Saraiva (1993:13)

“Cultura opõe-se à natura ou natureza, isto é, abrange todos aqueles objectos ou operações que a natureza não produz e que lhes são acrescentados pelo espírito”. Sendo assim, tudo o que é produção do Homem é cultura em sentido extenso. Em sentido mais restrito, segundo o mesmo autor, “entende-se por cultura todo o conjunto de actividades lúdicas ou utilitárias, intelectuais e afectivas que caracterizam especificamente um determinado povo.”

De acordo com Silva (1994:20) “ Não há natureza humana independente da cultura; esta é uma «condição essencial» da nossa existência. Para dizer tudo: «os homens são artefactos culturais», «não apenas as ideias, mas as próprias emoções são no homem, artefactos culturais».”

Em conversa informal com a antropóloga de campo, Jaquelina Alves, a sua opinião de “Cultura” é fruto da experiência da sociedade, ou seja, é tudo o que o Homem revela, transmite e acrescenta à natureza, correspondendo à sua maneira de pensar, sentir e agir. Processa-se através da criação e da transmissão de conhecimentos, costumes, usos e crenças, práticas rituais, mitos, tradições, padrões de comportamento, ideais de vida e por todo o património cultural que é necessário e urgente preservar e conservar como memória de um legado dos nossos antepassados; isto é, como memória da história de um povo.”

A cultura, para Ander Egg, E. (1999:42) “expressa um estilo de ser, de agir e de pensar que se adquiriu através da história, como produto do agir e vicissitudes de um povo concreto, e em cada pessoa em particular, através de um processo de socialização e endoculturação.”

(21)

Para muitos sociólogos e antropólogos a cultura é composta pelo “conjunto de leis que formam a base do comportamento adquirido, das crenças, das atitudes, dos valores e dos objectos materiais (artefactos) que constituem a maneira de viver” da maioria dos membros de uma sociedade determinada. Nesta definição inclui-se também as formas de pensar, de actuar e os relacionamentos.

Cultura é, então, uma ponte que comunica com o passado, mas também um guia para o futuro.

Este conceito de cariz antropológico, toma como cultura tudo aquilo (conhecimentos, crenças, etc…) que se adquire e se transmite através da aprendizagem.

Trilla refere que cultura “é a informação que se transfere socialmente e não geneticamente. É o que se herda e se cria através da convivência social, e não o que se transmite e se desenvolve num plano puramente biológico” (Trilla, 1997:14).

Um outro autor, (Geertz, 2000:20) valoriza o carácter qualitativo da cultura quando afirma:

"Acreditar (...) que o Homem é um animal inserido numa rede de significados que ele mesmo teceu, considero que a cultura é essa a teia e que a análise da cultura tem que ser, portanto, não uma ciência experimental em busca de leis, mas uma ciência interpretativa em busca de significados ". (tradução própria)

Para este mesmo autor, a cultura é pública e embora contenha ideias, não existe na cabeça de ninguém, ou seja, apesar de não ser física não é uma identidade oculta, ela mostra-se, sublinhando que, “(…) a cultura é composta por um conjunto de estruturas psicológicas mediante as quais os indivíduos guiam o seu comportamentos”(Geertz, 2000:25)(tradução própria)

Para compreender o significado de uma cultura, é necessário diferenciar as suas componentes tangíveis (cultura material) e intangíveis (cultura imaterial).

A cultura material refere-se aos objectos criados pelos membros de uma sociedade; por outro lado a cultura imaterial refere-se ao mundo intangível das ideias, valores e percepções do mundo criados pelos membros de uma sociedade.

Quando, por exemplo, nos referimos aos costumes compartilhados por um grupo de pessoas, estamos a fazer referência à cultura imaterial.

(22)

De acordo com Vallbona e Planells (2003:10),

“ […] Nem todas as coisas que fazem parte de uma sociedade são culturais, para que algo seja considerado cultural, não pode ser apenas uma realização comum para a maioria da população, tem de ser algo que se institucionalizou e foi aprendido com a ajuda da linguagem oral e simbólica, o instrumento mais importante para a transmissão da cultura”.

Nenhum ser humano pode viver sem uma cultura. Esta, muitas vezes limita, embora inconscientemente, já que tendemos a adoptar os comportamentos e pensamentos que ela nos impõe. Por outro lado, é uma base sólida para avançarmos frente a um futuro que se pretende sempre melhor.

Não existem traços culturais “naturais”, o que é natural é a espécie humana com a sua capacidade para criar diferenças. Estas diferenças devem-se muitas vezes à necessidade de adoptar a natureza às suas necessidades posteriormente transmitidas aos seus progenitores. Por isso, é importante para qualquer estudo deste campo tentar compreender o contexto onde se desenvolve certo costume, certa tradição.

Qualquer costume adapta-se relativamente a um meio físico, biológico e social concreto. A integração de uma cultura pode também dar-se por razões psicológicas, já que as características de uma cultura se encontram acumuladas na mente dos indivíduos.

Numa sociedade a cultura caracteriza-se igualmente por se transformar ao longo do tempo. Esta força de transformação pode vir de dentro (endógena) ou então de fora da sociedade (exógena). Esta mudança surge de dentro quando a maioria começa a sentir uma necessidade consciente ou inconsciente adaptando a sua forma antiga de e agir a uma nova forma. Vem do exterior quando a envolvência social o facilita pelas ditas aculturações.

Conclui-se, então, que a cultura é um sistema dinâmico constantemente a incorporar novos elementos, e a perder outros. Sendo assim, e segundo Vallbona, Monteserrate

(23)

Crespi e Costa, Margarita Planells.(2003:11), ”a mudança cultural pode produzir-se devido a três factores:

- Invenção (criação de novos elementos culturais);

-Descobrimentos (é necessário interpretar algo de novo, contrapondo a explicações anteriores);

- Difusão Cultural (transmissão de traços culturais entre culturas diferentes por exemplo através dos meios de comunicação social e do turismo)”.

Toda a cultura é transmitida de uma geração para a outra. Na minha opinião, a cultura é uma herança da própria sociedade.

Não existe uma cultura superior ou inferior a outras. Existem diferentes culturas, por isso, deve evitar-se o etnocentrismo.

Antigamente os Europeus tinham a tendência a considerar os restantes povos como inferiores ou selvagens. Nos dias de hoje reconhece-se que essa atitude não passa de um preconceito, que tem vindo a ser progressivamente trocado pela consideração da diversidade das culturas.

Como nos diz Rowland, (1987:8) “ Não se pode considerar como inferior aquilo que é apenas diferente”.

E segundo o mesmo existem crenças que para determinada cultura parecem não ter sentido, contudo para outras são algo básico. “ O problema da racionalidade das crenças e da cultura fica assim colocado em termos dos indivíduos que manifestam as crenças e que, no seu conjunto, constituem a cultura”(Rowland, 1987:25).

É necessário compreender cada cultura nos seus próprios termos.

2.1.4. -

Concepções de Cultura

A cultura, por seu lado, é um bom instrumento de integração social e de desenvolvimento local, peça basilar na educação, fixação e aumento da auto-estima das pessoas nas suas localidades. Estabelece um estímulo para a forma de olhar o dia-a-dia, ao dar mais representatividade à vida da comunidade local, apresenta-se como um meio de atrair mais visitantes e uma ajuda no transpor da barreira entre cultura, sociedade e desenvolvimento sustentável dos territórios.

(24)

Esta concepção parte do princípio de que todos os povos ou grupos étnicos possuem cultura e de que nenhuma cultura é superior a outra, colocando em foco as questões da diversidade cultural e da igualdade de direitos para as diferentes culturas.

Ander-Egg (1999:42) supera esta concepção, ao propor que:

“ A cultura se considera fundamentalmente como um projecto a construir ou como um futuro a inventar. Uma cultura está viva quando, sem perder o sentido do passado, actualizando as tradições vivas, é capaz de mudar e de se manter em movimento para avante”.

Cultura Nacional: é segundo Ander Egg (1999:44)

“ O conjunto de valores e princípios feitos conscientes por uma colectividade, nos que se expressa o modo de ser da mesma, esteja estabelecida num ou mais âmbitos geográficos e esteja ou não organizada juridicamente. Contudo, para que haja uma cultura nacional é necessário que essa comunidade esteja unida por uma mesma língua, um passado comum, instituições, crenças e tradições também comuns, conservadas na memória do povo, de jeito que configurem os elementos condicionantes das suas formas de actuação”.

2.1.5.

Cultura Popular

A cultura popular refere-se às manifestações culturais amplamente difundidas entre os membros de uma sociedade.

A dificuldade que se sente, ao tentar-se uma definição de cultura, revela bem os problemas causados pela extensão do conceito. Embora qualquer abordagem à cultura traga consigo esta dificuldade, que é inerente à sua amplitude e abrangência, a chamada cultura popular está superlotada ainda por outro problema. Com a difusão de novos hábitos, novas ideias, novos conhecimentos e com a mistura instalada entre populações rurais e urbanas, a cultura popular aparece como um modo de estar, quase em extinção, porque já não é vivenciado, genuíno.

(25)

A cultura popular, segundo Ander-Egg (1999:44) é uma:

“expressão ambígua que se utiliza com diferentes usos. Nalgum caso designa a cultura do povo, noutros cultura para o povo e às vezes cultura pelo povo. […] Cultura popular – práticas, obras e valores culturais das classes e dos meios populares.”

Acerca da cultura popular, Ander-Egg afirma que está expressada em todas aquelas manifestações ou espirituais que surgiram da própria realidade do povo e que ao mesmo tempo expressam os seus próprios interesses.

Trilla acrescenta ainda que a cultura popular é uma cultura desvalorizada, que é própria daqueles que não ostentam o poder, ou seja das classes subalternas (1997:15). A cultura popular abrange os objectos, conhecimentos, valores e celebrações que fazem parte do modo de vida do povo, sendo este uma categoria social complexa e de definição bastante imprecisa.

Muitas das manifestações geralmente associadas à cultura popular são comuns a todos os povos: histórias transmitidas de forma oral (contos, lendas, mitos, danças, adornos e enfeites, música de vários tipos, utensílios de cozinha, etc.)

A cultura popular está expressa em todas as manifestações materiais e imateriais, que apareceram do povo e que expressam os seus interesses.

Surge aqui a necessidade de diferenciar os conceitos de cultura popular e de cultura do povo, posto que são frequentemente assimilados como tendo o mesmo significado, o que não é correcto.

“ A cultura do povo é a cultura que o povo vive no quotidiano, condicionada, penetrada e marcada pela cultura da classe dominante que dispõe de meios institucionalizados para lhe transmitir os seus valores e significados” (Ander-Egg, 1999:24).

(26)

O conceito de cultura popular integra a larga lista daqueles conceitos que toda a gente utiliza naturalmente, mas que na generalidade todos temos dificuldade em definir.

“Aquilo a que chamamos, habitualmente ‘cultura popular’ tem uma história, e a compreensão dessa história parece essencial quer para perceber o sentido que activamos hoje, quando usamos a expressão, quer para identificar sentidos possíveis para um uso prospectivo.

Trata-se assim da história de uma representação e de uma instituição, ou seja, uma construção simbólica e retórica, que orienta os processos sociais de caracterização, nomeação e classificação de certas práticas, bens e tradições, e a modelagem efectiva, através de certos métodos e em sede de certos enquadramentos, de práticas, bens e tradições. […] (Actas do 1.º encontro sobre cultura popular: 1997)

A construção social da cultura popular é um processo tipicamente moderno, resulta em particular da lógica de desenvolvimento da modernidade que plantou as sociedades europeias ocidentais desde os princípios do século XIX até aos nossos dias. Pode dizer-se sumariamente, que este processo foi alimentado pela convergência de três grandes dinâmicas. A primeira foi a invenção liberal e romântica das nações, a descoberta intelectual e a formação social da Nação moderna, como uma combinação entre uma certa população, um certo território e uma certa cultura, ao longo de uma história. A segunda foi o crescente esforço de controlo e disciplinando os padrões de conduta tradicionais, a “racionalização” dos comportamentos de modo a cumprir requisitos do novo trabalho fabril e da ordenação social, em meio urbano, disciplinação essa que se dirigiu, numa primeira etapa, às populações rurais ou de origem rural e que, depois visou contrapor a ruralidade purificada e domesticada às classes perigosas do capitalismo industrial. A terceira foi o desenvolvimento das formas de estudo e de representação intelectual dos “usos e costumes”, do “folclore e tradições” e nomeadamente aquelas enquadradas na história, na etnografia e na antropologia.

Em consequência deste processo, o modelo predominante da construção social da cultura popular é o que associa a ruralidade e passado, que privilegia a sua observação como etnografia, a sua patrimonialização como herança, a sua celebração como unidade e sua estilização como folclore.

Na 25.ª Reunião da Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, realizada em Paris entre os dias 17 de Outubro e 16 de Novembro de 1989, a UNESCO considerou que a cultura tradicional e popular faz parte

(27)

do património universal da humanidade sendo um poderoso meio de aproximação entre os povos e grupos sociais de modo a afirmarem a sua identidade cultural.

Cultura popular é um conceito muito abrangente. O popular muitas vezes limitava-se aos modos de vida do camponês referenciando assim os seus utensílios, saberes arcaicos e ingenuidade artística.

Cultura popular fica assim associada a noções de ancestralidade “ qualidade de ancestral, relativo aos antepassados, antigo”. (Dicionário da Língua Portuguesa, 1998:100) e genuidade “pureza; vernaculidade” (Dicionário da Língua Portuguesa, 1998:818).

Nesta altura dominava a ideia de evolução, mas o povo camponês era cada vez mais visto como “atrasado” e isto devido à objectivação da cultura popular que negava a con temporaneidade desta classe social.

Outro motivo que originou o interesse pela cultura popular foi a redefinição da identidade de classe a que a definitiva ascensão social da burguesia obriga. A burguesia sentia o desejo de conquistar a “autenticidade” – “qualidade do que é autêntico; identidade, veracidade “ (Dicionário da Língua Portuguesa, 1998:186) e “ancestralidade”, duas qualidades que projectava nas tradições camponesas. Resumindo, a burguesia não tinha identidade e necessitava adquiri-la.

Instintivamente quando falamos de cultura popular temos inclinação a ilustrá-la com tradições comunitárias, mesmo que o discurso seja elaborado por antropólogos, linguistas ou especialistas da literatura.

Neste sentido a cultura popular encontra-se em “extinção” devido a várias transformações, sejam elas demográficas, culturais, políticas, económicas e sociais das sociedades modernas.

Cada vez mais a cultura popular tem sido motivo de lamentações devido ao facto de ter sido ligado à primordialidade de um passado.

É costume em encontros científicos, opiniões públicas ou comunidades políticas afirmar-se que a cultura popular está em perda e desestruturação como resultado de uma evolução social.

(28)

Assim, também é interessante notar que à medida que se perde o aspecto unitário e essencialista, ao olhar a cultura popular facilita a visão de que não existe uma cultura popular, mas sim diferentes culturas populares.

Esta ideia plural tem a ver com a multiplicidade de grupos, espaços, tempos, que se representam com as realidades sociais.

As culturas populares como “artes de ser e fazer”, modos de pensar, sentir e agir, estão enraizadas de longa duração e são constantemente actualizadas e recriadas por grupos no seu território, formando a sua respectiva identidade. As culturas populares são também práticas e obras que resultam da relação entre diferentes grupos populares.

Uma das conclusões a que se chegou no Primeiro Encontro sobre Cultura Popular em Ponta Delgada – Açores (1997: 21), foi que “A cultura popular» que herdámos, quer como classificação essencial, quer como modelo institucional de preservação e folclorização, está morta.

Se houvesse cultura popular, hoje, ela deveria encontrar-se muito mais do lado da pop do que do folk – mais como consequência da expansão da cultura de massas e do desenvolvimento da indústria cultural do que como a origem e o espírito nacional popular que os românticos ao mesmo tempo descobriram e fabricaram, quando os estados se afundavam como laicos, modernos, liberais e nacionais”.

Partilhamos a ideia de Ander-Egg (2003:49-50) quando afirma que:

“Na cultura popular (que é mais ampla que as expressões folclóricas) se encontram elementos e factores de resistência à colonização externa, especialmente em todas aquelas manifestações que configuram a própria identidade cultural. As classes populares foram depositárias vitais da cultura nacional. No entanto, o desenvolvimento cultural das nossas aldeias não pode continuar à defesa e afirmação do passado: é desse passado que se deve criar o presente e projectar o futuro”.

Citando Parafita (2007:38) e em concordância com este, cultura popular:

“É a construção e a afirmação das identidades culturais de um povo, encarado este como uma comunidade humana estável, zeladora da sua

(29)

memória, respeitadora das suas crenças e dinâmica no uso das suas tradições; onde cada sujeito se sente implicado e integrado e onde os objectos (artefactos) não são meros objectos de consumo, mas sim objectos simbólicos, isto é, coisas que significam porque simbolizam”.

2

.1.6.

- Identidade Cultural

Segundo a conferência Mundial sobre as Politicas Culturais (UNESCO, México, 1982) a “Identidade cultural parece propor-se hoje como um dos principais motores da história: não se trata nem de um património fossilizado nem de simples reportório de tradições, mas de uma dinâmica interna, do processo de criação permanente de uma sociedade”.

A Identidade Cultural de uma sociedade: “pode ser unicamente captada, tanto do exterior como do interior da mesma, através da história, pelo conjunto de obras que a explicam: seus mitos, seus costumes, sua produção literária e artística, sua música, seus monumentos, suas línguas, suas tradições orais […] Além destas manifestações tangíveis, a identidade cultural são o sentimento que experimentam os membros de uma colectividade que se reconhece nessa cultura, de não poder expressar com fidelidade e desenvolver plena e livremente senão a partir dela. Assim, a identidade cultural representa a memória, a consciência colectiva de um grupo, a respeito dos quais cada um extrai, espontaneamente, determinados comportamentos e atitudes que todos consideram significativos”.

Para Vallbona e Costa (2003:11) identidade cultural é um

“Sistema de conteúdos, crenças, de ideias e pensamentos, de valores, de normas, de conhecimentos, de intenções, de desejos explícitos e conscientes, de emoções e paixões, de ilusões e motivos inconscientes presentes numa dada comunidade (local, regional ou nacional) e num momento histórico determinado”.

Também segundo Ander-Egg (1999:66-67) “Toda a identidade cultural - como distintivo pessoal, grupal ou nacional – configura-se a partir de cinco factores principais que constituem o ‘núcleo vivente de uma cultura’:

(30)

- histórico: a memória ou consciência colectiva de uma comunidade;

- étnico: expressado como autoconsciência étnica, ou seja, como capacidade de auto-identificar-se como tribo, nação, nacionalização ou grupo étnico;

- linguístico: a língua como sinal de identidade que configura uma maneira especial de comunicamos e ainda de organizar a leitura dos dados da realidade; - político: este factor expressa-se no exercício de autonomia e soberania política;

- psicológico: como referente humano de identidade expressado na forma de compartilhar certos rasgos psicológicos em comum que configurem a personalidade básica ou carácter social”

A identidade cultural é uma construção sócio-cultural, por isso também se encontra num constante processo de revisão, reconfiguração, evolução e dinamismo.

Toda a sociedade necessita de ter uma ideia sobre si mesma, simbolizada em tabus, símbolos e bandeiras, monumentos e santuários, festas e celebrações, santos e padroeiros, profetas e hereges, profissões e romarias, crenças e valores…; mas é claro que esta auto-representação só existe em relação a outras auto - representações.

É importante que existam diferenças, só assim é possível avançar e dar valor ao que é próprio de cada comunidade, a sua identidade, os seus costumes, os seus valores e códigos, assim como o seu desenvolvimento cultural, este que, segundo Xulio Pardellas, podemos ler o conceito de desenvolvimento cultural definido pela Unesco:

“Un desarrollo disociado de su contexto humano y cultural es un crescimiento sin alma. El florescimento pleno del desarrollo económico forma parte de la cultura de un pueblo” (Pardellas, 2003:81).

No século XX a sensação da fragmentação da identidade, da perda das referências culturais, despertou no homem o desejo de “retorno a algo perdido”, ou seja, a necessidade de buscar manifestações culturais que pertencem a seu passado vivo, e a comportamentos e atitudes que deixaram de ser comuns, dentro de uma sociedade. Pertencer a uma identidade cultural, significa descobrir-se, ser diferente dos comportamentos globais. Por isso, patrimónios culturais intangíveis como as formas de manifestações linguísticas, de relacionamento, de trabalho com a terra e a tipicidade da

(31)

culinária, o cultivo e o preparo do vinho, os passos das danças tornaram-se patrimónios da cultura e demonstram a riqueza da relação entre identidade e diversidade de uma e determinada cultura.

2.1.7. –

Património Cultural

A palavra património tem vários significados. O mais comum é conjunto de bens que uma pessoa ou uma entidade possuem. Transportado a um determinado território, o património passa a ser um conjunto de bens que estão dentro de seus limites de competência administrativa. Assim, património nacional, por exemplo, é o conjunto de bens que pertencem a determinado país. Independentemente do corte territorial, que implica a delimitação do património dentro de fronteiras geopolíticas, há outros cortes pelos quais o património pode ser analisado.

O património pode ser classificado por duas grandes divisões: natureza e cultura.

Património natural é as riquezas que estão no solo e no subsolo, tanto as florestas quanto as jazidas. Quanto ao património cultural, esse conceito vem sendo ampliado à medida que se revê o conceito de cultura.

Até à primeira metade deste século, praticamente, património cultural foi sinónimo de obras monumentais, obras de arte consagradas, propriedades de grande luxo, associadas às classes dominantes, pertencentes à sociedade política ou civil.

Os prédios considerados merecedores de cuidados especiais e exibição eram antigos palácios, residências de nobres ou locais onde aconteceram factos relevantes para a história política de determinado local.

O património, assim transformado em monumento passou a ser considerado um mediador entre passado e o presente, uma âncora capaz de dar uma sensação de continuidade em relação a um passado nacional, de ser um referencial capaz de permitir a identificação com uma nação.

“Assim como a identidade de um indivíduo ou de uma família poder ser definida pela posse de objectos que foram herdados e que permanecem na família por várias gerações, também a identidade de uma nação pode ser definida pelos seus monumentos – aquele conjunto de bens culturais associados ao passado nacional”.

(32)

Em geral todas as sociedades contam com uma série de elementos que configuram em essência a base sobre a qual se desenvolve a sua verdadeira identidade. O património cultural é, desde esta perspectiva, o reportório infindável de testemunhos materiais e imateriais que constituem os referentes da memória colectiva, o máximo de experiências que estas sociedades guardam na sua retina.

Na minha maneira de ver o património cultural de um povo, está fundado através das obras dos seus hábeis, escritores, artistas, arquitectos e músicos, assim como muitas fundações desconhecidas que surgiram do povo. Este inclui como obras materiais desde lugares, cidades, a literatura, monumentos históricos, a língua, ritos e crenças, obras de arte, arquivos e bibliotecas.

É de referir que existe o património material e o património imaterial.

O património material a nível mundial, actua como um incentivo para a nossa memória. Concretiza nas suas manifestações a especificidade de uma cultura, assim como a sua tendência universal.

A acção da UNESCO, neste âmbito articula-se em volta de três objectivos: - Prevenção;

- Gestão e - Intervenção.

Pode definir-se o património imaterial ou intangível como um conjunto de formas de cultura tradicional e popular ou folclórica, ou seja, as obras colectivas que provêm de uma cultura, baseando-se na tradição.

Estas tradições populares, transmitem-se oralmente, mediante gestos e atitudes, modificando-se com o decorrer do tempo, através de um método de recreação colectiva. Incluem-se nestas tradições populares:

- Tradições orais; - Costumes; - Línguas; - Músicas; - Bailes; - Festas e romarias; - Rituais; - Medicina tradicional;

(33)

Para muitas povoações (especialmente para os grupos minoritários e povoações indígenas), o património intangível representa a fonte vital de uma identidade profundamente enraizada na sua história. A filosofia, os valores, o código ético e o modo de pensamento transmitido pelas tradições orais, as línguas e variadas manifestações culturais constituem os fundamentos da vida comunitária. A natureza passageira deste património intangível, torna-o vulnerável.

O património imaterial é imenso. Cada indivíduo é portador do património da sua comunidade. A salvaguarda deste património deve arrancar da iniciativa individual, recebendo o apoio de associações, instituições e especialistas, só assim será tomado em consideração pelas autoridades nacionais. A UNESCO existe por isso mesmo, para prestar ajuda, cada vez que algum estado membro, a solicite.

O património intangível enche cada aspecto de vida do indivíduo, estando presente em todos os produtos do património cultural: objectos, monumentos, sítios e paisagens. Através de diversas actividades, a Unidade do Património Intangível da Divisão do Património Cultural da UNESCO, tem por objectivo servir de vínculo entre a salvaguarda do património tangível, assim como a preservação do património intangível.

A preservação do património cultural é uma atitude que diz respeito a todos os cidadãos de acordo com a sua sensibilidade e formação.

Conservar e restaurar implica investigar, analisar, decidir e mais importante, investir em meios financeiros e humanos.

De uma forma muito breve o programa da UNESCO para a cultura e desenvolvimento, sempre teve firmeza no vínculo entre a cultura e os objectivos mais amplos do empenho humano, actividade que faz parte do seu mandato constitucional básico: “a promoção por meio das relações educativas, científicas e culturais dos povos do mundo, dos objectivos de paz internacional e bem -estar comum da humanidade”.

Nos primeiros tempos de existência, a organização colocou a ênfase no diálogo intercultural como estratégia-chave para a construção da paz, por exemplo no estudo: “Unidade e diversidade das Culturas” que se levou a cabo nos anos cinquenta. Este Estudo era sobre diferentes culturas do mundo e suas relações mútuas. Outro trabalho foi o famoso “Projecto principal relativo à apreciação mútua dos valores culturais do Oriente e do Ocidente” iniciado este em 1957.

(34)

Esta visão da importância da cultura adquiriu uma nova dimensão nos anos sessenta (período da descolonização). O modelo de desenvolvimento que prevalecia então, já tinha demonstrado os seus limites e estava a começar a ser considerado como uma ameaça em potência para a diversidade cultural. A emancipação política dos povos conduziu a uma tomada de consciência dos seus próprios modos de vida e começaram a questionar que a ideia da modernização supunha necessariamente a ocidentalização. Passaram então a reivindicar o direito de contribuir para a modernidade com as suas próprias tradições. Esta reivindicação foi aprovada em 1966 quando a conferência geral da UNESCO aprovou a Declaração Solene sobre os Princípios da Cooperação Cultural Internacional, cujo artigo 1 diz: “toda a cultura tem uma dignidade e um valor que devem ser respeitados e protegidos” que “ todos os povos têm o direito e o dever de desenvolver a sua cultura”.

Assim, em finais dos anos sessenta, a UNESCO assumiu a responsabilidade de estimular uma reflexão acerca de como integrar as políticas culturais, nas estratégias de desenvolvimento.

Nos últimos anos o turismo converteu-se num fenómeno complexo, alcançando uma dimensão sem precedentes e que, dependendo da forma como é gerido, pode abrir horizontes à cultura ou colocá-la em perigo. A UNESCO propõe-se a ajudar os estados membros para que formulem estratégias encaminhadas para a conservação a longo prazo do património cultural, melhorar a promoção e o conhecimento de cada património cultural entre os turistas, favorecer os intercâmbios culturais entre anfitriões e turistas e contribuir para o desenvolvimento económico, social e cultural dos povos. A preservação do património tem entre suas funções o papel de realizar “a continuidade cultural”, ser o elo entre o passado e o presente e nos permite conhecer a tradição, a cultura, e até mesmo quem somos, de onde viemos. Desperta o sentimento de identidade. Margarita Barreto defende a “recriação de espaços revitalizados”, como um dos factores que podem “desencadear o processo de identificação do cidadão com sua história e cultura (Barreto, 2000: 44).

Pese a grande quantidade de elementos do património cultural e das potencialidades que o Sul de Europa tem, foram paradoxalmente os países com criação de património mais recente (Austrália, Canadá), que tiveram uma atenção mais importante para com o património cultural e a sua exploração turística. São muitos os agentes implicados e há problemas de cooperação e coordenação. As políticas começam a mudar, pois agora o

(35)

apoio ao sector é indirecto e não directo, isto é, se até ao momento, as instituições públicas apoiavam a indústria turística, agora o apoio é para os serviços, a assistência técnica e a revitalização do património cultural. Este apoio tem maior rentabilidade política, mas também social. Entre os serviços impulsionados salientamos a comunicação (marketing, publicidade, etc.) e as bases de dados.

O turismo cultural é uma das prioridades da União Europeia (ex.: Plano de Acção de Apoio ao Turismo de 1993-1995), mas só desde o Tratado de Maastricht em 1991 (Richards, 2001:5), no qual se define” a importância dele para o desenvolvimento turístico”. Também a nível internacional esta preocupação tem sido muito importante desde há várias décadas. Assim, por exemplo, a carta internacional sobre o turismo cultural (ICOMOS: 1976) define que o património cultural e natural, no seu sentido mais genérico, pertence a todos e temos o direito e a responsabilidade de o compreender, valorizar e conservar. O turismo cultural pode ser um meio para atingir esses objectivos, entendido este como uma experiência de intercâmbio cultural na qual não só nos aproximamos ao conhecimento do passado e à sua mudança, mas também à vida actual de outros grupos humanos.

O turismo cultural pode e deve estar ao serviço da conservação e valorização do património cultural, mas também pode acontecer o contrário, isto é, o património cultural cria-se em função dos interesses mercantis, e é com esse objectivo que é explorado. Aqui os riscos são o abuso, os impactos negativos e a própria perda do património cultural. Neste sentido as políticas deveriam ser orientadas desde uma perspectiva de equilíbrio entre o turismo cultural e o património cultural.

De acordo com o ICOM – Conselho Internacional de Museus, os objectivos que o turismo cultural deveria atingir são os seguintes:

• Transmitir a importância do património cultural a anfitriões e visitantes. • Respeitar as culturas anfitriãs.

• Facilitar e animar o diálogo entre os conservadores do património cultural e a indústria do turismo, com o objectivo final de um desenvolvimento sustentável.

• Apoiar a conservação e a gestão do património cultural. • Formular pautas de intervenção no património cultural.

(36)

Tradição

2.1.8. – Elementos de definição de tradição

Passamos a nossa vida a produzir “coisas”, preocupando-nos em conservá-las, conservando o método como elas foram feitas. Toda a nossa cultura é uma totalidade dessas coisas: guardamos as criações, as ideias, as memórias e deixamos por assim dizer as pessoas partirem.

Tradição é um termo muito utilizado na literatura de antropologia, de história e de sociologia. É também um termo polissémico.

Tradição pode referir-se a práticas sociais particulares de longa duração, ou seja, qualquer coisa que se transmite ao longo do tempo de geração em geração. Para que esta fosse transmitida teve de ser criada pela acção humana, pelo seu pensamento e pela sua imaginação.

A tradição tudo aquilo que é transmitido, incluindo objectos materiais e imateriais. É importante também questionar quanto tempo é necessário para que algo seja considerado tradição. Para Shils (1981:15) é categórico: “qualquer ´coisa` tem que durar pelo menos três gerações – sejam elas longas ou curtas – para ser uma tradição”.

Por outro lado “tradição” pode referir-se a um ambiente sociocultural de certo tipo. É isso que acontece num dos usos mais correntes do termo, aquele que contrasta “tradição e modernidade”. Giddens (1994:86-87) um dos autores que tem procurado sistematizar esse contraste afirma que:

“A tradição é rotina, mas é uma rotina que tem um significado intrínseco e não meramente um hábito vazio só pelo hábito. O tempo e o espaço não são as dimensões desprovidas de conteúdo em que se tornaram com o desenvolvimento da modernidade, mas estão contextualmente implicados na natureza das actividades vividas. Os significados das actividades rotineiras residem no respeito geral, ou reverência até, intrínsecos à tradição e na ligação da tradição com o ritual”.

(37)

Muitas das vezes o ritual tem um aspecto coercivo, mas é também verdadeiramente fortificante, pois absorve um dado conjunto de hábitos de uma virtude sacramental. A memória, em síntese, contribui de forma essencial para a segurança ontológica na medida em que mantém a confiança com as práticas sociais rotineiras.

De todas as definições existentes, uma das que seguimos como modelo deste trabalho de investigação é a do antropólogo Maddox (1993:9-10), no seu estudo sobre: “Políticas da Tradição” onde afirma que: “[…] a tradição envolve uma invocação do passado para os objectivos do presente, e está constantemente a ser inventada e reinventada por forma a assegurar arranjos sociais presentes”.

2.1.9. – Tradições Populares

Tradição é um termo que deriva do latim “tradictio” que significa transmissão. É de acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa (2001:3600) a “transmissão de valores e de factos históricos, artísticos e sociais, de geração em geração, através da palavra ou do exemplo”.

Existe a tradição escrita e a tradição oral. A tradição escrita é de acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa (2001:3600)

“Transmissão de factos feita através de documentos escritos e da sua leitura”. A tradição oral é a “transmissão feita através da oralidade, fala e escrita. […] Facto que é transmitido de geração em geração através da palavra ou do exemplo. […] Conjunto de factos, crenças, valores e costumes que constituem memória colectiva de uma comunidade”.

Para a maior parte dos autores da Verbo Enciclopédia Luso Brasileira (1983:1793)

“O termo tradição aplica-se a apenas a alguns e não a todos os elementos de uma cultura transmitidos de geração em geração.Dentro desta concepção, só quem esqueça o carácter globalista da cultura, que inclui o conjunto das ‘obras do homem’ é que poderá utilizar

(38)

como sinónimos os termos Tradição e Cultura. […] Os elementos de cultura que são valorizados de modo a constituírem tradição, são normalmente dignos de especial atenção no seio de cada cultura”.

As tradições populares abrangem:

• As superstições; • Os costumes; • Os jogos; • Os contos; • As cantigas; • As adivinhas; • As rimas infantis; • Os ensalmos; • As orações; • As xácaras; • Os rituais; • Os mitos • …

Estudar as tradições populares é bastante importante por vários motivos. Para além do que já foi referido, (sobretudo no que concerne a questões de preservação, cujo papel da UNESCO é de extrema importância), complementa-se agora a importância do estudo das tradições populares através de palavras de Vasconcelos (1986:33-35 ).

“As tradições populares manifestam o modo como o povo encara actualmente a natureza e como vive na sociedade. As tradições populares elucidam-nos sobre o passado, porque geralmente nenhuma delas é moderna. Estas habilitam-nos para avaliarmos o grau de comunicação que houve entre os escritores literários e o povo, pois tornam-se tanto mais verdadeiras, tanto mais ricas, quanto em maior grau essa comunicação se exerce.

(39)

Seguindo o raciocínio de Vasconcelos (1986:33), as tradições populares portuguesas podem-se transmitir através de várias fontes:

I. – Monumentos (ex: os penedos dos casamentos e jugos dos bois); II. – Literatura;

III. – Povo (tradição oral); IV. – Colecções das tradições.

“As tradições são modos de tornar o passado presente, são algo partilhado por um conjunto de pessoas”.

Assim sendo, a maioria das tradições traduz a crença viva do povo.

O estudo das tradições populares não deve ser entendido como uma simples curiosidade de coleccionadores. Como afirma Cabral (1999: 19)

“Coleccionar, certo, é mais do que recolher ou então é recolher ordenadamente, pois pressupõe um princípio taxinómico orientado para a distribuição por géneros e espécies, do mais complexo para o mais simples (análise) e do que é simples para o complexo (síntese)”.

Muitas das vezes ouvimos o nosso povo a dizer que os costumes se devem conservar. É evidente que se devem conservar, preservar e valorizar (in D.L. N.º 107/2001 de 8 de Setembro) mas contudo não sem restrições. Por exemplo, o cantar dos Reis fundamenta-se em tradições cheias de poesia, que merece a pena prefundamenta-servar. Concordando, com Silva (1994:207), nem todas as tradições são assim valiosas, “há outras que só ao mafarrico poderia inspirar”.

A maior parte das tradições populares podem ser consideradas “literatura popular de tradição oral”. Existem outros termos para designar este tipo de tradição, tais como: “literatura tradicional”, “literatura oral”, “literatura popular”, narrações populares” e mesmo “tradição oral”.

(40)

Seguindo o raciocínio de Parafita A. (2005:30)1

“Tradição oral é a transmissão de saberes feita oralmente, pelo povo, de geração em geração, isto é, de pais para filhos ou de avós para netos. Estes saberes tanto podem ser os usos e costumes das comunidades, como podem ser os contos populares, as lendas, os mitos e muitos outros textos que o povo guarda na memória (provérbios, orações, lengalengas, adivinhas, cancioneiros, romanceiros, etc.).

Para Pérez (cit. por Parafita, 1999:44) um dos aspectos mais relevantes da literatura popular consiste na sua:

“Funcionalidade concreta, aceite socialmente: divertir, ensinar, estabelecer laços de união entre os membros do grupo, ridicularizar defeitos, suportar o trabalho, galantear, agredir, pedir dons, proferir loas, etc.

Antigamente, os cenários das narrações populares eram, entre outros:

• Tanques; • Tabernas; • Eiras; • Lareiras; • Moinhos; • Fornos comunitários; • Fontes de mergulho; • …

Presentemente substituídos, como afirma Pérez X. (1995:37) e muito bem “pelas cozinhas modernas, os bares, as aulas, os acampamentos de verão, os cenários teatrais, e inclusive algum pub”.

Para reconhecer e caracterizar o género literatura popular de tradição oral, devem ter-se em conta três factores:

• O modo de transmissão • A forma de expressão

• O uso que dela faz a comunidade.

1

Imagem

Foto n.º3 - Castro de Curalha
Foto n.º 4  - Casa de Lamadarcos

Referências

Documentos relacionados

regulamentares ou regimentais do cargo, no caso de cargo técnico ou científico. 279 - Para os efeitos deste Capítulo, a expressão “cargo” compreende os cargos, funções ou empregos

As pontas de contato retas e retificadas em paralelo ajustam o micrômetro mais rápida e precisamente do que as pontas de contato esféricas encontradas em micrômetros disponíveis

Foi presente um requerimento datado de 7 de janeiro findo, pertencente à signatária em epígrafe, solicitando apoio ao pagamento de rendas de casa que se encontram em

- Debater e emitir opinião sobre as medidas propostas em conferências internacionais para a resolução dos problemas ambientais globais, tendo em conta a sustentabilidade

Desse modo, com base na experiência que tivemos no Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA) Licínio Monteiro da Silva, no contexto da produção escrita de um aluno

“Porque quando um homem fala pelo poder do Espírito “Porque quando um homem fala pelo poder do Espírito Santo, o poder do Espírito Santo leva as suas palavras ao Santo, o poder

limitações no uso do sistema de informação; isolamento do Serviço de Atenção Domiciliar em relação aos demais serviços da rede de saúde; limitações da Atenção Básica

Já na etapa 2 do Pré­sal, os R$ 3.7 milhões destinados às UCs do Estado de       São Paulo deverá ser distribuído entre a APAMLC e as outras UCs da região, sendo       que