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Cafeicultura Sustentável

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Academic year: 2021

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CAFEICULTURA SUSTENTÁVEL

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SUMÁRIO

1. Introdução

2. Histórico da cafeicultura no mundo e no Brasil. 2.1. Lendas da descoberta do cafeeiro pelo homem 2.2. O café como estimulante e alimento

3. Classificação Botânica do cafeeiro e espécies de importância econômica. 4. O agronegócio café no mundo e no Brasil.

5. Morfologia e fisiologia do cafeeiro: descrição da planta.

6. Recomendação de cultivares de Coffea arabica L. e Coffea canephora Pierre

6.1. Características de algumas cultivares de Coffea arabica L. de porte baixo, segundo Carvalho et al. 2008.

6.2. Características de algumas cultivares de Coffea arabica L. de porte alto, segundo Fazuoli et al. 2008.

6.3. Características de algumas cultivares de Coffea canephora Pierre (café robusta), segundo Fonseca et al. 2008.

7. Produção de sementes e mudas de cafeeiro. 8. Implantação da lavoura cafeeira

8.1. Manejo da lavoura no campo 9. Podas do cafeeiro

9.1. Podas em Coffea arabica L.

9.2. Podas em Coffea canephora Pierre 10. Nutrição do cafeeiro

10.1. Alguns conceitos básicos para o entendimento da nutrição do cafeeiro 10.2. Considerações sobre alguns nutrientes

10.3. Absorção radicular de nutrientes 10.4. Análise de solo

10.5. Algumas considerações sobre fertilidade e interpretação de análises de solos

10.6. Calagem 10.7. Gessagem

10.8. Adubação do cafeeiro

11. Condução da lavoura com culturas intercalares 11.1. Cultivo do cafeeiro em sistema agroflorestal

12. Principais pragas, doenças e nematoides do cafeeiro 12.1. Pragas do cafeeiro

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12.2. Doenças do cafeeiro

12.3. Fitonematóides do cafeeiro

13. Aspectos gerais do manejo de plantas invasoras na cultura do cafeeiro 13.1. Associação de métodos

14. Colheita e pós colheita do café

14.1. Aspectos econômicos, sociais e ambientais da colheita do café 14.2. Operações de pré colheita

14.3. Operações de colheita 14.4. Pós colheita do café

14.4.1. Processamento via seca 14.4.2. Processamento via úmida 14.4.3.Secagem do café

14.4.4. Armazenamento do café

14.4.5. Beneficiamento/rebeneficiamento do café 15. Referências bibliográficas

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1. INTRODUÇÃO

Pretende-se com a presente revisão subsidiar estudantes, pesquisadores, e mesmo profissionais de outras áreas do conhecimento em seus estudos em cafeicultura.

O café faz parte da história da humanidade desde sua descoberta na Etiópia, evoluindo com novos sistemas de cultivo e na forma de consumo, com contribuições de árabes, europeus, asiáticos, africanos e americanos.

A planta de café tem suas particularidades (morfologia, anatomia e fisiologia) que devem ser conhecidas para o entendimento de questões importantes como a bienalidade de produção, necessidade de podas para manutenção de produtividades econômicas, e planejamento financeiro desde o plantio até as primeiras produções (retorno econômico).

Como toda cultura perene deve-se cuidar para que não ocorram erros desde a fase de mudas, e para tanto deve-se conhecer um pouco das tecnologias tradicionais e das mais recentes de propagação do cafeeiro até o cultivo em campo. Medidas preventivas desde a formação da lavoura poderão evitar problemas futuros como raquitismo, problemas fitossanitários, raízes defeituosas e até a morte das plantas.

Dentre essas medidas preventivas destaca-se a implantação da lavoura no campo com aspectos importantes de: escolha do local ideal para o cultivo, conhecimento das condições de solo (textura, estrutura, profundidade, fertilidade), de clima, e de facilidade de acesso (transporte de insumos e da produção).

Com o detalhamento necessário ao entendimento das técnicas de manejo da cultura serão abordados também aspectos práticos de irrigação, adubação, manejo de plantas daninhas, utilização de culturas intercalares, plantios consorciados e podas. Da mesma forma serão feitas considerações gerais sobre pragas, doenças e nematoides na cafeicultura, abordando principalmente os fatores que podem predispor as plantas ao ataque e as opções de manejo buscando-se a produção sustentável. Ao final serão abordados aspectos da colheita e pós colheita do café.

A cultura do café não é apenas mais uma atividade agrícola. Desde a suposta descoberta da planta e frutos pelo homem na Etiópia o café influencia a vida das pessoas que o produzem, que o vendem e que o consomem.

O café não é apenas a planta, o fruto ou a semente. Também não é somente a bebida ou o estabelecimento que o comercializa. O café dá sentido à vida de pessoas que se apaixonam pelo cultivo, pela bebida e seus efeitos de prazer. O café é também a atividade distribuidora de renda entre aqueles que se dedicam a ele.

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2. HISTÓRICO DA CAFEICULTURA NO MUNDO E NO BRASIL

O cafeeiro é uma planta originária do Continente Africano, das regiões altas da Etiópia (Cafa e Enária), podendo ser a região de Cafa responsável pela origem do nome café. É uma planta de sub-bosque, de nome café, o qual também é dado ao fruto, à semente, à bebida e aos estabelecimentos que a comercializam (GRANER & GODOY JUNIOR, 1967).

Não se tem nenhum documento ou indício histórico sobre o conhecimento do café antes do século XV. Nem mesmo na própria pátria do cafeeiro, onde, quando muito, a bebida existia ainda de forma oculta, para algum povo nativo do interior daquele país. O mais antigo manuscrito sobre o café, de Abd-alkader, data de 1559. Embora existam alguns comentários de que o uso do café é bem anterior a essa data, não há, até então, nenhum documento histórico que o comprove (ROMERO & ROMERO, 1997).

2.1. Lendas da descoberta do cafeeiro pelo homem

Uma dessas lendas conta que um pastor da Etiópia, de nome Kaldi, tomava conta de dois rebanhos e notou que as cabras de um deles se tornavam mais vivas, saltitantes e tinham uma aparência mais saudável, após comerem folhas e frutos de uma planta ali existente. O pastor, intuitivamente, resolveu fazer uma experiência: trouxe para o mesmo local as cabras do outro rebanho e notou que em pouco tempo elas se modificaram, apresentando comportamento similar ao do outro grupo. Vendo isto, o próprio pastor, por curiosidade, passou a comer folhas dessas plantas, observando seu efeito estimulante e tornando-se o pastor mais esperto, inteligente e comunicativo da região. Um monge, vendo o efeito das folhas nas cabras e no pastor, preparou uma infusão das folhas que, após ingerida, o ajudava a se manter acordado durante as vigílias, lutando contra o sono pesado. Assim, outros monges passaram a fazer uso dessa infusão para suportar melhor as longas vigílias, mas mantiveram o segredo nos conventos por muito tempo; até que este chegou ao conhecimento de mercadores que o levaram aos poderosos palacianos, daí difundindo-se junto aos nobres (GRANER & GODOY JUNIOR, 1967).

Outra lenda conta que o profeta Maomé apresentava uma enfermidade que o mantinha em constante estado de sonolência. Recebeu então a visita do Anjo Gabriel, que lhe ofereceu uma bebida de cor preta e gosto amargo. Após bebê-la por algum tempo, voltou a ficar lúcido e disposto (GRANER & GODOY JUNIOR, 1967).

2.2. O café como estimulante e alimento

Conta a história que, antigamente, o povo etíope, em suas peregrinações através dos desertos, costumava levar, em bolsas de couro, como seu único alimento, bolos esféricos, do

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tamanho de bolas de bilhar, que eram assados em braseiros feitos no chão e preparados com café, misturados com óleos e gorduras. Da Etiópia, o café foi levado para a Arábia por mercadores, onde a planta e o produto foram grandemente difundidos. Ali foi chamado de Kahwa (vinho na linguagem árabe), podendo também ser esta a origem do nome café. Na medicina árabe, a bebida era indicada como preventivo de sonolência, para cura de dores de cabeça e tosse, e estimulante do cérebro. Tinha indicação também como moderadora de beberrões, auxiliar da digestão, para aliviar incômodos periódicos das mulheres árabes, combater vermes das crianças, entre outras indicações (GRANER & GODOY JUNIOR, 1967).

Até hoje, a bebida café tem sido indicada para muitas dessas finalidades. Pesquisas têm sido realizadas, como a do Prof. Dr. Darcy Roberto Lima, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (MENDES, GUIMARÃES E SOUZA, (2002b)), que concluem que o café, que contém cafeína e lactonas, atua no sistema nervoso central, sistema cardiovascular, trato gastrointestinal, rim e fígado da seguinte forma: estimula o cérebro; diminui a apatia e depressão; estimula a memória, atenção e concentração; ajuda a prevenir o consumo de drogas e álcool; diminui a incidência de cirrose em alcoólatras.

Os árabes tentaram manter o privilégio, pois foram os primeiros a cultivar a planta, mas a descoberta por poderosos palacianos foi difundida pelas nobrezas do ocidente. O café entrou na Europa levado pelos orientais, no século XVII, através da Itália e Inglaterra, por volta de 1670. Na Inglaterra, sofreu a concorrência de cervejeiros e vendedores de bebidas alcoólicas, instalando-se em casas comerciais com o nome de "Virgia Coffee-House". Em 1671, chegou à França, onde foi aberto o primeiro estabelecimento em Marselha, depois Lyon e Paris. Ficaram famosos os cafés parisienses que eram frequentados por intelectuais da época. Voltaire, por exemplo, quando alguém lhe afirmava que café era veneno, dizia: -"Veneno lento, sem dúvida, pois há 50 anos que o bebo sem que ele tenha produzido efeito". Voltaire morreu com 84 anos de idade (GRANER & GODOY JUNIOR, 1967).

Depois, o café foi levado para a Alemanha, Suíça, Dinamarca e Holanda. Da Holanda, foi levada uma planta para a Guiana Holandesa (hoje Suriname), daí para a Guiana Francesa, de onde o Sargento Mor Francisco de Melo Palheta transportou para o Brasil (Belém do Pará), em 1727, mil e tantos frutos e cinco plantas (GRANER & GODOY JUNIOR, 1967).

Em Belém do Pará, a cultura não foi muito difundida. Foi levada para o Maranhão e Bahia e, em 1770, chegou ao Rio de Janeiro. Foi plantada na chácara dos Frades Barbadinos, espalhando-se pela Serra do Mar e Vale do Paraíba. Depois, foi para São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná e, mais recentemente, para Mato Grosso e Rondônia. No Rio de Janeiro, ficaram famosos os cafés "Nice" e "Lamas"; em São Paulo o "Café Guarani" (MENDES, GUIMARÃES E SOUZA, 2002b).

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3. CLASSIFICAÇÃO BOTÂNICA DO CAFEEIRO E ESPÉCIES DE IMPORTÂNCIA ECONÔMICA

A história do café no mundo passa pelas lendas de sua descoberta na Etiópia depois pela Arábia, Europa até chegar nas Américas e tornar o Brasil o maior produtor mundial. Desde o início do cultivo comercial na Arábia diversas formas de cultivo foram utilizadas, e por meio da evolução dessas formas foi-se adaptando o manejo à planta e a planta ao manejo para aumentos de produtividade.

As duas espécies de café mais importantes economicamente são a Coffea arabica L. (originária da África Oriental) e Coffea canephora Pierre (originária da África Ocidental), responsáveis pela quase totalidade do café comercializado no mundo. Na classificação botânica essas duas espécies fazem parte do Gênero Coffea, Seção Eucoffea, Subseção Erythrocoffea (GUERREIRO FILHO et al., 2008).

Mais especificamente, a espécie Coffea arabica L. é originária do sudoeste da Etiópia, sudeste do Sudão e norte do Quênia, em altitudes entre 1.000 e 2.000 metros e atualmente, é cultivada em regiões de maiores altitudes de temperaturas mais amenas, entre 18ºC e 21ºC, nos continentes africano, americano e asiático. Já a espécie Coffea canephora Pierre é originária de região quente (temperatura média anual de 22ºC a 26ºC), úmida e de baixa altitude, desde a Guiné ao Congo, da costa oeste à região central do continente africano, com precipitação entre 1.500 e 2.000 mm anuais (MENDES, GUIMARÃES e SOUZA, 2002a).

Na espécie Coffea arabica L., a propagação das plantas, é feita quase exclusivamente por sementes sem a necessidade da introdução nos plantios de plantas polinizadoras pois são autógamas (trabalhos recentes apontam para a viabilidade também da propagação comercial por estaquia e embriogênese somática). Já na Coffea canephora Pierre é muito utilizada a propagação por estaquia além de sementes, porém nesse segundo caso com a preocupação de se mesclar plantas geneticamente diferentes para garantir a polinização e consequente boa produtividade, pois trata-se de plantas auto incompatíveis (SILVA et al. 2010a).

Quanto à morfologia, as plantas de Coffea arabica L. são cultivadas originalmente por um único caule, enquanto a Coffea canephora Pierre possui arquitetura multicaule. Essa diferença morfológica exige manejos diferentes entre as espécies para alcance de boas produtividades. Não é difícil, mesmo para leigos em cafeicultura, diferenciar plantas dessas duas espécies, pois além do número de caules há diferenças marcantes, como: a) as folhas das plantas da Coffea canephora Pierre são maiores, mais onduladas entre as nervuras e de cor verde mais claro que as da Coffea

arabica L.); b) os frutos das plantas da Coffea canephora Pierre são geralmente menores, mais

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Para a adaptação do café em cada país, estudos de melhoramento genético foram realizados. No Brasil entre 1727 e 1933 foi realizado o melhoramento genético considerado empírico, pela seleção das melhores plantas pelos próprios cafeicultores. A partir de 1933 quando foi criada a Seção de Genética do Instituto Agronômico de Campinas-IAC/Brasil o melhoramento genético passou a ser realizado com metodologia científica que elevou a produtividade do cafeeiro a 395% em relação à variedade “Typica” que havia sido introduzida no Brasil (CARVALHO, 1985). O Instituto Agronômico de Campinas-Brasil tem contribuído para a cafeicultura mundial sendo uma das mais conceituadas instituições, especialmente no melhoramento genético do cafeeiro.

No início do cultivo do café, o semeio era feito diretamente na cova, época em que se utilizava até 30 sementes para se garantir no final da implantação da lavoura um stand de seis a oito mudas por cova. Utilizava-se (em alguns países ainda se utiliza) também mudas obtidas de “viveiros naturais”, ou seja, mudas formadas de frutos caídos naturalmente, em muitos casos em áreas de ocorrência natural dos cafeeiros. Outra prática comum, principalmente em épocas passadas, era a de se fazer o semeio diretamente na cova de plantio, sendo que as mudas que ali se formavam eram protegidas do excesso de radiação solar por uma proteção natural formada de galhos e folhas (GUIMARÃES, MENDES e SOUZA, 2002e).

A medida que se aprimoravam as tecnologias de cultivo do café, os cafeicultores passaram a formar as mudas em viveiros, para depois leva-las ao campo. Há relatos da utilização de recipientes para a formação de mudas com laminados de madeira (pinho), e também a tecnologia de semear diretamente em blocos de solo argiloso. A tecnologia de produção de mudas utilizada a partir daí e até hoje adotada por viveiristas de todo o mundo é com o uso dos saquinhos de polietileno (tecnologia proposta pela Seção de Café do Instituto Agronômico de Campinas-IAC/Brasil) ou em tubetes de polietileno rígido (GUIMARÃES, MENDES e SOUZA, 2002e).

Após a formação das mudas em viveiro a condução em campo ainda é feita em alguns casos em covas de plantio. Atualmente este sistema está em desuso, pois nos plantios atuais têm-se buscado a mecanização para diminuição de custos e uma densidade de plantio de 6.000 a 7.500 plantas por hectare com adensamento principalmente na linha de plantio (BOTELHO, et al. 2010). Hoje, com as mais recentes técnicas desde o melhoramento genético, passando pela qualidade das sementes e chegando até a colheita e o processamento pós colheita, são alcançadas produtividades de cerca de 60 sacas de café arábica e cerca de 120 sacas da espécie canephora por hectare com o uso da irrigação (FERRÃO et al. 2007; PEREIRA et. al. 2010), porém as produtividades médias em nível de propriedades rurais ainda são baixas.

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4. O AGRONEGÓCIO CAFÉ NO MUNDO E NO BRASIL.

Até 1820, o Brasil não era considerado exportador de café, embora em 1800 o café tenha sido exportado pela primeira vez, quando apenas treze sacas foram embarcadas no porto do Rio de Janeiro. Antes da Independência, consta que algumas outras partidas de café foram realizadas, tendo como destino Lisboa. Elas eram oriundas principalmente dos estados do Norte, mas, em pequenas quantidades, que nem sequer foram anotadas. O Brasil iniciou realmente a era do café após a Independência e, em 1845, já colhia 45% da produção mundial. Já a partir dessa data, era o maior produtor de café do planeta (MENDES, GUIMARÃES e SOUZA, 2002b).

Segundo o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2016) a produção de café no mundo está distribuída da seguinte forma (Tabela 1):

TABELA 1: Produção e percentual de contribuição dos principais países produtores de café.

País Produção % da produção

mundial Brasil 45,3 32,1 Vietnã 26,0 18,4 Colômbia 12,1 8,6 Indonésia 9,0 6,4 Etiópia 6,0 4,3 Índia 5,0 3,5 Peru 4,2 3,0 Honduras 4,0 2,8 México 3,5 2,5 Uganda 3,5 2,5 Guatemala 3,0 2,1 Cost. Mar. 2,0 1,4 Nicarágua 1,4 1,0 Costa Rica 1,3 0,9 El Salvador 0,8 0,6 TOTAL 141,0 100 Adaptado de MAPA (2016)

Nota-se pela Tabela 1 que o Brasil é o maior produtor mundial, respondendo pela produção de 32,1% do café produzido no mundo e que o segundo colocado (Vietnã) tem uma produção que corresponde a apenas 57,8% da produção brasileira. Também o terceiro colocado (Colômbia) fica muito aquém da produção brasileira e Vietnamita com apenas 46,5% da produção do Vietnã e 8,6% da produção mundial. Assim, os três maiores produtores mundiais de café são responsáveis por quase 60% do toda a produção.

Analisando-se os últimos 10 anos (Tabela 2) tem-se uma visão geral da cafeicultura no Brasil.

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TABELA 2: Produção, área, produtividade, consumo brasileiro e consumo per capta no Brasil nos últimos 10 anos.

Indicadores 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Produção

(milhões de scs) 42,5 36,1 46,0 39,5 48,1 43,5 50,8 49,2 45,6 43,2 Área (milhões de ha) 2,2 2,2 2,2 2,1 2,1 2,1 2,0 2,0 1,9 1,9 Produtividade

(sc/ha) 19,8 16,6 21,2 18,9 23,2 21,2 24,8 24,3 23,3 22,5 Consumo (milhões de

scs) 16,3 17,1 17,7 18,4 19,1 19,7 20,3 20,1 21,0 21,0 Consumo Per capta

(kg/habitante/ano) 5,3 5,5 5,6 5,8 6,0 6,1 6,2 6,4 6,4 6,2 Adaptado de MAPA (2016)

Nota-se (Tabela 2) que a produção brasileira de café é crescente (exceto 2014) ao se analisar os anos de alta (42,5 em 2006; 46,0 em 2008; 48,1 em 2010; 50,8 em 2012; e 45,6 em 2014) e também crescente ao se analisar os anos de baixa produção (36,1 em 2007; 39,5 em 2009; 43,5 em 2011; 49,2 em 2013 e 43,2 em 2015).

Mesmo com a produção crescente, pode-se notar também na Tabela 2 que a área cultivada caiu de 2,2 milhões de hectares em 2006 para 1,9 milhões de hectares em 2015, evidenciando um aumento de produtividade média das lavouras de 19,8 sacas por hectare para valores acima de 24 sacas por hectare nos anos de alta produtividade.

A mesma Tabela 2 permite a inferência de que o consumo per capta de café no Brasil vem aumentando ao longo dos últimos 10 anos, partindo de 5,3 kg/habitante/ano em 2006 e chegando a 6,2 kg/habitante/ano em 2015. Esse maior consumo per capta elevou o consumo interno de café no Brasil que era de 16,3 milhões de sacas em 2006 e chega em 2015 a 21,0 milhões de sacas, colocando o Brasil como segundo maior consumidor de café do planeta, perdendo apenas para os EUA.

Ainda analisando os países produtores de café, ressalta-se na Tabela 3 os principais países importadores de café do Brasil.

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TABELA 3: Principais países importadores de café verde do Brasil de janeiro a novembro de 2015. Países Quantidade em scs de 60 Kg %

UNIÃO EUROPEIA (28 países) 15.792.183 51,88

ESTADOS UNIDOS 6.670.350 21,91 JAPAO 1.922.317 6,32 CANADA 638.517 2,10 TURQUIA 743.433 2,44 MEXICO 709.533 2,33 ARGENTINA 462.717 1,52 RUSSIA 374.417 1,23 COREIA DO SUL 359.633 1,18 VENEZUELA 274.850 0,90 LIBANO 368.200 1,21 AUSTRÁLIA 219.817 0,72 NOROEGA 231.383 0,76 SIRIA 291.100 0,96 CHILE 173.483 0,57 Sub-total 29.231.933 96,03 OUTROS 1.208.567 3,97 TOTAL 30.440.500 100,00 Adaptado de MAPA (2016)

Nota-se pela Tabela 3 que é a união europeia (formada por 28 países) que consome 51,88% do café exportado pelo Brasil, mas é os EUA que figura como país maior importador de café brasileiro, com importação de 21,91% do café brasileiro exportado no ano de 2015. Assim, nossos maiores compradores de café são os países da união europeia e os EUA que somados importam 73,79% do café brasileiro que é exportado anualmente.

Analisando a exportação brasileira de café de janeiro a outubro de 2015 (Tabela 4), desta vez desmembrando os países da união europeia tem-se a seguinte distribuição das exportações:

TABELA 4: Exportações brasileiras de café no período de janeiro a outubro de 2015, em sacas de 60 kg de café beneficiado.

Países importadores

Total importado (sacas de 60 kg) % EUA 6.207.734 21,75 Alemanha 5.296.900 18,56 Itália 2.514.667 8,81 Bélgica 1.911.683 6,70 Japão 1.831.383 6,42 Reino Unido 829.950 2,91 Turquia 676.500 2,37 México 625.150 2,19 Espanha 624.833 2,19 França 619.183 2,16 Sub-total 21.137.983 74,06 Outros 7.402.967 25,94 Total 28.540.950 100 Adaptado de CONAB, 2016.

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Pela Tabela 4 nota-se que apenas o café exportado para os EUA e Alemanha perfaz 40,31% de todo o café exportado pelo Brasil, sendo os EUA os maiores consumidores mundiais e a Alemanha o maior reexportador de café do mundo.

Outro fato interessante é que, à exceção do Brasil, os países produtores de café têm consumo reduzido desse produto, como pode-se constatar pela Tabela 5.

TABELA 5: Produção, exportação e consumo interno de países produtores de café em 2014.

Países Produção Exportação Consumo interno

Mil scs % participação Mil scs % participação Mil scs % participação *Brasil 45.346 31,97 36.735 32,88 20.333 44,01 Vietnã 27.500 19,39 25.000 22,38 1.583 3,43 Colômbia 12.500 8,81 10.954 9,80 1.439 3,11 Indonésia 9.000 6,34 4.548 4,07 3.584 7,76 Etiópia 6.625 4,67 3.137 2,81 3.383 7,32 Índia 5.517 3,89 5.131 4,59 1.917 4,15 Honduras 5.400 3,81 4.261 3,81 345 0,75 México 3.900 2,75 2.448 2,19 2.354 5,10 Uganda 3.800 2,68 3.442 3,08 140 0,30 Guatemala 3.500 2,47 3.045 2,73 340 0,74 Peru 3.400 2,40 2.891 2,59 250 0,54 Costa do Marfim 2.175 1,53 1.567 1,40 317 0,69 Nicarágua 2.000 1,41 1.900 1,70 204 0,44 Costa Rica 1.508 1,06 1.212 1,08 251 0,54 El Salvador 680 0,48 430 0,38 275 0,60 Outros países 8.999 6,34 5.027 4,50 9.486 20,53 TOTAL 141.850 100,00 111.728 100,00 46.201 100,00 Adaptado de MAPA (2016)

Nota-se (Tabela 5) que o Brasil consome 44,01% do café que produz (segundo consumidor de café do mundo, perdendo apenas para os EUA), mas os demais países produtores consomem apenas entre 0,30% e 7.76% do café que produzem.

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Assim, o Brasil figura no cenário mundial como maior produtor, maior exportador e segundo maior consumidor, podendo brevemente ultrapassar os norte-americanos também no quesito consumo. Um diagnóstico da cafeicultura brasileira é apresentado na Tabela 6.

TABELA 6: Área, produtividade e produção de café no Brasil em suas diferentes regiões.

Região do Brasil Área em

produção (Ha) Produtividade (scs/ha) Produção (1.000 scs beneficiadas) Norte 88.900,00 19,58 1.740,5 Rondônia 87.657,00 19,67 1.723,9 Pará 1.243,00 13,35 16,6 Nordeste 138.678,00 16,91 2.345,7 Bahia 138.678,00 16,91 2.345,7 Cerrado 9.129,00 37,00 337,8 Planalto 94.321,00 8,74 824,3 Atlântico 35.228,00 33,60 1.183,6 Centro-Oeste 26.364,00 13,43 354,1 Mato Grosso 20.189,00 6,34 127,9 Goiás 6.175,00 36,63 226,2 Sudeste 1.613.623,30 23,16 37.376,4 Minas Gerais 968.872,00 23,02 22.302,9 Sul e Centro-Oeste 478.056,00 22,61 10.808,3

Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste 170.634,00 24,81 4.232,9 Zona da Mata, Rio Doce e Central 287.340,00 23,00 6.609,5 Norte, Jequitinhonha e Mucurí 32.842,00 19,86 652,2

Espírito Santo 433.242,00 24,70 10.700,0 Rio de Janeiro 12.538,00 24,69 309,6 São Paulo 198.971,30 20,42 4.063,9 Sul 44.500,00 28,99 1.290,0 Paraná 44.500,00 28,99 1.290,0 Outros 10.009,00 12,82 128,3 Norte/Nordeste 227.578,00 17,96 4.086,2 Centro-Sul 1.684.487,30 23,16 39.020,5 Total Brasil 1.922.074,30 22,49 43.235,0 Adaptado de CONAB (2016).

Nota-se por esses dados da Companhia Nacional de Abastecimento que a maior região produtora de café do Brasil é a Sudeste que envolve os estados de Minas Gerais (maior estado produtor do Brasil), Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo, com 86,45% da produção brasileira. Somente o estado de Minas Gerais responde por 51,59% de todo o café produzido no Brasil, tendo como sua maior região produtora o sul e centro-oeste que é responsável por 48,46% do café do estado (25% de todo o café produzido no Brasil).

A produtividade média brasileira de café é de 22,49 sacas de café beneficiado por hectare, considerada baixa se analisados os custos de produção, porém algumas regiões se destacam com produtividades superiores a 30 sacas por hectare devido principalmente ao uso da irrigação.

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Das 43.235.000 sacas de 60 kg de café beneficiado produzidos pelo Brasil, 32.048.300 sacas são de Coffea arabica L. (cafés arábicas), correspondendo a 74,13% da produção nacional. Já a produção de Coffea canephora Pierre (cafés robustas) no Brasil é de 11.186.700 sacas, ou seja, 25,87% da produção nacional, e o estado do Espírito Santo é o maior produtor de café dessa espécie com 7.761.000 sacas produzidas, ou seja, 69,38% da produção de café robusta do Brasil (CONAB, 2016).

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5. MORFOLOGIA E FISIOLOGIA DO CAFEEIRO: DESCRIÇÃO DA PLANTA.

O conhecimento da planta de café e suas particularidades (morfologia, anatomia e fisiologia) é fundamental para que se possa compreender questões importantes como a bienalidade de produção, necessidade de podas para manutenção de produtividades econômicas, e mesmo o planejamento financeiro desde o plantio até as primeiras produções (retorno econômico). Primeiramente é importante considerar que o café é uma planta perene que pode ter uma vida útil de cerca de vinte anos ou mais. Assim, qualquer erro cometido no início do cultivo, como escolha de uma cultivar não adaptada para a região de plantio, ou mesmo o plantio em um espaçamento inadequado, poderão comprometer o empreendimento (produtividades menores e consequentemente menores retornos econômicos) por toda a vida da cultura (GUIMARÃES, MENDES e BALIZA, 2010; REIS e CUNHA, 2010).

Deve-se considerar também que o cafeeiro inicia a fase de produção significativa somente após passados três anos do semeio em viveiro. Portanto, são necessários cerca de seis meses para a formação das mudas em viveiro e depois mais 30 meses em campo para a primeira colheita significativa, que só então permitirá o retorno de parte do capital investido. Assim, o planejamento financeiro e de uso de mão de obra deve ser cuidadoso e o manejo da cultura adequado e em época oportuna com orientação profissional ao longo de todo o tempo do empreendimento (GUIMARÃES et al., 1998; REIS e CUNHA, 2010).

A planta de café tem características peculiares que merecem ser estudadas para um maior entendimento de sua interação com o meio ambiente e suas reações diante de estresses bióticos e abióticos, especialmente em tempos de mudanças climáticas como a pior distribuição de chuvas durante o ano.

Cada fruto de café tem em seu interior duas sementes que são planas no lado que se tocam e convexas na parte externa. Esse formato (plano convexo) é o que define o desenvolvimento de máquinas utilizadas no período pós colheita como, descascadoras/despolpadoras, desmuciladoras, beneficiadoras, entre outras. Cada semente é envolta pelo endocarpo do fruto (também conhecido como pergaminho) que protege a semente de danos mecânicos que poderão comprometer desde a qualidade das sementes até a qualidade do produto final. Externamente, os frutos do café têm o exocarpo, geralmente de cor vermelha ou amarela quando maduros, que possibilita importante auxílio na identificação da variedade/cultivar (material genético). Imediatamente abaixo do exocarpo os frutos de café possuem uma camada gelatinosa (mesocarpo ou mucilagem), que poderá ser retirada total ou parcialmente para a secagem dos grãos, dependendo do tipo de café pretendido ao final do processamento pós colheita (LIVRAMENTO, 2010). Assim, a permanência do mesocarpo, ou ainda sua retirada parcial ou total para depois se levar o café para a secagem determinará os cafés conhecidos: naturais (secos sem a retirada do exocarpo e mesocarpo), cereja

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descascado – CD (secos após a retirada do exocarpo, porém sem o processo de retirada da mucilagem), e ainda o café despolpado (seco após retirada do exocarpo e também do mesocarpo por meio de desmucilador mecânico ou processo de fermentação controlada) (BORÉM, 2014).

No processo de produção de sementes de café que serão levadas aos viveiros para a produção de mudas, retira-se o exocarpo e o mesocarpo dos frutos e as sementes (ainda com o endocarpo) são colocadas a secar (inicialmente ao sol e depois à sombra) até umidade de cerca de 14% quando estarão prontas para o semeio ou comercialização para utilização em outros viveiros (SILVA et al. 2010a).

No viveiro as sementes são colocadas para germinar diretamente nos recipientes (sacolinhas plásticas com substrato composto por solo com adubo orgânico e fertilizantes). Em condições de campo após cerca de 30 a 45 dias após o semeio e irrigações constantes as sementes iniciam a protrusão da radícula. A radícula cresce em direção ao solo (geotropismo positivo) dando suporte para a emergência das plântulas após torção do hipocótilo e posterior elevação dos cotilédones para fora do solo, o que ocorre cerca de 60 a 90 dias após a semeadura. Nessas fases da germinação, as plântulas ainda estão com o sistema radicular pouco desenvolvido e, portanto, muito sensíveis ao déficit hídrico, o que obriga aos viveiristas muita atenção quanto á irrigação das mudas (SILVA et al. 2010a).

Quando a plântula inicia o processo de emergência do solo surgem primeiro as alças hipocotiledonares que são os primeiros sinais de que os cotilédones (ainda presos por restos de endosperma) surgirão do solo. Nessa fase da germinação é importante que se tenha sob controle a insolação no interior do viveiro, sob pena de rompimento da alça hipocotiledonar e consequente morte das plântulas. Emergidas do solo as plântulas de café chegam às fases de “palito de fósforo” e “orelha de onça” ainda sem capacidade de produzir foto assimilados e muito vulneráveis aos fungos de solo como o Rhizoctonia solani causador da rizoctoniose do cafeeiro ou também conhecida como “tombamento de mudas”. Assim, quando os viveiristas percebem que foi alcançada essa fase da germinação devem ficar atentos à necessidade de controle químico caso as medidas preventivas (uso de solo livre de fungos e controle da irrigação) não surtam efeito (SILVA et al. 2010a).

A partir da emissão das folhas cotiledonares, surgem as folhas “verdadeiras” nas axilas das quais são formadas “gemas seriadas” que no ramo central (ortotrópicos) originam somente ramos ortotrópicos. Assim, essas gemas seriadas poderão ser importantes no futuro em podas de renovação da lavoura, mas podem também ser necessárias para a recuperação das plantas ainda em fase de mudas no caso de podas para o reaproveitamento dessas (LIVRAMENTO, 2010).

Nessa haste principal que tem crescimento ereto (ramo ortotrópico), as folhas “verdadeiras” são formadas em ângulos de cerca de 60o (sentido de espiral) à medida que são emitidas, e a partir

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do 8o ao 10o nós, surgem acima da série de gemas (seriadas) também as gemas chamadas de

“cabeça de série” que dão origem aos primeiros ramos produtivos do cafeeiro (ramos plagiotrópicos) (RENA e MAESTRI, 1986). Esse é um sinal importante que é utilizado pelos cafeicultores como indício que essa muda já está em fase de campo, ou seja, com os ramos plagiotrópicos presentes a planta se prepara para iniciar a fase reprodutiva.

Portanto, “gemas seriadas” do ramo ortotrópico só originam “ramos ortotrópicos”, ou seja, em qualquer tipo de poda nesse ramo as gemas seriadas somente darão origem a outros ramos ortotrópicos. É comum o aparecimento de ramos ortotrópicos em excesso em função de estresses como calor, danos pela colheita mecânica, outras podas, chuvas de granizo, etc., o que obriga os cafeicultores a retirarem esses brotos uma ou mais vezes ao ano (desbrotas). Também é por meio de fragmentos (estacas) desses “ramos ortotrópicos” que se propaga vegetativamente o café (estaquia), tanto no Coffea arabica L. quanto no Coffea canephora Pierre (RENA e MAESTRI, 1986).

A medida que a planta de café cresce e se desenvolve, novos ramos plagiotrópicos são formados e nas axilas das folhas desses surgem da mesma forma uma série de gemas (seriadas) com uma “gema cabeça de série” acima. Essas “gemas seriadas” agora surgidas em ramos plagiotrópicos, poderão produzir ramificações (plagiotrópicos secundários, terciários, etc.) ou inflorescências e consequentemente frutos. Já as gemas cabeça de série continuarão a originar ramos plagiotrópicos, ou seja, sempre originam ramos plagiotrópicos, independentemente do ramo que se encontrar (RENA e MAESTRI, 1986).

É importante observar que inflorescências são formadas a partir de “gemas” e há sempre a necessidade de novas gemas, e consequentemente novos ramos para dar suporte às futuras produções. Assim, é necessário primeiro o crescimento de ramos, para com eles as novas gemas produzirem novos frutos. Com esses conhecimentos os profissionais de agronomia e os cafeicultores podem se orientar para conduzirem e, ou, recuperarem as plantas de café para a máxima e melhor produtividade, planejando as podas ou calculando produtividades do ano seguinte (para cálculo de adubação e planejamento fitossanitário).

Agora fica mais fácil de se entender que para produzir bem, o cafeeiro tem primeiro que crescer (produzir novos ramos). No ano em que o cafeeiro tem alta produtividade, o consumo de foto assimilados também é grande devido ao consumo prioritário dos frutos em relação a outras partes da planta, inclusive raízes e produção de novos ramos. Assim, em ano de alta produtividade o café prioriza os frutos e tem um menor crescimento de ramos, que por sua vez seriam a base da produção do ano seguinte, que, portanto, será menor. Com o mesmo raciocínio pode-se entender que após um ano de baixa produtividade haverá foto assimilados para suportar o crescimento vigoroso de novos ramos até o ano seguinte quando então poderá haver altas produtividades. Essa

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alternância entre maiores e menores produtividades é conhecida como “BIENALIDADE DO CAFEEIRO”, pois a cada dois anos se tem altas produtividades ou, a cada dois anos se tem baixas produtividades, mesmo com manejo adequado (RENA e MAESTRI, 1986; LIVRAMENTO, 2010).

Assim como a produção de novos ramos é importante para as produtividades dos anos seguintes, também é importante para produção de novas folhas. As folhas são produzidas somente a partir de ramos novos pois, folhas velhas que sofreram abscisão (caíram) por qualquer motivo (idade, pragas, doenças, condições climáticas desfavoráveis) não são novamente formadas nos ramos em que se originaram. Um novo enfolhamento capaz de retomar a plena capacidade de realizar fotossíntese somente é alcançado com o surgimento de novas folhas junto aos ramos novos formados pelos meristemas apicais.

Ao contrário dos frutos, que têm grande força de dreno e, portanto, podem comprometer o pleno crescimento das plantas, o sistema radicular é considerado dreno fraco (RENA e MAESTRI, 1986). Ou seja, em anos de alta produtividade as raízes têm acesso a menor quantidade de foto assimilados para crescer ou mesmo se manter, principalmente no caso de manejo inadequado da cultura (nutrição inadequada, concorrência de plantas daninhas, etc.). Com essa explicação pode-se entender que, em determinadas condições de manejo inadequado e em anos de alta produtividade pode haver grande mortalidade de plantas no campo.

Didaticamente pode-se classificar as raízes do cafeeiro em quatro tipos, sendo: raiz pivotante, raízes axiais, raízes da placa superficial e raízes de fora da placa superficial. A raiz pivotante normalmente é única no caso de propagação por sementes. É curta e grossa com cerca de 0,4 a 0,5 metros de comprimento e é base para o crescimento dos outros tipos de raízes. Por essa razão deve-se ter todo o cuidado para que não seja danificada no processo de formação de mudas ou mesmo durante o plantio em campo, quando a dobra dessa raiz pode levar a planta à morte por ocasião das primeiras produções (“pião torto”), comprometendo fortemente o investimento feito na implantação da lavoura (RENA e MAESTRI, 1986).

As raízes axiais são em número de 6 a 8 e têm comprimento que pode chegar a 2 ou 3 metros. Essas são importantes na exploração do solo em profundidade principalmente para alcançar água disponível e tão necessária ao crescimento e desenvolvimento das plantas, em especial em períodos de estiagem. As raízes da placa superficial são mais finas e concentram-se superficialmente (20 a 30 cm de profundidade) abaixo da copa dos cafeeiros. Essas são as principais responsáveis pela absorção dos nutrientes aplicados durante as adubações e por isso devem ser preservadas, evitando-se a destruição por implementos agrícolas como grades e enxadas rotativas e também a compactação do solo nessa região da rizosfera por excessivo trânsito de máquinas. As raízes de fora da placa superficial são aquelas intermediárias entre as da placa

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superficial e as demais citadas e exploram o solo naquela região (RENA e MAESTRI, 1986; LIVRAMENTO, 2010).

A anatomia das plantas também é importante ferramenta para a descrição das plantas de cafeeiro. Dedecca (1957) já descrevia a anatomia do cafeeiro (Coffea arabica L.), porém posteriormente poucos trabalhos foram realizados para relacionar características anatômicas de diferentes variedades ou mesmo de alterações causadas por estresses bióticos ou abióticos. Dessa forma, percebe-se a possibilidade de utilizar as características anatômicas como importante instrumento no apoio ao melhoramento genético assistido do cafeeiro visando à identificação de genótipos superiores de café (BATISTA et al., 2010). Sabe-se que planta está dinamicamente relacionada com as condições de cultivo (SILVA et al., 2005), sendo que a intensidade de radiação solar, disponibilidade de água e nutrientes, além da presença de pragas e patógenos podem alterar a estrutura interna da folha. Recentemente alguns trabalhos indicaram que características estruturais quando associadas às fisiológicas podem apontar cultivares de cafeeiro que possam ter tolerância à seca (GRISI et al., 2008; BATISTA et al., 2010). Trabalhos constatando que o conhecimento da anatomia do cafeeiro pode ser importante ferramenta para o lançamento de novas cultivares tolerantes a doenças, pragas (RAMIRO et al. 2004), e até mesmo a condições de sombreamento (GOMES et al. (2008) e BALIZA et al., (2012)) que pode ser adaptação importante no enfrentamento de mudanças climáticas como temperaturas elevadas.

FIGURA 1: Corte anatômico transversal da nervura central em folha de café, evidenciando os vasos do xilema (XL), vasos do floema (FL), fibras (FB) e parênquima fundamental (PF). Foto: Janaíne Lopes Machado.

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6. RECOMENDAÇÃO DE CULTIVARES DE Coffea arabica L. E Coffea canephora Pierre

A recomendação de cultivares de café adaptados para as diferentes regiões do mundo e do Brasil tem sido tarefa fundamental para o sucesso nos novos plantios.

Os melhoristas têm buscado reunir nas variedades/cultivares lançadas pelas instituições em seus programas de melhoramento genético, características como: tolerância à pragas, doenças e nematoides; altas produtividades; excelente qualidade de bebida; arquiteturas de plantas que atendam aos diferentes sistemas de plantio; diferentes épocas de maturação; tolerância ao déficit hídrico; grão de peneira alta (grandes); entre outras.

Assim, os novos plantios devem ser planejados para a produção sustentável de café com variedades/cultivares que se adaptem as diferentes regiões e que reúnam as principais características (crescimento, produtividade, qualidade e tolerâncias) buscadas pelos melhoristas e reunidas nos materiais que serão recomendados.

6.1. Características de algumas cultivares de Coffea arabica L. de porte baixo, segundo Carvalho et al. (2008).

Pela Tabela 7 pode-se observar as características de algumas cultivares de Coffea arabica L. de porte baixo.

TABELA 7: Diâmetro de copa, cor do fruto, tamanho da semente, época de maturação, tolerância à ferrugem e tolerância à nematoides de algumas ciultivares de Coffea arabica L. de porte baixo.

Cultivar Diâmetro de copa Cor do fruto Tamanho da semente Maturação Tolerâncias à ferrugem Tolerância à nematóides ‘Acauã’ Médio Vermelha

escura

Médio Tardia Altamente tolerante Tolerância moderada à M. exigua ‘Araponga MG1’

Médio Vermelha Médio Média Altamente tolerante

Susceptível ‘Catiguá

MG1, MG2 e MG3’

Médio Vermelha Médio Média Altamente tolerante Catiguá MG3 tolerante à M. exigua. Demais susceptíveis. Grupo ‘Catuaí amarelo’

Médio Amarelo Médio Tardia Susceptível Susceptível

Grupo ‘Catuaí vermelho’

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Grupo ‘Catucaí’ Médio Vermelha ou amarela Varia de pequena a grande Média exceto 785-15 que é muito precoce Moderadamente tolerante Susceptível exceto 785-15 que é tolerante à M. exigua. ‘Caturra amarelo (IAC-476) e vermelho (IAC-477)’ Médio Amarelo ou vermelha

Médio Precoce Susceptível Susceptível

‘Iapar 59’ Pequeno Vermelha Médio Precoce a média Altamente tolerante Tolerante à M. exigua ‘IBC Palma

1’ Médio Vermelha Médio Média Moderadamente tolerante

Susceptível ‘IBC Palma

2’

Pequeno Vermelha Médio Média Moderadamente tolerante

Susceptível ‘IPR 98’ Médio Vermelha Médio Média Altamente

tolerante

Susceptível ‘IPR 103’ Médio Vermelha Médio Tardia Moderadamente

tolerante

Susceptível ‘Katipó’ Médio Vermelha Grande Precoce Moderadamente

tolerante

Susceptível ‘Laurina IAC

870’ Pequeno Vermelha Muito pequeno

Precoce Susceptível Susceptível ‘Maracatiá’ Pequeno Vermelha Grande Precoce Susceptível Susceptível ‘Obatã

amarelo IAC 4739’

Médio Amarela Grande Muito tardia Altamente tolerante Susceptível ‘Obatã vermelho IAC 1669-20’

Médio Vermelha Grande Muito tardia

Altamente tolerante

Susceptível

‘Oeiras MG

6851’ Pequeno Vermelha Grande Precoce Moderadamente tolerante

Susceptível ‘Ouro

amarelo IAC 4397’

Médio Amarela Médio Média a tardia

Susceptível Susceptível

‘Ouro

bronze IAC 4925’

Médio Vermelha Médio Média a tardia

Susceptível Susceptível

‘Ouro verde IAC H 5010-5’

Médio Vermelha Médio Média a tardia

Susceptível Susceptível

‘Paraíso MG H 419-1’

Pequeno Amarela Grande Média Altamente tolerante Apresenta plantas tolerantes e susceptíveis a M. exigua. ‘Pau Brasil

MG 1’ Pequeno Vermelha Médio Média Altamente tolerante

Susceptível ‘Rubi - MG

1192’ Médio Vermelha Médio Mádia Susceptível Suscetível ‘Sabiá

tardio’ Médio a largo

Vermelha Pequeno Tardia Moderadamente tolerante

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‘Sacramento MG 1’

Médio Vermelha Médio Média Altamente tolerante

Suscetível ‘Saíra’ Médio a

largo

Vermelha Pequeno Média a tardia

Moderadamente tolerante

Suscetível ‘Siriema

842’ Médio Vermelha e amarela

Médio Muito precoce Moderadamente tolerante Tolerante a nematoide e bicho mineiro. ‘Topázio MG 1190’

Médio Amarela Médio Média Susceptível Susceptível ‘Travessia’

(MG’s Travessia)

Médio Amarela Médio Média Susceptível Susceptível

‘Tupi IAC 1669-33’

Médio Vermelha-escura

Grande Precoce Altamente tolerante

Susceptível ‘Tupi

Amarelo IAC 5162’

Médio Amarela Grande Precoce Moderadamente tolerante Susceptível “Tupi RN IAC 1669-13’ Médio Vermelha-escura Grande Precoce a média Altamente tolerante Tolerante a M. exigua

Adaptado de Carvalho et al. (2008)

6.2. Características de algumas cultivares de Coffea arabica L. de porte alto, segundo Fazuoli et al. (2008).

Na Tabela 8 pode-se visualizar as características de algumas cultivares de Coffea arabica L. de porte alto.

TABELA 8: Diâmetro de copa, cor do fruto, tamanho da semente, época de maturação, tolerância à ferrugem e tolerância à nematoides de algumas cultivares de Coffea arabica L. de porte alto.

Cultivar Diâmetro de copa Cor do fruto Tamanho da semente Maturação Tolerâncias à ferrugem Tolerância à nematóides Grupo

‘Acaiá’ Médio Vermelha Grande Precoce a média

Susceptível Susceptível ‘Acaiá

cerrado MG 1474’

Médio Vermelha Grande Precoce a média

Susceptível Susceptível

Grupo ‘Bourbon amarelo’

Grande Amarela Médio Precoce Susceptível Susceptível

Grupo ‘Bourbon vermelho’

Grande Vermelha Médio Precoce Susceptível Susceptível

‘Ibairi IAC

4761’ Pequeno Vermelha Muito pequeno

Precoce Susceptível Susceptível Grupo

“Icatu amarelo’

Muito grande

Amarela Médio Média a tardia

Moderadamente tolerante

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‘Icatu precoce IAC 3282’

Médio Amarela Médio Precoce Moderadamente tolerante Susceptível Grupo ‘Icatu vermelho’ Muito grande

Vermelha Médio Média a tardia Moderadamente tolerante Susceptível Grupo ‘Mundo novo’ Grande a muito grande

Vermelha Médio Média Susceptível Susceptível

‘Mundo novo amarelo IAC 4266’

Grande Amarela Médio Precoce a média

Susceptível Susceptível

Adaptado de Fazuoli et al. 2008.

6.3. Características de algumas cultivares de Coffea canephora Pierre (café robusta), segundo Fonseca et al. (2008).

‘EMCAPA 8111’: Cultivar clonal precoce com colheita até maio, com média de produtividade nas primeiras quatro colheitas de 58 sacas de café beneficiado por hectare.

6.3.1. ‘EMCAPA 8121’: Cultivar clonal de maturação intermediária com colheita em junho e média de produtividade nas primeiras quatro colheitas de 60 sacas de café beneficiado por hectare. 6.3.2. ‘EMCAPA 8131’: Cultivar clonal de maturação tardia com colheita em julho/agosto e média de produtividade nas primeiras quatro colheitas de 60 sacas de café beneficiado por hectare. 6.3.3. ‘EMCAPA 8141’ - ROBUSTÃO CAPIXABA: Cultivar clonal com maturação de maio a junho de porte baixo, sendo adequada à poda e ao adensamento de plantio. Planta tolerante a doenças foliares e à seca chegando a 112,5 sacas de café beneficiado por hectare com auxílio da irrigação.

6.3.4. ‘EMCAPER 8151 - ROBUSTA TROPICAL’: Cultivar de propagação por sementes, recomendada para adensamentos (3 a 4 mil plantas por hectare) de plantio com colheita de maio a junho com potencial de produção até 113,2 sacas de café beneficiado por hectare.

6.3.5. ‘VITÓRIA INCAPER 8142’: cultivar clonal com maturação de maio a junho de porte médio, tolerante a ferrugem e ao déficit hídrico com potencial de produtividade de cerca de 70,4 sacas de café beneficiado por hectare, sem o uso da irrigação.

6.3.6. ‘KOUILOU IAC 66’; ‘IAC 68’, ‘IAC 69’, ‘IAC 70’ e ‘IAC 2293’: também chamados de Conilon pode ser propagado por sementes ou estacas. Seu porte varia de médio a alto com frutos vermelhos de maturação de precoce a média. São moderadamente tolerantes a ferrugem e tolerantes a M. exigua.

6.3.7. ‘APOATÃ IAC 2258’: elevada tolerância a ferrugem e aos nematóides Meloidogyne

exigua, M. incógnita e M. paranaenses, é uma cultivar de maturação tardia com colheitas de junho

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6.3.8. ‘BUKOBENSIS IAC 827’: plantas de porte médio a alto, de frutos vermelhos, de maturação muito precoce a precoce, moderadamente tolerante a ferrugem e tolerante a M. exígua. 6.3.9. ‘GUARINI IAC 1598’: plantas de porte alto, de frutos vermelhos com maturação tardia e moderadamente tolerante a ferrugem. Quanto a tolerância a nematoides é moderadamente tolerante a M. exígua sendo que algumas progênies têm tolerância a M. incognita e M. paranaensis. 6.3.10. Grupo ‘ROBUSTA IAC 10’ E OUTRAS SELEÇÕES DE ROBUSTA: plantas de porte alto, frutos vermelhos e maturação tardia. Moderadamente tolerante a ferrugem e ao

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7. PRODUÇÃO DE SEMENTES E MUDAS DE CAFEEIRO

Por ser uma cultura perene, deve-se cuidar para que nenhum erro seja cometido na implantação da lavoura. Assim, cuidados na formação de mudas sadias e vigorosas devem ser tomados, desde a escolha do local do viveiro até o transporte das mudas para o local de plantio.

Há relatos de que, a propagação do cafeeiro era feita diretamente na cova, quando se usavam até trinta sementes para se garantir no final da implantação da lavoura um stand de seis a oito mudas por cova. Há também relatos da utilização de mudas previamente arrancadas de áreas de cafezais adultos onde os frutos caídos davam origem a essas como “viveiros naturais”, e também se fazer o semeio diretamente na cova de plantio (GUIMARÃES, MENDES e SOUZA, 2002e).

Com o tempo, os cafeicultores sentiram a necessidade de ampliarem os plantios sendo, portanto necessária a formação de mudas em viveiros, e que depois eram levadas ao campo. Inicialmente utilizou-se laminados de madeira (pinho). Esse recipiente era de difícil manipulação pois era necessário o tratamento das lâminas de madeira com produtos químicos, óleo queimado ou sulfato de cobre, para em seguida serem amarrados com arame. Também se tinha como alternativa para a produção de mudas, fazer o semeio em blocos de solo argiloso, tecnologia que também era difícil de ser aplicada. Nesse caso misturavam-se esterco bovino e argila, em proporções que variavam com a textura do solo utilizado, para em seguida serem colocados em uma forma metálica de forma hexagonal que dava forma aos blocos de barro. A tecnologia de produção de mudas utilizada a partir daí e até hoje adotada por viveiristas é com o uso dos saquinhos de polietileno, tecnologia essa proposta pela Seção de Café do Instituto Agronômico de Campinas (GUIMARÃES, MENDES e SOUZA, 2002e).

Quanto ao substrato utilizado para a produção de mudas, houve grande evolução a partir dos inicialmente utilizados como “terra recolhida de matas” e a mistura dessa com 50% de esterco bovino. Muitos trabalhos foram realizados na busca do substrato ideal para a produção de mudas em saquinhos de polietileno até que em 1999 a Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais- Brasil recomendou o que hoje é aceito como substrato padrão para a produção de mudas. Esse substrato padrão para produção de mudas de cafeeiro em saquinhos de polietileno, tem a seguinte recomendação para cada metro cúbico a produzir: 700 litros de subsolo peneirado; 300 litros de esterco bovino curtido e peneirado; 3 a 5 quilos de superfosfato simples; 0,5 a 1 quilo de cloreto de potássio (GUIMARÃES, et al., 1999).

Atualmente, tem-se utilizado um recipiente alternativo ao saquinho de polietileno para a produção de mudas de cafeeiro. Trata-se de cones de polietileno rígido que são preenchidos com substrato à base de casca de pinus ou casca de arroz carbonizada com adição de um fertilizante granulado de liberação lenta dos nutrientes (SILVA et al. 2010a).

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Figura 2: Processo de carbonização da casca de arroz para utilização como substrato de mudas de cafeeiro em tubetes de polietileno. Foto: Rubens José Guimarães.

A produção de mudas de Coffea arabica L. ainda é feita principalmente por sementes, pois trata-se de planta autógama com cerca de 90% de alogamia o que facilita o processo de produção de sementes e utilização dessas (MEDINA FILHO, BORDIGNON, CARVALHO, 2008.).

Para a produção de mudas, as sementes devem ser oriundas de campos de produção de sementes credenciados em Entidade Fiscalizadora e com “responsável técnico” contratado. Os viveiros de produção de mudas são acompanhados e fiscalizados de forma a garantir aos cafeicultores mudas sadias, vigorosas e livres de patógenos ou danos físicos que possam comprometer a produção de café. No processo de produção de sementes utiliza-se frutos colhidos nos estádios chamados de “verde-cana” e “cereja” (quando as sementes alcançam a maturidade fisiológica), que ocorre cerca de 220 dias após a fecundação das flores (SILVA et al.2010a).

Imediatamente após a colheita, os frutos destinados à produção de sementes são descascados (retirada do exocarpo). As sementes oriundas dos frutos descascados são então colocadas por 12 a 48 horas em tanques com água para retirada do mesocarpo (mucilagem) por fermentação controlada, ou pelo uso de desmuciladores mecânicos para a retirada do mesocarpo sem necessidade de fermentação (frutos despolpados). Nessa fase do processo de produção de sementes, ou seja, já livres do exocarpo e do mesocarpo, as sementes envoltas pelo endocarpo (“pergaminho”) são colocadas para secar inicialmente ao sol e depois à sombra (BORÉM, 2014).

É importante lembrar que as sementes de Coffea arabica L. quando armazenadas em condições de ambiente perdem rapidamente seu poder germinativo após 6 meses, sendo que no caso de Coffea canephora Pierre essa perda do poder germinativo ocorre em apenas 3 meses (FONSECA et. al. 2007a). Assim, a semeadura em viveiro deve ser feita tão logo as sementes

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estejam disponíveis para se garantir vigor e germinação dessas além de proporcionar a disponibilidade das mudas para plantio no campo no início do período chuvoso. Também pode-se recorrer à sementes armazenadas em “câmaras frias” para semeios tardios ou com sementes produzidas no ano anterior. Após o semeio as mudas estarão prontas para o plantio em campo de 6 a 7 meses

Figura 3: Utilização do limitador de profundidade para o semeio em saquinhos de polietileno. Foto: Rubens José Guimarães

Figura 4: Curvatura da raiz durante a repicagem (não recomendada). Foto: Rubens José Guimarães.

A propagação do cafeeiro pode ser feita também vegetativamente (processo muito utilizado em Coffea canephora Pierre), ou ainda por meio de técnicas de cultura de tecidos. A produção de mudas por estacas por exemplo, já é utilizada há muito tempo na espécie Coffea canephora Pierre,

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pois além da sobrevivência de praticamente 100% das estacas utilizadas, o método permite a propagação de clones de plantas superiores já que se trata de planta alógama. Em Coffea arabica L., o processo de produção de mudas por estacas está sendo possível com tecnologia desenvolvida a partir de fragmentos de ramos ortotrópicos (SILVA, et al. 2010a).

Figura 5: Muda de cafeeiro arábica produzida pelo método da estaquia. Foto: Rubens José Guimarães.

A técnica da enxertia tem sido usada, principalmente, para o plantio de Coffea arabica L. em áreas com nematóides utilizando-se porta enxerto de Coffea canephora Pierre, tolerante a alguns tipos de nematoides (SILVA, et al. 2010a). Porém os melhoristas têm trabalhado no desenvolvimento de novas variedades/cultivares com tolerância aos nematoides garantindo a produção de café em áreas infestadas por nematoides e sem a necessidade da enxertia que eleva o custo da produção de mudas.

Figura 6: Técnica da enxertia utilizada para produção de mudas com resistência a algumas espécies de nematoides. Fotos: Rubens José Guimarães.

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Com a utilização da biotecnologia também é possível a produção de mudas por meio de embriogênese somática, micro estaquia, cultura de embriões ou cultura de anteras. Dessas, a tecnologia que estará pronta em breve para utilização pelos cafeicultores é a da embriogênese somática (SILVA, et al. 2010a).

Figura 7: Técnica de propagação do cafeeiro por micro estaquia (cultura de tecidos). Foto: Rubens José Guimarães.

Na embriogênese somática se busca inicialmente a formação de calos, a partir de fragmentos (folhas) de uma planta mãe, que são colocados em uma solução nutritiva, para em seguida, se promover a diferenciação e a obtenção de embriões. Esses embriões se desenvolvem, dando origem a plantas que são transplantadas para o viveiro para completar o processo de formação das mudas (CAIXETA, et al. 2008).

Por se tratar de cultura perene, a escolha das cultivares para a implantação da lavoura é fator dos mais importantes para o sucesso do empreendimento. Essas cultivares devem ter potencial para altas produtividades, e na medida do possível atender a outros quesitos como: tolerância a pragas, doenças e nematoides; serem adaptadas à região de plantio (temperatura, solo, pluviosidade, entre outros); adaptarem-se ao espaçamento planejado para a futura lavoura (variando com o declive encontrado e a utilização de máquinas e/ou equipamentos); e também maior uniformidade de maturação dos frutos e que permitam colheitas que visem maior qualidade do produto final (CARVALHO, 2008).

Em alguns países a exploração de cafezais pode ainda ser em áreas onde as plantas se propagam naturalmente (dispersão natural de sementes) ou podem ser plantados em áreas de sub-bosque com plantios diretamente na cova com sementes ou mudas arrancadas dos cafezais já existentes (viveiros naturais). Porém, em plantios comerciais de tecnologia mais recente as mudas são formadas em viveiros para posteriormente serem levadas ao campo, o que possibilita a formação de mudas sadias e vigorosas, nas quantidades desejadas.

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A escolha do local onde será construído o viveiro de mudas de cafeeiro é importante, pois as condições locais podem ser determinantes na eliminação de condições propícias ao ataque de pragas, doenças ou estresses abióticos. Também, o local escolhido deve ter fácil acesso para facilidade de transporte de solo, adubos orgânicos e químicos e também ter declividade suave para que os recipientes estejam em posição vertical (de forma a não comprometer a formação do sistema radicular das mudas). A proximidade do viveiro às fontes de água evitará gastos desnecessários com equipamentos de bombeamento e despesas com energia (SILVA et al. 2010a).

Também as barreiras naturais contra danos causados pelos ventos são desejadas no local a ser escolhido para se instalar o viveiro de mudas, apesar dos viveiros serem construídos com cercas (de bambu ou mesmo de tela plástica) que também evitam o excesso de radiação solar lateral. Ventos, especialmente os frios, podem causar lesões nas folhas permitindo a entrada de patógenos e o excesso de radiação solar pode causar queimaduras. O local do viveiro deve ser bem ensolarado e bem drenado, pois disso dependerá o pleno desenvolvimento das mudas sem ataques severos de doenças de maior proliferação em ambientes úmidos como a rizoctoniose e bacterioses (SILVA et al. 2010a).

Alguns detalhes de construção do viveiro de mudas de café devem ser observados como recomendado por Silva et al. (2010a):

a) Para se evitar umidade excessiva e mesmo o abrigo de pragas e doenças, recomenda-se que deva haver uma faixa de no mínimo 5 metros ao redor do viveiro, livre de qualquer vegetação ou entulho.

b) Outra medida necessária na implantação do viveiro é fazer a proteção contra enxurradas, com valas profundas ou cordões altos ao redor de toda a área (isolando de possível contaminação por nematoides e por plantas daninhas).

c) A área de recepção de terra e estercos deve ser colocada à jusante do viveiro. d) Os canteiros deverão ser identificados com a caracterização de cultivares.

e) Não instalar viveiros de mudas de cafeeiro abaixo de lavouras de café e em terrenos infestados com plantas daninhas de difícil controle.

f) Os canteiros onde os recipientes são colocados devem ter no máximo 1,2 metros de largura por 20 metros de comprimento, pois medidas superiores dificultariam os tratos culturais como capinas, irrigações, pulverizações e desbaste.

g) Os recipientes onde serão formadas as mudas (saquinhos), devem ser dispostos na posição vertical, afim de se possibilitar o perfeito desenvolvimento do sistema radicular, sem que esse toque as laterais dos recipientes. Danos nas raízes pivotantes do cafeeiro podem comprometer o crescimento das plantas e até leva-las à morte (pião torto).

h) Os canteiros são delimitados por bambus rachados ou não, que são amarrados a estacas cravadas ao chão, deixando corredores de circulação que devem ter de 40 a 60 cm de largura.

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i) A cerca lateral construída com bambu ou utilização de tela plástica tem a função de evitar a entrada de animais domésticos, muito comuns nos locais de produção de mudas. Também protegem as mudas de ventos frios o de insolação excessiva.

j) A cobertura deve estar a cerca de 1,8 a 2,2 metros de altura do solo (para facilitar o trabalho) e proporcionar uma insolação de 50% a 60%, até a época da aclimatação das mudas (PAIVA, GUIMARÃES e SOUZA, 2003). Em pequenas propriedades ainda se utiliza capim, folhas de bananeira ou mesmo bambu na confecção da cobertura, porém na maioria dos viveiros utiliza-se uma tela plástica para controle da intensidade luminosa.

Figura 8: Vista parcial externa de um viveiro de mudas de cafeeiro. Foto: Rubens José Guimarães.

Quanto ao tempo de permanência das mudas em viveiro pode-se produzir dois tipos de mudas de cafeeiro: as “mudas de meio ano” (ficam no viveiro de 6 a 7 meses) e as “mudas de ano” que permanecem no viveiro durante cerca de um ano. As “mudas de meio ano” são as mais utilizadas pelos cafeicultores por terem menor custo e serem mais facilmente transportadas, já as “mudas de ano” são utilizadas em condições especiais como no replantio de mudas que morreram, feito no ano seguinte do plantio em campo, como forma de se uniformizar as plantas (SILVA et al. 2010a).

As mudas podem ser também produzidas utilizando-se “tubetes” de polietileno rígido que é outro tipo de recipiente utilizado alternativamente aos saquinhos de polietileno. Apesar de menos utilizado pelos viveiristas esse recipiente propicia algumas vantagens como a facilidade e resistência das mudas ao transporte e maior rapidez nas operações de plantio em campo.

Alguns índices são interessantes para melhor compreensão do processo de produção de mudas (GUIMARÃES, MENDES e SOUZA, 2002e; SILVA, et al. 2010a):

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- Um metro cúbico de substrato é suficiente para o enchimento de 1200 a 1400 saquinhos para "mudas de meio ano" (10 a 11 cm de largura por 20 a 22 cm de altura) ou para 900 a 1100 saquinhos para "mudas de ano" (15 cm de largura por 25 cm de altura).

- Um trabalhador enche de 600 a 800 saquinhos para "mudas de meio ano" e de 400 a 600 para "mudas de ano" por dia trabalhado. Para cada três pessoas que trabalham no enchimento de saquinhos, deve haver uma para o preparo e distribuição do substrato.

- Um trabalhador irriga, com regador, 100.000 mudas por dia.

- Um quilo de sementes tem, em média, 4.000 a 6.000 sementes, ou seja, 1 Kg é suficiente para o semeio de 2.000 a 3.000 mudas com duas sementes por saquinho.

- Um trabalhador faz o semeio direto em 3.000 saquinhos por dia.

Após o aparecimento do segundo par de folhas verdadeiras, as mudas devem ser submetidas ao processo denominado "aclimatação", que consiste em diminuir a irrigação e aumentar a exposição das mesmas a insolação (acima de 50%), gradativamente, por cerca de 30 dias até que estejam adaptadas para suportar as condições de campo.

No caso do uso de mudas convencionais, dificilmente se consegue o plantio antecipado para o início da época chuvosa (caso do Brasil), pois as sementes de cafeeiro apresentam germinação lenta, além de necessitarem de armazenamento especial no caso de sementes produzidas no ano anterior, dificultando a formação de mudas em tempo hábil para implantação da lavoura em condições climáticas favoráveis. Já a utilização (aproveitamento) de mudas podadas é uma possibilidade para o plantio de lavouras sadias e produtivas, com maior garantia de “pegamento” em campo, além de proporcionar a antecipação do plantio para a época de maior pluviosidade, época essa em que mudas de ciclo normal ainda não estão prontas para irem para o campo (SILVA et al. 2010a).

A recuperação de “mudas passadas” por meio de poda, busca estabelecer o equilíbrio funcional entre a parte aérea e o sistema radicular das plantas (RENA et al.,1998). Vários trabalhos foram feitos avaliando a possibilidade da utilização de mudas podadas no plantio de lavouras cafeeiras (CARVALHO e CALDANI,1984; CARVALHO et al.,2007; BALIZA et al., 2013) sendo que todos eles concluíram que as mudas podadas tinham desenvolvimento semelhante ou até superior as mudas tradicionais. Em alguns desses trabalhos tomou-se o cuidado de verificar o desempenho das mudas podadas na fase de produção em campo, avaliando várias colheitas, chegando-se a conclusão que as produtividades obtidas nas primeiras produções em relação as mudas tradicionais são iguais ou até maiores.

Carvalho et al. (2007) afirmaram que também as mudas em tubetes recuperadas por meio de podas apresentam desenvolvimento superior às mudas normais semeadas em época propícia no viveiro. Assim, a utilização de mudas podadas em viveiro pode proporcionar a antecipação do plantio em campo, coincidindo com o início da época chuvosa além de terem menor juvenilidade

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que mudas tradicionais, o que pode proporcionar melhores colheitas nas primeiras produções (BALIZA et al., 2013).

Quanto à altura de corte no ramo ortotrópico das mudas, a maioria dos trabalhos que estudaram altura de poda, concordam que essa deva ser feita entre o terceiro e quarto pares de folhas verdadeiras (CARVALHO e CALDANI, 1984).

Porém, como ocorre para os demais tipos de mudas, essas devem ser cuidadas para que sejam sadias e vigorosas.

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