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Linguística Cognitiva

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Academic year: 2021

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Linguística Cognitiva

(2)

João Carlos Salles Pires da Silva

Vice-reitor

Paulo Cesar Miguez de Oliveira

Assessor do Reitor

Paulo Costa Lima

EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Diretora

Flávia Goulart Mota Garcia Rosa

Conselho Editorial

Alberto Brum Novaes Angelo Szaniecki Perret Serpa Caiuby Alves da Costa Charbel Niño El-Hani Cleise Furtado Mendes Evelina de Carvalho Sá Hoisel José Teixeira Cavalcante Filho Maria do Carmo Soares de Freitas Maria Vidal de Negreiros Camargo

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Linguística Cognitiva

redes de conhecimento d’aquém e d’além-mar

A. Ariadne Domingues Almeida Elisângela Santana dos Santos (Organizadoras)

SALVADOR EDUFBA 2018

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Grafia atualizada conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde 2009.

Projeto gráfico, capa e diagramação

Edson Nascimento Sales

Revisão

Líliam Cardoso

Normalização

Juliane Nunes do Nascimento

Linguística cognitiva: redes de conhecimento d’aquém e d’além-mar /

A. Ariadne Domingues Almeida, Elisângela Santana dos Santos, organizadoras. – Salvador: EDUFBA, 2018.

287 p. : il.

ISBN: 978-85-232-1699-3

1. Linguística. 2. Cognição. 3. Semântica. 4. Gramática cognitiva. I. Almeida, Aurelina Ariadne Domingues. II. Santos, Elisângela Santana dos. III. Título.

CDD 410

Elaborado por Sandra Batista de Jesus – CRB-5/1914

Editora filiada à

Editora da UFBA

Rua Barão de Jeremoabo

s/n - Campus de Ondina, Salvador - Bahia, Brasil CEP: 40170-115

Tel.: +55 71 3283-6164

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Sumário

Apresentação 7

Princípios de composicionalidade e continuidade,

indeterminância do significado: tópicos em Semântica Cognitiva 11

Heloísa Pedroso de Moraes Feltes

Significado y motivación: la importancia

de la corporeización en la semántica 37

Iraide Ibarretxe-Antuñano

La función de las metáforas

en la construcción identitaria de Argentina 53

Elena del Carmen Pérez

Interconexões possíveis, quando a teoria da complexidade encontrou a Linguística Cognitiva, um caso de migração

científica na noosfera 71

A. Ariadne Domingues Almeida

Análise de metáforas e esquemas imagéticos multimodais no discurso de membros da frente parlamentar evangélica:

uma abordagem cognitiva 103

Maíra Avelar Miranda

La expresión de la conducta social: axiología y modelo cognitivo 121

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José Teixeira

Polissemia na mente, na cultura e no discurso

para uma abordagem cognitiva mais dinâmica e contextualizada

da individuação, relação e mudança de sentidos 161

Augusto Soares da Silva

Conceptualizações de leitura: aportes da Linguística Cognitiva

para compreensão do significado 183

Elisângela Santana dos Santos

Metáforas do medo: um estudo das conceitualizações sobre

violência urbana na cidade de Belo Horizonte, MG, BRASIL 209

Luciane Corrêa Ferreira

Por uma abordagem cognitiva da morfologia:

revisando a morfologia construcional 225

Juliana Soledade

Ligando o morfômetro: análise morfossemântica

das construções com -metro no português do Brasil 259

Carlos Alexandre Victorio Gonçalves Maria Lucia Leitão de Almeida

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7

Apresentação

O livro Linguística Cognitiva: redes de conhecimentos d'aquém e d'além-mar é constituído por textos de pesquisadores da América e da Europa latinas, em homenagem ao cente-nário do falecimento de Michel Bréal e aos 35 anos da publi-cação da obra Metaphors we live by, de autoria de George Lakoff e de Mark Johnson, ocorrido em 2015.

Os artigos da presente coletânea versam sobre pesquisas elaboradas na área da Semântica Cognitiva e apresentam um panorama atual dos estudos cognitivistas da linguagem produ-zidos no espaço ibero-americano, o que justifica o seu título, pois, nesta obra, procuram-se estabelecer redes de saberes que conectem o conhecimento produzido em dois cantos do mundo latino: o da América do Sul e o da Península Ibérica. Assim, a expõem-se trabalhos realizados por professores dos

dois continentes, integrantes de variados grupos de pesquisa, vinculados a Programas de Pós-Graduação de diferentes universidades.

Como sabemos, tanto no continente europeu quanto no continente americano as investigações nessa área do conhe-cimento têm crescido bastante, evidenciando uma nítida pro-jeção dos estudos acerca da significação, nos últimos anos, sob o escopo cognitivista. Em Portugal e na Espanha, assim como no Brasil, na Argentina e no Chile, dentre outros países de língua latina, encontramos vários pesquisadores que têm dado impor-tantes contribuições para a expansão da Semântica Cognitiva.

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Integram esta obra e comprovam a consolidação dos estudos semânticos os seguintes pesquisadores: Heloísa Pedroso de Moraes Feltes, da Universidade de Caxias do Sul (UCS), do Brasil, que apresenta o artigo intitulado "Princípios de composicionalidade e continuidade, indeterminância do significado: tópicos em semântica cognitiva"; Iraide Ibarretxe-Antuñano, da Universidad de Zaragoza (Unizar), da Espanha, que traz o texto "Significado y motivación: la importância de la corporeización en la semântica"; Elena del Carmen Pérez, da Universidad Nacional de Córdoba (UNC), da Argentina, que oferece o artigo "La función de las metáforas en la construcción identitaria de Argentina". Encontram-se, neste livro, também, A. Ariadne Domingues Almeida, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), do Brasil, com "Interconexões possíveis: quando a teoria da complexi-dade encontrou a Linguística Cognitiva, um caso de migração científica na noos-fera"; Maíra Avelar Miranda, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), do Brasil, com "Análise de metáforas e esquemas imagéticos multimo-dais no discurso de membros da frente parlamentar evangélica: uma abordagem cognitiva"; Jorge Osório, da Universidad Católica de la Santísima Concepción (UCSC), do Chile, com "La expresión de la conducta social: axiologia y modelo cognitivo"; José de Sousa Teixeira, da Universidade do Minho (UMinho), de Portugal, com "Quando morrem as metáforas vivas e nascem as metáforas mortas: a rece(p)ção no processo metafórico"; Augusto Soares da Silva, da Universidade Católica Portuguesa (UCP), também de Portugal, com "Polissemia na mente, na cultura e no discurso: para uma abordagem cognitiva mais dinâmica e contex-tualizada da individuação, relação e mudança de sentidos"; Elisângela Santana dos Santos, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), do Brasil, com "Conceptualizações de leitura: aportes da Linguística Cognitiva para compreensão

do significado"; Luciane Corrêa Ferreira, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), do Brasil, com "Metáforas do medo: um estudo das concei-tualizações sobre violência urbana na cidade de Belo Horizonte, MG, Brasil"; Juliana Soledade, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), do Brasil, com "Por uma abordagem cognitiva da morfologia: revisando a morfologia construcional"; e, finalmente, Carlos Alexandre Victório Gonçalves e Maria Lúcia Leitão de Almeida, ambos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também do Brasil, com "Ligando o morfômetro: análise morfossemântica das construções com -metro no português do Brasil".

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ApRESEntAçãO |

Vale ressaltar que esta coletânea é apoiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) por meio do processo 1094/2015 do Programa de Apoio a Eventos no País (PAEP).

Esperamos que a publicação dos textos que aqui se encontram contribua com a Semântica Cognitiva, estabelecendo redes de conhecimentos não apenas d'aquém e d'além-mar, mas em diversos espaços.

Aurelina Ariadne Domingues Almeida Elisângela Santana dos Santos

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Princípios de

composicionalidade

e continuidade,

indeterminância do

significado: tópicos em

Semântica Cognitiva

Heloísa Pedroso de Moraes Feltes

Introdução

Ao se comemorarem os 35 anos da obra Metaphors we live by já podemos avaliar um longo percurso de investigações em Linguística Cognitiva. Embora as fundações da Linguística Cognitiva e, mais especificamente, da Semântica Cognitiva já estivessem lançadas ao longo da década de 1970, a obra Metaphors we live by tornou-se um marco para muitas pes-quisas, fazendo com que uma grande quantidade de pesquisas em Linguística Cognitiva se concentrasse, incialmente, no tema das metáforas conceituais e seus desdobramentos.

Na verdade, devemos a Lakoff, ainda no âmbito dos debates sobre a Semântica Gerativa, o nascimento de uma nova perspectiva de estudos para a Linguística. Para aqueles que, como eu, ingressaram na Linguística Cognitiva tendo percorrido um longo caminho pelo paradigma gerativista

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e pelas semânticas formais, não resta dúvida de que as bases para o Realismo Experiencialista já estavam sendo ali consolidadas como uma reação ao paradigma racionalista gerativista. No coração desse confronto, encontra-se a posição e o papel da semântica no sistema da gramática. Para Chomsky (desde a primeira proposta em 1957 até o recente Programa Minimalista), a gramática é um sis-tema formal cujo desenvolvimento independe do significado dos elementos de suas fórmulas. A semântica seria apenas um componente derivado, realizado por outro módulo da cognição, a partir de um sistema de princípios e regras grama-ticais. O movimento de oposição a essa tese, chamado Semântica Gerativa, foi comandado por Paul Postal, George Lakoff, Háj Ross e James McCawley, deno-minados, então, jocosamente, "Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse", dando-se o primeiro passo para o reposicionamento da semântica nesse sistema. Harris (1993), em The linguistics wars, afirma que os referidos fundadores da Semântica Gerativa levaram a sintaxe, cada vez mais, para um nível profundo, até que suas "estruturas profundas se tornassem virtualmente indistinguíveis da representação semântica". (HARRIS, 1993, p. 102) O conhecido artigo de Lakoff "Toward Generative Semantics", escrito em 1963 e publicado em 1976, tornou-se o marco desse movimento underground. Nesse caminho de debates e disputas, a semântica foi se tornando progressivamente mais "primária" e mais central.

Uma das razões por que a Linguística Cognitiva se confunde com estudos de Semântica Cognitiva está, sem dúvida, nesse deslocamento contínuo em direção ao significado, às funções comunicativas e aos fatores cognitivos e socio-culturais envolvidos no funcionamento da linguagem.

Em geral, entende-se a Linguística Cognitiva como uma subárea das Ciências Cognitivas, que Lakoff e Johnson (1999, p. 568) afirmam ser "a ciência da mente e do cérebro". Conforme Lakoff e Johnson (1999, p. 496), a Linguística Cognitiva é uma teoria linguística que faz uso das descobertas da segunda geração das Ciências Cognitivas para "explicar tanto quanto possível a linguagem". Ela se inscreve na chamada "segunda geração das Ciências Cognitivas". A primeira geração caracteriza-se como sendo uma ciência da "mente computacional". A segunda geração é a da mente corporificada ou corpórea.

Desde a década de 1980, acompanhamos, então, o nascimento de uma nova gramática com Ronald Langacker, uma nova semântica com importantes discussões promovidas por Fillmore e Fauconnier. Tendo a metáfora como pedra

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pRincípiOS DE cOmpOSiciOnALiDADE E cOntinUiDADE, inDEtERminânciA DO SigniFicADO |

de toque para situar a linguagem como uma "janela para a mente humana", um novo paradigma se estabelece e se desenvolve, avançando para o exame dos cha-mados "níveis linguísticos", que, como veremos mais adiante, serão, agora, tra-tados em um continuum.

A Linguística Cognitiva constitui-se como um domínio científico há aproximadamente 25 anos se, conforme Janssen e Redeker (1999), forem con-siderados como marcos de sua fundação a International Cognitive Conference, em Duisburg, na Alemanha, em 1989, assim como a edição da revista Cognitive Linguistics, em 1990. Entretanto, se considerarmos que seus estudos antece-deram os eventos ou publicações respectivos, a Linguística Cognitiva já alcança mais de 30 anos. Como em muitos outros campos de investigação, a Linguística Cognitiva não se configura como um campo de investigação efetivamente homo-gêneo, já que há uma relativa diversificação de teorias, variações de teorias e dife-rentes escolas. Entretanto, como afirmam os editores da série Cognitive Linguistic Research (da Mouton de Gruyter), Dirven, Langacker e Taylor (1999),

[...] a rubrica Linguística Cognitiva subsume uma variedade de interesses e abordagens teóricas compatíveis que têm uma perspectiva básica comum: a de que a linguagem é uma faceta integral da cognição que reflete a interação de fatores sociais, culturais, psicológicos, comunicacionais e funcionais e que apenas pode ser compreendida no contexto de uma visão realista da aqui-sição, desenvolvimento cognitivo e processamento mental [...]. internamente, procura uma abordagem unificadora da estrutura da linguagem que evite tais dicotomias problemáticas como léxico vs. gramática, morfologia vs. sintaxe, semântica vs. pragmática e sincronia vs. diacronia. Externamente, procura, tanto quanto possível, explicar a estrutura da linguagem nos termos de outras facetas da cognição das quais ela se vale, assim como a função comunicativa a que ela serve. A análise linguística pode, portanto, tirar proveito dos insights de disciplinas vizinhas ou sobrepostas, tais como: sociologia, antropologia cultural, neurociência, filosofia, psicologia e ciência cognitiva.

Fauconnier (1999) afirma que a Linguística Cognitiva, ao contrário de outras abordagens, não advoga uma visão autônoma da linguagem, mas, sim, res-suscita a tradição em que a linguagem tem a tarefa de construir e comunicar sig-nificado, sendo, para o linguista, e linguista cognitivo, em especial, uma "janela para a mente". Entretanto, diz o autor, ver através dessa janela não é algo óbvio,

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pois se faz necessário trazer e correlacionar traços profundos de nosso pensamento, processos cognitivos e comunicação social, associando-os com suas manifes-tações linguísticas. O autor enfatiza: "O empreendimento da linguística cogni-tiva [...] já é bem-sucedido. Não é forçado dizer que talvez, pela primeira vez, uma ciência genuína da construção do significado e sua dinâmica é lançada". (FAUCONNIER, 1999, p. 96)

Integrada à Linguística Cognitiva, tendo por base as primeiras publicações de Lakoff (1977, 1980, 1982) – para citar alguns dos referenciais que julgamos relevantes –, a construção de uma Semântica Cognitiva se iniciou multidisciplinar, controvertida pela quebra de vários paradigmas e suficientemente rica em insights para promover debates com vários domínios da Linguística e entre diferentes áreas do conhecimento. O enquadramento da Semântica Cognitiva no amplo domínio da Linguística Cognitiva deve-se a um conjunto de compromissos que advêm de diferentes tendências.

Neste trabalho, nosso objetivo é levantar alguns tópicos de Semântica Cognitiva que colocam em foco (i) o princípio de continuidade (HARDER, 1999); (ii) o princípio de composicionalidade; (SWEETSER, 1999) e (iii) a Teoria

Neural da Linguagem. (FELDMAN, 2006) Apresentamos, na sequência, alguns exemplos com construções nominais, verbais e morfemáticas, com diminutivos que ilustram, de forma sintética, a natureza de alguns fenômenos em Semântica Cognitiva, segundo as três abordagens referidas, com ênfase em pontos de refe-rência cognitivos, zonas ativas, polissemia e indeterminância do significado.

Continuidade em Linguística Cognitiva

Harder (1999) trata do "continuísmo" (continuism) como uma tendência meto-dológica em Linguística. O termo "continuísmo", em uma tradução direta, não é adequado, dado o sentido que adquire em língua portuguesa. Por isso, usaremos o termo "continuidade" como expressando a ideia de continuum. A essa pers-pectiva em Linguística Cognitiva chamaremos de "Princípio de Continuidade". O autor adota o termo "continuidade" para denotar uma tendência forte em Linguística Cognitiva de não destacar certos aspectos da linguagem que são, em seu entendimento, parcialmente autônomos.

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Diz Harder (1999) que muitos dos traços da Linguística Cognitiva residem no fato de não estabelecer uma distinção nítida entre competência e performance. Em vez disso, é um modelo baseado no uso, sem marcar uma distinção entre a linguagem, de um lado, e a experiência humana, de outro, já que seu propósito é justamente imbricar a linguagem em um contexto cognitivo e experiencial mais amplo. Também não faz uma distinção nítida entre fenômenos cognitivos e fenô-menos biológicos, "porque a linguagem é fundada no corpo humano, e porque todas as habilidades podem ser vistas como mediadas por padrões neurológicos (os quais podem ser modelados por simulações conexionistas altamente sofisticadas)". (HARDER, 1999, p. 196) Ou seja, os fenômenos são tratados num continuum.

O mais importante traço da chamada "continuidade" em Linguística Cognitiva é que esta "está explicitamente preocupada com o uso da linguagem como uma janela para as estruturas cognitivas [...], de modo que se pode movi-mentar-se livre e gradualmente de fatos sobre a vida humana para fatos sobre a cognição humana". (HARDER, 1999, p. 196)

Harder (1999) sustenta que no coração da posição da Linguística Cognitiva está a tese de negar a existência de um nível sintático puramente formal, mas reforça que essa posição cognitiva da "continuidade" é responsável por muitos equívocos.

A preocupação de Harder (1999) concentra-se em tratar da questão sobre que tipos de coisas existem no mundo no contexto da Linguística Cognitiva, levantando uma questão ontológica e metodológica. Antes de simplesmente negar a "continuidade" o autor quer discuti-la com mais cuidado, a partir de uma orientação explícita em direção a uma ontologia baseada na autonomia parcial. Esta é entendida como

[...] um fato central sobre as relações entre domínios relacionados: fatos cog-nitivos são parcialmente autônomos de fatos brutos; fatos linguísticos são par-cialmente autônomos de fatos experienciais; fatos sintáticos são parpar-cialmente autônomos de fatos sobre o significado de elementos, e fatos sociais são par-cialmente autônomos de fatos mentais. (HARDER, 1999, p. 196)

Para Harder (1999), a autonomia parcial tem o mérito de aceitar a neces-sidade de níveis separados de análise dentro do contexto de uma continuidade global. Trata-se, entretanto, de um conceito complexo, mas essencial, afirma

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Harder (1999), não apenas em Linguística, mas em Ciências Cognitivas. Aceitar diferentes níveis de organização apresentaria algumas vantagens para a Linguística Cognitiva, como no caso de incluir, mais explicitamente, os fatos sociais como um nível ontológico específico em sua visão de mundo. A autonomia parcial, nesse sentido:

[...] forneceria um modo melhor de capturar o quadro integrado semantica-mente baseado da sintaxe que é privilegiado na linguística funcional e cog-nitiva, enquanto deixando, explicitamente, espaço para aquelas correspon-dências menos diretas entre padrões sintáticos e significado de itens a partir dos quais os autonomistas tendem a tirar conclusões erradas. (HARDER, 1999, p. 218)

Colocando a questão no plano da descrição linguística do significado como função interativa, Harder (1999, p. 211) diz que se sabe que a linguagem é usada em interações sociais, mas um dos aspectos a serem considerados é "a natureza de e a relação entre significados". O outro aspecto é o "status da sintaxe como um componente que torna possível a integração automática e eficiente de fragmentos de significado em significados de enunciados no todo". (HARDER, 1999, p. 211)

Lembrando sempre que a Linguística Cognitiva é uma ciência jovem, dis-cussões como as que Harder (1999) provoca, defendendo a tese da autonomia parcial como uma contribuição ontológico-metodológica para essa ciência em recente construção, não devem ser negligenciadas. Ela busca, em nosso enten-dimento, uma espécie de conciliação entre a autonomia extremada dos gerati-vistas e dos funcionalistas (como Fodor) e o "achatamento" ontológico que, não se pode negar, existe em Linguística Cognitiva, naquilo que o autor chama de continuidade em Linguística Cognitiva, que horizontaliza, num continuum, os fatos propriamente linguísticos, cognitivos e sociais.

Composicionalidade e Linguística Cognitiva

Como bem coloca Sweetser (1999, p. 133), a Linguística Cognitiva "mudou radicalmente nosso entendimento de semântica", tanto que o que tem emergido

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é "uma semântica que está tentando ser cognitivamente realista". É nesse con-texto "do que é cognitivamente realista" que a composicionalidade em semântica tem sido fortemente discutida. A autora afirma:

não conheço nenhum linguista que veja a semântica como intrinsecamente não composicional, embora possivelmente possa haver filósofos ou críticos literários que abracem tal visão. todos os linguistas concordam, assim como leigos medianos, que a razão de O gato roubou o chapéu significa algo dife-rente de O gato comeu o chapéu é que roubou e comeu trazem difedife-rentes contribuições para a interpretação do todo, e que essas contribuições estão sistematicamente relacionadas aos arranjos convencionais de interpretação de comer e roubar em outros usos possíveis dos falantes de português [inglês]. (SWEEtSER, 1999, p. 133)

Entretanto, Sweetser (1999, p. 122) segue com sua discussão de forma mais crítica:

podemos discordar de questões maiores relacionadas: por exemplo, sobre a medida em que expressões idiomáticas são processadas composicional-mente [...]; a medida em que é importante falar sobre significados de constru-ções sintáticas; a relação entre componentes 'semânticos' e 'pragmáticos' de uma mensagem comunicada linguisticamente; a relação entre interpretação linguística e processos gerais de raciocínio de inferências baseadas-em-con-texto; ou sobre a discussão a respeito de qual seja a quantidade de conteúdo de um enunciado cotidiano que seria produzido e processado pelo acesso a rotinas anteriormente realizadas, em relação à composição de elementos efetivamente novos.

E a autora conclui: "Mas o fato básico da composicionalidade permanece, e permanece também em casos aparentemente mais complicados do que aqueles que envolvem gatos, chapéus e cobertores [Referência ao famoso exemplo 'The cat is on the mat.']". (SWEETSER, 1999, p. 133) Mencionamos alguns exem-plos da autora:

(1) I put the pencil on the desk. [Eu coloquei o lápis sobre a escrivaninha.] (2) I put the pencil in the pencil-sharpener. [Eu coloquei o lápis no

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Após o processamento de (1), compreende-se que o lápis inteiro foi colo-cado sobre a escrivaninha; em (2), por outro lado, compreende-se que apenas a ponta do lápis usada para escrever foi inserida no apontador. A compreensão de (2) depende do que Langacker (1991) denominou de "zona ativa" contex-tualmente relevante, que é tomada como um referente do sintagma o lápis. Isso significa que estamos nos referindo a partes de um objeto ou referente, tal que o sintagma o lápis traz diferentes contribuições para o significado da sentença como um todo.

O exemplo (3) abaixo traz mais complexidade para o processo de interpre-tração. Ele se ocupa de um sintagma adjectival (A) que se adjunge a um nome (N):

(3) A-N Phrase: Intellectual sleeping pills [Pílulas de dormir intelectuais] O sintagma referido em (3) seria utilizado para referir-se a sermões. O que temos, nesse exemplo, é um blending metafórico. Intellectual/Intelectual é um adjetivo que especifica uma série de espaços mentais estruturados em frames. Sumariamente, há um espaço genérico (não especificado pela autora), um espaço de input 1 para [sleeping pills/pílulas para dormir-NOUN] como o domínio físico; um espaço de input 2 para o domínio intelectual [ADJECTIVE]; e um espaço de blending para [sermões como pílulas para dormir]. Pode-se dizer que o ouvinte interpretaria o sintagma em (3) ao mesclar o espaço de sleeping pills com o espaço que envolve a atividade intelectual, ao criar uma mescla metafórica, em que pills, mapeada a partir de SERMÃO, causaria a inatividade física ou inconsciência cau-sada por um sermão. No contexto adequado, a zona conceptual ativa de pílulas de dormir é SERMÕES, uma entidade apropriadamente elaborada por intellectual/ Intelectual. (SWEETSER, 1999, p. 146) A autora conclui que esse tipo de trata-mento para os sintagmas Adjective-Nouné, ao mesmo tempo, unificado, composi-cional e suficientemente flexível para dar conta de dados reais. E mais:

Sem evocar mecanismos tais como metáforas ou frames, teríamos de ou desistir de afirmar que há quaisquer princípios gerais sobre como combinar a semântica de adjetivos e nomes em uma construção de modificação, ou desistir da composicionalidade em si mesma. (SWEEtSER, 1999, p. 155)

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Sweetser (1999, p. 154-156) defende que

Uma teoria genuinamente plausível de composicionalidade semântica não pode se basear em poucos casos que lógicos consideram convenientes, com a suposição de que ela possa ser, algum dia, estendida para lidar com o resto dos dados. Ela tem de lidar com a imensa complexidade combinatorial das construções cotidianas em línguas reais, como usadas pelos falantes enga-jados na construção linguística de estruturas de espaços mentais dentro de um contexto rico […]. isso não significa que nossa teoria não seja econômica. Ela certamente será uma teoria mais rica e mais complexa da categorização e combinação semântica do que muitas daquelas da semântica formal, mas essa complexidade adicional envolverá estruturas e processos cognitivos que são necessariamente parte de qualquer teoria plausível da cognição em geral: categorização fuzzy e baseada em protótipos, exemplos salientes, ligações metafóricas e metonímicas, frames, zonas ativas, papéis e valores, espaços mentais e assim por diante. não há, naturalmente parcimônia global para a exclusão desses fatores dessa semântica linguística, se eles forem aspectos reais da cognição subjacente à linguagem. nossa teoria pode certamente ainda seguir o  raciocínio de Occam, no sentido de que não deveríamos colocar estruturas não motivadas para nossa própria segurança, mas, antes, fazer isso enquanto necessário para a análise dos dados.

[…] parece, para mim, quase impossível construir uma teoria adequada do significado que seja simultaneamente objetivista e regularmente composi-cional. Unidades menos flexíveis simplesmente não produzirão a série de sig-nificados composicionais efetivos por composição regular.

As ideias de Sweetser representam aqui, prototipicamente, o que os pesqui-sadores em Linguística Cognitiva têm discutido sobre composicionalidade. Casos como:

(4) Red Apple/Maçã vermelha (5) Red Ball/Bola vermelha

servem para demonstrar, por exemplo, que há casos em que a zona ativa pode ser sempre uma construção convencional com uma predefinição de significados sobrepostos de nomes e adjetivos: em (4) ela lida com o exterior da fruta, a cor

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de sua casca; ou em (5) de uma zona a ser construída pelo contexto: a cor da bola, a faixa vermelha sobre a superfície da bola (que possui o fundo de outra cor) ou mesmo para se referir metonimicamente a uma bola que pertence a um time cujo uniforme é vermelho. Em (5) operações de blending seriam necessárias, segundo a autora.

Opera-se, portanto, com um tipo de "composicionalidade" fundada em dados reais, em que certos sintagmas são compreendidos dada a certa realidade cognitiva e psicofisiológica, em situações reais de processamento (neural).

Lakoff (1987), nesse sentido, ressalta que processamos gestalts, ou seja, as gestalts são estruturas usadas no processamento da linguagem, no processa-mento do pensaprocessa-mento, no processaprocessa-mento perceptual, na atividade motora etc. Conforme o autor:

(1) As gestalts são holísticas e analisáveis: são todos não redutíveis à soma de suas partes. Há "propriedades adicionais em virtude de serem todos, e as partes podem tomar significância adicional em virtude de estarem dentro desses todos".

(2) As gestalts podem ser corretamente analisadas em partes de maneiras dife-rentes, a partir de diferentes pontos de vista.

(3) Uma análise gestáltica pode variar, na medida em que é fruto do pensa-mento humano, guiada pelos recursos do organismo, pelos seus propósitos e pontos de vista.

(4) As gestalts devem distinguir propriedades prototípicas de propriedades não prototípicas.

(5) As propriedades das gestalts podem ser de vários tipos. no caso das

ges-talts linguísticas, elas podem ser gramaticais, pragmáticas, semânticas,

fonoló-gicas e funcionais. (LAKOFF, 1987, p. 246)

Processamento neural da informação

A Teoria Neural aqui referida é a desenvolvida por Feldman (2006), como um modelo de como nossas funções mentais/cerebrais são tratadas numa perspec-tiva não modular e não estritamente simbólica-computacional, seguindo, em vez disso, uma versão de conexionismo. Algumas teses dessa abordagem são:

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pRincípiOS DE cOmpOSiciOnALiDADE E cOntinUiDADE, inDEtERminânciA DO SigniFicADO |

O cérebro é  constantemente ativo, computando inferências, predições e ações com cada situação envolvida. tem havido enorme pressão evolu-cionária sobre os cérebros que podem responder rápida e efetivamente em situações complexas. (FELDmAn, 2006, p. 5)

porque a linguagem é complexa, linguistas tem tradicionalmente quebrado seu estudo artificialmente em 'níveis' ou 'módulos', dado nomes tais como fonética, fonologia, morfologia, sintaxe, léxico, semântica, discurso, pragmá-tica. A maioria dos linguistas se especializa no estudo de apenas um nível ou na fronteira entre dois subcampos adjacentes. tais estudos focalizados têm dito muito sobre a linguagem e são ainda a norma. Entretanto, a linguagem real é corpórea, integrada e multimodal [...]. As regras ou padrões de guagem são chamados construções, e estas integram diferentes facetas da lin-guagem, por exemplo: fonologia, pragmática, semântica e sintaxe. Uma cons-trução de pergunta poderia especificar uma forma gramatical, um padrão de entonação, restrições pragmáticas e o significado intencionado. (FELDmAn, 2006, p. 9)

As propriedades macroscópicas da mente e da linguagem originam-se […] de propriedades microscópicas de neurônios e de mecanismos de sinalização neural, adaptação neural e crescimento neural. (FELDmAn, 2006, p. 49) [c]onexões mentais são conexões mentais ativas. Há razão para acreditar que ideias, conceitos e similares são representados por atividades neurais. O cir-cuito exato envolvido é incerto, mas nos satisfaz assumir que algum padrão de conexão estável está associado a certa palavra, conceito, esquema e assim por diante. (FELDmAn, 2006, p. 91)

cada palavra pode ativar subredes de significado alternativos. Essa subredes são elas próprias lincadas a outros circuitos que representam a semântica de palavras e frames que estão ativos no contexto corrente. O mecanismo neural de associação melhor ajustado ativa conceitos adicionais relacionados como parte da escolha do significado mais apropriado. (FELDmAn, 2006, p. 287)

De acordo com Feldman (2006), conceitos como RED/VERMELHO e expressões como "stone bridge"/"ponte de pedra" e "stonelion"/"leão de pedra" evidenciam que a "teoria semântica necessita de regras para combinar significados

(22)

que não dependam da forma gramatical em que é usada num dado caso". (FELDMAN, 2006, p. 285) Ele cita o exemplo:

(6) Red fire engine

Em (6), Feldman afirma que há um pequeno puzzle: qual é o significado de red que é de algum modo combinado com fire engine na nomeação de uma determinada tonalidade? Nesse caso, a tonalidade não é a mesma que aquela refe-rida em, por exemplo: red face, red sky or red hair. Pelos mecanismos da Teoria Neural, a tonalidade que seria escolhida é aquela que provê a resposta neural mais forte. A justificativa é que:

A partir de nossa perspectiva neural corpórea, o significado dependente de contexto de 'red' é natural; a ativação de duas palavras juntas ativa o meca-nismo neural do cérebro que melhor se ajusta para decidir o padrão global mais coerente envolvendo contextos alternativos nomeáveis por essas pala-vras no contexto em questão. (FELDmAn, 2006, p. 286)

Vejamos o exemplo (7): (7) Red Guard

Em (7) há um caso de integração conceptual ou blending, que se torna um item do vocabulário ao evocar um frame complexo apenas fracamente rela-cionado aos significados originais de cada elemento, no caso, red and Guard. Feldman provavelmente se refere à Red Guard da revolução Bolshevike (1917), um termo gerado de Red Army. A referência é sobre as cores do movimento comu-nista. Outros movimentos na Finlândia e Bavária utilizaram esta designação. A expressão, portanto, resulta de um blend complexo, provavelmente por processo metonímico. Em determinados contextos, essa expressão demandaria processos inferenciais complexos para sua interpretação mais relevante.

Já em (8) e (9) temos algo diferente: (8) Stone lion

(23)

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(9) Stone bridge

Para Feldman, nesses casos, (8) e (9), os adjetivos negariam traços essen-ciais dos nomes que eles modificam, tais como: artificial, fake, imitation e toy, que envolveriam as intenções das pessoas que usam o objeto (bridge e lion). Dessa forma, o autor afirma que "modificadores adicionais operam dessa maneira para alguns objetos mas não para outros". (FELDMAN, 2006, p. 286) O que ele quer dizer é que stone lion (8) não é um leão, mas uma imitação ou estatueta, algo feito de pedra na forma de um leão, e que stone bridge (9), por outro lado, é ainda uma ponte. A partir desses exemplos, resulta a questão de como os significados são combinados. Primeiramente, Feldman toma a teoria amplamente aceita de que as palavras possuem significados múltiplos fixados: word senses. Nessa abordagem, todos os significados residem nas palavras, e as regras da gramática apenas espe-cificam quais combinações de palavras são permitidas – na perspectiva de uma autonomia sintática. Discordando dessa abordagem, Feldman (2006) levanta algumas questões de uso contextual relacionados ao exemplo (8):

(a) Deveria haver para cada nome de animal um outro sentido que cubra objetos na forma de leão?

(b) E o que dizer de outros atributos animais usados de uma maneira usual em sentido "não literal": tamanho, habitat, agressividade, força?

(c) Deveria haver também sentidos de palavras separados para estatuetas de leão, armas falsas, etc?

(d) E como proceder com relação a usos contextuais como stone lion refe-rentes a um leão sentado sobre uma pedra ou um leão que come uma pedra etc?

A resposta de Feldman (2006) é que a teoria neural corporificada da lin-guagem fornece uma alternativa para os múltiplos significados das palavras que é mais simples e intuitivamente mais plausível. O autor usa um exemplo de uso de stone lion em um contexto conversacional:

(24)

A: How has Peter been behaving as the director of the company? B: Peter is a stone lion.

Quais são as inferências derivadas plausíveis e como elas seriam derivadas utilizando a linguagem operacional da Teoria Neural? "B" utiliza uma linguagem metafórica, cuja interpretação é altamente dependente do contexto a partir do qual a questão de "A" é formulada. Na verdade, a questão formulada por "A" é uma parte constituinte do contexto. O que a Teoria Neural deveria oferecer, em nosso ponto de vista, é uma resposta para as seguintes questões: como as subredes neurais se conectam a outros circuitos e como são determinados os frames ativados no contexto em questão? Como os padrões neurais operam para ajustar o melhor mecanismo de associação que ativaria os conceitos relacionados adicionais como parte da escolha do significado mais apropriado? Como o significado de uma palavra em contexto é capturado pela atividade conjunta do circuito relevante global: contextual, imediato e associativo? Essas questões são complexas e sejam quais forem os mecanismos adotados pela Teoria Neural, o framework global deve ter potencial para respondê-las no curso de seu desenvolvimento.

O ponto central é que a concepção de um léxico mental "estocado" na memória deve ficar fora da equação. Do meu ponto de vista, a proposição de uma conexão estável associada a palavras ou conceitos, conforme Feldman (2006), não deveria ser confundida com a existência de um léxico mental estável. Edelman e Tononi (2000) afirmam que, devido à mudança de contextos, uma propriedade da memória no cérebro é a de que ela é uma forma de recategorização construtiva durante a experiência contínua e não uma replicação de sequências prévias de eventos, e, ainda,

A memória tem propriedades que permitem à percepção alterar a memória e à memória alterar a percepção. não tem qualquer capacidade fixa limitada, visto que ela realmente gera 'informação' por construção. É robusta, dinâ-mica, associativa e adaptativa. [Se esta visão estiver correta], em organismos superiores todo ato de percepção é, em algum grau, um ato de imaginação. A  memória biológica é, portanto, criativa e  não estritamente replicativa. (EDELmAn; tOnOni, 2000, p. 101)

(25)

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Assim, qualquer modelo computacional deverá lidar com estruturas que, aparentemente simples, implicam operações cognitivas automáticas, mais ou menos complexas.

Croft e Cruse (2004) explicam que o conhecimento é basicamente uma estrutura conceitual. Segundo eles, "os linguistas cognitivos argumentam que a representação sintática, morfológica e fonológica é basicamente conceitual". (CROFT; CRUSE, 2004, p. 3) Além disso, outra característica da Linguística Cognitiva apontada por Croft e Cruse é que, nessa teoria, o conhecimento lin-guístico emerge da própria linguagem em uso. Para eles, "categorias e estruturas em semântica, sintaxe, morfologia e fonologia são construídas a partir de nossa cognição de enunciados específicos em ocasiões específicas de uso". (CROFT; CRUSE, 2004, p. 4-5)

Exemplificando a natureza das questões em Semântica

Cognitiva

Vejamos alguns exemplos muito comuns em nosso dia a dia que, embora des-contextualizados, podem ajudar a entender alguns fenômenos com os quais a Semântica Cognitiva se ocupa. Trouxemos exemplos do cotidiano para ilus-trar uma questão mais complexa: a das construções. Embora não analisemos tais construções nos termos da Gramática das Construções, levantamos alguns fenô-menos que seriam analisados por meio de seu aparato teórico-metodológico, que não apenas descreve o que ocorre, mas explica a natureza de tais ocorrências na linguagem. Naturalmente, o corpus deveria ser mais amplo e as questões melhor delimitadas. Porém, a ideia é oferecer uma ilustração, mais do que uma análise detalhada.

Consideremos, primeiramente, a Figura 1 como representativas da des-crição mais precisa de cada parte do olho humano, o que se refletiria semântica e lexicalmente em uma estrutura meronímica:

(26)

Figura 1 – Estrutura meronímica B

Fonte: acervo pessoal da autora.

(11) 'olhos azuis' [ÍRIS (mas não toda a íris, apenas partes dominantes)] (12) 'olhos vermelhos' [ESCLERÓTICA (mas não a esclerótica toda, já que a zona ativa seria sua vascularização)] ou [ÍRIS (em áreas dominantes)] (13) 'olho roxo' [TECIDO EM VOLTA DO OLHO]

(14) 'olho pintado' [PÁLPEBRAS/CÍLIOS] (15) 'olho fechado' [PÁLPEBRAS]

(16) 'olho inchado' [TECIDO EM VOLTA DO OLHO/PÁLPEBRAS] O que se observa é que o modificador [ADJETIVO X] opera sobre o [NOME olho], alterando o ponto de referência cognitivo ou a zona ativa. Não se trata de simplesmente adjungir um atributo, mas de designar qual parte do olho está sendo qualificada, e isso se dá por compressão. Resulta dessa compressão um mapeamento metonímico, a PARTE sendo referida como o TODO e é pela ação do modificador [ADJETIVO X] que se define o ponto de referência cognitivo para a compreensão do significado do [NOME olho]. Ao meu ver, não se trata de um caso de polissemia de olho, mas de indeterminância de significado, a qual só se resolve, em geral, na adjunção, nesses casos, do [ADJETIVO X]. Isso porque em construções do tipo coçar o olho a designação é ainda mais imprecisa e o [VERBO coçar] não atua, de forma mais decisiva, para delimitar a região em que se coça, no caso, a pálpebra superior, a pálpebra inferior ou ambas? Dificilmente seria a íris

(27)

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De qualquer modo, em (11)-(16) vemos ilustrada a questão de significados que se sobrepõem e a questão da existência de uma zona ativa ou de um ponto de refe-rência cognitivo. Essas construções ilustram, também, a questão problemática do significado literal. Podemos entender isso com base em (15'-15'''):

(15') Acho que Maria está dormindo. Ela está com os olhos fechados. [PÁLPEBRAS RECOBRINDO O OLHO, Mapeamento metonímico.] (15'') Maria não se dá conta do que está acontecendo. Ela está com os olhos fechados. [e.g., NÃO PERCEBE A REALIDADE, Mapeamento metafórico. Cf. metáfora COMPREENDER É VER]

(15"') Maria faria isso de olhos fechados. [COM CONFIANÇA/SEM DÚVIDAS]

Não temos, portanto, um "significado literal" em (15') e um "significado figurado" em (15") e (15"').

Nesse sentido, mapeamentos metonímicos e metafóricos atuam por um princípio de produtividade e economia cognitiva, deixando, desse modo, margem para inferências de natureza contextual.

O mesmo ocorre nas construções nominais de (17) e (20), tendo como referência as Figuras 2, 3 e 4.1

Figura 2 – Caneta A Figura 3 – Caneta B Figura 4 – Caneta C

Fonte: acervo pessoal da autora.

(17) 'caneta azul' (18) 'caneta prata'

1 Devido à impressão deste livro ser nas cores preta e branca, as cores azul e prata não se tornaram visíveis nas figuras.

(28)

Usamos essas diferentes expressões com diferentes propósitos. Com (17), [ADJETIVO azul] pode qualificar [NOME caneta] apenas com relação à tinta utilizada na escrita, conforme a Figura 2. Pode, entretanto, ser utilizada para designar a cor externa no objeto, como na Figura 32. Já (18) pode ser utilizada para designar apenas uma parte da cor externa da caneta, conforme a Figura 4. Em cada uso das expressões, a zona ativa ou o ponto de referência cognitivo saliente é alterado. Nosso conhecimento sobre a configuração física de CANETAS sugeriria que todas as canetas, nas Figuras 2, 3 e 4,3 possuem tinta de cor azul para a escrita.

Alteremos a construção para (19) e (20): (19) 'caneta de cor prata'

(20) 'caneta de prata'

Parecem estruturas similares, mas a construção (19) é [N caneta [PP [P de [N cor [ADJ prata]]]]], e a (20), [N caneta [PP [P de [N prata]]]]. Em (19), há uma referência ambígua ou indeterminada, ou à cor da tinta ou à cor externa da caneta. Em (20), a referência diz respeito ao material de que é feita a parte externa da caneta.

Considerem-se, agora, as figuras (6) a (8) e as construções (21) a (23):

Figura 5 – Cigarro A Figura 6 – Cigarro B

Fonte: acervo pessoal do autor.

2 As partes escuras da imagen da caneta, na Figura 3, correspondem à cor azul. Já, na Figura 2, a parte clara remete à transparência da caneta Bic.

3 na Figura 4, as partes claras que aparecem na imagem da caneta correspondem à cor prata, e as partes escuras, à cor azul.

(29)

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pRincípiOS DE cOmpOSiciOnALiDADE E cOntinUiDADE, inDEtERminânciA DO SigniFicADO | Figura 7 – Cigarro C

Fonte: Super Interessante (2016).

(21) tamanho de um cigarro [O TODO DO CIGARRO] (22) cheiro de um cigarro [A FUMAÇA DO CIGARRO]

(23) acender um cigarro [A PONTA DO CIGARRO OPOSTA AO FILTRO]

Temos o [NOME] cigarro e as expressões tamanho de [NOME]' cheiro de [NOME] e acender [NOME]. Diferentemente do uso de um modificador, temos, respectivamente, duas estruturas nominais [N [PP[P[NOME]]] e uma estru-tura transitiva verbal [V[N[Det[N]]]. Em (21), há uma referência ao tamanho do objeto cigarro (apagado) como um todo, como no exemplo (1) de Sweetser (1999). Em (22), a referência não é ao cheiro do cigarro quando apagado, mas, por exemplo, à fumaça do cigarro quando aceso, havendo um processo metonímico do tipo CAUSA [(QUEIMA DO) CIGARRO] PELO EFEITO [FUMAÇA DO CIGARRO]; e, em (23), há uma referência a uma parte específica do cigarro que é queimada por um instrumento específico, como no exemplo (2) de Sweetser (1999). Essas expressões mudam o entendimento do que está sendo levado em consideração com relação ao objeto cigarro. Evidentemente, estão em jogo estru-turas conceituais relativas ao nosso conhecimento/experiência de CIGARRO. E se considerarmos a expressão, também transitiva verbal,

(24) comprar cigarro,

teremos, ainda, uma outra possibilidade de referência: a embalagem em que vem uma certa quantidade de cigarros, havendo um processo metonímico do tipo CONTEÚDO [CIGARRO] PELO CONTINENTE [MAÇO].

(30)

Uma listagem de significados ou postulados de significados não basta para que entendamos a natureza dessas construções. São mecanismos cognitivos que estão envolvidos na compreensão das qualificações ou designações referenciais ou conceituais em cada caso, além de, obviamente, situações de uso mais ou menos convencionais. A Semântica Cognitiva aceita a indeterminância dos significados e a sobreposição de significados de lexemas e expressões e possui um aparato teó-rico para descrever e explicar o como e o porquê de determinados usos. Nesses contextos, processos metafóricos e metonímicos atuam para uma maior produ-tividade/economia cognitiva. Mas resta o fato de que podemos, ainda, destacar "segmentos" de sentenças e enunciados para análise, conforme discussão sobre a questão problemática da composicionalidade na seção Composicionalidade e Linguística Cognitiva.

Adiante com exemplos, passemos a construções morfológicas. O caso que quero trazer tem como base os estudos de Silva (2003) com as estruturas relativas ao diminutivo (-inh). Silva examina vários usos do diminutivo, como um caso de polissemia, conforme a seguir, de modo simplificado e com exemplos adicionais.

Ao trazer os exemplos de usos do diminutivo, buscamos refletir sobre uma diferença importante entre os casos anteriormente mencionados e os casos envol-vendo o diminutivo. Em nosso entendimento, o uso do diminutivo é mais fre-quente na oralidade e em situações informais de uso, razão pela qual deveríamos lidar com um corpus bastante amplo com registros de linguagem oral para cap-turar seu funcionamento e as estruturas de sua formação. Assinala-se que corpora dessa natureza estão sendo formados com esforços conjuntos de diferentes grupos de pesquisa.

(31)

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pRincípiOS DE cOmpOSiciOnALiDADE E cOntinUiDADE, inDEtERminânciA DO SigniFicADO | Quadro 1 – Estrutura semântica do diminutivo no Português

PEQUENEZ Diminuição Explicação

Diminuição (semelhanças na escala de diminuição) Imitação

Partitivo 8 Individuação

FORMAÇÃO DE ENTIDADES

8 'carrinho de bebê/de supermercado', 'camisinha', 'dedinho (mindinho)', 'cafezinho' Explicação (metáfora e metonímia)

Apreciação/depreciação 3 Relativização/aproximação 4 Intensificação 5 AVALIAÇÃOFiguração 6 Interação 7 META-SEMÂNTICA 3 'mãezinha', "gentinha' 4 'quilinhos', 'cortezinho' 5 'pertinho', 'cheinho' 6 'anjinho'

7 'esmolinha', 'favorzinho', 'chauzinho'

Fonte: Silva (2003, p. 101).

O uso do diminutivo, como a análise de Silva (2003) propõe, é um caso de polissemia morfológica. Porém, mais exemplos precisam ser examinados, deta-lhadamente, em situações de uso efetivas para que possamos construir um enten-dimento razoável das construções de que participa e, principalmente, para veri-ficarmos casos de indeterminância semântica. Vejamos alguns casos. Expressões como

(32)

(25) boazinha (26) banhozinho (27) horinha (28) minutinho (29) trabalhinho (30) bonitinha

podem, todas, em dados contextos, significar uma relativização, segundo a estrutura semântica proposta por Silva (2003), conforme o Quadro 1; porém, (25), (29) e (30) podem significar, também, conforme o contexto de uso, uma

depreciação.

Adicionalmente, temos os seguintes casos:

(31) (à/pela) noitinha: MAIS CEDO NA NOITE

(32) (à/pela) tardinha/'(de) tadezinha: MAIS TARDE NA TARDE (33) (de/pela) manhãzinha': MAIS CEDO NA MANHÃ

E, de forma depreciativa:

(34) que manhãzinha/que tardezinha/noitezinha [RUIM] (35) que diazinho [RUIM]

Nos exemplos (34) e (35), trata-se, respectivamente de toda a manhã, toda a tarde, toda a noite e todo o dia. Ou seja, é preciso analisar os usos efetivos dessas construções na oralidade e na escrita para compreender o funcionamento e for-mação do diminutivo no português.

Olhando especificamente as expressões (36) e (37): (36) fiz agorinha

(37) faz rapidinho

Em (36), há uma uma indicação de algo realizado num "agora" imediato. Em (37) há uma intensificação do tipo BEM RAPIDAMENTE ou, ainda, não

(33)

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se pode excluir essa possibilidade, do tipo FAZ RÁPIDO [DE QUALQUER MANEIRA/SEM CUIDADOS]. Não é possível dizer que se trata de uma rela-tivização ou intensificação sem que se conheçam os contextos de uso efetivo. Também é contextual o significado do diminutivo em construções como (38)

a (41):

(38) Tudo certinho? [Tudo [está/ Ø] Adj1]?]

(39) Faça certinho desta vez. [Fazer Adj 2 Adv] ou [Fazer Adv Adv]? (40) Ele é todo certinho. [Ser [todo] Adj 3]

(41) Cabe certinho na caixa. [N/Ø Cabe Adj 4 Adv] ou [N/Ø Cabe

Adv Adv]?

Em cada caso, certinho terá um sentido particular a ser definido pelo uso numa dada situação de fala. Enquanto (40), embora fora de contexto, sugere que se trata de um sujeito muito correto, com traços de um julgamento de apreciação (favorável ou desfavorável), (38) e (39) possuem alta indeterminância, dificul-tando seu enquadramento em categorias de uso do diminutivo. Porém, seguindo alguma linha de interpretação, (38) aproxima-se de Tudo está bem?, (39) de Faça corretamente e (41) de Cabe perfeitamente.

Algumas questões ficam em aberto, tais como: por que usamos na ora-lidade o diminutivo com tanta frequência? A que efeitos visamos? São atitudes presentes em um modelo cultural de um povo que se expressa "afetivamente" na oralidade? Devemos entender esses usos como implicaturas conversacionais? Serão blends?

Todos os exemplos que ilustram o objeto desta conferência – problemas relativos ao Princípio de Composicionalidade e ao Princípio de Continuidade, bem como o potencial da Teoria Neural para o tratamento de construções – são casos cujo tratamento já possui, na Semântica Cognitiva ou na Linguística Cognitiva, em diferentes modelos de análise, alternativas profícuas na tensão ade-quada entre descrição e explicação. Esse tratamento dá conta de fatores neuroló-gicos, cognitivos, comunicacionais e socioculturais que privilegiam manifestações linguísticas em eventos de fala naturais.

(34)

Considerações finais

O ponto na breve discussão que realizamos é que a composicionalidade, tal como tradicionalmente entendida, não só não permite descrever determinadas estru-turas, como não oferece explicações transparentes para os usos em construções nominais e verbais, assim como em derivações tais como as levantadas neste tra-balho. Uma possibilidade é a adoção de uma nova concepção de composiciona-lidade, já que, como verificamos na breve ilustração de exemplos, é possível exa-minar certos segmentos de sentenças ou enunciados e mesmo de lexemas desde que se levem em consideração noções tais como as de estruturas gestálticas em "movimentos" do "todo para a parte" e da "parte para o todo"; de saliência percep-tual; de zonas ativas; de pontos de referência cognitivos etc. Por outro lado, a con-tinuidade ou mesmo a autonomia parcial com as quais a Linguística Cognitiva se compromete conduzem a explicações bastante robustas nos atravessamentos de fatores linguísticos, cognitivos, socioculturais e comunicacionais em geral, e essa robustez implica em trabalhar necessariamente de forma transdisciplinar. A Teoria Neural, por sua vez, desenvolve-se em direção à criação de um aparato teórico-metodológico que permite uma análise empiricamente adequada aos fatos linguísticos, tais como se apresentam em situações efetivas de uso. Os debates sobre a questão da composicionalidade e da autonomia parcial ainda estão em aberto, e a Teoria Neural, em desenvolvimento, oferece boas perspectivas para a Linguística Cognitiva.

Cada vez mais, necessitamos contar com dados convergentes, incluindo-se aí a contribuição da Linguística de Corpus, para que nossos estudos ofereçam generalizações confiáveis. Eventos de fala reais, efetivos, com base na oralidade, precisam ser progressivamente registrados para a formação de corpora suficien-temente amplos e variados para nossos empreendimentos de pesquisa futuros. Além disso, os eventos de fala orais são tipicamente multimodais, o que acrescenta uma maior complexidade descritiva a esses fenômenos. Em suma, o mais impor-tante é que a Semântica Cognitiva e, mais amplamente, a Linguística Cognitiva abraçam essa complexidade, bem como a riqueza da linguagem humana, tor-nando viáveis, hoje, pesquisas que tensionam adequadamente descrição e expli-cação, associadas à plausibilidade empírica de seus achados.

(35)

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SUPER INTERESSANTE. São Paulo: Ed. Abril, 2016. Disponível em: <https://abrilsuperinteressante.files.wordpress.com/2016/12/cigarro2. jpg?quality=70&strip=info&w=600>. Acesso em: 10 abr. 2015.

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(37)

37

Significado y motivación

1

:

la importancia de la

corporeización en

la semántica

Iraide Ibarretxe-Antuñano

¿Qué es la metáfora?

La metáfora es un concepto ubicuo en los estudios de lingüís-tica y literatura. Cualquier estudioso de estos campos sabe más o menos qué es hablar con metáforas pero no todos coinciden en algunos aspectos fundamentales como, por ejemplo, su naturaleza, su función y su formación (véanse Ortony, 1993 y Bustos, 2000, para un repaso por diferentes perspectivas sobre metáfora). Tradicionalmente, la metáfora se ha descrito como un recurso retórico utilizado deliberadamente para embellecer un texto. La definición del Diccionario de la Real Academia Española es muy ilustrativa a este respecto:"Tropo que consiste en trasladar el sentido recto de las voces a otro figurado, en virtud de una comparación tácita".

En esta definición, la Academia propone que la metá-fora es una cuestión de palabras (voces), con un propósito retó-rico (tropo) y basada en analogías deliberadas y conscientes (comparación tácita). Sin entrar en juzgar la adecuación de esta

1 por se tratar de outro idioma, as normas deste texto foram man-tidas conforme as de seu país de origem (n. do E.)

(38)

definición, aunque es prácticamente imposible resistirse a señalar la utilización de la expresión el sentido recto y preguntarse qué es recto y torcido en semántica, estos elementos que propone el DRAE son algunas de las características que las visiones tradicionales de la metáfora toman como rasgos definitorios de este "tropo". Su función entonces sería superflua a la vez que intencional para la comunicación y se utilizaría solamente en algunos contextos, ya que al ser consciente se podría evitar. Además, el hecho de que la metáfora se forme a partir de una traslación de sentidos rectos de las palabras, requeriría el esfuerzo no solo para crearla sino también para comprenderla.

Ahora bien, la metáfora es mucho más que un simple juego de palabras tácito. Numerosos ejemplos en cualquier lengua del mundo atestiguan que este "tropo" es ubicuo y se utiliza constantemente en el lenguaje cotidiano. Expresiones como la crisis es profunda, dar una cálida bienvenida o mantener una estrecha rela-ción son comunes y fáciles de entender y usar. No son expresiones que se utilicen para embellecer una conversación sino para describir algunos aspectos cotidianos que, de otra manera, no se podrían expresar. La cuestión interesante realmente con respecto a la metáfora es, por un lado, el saber por qué se relaciona lo nega-tivo con la parte inferior, el calor con lo agradable y la falta de distancia con la cercanía social, y por otro, el descubrir por qué cuesta tan poco entender estas expresiones.

Algunas de estas cuestiones las plantearon ya en los años 80 Lakoff y Johnson en su clásico libro Metaphors We Live By (1980). Según estos autores, la metáfora, o mejor dicho, la metáfora conceptual, no es un juego de palabras, sino el manejo de conceptos que se usan no solo para describir una realidad sino para entenderla. En otras palabras, es un mecanismo cognitivo de pensamiento y razo-namiento. Además, la metáfora se utiliza inconscientemente, sin esfuerzo y en situaciones cotidianas, va más allá de un parecido físico o funcional y está basada en nuestra experiencia del mundo que nos rodea. En sus propias palabras:

"[…] no metaphor can ever be comprehended or even adequately represente-dindependently of its experiential basis […] [they] are grounded by virtue of systematic correlates within our experience". (LAKOFF Y JOHnSOn, 1980, p. 19, p. 58)

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De todas las características que describen a la metáfora conceptual desde este paradigma, este trabajo se va a centrar solamente en dos principios, uno teórico y otro metodológico, que son fundamentales para el estudio del signi-ficado (véase, SORIANO, 2012, para una visión comprehensiva). Por un lado, el principio epistemológico de la motivación y la corporeización (embodiment); el hecho de que la metáfora tiene una base experiencial, es decir, está basada en nuestra experiencia física y cultural. Por otro lado, el principio metodológico que distingue entre el concepto y la expresión lingüística (oral+gestual). Una de las herramientas más fructíferas de la teoría de la metáfora conceptual consiste en distinguir entre la metáfora conceptual y la expresión metafórica. La primera se define como la(s) correspondencia(s) entre dos dominios conceptuales diferentes (de un dominio fuente a un dominio meta) compartida(s) por diversas lenguas del mundo. La segunda como la codificación de esa(s) correspondencia(s) a partir de los recursos lingüísticos (orales+gestuales) propios de una lengua determinada. Así, enunciados como dar una cálida bienvenida o ser una persona fría se

conside-rarían expresiones metafóricas de la misma metáfora conceptual el afecto es calor (y su negativo, la falta del afecto es frío).

La centralidad de estos dos aspectos, la codificación y la motivación de la metáfora, para el estudio del significado van a ser el objetivo principal de estudio de este trabajo. Aquí se plantean como dos de los pilares básicos, y a la vez revo-lucionarios, de la teoría de la metáfora conceptual de Lakoff y Johnson. Sin embargo, conviene recordar que, aunque es cierto que en la semántica actual es a partir del libro de Metaphors We Live By, cuando se retoman estas cuestiones de la motivación, muchas de las ideas que subyacen a este modelo cognitivo, ya habían sido mencionadas o propuestas por autores anteriores (véase, JÄKEL, 1999; IBARRETXE-ANTUÑANO, 2013a, para un repaso de algunos antecedentes). Aquí, dado que también se homenajea el centenario de la muerte de Michel Bréal valga como ejemplo la siguiente cita de su libro Essai de sémantique (Science des significations) publicado en Paris en 1897 (cita de la edición en español de 1904):

"cuando la lingüística convierta hacia el sentido de las palabras una parte de la atención que dirige demasiado exclusivamente hacia la letra, podrá construir, para los diversos idiomas, un interesante e instructivo catálogo que muestre

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el contingente de metáforas suministrado por cada clase de ciudadanos, por cada profesión u oficio". (BRÉAL, 1897, cap. 12 [1904, p. 118])

Corporeización: el cuerpo y el filtro cultural

Según la lingüística cognitiva, el lenguaje refleja estructuras conceptuales que la gente construye basándose en la experiencia y el conocimiento, más o menos común, del mundo exterior que les rodea y de su propia cultura. A esta expe-riencia y conocimiento del universo de los hablantes es lo que se ha denominado la corporeización que es un concepto clave en la lingüística cognitiva. La idea prin-cipal que subyace a este concepto es que el significado está basado en la naturaleza de nuestros cuerpos y en nuestra percepción e interacción con el mundo físico, social y cultural que nos rodea. En palabras de Johnson (1987):

"Understanding doesn't consist merely on after-the-fact reflections on prio-rexperiences; it is, more fundamentally, the way (or means by which) we have those experiences in the first place. it is the way our world presents itself to us. And this is the result of the massive complex of our culture, language, history, and bodily-mechanisms that blend to make our world what it is". (JOHnSOn, 1987, p. 104)

Los diferentes conceptos que expresamos con el lenguaje están, por lo tanto, basados en nuestra experiencial corporal y cultural y se estructuran sistemá-ticamente a través de mecanismos cognitivos como la metáfora.

A pesar de que el factor de la cultura está íntimamente ligado al de cor-poreización desde los primeros estudios en lingüística cognitiva, durante la pri-mera década del 2000, algunos autores dentro de este modelo teórico se centraron más en los aspectos físicos y sensorio-motores de la motivación del significado, dejando así de lado el rol de la cultura (véase IBARRETXE-ANTUÑANO, 2013b, para una crítica más extensa). Solo hace falta echar un vistazo a algunos trabajos básicos como el diccionario de términos de lingüística cognitiva de Evans (2007) para ver que la cultura simplemente desaparece de la ecuación.

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"Embodiment.pertains to the body, especially species-specific physiologyand anatomy. physiology has to do with biological morphology, which is to say body parts and organization, such as having hands, arms and (bare) skin rather than wings and feathers. Anatomy has to do with internal organization of the body. this includes the neural architecture of an organism, which is to say the brain and the nervous system. the notion of embodiment plays an important role in many cognitive linguistic theories". (EVAnS, 2007, p. 68)

El hecho de que la cultura se relegase a un segundo plano ha traído conse-cuencias no del todo positivas a la lingüística cognitiva. Una de ellas es el empeño en declarar como "universal" las denominadas metáforas primarias (GRADY, 1997), es decir, las metáforas que están basadas en correlaciones entre la expe-riencia subjetiva y sensorio-motora con escenarios expeexpe-rienciales recurrentes. Una de las denominadas metáforas primarias es la que se basa en la relación entre la visión y el entendimiento. La metáfora entender es ver se ha considerado por muchos autores en este modelo como una metáfora universal (véase SWEETSER, 1990, p. 38-39, p. 45; LAKOFF Y JOHNSON, 1999, p. 54, p. 238-240), ya que

se encuentra en muchas lenguas del mundo (IBARRETXE-ANTUÑANO, 1999, 2002a; VANHOVE, 2008). Por ejemplo, un enunciado como el que aparece en (1) en español, también se puede encontrar en inglés (2) y en vasco (3).

(1) Ni nos aclaró usted antes lo de la edad, ni veo por qué habla de odiar al hijo y asesinar al padre [CREA, 15/11/2010]

(2) 'It is difficult to see how the integrity of the statement can be assured or enforced,' it added [BNC, 15/11/2010]

'Es difícil entender cómo se puede garantizar e imponer la integridade de esta declaración'

(3) Orain, berriz, urtetik urtera garbiago ikusten dut zein bestelakoa den Francoren proiektua Proustenaren aldean [CRP, 15/11/2010]

'Ahora, por otra parte, con el paso de los años veo mucho más claro lo dife-rente que era el proyecto de Franco al lado del del Proust'

En todos estos ejemplos, la metáfora entender es ver se codifica a través de expresiones metafóricas diferentes (el verbo ver en español y sus equivalentes en inglés y vasco respectivamente, see e ikusi).

Referências

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