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Feminicídio: e o sistema de proteção á violência contra a mulher

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Academic year: 2023

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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PALOMA AMARAL DE FREITAS

FEMINICÍDIO E O SISTEMA DE PROTEÇÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

SÃO PAULO 2022

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PALOMA AMARAL DE FREITAS

FEMINICÍDIO E O SISTEMA DE PROTEÇÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito da Universidade São Judas Tadeu, como requisito parcial à obtenção do Bacharel em Direito.

SÃO PAULO 2022

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PALOMA AMARAL DE FREITAS

FEMINICÍDIO E O SISTEMA DE PROTEÇÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

Este presente Trabalho de Conclusão de Curso foi avaliado como adequado para obtenção do título de Bacharel em Direito e aprovado em sua forma final pelo Curso de Graduação em Direito da Universidade São Judas Tadeu

São Paulo, 26 de novembro de 2022.

Professor e orientador: André Lozano Andrade Universidade do São Judas Tadeu

Professor e orientador:

Professor e orientador:

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Dedico este presente trabalho ao meu pai, minha mãe e toda minha família pelo apoio nessa jornada, e a todas as vítimas de violência que tiveram suas vidas interrompidas.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus, que me ajudou nos momentos difíceis e me sustentou até aqui, me deu forças para enfrentar e vencer essa etapa na minha vida e finalizar esse curso.

Aos meus pais Fernando e Teresinha que me ajudaram nessa longa caminhada, sempre me dando amparo para seguir em frente, cujas vidas são inspiração para mim, vocês são especiais, me incentivando a cada instante, dando suporte ao longo desses cincos anos, em momentos difíceis.

Por fim, a todos os professores, que me auxiliaram, me ajudaram, e contribuíram com a minha trajetória acadêmica, sendo pacientes nessa jornada, para que assim, eu consiga tornar-se um profissional qualificado na carreira.

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RESUMO

O presente trabalho pretende abordar sobre os diversos tipos de violência doméstica, sobretudo o crime de feminicídio, além de discorrer sobre os meios criados para coibir e combater esse mal que assola a nossa sociedade. A partir de análise histórico-social, percebe-se que a subordinação da mulher teve seu início a partir da partilha da terra, sendo que, esse fenômeno se estende até os tempos modernos. Verificado o aumento dos casos de feminicídio nos últimos anos, ocorreu um grande avanço na sociedade e na legislação em relação ao gênero, criando diversos dispositivos legais para combater aos crimes contra as mulheres, trazendo uma maior proteção às mulheres e garantia dos seus direitos. Para alcançar o objetivo da pesquisa, discutiu-se sobre a violência de gênero no decorrer das décadas, os tipos de violência contra a mulher, implementação de leis e meios de coibição e sua efetiva eficácia. Assim, para a elaboração do presente trabalho, foi utilizado o método de pesquisa documental, com análise bibliográfica e de dados referentes ao tema abordado no presente trabalho.

Palavras chaves: Violência doméstica; Feminicídio; Gênero; Mulher.

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ABSTRACT

The present work intends to approach the different types of domestic violence, especially the crime of femicide, in addition to discussing the means created to curb and combat this evil that plagues our society. From the historical-social analysis, it is noticed that the subordination of women had its beginning from the sharing of land, and this phenomenon extends to modern times.

Checked the increase in cases of femicide in recent years, occurred has been a great advance in society and legislation in relation to gender, creating several legal devices to combat crimes against women, bringing greater protection to women and guaranteeing their rights. To catch up the objective of the research, gender violence over the decades, types of violence against women, implementation of laws and means of restraint and their effective effectiveness are discussed.

Thus, for the elaboration of the present work, the documentary research method was used, with bibliographical analysis and data referring to the theme approached in the present work.

Keywords: Domestic violence; Femicide; Genre; Women.

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SUMÁRIO

1 – INTRODUÇÃO ... 09

2 - OS PRIMÓRDIOS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA MULHER ... 10

2.1 - O INÍCIO DA OPRESSÃO CONTRA AS MULHERES DESDE O INÍCIO DA HUMANIDADE ... 10

2.2 - OS TIPOS DE VIOLÊNCIA QUE EXISTEM ATUALMENTE NA SOCIEDADE ... 13

2.3 - A VIOLÊNCIA DE GÊNERO ... 18

2.4 - A PRESENÇA DO MACHISMO DENTRO DA SOCIEDADE BRASILEIRA ... 20

3 - DADOS ESTATÍSTICOS DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO BRASIL .. 21

4 - A IMPLEMENTAÇÃO DO FEMINICÍDIO NO SISTEMA JURÍDICO PENAL BRASILEIRO ... 25

4.1 - ORIGEM DO TERMO FEMINICÍDIO ... 27

4.2 - OS MEIOS QUE AUXILIARAM NA FORMAÇÃO DA LEI ...29

5 - OS MARCOS NORMATIVOS QUE OCORRERAM ... 32

5.1 - MARCOS INTERNACIONAIS ... 33

5.2 - MARCOS NACIONAIS ... 36

6 - CARACTERIZAÇÃO DO FEMINICÍDIO NO BRASIL E NOS PAÍSES LATINOS- AMERICANOS ... 38

6.1 - A NATUREZA JURÍDICA DO FEMINICÍDIO ... 39

6.2 - OS SUJEITOS DO CRIME DE FEMINÍCIDIO ... 40

7 - OS TIPOS DE FEMINICÍDIO EXISTENTES NA SOCIEDADE ... 41

7.1 – O CONCEITO DE FEMINICÍDIO ÍNTIMO ... 42

7.2 - O CONCEITO DE FEMINICÍDIO NÃO ÍNTIMO ... 43

7.3 - O CONCEITO DE FEMINICÍDIO POR CONEXÃO ... 43

8 OS PRESSUPOSTOS TÍPICOS ... 44

9 O FEMINÍCIDIO SENDO CONSIDERADO COMO CRIME HEDIONDO ... 44

10 CAUSAS ESPECIAIS QUE LEVAM AO AUMENTO DE PENA ... 45

11 CONCLUSÃO ... 47

12 BIBLIOGRÁFIA ... 48

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9 1 INTRODUÇÃO

Desde o primórdio da civilização até os dias atuais, muitas tradições, ideias, costumes e direitos vieram se alterando e se adaptando às transformações da sociedade, entretanto, algo sempre persistiu durante todo esse tempo e mudanças, a subalternação e a objetificação da mulher.

No Brasil, o direito ao voto foi conquistado pelas mulheres apenas no ano de 1932, depois de muita luta pelo movimento feminista. Também vale destacar que as mulheres passaram a poder trabalhar sem a permissão do marido no ano de 1962, com o advento do Estatuto da Mulher Casada, esse que também trouxe o direito à mulher ser parte na partilha de bens nos processos de sucessões.

Entretanto, tão somente foi sancionada Lei específica visando o combate a violência doméstica, após condenação do Estado Brasileiro perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos, no ano de 2006, conhecida como Lei Maria da Penha. Tal inovação se deu devido ao reconhecimento de que o Estado era negligente, omisso e tolerante em relação à violência doméstica.

Apesar do decorrer dos séculos, com o surgimento de diversos movimentos de combate à discriminação de gênero, da luta por direitos iguais, da criação de dispositivos legais e ratificação de diversos tratados que visam coibir a violência de gênero e garantir direitos para as mulheres, a discriminação de gênero ainda se faz extremamente presente em nossa sociedade.

A violência doméstica contra a mulher pode se dar de diversas formas, não sendo exclusivamente física, mas considera-se o abuso sexual, psicológico, moral e patrimonial como formas de violação, não se restringindo apenas a figura a esposa, mas aplicando-se a qualquer mulher com a qual o agressor possua vínculo familiar, ou seja, aplicável as mães, filhas, sobrinhas, e até ex-companheira.

No ano de 2022, o número de registros de denúncias feitas na central de atendimento da ouvidoria Nacional de Direitos Humanos chegou em 31.398, apurando 169.676 tipos de violações de direitos relacionados a violência doméstica. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, foi apurado que 1.341 mulheres foram assassinadas em razão de seu gênero, o que corresponde, em média, uma morte a cada sete horas no país.

É evidente que o assunto tratado no presente trabalho possui grande relevância social, pois a busca por meios de coibir a violência contra mulher é o dever da sociedade, pois apenas com a existência de direitos igualitários e o respeito entre os iguais, é quando alcançamos o pleno Estado Democrático de Direito.

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10 2 OS PRIMÓRDIOS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA MULHER

Nesse tópico iremos discorrer referente a história do papel da mulher na família, na sociedade, combinado com o processo de mudança ao longo dos séculos. Além disso, objetivamos esclarecer a desigualdade existente entre o sexo feminino e o sexo masculino, trazer os diferentes tipos de violência existente na sociedade contra a mulher, caracterizadas por uma cultura machista, dando destaque ao âmbito doméstico.

2.1 O INÍCIO DA OPRESSÃO CONTRA AS MULHERES DESDE O INÍCIO DA HUMANIDADE

Ao longo dos períodos históricos verificamos que, em diferentes tempos, as mulheres se encontravam em posição subordinada aos homens, como inclusive, na religião e na sociedade.

Percebe-se que, em toda trajetória da mulher ao longo dos séculos elas foram oprimidas, desprezadas e discriminadas de diversas formas, e isso ainda acontece atualmente. Ademais, analisando a inferioridade, temos uma visão de que as mulheres são subalternas, onde realizam tarefas baseadas em espaços privados e fechados.

No começo da civilização humana, mais conhecida como a pré-história, podíamos analisar a igualdade que existia entre homens e mulheres. No decorrer do período paleolítico, os indivíduos se organizam em tribos de coletores e caçadores, visto isso, ambos os gêneros tinham a mesma relevância nas tomadas de decisões referente ao grupo que viviam, não existia inferioridade em relação a mulher, muito menos que o homem era mais importante, povoavam juntos como iguais.

A concepção da desigualdade entre homens e mulheres vem do processo da divisão de terras, quando iniciaram a formação da família e a extração de recursos para sobrevivência.

Com a invenção do arado, ocorreu também a exploração da denominação, pois os trabalhos antigamente que eram executados, como demandando a força do animal, arar as terras, foi considerado um exercício mais difícil, sendo um serviço mais valorizado, e com isso, invalidou a prioridade de que ambos os sexos podem ter semelhanças, pois acreditavam que as mulheres não conseguiriam realizar esses serviços, por conta de demandar grande esforço físico.

De acordo com Zuleika Alambert1 , em seu livro (2004, p 27) expõe que:

“Na aurora da humanidade não poderíamos citar sobre a existência de desigualdades entre o homem e a mulher. Naquele tempo, não existiam povos, nem Estados separados”.

Cada gênero executava tarefas específicas dentro da sociedade, naquela época se

1Zuleika Alambert, nascida na cidade de Santos em São Paulo, no dia 23 de dezembro de 1922 e morreu em 27 de dezembro de 2012 no Rio de Janeiro, foi conhecida como uma notória jornalista e escritora.

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11 presumia que a mulher dava à luz de forma solo, assim, dando à vida a uma criança sem necessidade de um papel masculino, mas com o passar do tempo, descobre-se que o homem é necessário para que gere um nova vida, com isso ele passa a ter o “poder” sobre a mulher, visto que foi criado o pensamento do homem ser o principal fator para a reprodução humana.

Por toda a história, ocorreu mudanças no mundo em torno da vida da mulher, deixando cada vez mais difícil ser mulher na sociedade, pois implantaram mais deveres e menos direitos, afirmando sempre que elas são obrigadas a reproduzir, cuidar dos filhos e da casa, e nunca trair, sendo sempre fiel a quem sustentava ela, o homem. De acordo com Richards (1993 p.36) expõe que:

“Esta ideia de inferioridade da mulher era uniformemente divulgada nos tratados teológicos, médicos e científicos e ninguém a questionava"

O período dos anos de 476 a 1453 D.C, também conhecido como Idade Média, foi marcado pela degradação da figura da mulher, pois devido ao poder exercido pela Igreja Católica Apostólica Romana, a qual acreditava na inferioridade do feminino em detrimento do masculino2, usava a fé como ferramenta para validar a concepção de que a mulher possui o dever de servir ao seu homem. Tal visão pode ser vista no pensamento trazido por Jeffrey Richards (1993, p. 37) em sua obra escrita, já dizia que:

"O homem e a mulher são iguais em questão de espírito, mas na carne ele era superior à esposa, e ela deveria obedecê-lo.”.

O pensamento cristão trazia uma visão de que as relações sexuais deveriam ser feitas com o intuito de reproduzir, não devendo ter qualquer outra finalidade para assim fazê-lo, não sendo possível haver prazer durante o ato pois seria pecado mortal. De acordo com Richards (1993, p. 34) discorre que:

"A sexualidade, segundo os ensinamentos cristãos, era dada às pessoas exclusivamente para a reprodução e por nenhum outro motivo [...] O celibato era o ideal mais elevado, tendo o formato mais desejável de vida e os teólogos medievais enfatizavam que era um pecado mortal fazer amor com a esposa por mero prazer."

Dessa forma, a igreja influenciava a vida das pessoas, interferindo no modo de pensar e restringindo suas atitudes, a fé era uma maneira de admiração para a sociedade, onde os a civilização precisavam de algo para guiar e acreditar, a caminho da salvação, e com isso, a igreja controlava a maneira de pensar em relação às questões sobre o corpo e a sexualidade, trazendo uma ideia conservadora de que as mulheres devem ser santas, puras e serem fiéis. Um pensamento trazido de Gilmar Antônio Bedin em seu livro expõe que:

2 citar a visão sobre a criação sobre a mulher ter nascido da costela do homem, sendo assim, inferior a ele.

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“A doutrina cristã tornou-se a orientação central e deu ao homem medieval um horizonte de sentido comum: fazer parte do grande drama da salvação da humanidade”.

O adultério era mais rejeitado quando cometido pela mulher, tendo em vista que, defendiam a ideia de que as mulheres eram mais propensas às luxúrias sexuais, totalmente ao contrário do homem. Quando ocorriam casos de violências contra as mulheres no âmbito sexual, as vítimas eram repudiadas, perdiam a oportunidade de sequer se casar por conta desse acontecimento. A igreja relacionava o sexo ilícito como obras do diabo e o sexo feminino como embaixador desde pecado capital (SOUSA, 2004).

Em 1940, a sociedade era patriarcal e com isso as mulheres eram vistas como objeto e como posse do homem, e naquele tempo, não era aceito uma mulher casar-se não sendo mais virgem, sendo motivo de vergonha para a família, quando eram violentadas sexualmente eram repudiadas. E analisando isso, o legislador criou uma lei, onde o agressor, para excluir sua punibilidade, casava com a vítima agredida, e como as mulheres não tinha voz e o casamento era algo imposto pela própria família, para não denegrir a imagem da família perante a sociedade, acabavam se casando com o próprio agressor.

Diante dos fatos, quando ocorria o casamento entre o agressor e a vítima, não se poderia falar em sanção penal, previsto no art.107 do Código Penal, e dessa forma surgiram muitos casamentos por conta desse artigo, pois em vez do homem conquistar a mulher, ele a violentou com o objetivo de se casar, pois seria a solução viável.

As mulheres foram oprimidas desde o início da humanidade, por diversas formas, sendo subordinadas no lar e na sociedade. Por diversos anos, as pessoas tinham receio de ir contra os ideais e pensamentos da igreja, e aqueles que tinham um pensamento distinto iria sofrer as consequências.

Vale ressaltar que existiu o período da caça às bruxas, onde as mulheres foram perseguidas quando as pessoas acreditavam que elas eram bruxas, ou seja, quando achavam que possuíam poderes sobrenaturais, e caso fossem suspeitas, eram assassinadas. Por conta disso, acredita-se, de acordo com a igreja, que a mulher é a causa do pecado e do mal, sendo perigosa e diabólica.

Na era do renascentismo, começaram a surgir os movimentos que lutavam contra a subalternação da mulher, e dessa forma começaram a ganhar espaço dentro da sociedade, uma das conquista foi poder exercer determinados serviços para ajudar os maridos com a renda em casa, mesmo de forma limitada, virando artesãs e pequenas vendedoras, alterando essa imagem de que a mulher é maligna, perigosa e diabólica. Todavia, apesar dessas pequenas conquistas que foram

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13 acontecendo, os homens ainda exerciam o papel de controle, o que ainda prenderia a mulher ao papel de submissão para satisfazer as vontades e os desejos de seus “proprietários”.

Dentro desse mesmo cenário, enquanto os homens tinham o arbítrio de optarem por serem guerreiros, artistas, chefes de Estado ou até mesmo aventureiros, também eram os únicos a possuírem o direito à alfabetização, as mulheres deveriam tinham a obrigação de assumir sua única função na sociedade, ou seja, matrimônio e a maternidade, sendo que, o acesso à educação era estritamente limitado àquelas que pertenciam a classe alta. Conforme Richards (1993, p. 36), no qual expõe que: “a mulher não tem poder, mas em tudo ela está sujeita ao controle de seu marido".

Com o advento do modelo de produção fabril, trazido pela revolução industrial, a qual previa a exploração de mão de obra do trabalhador para a produção, muitas mulheres passaram a assumir o papel de operárias dentro destas fábricas, o que foi de grande contribuição para desvincular a imagem de que apenas servia para serviços domésticos, entretanto, ainda era vista como inferior, refletindo em seu salário, que sempre era menor que o do homem, apesar de exercerem funções semelhantes.

Todavia, para conseguirem o direito de ocupar cargos dentro das fábricas, a mão de obra delas era mais barata e a jornada de trabalho era superior à dos homens e ademais, eram submetidas, dentro das fábricas, a abusos e humilhações, trabalhando em condições insalubres.

Fora isso, mesmo com suas obrigações na fábrica, elas tinham uma dupla jornada, no qual além dessas obrigações tinham que manter também seus deveres do lar e como mãe.

Apesar dessa evolução, a moral feminina ainda estava ligada à sexualidade, pois acreditavam que para se tornar uma mulher decente, não podiam demonstrar seu desejo e deveria continuar casada, tendo como obrigação ser uma dona de casa que tolerava tudo tranquilamente, para não serem julgadas e serem bem vistas pela sociedade.

Ademais, apesar das conquistas que adquiriram nessa luta, durante todos esses anos até o século XXII, tendo como intuito alcançar seus direitos e a liberdade, o machismo e o patriarcado ainda estão presentes em nossa sociedade, como também a desigualdade entre gêneros, obsessão por dominar, discriminar, violentar, controlar as mulheres, deixando claro um desequilíbrio cada vez mais visível e presente na sociedade. A busca pela igualdade com o homem será uma árdua luta, porém aos poucos irão conquistar mais espaço, e mais direitos perante a sociedade.

2.2 OS TIPOS DE VIOLÊNCIA QUE EXISTEM ATUALMENTE NA SOCIEDADE

Com base no contexto histórico da humanidade, a violência é um fato recorrente,

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14 estando presente em todos os modelos de sociedade, sendo parte integrante do mundo que vivemos, surgindo nas batalhas e nas guerras entre os indivíduos como uma forma de fortalecer seu poder e demonstrar perante os oprimidos e os fracos.

Vale ressaltar, que a termo violência origina-se do Latim violentia, ou seja, aquele que age pela força, tendo um caráter violento, ou seja, é impulsivo e está relacionada ao termo violare, caracterizado como “tratar com violência”, desonrar. Nota-se que dessa forma, os humanos demonstram seu pior lado, se comportando como animais, perdendo sua inteligência e compreensão. Conforme a autora Marilene Chauí (1985, p. 35), discorre em seu livro que:

“ [...] A violação ou descumprimento de normas e da legislação, mas perante dois ângulos: a violência, por um lado, é uma conferência de desigualdades e relações assimétricas, pretendendo dominar, explorar e humilhar; e, por outro, é uma ação que não respeita o ser humano como indivíduo, mas como um objeto”.

Dessa forma, a violência é um fato que ocorre de forma intencional, valendo-se de uma relação de poder, onde traz um pensamento de superioridade, acarretando um dano a outrem, desse modo, a violência é uma questão complexa, apresentando abundantes interpretações e definições, sendo difícil alcançar um conceito com exatidão.

No Relatório Mundial referente a violência e saúde, a Organização Mundial de Saúde traz uma definição, onde expõe que:

“A violência caracteriza-se como uso premeditado da força física ou do poder real ou em ameaça, contra si próprio, outra pessoa, ou contra um grupo ou comunidade, que resulte ou tenha alguma probabilidade de acarretar em uma lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação”.

Durante séculos, ocorreram muitos embates entre os humanos, formando assim uma hierarquia, onde os indivíduos começaram a criar um domínio um sobre os outros, distinguindo os mais fracos dos mais fortes, dessa forma, aqueles que eram mais fracos eram subordinados pelos mais fortes.

No Brasil, a violência sempre esteve presente, desde o dia 22 de abril de 1500, no qual marcou oficialmente a chegada dos portugueses ao território brasileiro, sendo esse evento conhecido como o “descobrimento do Brasil”, onde os europeus começaram a colonizar o Brasil, impondo sua cultura e religião aos indígenas que habitam o local, dessa forma, podemos dizer que o “Brasil nasceu da violência”, pois os europeus estabeleceram o autoritarismo nesse processo. O autor Nilo Odalia, em sua obra escrita (2004, p.14) expõe que:

"Embora sua veracidade que posso ver, um dos traços obsessivos naquele tempo, é a violência, não se pode deixar de identificar que é uma das circunstâncias básicas da sobrevivência do homem, num mundo agressivo, foi exatamente sua

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15 aptidão de proporcionar violência numa escala desconhecida pelos outros animais".

Embora haja inúmeras transformações, a violência sempre esteve presente no Brasil, sendo as mulheres as mais afetadas, pois são vistas perante a sociedade como o sexo frágil, colocando-as numa posição submissa aos homens. Dessa forma, mesmo com seus direitos e liberdade, a mulher ainda se sente impotente, oprimida, pois a sociedade foi estruturada nesse formato de que o homem é superior a mulher. Nota-se, que essa opressão fica de forma mais grave dentro do ambiente doméstico, gerando outras múltiplas violências. De acordo com Marilene Chauí em sua obra escrita, traz uma expõe um pensamento fundamental para compreender o conceito de violência, onde discorre que:

“Levando em conta que os humanos reside no fato de serem racionais, dotados de vontade autônoma, com capacidade para a comunicação e para a vida perante a sociedade, que tem capacidade para interagir com a Natureza e com o tempo, nossa cultura e sociedade nos especificam como sujeitos do conhecimento e da ação, localizando a violência em tudo aquilo que reduz um sujeito à condição de objeto. Do ponto de vista ético, somos pessoas e não podemos ser tratados como coisas. Os valores éticos se oferecem, portanto, como expressão e garantia de nossa condição de sujeitos, proibindo moralmente o que nos transforme em coisa usada e manipulada por outros”.

A violência contra mulher está presente no cotidiano de inúmeras mulheres, que sofrem ataques diários. Esse fenômeno não distingue classe social, raça, idade, orientação sexual ou nível de educação, qualquer mulher pode se tornar uma vítima, podendo ocasionar em traumas e inseguranças, ou até mesmo levando a vítima a óbito, violando seus direitos humanos, afetando sua saúde e integridade.

Diariamente, somos impactados por inúmeras notícias voltadas a violência contra a mulher, sendo a mais comum a violência doméstica, porém tornando-se a mais difícil de ser reconhecida, visto que é cometida por uma pessoa próxima, tendo coexistência de vínculos familiares ou intimidade. A palavra violência doméstica remete ao uso de força física de forma intencional, porém a sociedade acredita que só ocorre um tipo de violência contra a mulher, todavia existem diversas outras maneiras de violência, estando presente de numerosas formas como agressão física, mental, verbal, sexual, moral e intelectual.

A violência intrafamiliar ocorre no seio familiar, independentemente se o agressor mora na mesma casa ou não, sendo formados por laços sanguíneos, de parentesco ou um agregado, sendo um formato no qual muitas mulheres são submetidas, e as violências que podem ocorrer incluem agressões de cunho sexual, negligência e abandono, psicológico e físico.

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16 A violência conhecida como autodirigida ou auto infligida é fragmentada em duas características: conduta suicida abrangendo pensamentos suicidas e tentativas de se matar, e agressão a si mesmo, no qual inclui atos de automutilação.

A violência institucional ocorre quando é visto qualquer ato constrangedor, fala inapropriada ou omissão dos agentes do Estado e organizações privadas em atender as vítimas de violência, no qual tem o dever de dar o suporte necessário e proteger as vítimas, todavia, se recusam a ampará-las, negando a proteção necessária, ocasionando diversos danos na esfera psicológica, tendo em vista que em inúmeros casos de violência, quando são negados esses amparos, podem ocasionar no óbito da vítima de violência.

A violência patrimonial tem relação com o controle dos bens, referindo-se a qualquer ato no qual tem o objetivo de atingir o patrimônio e dificultar o acesso da vítima à autonomia feminina, consistindo na ideia de destruir, reter bens, danificar os objetos pessoais ou de instrumentos de trabalho, esconder documentos pessoais e até mesmo, tirar ou utilizar, sem consentimento, o dinheiro da vítima.

A violência coletiva é caracterizada por ser praticada por imensos grupos ou por outros países, é fragmentada em violência política, social e econômica, tendo como objetivo exercer uma ação social, englobando crimes realizados por grupos organizados, ataques terroristas, violência contra a multidão e os crimes de ódio. Ademais, violência econômica quando engloba ataques de grandes grupos instigados pelo lucro econômico, exemplificando, ataques executados com o intuito de desintegrar a atividade econômica, interrompendo a entrada aos serviços essenciais, ou gerando fragmentação econômica. Já podemos caracterizar como violência política quando consiste em conflitos violentos e guerra, tal como violência do estado e ações similares realizadas por grandes grupos. E a violência social caracterizado por incluir todos as formas de violência, tendo como base a realidade da sociedade, trata-se de ações violentas que afetam os mais necessitados e desprotegidos, exemplificando, podemos discorrer referente a violência contra a mulher, no qual com base na história, foi diversas vezes inferiorizada e menosprezada em relação ao homem.

A violência física, sendo a mais conhecida por todos pois seria a mais habitual e presente no cotidiano, é caracterizada por toda conduta que tem como objetivo agredir a integridade física ou a saúde da vítima, de forma intencional, utilizando a força. Podendo acarretar em marcas no corpo, através de chutes, socos, e outras diversas condutas que causam lesão corporal, podendo, até mesmo utilizar objetos com a intenção de machucar.

A violência moral é caracterizada por toda conduta que consiste no intuito de violar a imagem da pessoa. Existem diversas formas, como por exemplo: proferir comentários ofensivos diante de estranhos e/ou conhecidos; envergonhar a mulher publicamente; expor a intimidade do

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17 casal para outras pessoas, inclusive nas redes sociais, incriminar publicamente a mulher de cometer crimes, idealizar histórias e/ou proferir falas maldosas da mulher para os outros, tendo o intuito de humilhar ela perante amigos e parentes. Essa modalidade de violência está prevista no Código Penal, onde faz referência às ações de caluniar, difamar ou injuriar. (ALBUQUERQUE 2019).

A violência psicológica são palavras ou atos sutis, está prevista na Lei nº 11.340/06, no art. 7º inciso II, onde discorre que:

Art. 7º, inciso II- a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológico e à autodeterminação.

Ademais, essa violência pode ser identificada quando a vítima é ameaçada, de modo que envolve uma ideia de constranger e humilhar a pessoa. A violência psicológica não deixa lesões aparentes, sendo mais complexa de identificar, visto que está inserida em todas as múltiplas formas de violência, como no ato de menosprezar, xingar e isolar a vítima em determinadas situações, ocasionando em um sentimento de rejeição, insegurança e medo.

Por fim, a violência sexual, o qual vai além do estupro propriamente dito, pois considera-se a presente forma de violência quando identificada uma ação que submeta ao contato físico, empregando a força, dirigindo-se contra as vontades da vítima no momento do ato para que assim obtenha a satisfação sexual que deseja, obrigando-a a manter relação sexual sem sua livre e espontânea vontade, acarretando traumas que iram levar pelo resto da vida.

Na violência sexual é aparente a objetificação, onde o sujeito ativo se apropria do corpo da vítima, tendo como objetivo a sua satisfação sexual. Existem numerosos casos onde um pai, por exemplo, obrigada sua filha a manter relações sexuais, violentando-a, ou em outros casos no qual um marido obriga a mulher a realizar o ato sexual, contra sua vontade.

Outra forma de violência sexual consiste no ato de impedir a mulher de se proteger, utilizando métodos contraceptivos. A violência sexual está prevista na Lei nº 11.340/06, no art.

7º inciso III, onde discorre que:

Art. 7º, inciso III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo

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18 ou que a force ao matrimônio, á gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos.

Como disposto anteriormente, existem múltiplas formas de violência no qual não se se produzem isoladamente, pois fazem parte de uma sequência de episódios recorrentes, e esses atos sempre estiveram presentes no nosso cotidiano. Todos os dias inúmeras mulheres sofrem diversos abusos, sendo torturadas, humilhadas e oprimidas constantemente, e dessa forma temos como foco impedir isso, a luta é árdua, mas com o tempo iremos derrubar todos os muros e combater essa selvageria.

2.3 A VIOLÊNCIA DE GÊNERO

A violência de gênero é consequência de um processo histórico, que dispõe como origem nas categorias de gênero, classe, raça e suas relações com o poder. Vale ressaltar que a concepção desse tipo de violência existente decorre de todo comportamento que tem como base o gênero, com o intuito de ocasionar em morte, dano ou sofrimento. Tal conduta pode ser tanto na esfera física, sexual, bem como na esfera psicológica.

A palavra gênero consiste em uma construção social para gerar o conceito de ser homem e ser mulher em uma determinada sociedade, tendo como conceito particularidades da cultura atribuída a cada um dos sexos, não estando associada ao sexo ou atração sexual, e sim a uma identificação individual. O que é determinado pela cultura como masculino só pode ser conferido partindo-se do feminino, e vice-versa, ocasionando nos modelos de masculinidade e feminilidade que vão ser empregados como padrão dentro de uma sociedade. De acordo Marta Ferreira Santos Farah em sua obra escrita (2004, p.48), expõe que:

“É importante apresentar o conceito de gênero, no qual é um recurso empregado para apresentar à construção social desigual fundamentada na existência de hierarquia entre os sexos e as relevâncias que daí se originam. Essa diferença não é só conceitual, tem efeitos políticos, sociais e culturais”.

O termo gênero consiste nas diferenças biológicas entre os sexos, identifica a desigualdade, porém não reconhece que esta distinção seja um fundamento para a desigualdade de oportunidades e a prática da violência. Com isso, refere-se a um objeto de poder para entender as relações sociais existentes entre a mulher e o homem. Surgiu de uma categoria de análise das ciências sociais para discutir na essência a distinção dos sexos, onde estabelece que os homens são racionais e fortes, já as mulheres são emotivas e fracas.

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19 A concepção de gênero refere-se a um elemento constitutivo de associações sociais fundamentadas sobre as distinções observadas entre os sexos, e o gênero é um primeiro modo de dar significado às relações de poder.

Perante o exposto, vale ressaltar que existem diversas classificações de gênero, de modo que o gênero natural é o sexo do nascimento, onde é notado para que seja encaminhado ao registro de nascimento, ademais, o gênero social é aquela forma baseada em como o indivíduo se comporta perante a sociedade, expondo sua sexualidade, podendo ser masculino, feminino ou andrógeno. Já o gênero andrógeno consiste em uma situação híbrida de tendência masculina e feminina, onde são indivíduos que nem assumem uma postura totalmente masculina ou feminina, mas um misto de ambos os sexos.

Dessa forma, podemos analisar que a diferença existente entre homens e mulheres é cultural, estando presente no decorrer dos anos mesmo com a evolução da sociedade, tratando a mulher como sendo inferior ao homem. As distinções referentes ao gênero, surge desde as particularidades biológicas, todavia não é simplesmente as características que diferencia cada ser humano, a cultura social machista sugere que a mulher é dessemelhante somente por pertencer a esse gênero, inferiorizando e desvalorizando o gênero feminino.

Nos vínculos existentes entre os seres humanos nota-se que as peculiaridades sexuais influenciam os fatores de identificação de papéis socialmente elaborados, bem como nos ideais anteriormente definidos por essa cultura patriarcal, ainda que provado que nas mais diferentes áreas as tarefas podem ser realizadas de forma semelhante entre os gêneros.

A violência de gênero disserta a propagação referente a uma cultura patriarcal, que não tem o objetivo de terminar, visto que mesmo com toda autonomia que a mulher alcançou, ainda é vista pela sociedade como um “objeto” social de dominação, sendo inferiorizadas. De acordo com o Conselho Nacional do Ministério Público (2018, p 30) discorre sobre a violência de gênero:

“O conceito da violência de gênero nada mais é que a falsa imagem da existência de uma hierarquia entre um homem e uma mulher, que se caracteriza com um domínio machista daquele em relação a essa”.

Ademais, a violência de gênero é qualquer ato violento realizado em razão da discriminação de sexo, tendo como intuito causar prejuízo a um indivíduo por conta do gênero a que faz parte, seja homem ou mulher. Todavia, essa violência é mais evidente em relação à mulher, visto que é violentada simplesmente por pertencer a esse gênero, sendo vítima de violência doméstica, sexual, patrimonial, física, psicológica.

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20 2.4 A PRESENÇA DO MACHISMO DENTRO DA SOCIEDADE BRASILEIRA

A sociedade brasileira foi estruturada tendo o machismo enraizado na cultura, vindo do regime patriarcal, fundamentada na ideologia de que o sexo masculino é superior ao sexo feminino, criando uma hierarquia entre ambos, colocando o homem sendo superior a mulher, tendo costume que o principal provedor do lar é o pai, ou seja, enquanto o homem trazia o sustento para casa, as mulheres cuidavam da casa e das crianças, dessa forma as mulheres ficavam submissas aos homens. Nesse mesmo contexto, entende Evelyn Reed (2008, p. 34) que:

“[...] como “corpo doméstico”, naturalmente representa desde ponto de vista social, um “zero”, o “segundo sexo”, ao mesmo tempo que os homens, que sobressaem na vida econômica, política e intelectual, representam um sexo superior. Em concordância com esta propaganda patriarcal, as obrigações maternas da mulher se aparelham para justificar as desigualdades existentes entre os sexos de nossa sociedade e a posição de funcionária ocupada pela mulher”.

Desde a infância foi implantado o machismo na formação e criação das crianças, no qual era imposto para as meninas que as obrigações domésticas elas deveriam realizar e teriam também que cuidar dos filhos. Desse modo, tudo na vida da menina girava em torno desses ensinamentos, fora isso, analisando os brinquedos que recebiam, os mesmos eram voltados às obrigações que vão ter no futuro, como por exemplo, ganhar bonecas e jogos de cozinha.

Já na adolescência, foram criadas para se vestirem de uma forma elegante e meiga, tendo em sua vestimenta saias, utensílios de beleza, vestidos, ensinando as mesmas que dessa forma elas não seriam julgadas, e seriam bem-vistas pela sociedade.

Chegando à vida adulta, deveriam ser recatadas, tendo sempre a pressão de tomar atitudes que levem a aprovação perante a sociedade, induzindo o pensamento de que alguns comportamentos não são adequados a uma mulher de família, foi construída uma imagem de que a mulher precisa de um homem para se sentir completa, devendo casar-se com um homem adequado e bem visto pela sociedade, constituir uma família, fazer todas as vontades do homem, cuidar bem dele, dos filhos e da casa.

Todavia, os homens não precisavam se preocupar com essas regras que eram impostas para a mulher, tinham o poder de escolher a vida que desejar, podendo exercer o trabalho que gostaria de ter, nas mais diversas profissões e altos cargos, o céu é o limite, sendo estimulado para isso, não tendo uma pressão como no caso das mulheres que foram ensinadas desde a infância. Dessa forma, torna-se natural a hierarquia de gêneros, onde os homens serão vistos como fortes, corajosos, já as mulheres serão vistas como fracas e indefesas.

Fora isso, as mulheres lutam todos os dias para não serem inferiorizadas, porém

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21 existem conotações maldosas, que levam a isso, xingando e humilhando as mulheres todos os dias, como por exemplo: “a mulher só sabe pilotar fogão e carrinho de supermercado”, “mulher não sabe dirigir”, sempre denegrindo as mulheres e colocando as mesmas numa posição inferiores a dos homens, alegando que elas não são suficientes ou capazes de exercer tal função.

Todos os dias as mulheres são alvo de críticas, tendo sua imagem desvalorizada, são taxadas como incapazes de realizar as funções que foram concedidas. Levando em consideração o mercado de trabalho, quando uma mulher ocupava cargos e funções de alto valor, ou respeitáveis, eram desvalorizadas pelos homens, sofrendo ataques machistas por simplesmente estarem inseridas no mercado de trabalho e conseguir chegar a cargos de alto valor, tendo que lidar com desrespeito. O autor Damásio de Jesus (2015, p. 7) em sua obra escrita expõe o seguinte pensamento:

“Nas sociedades onde o conceito de gênero feminino tipicamente é mencionado à esfera familiar e à maternidade, a alusão fundamental da construção social do gênero masculino é sua atividade na esfera pública, acumulador dos valores materiais, o que faz dele o fornecedor e protetor da família. Enquanto na atualidade, nessas mesmas sociedades, as mulheres estão maciçamente presentes na força de trabalho e no mundo público, a distribuição da violência reflete a tradicional divisão dos espaços: o homem é a vítima da violência na esfera pública, e a violência contra a mulher é perpetuada no âmbito doméstico, onde o agressor é, mais frequentemente, o próprio cônjuge”.

A mídia e as empresas de marketing contribuem para o aumento do machismo, trazendo propagandas publicitárias utilizando o corpo da mulher como uma forma de promover seus produtos, sendo relacionadas a objetos sexuais.

3 DADOS ESTATÍSTICOS DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO BRASIL

Nas últimas décadas, a violência está presente em vários âmbitos da vida da mulher, se manifestando de diversas formas, atualmente, tornou-se um problema social, ou seja, se tornando recorrente, não afetando somente a mulher, mas ferindo sua família, ocasionando sequelas em torno de todos.

Esse fenômeno social cada dia mais tem-se aumentado, a vítima de violência deve ser amparada, e auxiliada por pessoas especializadas, uma vez que pode acarretar diversos traumas, e as consequências são irreparáveis. Diante do cenário atual, o número de óbitos de mulheres vítimas de violência consequentemente cresceu, ficando evidente que, apesar das inúmeras conquistas das mulheres, ainda na humanidade são taxadas de frágeis e continuam

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22 diariamente sendo oprimidas pelos homens, ocorrendo de forma mais grave no âmbito doméstico.

De acordo com a jornalista Luiza Franco, no site BBC News Brasil, em outubro de 2022, expõe que:

“Nos últimos 12 meses, 1,6 milhão de mulheres sofreram tentativa de estrangulamento, ou são torturadas no Brasil, enquanto 22 milhões (37,1%) de brasileiras passaram por algum tipo de assédio. Dentro de sua casa, a situação somente piorou, tendo um aumento de 42% dentro do âmbito doméstico. Após sofrer uma violência, mais da metade das mulheres, em torno de 52% não denunciou o agressor ou foi atrás de ajuda”.

No Brasil, a cultura de ódio e desprezo contra a mulher está enraizada, sempre submetendo a mulher a pressão psicológica, sofrimentos morais, físicos e sexuais, ferindo sua integridade física, sendo oprimidas por longos períodos. Diante disso, podemos observar, que os números de casos de violência contra mulheres tem aumentado muito, principalmente no âmbito familiar, e com isso cresce o número de mulheres vítimas de homicídio no país, deixando evidente que, ainda a mulher é vista como posse, como um objeto perante os homens, e caso a mesma não realizar as suas vontade, pode acarretar na perda de sua vida. Vale destacar, que na maioria dos casos de assassinato contra a mulher, o assassino vive dentro do próprio lar da vítima, deixando claro que não há um lugar no Brasil onde a mulher está segura. Ademais, analisando as estatísticas, o país registra um caso de agressão a cada quatro minutos. De acordo com Marina Cubas (2019, p. 1) expõe que:

“Em conformidade com os dados que o Ministério da Saúde registra no Brasil, em torno de quatro minutos, uma mulher é violentada por um homem e sobrevive. No ano passado, foram registrados mais de 145 mil casos de violência. Correspondentes a violência física, sexual, psicológica e de outros tipos, em que as vítimas sobreviveram. Visto que, cada registro pode incluir mais de um tipo de violência”.

Dessa forma, a violência fere o princípio da dignidade da pessoa humana, sendo um dos princípios fundamentais dos Direitos Humanos, no qual pode ser compreendido como a garantia das necessidades vitais de cada pessoa. Nesse sentido, aponta a explicação de dignidade nas palavras de Alexandre de Moraes, em sua obra:

“Um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se demonstra singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a presunção ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar de modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos e a busca ao Direito à Felicidade”.

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23 Apesar das garantias dos direitos expostos na Constituição Federal de 1988, que garante direitos iguais para as mulheres e para os homens, e proteção, no cotidiano a realidade é outra, havendo uma discriminação e uma desigualdade entre os gêneros, sendo a mulher vista como objeto perante os homens.

Exibindo um cenário preocupante, o Brasil apresenta um índice de crescimento no Atlas da violência, referente aos casos de homicídios femininos, onde em 2017, ocorreram cerca de 13 mortes por dia de mulheres vítimas de assassinatos, e decorrente disso, nesse mesmo ano por volta de 4.936 mulheres foram assassinadas. Dessa forma, trazendo uma análise que foi realizada de 2007 até 2017, observou-se um número persuasivo, cerce de 30,7% de homicídios de mulheres no Brasil, havendo um aumento de 6,3% em 2017.

Com relação aos homicídios de mulheres, analisando um grupo de 100 mil mulheres, fazendo uma análise de dados registrados no ano de 2007 a 2017 acarretou num aumento de 20,7% na taxa nacional, onde a porcentagem passou de 3,9% para 4,7% mulheres assassinadas.

Com o maior crescimento, ficando em primeiro lugar, o estado do Rio Grande do Norte registrou uma porcentagem de 214,4% de casos, já o Ceará apresentou uma porcentagem de 176,9%, no estado de Sergipe expôs uma porcentagem de 107,0%. Analisando o relatório de 2017 da OMS, o Brasil ocupa a 7ª posição entre as nações mais violentas para as mulheres, em um total de 83 países, visto que a cada duas horas uma mulher é assassinada, trazendo uma taxa de 4,3 mortes para grupo de 100 mil mulheres.

Já apresentando os menores números de casos de homicídio contra a mulher no Brasil, o estado de São Paulo apresenta porcentagem de 2,2% por 100 mil mulheres, já o Distrito Federal apresentou a porcentagem de 2,9%, e por último, o estado de Santa Catarina expos porcentagem de 3,1%.

Observa-se que nos últimos anos, ocorreu um aumento no número de vítimas de homicídios de mulheres no Brasil, sendo preocupante e bastante discutido, acarretando situações cada vez mais apavorantes, dado que o Brasil ocupa o 5ºlugar no ranking mundial de violência contra mulher, demostrando, perante essa colocação, o altíssimo número de casos.

Analisamos que, em inúmeros casos, as mortes ocorrem dentro de suas residências, sendo cometido por conhecidos ou parceiros íntimos, apresentando uma porcentagem de 29,8% com relação a esses casos, que são cometidos dentro do lar, sendo a grande parte utilizada arma de fogo.

Por esse motivo, a curva ascendente e a continuação da violência contra a mulher, revelam a necessidade de uma transformação em relação à cultura, a política e o social, dado que há o dever de fiscalizar essa violência que pode ocasionar em um ato extremo, o homicídio de uma mulher.

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24 No ano de 2017, 221 mil mulheres foram atrás de delegacias para denunciar os atos que sofrem, registrar ocorrências de agressão, e lesão corporal, todavia, o número pode ser maior, tendo em vista que muitas mulheres não acionam as autoridades por medo ou vergonha de denunciar.

A taxa de homicídio relatou uma queda nos índices de assassinatos de mulheres, sendo essa queda de 9,3% entre os anos de 2017 e 2018. No ano de 2018, cerca de 4.519 mulheres foram assassinadas no Brasil, o que representa uma taxa de 4,3 homicídios para cada 100 mil habitantes do sexo feminino. (ATLAS DA VIOLÊNCIA 2020).

Já no ano de 2019, cerca de 3.737 mulheres foram assassinadas no Brasil, sendo um número abaixo das estatísticas registradas em 2018 onde cerca de 4.519 mulher foram assassinadas, tendo uma redução de 17,3% nos números absolutos. A baixa dos números de homicídios de mulheres que foram registrados no ano de 2019 continua com mesma tendência do indicador geral de homicídios (que inclui homens e mulheres), da qual redução, equiparado com o ano anterior, foi de 21,5%.

Esse índice equivale ao total de mulheres vítimas da violência letal no país em 2019, abrangendo tanto situações em que mulheres foram vitimadas em razão de sua condição de gênero feminino, ou seja, em decorrência de violência doméstica ou familiar ou quando há menosprezo ou discriminação à condição de mulher, como também em dinâmicas derivadas da violência urbana, como roubos seguidos de morte e outros conflitos.

Referente aos casos de assassinatos de mulheres no país indica que 3.737 mulheres foram assassinadas no ano de 2019, equivalem a uma taxa de 3,5 vítimas para cada 100 mil habitantes do sexo feminino no Brasil, tendo uma redução de 17,9% em relação a 2018, quando foram registradas 4,3 vítimas para cada 100 mil mulheres.

No ano de 2019, foram registrados 1.246 homicídios de mulheres nos seus lares, o que simboliza que cerca de um porcentual de 33,3% do total de mortes violentas, 20 são de mulheres. Este percentual é próximo da proporção de feminicídios em relação ao total de homicídios femininos registrados pelas Polícias Civis no mesmo ano. Segundo o “Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2020”, 35,5% das mulheres que sofreram homicídios dolosos em 2019 foram vítimas de feminicídios (FBSP, 2020). No entanto, o mesmo Anuário aponta que, entre 2018 e 2019, a taxa de feminicídios por 100 mil mulheres cresceu 7,1%; enquanto este Atlas indica que a taxa de homicídios femininos dentro das residências diminuiu 10,2% no mesmo período. (ATLAS DA VIOLÊNCIA 2021).

Após realizada uma análise nos últimos onze anos, foi verificado que apesar do crescimento do percentual de homicídios de mulheres em seus lares de 10,6% entre os anos de 2009 à 2019, ocorreu uma redução de 20,6% de mortes f ora de suas casas, no mesmo período,

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25 indicando, por meio disso, um provável crescimento da violência doméstica. Uma peculiaridade que diferencia os homicídios de mulheres cometidos dentro e fora das residências é o instrumento usado para realizar tal ato. O principal instrumento usado para cometer os assassinatos de mulheres fora de suas residências seria as armas de fogo, tendo um percentual de 54,2% dos registros, enquanto nos casos dentro das residências essa proporção foi consideravelmente menor, de 37,5%. Isto porque é comum que armas brancas e outros tipos de armas sejam mais utilizadas em crimes cometidos no contexto de violência familiar e doméstica, dado que a fatalidade geralmente decorre de um conflito interpessoal que vai crescendo e no qual o autor da violência costuma recorrer ao objeto que está mais próximo para agredir a companheira.

(ATLAS DA VIOLÊNCIA 2021).

No Brasil, cerca de 1350 mulheres por condições de ser mulher, registrados no 2020, e analisando os casos observaram que na maioria as vítimas foram mortas dentro da própria casa, vale destacar que equiparado com 2019 houve um acréscimo de 0,7%. A cada 9 mulheres 10 foram assassinadas pelo seu companheiro, ex-companheiro ou parente próximo. Foi registrado que a cada 7 hora uma mulher foi morta no Brasil por sua condição de gênero, esse levantamento foi feito pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Essa taxa caiu no ano de 2021, onde registrado Anuário Brasileiro de Segurança Pública, houve uma queda referente aos crimes letais, mas não houve a diminuição da violência contra a mulher, ocorrendo uma baixa no percentual de 3,8%, por 100 mil mulheres, dos homicídios femininos, entre os anos de 2020 e 2021, segundo índices apresentados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

4 A IMPLEMENTAÇÃO DO FEMINICÍDIO NO SISTEMA JURÍDICO PENAL BRASILEIRO

Garantir o direito das mulheres é um trabalho laborioso e árduo. Diante dos índices elevadíssimos de mortes de mulheres no Brasil, apesar do país não possuir um legislação específica para esse tipo de homicídio praticado, o legislador brasileiro analisou que seria de extrema importância penalizar essa conduta de homicídio decorrente da condição do sexo feminino de forma mais rigorosa, pois antes não havia nenhuma punição especial, ou seja, o feminicídio era punido de forma genérica, como sendo homicídio.

Diante do cenário vivenciado, o Congresso Nacional aprovou a Lei 13.104/2015, em 09 de março de 2015, que modificou o art. 121 do CP, acrescentando no § 2º o inciso VI, que inclui o Feminicídio no Código Penal reconhecido como um ato criminoso, no qual o motivo do homicídio relaciona-se com o fato da vida da mulher ser levado a óbito resultante da condição de sexo feminino, à vista disso, individualizou esse homicídio doloso, pois quando cometido contra

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26 a mulher, torna-se uma circunstância qualificadora do crime de homicídio. O art 121, §2º, inciso VI do Código Penal Brasileiro discorre sobre:

Art. 121. Matar alguém:

§ 2º Se o homicídio é cometido:

VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:

Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

Ademais, incluiu o feminicídio como qualificadora do crime de homicídio adicionando esse ato criminoso no rol de crimes hediondos, previstos na lei Lei nº 8.072/1990, dessa forma, os agressores que cometem essa crueldade são penalizados de forma mais rigorosa por matar uma mulher em função da condição do sexo feminino, porém para que seja aplicada essa qualificadora e configurar o Feminicídio não basta que a vítima apenas seja mulher, tem que ocorrer a morte por motivação baseada no gênero.

A violência doméstica e familiar é um crime que infringe os direitos fundamentais e garantias, bem como a integridade psicológica e física da vítima, visto isso, a violência contra a mulher no âmbito doméstico envolve uma relação familiar, estando previsto no artigo 5º da Lei Maria da Penha, no qual expõe que:

Art. 5º da Lei 11340/06: “para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial.

I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;

II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;

III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

Ademais, a lei trouxe também três tipos de aumento de pena exclusivas para o feminicídio, previsto no §7º, vejamos:

§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:

I – durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;

II – contra pessoa menor de 14 (quatorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência;

III – na presença de descendente ou de ascendente da vítima.

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27 De acordo com os inúmeros casos, esse crime é praticado por um companheiro íntimo, podendo ser atual ou ex da vítima, dentro do âmbito doméstico e familiar, que geralmente pode apresentar um histórico de violência contra a própria vítima, podendo iniciar com a agressão verbal, posteriormente com agressão física, com o desfecho cessando a vida da vítima. A morte acontece em razão de menosprezo ou a discriminação à condição de mulher, envolve, por parte do agente, um desdém e desprezo.

4.1 ORIGEM DO TERMO FEMINICÍDIO

O conceito inicial foi trazido por Diana Russel, ativista, feminista e escritora, que empregou a palavra “femicide”, originalmente em inglês, no qual foi utilizada pela primeira vez em 1976 durante um depoimento prestado perante o Tribunal Internacional sobre Crimes Contra as mulheres, localizado em Bruxelas, na Bélgica. Esse evento reuniu cerca de quarenta países com um público estimado de duas mil mulheres. Dessa forma, a mesma apresentou uma ideia de criar uma definição específica para homicídio praticados em função da condição do sexo

feminino. Em 1990, foi dado um conceito de fato referente ao crime de feminicídio, no qual foi definido femicide, criado juntamente com Jane Caput.

Posteriormente, as autoras Diana Russel e Jill Radford lançaram uma obra escrita, em 1992, denominado de “Femicide: the politics of woman killing”, traduzindo para o português

“Femicídios: a política de matar mulheres”, tendo como base pesquisadores da área dos direitos humanos e ativistas, fora isso, diante do cenário de ocorrências nos EUA e na Índia de violência sexual e racismo, também incluíram diversas discussões relacionadas a esses temas, expondo alguns exemplos de feminicídio:

“Introduzem o apedrejamento levando a inúmeros óbitos de mulheres (que eu acredito ser uma forma de feminicídio de tortura); assassinatos de mulheres para a denominada "honra"; assassinatos de estupro; assassinatos de mulheres e meninas por maridos, namorados e namorados, por ter um caso, ser revoltado ou qualquer outro tipo de desculpa; levar a mulher a óbito por imolação por causa de muito pouco dote; mortes como consequências de mutilações genitais;

escravas sexuais femininas, mulheres traficadas e mulheres prostituídas, assassinadas por seus "donos", traficantes, "johns" e proxenetas, e fêmeas mortas por desconhecidos misóginos, considerados como serial killers”.

Após o lançamento do livro, no ano de 1998, inspirou a antropóloga da Universidade Autônoma do México (UAM), Marcela Lagarde, a utilizar o termo para retratar os assassinatos de mulher ocorridos desde 1993, na cidade Ciudad Juárez, onde registraram diversos casos envolvendo crueldade contra a mulher, no qual as vítimas sofriam violência sexual, tinha o corpo

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28 completamente mutilado, os corpos eram expostos, muitas vezes sem os olhos e os seios, tinham suas vidas cessadas por asfixia e os corpos eram jogados em espaços públicos após a morte. Vale destacar, que na maioria dos casos os criminosos não eram encontrados, os jornais publicaram os casos como as “mortas de Juárez'', e os crimes que ocorrem com as vítimas foram tipificados como homicídio simples.

No ano de 2003, Marcela Lagarde foi eleita deputada federal no México e para investigar os atos criminosos contra as mulheres na Ciudad Juarez, situada no Estado de Chihuahua, no norte do México, na fronteira com a cidade de El Paso (Texas/EUA), a mesma criou a Comissão Especial do Feminicídio, dando mais visibilidade aos atos de crueldade que ocorreram contra as mulheres em todo o país e não tratando como apenas um homicídio simples, dessa forma, o termo feminicídio tornou-se conhecido em todo o país. De acordo com Marcela Lagarde em sua obra escrita (2006, p. 221), expõe referente ao feminicídio:

“O feminicídio não é simplesmente uma violência cometida por homens contra mulheres, mas por homens em posição de supremacia social, política, ideológica, libidinoso, jurídica, econômica, e de todo tipo, referente às mulheres em posição de desigualdade, de subordinação, de exploração ou de domínio, e com a característica de exclusão”.

Já no ano de 2007, após averiguar que o ato criminosa tinha um atributo principal de violência de gênero, onde o homicídio de mulheres eram cometidos por homens, sendo motivados por ódio ou num sentido de propriedade sobre as mulheres, sugeriu o projeto de Lei do Feminicídio no país, propondo que seja criada uma lei específica para coibir e punir os assassinatos de mulheres, no qual tornou-se realidade apenas em junho de 2012 e dessa forma, outras países latinos vieram a tipificar o Feminicídio. Por outro lado, Francisco Dirceu Barros (2015), discorre referente ao feminicídio:

“O feminicídio pode ser conceituado como uma qualificadora do crime de homicídio causada pelo ódio contra as mulheres, definido por circunstâncias particulares em que o pertencimento da mulher ao sexo feminino é central na realização do delito. Entre essas circunstâncias estão incluídos: os assassinatos em contexto de violência doméstica/familiar, e o menosprezo ou discriminação à condição de mulher”.

Os atos criminosos que configuram como qualificadora do feminicídio atribuem, no campo simbólico, a extinção da identidade da vítima e de sua condição de mulher. O feminicídio é a qualificadora do crime de homicídio e caracteriza-se por ser a morte da mulher por razões de gênero, ademais, com a condição de estar evidente a violência no âmbito doméstica e familiar ou menosprezo e discriminação à condição de mulher.

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29 4.2 OS MEIOS QUE AUXILIARAM NA FORMAÇÃO DA LEI

Na atualidade, o que antes limitava a atos de violência psicológica, física e verbal, levou a resultar em homicídios, acarretando na morte de inúmeras mulheres, sendo na maioria das vezes, cometida por seus parceiros.

Com a elaboração da Lei Maria da Penha, em 2006, representou um enorme progresso nacional no que se refere ao reconhecimento da necessidade de proteção à mulher. Todavia, a norma não apresentou em seu escopo qualquer tipificação que possa incriminar alguém, tendo apenas como caráter primordial medidas protetivas e preventivas.

Por motivo do volumoso índice de homicídios femininos, particularmente motivados por companheiros íntimos, cometidos na frente de descendentes e ascendentes, praticando atos de violência verbal, psicológica, tornou-se de extrema necessidade tomar providências para combater esses atos criminosos.

Com base nos volumosos números nas estatísticas de assassinatos de mulheres, o legislador brasileiro verificou a precisão de incriminar a conduta de homicídio cometido contra as mulheres. Ademais, na data de 10 de março de 2015 entrou em vigor a Lei n 13.104, onde disserta referente ao Feminicídio e originou-se em 2012, durante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) de Violência contra a Mulher no Brasil e no Projeto de Lei do Senado nº 292 de 2013.

Diante disso, podemos analisar que a Lei do feminicídio não se refere de um tipo penal próprio e sim introduzir mais um tipo de homicídio qualificado, prevendo causas especiais de aumento e dessa forma, alterando a Lei dos Crimes hediondos.

A averiguação da violência contra mulheres não teve início somente com a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que deu oportunidade para a criação da Lei do Feminicídio, ela despertou a atenção do Congresso Nacional em outras ocasiões.

Em março de 1992, foi inaugurado uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para “investigar a questão da violência contra a mulher”, presidida pela Deputada Federal Sandra Starling e possuindo como relatora a também Deputada Federal Etevalda Grassi de Menezes.

De acordo com o relatório da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (SENADO, 2019), formada em 1992, chegaram aos seguintes desfechos:

“a) incontáveis problemas no tocante ao levantamento de dados referente aos índices de violência requeridos perante às Delegacias da Mulher e às Comarcas;

b) ausência de uma nomenclatura unificada alusivo aos índices sobre violência contra a mulher;

c) informações insuficientes ou que foram encaminhadas tardiamente à CPI. E por conta dessa insuficiência de dados, foi vista como reveladora referente ao

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30 descaso por parte das autoridades governamentais que não socorreram as comarcas e as delegacias de recursos humanos e tecnológicos para realizar o levantamento essencial, conforme solicitado na época pela CPI”.

Depois de 20 anos da CPI da violência contra a mulher ser feita, levando em conta o grande aumento de mulheres vítimas, levando a morte delas, o Congresso Nacional inseriu uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Violência contra a Mulher para averiguar, apurar a real e atual situação das mulheres.

A CPMI da Violência contra a Mulher tem como objetivo investigar a situação da violência contra a mulher no Brasil e averiguar as denúncias de omissão por parte do poder público com relação à aplicação de instrumentos instaurados em lei para proteger as mulheres em cenário de violência.

Ao longo do tempo, a CPMI efetuou 24 audiências públicas, visitou inúmeros equipamentos públicos, como tribunais, delegacias, centros de atendimento às mulheres vítimas de violência, conversou com os movimentos de mulheres e examinou centenas de documentos enviados pelos estados.

Conforme o Senado (2012), dentro do período de 1980 a 2010, aproximadamente 91 mil mulheres foram mortas no Brasil, totalizando mais de 43 mil somente na última década, possuindo, na maioria das vezes, a faixa etária entre 15 e 39 anos, sendo essas as que têm mais risco de serem assassinadas, e o local de maior perigo para elas é dentro da própria casa.

O Brasil ocupa a 7º lugar no ranking de assassinatos entre os 84 países do mundo, possuindo uma taxa de 4,4 homicídios em 100 mil mulheres, atrás apenas de El Salvador, Trinidad e Tobago, Guatemala, Rússia e Colômbia.

No que refere-se à violência contra mulheres, analisaram que em 33% das entrevistadas afirmaram já ter sido vítimas de violência em dado momento de sua vida, e sofreram alguma, forma de violência física, (sendo 24% ameaçadas com armas ao cerceamento do direito de ir e vir, 22% de agressões propriamente ditas e 13% de estupro ou abuso); 27% das mulheres sofreram violências psíquicas e somente 11% afirmaram já ter sofrido assédio sexual. E 57% das mulheres afirmaram não ter sido vítimas de nenhum tipo de violência praticada por algum homem.

No ano de 2010, durante o mês de agosto, foi feita uma pesquisa pela Fundação Perseu Abramo, referente às mulheres brasileiras nos espaços privados e públicos, juntamente com o SESC - Serviço Social do Comércio, por meio do Núcleo de Opinião Pública.

Durante essa pesquisa, 2.365 mulheres foram ouvidas, tendo idade acima de 15 anos, englobando as áreas urbanas e rurais de todo o país. Os resultados, de acordo com o relatório de 2010, verificou-se que a cada dois minutos, cinco mulheres são espancadas no Brasil.

Referências

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