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(1)UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE INGRID SORA. CONSUMISMO E INFÂNCIA: PROTEÇÃO DA CRIANÇA NA MÍDIA E FRENTE À PUBLICIDADE INFANTIL. SÃO PAULO 2017.

(2) INGRID SORA. CONSUMISMO E INFÂNCIA: PROTEÇÃO DA CRIANÇA NA MÍDIA E FRENTE À PUBLICIDADE INFANTIL. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à. Faculdade. de. Direito. da. Universidade. Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção de grau de Bacharel em Direito.. ORIENTADORA: Profª. Dra. Michelle Asato Junqueira. SÃO PAULO 2017.

(3) INGRID SORA. CONSUMISMO E INFÂNCIA: PROTEÇÃO DA CRIANÇA NA MÍDIA E FRENTE À PUBLICIDADE INFANTIL. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à. Faculdade. de. Direito. da. Universidade. Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção de grau de Bacharel em Direito.. Aprovada em. BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________________________ Profª Dra. Michelle Asato Junqueira Universidade Presbiteriana Mackenzie ___________________________________________________________________ Prof Universidade Presbiteriana Mackenzie ___________________________________________________________________ Prof Universidade Presbiteriana Mackenzie.

(4) AGRADECIMENTOS. À Deus por ter me dado força para concluir esse trabalho. À Universidade Presbiteriana Mackenzie e seu corpo docente, que me auxiliaram à alcançar esta tão sonhada formação. À minha orientadora, Michelle Asato, por todo o suporte e incentivo. Aos meus pais pelo incentivo e apoio incondicional. Ao Instituto Alana pela incrível oportunidade. Às minhas amigas e parceiras pelo apoio, discussões e revisões. E à todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação..

(5) "nós queremos que as crianças digam: "eu preciso desse produto. Eu quero esse produto. Eu amo esse produto." (frase dita por um palestrante em uma conferência especializada em marketing infantil, citada no livro Consuming Kids, de Susan Linn).

(6) RESUMO. A criança, assim considerada no Brasil como pessoa até 12 anos, historicamente é agente para a publicidade comercial, e tem ganhado ainda mais destaque para o mercado publicitário. Como veiculadora de mensagem publicitária comercial, por meio da comunicação mercadológica, ela apresenta simpatia, linguagem simples e próxima às outras crianças, criando uma relação de confiabilidade. Como receptora da mensagem, ela se torna promotora de vendas em sua família e comunidade, bem como futura compradora fiel. Assim, o presente trabalho se propõe a estudar a proteção jurídica sobre a criança e sua relação com a mídia, ou seja, sobre a criança que faz publicidade comercial e sobre a criança que recebe esta publicidade, principalmente sob a ótica da prioridade absoluta conferida à criança e prevista na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e Adolescente; do Direito do Consumidor, que reconhece sua hipervulnerabilidade; e da especial proteção que recebe do Direito do Trabalho, disposições estas que acabaram por gerar um arcabouço normativo que se propõem à proteger a infância; e, ainda, sob uma análise fática por meio do estudo de casos de publicidade infantil que contam com crianças como agentes veiculadoras dessas mensagens.. Palavras-chave: Criança; Infância; Consumismo; Hipervulnerabilidade;Trabalho..

(7) ABSTRACT. Children, thus defined in Brazil as people below the age of 12 years, are historically targeted for commercial advertising, and recently have been gathering even more attention from the advertising market. As a disseminator of commercial advertising messages through the means of marketing communication, the child presents friendliness and simplified language that mimics other children’s patterns of speech, with the intent of establishing a relationship of trust. As the receivers of the message, children become sales promoters in their families and communities, as well as future loyal costumers. The aim of the present study is to analyze the legal protection of children and their relationship with the media, including both the child who is featured in commercial advertising and the child who receives it. The analysis is conducted under the approach of the warranty of absolute priority for children, prescribed by the Constitution of the Federative Republic of Brazil and the Child and Adolescent Statute; the Consumer Defense Code, which recognizes children’s vulnerability; and the special protection granted to children by Labour Law. All of these legal devices have created a regulatory framework over the years, with the intent of protecting childhood. Lastly, the study conducts a factual analysis through case studies of advertising featuring children as agents in the dissemination of these messages.. Keywords: Children; Childhood; Consumerism; Vulnerability; Labour..

(8) LISTA DE ILUSTRAÇÕES. FIGURA 1. IMAGEM DO EDITORIAL ‘SOMBRA E AGUA FRESCA’ DA REVISTA VOGUE KIDS....................................................................................... 41. FIGURA 2. IMAGEM EXTRAÍDA DO FACEBOOK DO COLÉGIO PARTICULAR MANOEL MORATTO ........................................................................... 63. FIGURA 3. GARRAFAS DA MARCA BONAFONT KIDS ....................................... 69. FIGURA 4. IMAGEM EXTRAÍDA DA MATÉRIA “LOJA-CONCEITO DA KLIN NO BRASIL APOSTA EM ‘CRIANÇAR’“ .................................................... 73. FIGURA 5. IMAGEM DO COELHO “BUNNY” DA MARCA DURACELL ................ 75. FIGURA 6. DIVULGAÇÃO DA CAMPANHA DE VOLTA ÀS AULAS DAS LOJAS HAVAN ................................................................................................ 78. FIGURA 7. YOUTUBER MIRIM ISAAC DENTRO DE UMA DAS LOJAS DA REDE HAVAN DIVULGANDO A CAMPANHA DE VOLTA ÀS AULAS E AS REDES SOCIAIS DA MARCA ............................................................. 78. FIGURA 8. COMENTÁRIO DE CRIANÇA NO VÍDEO DO YOUTUBER ISAAC .... 79. FIGURA 9. YOUTUBER JULIA SILVA DIVULGANDO OS PRODUTOS DA MARCA LONG JUMP ........................................................................................ 80. FIGURA 10 YOUTUBER JULIA SILVA DIVULGANDO OS PRODUTOS DA MARCA LONG JUMP ............................................................................................... 81 FIGURA 11 COMENTÁRIOS NO FACEBOOK DA MARCA TIROL........................ 83 FIGURA 12 IMAGEM. DE. CRIANÇAS. EM. AMBIENTE. ESCOLAR. NA. PUBLICIDADE DA MARCA TIROL...................................................... 84 FIGURA 13 DIVULGAÇÃO DOS PRODUTOS TIROL CARROSEL ....................... 84 FIGURA 14 IMAGEM DE DIVULGAÇÃO DE CALÇADO DURANTE VÍDEO MUSICAL DO CANAL MUNDO PAMPILI ............................................ 85.

(9) FIGURA 15 COMENTÁRIOS NO VÍDEO DE DIVULGAÇÃO DOS PRODUTOS DA MARCA DAILUS .................................................................................. 87 FIGURA 16 IMAGEM RETIRADA DO VÍDEO DE DIVULGAÇÃO DOS PRODUTOS DA MARCA DAILUS ............................................................................ 87 FIGURA 17 IMAGEM RETIRADA DO VÍDEO DE DIVULGAÇÃO DOS PRODUTOS DA MARCA DAILUS ............................................................................ 88.

(10) LISTA DE TABELAS. TABELA 1. ESTIMATIVAS DAS DIFERENTES CATEGORIAS DE TRABALHO INFANTIL POR IDADE DE 2000 A 2004 ............................................. 20.

(11) SUMÁRIO. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12 1. TRABALHO INFANTIL ARTÍSTICO ..................................................................... 16 1.1 Proteção da criança diante do trabalho ....................................................... 16 1.2 Breve histórico da regulação do trabalho infantil no mundo e no Brasil . 21 1.3 Peculiaridades do artista mirim .................................................................... 24 1.3.1 Possibilidade de autorização para trabalho artístico de menores de 16 anos ................................................................................................................... 25 1.3.2 Competência para julgar causas relativas ao trabalho infantil artístico ............................................................................................................................ 29 1.3.3 Acompanhamento psicológico ............................................................... 34 1.3.4 Ausência de regulamentação do trabalho de youtubers mirins .......... 35 1.4 O trabalho do artista mirim na mídia e suas consequências ..................... 39 2. PUBLICIDADE DIRIGIDA À CRIANÇA ................................................................ 43 2.1 Publicidade comercial ................................................................................... 43 2.2 Regulação sobre publicidade infantil no Brasil .......................................... 44 2.3 Causas e consequências do consumismo infantil ..................................... 57 2.4 Publicidade direcionada ao público infantil ................................................ 61 2.4.1 Publicidade de material escolar ............................................................. 61 2.4.2 Publicidade de brinquedos ..................................................................... 65 2.4.3 Publicidade de alimentos ........................................................................ 66 2.4.4 Publicidade de roupas e calçados ......................................................... 72 2.4.5 Publicidade de produtos destinados ao público adulto....................... 74 3. PUBLICIDADES DIRECIONADAS À CRIANÇA PELA UTILIZAÇÃO DE ARTISTAS MIRINS: APRESENTAÇÃO DE CASES ............................................... 77 3.1 Case de publicidade de material escolar com crianças: Isaac do Vine e lojas Havan ........................................................................................................... 77 3.2 Case de publicidade de brinquedos com crianças: caso '15 empresas' programa Criança e Consumo ............................................................................ 79.

(12) 3.3 Case de publicidade infantil de alimentos com crianças: caso 'Linha Tirol Carrossel' do Programa Criança e Consumo .................................................... 83 3.4 Case de publicidade infantil de roupas com crianças: canal Mundo da Menina Pampili ..................................................................................................... 85 3.5 Case de publicidade infantil de produtos destinados ao público adulto com crianças: youtuber Julia Silva e marca Dailus .......................................... 86 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 89 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 93 DOCUMENTOS ELETRÔNICOS............................................................................ 100 VÍDEOS ................................................................................................................... 104.

(13) 12. INTRODUÇÃO. Como forma de expandir o reconhecimento de marcas pelos consumidores, objetivando o aumento do lucro percebido, empresas dos setores de produtos e serviços e agências de publicidade têm se utilizado de crianças como promotoras de vendas. Seja por meio de estrelas infantis que divulgam marcas em comerciais ou plataformas de vídeos, como a youtuber Julia Silva, que contou com um impressionante aumento de seguidores em seu canal ao longo do desenvolvimento desta pesquisa; ou pela veiculação de comunicação mercadológica às crianças das mais diversas faixas etárias, prática esta adotada pelo mercado publicitário e já percebida nos mais diversos cenários, as empresas e agências de publicidade estão com a atenção voltada às crianças. O presente trabalho se propõe a apresentar, por meio da técnica de pesquisa bibliográfica conjugada com a de estudo de caso, utilizando a metodologia de abordagem hipotética-dedutiva, algumas das faces da lógica do consumo como meio de entender uma das mais recentes tendências do mercado: captar consumidores cada vez mais jovens que têm a capacidade de influenciar as decisões de compra de suas casas e que, no futuro, serão fiéis consumidores de marcas. Tal tendência acaba por levar não somente ao consumo, que é naturalmente humano, mas sim ao consumismo, que é o consumo em demasia, se utilizando de uma linguagem simples e acessível às crianças, que passa confiabilidade, e que elas conhecem muito bem - a de outras crianças. Os desenvolvedores das publicidades comerciais sabem que a criança, em sua peculiar condição de desenvolvimento, é hipervulnerável frente às suas ações de comunicação mercadológica e, assim, abusam dessa hipervulnerabilidade, captando a atenção dos pequenos de forma que eles sejam fidelizados ao consumo e promovam suas vendas. Para potencializar o efeito dessas publicidades, são utilizados diversos recursos - linguagem acessível, cores impactantes, trilhas.

(14) 13. sonoras memoráveis, licenciamento de personagens, animações e brindes em produtos, e, é claro, a presença de celebridades, entre elas, artistas mirins. Utilizados em programas de televisão e rádio, em propagandas e em canais de plataformas de vídeos, os artistas mirins com suas "vidas de vitrine" transformamse em verdadeiros modelos para outras crianças que, para seguir os padrões que são tão intensamente apresentados à elas, entram no mundo do desejo pelo consumo constante mesmo sem ter capacidade plena de avaliar seus efeitos e consequências. Mesmo com o arcabouço protecionista formado principalmente pela Constituição Federal, Convenções da ONU, Estatuto da Criança e do Adolescente, Código de Defesa do Consumidor, Consolidação das Leis Trabalhistas, Marco Legal da Primeira Infância, Resolução nº 163 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, e outras normas infraconstitucionais, o que se verifica na prática é que as crianças brasileiras ainda precisam de proteção e atenção frente à toda comunicação mercadológica apresentada a elas. Quanto aos pequenos artistas, estes também devem ser protegidos. Será demonstrada a evolução da legislação protecionista da criança frente ao trabalho infantil e, mais especificamente, frente ao trabalho infantil artístico, bem como as particularidades às quais estão submetidos os artistas mirins para que seja ofertada uma maior proteção à essas crianças que de maneira tão precoce são apresentadas à fama e ao mercado de trabalho. Ademais,. destaca-se. a. grande. relevância. dos. youtubers. mirins,. apresentadores de canais infantis da plataforma de vídeos Youtube, que têm tido um papel de destaque no que se refere ao consumo e infância, principalmente quando se é considerada a realidade de que a internet é muito utilizada por crianças. Vídeos virais sem limite de reprodução com crianças que apresentam suas rotinas, família, comunidade, interesses, pensamentos, produtos que compram ou recebem ou serviços que utilizam, que já contam até mesmo com publicação de livros ou produtos licenciados, já são uma realidade que teve ser encarada..

(15) 14. Essa nova modalidade de trabalho artístico infantil que se apresenta de maneira inovadora e ainda não percebida por grande parte das pessoas, traz novamente a necessidade de reflexão sobre quão protegida a infância está. Os artistas mirins têm apresentado ao logo dos anos uma série de necessidades diferentes de uma criança que não trabalha, necessitando de especiais atenções também do Direito para a preservação de seu desenvolvimento de forma integral. Nesse sentido, crianças que não tem uma jornada de trabalho préestabelecida; que estão expostas a todo momento por meio de seus vídeos, visualizados diversas vezes, sem nenhum controle; que muitas vezes gravam dentro de suas residências, o que faz com que seu ambiente de descanso e de convívio familiar seja também onde trabalham; contando com seus responsáveis como produtores e roteiristas de seus vídeos, e, ao mesmo tempo, atuando como empresários; e que expõe sua vida como uma vitrine, um modelo de consumo para que outras crianças desejem esse mesmo tipo de vida, sem nunca lhes ser permitido sair deste padrão construído para suas vidas, devem urgentemente ser alvo da atenção do Direito. Defende-se, ainda, a existência de regulamentação sobre a publicidade direcionada ao público infantil no Brasil.Tendo em vista a hipervulnerabilidade e o peculiar estado de desenvolvimento da criança, que só consegue avaliar criticamente o conteúdo comercial veiculado pela mídia a partir dos 12 anos, temos especificamente o Código de Defesa do Consumidor, que prevê que. toda a. publicidade que se aproveita da deficiência de julgamento e experiência da criança é abusiva. Destaca-se que a mídia é aqui entendida como toda a estrutura de difusão de informações, notícias, mensagens e entretenimento que estabelece um canal intermediário de comunicação de massa. Assim, por uma interpretação sistemática do Código de Defesa do Consumidor com a prioridade absoluta prevista na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente, juntamente com a Resolução nº 163 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, que traz expressamente que a publicidade infantil é abusiva, sendo que ela se aproveita de.

(16) 15. linguagem infantil; trilhas sonoras infantis; representação de crianças; de pessoas ou celebridades com apelo ao público infantil; de personagens ou apresentadores infantis; de animações ou desenho animados; bem como de bonecos e promoções para alcançar os pequenos, temos uma estrutura normativa acerca do tema. Serão apresentados, ainda, alguns casos que envolvem publicidade de materiais escolares, brinquedos, alimentos, roupas e calçados, bem como de produtos comumente destinados ao público adulto, e que demonstram a grandiosidade das consequências da utilização de trabalho infantil artístico de apresentadores ou atores mirins, principalmente youtuber mirins, na comunicação mercadológica para estes e para o público infantil que absorve toda essa pressão consumista. Por fim, serão demonstradas as conclusões sobre as relações entre a mídia e a infância, feitas a partir de reflexões acerca dos dados coletados, pesquisas realizadas, normas existentes e casos demonstrados..

(17) 16. 1. TRABALHO INFANTIL ARTÍSTICO. Para que seja realizada uma análise acerca do trabalho infantil artístico, fazse necessário o estudo de alguns aspectos da criança diante do trabalho, bem como da evolução histórica da regulação do trabalho infantil, suas peculiaridades e consequências.. 1.1 Proteção da criança diante do trabalho A criança, assim entendida como a pessoa de até 12 anos de acordo com a legislação vigente, conta com uma série de proteções previstas no sistema jurídico brasileiro, por se encontrar em um estágio de desenvolvimento físico, mental e social. Segundo Yves de la Taille1, não há diferenças entre as inteligências de um adulto e de uma criança, entretanto, há uma diferença estrutural expressa da seguinte maneira: dos 2 aos 7 anos a criança ainda não possui ferramentas intelectuais necessárias para estabelecer demonstrações lógicas e percepção da superação de contradições de raciocínios. Dos 7 aos 12 anos tais ferramentas já foram construídas, entretanto, estas são apenas aplicáveis em situações concretas, a partir de experiências, e não de forma hipotética. Somente a partir dos12 anos as estruturas mentais de uma criança se assemelham a de um adulto. Entretanto, mesmo tratando-se de ser em peculiar estágio de desenvolvimento, a criança foi e é explorada em detrimento desta condição de diversas formas. Uma das faces dessa exploração é pelo trabalho infantil. Durante muito tempo, a maior parte de nossa sociedade baseou a ideia de ter filhos como forma de obter mão de obra para os serviços oferecidos e produções de suas famílias. Acrescenta-se a isso o fato de o trabalho sempre ter sido visto como algo virtuoso e honroso. 1. LA TAILLE, Yves de. A publicidade dirigida ao público infantil: considerações psicológicas. In: FONTENELLE, Lais (Org.). Criança e Consumo: 10 anos de transformação. São Paulo: Alana, 2016, p. 104-119..

(18) 17. Ainda sim, muitos se empenharam e se empenham a desconstruções de tais ideais em prol dos direitos das criança em desenvolver-se plenamente, incluídas as suas garantias desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade 2 , incluindo-se, portanto, de frequentar a escola de maneira regular, de ter tempo para seu lazer e descanso, de ter um ambiente adequado para viver e de ter uma convivência familiar e comunitária livre de abusos e privações. Amauri Mascaro Nascimento 3 destaca a existência das seguintes ordens listadas por García Oviedo 4 para fundamentar as evidentes necessidades de proteção do menor por toda a sociedade: 1) Fisiológica, para que seja possível o seu desenvolvimento normal, sem os inconvenientes das atividades mais penosas para a saúde, como ocorre nos serviços prestados em subsolo, períodos noturnos etc.; 2) De segurança, porque os menores, pelo mecanismo psíquico de atenção, expõem-se a riscos maiores de acidentes de trabalho; 3) De salubridade, impondo-se sempre afastar os menores dos materiais ou locais comprometedores para o seu organismo; 4) De moralidade, por haver empreendimentos prejudiciais à moralidade do menor, como as publicações frívolas, a fabricação de substâncias abortivas, etc; 5) De cultura, para que seja assegurada ao menor uma instrução adequada.. Ainda, é notório que uma das consequências do trabalho infantil é a redução de desempenho escolar da criança e da fixação do conteúdo com ela trabalhado em sala de aula, pela redução na frequência de aulas ou mesmo do cansaço gerado pela jornada de trabalho, o que impacta de maneira direta seu desenvolvimento psicológico e físico5.. 2. Traz o artigo 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente: “Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade”. 3 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p.981-982. 4 Catedrático do Direito Administrativo da Universidade de Sevilha de 1913-1954. 5 “O aprendizado feito de forma inadequada altera o ritmo normal da aquisição do conhecimento pelo menor, afetando os sistemas neurológico e psicológico, os quais passam a ter dificuldade de enfrentar novas habilidades” (BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2005, p 565)..

(19) 18. Segundo a Organização Internacional do Trabalho - OIT, o Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF, e outros organismos internacionais, as crianças e adolescentes de até 14 anos de idade devem se dedicar exclusivamente à escola; qualquer trabalho neste período é prejudicial. Se a criança estiver exercendo atividades para terceiros com pagamento, mesmo que seja por um prato de comida ou uma doação de roupas, fica caracterizado o trabalho infantil, especialmente se esse trabalho for sistemático e prejudicar a frequência escolar6. Atualmente, a legislação brasileira determina que a idade mínima para a entrada no mercado de trabalho é de 16 anos, nos termos do artigo 7º, XXXIII da Constituição Federal, artigos 403 e 404 da Consolidação das Leis do Trabalho CLT, e artigos 60 e 67 do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA. Destaca-se da legislação citada que o trabalho noturno é permitido apenas para maiores de 18 anos, assim como o perigoso e o insalubre. Entretanto, aqueles entre 14 e 16 anos podem trabalhar na condição remunerada de aprendiz. Ainda, é permitido o estágio de educandos, que tem profunda relação com o aprendizado prático, nos termos do artigo 1º da Lei nº 11.788/2008, in verbis: Art. 1o Estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam freqüentando o ensino regular em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos. (grifos nossos). As características de trabalho infantil que diferirem das permissões legais são exploratórias e causam prejuízo à saúde e ao desenvolvimento da criança ou adolescente que realiza tal atividade, bem como impede e compromete o exercício do direito à educação e ao brincar7. Em termos internacionais, a Convenção nº 138 e a Recomendação nº 146 da OIT, que tratam sobre a idade mínima de admissão ao emprego, promulgadas em 6. BBC BRASIL. Tire suas dúvidas sobre o trabalho infantil no Brasil. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2003/030428_tperguntas.shtml>. Acesso em: 1. dez. 2016. 7 OIT. Combatendo o Trabalho Infantil: Guia para educadores/IPEC. Brasília: 2001, p. 13-14. Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/ipec/pub/caderno1_330.pdf>. Acesso em: 28 abr. 2017..

(20) 19. 2002 no Brasil, definem a idade para a categoria de trabalho perigoso: a admissão a todo tipo de emprego ou trabalho que por sua natureza ou condições possa ser perigoso para a saúde, segurança ou moralidade, não deverá ser realizada a menores de 18 anos. De acordo com o Relatório Global da OIT de 2006 sobre o fim do trabalho infantil, no quadro do Seguimento da Declaração da OIT sobre os Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho 8 , existe, ainda, a categoria das "crianças economicamente ativas": "Trabalho infantil" é um conceito mais restrito do que "crianças economicamente ativas", excluindo todas as crianças com 12 ou mais anos que trabalham apenas algumas horas da semana em trabalhos leves autorizados e aquelas com 15 ou mais anos cujo trabalho não é classificado como "perigoso". O conceito de "trabalho infantil" baseia-se na Convenção da Idade Mínima da OIT, de 1973 (n. 138), que constitui a mais completa e oficial definição internacional sobre a idade mínima de admissão ao emprego ou ao trabalho, indicando uma "atividade econômica". "Atividade econômica" é um conceito amplo que engloba a maioria das atividades produtivas realizadas por crianças, sejam ou não para o mercado, remuneradas ou não, por algumas horas ou em tempo integral, de forma ocasional ou regular, legais ou ilegais; excluem-se as pequenas tarefas realizadas pelas crianças em sua casa ou escola. Pra ser considerada como economicamente ativa, uma criança deverá ter trabalhado pelo menos uma hora em qualquer dia, num período de referência de sete dias. "Crianças economicamente ativas" é um conceito estatístico e não uma noção jurídica.. Sobre as categorias apresentadas, o trabalho perigoso é uma subcategoria do trabalho infantil, o qual é uma subcategoria da atividade econômica. De acordo com os dados disponibilizados no Relatório, em 2004, 1.206.5 milhões de crianças e adolescentes entre 5-14 anos estavam na faixa economicamente ativa, sendo 165.8 milhões trabalhadores e 74.4 milhões figuravam em trabalhos perigosos.9. 8. OIT. O fim do trabalho infantil: um objetivo ao nosso alcance. Brasília: 2006. p.12. Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/ipec/pub/relatorio_global_2006_339.pdf>. Acesso em 28 abr. 2017. 9 Ibidem..

(21) 20. Tabela 1 - Estimativas das diferentes categorias de trabalho infantil por idade de 2000 a 2004.. Fonte: OIT. 10. De acordo com recente mapeamento da situação do trabalho infantil do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, divulgado em junho de 2017, o número de trabalhadores precoces chega a 5% da população entre 5 e 17 anos. A taxa de crianças economicamente ativas é 20% menor do que o registrado em anos anteriores, mas é possível uma interrupção na tendência de queda11. Já o estudo da OIT lançado em 19 de setembro de 2017, estima que 152 milhões de crianças foram submetidas a trabalho infantil em 2016, o que significa que uma em cada dez crianças de 5 a 17 anos foram exploradas em todo o mundo, sendo que cerca de 73 milhões exerciam trabalho perigoso12.. 10. OIT. O fim do trabalho infantil: um objetivo ao nosso alcance. Brasília: 2006. p.12. Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/ipec/pub/relatorio_global_2006_339.pdf>. Acesso em 28 abr. 2017. 11 EBC AGÊNCIA BRASIL. Brasil registra aumento de trabalho infantil entre crianças de 5 a 9 anos. 12 jun. 2017. Disponível em: <www.ilo.org/ipecinfo/product/download.do?type=document&id=23795>. Acesso em 1 nov. 2017. 12 MARTINS, Helena. OIT: 152 milhões de crianças foram vítimas de trabalho infantil em 2016. EBC Agência Brasil, 19 set. 2017. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitoshumanos/noticia/2017-09/oit-152-milhoes-de-criancas-trabalho-infantil-2016>. Acesso em 1 nov. 2017..

(22) 21. 1.2 Breve histórico da regulação do trabalho infantil no mundo e no Brasil Há registro do trabalho de crianças, junto a suas famílias e tribos, desde os primórdios da história humana. Elas praticavam as mesmas atividades que os adultos, dentro das capacidades próprias às suas idades13. No período da escravidão, na Antiguidade, integrantes de tribos, povos ou grupos subjugados que antes eram mortos, passaram a ser utilizados como ferramentas de trabalho, fossem crianças ou adultos. Como os filhos de escravos eram propriedade dos senhores de seus progenitores, assim que tinham alguma capacidade de laborar já integravam a massa trabalhadora de seus senhores, não existindo qualquer preocupação em preservar a mão de obra infantil escrava 14. Durante a Idade Média, não houve conquistas no campo da infância, conforme traz Arnaldo Süssekind: A evolução foi sutil: o escravo era coisa, de propriedade de seu amo; o colono era pessoa, pertencente à terra. Sendo “pessoa”, sujeito de direitos, podia transmitir, por herança, seus animais e objetos pessoais; mas transmitia também a condição de servo15.. Com as corporações de ofício na Europa Ocidental, ao final do século XI, os artesãos se reuniram nas cidades sob forma de rígida hierarquia, e na base desta estavam as crianças como aprendizes, geralmente em torno dos 12 anos, que concediam seu trabalho em troca de alojamento, alimentação e ensinamentos do ofício. A partir do século XVIII, com o processo de industrialização na Europa, alterou-se o método de produção, o que desencadeou novas relações econômicas e sociais. Expropriação dos camponeses, estímulo à migração para áreas urbanas, as alterações nas formas de geração de lucro, levaram as pessoas a procurarem emprego em fábricas. Entretanto, a baixa remuneração exigia do trabalhador a. 13. SANTOS, Ronaldo Lima dos. Sindicatos e Ações Coletivas: acesso à Justiça, jurisdição coletiva e tutela dos interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos. São Paulo: LTr, 2003. p.120. 14 BARBOSA, Jamile; FONETELE, Vanice. A exploração da mão de obra infantil e seu impacto na sociedade. Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/28387-28398-1PB.pdf>. Acesso: em 26 set. 2017. 15 SÜSSEKIND, Arnaldo. Curso de Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p.7..

(23) 22. inserção de toda a sua família, incluindo mulheres e crianças, no trabalho, para a garantia de sobrevivência16. Frente à falta de mão de obra adulta, e principalmente devido ao desejo de alguns donos dos meios de produção de reduzir os custos, servindo-se do trabalho mal remunerado de crianças e mulheres, o volume do trabalho infantil sofreu intenso crescimento. O trabalho das crianças era escolhido porque, além de receber salários inferiores, “sua fraqueza era a garantia de sua docilidade: podiam ser reduzidas, sem muitos esforços, a um estado de obediência passiva, na qual homens feitos não se deixavam facilmente dominar” 17. À luz dos ensinamentos de Leon Martin-Granizo e Mariano Gonzalez, Evaristo de Moraes Filho destacam-se as quatro fases de evolução do Direito do Trabalho: a primeira, que vai de 1802 a 1848; a segunda, de 1848 a 1891; a terceira, de 1891 a 19191; e a quarta, de 1919 aos nossos dias18. Destaca-se que o marco inicial da primeira fase seria justamente a lei inglesa, que proibiu o trabalho das crianças à noite ou por duração superior a doze horas, o que evidencia que a preocupação com o trabalho infantil está na gênese do Direito do Trabalho. A Convenção nº 138 da OIT, aprovada em 27 de junho de 1973, que trata sobre a idade mínima para admissão ao emprego, estabelece que a fixação desta depende do estágio de desenvolvimento de um país, não devendo esta ser inferior à idade de conclusão da escolaridade compulsória ou, em qualquer hipótese, não inferior a 15 anos, nos termos de seus artigo 2º, item 3, sendo que autoriza que esta idade mínima seja definida inicialmente como 14 anos no país-membro em que a economia ou ensino não estejam suficientemente desenvolvidas (artigo 2º, item 4). O Brasil acabou por confirmar a idade mínima de 16 anos quando promulgou a Convenção Internacional em 200219.. 16. SOUZA, Ismael Francisco de. A exploração no trabalho de crianças na Revolução Industrial e no Brasil. Uberaba: 2006. Boletim Jurídico n.197. Disponível em: <http://boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=1561>. Acesso em: 1 dez. 2016. 17 OLIVA, José Roberto Dantas. O Princípio da Proteção Integral e o trabalho da criança e do adolescente no Brasil. São Paulo: LTr, 2006, p.41. 18 MORAES FILHO, Evaristo de. Introdução ao Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: Revista Forense, 1956. p.360. 19 CAVALCANTE, Sandra Regina. Trabalho infantil artístico: do deslumbramento à ilegalidade. São Paulo: LTr, 2011. p. 32-33..

(24) 23. Por meio da Declaração de Princípios da Organização Internacional do Trabalho (OIT), editada em 1998, a Conferência Internacional do Trabalho dispôs que todos os Membros da Organização, ainda que não tenham ratificado suas Convenções, têm um compromisso derivado de pertencer à Organização, devendo assim respeitar, promover e tornar realidade, de boa-fé e de conformidade com a Constituição, os princípios relativos aos direitos fundamentais que são objeto dessas Convenções, entre os quais foi incluída a abolição efetiva do trabalho infantil20. As péssimas condições de trabalho e as doenças decorrentes explicam por que as primeiras leis trabalhistas da fase contemporânea da história tiveram como alvo o menor aprendiz e, no campo internacional, as primeiras conferências de países industrializados aprovaram instrumentos sobre o trabalho do menor21. No Brasil, o trabalho infantil pode ser observado desde o início da colonização, quando as crianças negras e indígenas já eram incorporadas ao trabalho. No ambiental fabril, a utilização da força de trabalho da criança e do adolescente ocorreu nos mesmos moldes da Europa, apresentando, ainda, a peculiaridade do sistema escravista, que também submetia o grupo ao trabalho 22. Pelos dados da OIT23, em 1890, do total de empregados em estabelecimentos industriais, 15% era formado por crianças e adolescentes. Nesse mesmo ano, o Departamento de Estatística e Arquivo do Estado de São Paulo registrava que um quarto da mão de obra empregada no setor têxtil da capital paulista era formada por crianças e adolescentes. Vinte anos depois, esse equivalente já era de 30%, segundo dados do Departamento Estadual do Trabalho. Já em 1919, segundo o mesmo órgão, 37% do total de trabalhadores do setor têxtil eram crianças e jovens; e, na capital paulista, esses índices chegavam a 40%. Em 1 de junho de 1999, foi elaborada a Convenção nº 182 e, logo em seguida, a Recomendação nº 190, que tratam da proibição das dadas “piores formas 20. BOUCINHAS FILHO, Jorge Cavalcanti. Apresentação. In: CAVANCANTE, Sandra Regina. Trabalho Infantil Artístico: do deslumbramento à ilegalidade. São Paulo: LTr, 2011. 21 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Constitucional do Trabalho. 3. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p.295-296. 22 PERES, Viviane Matos González. Criança e Adolescente: o direito de não trabalhar antes da idade mínima constitucional como vertente do princípio da dignidade humana. Disponível em: <http://fdc.br/arquivos/mestrado/dissertacoes/integra/vivianeperez.pdf>. Acesso em: 1 dez. 2016. 23 BBC BRASIL. Tire suas dúvidas sobre o trabalho infantil no Brasil. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2003/030428_tperguntas.shtml>. Acesso em: 1. dez. 2016..

(25) 24. de trabalho infantil” 24 e das ações para sua eliminação. Observa-se que a Convenção utiliza a expressão "criança" para os menores de 18 anos. O trabalho infantil artístico, que se apresenta debaixo de holofotes, nas televisões, palcos, passarelas, vídeos disponíveis na internet, rádios, revistas, e em tantos outros meios de comunicação, se mostra um tema sensível a ser observado, uma vez que o trabalho infantil é proibido, mas sob forma de arte é liberado. Temos como consequência a fama de crianças, longas jornadas de trabalho, enriquecimento. meteórico. de. suas famílias,. problemas. psicológicos. como. consequência da carreira precoce, intervenções do Estado no poder familiar, tudo isso sob um olhar de absoluta normalidade da sociedade, que já se acostumou a ver a infância dedicada ao trabalho. Portanto, podemos concluir que existem formas de trabalho infantil que podem ser permitidas, entretanto, o trabalho artístico infantil sempre traz certa inquietação aos defensores do direito da infância.. 1.3 Peculiaridades do artista mirim O artista mirim merece destaque quanto às peculiaridades que envolvem seu trabalho: como se dá a autorização para que trabalhe, quem a concede, como deve ser exercido esse tipo de trabalho e as novas tendências que vêm se destacando quanto ao trabalho artístico de crianças. É o que se passa a expor.. 24. De acordo com a Convenção 182 e a Recomendação 190 da OIT, promulgadas pelo Decreto nº 3.597/2000, a expressão "as piores formas de trabalho infantil" abrange: a) todas as formas de escravidão ou práticas análogas à escravidão, tais como a venda e tráfico de crianças, a servidão por dívidas e a condição de servo, e o trabalho forçado ou obrigatório, inclusive o recrutamento forçado ou obrigatório de crianças para serem utilizadas em conflitos armados; b) a utilização, o recrutamento ou a oferta de crianças para a prostituição, a produção de pornografia ou atuações pornográficas; c) a utilização, recrutamento ou a oferta de crianças para a realização para a realização de atividades ilícitas, em particular a produção e o tráfico de entorpecentes, tais com definidos nos tratados internacionais pertinentes; e d) o trabalho que, por sua natureza ou pelas condições em que é realizado, é suscetível de prejudicar a saúde, a segurança ou a moral das crianças..

(26) 25. 1.3.1 Possibilidade de autorização para trabalho artístico de menores de 16 anos De. acordo. com. a. legislação. vigente,. crianças. podem. dedicar-se. profissionalmente a atividades artísticas, tais como música, teatro e cinema. Entretanto, o Brasil historicamente apresenta uma tendência em explorar seus talentos infantis. Embora exista um esforço de muitos para preservar a criança mesmo diante de tais atividades, observa Sandra Regina Cavalcante25 que desde o século XX as carreiras artísticas são incentivadas dentro dos núcleos familiares, que muitas vezes forçam seus filhos desde a mais tenra idade a frequentar aulas de passarela, canto, dança, dentre outras, para que enveredem pelo caminho de exposição e de espetáculos. Ainda, podemos analisar o poder de influência que os meios de comunicação apresentam à criança. De acordo com Mansur26: Entre a criança e o mundo há uma interação que permite seu desenvolvimento como ser humano enquanto participa da construção do mundo. Nesse processo, sofre influência de agentes externos como a televisão. Necessário se faz refletir sobre os seus efeitos na infância, promovendo uma verdadeira educação para a mídia.. Quanto ao desejo em se inserir em uma carreira artística na primeira infância, o psiquiatra Fábio Barbirato traz que "aos quatro ou cinco anos, a noção de certo e errado, fantasia e realidade é mínima. É pouco provável que a criança deseje por si só ser famosa. Apenas segue a influência dos pais, mesmo que tenha talento" 27. Em evento realizado na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC - RS), em 2000, a 2ª Jornada de Debates: Mídia e Imaginário Infantil, Gilka Girardello, da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, apresentou uma pesquisa realizada com 80 crianças, feitas pelos alunos de jornalismo da UFSC, que 25. OLIVA, José Roberto Dantas. O Princípio da Proteção Integral e o trabalho da criança e do adolescente no Brasil. São Paulo: LTr, 2006, p.47. 26 MANSUR, Odila Maria Ferreira de Carvalho; BRITO, Betina Muylaert Ribeiro de Castro; BARBOSA, Simone Aquino. Sob a influência da TV. Revista AMAE Educando. Belo Horizonte, n. 315, mai. 2003, p. 6-9. 27 DINIZ, Juliana; RAMOS, Cláudia. Eles querem ser famosos. Revista Claudia, n. 12, ano 46. São Paulo: Editora Abril, dez. 2007, p. 165 - 173..

(27) 26. demonstra a influência da televisão sobre o imaginário infantil: dentre as crianças analisadas, a influência se dá desde a escolha da profissão, tais como as de atriz, jogador de futebol e modelo28. Tais influências alteram o modo como a criança enxerga a realidade. Ainda segundo Sandra Regina Cavalcante 29 , a intensa exposição de figuras infantis, principalmente na TV, por meio da participação de artistas mirins nas propagandas e programas, incentiva o consumismo, fabricando necessidades e originando desejos que interferem profundamente na infância. De acordo com Simone Olsiesky dos Santos 30 , a pedagogia televisiva no contexto atual enfatiza a posição de capital-corpo, capturando o sujeito infantil e remetendo-o à posição de mercadoria a ser consumida. Complementa a autora: Verifica-se uma extensão da difusão de mercadorias imagéticas consumíveis e vendáveis, ao universo dos produtos comercializáveis foi incorporado o mais novo produto a ser divulgado e consumido: o sujeito infantil (...) Hoje, a infância aparece reeditada num novo formato tal qual um reality-show, tão metamorfoseada quanto a própria contemporaneidade.. Simone Olsiesky dos Santos afirma, ainda, que a sociedade estabeleceu como uma espécie de "cruzada a luta contra o trabalho infantil", com normas protetivas e até mesmo com campanhas veiculadas em canais de TV, entretanto: Decretamos "não" ao trabalho infantil, desde que este se ocupe das crianças catadoras de lixo, trabalhadoras das minas de carvão, coletoras de latinhas, plantadoras de cana-de-açúcar ou daquelas que costuram bolas de couro. Contudo, neste tempo de cruzada antimão-de-obra infantil, cada vez mais vemos engrossar a fileira de atores mirins e de novos talentos. Quando o trabalho infantil vem revestido dos 15 minutos de fama que poderão ser o degrau a ser calcado na direção da celebridade e, se para os adultos envolvidos 28. FRIZZO, Kátia Regina; SARRIERA, Jorge Castellá. O Conselho Tutelar e a rede social na infância. Psicologia USP, v. 16, n.4. São Paulo: USP, 2005, p.175-196. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pusp/v16n4/v16n4a09.pdf>. Acesso em: 6 ago. 2017. 29 CAVALCANTE, Sandra Regina. Trabalho infantil artístico: do deslumbramento à ilegalidade. São Paulo: LTr, 2011. p. 32-33. 30 SANTOS, Simone Olsiesky dos. O boom infantil no currículo da TV. São Paulo: Faculdade de Educação da USP, 2002. Disponível em: <http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000032002000400023&script=sci_arttex> . Acesso em 6 ago. 2017..

(28) 27. puder sobrar alguns respingos deste feito, bem, aí a história seguirá por outra direção31.. Cabe ressaltar que o trabalho artístico infantil seduz considerável fatia da classe média. Além de ser um trabalho mais bem remunerado do que as outras formas de trabalho infantil, o trabalho artístico tem outras motivações além das financeiras, como a vaidade dos pais e o sucesso profissional baseado na fama. São importantes os dizeres de Marcos Neve Fava32, que traz uma reflexão acerca das atividades de atrizes e atores mirins e sobre como a sociedade as encara: Representar profissionalmente não é, no entanto, fantasiar. Diferentemente do que produz em seu meio ambiente natural, na brincadeira com os irmãos e amigos, ou sozinha com bonecos, as cartas, as latas, as pipas, momentos em que fantasia intensamente, ao vestir a personagem da atuação artística, a criança trabalha. (...) (Na) fase da vida na qual ainda não construiu todos os elementos indispensáveis à hígida apropriação do próprio trabalho, a criançaartista labora. E a sociedade goza, aproveita, aplaude.. Em 2009, muito se falou sobre a apresentadora mirim Maisa Silva. À época, Maisa apresentava um programa no canal de televisão SBT e, aos domingos, participava de um outro programa em que conversava com o apresentador Silvio Santos, dono da emissora. Após os cenários de diversas discussões com Maisa protagonizadas por Silvio, o Ministério Público Federal instaurou Inquérito Civil Público para apurar as condições a que foi exposta a menina contra atos de exploração de sua força de trabalho e de que maneira se davam suas atividades, bem como para analisar o quadro de sua saúde física e psicológica. Acrescenta-se que o Ministério Público do Trabalho de São Paulo também ajuizou Ação Civil Pública, alegando danos morais. 31. SANTOS, Simone Olsiesky dos. O boom infantil no currículo da TV. São Paulo: Faculdade de Educação da USP, 2002. Disponível em: <http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000032002000400023&script=sci_arttex> . Acesso em 6 ago. 2017. 32 FAVA, Marcos Neve. Prefácio. In: CAVANCANTE, Sandra Regina. Trabalho Infantil Artístico: do deslumbramento à ilegalidade. São Paulo: LTr, 2011..

(29) 28. coletivos e, segundo a imprensa, pedindo indenização no montante de um milhão de reais33. Depois do episódio, a Vara da Infância e Juventude da Comarca de Osasco acabou por cassar a licença que permitia que Maisa participasse do 'Programa do Silvio Santos'34. Anos depois e com Maisa trabalhando como atriz para emissora, a agora adolescente, que ainda participa do programa do Silvio Santos, foi novamente motivo de notícias dos veículos de comunicação ao protagonizar discussões com Silvio após este submetê-la a humilhação comentando sobre sua vida pessoal, evidenciando um ciclo de abusos que se iniciou na infância da atriz35. Com o novo episódio, o Ministério Público do Trabalho ajuizou ação contra a emissora novamente, pedindo indenização no montante de R$10.000.000,00 (dez milhões de reais) por danos morais coletivos pelas provocações à apresentadora Maisa36. O trabalho infantil artístico realizado por crianças apresenta, em certa medida, uma possibilidade de formação cultural para esta criança. Entretanto, ele requer uma rotina intensa, com muita dedicação às suas atividades e tudo isso aliado às necessidades de uma criança. Geralmente, ele se apresenta de maneira mais bem remunerada do que as outras formas de trabalho infantil, todavia, apresenta igualmente a possibilidade de restringir as potencialidades dessa criança que o realiza.. 33. FOLHA DE SÃO PAULO. Ministério Público pede que SBT pague R$1 milhão por caso Maísa. São Paulo: Folha de São Paulo, 25 mai. 2009. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2009/05/571248-ministerio-publico-pede-que-sbt-pague-r-1milhao-por-caso-maisa.shtml>. Acesso em: 6 ago. 2017. 34 PORTAL IMPRENSA. Maisa, do SBT, tem licença para trabalhar cassada pela Justiça. 22. mai. 2009. Disponível em: <http://portalimprensa.com.br/noticias/ultimas_noticias/26004/maisa+do+sbt+tem+licenca+para+trabal har+cassada+pela+justica>. Acesso em: 22 ago. 2017. 35 VEJA. Maisa chora e abandona gravação com Silvio Santos e Dudu Camargo. 18 jun. 2017. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/entretenimento/maisa-chora-e-abandona-gravacao-com-silviosantos-e-dudu-camargo/>. Acesso em: 6 ago. 2017. 36 CORREIO 24 HORAS. SBT é processado por piadas de Silvio com Maisa e Dudu Camargo. Correio 24 horas, 15 set. 2017. Disponível em: <http://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/sbt-eprocessado-por-piadas-de-silvio-com-maisa-e-dudu-camargo/>. Acesso em 29 set. 2017..

(30) 29. 1.3.2 Competência para julgar causas relativas ao trabalho infantil artístico O artigo 406 da CLT determina que o "Juiz de menores" (nomenclatura que muda com o ECA e passa a ser "Juiz da Infância e da Juventude") poderá autorizar o trabalho do menor em espaços artísticos, desde que a representação tenha fim educativo ou a peça de que participe não possa ser prejudicial à sua formação moral (inciso I) - destaca-se que a CLT elenca como imoral as atividades artísticas consideradas genericamente em teatros e circos (artigo 405, § 3º)-, ou desde que se certifique ser a ocupação do menor indispensável à própria subsistência ou à de seus pais, avós ou irmãos e não advir nenhum prejuízo à sua formação moral (inciso II) . O artigo 149, inciso II, do ECA também vincula a participação da criança em atividades artísticas à autorização do Juiz: Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, através de portaria, ou autorizar, mediante alvará: (...) II - a participação de criança e adolescente em: a) espetáculos públicos e seus ensaios; b) certames de beleza.. Devem, para tanto, ser observados os princípios do ECA; as peculiaridades locais; a existência de instalações adequadas; o tipo de frequência habitual ao local; a adequação do ambiente a eventual participação ou frequência e crianças e adolescentes; e a natureza do espetáculo (artigo 149, § 1º , do ECA). Ressalta Sandra Regina Cavalcante37 que tal dispositivo e demais artigos da CLT só se referem a adolescentes de 14 a 18 anos, conforme o caput do artigo 402 da CLT, portanto, a norma trabalhista não autoriza qualquer tipo de trabalho, exceção ou autorização a crianças ou adolescentes menores de 14 anos. A Convenção nº 138 da OIT, integrada ao nosso ordenamento, pois foi ratificada em 2002, excetua algumas condições nas quais as crianças e os adolescentes poderiam atuar no trabalho artístico mesmo abaixo da idade mínima (artigo 8º, ítem 1): eles não podem ser expostos a nenhum tipo de atividade que. 37. CAVALCANTE, Sandra Regina. Trabalho infantil artístico: do deslumbramento à ilegalidade. São Paulo: LTr, 2011, p. 37..

(31) 30. coloque em risco sua integridade física, moral e psíquica; que prejudique a frequência e desempenho escolar; deve ser sem violência; no horário diurno; e deve, ainda, possibilitar uma sadia convivência social38. Assim, aplica-se conjuntamente a Constituição, Convenção e normas infraconstitucionais para os casos que envolvem trabalho infantil artístico. Contudo, diante da ausência de regulamentação específica, acaba ficando a cargo das emissoras e contratantes a regulação desse mercado. Convém explicar que o Ministério do Trabalho não emite Carteira de Trabalho e Previdência Social - CTPS para quem ainda não completou 16 anos39. Assim, o contrato de prestação de serviços é assinado pelos responsáveis como representantes ou assistentes do incapaz com a agência, produtora ou diretamente com as emissoras ou marcas40. No Estado de São Paulo, crianças e adolescentes de 0 a 15 anos podem se tornar sócios, com direito à carteirinha de artista mirim, desde que representados por seus responsáveis e que apresentem alvará de autorização para o trabalho artístico, além de comprovar trabalhos anteriores41. Com. o. advento. da. Emenda. Constitucional. 45/2004,. que. ampliou. consideravelmente a competência da Justiça do Trabalho, estabelecida no artigo 114 da Constituição Federal, se defende que a autorização para trabalho artístico infantojuvenil é de competência da Justiça do Trabalho, e não mais da Infância e Juventude. Entretanto, na prática, é a Justiça Comum que continua recebendo os pedidos de expedição de alvará e os concedendo.. 38. CAVALCANTE, Sandra Regina. Trabalho infantil artístico: do deslumbramento à ilegalidade. São Paulo: LTr, 2011, p. 66. 39 OLIVA, José Roberto Dantas. O Princípio da Proteção Integral e o trabalho da criança e do adolescente no Brasil. São Paulo: LTr, 2006, p. 193. 40 CAVALCANTE, op. cit., p. 57. 41 BARROS, Alice Monteiro de. As relações de trabalho no espetáculo. São Paulo: LTr, 2003, p. 2223..

(32) 31. José Roberto Dantas Oliva42, traz em seu entendimento: Por esta nova leitura a legislação infraconstitucional não foi, no particular, recepcionada. Advirta-se que o artigo 149 do ECA, ao estabelecer (inciso II) a possibilidade de participação de criança e adolescente em espetáculos públicos e seus ensaios ou em certames de beleza, diz que isto poderá ser disciplinado por meio de portaria ou autorizando mediante alvará, pela "autoridade judiciária" competente, não afirmando que seria ela o Juiz da Infância e da Juventude. De qualquer modo, se o fizesse, a exemplo da CLT, o texto do ECA também não teria, salvo melhor juízo, sido recepcionado. O fato de o descumprimento das normas consolidadas ser passível de aplicação de penalidades administrativas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (artigos 434 e 438 da CLT) e dos julgamentos destas agora estarem também afetos à Justiça do Trabalho (artigo 114, VII, da CF), reforçam a convicção ora externada. São impressões, porém, de primeira hora, que merecem análise mais criteriosa, estando, pois, sujeitas a equívocos e eventual reformulação.. O jurista Oris de Oliveira 43 destaca não haver dúvida que após a Emenda Constitucional 45/2004 a Justiça do Trabalho é competente para conciliar e julgar todo conflito de interesses que tenha como objeto o trabalho artístico infantojuvenil, qualquer que seja a modalidade da relação jurídica que se inserir. Ele alerta, porém, que os atos de jurisdição voluntária, como no caso de autorizações para participação artística de menores, não estão vinculados à matéria da jurisdição contenciosa, e, nesse caso, seriam competentes para emitir tais alvarás. Em sua opinião, a competência deveria permanecer com a Justiça Estadual, pois entende que as Varas da Infância e Juventude têm mais estrutura para avaliar a complexidade do assunto.. 42. OLIVA, José Roberto Dantas. O Princípio da Proteção Integral e o trabalho da criança e do adolescente no Brasil. São Paulo: LTr, 2006, p. 202. 43 OLIVEIRA, Oris. Trabalho infantil artístico. Disponível em: <http://www.fnpeti.org.br/arquivos/biblioteca/954a0a66dd4af30f92918068ab293d25.pdf>. Acesso em: 29 mar. 2017..

(33) 32. No Conflito nº. 98.033, de 24.11.2008 44 , o Superior Tribunal de Justiça entendeu ser competente a Justiça Comum julgar ação em que se requer alvará para autorização de trabalho artístico infantil, corroborando com o entendimento de Oris de Oliveira: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA ESTADUAL E DO TRABALHO. ALVARÁ JUDICIAL. AUTORIZAÇAO PARA TRABALHO DE MENOR DE IDADE. 1. O pedido de alvará para autorização de trabalho a menor de idade é de conteúdo nitidamente civil e se enquadra no procedimento de jurisdição voluntária, inexistindo debate sobre qualquer controvérsia decorrente de relação de trabalho, até porque a relação de trabalho somente será instaurada após a autorização judicial pretendida. 2. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito, suscitado.. Em sentido oposto, avalia José Roberto Dantas Oliveira 45, que o juiz exerce jurisdição civil quando autoriza o trabalho infantojuvenil, mas esta jurisdição é do Juiz do Trabalho, sendo que a deficiência estrutural e de pessoal não pode significar subtração de competência. Complementa Oliveira46: 1. Caso a criança ou adolescente, no exercício de trabalho artístico, sofra dano moral, a competência para solucionar eventual litígio daí derivado será da Justiça do Trabalho, a teor do artigo 114, inciso VI, da Constituição Federal; 2. O contratante de pessoa em peculiar situação de desenvolvimento que exerça trabalho artístico pode sofrer fiscalização e sanções administrativas do Ministério do Trabalho e Emprego, conforme previsão contida nos artigos 434 e 438 da CLT; 3. Se o empregador do artista sofrer penalidade administrativa imposta por órgãos de fiscalização das relações de trabalho e quiser discuti-la em Juízo, terá também de fazê-lo perante a Justiça do Trabalho, conforme o art. 144, VII, da Constituição Federal; e 4. Na hipótese de sofrer a criança ou adolescente artista acidente no trabalho, trazendo-lhe este consequências danosas, uma vez que eventualmente se instaure, por reparação de danos materiais ou 44. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Conflito de Competência nº 98.033-MG, Primeira Seção. Relator: Ministro Castro Meira. Brasília, DF, 12 de novembro de 2008. Diário de Justiça Eletrônico: Brasília. DF, 24 nov. 2008. 45 OLIVA, José Roberto Dantas. O trabalho infantojuvenil artístico e a idade mínima: sobre a necessidade de regulamentação e a competência para sua autorização. São Paulo: LTr, Revista da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 15ª região, n. 3, 2010. p. 136. 46 Ibidem, p. 135..

(34) 33. morais, conforme pacificado, aliás, pela Súmula Vinculante n. 22 do STF.. Em 2015, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio - ABERT ajuizou perante o STF a Ação Direta de Inconstitucionalidade - ADI 5326 para questionar a constitucionalidade da Recomendação Conjunta nº 01/2014-SP, da Recomendação Conjunta nº 01/2014-MT, do Ato GP nº 19/2013 e do Provimento GP/CR nº 07/2014, em sua integralidade, que reconheceram a competência material da Justiça do Trabalho para pedidos de autorização relativos à participação de crianças e adolescentes em representações artísticas. Já a Associação Nacional do Magistrados da Justiça do Trabalho ANAMATRA, solicitou ao Supremo Tribunal Federal - STF a definição quanto à competência da Justiça do Trabalho ou da Justiça Comum Estadual acerca da autorização para crianças e adolescentes trabalharem, por meio da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental - ADPF 361. Acerca da ADPF 361, traz o Supremo Tribunal Federal47: A entidade contesta o parágrafo 2º, do artigo 405, e caput do artigo 406, ambos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), bem como o artigo 149, inciso II, da Lei nº 8.069/1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A alegação é de que estes dispositivos não foram recepcionados pela Emenda Constitucional nº 45/2015, que atribuiu à Justiça do Trabalho competência para toda e qualquer ação sobre relação de trabalho. Na ADPF, a Anamatra sustenta que, por meio da Emenda Constitucional nº 45, o legislador constituinte passou a atribuir à Justiça do Trabalho, no inciso I, do artigo 114, a competência para todas as ações que envolvessem relação de trabalho “ampliando o conceito até então contido no artigo 114 para julgar dissídios individuais da relação de emprego, na redação pretérita da CF 1988”.. Assim, temos que o posicionamento de que a competência relativa às autorizações para o trabalho infantil artístico é da Justiça do Trabalho vem sendo defendida pelos magistrados da ANAMATRA.. 47. BRASIL. Superior Tribunal Federal. ADPF discute competência da Justiça do Trabalho para autorização de trabalho a menores. 26 ago. 2015. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=298468>. Acesso em: 28 mar. 2017..

(35) 34. Nesse sentido, adota-se o entendimento de Guilherme Guimarães Feliciano, José Roberto Dantas de Oliva e Sandra Regina Cavalcante 48, que expõem que antes mesmo da atuação do artista infantil há contratação para trabalho, e, por isso, compete à Justiça do Trabalho apreciar pedidos de autorizações para trabalho infantil artístico.. 1.3.3 Acompanhamento psicológico De acordo com Sônia Ruella49 a rotina diária repleta de repetições e horários é essencial para o desenvolvimento fisiológico saudável da criança, e está relacionado diretamente com a funcionalidade dos órgãos e a vitalidade do infante. Se não respeitados, os impactos para seu desenvolvimento são imensuráveis. Em 2015, um interessante caso novamente envolvendo a emissora SBT veio à público. O magistrado do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, Flavio Bretas Soares, proibiu os então apresentadores do programa Bom Dia & Cia, Matheus Ueta e Ana Julia, com 11 e 8 anos, respectivamente, à época, de realizarem suas atividades no canal para análise da jornada de trabalho das crianças50. Em sede de recurso, o SBT demonstrou que oferece psicólogos, fonoaudiólogos, nutricionistas e professores para aulas extras, e que a jornada das crianças era razoável. Após análise do parecer favorável do Ministério Público do Trabalho, o Magistrado concedeu novo alvará para que as crianças retornassem às suas atividades, desde que a carga horária de trabalho não ultrapassasse quatro horas diárias de permanência na emissora e que suas atividades não afetassem o desempenho escolar de ambos. 48. CAVALCANTE, Sandra Regina; FELICIANO, Guilherme Guimarães; OLIVA, José Roberto Dantas. Trabalho Infantil Artístico: Compreensão Pouca, Proteção Integral. Revista Consultor Jurídico, 21 mar. 2017. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/dl/trabalho-infantil-artistico-compreensao.pdf>. Acesso em: 1 nov. 2017. 49 CAVALCANTE, Sandra Regina. Trabalho infantil artístico: do deslumbramento à ilegalidade. São Paulo: LTr, 2011. 50 CASTRO, Daniel. Juiz volta atrás e libera as crianças para apresentar programam no SBT. Notícias da TV, 24 out. 2015. Disponível em: <http://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/televisao/juiz-volta-atras-elibera-criancas-para-apresentar-programa-no-sbt-8684>. Acesso em: 22 jul. 2017.

(36) 35. Para o Desembargador Siro Darlan, ex-juiz titular da 1ª Vara da Infância e Juventude do Rio de Janeiro, as exposições intensas de crianças diante das lentes "só é permitida se ela estiver cercada de cuidados psicológicos e se a atividade não for cobrada da criança como trabalho, mas como diversão” 51. De acordo com Sandra Regina Cavalcante52, toda a família deve passar por acompanhamento psicológico, pois dentro de casa a criança deve continuar a ser tratada como criança. Segundo a autora: Cabe aos pais proteger os filhos da alta complexidade e do deslumbramento excessivo da fama, evitando que eles pulem etapas de crescimento. Todos devem, ainda, ser preparados para a hora de sair dos refletores e voltar à vida normal: cada trabalho deve ser aproveitado sem criar expectativas ilusórias, afinal, esta é a realidade neste segmento de atuação.. Assim, temos que o acompanhamento psicológico é essencial à criança que exerce o trabalho infantil artístico e sua família, para que os impactos de tal atividade sejam trabalhados constantemente no núcleo familiar, de forma que não prejudique a crianças e suas relações familiares.. 1.3.4 Ausência de regulamentação do trabalho de youtubers mirins Tendo em vista a regulamentação existente do trabalho infantil artístico e a expansão no número de acesso à plataforma de vídeos Youtube - o 3º site mais acessado do mundo em 201553, e o 2º site mais acessado no Brasil54, destaca-se a atividade recente dos chamados youtubers mirins. O Youtube só permite que maiores de 18 anos criem contas em sua plataforma. Entretanto, muitos pais ou responsáveis criam contas para seus filhos, e,. 51. FNPETI. Sucesso de apresentadora mirim reabre debate sobre trabalho infantil artístico. 14 abr. 2013. Disponível em: <http://www.fnpeti.org.br/noticia/1237-sucesso-de-apresentadora-mirim-reabredebate-sobre-trabalho-infantil-artistico.html>. Acesso em 6 ago. 2017. 52 CAVALCANTE, Sandra Regina. Trabalho infantil artístico: do deslumbramento à ilegalidade. São Paulo: LTr, 2011, p. 53. 53 CANAL TECH. Veja quais são os sites mais acessados no Brasil. Disponível em: <https://canaltech.com.br/noticia/internet/veja-quais-sao-os-sites-mais-acessados-no-brasil-38887/>. Acesso em: 28 abr. 2017. 54 ALEXA. Top Sites in Brasil. Disponível em: <https://www.alexa.com/topsites/countries/BR>. Acesso em: 28 abr. 2017..

Referências

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