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IMPLANTAÇÃO DA LAVOURA CAFEEIRA

No documento Cafeicultura Sustentável (páginas 34-42)

Na cafeicultura, tão importante quanto a produção de mudas sadias e vigorosas é a implantação da lavoura em campo, pois tratando-se de cultura perene, os erros cometidos nessa fase somente poderão ser corrigidos em novo plantio após prejuízos durante toda a vida da cultura. Portanto o planejamento é fundamental para o sucesso no empreendimento que será iniciado, a começar pela escolha do local de implantação da lavoura.

Figura 9: Vista geral de uma lavoura de café no Brasil. Foto: Rubens José Guimarães.

Deve-se preocupar inicialmente com a região onde se pretende implantar a lavoura, ou seja, temperatura média anual de 19 a 22oC para cultivares da espécie Coffea arabica L. e de 23 a 26oC

para a espécie Coffea canephora Pierre. O cultivo de Coffea arabica L. em locais de temperaturas médias anuais acima do recomendado, ou mesmo a ocorrência de períodos muito quentes, pode levar as plantas a formação de flores abortivas (“estrelinhas”) diminuindo consequentemente a produtividade. No caso de plantio de Coffea canephora Pierre, o plantio em áreas com temperaturas médias anuais menores que as ideais também afetam a produtividade (BOTELHO et al. (2010) e TAQUES e DADALTO (2007)).

O frio ou o calor excessivo na cultura do café, mesmo de ocorrência apenas em algumas épocas do ano, podem comprometer a produtividade e mesmo a qualidade do produto final. Abaixo de 16ºC, o crescimento da parte aérea é prejudicado pela ocorrência de desordens fisiológicas, como drástica redução da translocação de foto assimilados, da fotossíntese e da assimilação do nitrogênio pelas folhas. Assim, em locais de ocorrência de baixas temperaturas o cultivo do café pode ser prejudicado, podendo levar as plantas à morte com temperaturas próximas de 0oC quando

Da mesma forma, massas de água nas proximidades da lavoura, como grandes represas ou cursos d’água podem influenciar na forma de manejo e até na qualidade do produto final. Por exemplo, a maior umidade relativa do ar pode levar à maior incidência de doenças causadas por fungos e bactérias o que pode ser agravado quando se instala a lavoura em espaçamentos menores (mais adensados). A qualidade do produto final pode também ser comprometida por fermentações indesejáveis nos frutos, antes mesmo de serem colhidos, levando a alguns cafeicultores à antecipação da colheita como forma de preservação da qualidade do produto final. O relevo da área que se pretende instalar uma lavoura de café também é fundamental no manejo que deverá ser adotado no futuro, especialmente no caso de mecanização (GUIMARÃES, et al. 2010).

Declividades superiores a 30% já limitam a mecanização das operações de manejo como pulverizações, adubação mecânica e colheita com colhedoras tracionadas por trator ou automotrizes. Em regiões de relevo ondulado a mecanização é possível com máquinas de grande porte, e, em condições de maior declividade utiliza-se equipamentos costais motorizados junto à colheita manual. A mecanização na lavoura cafeeira equilibra a crescente escassez de mão-de- obra qualificada no meio rural sem, contudo, comprometer a geração de empregos. A mecanização tem, no entanto, facilitado o trabalho das pessoas no manejo da lavoura e na colheita. O Brasil detém hoje muitas soluções e inovações na área de mecanização da lavoura cafeeira, especialmente para operações de colheita, tecnologias essas que poderão ser utilizadas em muitas regiões de plantios de café no mundo (SILVA et al., 1997).

A presença de pedregulhos e/ou cascalhos nos primeiros 30-40cm de profundidade pode ser limitante para o uso de implementos agrícolas na cafeicultura, pois aumentam o desgaste desses, além de diminuírem a capacidade de armazenamento de água do solo. A profundidade efetiva do solo, ou seja, a região até a qual as raízes da planta podem penetrar sem dificuldade, em quantidade suficiente para a busca de água e nutrientes, deve ser de pelo menos 1,2 metros, desde que sua textura seja média a argilosa e não tenha mais de 15% de pedras. Em solos com maior teor de areia ou localizados em regiões com deficiência hídrica frequente devem ser mais profundos para que não haja comprometimento do desenvolvimento do cafeeiro (MENDES, GUIMARÃES e SOUZA, 2002c).

Na escolha da área de cultivo deve-se preferir solos com textura média, pois solos de texturas muito argilosas vão requerer maiores quantidades de fertilizantes fosfatados e correções com maiores quantidades de gesso, e os muito arenosos necessitarão de maiores cuidados com o suprimento de micronutrientes, além de precisarem de maiores parcelamentos das adubações (BOTELHO et al. 2010).

Com relação a pluviosidade, é importante lembrar que áreas com boa distribuição de chuvas e solos com maior capacidade de retenção de umidade, de textura média, devem ser preferidos, a menos que haja disponibilidade de irrigação nos períodos de déficit hídrico (BOTELHO et al. 2010).

A escolha de solos com boa fertilidade natural é desejável, porém não é fundamental diante da possibilidade da utilização de fertilizantes (orgânicos ou minerais) e das correções de solo quanto ao pH e ao alumínio. No Brasil, por exemplo, os solos sob vegetação de cerrado não eram utilizados para a implantação de lavouras de café, até os anos 60 pois acreditava-se que o cafeeiro somente se desenvolvia bem em solos mais férteis, sob vegetação de matas. Com a tecnologia disponível atualmente, a cafeicultura ocupa também essas regiões, onde o solo é de baixa fertilidade natural, acidez elevada, baixo teor de matéria orgânica, baixos níveis de fósforo e cálcio, baixa disponibilidade de micronutrientes e baixa capacidade de troca de cátions (MENDES GUIMARÃES e SOUZA, (2002c); BOTELHO et al. (2010).

Ainda sobre a escolha do solo para a implantação de lavouras de café deve-se considerar: a) evitar áreas com solos compactados, comuns em áreas com o uso intensivo de mecanização, o que limita o crescimento das raízes; b) evitar áreas sujeitas a ventos constantes sem barreiras naturais contra ventos (matas), ou utilizar quebra-ventos temporários (culturas anuais, como arroz, feijão, soja, sorgo e milho, entre outras) e/ou permanentes (grevilea, bananeira e leucena, entre outras); c) utilizar áreas livres de pragas de solo e de nematoides (BOTELHO et al. 2010).

Para escolha do espaçamento entre as plantas de café deve-se levar em consideração o alinhamento das plantas em relação ao caminhamento do sol, a cultivar a ser utilizada (porte e arquitetura), a fertilidade do solo, tratos culturais, sistemas de poda a utilizar e declividade do terreno, dentre outros. Deve-se considerar que a opção por um determinado espaçamento é uma escolha definitiva para toda a vida da cultura e influenciará na execução e nos custos dos tratos culturais, na produtividade e longevidade da lavoura que está sendo implantada. Para se obter maior produtividade e maior facilidade na aplicação dos tratos culturais é necessário tenha um adequado arranjo das plantas (combinação entre o espaçamento das plantas na linha e entre as linhas de plantio) no campo por ocasião do plantio. Atualmente utiliza-se espaçamentos com maior adensamento na linha de plantio que possibilitem cerca de 6.000 a 7.500 plantas por hectare, permitindo ainda com essa densidade a mecanização da lavoura (BOTELHO et al. 2010), porém em algumas partes do mundo maiores densidades de plantio são utilizadas, desde que se disponha de mão de obra disponível para tratos manuais,

O arranjo no qual as plantas são dispostas no campo para a densidade desejada (plantas por hectare) é feito pela combinação ideal do espaçamento na linha de plantio e nas entre linhas, considerando-se ainda: a) o alinhamento da lavoura em relação ao caminhamento do sol (menores poderão ser os espaçamentos na entrelinha de plantio quanto maior coincidência do sentido de plantio com o do caminhamento do sol); b) altura e arquitetura da cultivar escolhida (cultivares de porte alto e, ou com maior diâmetro de copa, exigem maior espaçamento entrelinhas em relação aos cultivares de porte baixo e, ou menor diâmetro de copa podendo afetar também a velocidade e uniformidade de maturação dos frutos além da produtividade; c) altitude da área de plantio (maturação mais lenta dos frutos em áreas altas); d) fertilidade do solo (em solos naturalmente mais

férteis a lavoura crescerá mais rapidamente requerendo portanto espaçamentos maiores); d) tratos culturais (o espaçamento deve facilitar o manejo em função do tipo de máquinas e, ou, equipamento que se pretende usar); e) sistemas de podas (em plantios adensados as podas devem ser antecipadas em relação aos plantios no livre crescimento); f) topografia (em terrenos inclinados que não permitem a mecanização, deve-se fazer opção pelo plantio em menor espaçamento, porém, nessa situação é interessante o uso de cultivares de porte baixo para facilitar a colheita; g) área disponível para a cafeicultura (em propriedades onde a área de plantio é fator limitante, opta-se por espaçamentos mais adensados) (BOTELHO et al. 2010).

Feitas as considerações de escolha do espaçamento, o espaço na entrelinha deve ser o suficiente para o completo crescimento das plantas permitindo também o trânsito das máquinas a serem utilizadas, a menos que se pretenda recorrer às podas programadas para utilização de um espaçamento menor. De maneira sucinta e geral, e feitas as ressalvas anteriores, o espaçamento ideal é a soma do espaço requerido pela medida do diâmetro de copa da cultivar escolhida mais o espaço requerido pela largura da máquina/equipamento que se pretende utilizar no manejo da futura lavoura.

Também são utilizados os espaçamentos adensados, que permitem maior número de plantas por hectare com maiores produtividades, ou seja, aumenta-se o número de plantas por área em relação aos espaçamentos convencionais. Pode-se classificar os espaçamentos utilizados na cafeicultura pelo número de plantas por hectare como: a) plantios largos ou tradicionais (até 3.000 plantas por hectare); b) plantios semi adensados (3.000 a 5.000 plantas por hectare); c) plantios adensados (5000 a 10000 plantas por hectare); e) plantios superadensados (10.000 a 20.000 plantas por hectare) (MENDES, GUIMARÃES e SOUZA, (2002c); BOTELHO et al. (2010).

Os plantios adensados têm como justificativa: a) maior produtividade por área, principalmente nas primeiras colheitas, o que possibilita o retorno mais rápido do capital investido; b) melhor aproveitamento das áreas de plantio, com menores investimentos em terras agricultáveis e liberação de áreas para outras culturas e criações; c) menor custo de produção ao longo do tempo, em razão do aumento da produtividade; d) maior proteção do solo contra a erosão e melhoria de suas características físicas, químicas e biológicas; e) redução da infestação por plantas daninhas em função do sombreamento da área; f) menor oscilação entre altas e baixas produtividades (ciclo bienal de produção) como consequência da menor produção por planta (embora com maior produção por área); g) maior eficiência dos fertilizantes aplicados; h) menor ataque por “bicho minador das folhas” (Leucoptera coffeella) (MENDES, GUIMARÃES e SOUZA, 2002c; BOTELHO et al. 2010).

Porém quando da opção pelo sistema de plantio adensado deve-se levar em conta que: a) haverá maior investimento inicial nas fases de plantio e de formação da lavoura; b) maior dificuldade ou mesmo impedimento da mecanização de tratos culturais; c) necessidade de manejo mais intenso das plantas (desbrotas e podas mais frequentes); d) maior dificuldade nos tratos culturais

como adubações, pulverizações e mesmo a colheita dos frutos; e) colheita mais tardia e menor uniformidade na maturação dos frutos; f) tendência a perda na qualidade dos grãos; g) possibilidade de maior incidência de broca-do-café nos frutos e de ferrugem nas folhas; h) Impossibilidade do uso de plantios intercalares com outras culturas (MENDES, GUIMARÃES e SOUZA, 2002c; BOTELHO et al. 2010).

Como se tem pontos positivos, mas também negativos no adensamento de plantios, percebe-se que a adoção ou não desse sistema dependerá das condições que se encontrar no campo, estudando-se caso-a-caso. Pelas características do sistema de plantio adensado este é utilizado com maior frequência em pequenas propriedades e em regiões montanhosas, onde a mecanização não pode ser utilizada e haja disponibilidade de mão de obra. No caso de sua adoção, é prudente considerar que o manejo por meio de podas programadas é inevitável, para que a produtividade se mantenha em níveis econômicos.

Para a implantação da lavoura é fundamental o planejamento das ações, sendo necessária a análise de solo para recomendações de correção (calcário, gesso, fósforo) e adubação equilibrada e racional das plantas. A amostragem para análise do solo deve ser criteriosa para garantia de resultados representativos e confiáveis, com os quais o profissional da agronomia poderá fazer suas recomendações (BOTELHO et al. 2010).

O solo deve ser então limpo (retirada de tocos ou plantas daninhas arbustivas) para se proceder a conservação do solo (terraços ou cordões em contorno em nível). Em seguida a aração deve ser feita no fim do período seco, com a finalidade de incorporar restos vegetais e o calcário/gesso, e a subsolagem pode ser necessária, caso haja problemas de compactação do solo. Os sulcos feitos no terreno para o plantio devem ser em paralelo às curvas de nível. Deve-se iniciar os sulcos fazendo linhas paralelas às curvas de nível de baixo (no terreno), e terminando os últimos sulcos nas curvas de nível imediatamente acima. Assim as linhas de plantio terminam sempre na parte de baixo das curvas de nível, facilitando a manobra de tratores e veículos. Em áreas com maior declividade, não mecanizáveis, os sulcos podem ser abertos com arados de tração animal, em duas a três passadas, que são em seguida terminados com o uso de ferramentas manuais (BOTELHO et al. 2010).

Figura 10: Adubação nos sulcos antes do plantio das mudas de cafeeiro em campo. Foto: Rubens José Guimarães.

No planejamento para implantação da lavoura, também é importante o acesso para facilitar as operações de manejo, como, transporte de materiais e trânsito de máquinas. Para tanto constroem-se “carreadores pendentes” entre os “terraços”, a cada 70-100m. O plantio em campo deve ser feito em pleno período chuvoso, quando já se tem as mudas formadas. O plantio propriamente dito deve ser criterioso evitando-se problemas futuros como torção no sistema radicular das plantas (“pião torto”), plantios rasos (causando tombamento de plantas) ou mesmo profundos (podem causar lesão na altura do colo das plantas) (BOTELHO et al. 2010).

Algumas recomendações importantes para um plantio criterioso são: a) utilizar mudas com três a seis pares de folhas, exceto se se tratar de replantios com mudas especialmente formadas para esse fim; b) aclimatar as mudas ao sol, com regas reduzidas no viveiro para depois serem levadas ao local definitivo de plantio; c) transportar as mudas com cuidado, evitando-se danos as mesmas; d) plantar as mudas ao nível do solo, evitando-se o plantio raso, ou o plantio profundo; e) alinhar as mudas no sulco de plantio (ou mesmo entre as covas) para facilitar futuras operações com o manejo mecanizado e colheita mecânica; f) cortar cerca de 1 a 2 cm do fundo dos saquinhos das mudas, antes de retirá-los para o plantio, evitando-se assim o enovelamento do sistema radicular (“pião torto”); g) cuidado ao fazer pressão lateral ao bloco da muda, com a mão espalmada, durante o plantio, evitando-se que a raiz principal seja pressionada (ou entortada) (MENDES, GUIMARÃES e SOUZA, 2002c).

Figura 11: Alinhamento e abertura das covas por ocasião do plantio. Fotos: Rubens José Guimarães.

Há opções de plantios semi mecanizados (plataforma de plantio acoplada a trator) ou mesmo mecanizados, porém pouco utilizados em relação ao plantio manual.

Cerca de 30 a 40 dias após o plantio, verifica-se se há a necessidade de replantios e faz-se a adubação de cobertura em campo. O replantio deve continuar até a formação completa da lavoura (primeiros 2 anos) para um estande perfeito da lavoura.

O manejo no período de formação da lavoura deve também ser criterioso, com controle de formigas, bicho-mineiro, lagarta-rosca, cochonilhas, ácaros e outras pragas, além de doenças como a cercosporiose, bacteriose, etc. O manejo do mato também deve ser feito de maneira a aproveitar os benefícios do mato no controle da erosão, manutenção de temperaturas amenas no solo, ambiente propício a vida microbiana no solo, porém sem permitir a concorrência com a lavoura de café (BOTELHO et al. 2010).

8.1. Manejo da lavoura no campo

Assim que a lavoura de café estiver implantada em campo, cuidados devem ser tomados para que ela cresça e desenvolva satisfatoriamente, a ponto de produzir com qualidade e ser sustentável economicamente, socialmente justa na utilização da mão de obra e ambientalmente correta.

Como a implantação acontece no período chuvoso deve-se considerar cuidados na conservação do solo, mantendo limpos os terraços (ou cordões de contorno) de contenção de água e também cuidando para que o manejo do mato seja feito também de forma a auxiliar na contenção da erosão, especialmente a laminar. Uma lavoura bem implantada deve prever o aproveitamento máximo da água da chuva, possibilitando a infiltração no solo e retendo o excesso em “bacias de contenção” construídas na própria área de plantio (BOTELHO et al. 2010).

Com a crescente demanda por água das populações urbana e rural em todo o mundo, a utilização de água na agricultura deve ser feita de forma responsável, para que se diminua o consumo na produção de café mantendo altas produtividades.

Aliado à crescente demanda das populações por água, a distribuição das chuvas também não tem sido satisfatória para as lavouras em muitas partes do mundo onde se produz café. Assim, técnicas agronômicas para mitigação da seca têm sido aplicadas como a utilização de “cobertura morta”, aplicação de matéria orgânica ao solo e, no caso de lavouras irrigadas a utilização da “irrigação localizada” (VICENTE et al., 2011). Esse tipo de irrigação consiste na aplicação de água diretamente na região do sistema radicular das plantas em pequenas quantidades para otimização desse importante recurso natural.

Figura 12: Irrigação por gotejamento em lavoura de café - Brasil. Foto: Rubens José Guimarães.

A disponibilidade de água para as plantas deve ser bem distribuída ao longo do tempo e em quantidade suficiente para que as plantas possam crescer e se desenvolver, sendo também importante fator para a absorção e transporte de nutrientes. Em função da má distribuição de chuvas, principalmente em algumas das regiões produtoras de café a irrigação tem garantido importantes ganhos de produtividade que podem chegar a 120% dependendo da região e do estresse hídrico (SERRA et al., 2013).

No documento Cafeicultura Sustentável (páginas 34-42)

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