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Algumas considerações sobre a amamentação

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Academic year: 2021

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(1)

J^nionio v'enancio da (gama apimentei 7 ? / "

AMAMENTAÇÃO

DISSERTAÇÃO INAUGURAL

APRESENTADA

A' ESCOLA MEDICO-CIRURGICA DO PORTO

PORTO

USAJPTlSa&SA- M O D E R N A 55, Ruade Passos Manoel, 57

•1892.

(2)

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(3)

Escola medico-Cirurgica do Porto

CONSELHEIRO-DlRECTOR VISCONDE DE OLIVEIRA

SECRETARIO

RICARDO D'ALMEIDA JORGE

CORPO CATHEDRATICO

LENTES CATHEDRATICOS l.a Cadeira—Analomia descriptiva e

geral João Pereira Dias Lebre. 2.* Cadeira—Physiologia . . . . Vicente Urbino de Freitas. 3.a Cadeira—Historia natural dos

me-dicamentos. Materia medica . . Dr. José Carlos Lopes 4.a Cadeira—Pathologia externa e

therapeutica externa Antonio Joaquim de Moraes Caldas. 5.* Cadeira—Medicina operatória. . Pedro Augusto Dias.

6.a Cadeira—Partos, doençasdas

mu-lheres de parto e dos

recém-nasci-dos Dr. Agostinho Antonio do Souto. 7.a Cadeira—Pathologia interna e

Therapeutica interna Antonio d'OIiveira Monteiro. 8.» Cadeira—Clinica medica . . . Antonio d'Azevedo Maia. 9,* Cadeira—Clinica cirúrgica. . . Eduardo Pereira Pimenta. 10." Cadeira—Anatomia pathologica . Augusto Henrique d'Almeida Brandão. l'l.a Cadeira—Medicina legal, hygie- •

ne privada c publica e

toxicolo-gia . . Manoel Rodrigues da Silva Pinto 12.* Cadeira—Pathologia geral,

se-meiologia e historia medica . . Illidio Ayres Pereira do Valle. Pharmacia Vaga.

LENTES JUBILADOS

Secção medica José d'Andradc Gramaxo. Secção cirúrgica Visconde de Oliveira.

LENTES SUBSTITUTOS

Secção medica . . . I Antonio plácido da Costa. | Maximiano A.d OliveiraLemosJunior-Secção cirúrgica \ £i c a r i?? d'Almeida Jorge.

( Cândido Augusts Correia de Pinho. L E N T E DEMONSTRADOR

(4)

A Escola não responde pelas doutrinas expendidas na dissertação e enunciadas nas proposições. (Regulamento da Escola de 23 d'abril de 1840, art. 155.»).

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AO MED PARTICULAR AMIGO 0 IlLm° e 3x."w Snr.

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S t - , l e t o n u m o toafcBcaa 3 cXfrfceu. e x i m a V t e i t a (SCtuato sBeçpaJo De c í o u i a ífâat-fcoòo

jfoóè y l L a v i o e í TJILa-fcti/n» tJlLanòb (SLvitonto 3 c X / t a u t o Soo-fcase» í £ w . t o J ' t a n o i i i o o 3 (SL-taupo Sootae* ÊEinto c X f e x a m k e 3 0 L * a u i , o Ssotae» í E t n t o Î J l L a n o e t 3 (9Ctaui.o Sootaed SCttvto I-OACÍ J C e n t i a u e vTCeiteileA zLvnto cXnton-i-o T u t l o 9"etfcei,4,a 3e âoat.-tò» (9Cvi,ton.i.o ïEe3*to cyaravuoo

^oAe ° l o a a u L m \ 9 a u a t e A uXemtM-o

feXíoetto Gtiittio X e o p o t 3 o 3e ÍTlLacíainãeA ^oòê Ê L u a i t ó t o 3e Soa-fctoA

í£.° (9Cn.toiato (SCaguòto 3'(9ll!mei3a Stac-faeco

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-ESCOLA MEDICO-CIRURGICA DO PORTO

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J^y4. QsZnfonie d'OTtxewede C JjZ/i. Queute QsTuaecjJe .J^iJ-tad

(15)

<5sic'aJ-5\o meu Jlluslre ^presidente

(16)

1NTR0BUCÇÂ0

Ao elaborar este trabalho, que destina-mos para a ultima prova do nosso tirocínio académico, não temos a pretensão de apresen-tar obra original, nem tão pouco de desen-volver o assumpto, como a sua importância merece.

Para satisfazer á primeira condição, care-cemos de elementos indispensáveis ; quanto á segunda, produzíamos um tratado e não uma these, querendo preenchel-a.

Em cinco capítulos, estudamos o que nos pareceu mais digno de referir-se, esforçando-nos sobretudo por provar que por um lado a amamentação materna não traz á mulher as desvantagens, que alguns lhe attribuem, e que por outro a amamentação artificial não me-rece o descrédito a que a teem votado.

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Esperamos fazer vèr que apesar de as creanças alimentadas a mamadeira, morre-rem em grande escala, o perigo não está no methodo em si, mas somente no pouco cui-dado com que se réalisa, porque de facto em quasi todos os casos põem-se completamente de parte os preceitos mais elementares da hygiene, e em vez de amamentar, o que se pratica, é um verdadeiro envenenamento.

Claro, que com isto não temos em vista mostrar-nos partidários de tal methodo, pois é convicção nossa que nada pôde substituir para a creança o leite materno.

De resto em todo o nosso trabalho procu-ramos sustentar as doutrinas, que mais nos seduziram nos diversos auctores, que pode-mos consultar.

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CAPITULO I

A mãe, dando á luz, não concluiu a tarefa de que a natureza a encarregou.

Pelo contrario, n'esse momento começa para ella uma série interminável de cuidados, com que indispensaveimente tem de rodear o ser, por cuja existência é responsável.

O facto da procreação, acompanha-se de fadigas, soffrimentos e mesmo cuidados, esses

todavia são meramente automáticos. O verda-deiro papel da mulher, o papel de mãe, esse pôde dizer-se que principia apenas quando em face d'esse ente, a quem deu uma parte da sua substancia, e no qual não encontra ele-mentos de resistência para poder entrar na luta pela vida, começa essa série d'actos, em que a intelligencia e o instincto interveem de mãos dadas, e dos quaes o primeiro é a ama-mentação.

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m

O recem-nascido, não tendo concluído a sua evolução, sendo imperfeitíssimo o seu apparelho digestivo, carece de uma alimen-tação especial, que só encontra nos seios da mãe.

A sua boca não pôde executar os movi-mentos de apprehensão e mastigação, o ma-xillar inferior apresenta um angulo muito aberto, e os músculos que se inserem n'este osso, encoutram-se em más condições por exercerem a sua acção obliquamente. Os den-tes faltam em absoluto e as glândulas salivares são pouco desenvolvidas. O pancreas não se encontra em condições de poder fornecer o seu fermento. 0 estômago e tubo digestivo estão em estado rudimentar ; as suas tunicas mus-culares são finíssimas, as suas secreções muito pouco abundantes, pois as suas glân-dulas são em pequeno numero e pouco

de-senvolvidas.

De tudo isto facilmente se infere que o recem-nascido não está nas condições de di-gerir todos os alimentos e que, como já fica dito, precisa de uma alimentação especial, constituída exclusivamente pelo leite, alimen-to complealimen-to e de fácil digestão.

O que mais convém á creança é sem du-vida o leite da mãe, a amamentação materna; não tem sido porém esta a regra absoluta.

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pela mãe, tem de ser desempenhada ou por outra mulher, ou por fêmeas d'animaes.

Nos tempos mais remotos já se lançava mão das fêmeas de animaes, para amamentar creanças na falta da mãe.

A historia refere que Jupiter fora creado por uma cahra, e Rómulo e Remo por uma loba.

Semelhantes factos ficam occultos no do-mínio da mythologia, mas, para n'ella pode-rem entrar, era necessário ter-se reconhecido a possibilidade da amamentação por um ani-mal.

Entre os gregos e romanos eram já muito conhecidas as amas, e se na antiguidade as mães não confiavam a outra mulher a tarefa da amamentação, estes costumes foram cain-do em desuso, pouco a pouco, chegancain-do mes-mo a haver mães, que criam os seus filhos sem leite.

Os alimentos que se têm tentado minis-trar ás creanças em substituição do leite são : farinha láctea, preparações d'ovos, etc. (Cou-dereau)

Algumas tentativas n'este sentido fizeram desanimar os experimentadores, taes eram os resultados obtidos, e todos os hygienistas, que têm estudado o assumpto, são concordes em que tal alimentação seja proscrita em abso-luto.

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Classificação dos diversos modos de ama-mentação :

E' difficil estabelecer tal classificação ; sendo bastante numerosas, as que se teein apresentado; todas teem o seu ponto fraco.

A seguinte parece-nos ainda assim sus-tentável :

Amamentação natural ou ma-terna.

ALIMENTAÇÃO NATURAL

AMAMENTAÇÃO I ímamnnlaçito

artificial

'Por uma ama ou estranho. Ilirccla

/Por fêmea de um animal. ' Pela mamad .* Indirecta <Por meio de

colher, copo, etc.

ALIMENTAÇÃO ARTIFICIAL

'Por meio de caldos.

; Caldos misturados com leite, farinha láctea, papa de Lié-hig, etc., etc.

Esta classificação, posto susceptível de objecções, afigura-se-nos ser rasoavel.

E' a única em que vemos separar a ama-mentação materna da estranha, quando a

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maior parte dos hygienistas não fazem tal distincção.

Parece-nos que tal separação tem toda a razão de ser. A amamentação por uma ama, não pôde por forma alguma ser considerada como natural, normal, physiologica.

O único alimento natural para o recem-nascido é o leite materno ; cremos não haver argumentos, que possam destruir esta asser-ção.

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CAPITULO H

Depois de haver mostrado que o lecem-nascido precisa de uma alimentação especial, e apresentado uma classificação dos diversos modos de amamentação, estudaremos quaes as consequências que resultam para a mãe, e para a creança do facto d'aquella amamentar.

Como as contra-indicações d'um modo de amamentação, são outros tantos argumentos em favor do outro, limitamo-nos a estudar a in-fluencia da amamentação artificial: 1." sobre a mãe ; 2.° sobre o filho.

A amamentação artificial tem sido censu-rada unanimemente por medicos e philoso-phos, que na medida das suas forças se teem empenhado em favor da amamentação na-tural.

Emquanto os primeiros faziam vêr as van-tagens da amamentação materna e provavam

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que a mulher, quando amamenta, está colloca-da em excellentes condições hygienicas pelo

facto do funccionamento das suas glândulas mamarias, os philosophos em paginas eloquen-tíssimas exhortavam as mulheres a não se sub-trahir ao mais santo dos deveres e não consi-derar a sua tarefa terminada com a gestação.

«A mulher por dar d luz não é mais do jue meia mãe», dizia Marco Aurélio, que

juntamen-te com Rousseau, Paré e tantos outros se em-penhou deveras na realisação do seu

desidera-tum: acabar de vez com a amamentação

ar-tificial.

Paré escrevia obedecendo ao mesmo cri-tério :

«Temos visto essas meias mães, como lhe chamou o imperador Marco Aurélio, retirar-se com as lagrimas nos olhos, e ir chorar para longe a ingratidão de seus filhos, qtie amavam acima de tudo.

«.Infelizes que não comprehenãem que foram ingratas e cruéis para com os filhos que deram d luz, e que só se tomariam realmente mães, creando-os ao seu seio».

Não podemos furtar-nos ao desejo de transcrever uma passagem em que Rousseau verberando o proceder das mães que não ama-mentam seus filhos diz :

«Um inconveniente, que devia inhibir a mu-lher de mandar amamentar seu filho por outra,

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ê o de ver o seu direito de mãe partilhado ou até usurpado ; de ver o seu filho amar outra pes-soa tanto ou mais do que a ella ; de sentir que a ternura que elle conserva por sua propria mãe, é como que um favor, e que a que dedica a sua mãe adoptiva é um dever, pois onde não ha os cuidados de urna mãe, não pôde haver a a/feição de um filho.»

Jacquemier, no sou excellente artigo

Al-laitement publicado no diccionario de

Decham-bre, apreciando a questão pelo lado moral mostra-se partidário da amamentação natu-ral.

Sem deixar de reconhecer, que os argu-mentos dos philosophos, teem realmente gran-de valor, e que os seus esforços em favor gran-de uma causa tão justa são deveras louváveis, quer-nos parecer que da sua parte houve al-gum exagero.

Pelo facto de uma mulher não amamen-tar seu filho, não pôde concluir-se à fortiori que ella seja uma mãe má, e se a amamenta-ção é um dever, circumstancias ha em que deve ser formalmente interdicta. Mas ha mais :

A amamentação termina, em geral, quando a creança chega á edade de dois annos, pou-co mais ou menos ; n'essa occasião não pas-sa de um ente sem penpas-samentos e mesmo sem memoria. Não nos parece que ame a mu-lher que a tem creado. Recebe com melhor

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vontade os seus cuidados, e apraz-lhe mais vêr o seu rosto porque a isto está habituado. Não gosta de ver pessoas estranhas, chora quando a mãe o acaricia, e não tem sorrisos senão para a ama; taes manifestações affecti-vas não teem porém grande significação n'es-tas idades.

No dia em que a ama, deixa de prestar-Ihe os seus cuidados a creança parece tris-te, procura-a por toda a partris-te, lembrando-se talvez mais do leite a que estava habituada, mas um ou dois dias depois, volta a alegria antiga, principia a esquecer-se da ama e do leite.

Passada uma semana, nem mesmo já co-nhecerá aquella que parecia amar tanto. E' que n'essa occasião a ama não passará de uma estranha para a creança. cujo intellecto não tinha ainda attingido o seu completo desen-volvimento.

Quando se trata da questão dos sentimen-tos affectivos da primeira infância, ha mesmo philosophos cujas doutrinas são totalmente oppostas ás sustentadas por J. J. Rousseau, Paré, etc.

O modo de vêr de Socrates a este respei-to evidenceia-se bem, se lermos a exhortação feita a seu filho Lamprocles:

«A mãe traz a principio no seu ventre esse

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filho uma farte da sua substancia, depois em seguida a uma gestação e a um parto cheio de do -res, ella alimenta e cuida sem mira em recom-pensa alguma o seu filho, que não sabe de quem

lhe vêem tantos cuidados.»

De resto, estes argumentos que vimos combatendo ficam sem efíeito, quando a ama-mentação artificial for realisada pela mãe, com o auxilio da mamadeira.

N'estas condições, a mãe occupar-se-ha constantemente do filho, e tudo se passará co-mo se o alimentasse com o seu seio.

Deixando pois de parte estes argumentos, não sem louvar mais uma vez os esforços de quem os adduziu em favor de uma tal causa, vamos fallar d'outros que julgamos mais im-portantes.

Na maior parte dos casos, a mulher, que não amamente os filhos, obedece ao precon-ceito de que tal tarefa seria prejudicial á sua saúde: sendo porém possível demonstrar, que a amamentação longe de ser perigosa é pelo contrario util, que as suas vantagens são muito mais numerosas que os inconvenien-tes, o maior numero de mães não hesitaria em crear os filhos com o seu leite. E' que em taes casos, já não entrava só em linha de con-ta o interesse que o filho lhe devia merecer, a mãe era directamente interessada em ama-mentar, e esta circumstancia é a sufficiente

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para preterir a amamentação artificial, que se-ria a preferida sempre que as condições de fortuna não constituíssem um obstáculo á sua realisação, e não houvesse da parte da famí-lia a certeza, de que á mãe era util o ama-mentar.

O assumpto foi estudado e discutido por indivíduos abalisados na sciencia, e a maior parte são de opinião que a amamentação não é prejudicial para a mulher.

Na Grande Encyclopédie du 17.e siècle lê-se:

«.Não seria difficil provar que as leucorrhéas, as perdas, as suppressões das regras . . . os scirrhos, os abortos... não provêem em parte senão do desarranjo da economia animal causa-do, pela recusa das mães, a amamentar seus fi-lhos».

Achamos o quadro bastante carregado ; seja-nos permittido duvidar de que o simples facto de não amamentar determine conse-quências tão desastrosas. O que é fora de du-vida é que o assumpto chamou a attenção de grande numero de medicos, e nem todos se conciliam com taes ideias.

Assim, Lorain é de opinião que a mulher, que amamenta, está sujeita a um certo nume-ro de contrariedades como são : a dôr, a fa-diga, a insomnia, etc., que só a noção do de-ver pôde vencer.

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diccio-40

nario de Dechambre põe a questão nos seguin-tes termos :

d Mas não ha que dissimular; a tarefa de cuidar e amamentar os filhos, é fatigante, tendo os seus accidentes próprios como a prenhez e o farto.

<(Colloca porém a mulher ao abrigo dos ac-cidentes próximos ou remotos, a que seria expos-ta se não ornamenexpos-tasse1? Não é ponto de todo

as-sente. O que não é duvidoso, é d'um lado a fre-quência das inflammações quando começam a amamentar, e d'outro que a suppressão da la-ctação não influe desfavoravelmente... as mu-lheres que amamentam estão expostas á mania puerperal... não se devem animar a amamentar as mulheres que pelos seus antecedentes estejam sujeitas a accessos de mania; estão nos mesmos casos as que vemos ameaçadas de phtysica pul-monar, de manifestações escrophulosas graves...

«Algumas mulheres sujeitas a nevralgias ovaricas ou uterinas, curam-se d'esses accidentes depois de uma ou duas gestações seguidas de amamentação. Outras mais ou menos

nevropa-thicas, dyspepticas, chloro-anemicas, etc são cValguma forma transformadas pela prenhez.

«A amamentação contribue para o

desenvol-vimento das glândulas mamarias, accentua as formas femininas do peito.»

Posto que o principio da passagem, que transcrevemos, esteja em contradicção com as

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te

ultimas phrases, é bem evidente que para Jacquemier, no assumpto uma auctoridade, a amamentação seria prejudicial somente nas mulheres tuberculosas, escrophulosas ou apre-sentando antecedentes vesanicos.

De facto, sendo a tuberculose uma causa permanente e poderosa de depauperamento, d'enfraquecimento, contra a qual o organismo não pôde luctar com vantagem, deve-se pelo menos obstar a que outras causas venham as-sociar-se áquella, cooperando na destruição do organismo. Entre estas causas, está sem duvida a amamentação, que praticada n'estas condições, teria como effeito o extermínio pre-maturo do organismo materno.

A nefasta influencia, que a prenhez exer-ce sobre a mulher tuberculosa, tem sido, de resto, reconhecida por vários auctores como Grisolle, Dubreuil, etc.

Chalvet, n'umas memorias publicadas em 1870, concede ainda que a mulher tuberculo-sa pode crear durante alguns dias. Entende que a amamentação pouco prolongada, exer-ce como estimulo enérgico, que é, uma acção benéfica sobre o organismo, sem que preju-dique a creança; o próprio colostro, parece-lhe ter sua utilidade não pela sua acção pur-gativa, mas como alimento.

Quanto ás escrophulosas parece-nos que estão exactamente nas mesmas condições que BS tuberculosas.

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Tanto n'umas como n'outras o organismo extremamente depauperado, não pôde nem deve ser submettido a novas fadigas. Parece-nos que a questão está resolvida n'este sen-tido, não havendo mesmo quem se atreva a sustentar o contrario.

Vimos que para alguns auctores a loucu-ra ou o simples facto de a mulher apresentar antecedentes vesanicos, era uma contraindi-cação da amamentação.

Vendo o que a tal respeito dizem os di-versos auctores, encontramo-nos em face de opiniões contradictorias.

Emquanto Landois, Davin e outros enten-dem que a mulher em taes casos não deve amamentar, auctores de não menos compe-tência afflrmam o contrario. Reich cita a obser-vação d'uma alienada, que tendo leite muito tempo depois do parto, foi mamada por um cão, secando o leite e sobrevindo a cura.

Gomo a questão não está resolvida, en-tendemos que na duvida será sempre pruden-te proscrever a amamentação, tanto mais que a creança não soífrerá muito com isso, uma vez que lhe procurem uma boa ama, ou a ali-mentem com a mamadeira em boas condições hygienicas.

E' trivial verem-se apontadas mais cir-cumstancias que obrigam as mães a abando-nar as suas funcções de amas. Assim tem-se

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avançado que a amamentação expõe ás es-coriações, e gretas no mamillo, rapidamente seguidas de abcessos do seio, lymphangites e mesmo do engorgitamento dos seios que se faz acompanhar de dores' insupportaveis.

Que isto se dá é innegavel, bem como as mulheres lymphaticas estarem mais sujeitas a estas lesões.

Além da acção que as gengivas da crean-ça exercem no mamillo, interveem mais na producção das escoriações, etc., a acção dos líquidos bocaes e a acção do frio.

O receio de taes lesões não nos parece motivo bastante para uma mulher deixar de amamentar.

Se a mulher tem tomado certas precau-ções como o emprego de loprecau-ções astringentes, e prepara os mamillos com o auxilio dos de-dos, é raro que as escoriações produzidas a obriguem a suspender a amamentação.

Demais, essas escoriações nem se produ-zirão, se a mulher fôr cuidadosa, praticando amiudadas lavagens antisepticas.

Enfim, mesmo nos casos, em que este cortejo de lesões se apresente, a mulher pôde recorrer a apparelhos imaginados para reme-diar estes inconvenientes. Queremos referir-nos aos mamillos artificiaes e mamadeiras

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Taes apparelhos é certo terem inconve-nientes como o de fazer diminuir a secreção lá-ctea, demandar rigorosos cuidados de limpe-za, mas nem por isso deixam de se tornar muito recommendaveis.

Como obstáculos á amamentação tem-se ainda indicado certas deformações do mamil-lo. Umas vezes é inextensivel ou de tão exi-mias proporções que a creança não pôde ada-ptar-lhe os lábios ; outras vezes é piriforme, cylindrico, troncado, e tudo isto constitue sé-rios embaraços á amamentação.

Todos estes inconvenientes podem ser re-movidos. Os processos que se devem usar se-rão : a preparação do mamillo, procurando dar-lhe uma certa conformação com os dedos mesmo durante a gravidez ; executar a sucção e como ultimo recurso o mamillo de cautchouc ou a mamadeira.

Em these, entendemos que a lactação não exerce má influencia na saúde da ama. Trous-seau é de opinião que ella é pelo contrario uma garantia contra as doenças, e que as mo-dificações pathologicas do organismo são me-nos intensas e duradouras.

Jacquemier assignala os bons effeitos que a secreção láctea determina na mulher ner-vosa em geral, na dyspeptica e anemica.

Do que até aqui se tem exposto conclue-se que as censuras feitas á amamentação

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na-45

tural não teem cabimento, pois os argumen-tos, que os seus antagonistas teem apresen-tado ficam destruidos quasi por completo. Se porém, isto não basta para que a amamen-tação materna fosse reconhecida como incom-paravelmente superior, temos ainda argumen-tos que o provam em demasia.

Um d'elles é tirado da acção que a lacta-ção exerce sobre a regressão ou involulacta-ção uterina, que se traduziria por uma menor ten-dência para as affecções d'esté órgão. Depois do parto o utero para voltar ao seu estado normal, carece de um certo lapso de tempo, variável segundo os diversos auctores.

Segundo Deventer seriam necessários 8 ou 9 dias apenas para se dar a regressão ute-rina.

Desormeau julga serem necessários pelo menos 12 ou 14 dias.

Outros querem que este período seja mais longo, admittindo que para que a regressão seja completa serão precisos : um mez (Holz), cinco a oito semanas (Velpeau), dois mezes (Dugés e Tourdes), dois ou três mezes (Koel-liker).

O mais admissivel é que o minimo seja de mez e meio.

Verriet Litardière na sua these, Etude sur

les av m dag ens de l'allaitement maternel,

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46

ponto com grande desenvolvimento e profi-ciência.

Referindo-se aos phenomenos reflexos de-terminados pela sucção nas glândulas mama-rias diz :

«.Determina a expulsão dos coágulos, que podiam existir na face interna do utero, e actuar

como corpos estranhos taes como os detritos de membranas, ou mesmo de placenta, que ahi ficam mais vezes do que se pensa.

O grande beneficio da lactação, seria o de retardar a primeira menstruação, que não se verifica nos primeiros três mezes pelo me-nos, e permittir assim ao utero que a sua in-volução seja mais rápida e completa :

As ideias de Verriet Litardiére teem sido sustentadas por outros auctores como Scan-z©ni, Aran, que admitte que de 100 mulhe-res, apresentando afíecções uterinas, 70 não amamentaram seus filhos.

Na these de Verriet Litardiére, vêem ci-tadas 13 observações de Pinard, clinico inter-no do hospital, La Maternité, que vêem appoiar a opinião de Aran.

Taes observações porém, não constituem uma prova irrefutável; mesmo 100 que fossem não provariam sufficientemente.

Para que Litardiére tivesse o direito de affirmar a veracidade dos seus princípios, te-ria de appoiar-se em milhares de casos.

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Demais na maior parte dos casos obser-vados por Pinard, faltam muitas indicações, e em alguns falia de metrites, cujas causas eram independentes da não amamentação.

Gomo é sabido de sobejo, na vagina e canal cervical encontram-se depois do par.'o líquidos, verdadeiros meios de cultura, onde micróbios variadíssimos se reproduzem e pul-lulant sem cessar.

A maior parte dos gynecologistas admit-tem que as metrites, assim como as pelvi-peritonites, a febre puerperal são devidas á penetração de taes micróbios no tecido uteri-no, para o que bastará uma lesão insignifi-cante, fácil de realisar na occasião do parto.

Obstar-se-ia a taes inconvenientes se fos-se praticada em todos os casos uma anti-sepsia rigorosa, como a sciencia moderna aconselha; illudir-nos-iamos, suppondo que assim succède, pois temos a experiência, de que nem mesmo nos hospitaes a antisepsia puerperal é rigorosa, e este meio é, apesar de tudo, aquelle em que ella melhor poderia rea-lisar-se. Nos partos, que teem logar fora dos hospitaes, em geral, contentam-se em chamar uma parteira, quando muito, e em antisepsia nem se pensa.

O facto de não suppormos as observações de Pinard sufficientemente demonstrativas, não quer dizer que não achemos justas as suas palavras quando diz :

(37)

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«Nos 3/4 dos casos, as hypertrophias do utero, são causadas por não amamentar, e pela esterilidade», e reconheçamos, que a mulher

que não amamenta, se expõe a perigos de certa gravidade.

Entre as circumstancias, que podem obri-gar a suspender a lactação, podemos ainda mencionar a galactorrhea, que torna a secre-ção láctea abundantíssima e por tanto muito fatigante para a mulher, e a agalaxia que a sup-prime.

A agalaxia seria, segundo Trousseau, con-sequência forçada de uma menstruação mui-to abundante.

Se as regras se apresentam em proporções moderadas, são egualmente prejudiciaes para a ama e sobretudo para a creança. As per-turbações na lactação determinadas por esta circumstancia, traduzem-se na creança por perturbações intestinaes, cólicas, diarrhea, etc.

Para alguns auctores, o simples facto dos lluxos catameniaes, ainda quando o leite é normal, influiria desfavoravelmente na saú-de da creança. (Chailly, Jacquemier).

Durante muitos annos a syphilis foi con-siderada como uma contraindicação da ama-mentação ; actualmente admitte-se que não ha motivos para assim se pensar, pois que a mãe de uma creança syphilitica não pôde ser contaminada pelo facto de a amamentar, e o

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49

filho de uma mãe syphilitica nasce forçosa-mente infectado.

Para concluir este capitulo diremos ainda alguma cousa relativamente á acção das emo-ções sobre a secreção láctea.

Admitte-se, hoje, realmente, que as emo-ções diminuem a secreção do leite, mas o que é verdade, é que este accidente ou outros que ellas possam determinar, nada podem influir na resolução primitiva, ou invocarem-se a fa-vor da amamentação artificial.

Em conclusão : As únicas contraindica-ções da amamentação materna são a agalaxia, galactorrhea, diatheses tuberculosa e escro-phulosa e antecedentes vesanicos. A fraqueza geral, a anemia, a dyspepsia não impedem a mulher de amamentar. Na maior parte dos casos a mãe lucrará em crear ella própria seus filhos..

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CAPITULO III

No capitulo anterior estudamos a influen-cia da amamentação sobre a mãe, restando-nos agora vêr as consequências que dos di-versos modos de amamentação resultam para

o organismo do filho.

Nem todos os auctores são da mesma opinião, quando se trata de averiguar taes con-sequências. Assim, emquanto alguns consi-deram a amamentação materna como uma ne-cessidade, outros, posto a considerem mais vantajosa do que a artificial, admittem ainda assim, que esta, realisada em boas condições, não tem as desvantagens, que querem attri-buir-lhe.

Para os primeiros, a amamentação artifi-cial, é synonimo de infanticídio, pois não ali-mentar a creança com o leite materno seria expol-a á tuberculose, collocal-a em condições

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eminentemente favoráveis ao desenvolvimento do rachilismo, querer que morra de enterite ou de convulsões.

Os que professam taes ideias, justificam-se aprejustificam-sentando estatísticas, em que a morta-lidade das creanças submettidas ao regimen artificial attinge proporções extraordinárias.

Eis, segundo o Annuario Estatístico de Paris, a proporção dos óbitos de creanças amamentadas artificialmente : 34,91 por cento em 4874; 40,34 em 1875 ; 34,53 em 1876 ; 36,16 em 1877; 34,02 em 1878 ; 30,83 em 1879 ; 33,43 em 1880; 33,99 em I88I.

Por outra estatística elaborada em 1862 via-se que estas proporções attingiram limites ainda mais elevados, pelo menos em alguns departamentos.

No do Sena, por exemplo, 90,5 % dos óbi-tos eram de creanças n'aquellas condições.

Franc, diz que na sua clinica teve em 1868 89,4 % óbitos de creanças, amamentadas ar-tificialmente ; em 1869 a cifra baixou a 83,9, e em 1870 a 82,4.

Segundo Stoltz, de Strasburgo, as creanças amamentadas ao seio apresentavam uma mor-talidade de 19 por 100, e as outras de 43 por •100.

Esta mortalidade é elevada, mesmo mui-to elevada, mas a par d'estas estatisticas apre-sentaremos uma que prova que a

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tacão artificiai pôde dar melhores resulta-dos.

Nos Enfants assistes, de 100 creanças sy-philiticas alimentadas com leite de jumenta 26,3 morreram em 1883 e 38,75 em 1884. Não convém esquecer que se trata de creanças doentes, depauperadas e algumas vezes mes-mo irremediavelmente perdidas, no mes-momento em que entraram para o hospital.

Sem duvidar de que as estatísticas, que apresentamos, fossem elaboradas com o má-ximo cuidado e sejam exactíssimas, vemos que as proporções dos óbitos different muito de umas para outras, e que taes differenças de-vem attribuir-se ao maior ou menor escrúpulo, com que as pessoas encarregadas da alimen-tação das creanças se desempenham d'essa ta-refa.

E' facto averiguado que certas amas se prestam da melhor vontade a tomar conta das creanças, havendo antecipadamente a com-binação de esses infelizes serem eliminados o mais breve possível d'entre os vivos.

Mesmo entre nós, ha sobretudo por essas aldeias próximas do Porto, mulheres que com bellos proventos se entregam a esta repugnan-tíssima industria.

O facto é bem notório, e de resto, não é mais do que a imitação do que se vê lá fora. Coudereau, na sua these apresentada á

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53

faculdade de Medicina de Paris, em 1869, di-zia:

«Em certas communas pobres... encontram-se encontram-sempre mulheres que gosam da reputação de serem más amas. Em sua casa as creanças ap-parecem e desapap-parecem constantemente. Pois a

taes amas nunca lhe faltam creanças para ama-mentar, e são sempre perfeita e regularmente pa-gas».

Se largamos o assumpto sem mais com-mentaries, não é porque não seja digno d'el-les, mas tão somente porque não caberiam na indole d'esté trabalho.

Um modo prático de evitar todos os in-convenientes que a amamentação pelas amas pôde determinar, seria o emprego da mama-deira, que ultimamente se tem espalhado con-sideravelmente, como parece provar-se pela enorme quantidade de modelos que teem ap-parecido. Demais, todos os medicos teem no-tado na sua clinica a enorme extensão, que vae tomando a amamentação artificial.

Nas classes mais elevadas da sociedade, não surprehende que assim seja, pois a ama-mentação materna foi sempre ahi praticada em escala diminutíssima. Não querem renunciar aos hábitos adquiridos, isolar-se do mundo, condemnar-se a viver como que enclausura-das. O receio da dor, a falta de leite, a anemia, hoje mais frequente do que outr'ora, levam

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mesmo as mulheres dos campos a hesitai' an-tes de começar a amamentar seus filhos. De-pois, as visinhas teem creado seus filhos á bomba com bons resultados ; porque não fa-zer como ellas? é tão commodo...

A mamadeira íica próxima do berço ; o leite, por um processo fácil, conserva-se quen-te, e quando a çreança desperta sabe muito bem procural-a, sem que a mãe se encom-mode com isso.

De dia, fica completamente livre para se entregar aos seus trabalhos do campo.

Entre as classes ainda menos abastadas o salário do chefe da família é em geral insuf-ficiente para prover ás necessidades do

mena-ge, e a mulher é portanto forçada a auxiliar o

marido na árdua tarefa de procurar o pão pa-ra os filhos, e como consequência a passar a maior parte do dia fora de casa.

Se em alguns casos, ganham o sufficien-te para mandar crear conveniensufficien-temensufficien-te os fi-lhos, o mais commum é verem-se forçados a entregal-os a uma ama pouco exigente. E as pobres creanças, uma vez fora do lar materno, difficilmente alli voltarão.

Conduzindo a amamentação artificial a estes deploráveis resultados, não poderá por forma alguma empregar-se, senão como ultimo recurso.

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auctori-55

dades competentíssimas. Jacquemier a este propósito diz :

«A amamentação artificial muito espalhada em todos os paizes, tem uma parte importante na mortalidade que dizima as creanças nas clas-ses laboriosas e pobres».

Conduzirá porém a amamentação artifi-cial fatalmente a estes resultados'? É o que va-mos vèr.

Bouchaud, na sua these apresentada á fa-culdade de medicina de Paris, em 1864, cen-surando vivamente a amamentação artificial, baseando-se nos resultados obtidos na

Mater-nité, diz :

nO numero de creanças que succumbiram a este género de morte, foi considerável na primei-ra metade do anno, e diminutíssimo na segunda, graças aos cuidados dos que podiam remediar o

mal.»

Parece concluir-se d'estas palavras, que os maus resultados, colhidos com a amamen-tação artificial podiam ser muito attenuados, se ella fosse praticada com todo o escrúpulo.

Mais abaixo, Bouchaud esclarece este pon-to, dizendo :

«A qualidade do leite de vaca é sem duvida

a primeira causa d'esta mortandade causada pela mamadeira, mas o modo d'administração

tem egualmente sua influencia... E' uma enfer-meira a encarregada d'esta tarefa.,. sabe Deus como a desempenha.

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«Ha creanças que passam uma noite inteira sem beber, e, se os seus gritos cansam a paciên-cia, apresenlam-lhe uma mamadeira com Í60 grammas de leite... o estômago, muito carrega-do, revolta-se, apparecem vómitos, diarrheas, etc.-»

Um pouco abaixo accrescenta :

«Em presença d'estes factos tentei tornar o leite mais supportavel, mandando administrar 50 a 60 grammas de duas em duas horas. A maior parte das creanças deram-se bem com este regimen».

Estes processos de administrar o leite bastariam para explicar a enorme mortalidade constatada na Maternité ; ha porém ainda a fa-zer entrar em linha de conta a qualidade de leite administrado.

Bouchaud, continuando na crítica do que se passava na Maternité, diz mais :

«O leite/que se emprega, é aquecido de ha tempo, do dia anterior pelo menos... é sempre acido, c muito frequentemente determina a diarrhea em adultos, que d'elle tenham feito uso».

N'estas condições, parece que não ha tan-to a censurar o methodo em si, como os pro-cessos, que adoptam as pessoas, a quem as creanças são confiadas.

Com mais um bocado de escrúpulo, mi-nistrando o leite por doses fraccionadas e

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procedência insuspeita, e recente, obstar-se-ia sem duvida alguma, a que se dêem al-guns dos graves accidentes, a que já nos re-ferimos.

Ministrar a uma creança, cujo estômago é extremamente irritável, leite que provoca perturbações digestivas em adultos, não é ali-mentar, é antes envenenar.

Parece-nos que experiências feitas n'estas condições, não podem ter valor algum ; que os resultados obtidos, não são aquelles, por onde se deve julgar o regimen artificial.

Claro, que ainda que esta amamentação seja praticada nas melhores condições, não a suppomos isenta de inconvenientes para as

creanças, pois nem mesmo a amamentação materna, considerada universalmente como superior a qualquer outra, deixa de determi-nar certas perturbações, sobretudo digestivas, que em alguns casos são de certa gravidade. Taes perturbações digestivas, provavel-mente devidas a alguma alteração do leite, em geral, são de curta duração e manifes-tam-se em intervallos bastante approxima-dos ; outras vezes são taes que levam o clini-co a aclini-conselhar a mudança do leite.

Quando se trata de apreciar a amamenta-ção artificial, devem separar-se bem as três variedades, que na nossa classificação apre-sentamos. Quanto á amamentação por ama,

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é a que deve praticar-se, quando a mãe, por qualquer circumstancia, não pôde amamentar, mas tendo-a no seu domicilio e exercendo so-bre ella uma vigilância rigorosa e constante.

A amamentação em casa da ama comtemol-a energicamente; deve ser de vez ba-nida, e considerada como inferior a qualquer outra.

Antes de entrar na amamentação por meio da mamadeira, da colher, do copo, etc., estu-daremos as différentes variedades de leite, que é costume empregar-se.

Este assumpto fará objecto do capitulo se-guinte.

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CAPITULO IV

Se todos os chimicos estão de accordo pelo que toca á composição qualitativa do lei-te, são grandes as divergências entre elles, quando se trata da sua analyse quantitativa. O leite compõe-se de duas partes : parte liquida e parte solida.

A primeira é constituída por agua, na qual se encontram dissolvidos os seguintes principios : uma substancia albuminóide, a caseína; uma substancia combustível, o assu-car de leite, e finalmente saes mineraes e ga-zes, sendo o chloreto de sódio, os phospha-tes alcalinos e terrosos, o oxygenio e o acido carbónico os que entram em maior escala.

A parte solida é formada pela manteiga, que se encontra em suspensão sob a forma de pequenas partículas arredondadas, ou gló-bulos.

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Quanto á analyse quantitativa, as diver-gências, a que já nos referimos, manifestam-se mesmo quando se trata de apreciar apenas a reacção das différentes variedades de leite.

Para Donné, o leite de jumenta e o de mulher são sempre francamente alcalinos, e o de vaca é umas vezes neutro, outras mani-festamente acido, e mais raras vezes levemen-te alcalino. Segundo Péligot e Payen, o leilevemen-te de jumenta é sempre francamente acido.

Bouchaud, em 629 amostras de leite de mulher, não encontrou em uma só reacção acida.

Se as divergências principiam, quando se trata apenas de averiguar qual é a reacção das différentes variedades de leite, comprehende-se que quando comprehende-se quizer levar mais longe a analyse, e pretender fixar as proporções rela-tivas das différentes substancias solidas como a caseína, a manteiga, o assucar, etc., os resul-tados devem ser por força os mais desencon-trados.

Para mostrar que realmente assim é, apre-sentamos o seguinte quadro, que encerra os resultados de analyses feitas por chimicos distinctos e que encontramos em vários au-ctores.

As proporções, são para 1:000 partes de leite.

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A simples inspecção d'esté quadro da-nos uma prova evidente da da-nossa asserção.

Assim, emquanto que Lehemann, Queven-ne e Bouchardat encontram 20 partes de man-teiga para 1:000, Doyére acha 38; Féry 43,43 e Jacquemier 89,7.

As matérias azotadas entram, segando Doyére, na proporção de 16,4 para 1:000; se-gundo Adam na de 52,13, também para 1:000.

O mesmo pôde dizer-se do assucar, cujas proporções variam entre 12 e 76,14 por 1:000, e dos saes que Héritier encontra na propor-ção de 4,5 por 1:000, emquanto Becquerel e Vernois encontram apenas na de 1,33.

O que de tudo isto parece concluir-se é que a analyse do leite, é uma operação deli-cadíssima, dando os reagentes resultados dif-férentes, segundo as doses empregadas. Para analysar a manteiga, por exemplo, variando as quantidades de alcool e ether empregados, chega-se a algarismos, diferindo entre si 14 grammas. E' natural também attribuir esta di-vergência de resultados ao maior ou menor es-crúpulo com que as analyses eram feitas, e mes-mo á diversidade de methodos empregados. Boutequoy, na sua these de 1834. diz a este respeito : « Que devemos pensar d'analyses

chimi-cas, que conduziram a resultados tão diversos?»

Passando agora ao exame do leite das fê-meas de animaes, encontramo-nos egualmen-te em face de resultados diversíssimos.

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a-64

Vê-^se pois que a composição do leite dos diversos animaes não é a mesma para todos os auctores, e havendo alguns elementos que para a mesma variedade de leite são repre-sentados por algarismos duas ou mais vezes maiores. Para Doyére, por exemplo, o leite de jumenta encerra 5 para 1:000 de manteiga, emquanto que Jacquemier encontrou 12,9.

O simples exame do quadro, que acima apresentamos, pôde fornecer muito mais exem-plos como este.

Sendo assim, claro é que as conclusões que poderiam derivar da composição do leite deverão variar segundo os auctores.

Sob o ponto de vista da relação que ha entre o leite de mulher e dos outros animaes, o de j umenta é incontestavelmente o que mais se approxima. A sua reacção é alcalina, e isto

é importante, porque a acidez do leite

parece-nos ser o factor mais importante das diarrheas das creanças. Gomo o leite de mulher, elle contém pouca caseína, e uma grande quanti-dade de assucar.

Por uma experiência fácil de realisar pro-va-se realmente que o leite de jumenta é o que tem affinidades mais intimas com o de mu-lher.

Toma-se uma série de tubos de ensaio. Deitam-se em cada um porções perfeitamente eguaes de leite de mulher, de cabra, de vaca

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e de jumenta, a que se addiciona uma gotta de acido acético.

Em outros tubos, contendo porções eguaes de leite de todas aquellas variedades, deita-se uma gotta de pressura (coalho), liquida e col-locam-se em uma estufa, cuja temperatura se eleva a 38°.

Se se examinarem no fim de hora e meia, encontramos perfeitamente coagulados o leite de cabra e vaca contidos nos tubos, onde se havia deitado a pressura. Nos tubos da segun-da série encontra-se por cima do coalho uma fina camada de soro.

0 leite de jumenta apresenta-se, é verda-de, coalhado, no tubo onde se lançou a pres-sura, mas esta coagulação não se assemelha áquella, que se deu com o leite de cabra e vaca, apresenta, pelo contrario, muitos pontos de contacto com a do leite de mulher, cujo coalho é de manteiga, e está misturado com flocos de caseína. Nos tubos onde se havia deitado acido acético apresenta-se com alguns flocos de caseina.

Estas experiências não são, por si só, con-cludentes, porque os resultados da digestão estomacal não são exactamente idênticos aos da digestão artificial, in vitro, porém n'este pon-to parece que a observação directa vem con-firmar o que a experiência nos diz.

Assim, Wins, por analyses praticadas nas

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matérias vomitadas, chegou ás conclusões se-guintes : 1.» o leite de cabra, sob a acção do sueco gástrico, coagula em massa ; 2.a o leite

de vaca forma egualmente coalhos volumo-sos; 3.a o leite de jumenta não coagula em

massa, a caseína forma apenas pequenos flo-cos isolados.

N'estas condições, o trabalho estomacal é muito menos considerável e a assimilação mais rápida e fácil, quando a alimentação se réalisa por meio do leite de jumenta. Os re-sultados obtidos com o emprego d'esta varie-dade de leite nos diversos hospitaes de crean-ças, mas sobretudo na Maternité e

Enfants-assistés, são concludentes. Tem sido sempre

mais bem supportado do que o leite de vaca ou de cabra.

Os que não são partidários do leite de ju-menta, aceusam-no, principalmente, de não conter bastante manteiga, de ser pouco nu-tritivo.

Tal inconveniente porém, não nos parece ter grande importância nos primeiros perío-dos da vida. Os recem-nasciperío-dos, tendo o pan-creas muito pouco desenvolvido, e sendo-lhe portanto muito difficil a assimilação das ma-térias gordas, não carecem por forma alguma de leite com muita manteiga. Demais, segun-do Parrot, as dejecções segun-dos recem-nascisegun-dos conteem 52 partes de gordura para 100.

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As propriedades purgativas, que todos lhe reconhecem, teem também servido a alguns para se revoltarem contra o seu emprego.

De facto, as creanças que principiam a fazer uso do leite de jumenta, teem por dia 4 ou mais dejecções, porém ao fim de poucos dias adaptam-se ao novo regimen e as suas dejecções voltam a dar-se com toda a regula-ridade. Demais, este inconveniente, pôde at-tenuar-se se não desapparecer de todo, dando ao animal forragens secas, apenas.

Os apologistas do leite de vaca, reconhe-cendo que elle tem a manteiga e a caseina em proporções exageradas, aconselham o em-prego da primeira porção ordenhada, que te-ria uma diminuta proporção de matéte-rias soli-das. Para alguns, as ultimas porções de leite terão quatro vezes mais creme que as pri-meiras.

Quevenne, diz a este respeito :

*Para cinco partes de creme contidas no primeiro leite que se ordenha, ha quinze no

lei-te tirado, quando a operação vae em meio, e vin-te e um nas ultimas porções».

Segundo alguns auctores, o leite de vaca tem duas vezes mais caseina que o de mu-lher. Além d'isso, tem doze vezes mais casei-na do que albumicasei-na, substancias que no leite de mulher entram em eguaes proporções.

Estas differenças, bastam para explicar a

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difficuldade, com que o estômago lucta, para digerir o leite de vaca.

A ter de empregar tal leite, seria, a nosso vêr, indispensável, tornar a sua composição mais próxima do leite de mulher, ou melhor, augmentar a quantidade de agua, diminuir a quantidade de creme e caseína, e finalmente tornal-o menos fermentescivel.

►Segundo as analyses feitas em leite de vaca, para que fique com uma quantidade de agua conveniente, bastará juntar duas colhe­ res d'agua em cada 100 de leite. Por este pro­ cesso diminuir­se­ha ao mesmo tempo a pro­ porção das matérias albuminóides.

Para diminuir a quantidade de manteiga basta desnatal­o, baixando as proporções de 3,6 por 100 a 0,4.

Segundo Schemidt, tendo o leite crû 3,15 por 100 de caseina, baixará no leite fervido a 2,85 ; a albumina descerá de 0,27 a 0,04 e as peptonas de 0,11 a 0,06.

Para o tornar menos fermentescivel, jun­ tar­se­lhe­ha carbonato de soda, que o torna alcalino. Demais o aquecimento, fazendo de­ senvolver os gazes, diminue já as probabilida­ des da fermentação.

Em resumo, quando se é forçado a usar leite de vaca, deve ter­se todo o cuidado com a sua pureza, ferver­se, desnatar­se, juntar­ Ihe carbonato de soda até se obter reacção

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alcalina, e por ultimo uma colher de assucar para cada copo de leite.

O leite fervido, tem, além d'isso, a vanta-gem de impedir a propagação das doenças in-fecciosas, principalmente da tuberculose, cu-jos bacillus abundam em geral no leite. A par de taes vantagens teem-se-lhe também notado inconvenientes.

Laurent accusa-o de ser de mais difíicil digestão. Baseando-se nos bons resultados obtidos pelo emprego do enxofre nos casos de atonia geral em creanças, e no gosto sulfuroso da pellicula que se deposita á superfície do leite em seguida á ebullição, emitte a hypo-thèse de que o calor, tornando os albuminói-des do leite menos assimiláveis, priva o orga-nismo do enxofre de que carece.

Uhlig, na sua clinica em Leipzig, empre-gou em muitos casos o leite esterilisado, sem-pre com os melhores resultados; Chalvet. po-rém, baseando-se egualmente nos resultados obtidos na sua clinica, proscreve em absoluto o emprego do leite fervido.

Este distincto clinico, partidário da ama-mentação natural ou materna, admitte que em certas circumstancias o regimen artificial pôde dar bons resultados.

Diz mesmo que a mamadeira é um excel-lente meio de alimentar as creanças, e que por meio d'ella tem creado um numero bastante

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elevado d'ellas, sempre com os melhores re-sultados.

Empregou constantemente o leite de vaca, tomando sempre certas precauções, que en-tendia indispensáveis.

Empregava sempre leite recente, não fervi-do. Temos ainda de nos demorar, mais adiante, sobre este ponto, e por isso reservamo-nos para n'essa occasião o desenvolver-mos mais um pouco.

Chalvet recommenda que nunca se mis-ture leite de différentes vacas, pois, segundo elle, o leite misturado coagula mais facilmente.

As ideas, que temos exposto relativamente á escolha do leite, das fêmeas d'animaes, en-contram uma confirmação plena, n'uma me-moria de M. Grantelet, baseada no exame de 178 amostras de leite de varias proveniências : mulheres, cabras, jumentas e vaccas; e apre-sentada na sessão de 12 de março de 1891 na Sociedade de medicina prática.

Eis as conclusões a que chega M. Gran-telet :

O leite de mulher é francamente alcalino ; tem um volume gazoso notável ; uma propor-ção de elementos nutritivos representados res-pectivamente para o assucar, manteiga, ca-seína e saes pelos coefficientes 60, 40, 20,5, e um estado de divisibilidade considerável da caseína.

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O leite de jumenta approxima-se d'uni modo muito sensível do da mulher : 4.°os seus elementos nutritivos orgânicos são perfeita-mente iguaes ; 2.° os seus elementos mineraes são os únicos que apresentam um augmenlo notável; 3.° o volume gazoso acha-se levemente diminuído.

0 leite de cabra diffère do leite de mulher, principalmente: 1.° pelo augmente considerá-vel do seu volume gazoso ; 2.° pelo grande augmente de peso da caseína ; 3.° pela elevada densidade d'essa caseína; 4." pela diminuição considerável do assucar.

O leite de vaca fresco diffère do leite de mu-lher: pela cifra elevada da sua caseína, e forma compacta dos flocos da mesma caseína.

Debaixo do ponto de vista da digestibili-dade o leite de vaca aproveita muito com a ebullição, seguida da sua exposição ao ar por algum tempo.

O processo de estirilisação, colloca as creanças ao abrigo de todas as causas d'infec-ção bacillar, mas por ser de uma prática dif-flcil deve ser reservado para aquellas que apresentem a diarrhea verde.

A ebullição verdadeira, é sufficiente para nos garantir a ausência do bacillus de Koch, e collocar a creança ao abrigo da infecção tu-berculosa.

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sobre o processo empregado por alguns, com o fim de modificar a constituição da creança por leite naturalmente medicamentoso. Este processo, foi sobretudo recommendado para a syphilis e parece que os resultados, que tem dado, ficaram muito áquem da espectativa. Realmente este processo tem inconvenientes e alguns irremoviveis.

Em primeiro logar, não se sabe qual a quantidade de medicamento que ministramos á creança. nem mesmo se sabe se algum é absorvido, pois quePéligot, Berthollet e outros, negam a eliminação do mercúrio pelas glân-dulas mamarias.

Depois, diminue-se a quantidade do leite, que além d'isso é de peior qualidade, e tudo isto sem vantagem real, porque o mercúrio pôde ser administrado pela via gástrica, mes-mo nas creanças da mais tenra edade.

Labourdette, tem obtido leites iodados, arsenicaes, mercuriaes, etc., porém as suas indicações são limitadíssimas, porque acha-mos preferível ministrar directamente os me-dicamentos ás creanças do que empregar como intermediário o animal, cuja secreção mamaria seria modificada por forma pouco proveitosa para a creança.

A indole d'esté trabalho não nos permitte demorar-nos também sobre as falsificações do leite, e meios para as descobrir. Limitamo-nos

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a dizer que hoje ha apparelhos que d'uma maneira rápida e precisa indicam a composi-ção de qualquer leite.

Aqui limitamo-nos a estudar apenas a acção do leite normal, e a amamentação arti-ficial nada tem que vêr com os resultados obtidos por leites adulterados.

Já não succède assim com os modos de administração do leite, que devem merecer ao clinico toda a attenção.

O processo, que consiste em ministrar o leite por meio de uma colher, não é bom, pois que além de obrigar a creança a beber, acto para o qual os seus órgãos não estão adapta-dos, exige precauções que muitas vezes fal-tam.

Deve lançar-se de cada vez uma pequena porção de leite na bôça da creança, e dar-lhe tempo para que a deglutição se tenha realisa-do, e evitar assim os vómitos.

Este modo de amamentação é o único a que em alguns casos se pôde recorrer. Taes são aquelles em que a creança é tão fraca que não pode mamar, ou apresenta a disformi-dade, conhecida pelo nome de lábio leporino, ou ainda quando as narinas estão completa-mente obstruidas.

A mamadeira é muito melhor; o meeha-nismo de apprehensão approxima-se do modo physiologico, e a sucção, que é indispensável,

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contribue para o desenvolvimento das glân-dulas salivares. Tem também alguns inconve-nientes.

É preciso ter com a mamadeira os maio-res cuidados de limpeza, laval-a frequentes vezes e evitar que o leite se torne acido.

Ainda é preciso aquecer o leite antes de se servir d'elle, e vêr que a temperatura não seja baixa ou elevada de mais.

Com a amamentação materna, ou artifi-cial directa já não acontece assim ; o leite está sempre prompto, e a uma temperatura conveniente.

A amamentação artificial directa pode fa-zer-se, como sabemos, por amas ou por fê-meas d'animaes. A propósito das amas nada accrescentaremos ao que fica dito, quando tratamos das consequências da amamenta-ção para a mãe e para o filho, doutrina, que na maior parte lhe é applicavel.

Quanto ás fêmeas de animaes, as que mais se prestam são: a cabra e a vaca; o seu ubere não é muito volumoso, a boca da crean-ça é grande bastante para o conter, e esta breve se habitua a tomar, e exercer a sucção no ubere, que lhe apresentam.

Nem todos os auctores estão de accordo quanto á quantidade do leite necessário para uma creança.

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tempos bastarão 60 a 80 grammas de cada vez ; mais tarde, aos quatro ou cinco mezes, poderia ingerir de cada vez 250 grammas e por dia 1:500.

Com a amamentação por meio da cabra ou da vaca, dão-se proximamente as mesmas condições que com a amamentação materna ; a creança pôde mamar com toda a regulari-dade, tomar a quantidade de leite que lhe con-venha, suspendendo a sucção quando já não queira mais.

É comtudo susceptível de algumas objec-ções. Se a amamentação directa é fácil durante o dia, já assim não succède durante a noite, principalmente quando o animal escolhido é uma jumenta. Esta objecção tem de facto certo valor, mas pôde refutar-se.

Se se trata de uma cabra, pôde conservar-se em casa e utilisal-a mesmo de noite ; no caso em que a amamentação se dér por meio de uma jumenta, deve esta ordenhar-se muito tarde, e empregar de noite a mamadeira, com o leite ordenhado, que mesmo no verão se pôde conservar toda a noite.

O facto de as jumentas serem raras, que tem servido a alguns, para combaterem a amamentação por este animal, nem chega a ser um argumento sério ; o procural-a e es-colhel-a não é tarefa mais difflcil do que quando se trata de uma ama.

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Mesmo, o que nós desejamos é- saber qual o modo de amamentação melhor, independen-temente da facilidade ou difíiculdade da sua applicação, das fadigas a que dá logar, etc.

Por isso, pelo facto de um processo ser de uma applicação difficil, não se segue que deva regeitar-se.

Os argumentos tirados da differença de composição dos leites não são os únicos que se teern apresentado para combater a ama-mentação artificial.

Outros ha, e que consideramos de tão su-bida importância, que lhe consagramos um capitulo especial.

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CAPITULO V

Tem-se affirmado que a amamentação por fêmeas de animaes influe no caracter das creanças alimentadas por este processo. Esta crença, muito trivial entre o povo, tem sido sustentada por homens de sciencia, como Marc e Andral, que a propósito das cabras di-ziam que estes animaes transmittiam, ás crean-ças que amamentavam, alguma cousa do seu caracter caprichoso.

Ainda a este respeito, lê-se na

Encyclope-dia, do século i8.°, o seguinte :

«.A observação permitte affirmar que as creanças tomam muitas vezes o caracter moral e as disposições morbificas das amas».

Quanto á transmissão das disposições morbiflcas pela ama, parece ser um facto averiguado que ella se pôde dar.

Jacquemier, no artigo já muitas vezes ci-tado, apresenta uma observação de Boudin,

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que prova a transmissão do miasma paludoso pela ama. Os casos de infecção tuberculosa pelo leite contaminado são frequentíssimos. A transmissão de caracter, a repercussão do moral da ama na creança é porém insus-tentável, e se ha um caso ou outro em que

isto se verifique, não passam de meras coin-cidências.

De facto, se apesar da união intima que existe entre a mãe e o filho, vemos que não poucas vezes as creanças, quando homens, teem mais semelhanças, quer pelo lado moral quer pelo intellectual, com o pae, ou mesmo com outro parente, como poder admittir que haja essa transmissão pela ama? Demais, no cérebro da creança, pouco mais ha do que um substacto, quasi sem importância futura.

Mas suppondo ainda que podia realmente dar-se tal transmissão, seria isto motivo bas-tante para se proscrever a amamentação ani-mal? N'esta hypothèse, não seria ainda mais prejudicial a amamentação pelas amas ? Creio bem que sim.

Deixemos este ponto, e vamos discutir outras objecções de muito mais valor, que teem também sido apresentadas contra a ama-mentação artificial.

Alguns auctores sustentam que este me. thodo deve considerar-se como a causa do maior numero dos casos de rachitismo, hoje frequentíssimos.

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Ducoudray, n'uma these apresentada á fa-culdade de Medicina de Paris, em 1871, cujo assumpto era «De l'alimentation des

nouveau-nés et du rachitisme», diz ein uma das suas

passagens :

«O segredo, para obter bellas e robustas

creanças, consiste exclusivamente em recorrer á alimentação pelo seio.»

Mais adiante continua:

«O numero dos rachiticos augmenta, os

ca-sos de athrepsia, as gastro-enterites multiplicam-se; tudo isto deve attribuir-se á amamentação artificial.

Se Ducoudray, ao que fica dito, acrescen-tasse as palavras amai feito», concordaríamos com elle, porque estamos convencidos que todas as creanças rachiticas, escrophulosas, lymphaticas, e tantas outras, são victimas de uma amamentação mal dirigida.

N'uma outra these de M.cllc Lévine encon-tramos uma série d'observações tendentes a provar que a amamentação artificial é um pés-simo processo, que devia ser banido por com-pleto. Não as transcrevemos, pois são bastante extensas, mas parece-nos que não provam mais do que conseguiu Ducoudray.

Effectivamente, na maior parte d'ellas, o leite administrado era ordinário ; conserva-vam-no muito tempo na mamadeira, acidifi-cando-o, e não poucas vezes a sua quantida-de era insufficientissima.

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