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PRINCIPAIS PRAGAS, DOENÇAS E NEMATÓIDES DO CAFEEIRO

No documento Cafeicultura Sustentável (páginas 71-78)

Pretende-se aqui abordar as interferências de pragas, doenças e nematoides na cafeicultura, abordando principalmente os fatores predisponentes e as opções de manejo buscando-se a produção sustentável.

Identificação de sintomas e sinais nas plantas para o diagnóstico correto

Nas plantas, assim como nos seres humanos, a ação de patógenos pode ser mascarada e até confundida em função de outras causas que ocorrem simultaneamente. Nas plantas e também nas pessoas, na maioria das vezes, os problemas têm mais de uma causa que atuam simultaneamente confundindo e prejudicando o correto diagnóstico. Entre essas causas que levam o cafeeiro a apresentar sintomas e sinais que podem confundir os profissionais da agronomia e os cafeicultores no diagnóstico do ataque de pragas e doenças estão as desordens nutricionais, fitossanitárias e fisiológicas. Assim, propõe-se apresentar as principais pragas, doenças e nematoides do cafeeiro focando os fatores que predispõem as plantas a essas e as técnicas de manejo que podem minimizar os prejuízos causados (GUIMARÃES, MENDES e BALIZA, 2010).

12.1. Pragas do cafeeiro

Dentre as pragas que mais interferem na produtividade e qualidade do café estão o “bicho minador” (Leucoptera coffeella (Guérin-Mèneville & Perrotet, 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae) e a “broca do cafeeiro” (Hypothenemus hampei (Ferrari, 1867) (Coleoptera: Scolytidae).

“Bicho minador” (Leucoptera coffeella (Guérin-Mèneville & Perrotet, 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae)

O bicho minador é um inseto cujo adulto é uma minúscula mariposa que em sua fase de lagarta se alimenta do mesofilo das folhas do cafeeiro, onde depositam também suas fezes. Assim o sinal da presença do bicho minador nas folhas do cafeeiro são áreas necróticas, que por consequência diminuem a área foliar para realização da fotossíntese, culminando com a queda das folhas lesionadas principalmente nos períodos mais secos do ano. O nível de controle, ou seja, o percentual de folhas lesionadas que indicam a necessidade de controle é de 30% para que a produtividade e por consequência a sustentabilidade econômica não seja comprometida. Porém se dentre as folhas lesionadas se encontrar 40% de lesões com sinal de atuação de vespas predadoras não se realiza o controle químico, pois o controle natural será suficiente (SILVA et al. 2010b).

Medidas de controle como a implantação de “quebra-ventos”, manejo do mato e a irrigação são recomendados. Porem como o ataque por bicho minador no cafeeiro ocorre principalmente em lavouras após a implantação em campo e principalmente em regiões mais secas, também é recomendado nestes casos, como medida de controle, a implantação da lavoura em espaçamentos

menores, para maior umidade relativa do ar em seu interior, reduzindo o ataque e consequentemente os prejuízos.

No Brasil têm se buscado desenvolver cultivares resistentes ao bicho minador como é o caso da cultivar Siriema 842, sendo que a Fundação Procafé, em parceria com a Embrapa, está aperfeiçoando o processo de propagação vegetativa para multiplicação em larga escala (CARVALHO et al. 2008).

Broca-do-café (Hypothenemus hampei (Ferrari, 1867) (Coleoptera: Scolytidae)

A broca-do-café é um pequeno besouro preto que coloca seus ovos em uma pequena perfuração na região da “coroa” dos frutos. Posteriormente as larvas passam a se alimentar das sementes causando danos tanto na produtividade quanto na qualidade do produto final. O nível de controle é quando a amostragem dos frutos indicar de 3 a 5% de frutos brocados, porém há dificuldades no controle químico sendo que esforços estão sendo feitos para desenvolvimento de produtos menos tóxicos, de menor custo e mais eficientes (SILVA et al. 2010b).

Ao contrário das condições de ambiente favoráveis para o ataque do bicho minador, para a broca do café são condições de alta umidade (regiões úmidas, e em especial a ocorrência de invernos chuvosos. Assim, para que se diminua as condições favoráveis ao ataque por broca do café deve-se eliminar os abrigos naturais da praga como lavouras abandonadas e mesmo diminuir as possibilidades de sobrevivência do inseto até a próxima safra não deixando frutos remanescentes nos cafeeiros após a colheita. Uma outra boa medida de controle é iniciar a colheita pelos talhões mais afetados, diminuindo assim o período da praga no campo e sua disseminação para áreas não afetadas (SILVA et al. 2010b).

Como a umidade favorece a praga, nas regiões úmidas deve-se optar por implantar as lavouras em espaçamentos mais largos favorecendo o arejamento.

Cigarras (Quesada sp., Fidicina sp., Carineta sp., Dorisiana sp. (Homoptera: Cicadidae)) Também ocorrem em algumas regiões cafeeiras as cigarras. Esses insetos sugadores de seiva na fase de ninfa sugam a raiz do cafeeiro, causando depauperamento das plantas, com sintomas de deficiência nutricional e queda precoce das folhas apicais dos ramos. Os sinais da presença de cigarras na área de cultivo são: orifícios sob a copa do cafeeiro, exúvias aderidas aos ramos ortotrópicos, machos emitindo sons estridentes característicos e presença de ninfas nas raízes sugando seiva. O nível ataque que sinaliza para a necessidade de controle é quando a amostragem do número de ninfas por planta atingir 35, sendo o controle feito com inseticidas sistêmicos de solo (SILVA et al. 2010b).

Ácaros (Oligonychus ilicis (McGregor, 1917) (Acari: Tetranychidae) e Brevipalpus phoenicis (Geijskes, 1939) (Acari: Tenuipalpidae)

Os ácaros ocorrem no cafeeiro especialmente em períodos de seca, com estiagem prolongada, quando encontram condições propícias para sua sobrevivência, causando desfolhas e prejudicando os cafeeiros, principalmente no caso de lavouras em fase de implantação. O ácaro

Brevipalpus phoenicis (Geijskes, 1939) (Acari: Tenuipalpidae) é o causador da mancha anular

causada por vírus que levam o cafeeiro a apresentar sintomas de desfolha intensa no interior da copa e perda na qualidade do café (SILVA et al. 2010b).

Outras pragas

Outras pragas ocorrem nos cafezais e eventualmente é necessário o controle, das quais pode-se citar: a) cochonilhas que podem atacar o cafeeiro desde a raiz até a parte aérea; b) mosca- da-raiz do cafeeiro (Chiromyza vittata Wiedmann, 1820 (Diptera: Stratiomyidae)); c) lagartas que se alimentam das folhas das plantas; entre outras (SILVA et al. 2010b).

Desequilíbrios ecológicos também podem também fazer com que temporariamente ocorram “pragas” que normalmente não causam problemas para a cafeicultura. Um exemplo desses desequilíbrios é a ocorrência do ataque de ratos que passam a se alimentar de partes tenras de ramos, flores e frutos, fazendo com que apareçam sinais como ramos se vergam e quebram devido a lesão causada pelo rato. Não é recomendado nenhum tipo de controle a não ser buscar formas de reestabelecer o equilíbrio ecológico na área afetada (ALVES e GUIMARÃES, 2010).

Outro ataque que pode ocorrer em determinadas situações é o de Lesmas, que aparecem em grande quantidade nos cafezais em condições de alta umidade como períodos de chuvas continuadas. Além da presença das lesmas nota-se os sinais de frutos descascados caídos no chão, junto aos cafeeiros. O ataque que é ocasional e raro ocorre à noite, não devendo ser motivo de preocupação para os cafeicultores. Como se trata de ocorrência rara e de prejuízos insignificantes na produtividade não se recomenda controle (SILVA et al. 2010b).

12.2. Doenças do cafeeiro

Algumas doenças são de maior ocorrência no cafeeiro e, portanto, serão descritas com o cuidado de se analisar também as condições de ambiente e de manejo que as favorece.

“Tombamento das plantas ou rizoctoniose” (Rhizoctonia solani)

A doença conhecida como “tombamento das plantas ou rizoctoniose” ou ainda “damping- off” é provocada por um fungo (Rhizoctonia solani) que sobrevive no solo por longos períodos e em restos de culturas. Essa doença ocorre principalmente em viveiros de mudas sendo que os sinais aparecem em “reboleiras” em virtude da utilização de solos contaminados com o fungo. O sintoma característico da doença é o aparecimento de lesões de cor marrom a negra que circundam o caule das mudas, próximo ao solo culminando com a murcha e a morte das plantas (POZZA, CARVALHO e CHALFOUN, 2010).

Para a prevenção da doença ou mesmo como medida de contenção em viveiros, deve-se: a) utilizar solo sem contaminação na mistura do substrato a ser utilizado na formação das mudas; b) usar água de boa qualidade (isenta do patógeno); c) não reaproveitar sacolinhas e substratos de outras mudas; d) mudar viveiros de local, periodicamente; e) evitar excesso de umidade e sombra nos viveiros; f) eliminar as reboleiras e plantas que as circundam; g) durante a retirada das mudas do viveiro para o plantio em campo, cuidar para uma seleção rigorosa eliminando-se aquelas com estrangulamento ou podridão do hipocótilo por rizoctoniose. O controle químico pode ser feito preventivamente com o tratamento das sementes ou do substrato já nos saquinhos (canteiros), ou mesmo em pulverizações dirigidas ao colo das mudas no viveiro (POZZA, CARVALHO e CHALFOUN, 2010).

Cercosporiose (Cercospora coffeicola Berk et Cook.)

Outra doença que ocorre em viveiros, mas também em lavouras em formação e em produção é a Cercosporiose, causada pelo fungo Cercospora coffeicola Berk et Cook.

Os sintomas da cercosporiose nas folhas são manchas circulares de coloração castanho, com o centro acinzentado, quase sempre envolvidas por um halo amarelado. Já nos frutos a doença causa manchas necróticas e deprimidas, de cor marrom a negra, estendendo-se no sentido dos polos do fruto. Os danos causados pela cercosporiose são: a) queda de folhas e raquitismo das mudas quando em viveiros e quando em plantas adultas desfolha e atraso no crescimento das plantas; b) queda de frutos e seca de ramos produtivos em lavouras novas e no caso de lavouras em produção, também o amadurecimento precoce e queda prematura dos frutos com prejuízos quantitativos e qualitativos do produto final (POZZA, CARVALHO e CHALFOUN, 2010).

A cercosporiose pode ser evitada e controlada com manejo adequado das plantas, tanto em viveiro (mudas) quanto nas plantas adultas em campo. Nos viveiros pode-se: proteger as mudas de ventos frios por meio de cercas laterais; utilizar substrato com a mistura recomendada para que as mudas possam crescer bem nutridas e, portanto, menos suscetíveis à cercosporiose; manter controle da irrigação e luminosidade no interior dos viveiros. Já na fase de implantação e produção pode-se evitar o plantio em solos arenosos, pobres, compactados ou adensados; manter nutrição suficiente e equilibrada com as adubações; fazer o controle com fungicidas, principalmente se o plantio for feito no final do período chuvoso; e manejar corretamente a lavoura evitando-se danos ou má formação do sistema radicular das plantas que indiretamente afetarão a nutrição das plantas e consequentemente o favorecimento à cercosporiose. O controle químico deverá ser realizado quando as medidas preventivas e o controle cultural (adubação, quebra-ventos, etc.) não for suficiente para reduzir a intensidade da doença, tanto nas mudas no viveiro e no campo após o plantio ou cafeeiros já em produção (POZZA, CARVALHO e CHALFOUN, 2010).

Ferrugem do cafeeiro (Hemileia vastatrix Berk. et Br.)

A doença conhecida como ferrugem do cafeeiro, causada pelo fungo Hemileia vastatrix Berk. et Br.é talvez a mais preocupante para a cafeicultura, pois ocorre em lavouras de todo o mundo e

pode causar intensa desfolha o que afeta a produtividade das lavouras. Os sintomas da doença são manchas circulares de cor alaranjada, na face inferior (abaxial) das folhas que apresentam uma massa pulverulenta de uredosporos (em estádio mais avançado, algumas partes do tecido foliar são destruídas e necrosadas) (POZZA, CARVALHO e CHALFOUN, 2010).

No controle da ferrugem do cafeeiro deve-se lembrar que quanto maior o enfolhamento, maior será o inóculo residual para o próximo ciclo da ferrugem e quanto maior a carga pendente, maior será a intensidade da doença, sendo que nas lavouras plantadas com menores espaçamentos o microclima de maior umidade favorece ao progresso da ferrugem do cafeeiro. Assim, além de se fazer adubações equilibradas, deve-se buscar a recomendação de cultivares tolerantes e manejar as plantas para que estejam em ambiente arejado retirando-se o excesso de brotos para o arejamento da lavoura. Em regiões mais úmidas é aconselhável a adoção de espaçamentos mais largos na implantação das lavouras evitando-se assim o auto sombreamento e maior umidade relativa do ar. O controle químico da ferrugem do cafeeiro pode ser feito por meio do uso de fungicidas protetores, sistêmicos de solo ou ainda sistêmicos foliares (POZZA, CARVALHO e CHALFOUN, 2010).

Mancha-aureolada (Pseudomonas syringae pv. garcae)

Essa doença pode ocorrer tanto em mudas no viveiro, como em plantas adultas. Nas lavouras adultas ocorre com maior intensidade em locais altos e desprotegidos de ventos que causam ferimentos nas folhas e ramos novos, abrindo portas para a penetração da bactéria. Também a ocorrência de chuvas de granizo e o frio intenso podem provocar lesões nas plantas, o que também facilita a entrada da bactéria, que tem sua ocorrência favorecida em condições de alta temperatura, alta umidade relativa e alta precipitação (POZZA, CARVALHO e CHALFOUN, 2010). Os sintomas da mancha-aureolada são manchas pardas, circundadas por halo amarelo, sendo que as áreas lesionadas quando nas bordas das folhas normalmente desprendem-se do limbo dando um aspecto rendilhado. O controle da bactéria é feito por meio de antibióticos em mistura com cúpricos (bacteriostáticos), aumentando a eficiência de controle (POZZA, CARVALHO e CHALFOUN, 2010).

Sugere-se como medidas de controle: proteger os viveiros de ventos frios; proteger as lavouras de ventos frios e fortes (instalar quebra-ventos); utilizar antibióticos somente se confirmada a presença da bactéria.

Crestamento bacteriano (Pseudomonas cichorii)

As folhas apresentam áreas necrosadas escuras e irregulares com tecido ao redor com aspecto de encharcamento. Normalmente, as folhas mais velhas são mais suscetíveis à bactéria. Maior incidência de Pseudomonas cichorii são observadas em períodos quentes e chuvosos em mudas (viveiro). O excesso de água via irrigação favorece a doença que penetra normalmente em lesões causadas por fungos (Cercospora e Phoma), por bicho minador ou qualquer dano físico.

Portanto como medidas de controle recomenda-se evitar o excesso de umidade e de irrigação no viveiro; proteger as mudas contra ação de ventos que possam causar ferimentos nas folhas; e controlar a cercosporiose, a mancha de Phoma e o ataque por bicho minador (POZZA, CARVALHO e CHALFOUN, 2010).

Mancha-de-phoma (Phoma spp.)

Os sintomas da doença são a desfolha, queda de botões florais e frutos, seca de ramos, e consequentemente perdas na produtividade. Nas folhas os sintomas são caracterizados por manchas circulares escuras podendo apresentar halos concêntricos. A doença tem maior incidência em lavouras expostas a ventos fortes e frios, com as faces voltadas para o sul, sudeste e leste, sendo que a penetração do fungo é facilitada por danos mecânicos nas plantas (insetos, atrito de folhas pelo vento e até mesmo as operações de colheita) (POZZA, CARVALHO e CHALFOUN, 2010).

Assim, recomenda-se como medidas de controle: evitar áreas sujeitas a ventos frios para o estabelecimento de lavouras, tomando-se também o cuidado de implantar quebra-ventos provisórios e/ou definitivos; e fazer adubações equilibradas e o controle preventivo com fungicidas (nas fases pré e pós-florada) em períodos favoráveis à doença;

Outras doenças

Outras doenças que ocorrem na cafeicultura são: antracnose e mancha manteigosa (Colletotrichum gloeosporioides); roseliniose ou mal dos quatro anos (Rosellinia sp.); requeima das folhas, atrofia dos ramos ou amarelinho do cafeeiro (Xylella fastidiosa);

12.3. Fitonematóides do cafeeiro

Em função dos danos nas raízes, os fitonematóides podem apresentar sintomas na parte aérea das plantas como: queda de folhas, seca de ramos, amarelecimento, podendo levar a planta à morte. Nas raízes podem apresentar sintomas como presença de galhas, engrossamentos, rachaduras e escamações, dependendo da espécie e densidade populacional do fitonematóide e da suscetibilidade da cultivar de café. Feita a constatação dos sintomas nas plantas e identificada a espécie, há necessidade de evitar a sua disseminação para os demais talhões da lavoura a fim de se evitar maiores prejuízos (SALGADO e CAMPOS, 2010).

Algumas medidas de prevenção podem ser tomadas como: evitar plantio em áreas infestadas (melhor seria se na área do novo plantio não se tenha ainda cultivado café); utilizar mudas isentas de nematóides; fazer o desvio de enxurradas; limpeza de máquinas e implementos após o uso em áreas infestadas (o ideal é iniciar os tratos culturais pelos talhões não infestados).O controle químico com nematicidas pode ser uma alternativa para redução da população de fitonematóides, mas também outras práticas podem ser usadas, como: a rotação de culturas, o

alqueive e revolvimento do solo, a destruição de plantas atacadas, a adição de matéria orgânica e utilização de adubação verde, e a utilização de cultivares resistentes ou de mudas enxertadas em porta enxertos resistentes (SALGADO e CAMPOS, 2010).

Figura 24: Lavoura (e detalhe da raiz) de café atacada por nematoide Meloidogyne

13. ASPECTOS GERAIS DO MANEJO DE PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DO

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