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Livro Eletrônico. Aula 00. Direito Constitucional p/ TJ-SP (Escrevente Judiciário - Interior de São Paulo) Pós-Edital

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Aula 00

Direito Constitucional p/ TJ-SP (Escrevente Judiciário - Interior de São Paulo) Pós-Edital

Professores: Equipe Ricardo e Nádia 01, Equipe Ricardo e Nádia 02, Nádia Carolina, Ricardo Vale

(2)

 

! ULA  !!  

TEORIA ! GERAL ! DA ! CONSTITUIÇÃO !  

Conceito de Constituição ... 4 

A Pirâmide de Kelsen – Hierarquia das Normas ... 4 

Aplicabilidade das normas constitucionais ... 9 

Princípios Fundamentais da República Federativa do Brasil ... 14 

1) Regras e Princípios: ... 14 

2) Princípios Fundamentais: ... 14 

2.1 ‑ Fundamentos da República Federativa do Brasil: ... 15 

2.2‑ Forma de Estado / Forma de Governo / Regime Político: ... 20 

2.3‑ Harmonia e Independência entre os Poderes: ... 24 

2.3‑ Objetivos Fundamentais da República Federativa do Brasil: ... 26 

2.4‑ Princípios das Relações Internacionais: ... 28 

Teoria Geral dos Direitos Fundamentais ... 30 

1.  Direitos do Homem x Direitos Fundamentais x Direitos Humanos: ... 30 

2.  As “gerações” de direitos: ... 31 

3.  Características dos Direitos Fundamentais: ... 34 

4.  Limites aos Direitos Fundamentais: ... 37 

5.  Eficácia Horizontal dos Direitos Fundamentais: ... 40 

6.  Os Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988: ... 41 

Direitos e Deveres Individuais e Coletivos: Parte I ... 42 

Questões Comentadas ... 82 

Questões Comentadas ... 109 

Gabarito ... 123 

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A PRESENTA‚ÌO E C RONOGRAMA DE A ULAS

Ol‡, amigos do EstratŽgia Concursos, tudo bem?

ƒ com enorme alegria que damos in’cio hoje ao nosso ÒCurso de Direito Constitucional p/ TJ-SP (Escrevente Judici‡rio Ð Interior de S‹o Paulo)Ó, focado na banca Vunesp e no edital de dezembro de 2017. Antes de qualquer coisa, pedimos licen•a para nos apresentar:

- N‡dia Carolina: Sou professora de Direito Constitucional do EstratŽgia Concursos desde 2011. Trabalhei como Auditora-Fiscal da Receita Federal do Brasil de 2010 a 2015, tendo sido aprovada no concurso de 2009. Tenho uma larga experi•ncia em concursos pœblicos, j‡ tendo sido aprovada para os seguintes cargos: CGU 2008 (6¼ lugar), TRE/GO 2008 (22¼ lugar) ATA-MF 2009 (2¼ lugar), Analista-Tribut‡rio RFB (16¼ lugar) e Auditor-Fiscal RFB (14¼ lugar).

- Ricardo Vale: Sou professor e coordenador pedag—gico do EstratŽgia Concursos. Entre 2008-2014, trabalhei como Analista de ComŽrcio Exterior (ACE/MDIC), concurso no qual fui aprovado em 3¼ lugar.

Ministro aulas presenciais e online nas disciplinas de Direito Constitucional, ComŽrcio Internacional e Legisla•‹o Aduaneira. AlŽm das aulas, tenho tr•s grandes paix›es na minha vida: a Prof» N‡dia, a minha pequena Sofia e o pequeno JP (Jo‹o Paulo)!! 

Como voc• j‡ deve ter percebido, esse curso ser‡ elaborado a 4 m‹os. Eu (N‡dia) ficarei respons‡vel pelas aulas escritas, enquanto o Ricardo ficar‡

por conta das videoaulas. Tenham certeza: iremos nos esfor•ar bastante para produzir o melhor e mais completo conteœdo para voc•s.

Vejamos como ser‡ o cronograma do nosso curso:

Aulas T—picos abordados Data

Aula 00 Conceitos introdut—rios. Direitos e deveres individuais e coletivos (Parte 01).

- Aula 01 Direitos e deveres individuais e coletivos (Parte 02). 26/12

Aula 02 Direitos sociais. Nacionalidade. 27/12

Aula 03 Administra•‹o Pœblica. 29/12

Aula Extra Art. 92. 30/12

Dito tudo isso, j‡ podemos partir para a nossa aula 00! Todos preparados?

Um grande abra•o, N‡dia e Ricardo

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Para tirar dœvidas e ter acesso a dicas e conteœdos gratuitos, acesse nossas redes sociais:

Facebook do Prof. Ricardo Vale:

https://www.facebook.com/profricardovale

Canal do YouTube do Ricardo Vale:

https://www.youtube.com/channel/UC32LlMyS96biplI715yzS9Q Periscope do Prof. Ricardo Vale: @profricardovale

 

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Conceito de Constitui•‹o

Come•amos esse t—pico com a seguinte pergunta: o que se entende por Constitui•‹o?

Objeto de estudo do Direito Constitucional, a Constitui•‹o Ž a lei fundamental e suprema de um Estado, criada pela vontade soberana do povo. ƒ ela que determina a organiza•‹o pol’tico-jur’dica do Estado, dispondo sobre a sua forma, os —rg‹os que o integram e as compet•ncias destes e, finalmente, a aquisi•‹o e o exerc’cio do poder. Cabe tambŽm a ela estabelecer as limita•›es ao poder do Estado e enumerar os direitos e garantias fundamentais.1

A concep•‹o de constitui•‹o ideal foi preconizada por J. J. Canotilho. Trata- se de constitui•‹o de car‡ter liberal, que apresenta os seguintes elementos:

a) Deve ser escrita;

b) Deve conter um sistema de direitos fundamentais individuais (liberdades negativas);

c) Deve conter a defini•‹o e o reconhecimento do princ’pio da separa•‹o dos poderes;

d) Deve adotar um sistema democr‡tico formal.

Note que todos esses elementos est‹o intrinsecamente relacionados ˆ limita•‹o do poder coercitivo do Estado. Cabe destacar, por estar relacionado ao conceito de constitui•‹o ideal, o que disp›e o art. 16, da Declara•‹o Universal dos Direitos do Homem e do Cidad‹o (1789): ÒToda sociedade na qual n‹o est‡ assegurada a garantia dos direitos nem determinada a separa•‹o de poderes, n‹o tem constitui•‹o.Ó

ƒ importante ressaltar que a doutrina n‹o Ž pac’fica quanto ˆ defini•‹o do conceito de constitui•‹o, podendo este ser analisado a partir de diversas concep•›es. Isso porque o Direito n‹o pode ser estudado isoladamente de outras ci•ncias sociais, como Sociologia e Pol’tica, por exemplo.

A Pir‰mide de Kelsen Ð Hierarquia das Normas

Para compreender bem o Direito Constitucional, Ž fundamental que estudemos a hierarquia das normas, atravŽs do que a doutrina denomina Òpir‰mide de KelsenÓ. Essa pir‰mide foi concebida pelo jurista austr’aco para fundamentar       

1  MORAES, Alexandre de. Constitui•‹o do Brasil Interpretada e Legisla•‹o Constitucional, 9» edi•‹o. S‹o Paulo Editora Atlas: 2010, pp. 17.

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a sua teoria, baseada na ideia de que as normas jur’dicas inferiores (normas fundadas) retiram seu fundamento de validade das normas jur’dicas superiores (normas fundantes).

Iremos, a seguir, nos utilizar da Òpir‰mide de KelsenÓ para explicar o escalonamento normativo no ordenamento jur’dico brasileiro.

A pir‰mide de Kelsen tem a Constitui•‹o como seu vŽrtice (topo), por ser esta fundamento de validade de todas as demais normas do sistema. Assim, nenhuma norma do ordenamento jur’dico pode se opor ˆ Constitui•‹o: ela Ž superior a todas as demais normas jur’dicas, as quais s‹o, por isso mesmo, denominadas infraconstitucionais.

Na Constitui•‹o, h‡ normas constitucionais origin‡rias e normas constitucionais derivadas. As normas constitucionais origin‡rias s‹o produto do Poder Constituinte Origin‡rio (o poder que elabora uma nova Constitui•‹o);

elas integram o texto constitucional desde que ele foi promulgado, em 1988.

J‡ as normas constitucionais derivadas s‹o aquelas que resultam da manifesta•‹o do Poder Constituinte Derivado (o poder que altera a Constitui•‹o); s‹o as chamadas emendas constitucionais, que tambŽm se situam no topo da pir‰mide de Kelsen.

ƒ relevante destacar, nesse ponto, alguns entendimentos doutrin‡rios e jurisprudenciais bastante cobrados em prova acerca da hierarquia das normas constitucionais (origin‡rias e derivadas):

a) N‹o existe hierarquia entre normas constitucionais origin‡rias. Assim, n‹o importa qual Ž o conteœdo da norma. Todas as normas constitucionais origin‡rias t•m o mesmo status hier‡rquico.

Nessa —tica, as normas definidoras de direitos e garantias fundamentais t•m a mesma hierarquia do ADCT (Atos das Disposi•›es Constitucionais Transit—rias) ou mesmo do art. 242, ¤ 2¼, que disp›e que o ColŽgio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, ser‡ mantido na —rbita federal.

b) N‹o existe hierarquia entre normas constitucionais origin‡rias e normas constitucionais derivadas. Todas elas se situam no mesmo patamar.

c) Embora n‹o exista hierarquia entre normas constitucionais origin‡rias e derivadas, h‡ uma importante diferen•a entre elas: as normas constitucionais origin‡rias n‹o podem ser declaradas inconstitucionais. Em outras palavras, as normas constitucionais origin‡rias n‹o podem ser objeto de controle de constitucionalidade. J‡

as emendas constitucionais (normas constitucionais derivadas) poder‹o, sim, ser objeto de controle de constitucionalidade.

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d) O alem‹o Otto Bachof desenvolveu relevante obra doutrin‡ria denominada ÒNormas constitucionais inconstitucionaisÓ, na qual defende a possibilidade de que existam normas constitucionais origin‡rias eivadas de inconstitucionalidade. Para o jurista, o texto constitucional possui dois tipos de normas: as cl‡usulas pŽtreas (normas cujo conteœdo n‹o pode ser abolido pelo Poder Constituinte Derivado) e as normas constitucionais origin‡rias. As cl‡usulas pŽtreas, na vis‹o de Bachof, seriam superiores ˆs demais normas constitucionais origin‡rias e, portanto, serviriam de par‰metro para o controle de constitucionalidade destas. Assim, o jurista alem‹o considerava leg’timo o controle de constitucionalidade de normas constitucionais origin‡rias. No entanto, bastante cuidado: no Brasil, a tese de Bachof n‹o Ž admitida. As cl‡usulas pŽtreas se encontram no mesmo patamar hier‡rquico das demais normas constitucionais origin‡rias.

Com a promulga•‹o da Emenda Constitucional n¼ 45/2004, abriu-se uma nova e importante possibilidade no ordenamento jur’dico brasileiro. Os tratados e conven•›es internacionais de direitos humanos aprovados em cada Casa do Congresso Nacional (C‰mara dos Deputados e Senado Federal), em dois turnos, por tr•s quintos dos votos dos respectivos membros, passaram a ser equivalentes ˆs emendas constitucionais. Situam-se, portanto, no topo da pir‰mide de Kelsen, tendo ÒstatusÓ de emenda constitucional.

Diz-se que os tratados de direitos humanos, ao serem aprovados por esse rito especial, ingressam no chamado Òbloco de constitucionalidadeÓ. Em virtude da matŽria de que tratam (direitos humanos), esses tratados est‹o gravados por cl‡usula pŽtrea2 e, portanto, imunes ˆ denœncia3 pelo Estado brasileiro. O primeiro tratado de direitos humanos a receber o status de emenda constitucional foi a ÒConven•‹o Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Defici•ncia e seu Protocolo FacultativoÓ.

Os demais tratados internacionais sobre direitos humanos, aprovados pelo rito ordin‡rio, t•m, segundo o STF, ÒstatusÓ supralegal. Isso significa que se situam logo abaixo da Constitui•‹o e acima das demais normas do ordenamento jur’dico.

A EC n¼ 45/2004 trouxe ao Brasil, portanto, segundo o Prof. ValŽrio Mazzuoli, um novo tipo de controle da produ•‹o normativa domŽstica: o controle de convencionalidade das leis. Assim, as leis internas estariam sujeitas a um       

2 Estudaremos mais ˆ frente sobre as cl‡usulas pŽtreas, que s‹o normas que n‹o podem ser objeto de emenda constitucional tendente a aboli-las. As cl‡usulas pŽtreas est‹o previstas no art. 60, ¤ 4¼, da CF/88. Os direitos e garantias individuais s‹o cl‡usulas pŽtreas (art. 60, ¤ 4¼, inciso IV).

3 Denœncia Ž o ato unilateral por meio do qual um Estado se desvincula de um tratado internacional.

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duplo processo de compatibiliza•‹o vertical, devendo obedecer aos comandos previstos na Carta Constitucional e, ainda, aos previstos em tratados internacionais de direitos humanos regularmente incorporados ao ordenamento jur’dico brasileiro.4

As normas imediatamente abaixo da Constitui•‹o (infraconstitucionais) e dos tratados internacionais sobre direitos humanos s‹o as leis (complementares, ordin‡rias e delegadas), as medidas provis—rias, os decretos legislativos, as resolu•›es legislativas, os tratados internacionais em geral incorporados ao ordenamento jur’dico e os decretos aut™nomos. Todas essas normas ser‹o estudadas em detalhes em aula futura, n‹o se preocupe! Neste momento, quero apenas que voc• guarde quais s‹o as normas infraconstitucionais e que elas n‹o possuem hierarquia entre si, segundo doutrina majorit‡ria. Essas normas s‹o prim‡rias, sendo capazes de gerar direitos e criar obriga•›es, desde que n‹o contrariem a Constitui•‹o.

Novamente, gostar’amos de trazer ˆ baila alguns entendimentos doutrin‡rios e jurisprudenciais muito cobrados em prova:

a) Ao contr‡rio do que muitos podem ser levados a acreditar, as leis federais, estaduais, distritais e municipais possuem o mesmo grau hier‡rquico. Assim, um eventual conflito entre leis federais e estaduais ou entre leis estaduais e municipais n‹o ser‡ resolvido por um critŽrio hier‡rquico; a solu•‹o depender‡ da reparti•‹o constitucional de compet•ncias. Deve-se perguntar o seguinte: de qual ente federativo (Uni‹o, Estados ou Munic’pios) Ž a compet•ncia para tratar do tema objeto da lei? Nessa —tica, Ž plenamente poss’vel que, num caso concreto, uma lei municipal prevale•a diante de uma lei federal.

b) Existe hierarquia entre a Constitui•‹o Federal, as Constitui•›es Estaduais e as Leis Org‰nicas dos Munic’pios? Sim, a Constitui•‹o Federal est‡ num patamar superior ao das Constitui•›es Estaduais que, por sua vez, s‹o hierarquicamente superiores ˆs Leis Org‰nicas.

b) As leis complementares, apesar de serem aprovadas por um procedimento mais dificultoso, t•m o mesmo n’vel hier‡rquico das leis ordin‡rias. O que as diferencia Ž o conteœdo: ambas t•m campos de atua•‹o diversos, ou seja, a matŽria (conteœdo) Ž diferente. Como exemplo, citamos o fato de que a CF/88 exige que normas gerais sobre direito tribut‡rio sejam estabelecidas por lei complementar.

      

4   MAZZUOLI, ValŽrio de Oliveira. Teoria Geral do Controle de Convencionalidade no Direito Brasileiro. In: Controle de Convencionalidade: um panorama latino-americano.

Gazeta Jur’dica. Bras’lia: 2013.

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c) As leis complementares podem tratar de tema reservado ˆs leis ordin‡rias. Esse entendimento deriva da —tica do Òquem pode mais, pode menosÓ. Ora, se a CF/88 exige lei ordin‡ria (cuja aprova•‹o Ž mais simples!) para tratar de determinado assunto, n‹o h‡ —bice a que uma lei complementar regule o tema. No entanto, caso isso ocorra, a lei complementar ser‡ considerada materialmente ordin‡ria; essa lei complementar poder‡, ent‹o, ser revogada ou modificada por simples lei ordin‡ria. Diz-se que, nesse caso, a lei complementar ir‡

subsumir-se ao regime constitucional da lei ordin‡ria. 5

d) As leis ordin‡rias n‹o podem tratar de tema reservado ˆs leis complementares. Caso isso ocorra, estaremos diante de um caso de inconstitucionalidade formal (nomodin‰mica).

e) Os regimentos dos tribunais do Poder Judici‡rio s‹o considerados normas prim‡rias, equiparados hierarquicamente ˆs leis ordin‡rias.

Na mesma situa•‹o, encontram-se as resolu•›es do CNMP (Conselho Nacional do MinistŽrio pœblico) e do CNJ (Conselho Nacional de Justi•a).

f) Os regimentos das Casas Legislativas (Senado e C‰mara dos Deputados), por constitu’rem resolu•›es legislativas, tambŽm s‹o considerados normas prim‡rias, equiparados hierarquicamente ˆs leis ordin‡rias.

Finalmente, abaixo das leis encontram-se as normas infralegais. Elas s‹o normas secund‡rias, n‹o tendo poder de gerar direitos, nem, tampouco, de impor obriga•›es. N‹o podem contrariar as normas prim‡rias, sob pena de invalidade. ƒ o caso dos decretos regulamentares, portarias, das instru•›es normativas, dentre outras. Tenham bastante cuidado para n‹o confundir os decretos aut™nomos (normas prim‡rias, equiparadas ˆs leis) com os decretos regulamentares (normas secund‡rias, infralegais).

      

5AI 467822 RS, p. 04-10-2011. 

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(MPE-BA Ð 2015) Existe hierarquia entre lei complementar e lei ordin‡ria, bem como entre lei federal e estadual.

Coment‡rios:

N‹o h‡ hierarquia entre lei ordin‡ria e lei complementar.

Elas t•m o mesmo n’vel hier‡rquico. TambŽm n‹o h‡

hierarquia entre lei federal e lei estadual. Quest‹o errada.

Aplicabilidade das normas constitucionais

O estudo da aplicabilidade das normas constitucionais Ž essencial ˆ correta interpreta•‹o da Constitui•‹o Federal. ƒ a compreens‹o da aplicabilidade das normas constitucionais que nos permitir‡ entender exatamente o alcance e a realizabilidade dos diversos dispositivos da Constitui•‹o.

Todas as normas constitucionais apresentam juridicidade. Todas elas s‹o imperativas e cogentes ou, em outras palavras, todas as normas constitucionais surtem efeitos jur’dicos: o que varia entre elas Ž o grau de efic‡cia.

A doutrina americana (cl‡ssica) distingue duas espŽcies de normas constitucionais quanto ˆ aplicabilidade: as normas autoexecut‡veis (Òself executingÓ) e as normas n‹o-autoexecut‡veis.

CONSTITUIÇÃO, EMENDAS CONSTITUCIONAIS E TRATADOS  INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS HUMANOS APROVADOS COMO 

EMENDAS CONSTITUCIONAIS

OUTROS TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS HUMANOS

LEIS COMPLEMENTARES, ORDINÁRIAS E DELEGADAS, MEDIDAS  PROVISÓRIAS, DECRETOS LEGISLATIVOS, RESOLUÇÕES 

LEGISLATIVAS, TRATADOS INTERNACIONAIS EM GERAL E DECRETOS  AUTÔNOMOS

NORMAS INFRALEGAIS

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As normas autoexecut‡veis s‹o normas que podem ser aplicadas sem a necessidade de qualquer complementa•‹o. S‹o normas completas, bastantes em si mesmas. J‡ as normas n‹o-autoexecut‡veis dependem de complementa•‹o legislativa antes de serem aplicadas: s‹o as normas incompletas, as normas program‡ticas (que definem diretrizes para as pol’ticas pœblicas) e as normas de estrutura•‹o (instituem —rg‹os, mas deixam para a lei a tarefa de organizar o seu funcionamento). 6

Embora a doutrina americana seja bastante did‡tica, a classifica•‹o das normas quanto ˆ sua aplicabilidade mais aceita no Brasil foi a proposta pelo Prof. JosŽ Afonso da Silva.

A partir da aplicabilidade das normas constitucionais, JosŽ Afonso da Silva classifica as normas constitucionais em tr•s grupos: i) normas de efic‡cia plena; ii) normas de efic‡cia contida e; iii) normas de efic‡cia limitada.

1) Normas de efic‡cia plena:  

S‹o aquelas que, desde a entrada em vigor da Constitui•‹o, produzem, ou t•m possibilidade de produzir, todos os efeitos que o legislador constituinte quis regular. ƒ o caso do art. 2¼ da CF/88, que diz: Òs‹o Poderes da Uni‹o, independentes e harm™nicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judici‡rioÓ.

As normas de efic‡cia plena possuem as seguintes caracter’sticas:

a) s‹o autoaplic‡veis, Ž dizer, elas independem de lei posterior regulamentadora que lhes complete o alcance e o sentido. Isso n‹o quer dizer que n‹o possa haver lei regulamentadora versando sobre uma norma de efic‡cia plena; a lei regulamentadora atŽ pode existir, mas a norma de efic‡cia plena j‡ produz todos os seus efeitos de imediato, independentemente de qualquer tipo de regulamenta•‹o.

b) s‹o n‹o-restring’veis, ou seja, caso exista uma lei tratando de uma norma de efic‡cia plena, esta n‹o poder‡ limitar sua aplica•‹o.

c) possuem aplicabilidade direta (n‹o dependem de norma regulamentadora para produzir seus efeitos), imediata (est‹o aptas a produzir todos os seus efeitos desde o momento em que Ž promulgada a Constitui•‹o) e integral (n‹o podem sofrer limita•›es ou restri•›es em sua aplica•‹o).

2) Normas constitucionais de efic‡cia contida ou prospectiva:

      

6 FERREIRA FILHO, Manoel Gon•alves. Curso de Direito Constitucional, 38» edi•‹o. Editora Saraiva, S‹o Paulo: 2012, pp. 417-418.

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S‹o normas que est‹o aptas a produzir todos os seus efeitos desde o momento da promulga•‹o da Constitui•‹o, mas que podem ser restringidas por parte do Poder Pœblico. Cabe destacar que a atua•‹o do legislador, no caso das normas de efic‡cia contida, Ž discricion‡ria: ele n‹o precisa editar a lei, mas poder‡ faz•-lo.

Um exemplo cl‡ssico de norma de efic‡cia contida Ž o art.5¼, inciso XIII, da CF/88, segundo o qual ÒŽ livre o exerc’cio de qualquer trabalho, of’cio ou profiss‹o, atendidas as qualifica•›es profissionais que a lei estabelecerÓ. Em raz‹o desse dispositivo, Ž assegurada a liberdade profissional: desde a promulga•‹o da Constitui•‹o, todos j‡ podem exercer qualquer trabalho, of’cio ou profiss‹o. No entanto, a lei poder‡ estabelecer restri•›es ao exerc’cio de algumas profiss›es. Citamos, por exemplo, a exig•ncia de aprova•‹o no exame da OAB como prŽ-requisito para o exerc’cio da advocacia.

As normas de efic‡cia contida possuem as seguintes caracter’sticas:

a) s‹o autoaplic‡veis, ou seja, est‹o aptas a produzir todos os seus efeitos, independentemente de lei regulamentadora. Em outras palavras, n‹o precisam de lei regulamentadora que lhes complete o alcance ou sentido. Vale destacar que, antes da lei regulamentadora ser publicada, o direito previsto em uma norma de efic‡cia contida pode ser exercitado de maneira ampla (plena); s— depois da regulamenta•‹o Ž que haver‡ restri•›es ao exerc’cio do direito.

b) s‹o restring’veis, isto Ž, est‹o sujeitas a limita•›es ou restri•›es, que podem ser impostas por:

- uma lei: o direito de greve, na iniciativa privada, Ž norma de efic‡cia contida prevista no art. 9¼, da CF/88. Desde a promulga•‹o da CF/88, o direito de greve j‡ pode exercido pelos trabalhadores do regime celetista; no entanto, a lei poder‡ restringi-lo, definindo os Òservi•os ou atividades essenciaisÓ e dispondo sobre Òo atendimento das necessidades inadi‡veis da comunidadeÓ.

Art. 9¼ ƒ assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exerc•-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.

¤ 1¼ - A lei definir‡ os servi•os ou atividades essenciais e dispor‡ sobre o atendimento das necessidades inadi‡veis da comunidade.

- outra norma constitucional: o art. 139, da CF/88 prev• a possibilidade de que sejam impostas restri•›es a certos direitos e garantias fundamentais durante o estado de s’tio.

- conceitos Žtico-jur’dicos indeterminados: o art. 5¼, inciso XXV, da CF/88 estabelece que, no caso de Òiminente perigo pœblicoÓ, o

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Estado poder‡ requisitar propriedade particular. Esse Ž um conceito Žtico-jur’dico que poder‡, ent‹o, limitar o direito de propriedade.

c) possuem aplicabilidade direta (n‹o dependem de norma regulamentadora para produzir seus efeitos), imediata (est‹o aptas a produzir todos os seus efeitos desde o momento em que Ž promulgada a Constitui•‹o) e possivelmente n‹o-integral (est‹o sujeitas a limita•›es ou restri•›es).

(Advogado FUNASG Ð 2015) As normas de efic‡cia contida t•m efic‡cia plena atŽ que seja materializado o fator de restri•‹o imposto pela lei infraconstitucional.

Coment‡rios:

As normas de efic‡cia contida s‹o restring’veis por lei infraconstitucional. AtŽ que essa lei seja publicada, a norma de efic‡cia contida ter‡ aplica•‹o integral. Quest‹o correta

3) Normas constitucionais de efic‡cia limitada:  

S‹o aquelas que dependem de regulamenta•‹o futura para produzirem todos os seus efeitos. Um exemplo de norma de efic‡cia limitada Ž o art. 37, inciso VII, da CF/88, que trata do direito de greve dos servidores pœblicos (Òo direito de greve ser‡ exercido nos termos e nos limites definidos em lei espec’ficaÓ).

Ao ler o dispositivo supracitado, Ž poss’vel perceber que a Constitui•‹o Federal de 1988 outorga aos servidores pœblicos o direito de greve; no entanto, para que este possa ser exercido, faz-se necess‡ria a edi•‹o de lei ordin‡ria que o regulamente. Assim, enquanto n‹o editada essa norma, o direito n‹o pode ser usufru’do.

As normas constitucionais de efic‡cia limitada possuem as seguintes caracter’sticas:

a) s‹o n‹o-autoaplic‡veis, ou seja, dependem de complementa•‹o legislativa para que possam produzir os seus efeitos.

b) possuem aplicabilidade indireta (dependem de norma regulamentadora para produzir seus efeitos) mediata (a promulga•‹o do texto constitucional n‹o Ž suficiente para que possam produzir todos os seus efeitos) e reduzida (possuem um grau de efic‡cia restrito quando da promulga•‹o da Constitui•‹o).

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Muito cuidado para n‹o confundir!

As normas de efic‡cia contida est‹o aptas a produzir todos os seus efeitos desde o momento em que a Constitui•‹o Ž promulgada. A lei posterior, caso editada, ir‡ restringir a sua aplica•‹o.

As normas de efic‡cia limitada n‹o est‹o aptas a produzirem todos os seus efeitos com a promulga•‹o da Constitui•‹o; elas dependem, para isso, de uma lei posterior, que ir‡ ampliar o seu alcance.

(Advogado FUNASG Ð 2015) As normas constitucionais de efic‡cia limitada s‹o aquelas que, no momento em que a Constitui•‹o Ž promulgada, n‹o t•m o cond‹o de produzir todos os seus efeitos, necessitando de lei integrativa infraconstitucional.

Coment‡rios:

ƒ isso mesmo! As normas de efic‡cia limitada n‹o produzem todos os seus efeitos no momento em que a Constitui•‹o Ž promulgada. Para produzirem todos os seus efeitos, elas dependem da edi•‹o de lei regulamentadora. Quest‹o correta.

(CNMP Ð 2015) As normas constitucionais de aplicabilidade diferida e mediata, que n‹o s‹o dotadas de efic‡cia jur’dica e n‹o vinculam o legislador infraconstitucional aos seus vetores, s‹o de efic‡cia contida.

Coment‡rios:

As normas de efic‡cia limitada Ž que t•m aplicabilidade diferida e mediata. Cabe destacar que as normas de efic‡cia limitada possuem efic‡cia jur’dica e vinculam o legislador infraconstitucional. Quest‹o errada.

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Princ’pios Fundamentais da Repœblica Federativa do Brasil

1) Regras e Princ’pios:

Antes de tratarmos dos princ’pios fundamentais da Repœblica Federativa do Brasil, Ž necess‡rio que compreendamos dois conceitos: o de regras e o de princ’pios.

De in’cio, vale destacar que as normas se dividem em dois tipos: i) regras e; ii) princ’pios. Em outras palavras, regras e princ’pios s‹o espŽcie do g•nero normas; se estivermos tratando de regras e princ’pios (impl’citos e expl’citos) previstos na Constitui•‹o, estaremos nos referindo a normas constitucionais.

As regras s‹o mais concretas, servindo para definir condutas. J‡ os princ’pios s‹o mais abstratos: n‹o definem condutas, mas sim diretrizes para que se alcance a m‡xima concretiza•‹o da norma. As regras n‹o admitem o cumprimento ou descumprimento parcial, seguindo a l—gica do Òtudo ou nadaÓ. Ou s‹o cumpridas totalmente, ou, ent‹o, descumpridas. Portanto, quando duas regras entram em conflito, cabe ao aplicador do direito determinar qual delas foi suprimida pela outra.

Por outro lado, os princ’pios podem ser cumpridos apenas parcialmente. No caso de colis‹o entre princ’pios, o conflito Ž apenas aparente, ou seja, um n‹o ser‡ exclu’do pelo outro. Assim, apesar de a Constitui•‹o, por exemplo, garantir a livre manifesta•‹o do pensamento (art. 5¼, IV, CF/88), esse direito n‹o Ž absoluto. Ele encontra limites na prote•‹o ˆ vida privada (art. 5¼, X, CF/88), outro direito protegido constitucionalmente.

2) Princ’pios Fundamentais:

Os princ’pios constitucionais, segundo Canotilho, podem ser de duas espŽcies:

a) Princ’pios pol’tico-constitucionais: representam decis›es pol’ticas fundamentais, conformadoras de nossa Constitui•‹o. S‹o os chamados princ’pios fundamentais, que estudaremos a seguir, os quais preveem as caracter’sticas essenciais do Estado brasileiro. Como exemplo de princ’pios pol’tico-constitucionais, citamos o princ’pio da separa•‹o de poderes, a indissolubilidade do v’nculo federativo, o pluralismo pol’tico e a dignidade da pessoa humana.

b) Princ’pios jur’dico-constitucionais: s‹o princ’pios gerais referentes ˆ ordem jur’dica nacional, encontrando-se dispersos pelo texto constitucional. Em regra, derivam dos princ’pios pol’tico- constitucionais. Como exemplo de princ’pios jur’dico constitucionais,

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citamos os princ’pios do devido processo legal, do juiz natural e da legalidade.

Uma vez entendidos esses conceitos, passaremos ˆ an‡lise dos princ’pios fundamentais (pol’tico-constitucionais), respons‡veis pela determina•‹o das caracter’sticas essenciais do Estado brasileiro.

Princ’pios Fundamentais s‹o os valores que orientaram o Poder Constituinte Origin‡rio na elabora•‹o da Constitui•‹o, ou seja, s‹o suas escolhas pol’ticas fundamentais. Segundo Canotilho, s‹o os princ’pios constitucionais politicamente conformadores do Estado, que explicitam as valora•›es pol’ticas fundamentais do legislador constituinte, revelando as concep•›es pol’ticas triunfantes numa Assembleia Constituinte, constituindo- se, assim, no cerne pol’tico de uma Constitui•‹o pol’tica. 7

Na Constitui•‹o Federal de 1988, os princ’pios fundamentais est‹o dispostos no T’tulo I, o qual Ž composto por quatro artigos. Cada um desses dispositivos apresenta um tipo de princ’pio fundamental. O art. 1¼ trata dos fundamentos da Repœblica Federativa do Brasil (RFB); o art. 2¼, do princ’pio da separa•‹o de Poderes; o art. 3¼, dos objetivos fundamentais; e o art. 4¼, dos princ’pios da RFB nas rela•›es internacionais.

Se uma quest‹o disser que um determinado fundamento da RFB (por exemplo, a soberania) Ž um princ’pio fundamental, ela estar‡ correta. Da mesma forma, se uma quest‹o disser que um objetivo fundamental da RFB (por exemplo, Òconstruir uma sociedade livre, justa e solid‡riaÓ), Ž um princ’pio fundamental, ela tambŽm estar‡ correta. Ou, ainda, se a quest‹o afirmar que um princ’pio das rela•›es internacionais (por exemplo, Òigualdade entre os EstadosÓ), Ž um princ’pio fundamental, esta, mais uma vez, estar‡ correta.

A explica•‹o para isso Ž o fato de que os art. 1¼ - art. 4¼ evidenciam, todos eles, espŽcies de princ’pios fundamentais.

2.1 - Fundamentos da Repœblica Federativa do Brasil:

Os fundamentos da Repœblica Federativa do Brasil est‹o previstos no art. 1¼, da Constitui•‹o Federal de 1988. S‹o eles os pilares, a base do ordenamento jur’dico brasileiro.

      

7 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constitui•‹o, p. 1091-92.

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Art. 1¼ A Repœblica Federativa do Brasil, formada pela uni‹o indissolœvel dos Estados e Munic’pios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democr‡tico de Direito e tem como fundamentos:

I - a soberania;

II - a cidadania;

III - a dignidade da pessoa humana;

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V - o pluralismo pol’tico.

Par‡grafo œnico. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constitui•‹o.

Para memoriz‡-los, usamos a famosa sigla ÒSOCIDIVAPLUÓ: soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana, valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e pluralismo pol’tico.

A soberania Ž um atributo essencial ao Estado, garantindo que sua vontade n‹o se subordine a qualquer outro poder, seja no plano interno ou no plano internacional. A soberania Ž considerada um poder supremo e independente: supremo porque n‹o est‡ limitado a nenhum outro poder na ordem interna; independente porque, no plano internacional, n‹o se subordina ˆ vontade de outros Estados.8

Assim, no ‰mbito interno, as normas e decis›es elaboradas pelo Estado prevalecem sobre as emanadas de grupos sociais intermedi‡rios como fam’lia,       

8 CAETANO, Marcelo. Direito Constitucional, 2» edi•‹o. Rio de Janeiro, Forense, 1987, volume 1, pag. 169.  

S O C I D I V A PL U SOBERANIA

CIDADANIA

DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

VALORES SOCIAIS DO TRABALHO E DA LIVRE  INICIATIVA

PLURALISMO POLÍTICO

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escola e igreja, por exemplo. Por sua vez, na —rbita internacional, o Estado somente se submete a regras em rela•‹o ˆs quais manifestar livremente o seu consentimento. A soberania guarda correla•‹o direta com o princ’pio da igualdade entre os Estados, que Ž um dos princ’pios adotados pela Repœblica Federativa do Brasil em suas rela•›es internacionais (art. 4¼, V, CF/88).

ƒ relevante destacar que a soberania deve ser vista sob uma perspectiva (sentido) democr‡tica, donde surge a express‹o Òsoberania popularÓ. Com efeito, o art. 1¼, par‡grafo œnico, disp›e que Òtodo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamenteÓ nos termos da Constitui•‹o.

A cidadania, por sua vez, Ž simultaneamente um objeto e um direito fundamental das pessoas; ela representa um verdadeiro status do ser humano: o de ser cidad‹o e, com isso, ter assegurado o seu direito de participa•‹o na vida pol’tica do Estado. 9 A previs‹o da cidadania como fundamento do Estado brasileiro exige que o Poder Pœblico incentive a participa•‹o popular nas decis›es pol’ticas do Estado. Nesse sentido, est‡

intimamente ligada ao conceito de democracia, pois sup›e que o cidad‹o se sinta respons‡vel pela constru•‹o de seu Estado, pelo bom funcionamento das institui•›es.

A dignidade da pessoa humana Ž outro fundamento da Repœblica Federativa do Brasil e consiste no valor-fonte do ordenamento jur’dico, a base de todos os direitos fundamentais. Trata-se de princ’pio que coloca o ser humano como a preocupa•‹o central para o Estado brasileiro: a prote•‹o ˆs pessoas deve ser vista como um fim em si mesmo.

Segundo o STF, a dignidade da pessoa humana Ž princ’pio supremo, Òsignificativo vetor interpretativo, verdadeiro valor-fonte que conforma e inspira todo o ordenamento constitucional vigente em nosso Pa’s e que traduz, de modo expressivo, um dos fundamentos em que se assenta, entre n—s, a ordem republicana e democr‡tica consagrada pelo sistema de direito constitucional positivo.Ó10

O princ’pio da dignidade da pessoa humana possui elevada densidade normativa e pode ser usado, por si s— e independentemente de regulamenta•‹o, como fundamento de decis‹o judicial. AlŽm de possuir efic‡cia negativa (invalidando qualquer norma com ele conflitante), o princ’pio da dignidade da pessoa humana vincula o Poder Pœblico, impelindo-o a adotar pol’ticas para sua total implementa•‹o.

      

9  MORAES, Alexandre de. Constitui•‹o do Brasil Interpretada e Legisla•‹o Constitucional, 9» edi•‹o. S‹o Paulo Editora Atlas: 2010, pp. 61.  

10 STF, HC 85.237, Rel. Min. Celso de Mello, j. 17.03.05, DJ de 29.04.05.

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Em raz‹o da import‰ncia do princ’pio da dignidade da pessoa humana, o STF j‡ o utilizou como fundamento de diversas decis›es importantes. A seguir, comentaremos os principais entendimentos do STF acerca da dignidade humana:

a) O STF considerou leg’tima a uni‹o homoafetiva como entidade familiar, em raz‹o do princ’pio da dignidade da pessoa humana e do direito ˆ busca pela felicidade.

Segundo a Corte:

Òa extens‹o, ˆs uni›es homoafetivas, do mesmo regime jur’dico aplic‡vel ˆ uni‹o est‡vel entre pessoas de g•nero distinto justifica-se e legitima-se pela direta incid•ncia, dentre outros, dos princ’pios constitucionais da igualdade, da liberdade, da dignidade, da seguran•a jur’dica e do postulado constitucional impl’cito que consagra o direito ˆ busca da felicidade, os quais configuram, numa estrita dimens‹o que privilegia o sentido de inclus‹o decorrente da pr—pria Constitui•‹o da Repœblica (art. 1¼, III, e art. 3¼, IV), fundamentos aut™nomos e suficientes aptos a conferir suporte legitimador ˆ qualifica•‹o das conjugalidades entre pessoas do mesmo sexo como espŽcie do g•nero entidade familiarÓ. 11

b) O STF considera que n‹o ofende o direito ˆ vida e a dignidade da pessoa humana a pesquisa com cŽlulas-tronco embrion‡rias obtidas de embri›es humanos produzidos por fertiliza•‹o Òin vitroÓ e n‹o utilizados neste procedimento.12 Sobre esse ponto, vale a pena esclarecer que, quando Ž realizada uma fertiliza•‹o Òin vitroÓ, s‹o produzidos v‡rios embri›es e apenas alguns deles s‹o implantados no œtero da futura m‹e. Os embri›es n‹o utilizados no procedimento (que seriam congelados ou descartados) Ž que poder‹o ser objeto de pesquisa com cŽlulas-tronco.

c) O STF entende que n‹o Ž poss’vel, por violar o princ’pio da dignidade da pessoa humana, a submiss‹o compuls—ria do pai ao exame de DNA na a•‹o de investiga•‹o de paternidade.13

...

Voltando ˆ an‡lise dos fundamentos da Repœblica Federativa do Brasil, a eleva•‹o dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa a essa condi•‹o refor•a que o nosso Estado Ž capitalista, e, simultaneamente, demonstra que o trabalho tem um valor social. ƒ o trabalho, afinal, ferramenta       

11 RE 477554 MG, DJe-164 DIVULG 25-08-2011 PUBLIC 26-08-2011 EMENT VOL-02574-02 PP- 00287.

12 STF, ADI 3510/DF Ð Rel. Min Ayres Britto, DJe 27.05.2010

13 STF, Pleno, HC 71.373/RS, rel. Min. Francisco Rezek, Di‡rio da Justi•a, Se•‹o I, 22.11.1996.

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essencial para garantir, em perspectiva menos ampla, a subsist•ncia das pessoas e, em perspectiva mais abrangente, o desenvolvimento e crescimento econ™mico do Pa’s.

Observe que o art. 170 da CF/88 reitera esse fundamento, ao determinar que Òa ordem econ™mica, fundada na valoriza•‹o do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos exist•ncia digna, conforme os ditames da justi•a socialÓ.

Por œltimo, o Estado brasileiro tambŽm tem como fundamento o pluralismo pol’tico. Esse princ’pio visa garantir a inclus‹o dos diferentes grupos sociais no processo pol’tico nacional, outorgando aos cidad‹os liberdade de convic•‹o filos—fica e pol’tica. Como seu corol‡rio, tem-se a liberdade de cria•‹o e funcionamento dos partidos pol’ticos. O STF entende que a cr’tica jornal’stica Ž um direito cujo suporte legitimador Ž o pluralismo pol’tico; o exerc’cio desse direito deve, assim, ser preservado contra ensaios autorit‡rios de repress‹o penal. 14

Cabe destacar que o pluralismo pol’tico exclui os discursos de —dio, assim considerada qualquer comunica•‹o que tenha como objetivo inferiorizar uma pessoa com base em ra•a, g•nero, nacionalidade, religi‹o ou orienta•‹o sexual. No Brasil, considera-se que os discursos de —dio n‹o est‹o amparados pela liberdade de manifesta•‹o de pensamento.

(FUB Ð 2015) O pluralismo pol’tico, fundamento da Repœblica Federativa do Brasil, Ž pautado pela toler‰ncia a ideologias diversas, o que exclui discursos de —dio, n‹o amparados pela liberdade de manifesta•‹o do pensamento.

Coment‡rios:

O discurso de —dio n‹o est‡ protegido pela liberdade de manifesta•‹o de pensamento. Por isso, o pluralismo pol’tico exclui discursos de —dio. Quest‹o correta.

(TJ-SE Ð 2014) A dignidade da pessoa humana, princ’pio fundamental da Repœblica Federativa do Brasil, promove o direito ˆ vida digna em sociedade, em prol do bem comum, fazendo prevalecer o interesse coletivo em detrimento do direito individual.

Coment‡rios:

A dignidade da pessoa humana Ž um fundamento da Repœblica       

14 STF Ð Pet 3486/DF, Rel. Ministro Celso de Mello. DJe. 22.08.2005.

0

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Federativa do Brasil. Enquadra-se como princ’pio fundamental, assim como todos os outros inscritos dos art.

1¼ a art. 4¼, CF/88. Esse princ’pio coloca o ind’viduo (o ser humano) como a preocupa•‹o central do Estado. Assim, n‹o h‡ que se falar em Òpreval•ncia do interesse coletivo em detrimento do direito individualÓ. Quest‹o errada.

2.2- Forma de Estado / Forma de Governo / Regime Pol’tico:

Dentre as decis›es pol’ticas fundamentais, est‹o a defini•‹o da forma de Estado e a forma de governo. Essas op•›es pol’ticas foram escolhidas pelo Poder Constituinte Origin‡rio logo no in’cio do texto constitucional (art. 1¼, caput).

a) Forma de estado diz respeito ˆ maneira pela qual o poder est‡

territorialmente repartido; em outras palavras, Ž a reparti•‹o territorial do Poder que ir‡ definir a forma de Estado. Nesse sentido, um Estado poder‡ ser unit‡rio (quando o poder est‡ territorialmente centralizado) ou federal (quando o poder est‡ territorialmente descentralizado). 15 O Brasil Ž um Estado federal, ou seja, adota a federa•‹o como forma de Estado. H‡ diversos entes federativos (Uni‹o, Estados, Distrito Federal e Munic’pios), todos eles aut™nomos, dotados de governo pr—prio e de capacidade pol’tica. S‹o pessoas jur’dicas de direito pœblico que mant•m entre si um v’nculo indissolœvel. Em raz‹o dessa indissolubilidade, um estado ou munic’pio brasileiro n‹o pode se separar do Brasil; diz-se que, em uma federa•‹o n‹o h‡ o direito de secess‹o. ƒ esse o princ’pio da indissolubilidade do v’nculo federativo, o qual Ž refor•ado pelo fato de que a federa•‹o Ž cl‡usula pŽtrea da CF/88 (art. 60¤ 4¼, I, CF), n‹o podendo, portanto, ser objeto de emenda constitucional tendente ˆ sua aboli•‹o.

O Estado federal, segundo a doutrina, apresenta duas caracter’sticas:

autonomia e participa•‹o. A autonomia traduz-se na possibilidade de os Estados e Munic’pios terem sua pr—pria estrutura governamental e compet•ncias, distintas daquelas da Uni‹o. A participa•‹o, por sua vez, consiste em dar aos Estados a possibilidade de interferir na forma•‹o das leis.

Ela Ž garantida, em nosso ordenamento jur’dico, pelo Senado, —rg‹o legislativo que representa os Estados.

Cabe destacar que autonomia difere de soberania. No Brasil, apenas a Repœblica Federativa do Brasil (RFB) Ž considerada soberana, inclusive para       

15 O objetivo dessa aula n‹o Ž nos aprofundarmos no conceito de Estado unit‡rio e Estado federal. Nesse momento, os conceitos acima mencionados j‡ s‹o suficientes ao nosso aprendizado.

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fins de direito internacional; s— ela possui personalidade internacional. Isso porque, na Federa•‹o, os entes reunidos, apesar de n‹o perderem suas personalidades jur’dicas, abrem m‹o de algumas prerrogativas, em benef’cio do todo (Estado Federal). Dessas, a principal Ž a soberania.

A Uni‹o Ž quem representa a RFB no plano internacional (art. 21, inciso I), mas possui apenas autonomia, jamais soberania. Destaque-se, todavia, que os outros entes federativos atŽ podem atuar no plano internacional, mas apenas na medida em que a RFB os autoriza. Como exemplo, pode-se citar a contrata•‹o de emprŽstimo junto ao Banco Mundial pelo Estado de S‹o Paulo, para fins de constru•‹o de uma rodovia.

Na CF/88, os Munic’pios foram inclu’dos, pela primeira vez, como entidades federativas. Com essa previs‹o constitucional, o federalismo brasileiro passou a ser considerado um federalismo de terceiro grau: temos uma federa•‹o composta por Uni‹o, Estados e Munic’pios.16

No Brasil, a Uni‹o, os Estados-membros e os Munic’pios, todos igualmente aut™nomos, t•m o mesmo ÒstatusÓ hier‡rquico, recebendo tratamento jur’dico ison™mico. O governo de qualquer um deles n‹o pode determinar o que o governo do outro pode ou n‹o fazer. Cada um exerce suas compet•ncias dentro dos limites reservados pela Constitui•‹o.

A federa•‹o brasileira tem como caracter’stica ser resultado de um movimento centr’fugo, ou seja, formou-se por segrega•‹o. Isso porque no Brasil, atŽ a Constitui•‹o de 1891, o Estado era unit‡rio (centralizado), tendo, ent‹o, se desmembrado para a forma•‹o dos estados-membros. J‡ nos Estados Unidos, por exemplo, os Estados se agregaram, num movimento centr’peto, para formar o Estado federal.

Outra caracter’stica de nosso federalismo Ž que ele Ž cooperativo. A reparti•‹o de compet•ncias entre os entes da federa•‹o se d‡ de forma que todos eles contribuam para que o Estado alcance seus objetivos. Algumas compet•ncias s‹o comuns a todos, havendo, ainda, a colabora•‹o tŽcnica e financeira entre eles para a presta•‹o de alguns servi•os pœblicos, bem como reparti•‹o das receitas tribut‡rias.

b) Forma de Governo Ž o modo como se d‡ a institui•‹o do poder na sociedade e a rela•‹o entre governantes e governados. Quanto ˆ forma de governo, um Estado poder‡ ser uma monarquia ou uma repœblica.

No Brasil, a forma de governo adotada (art. 1¼, caput), foi a repœblica.

      

16 O Prof. Manoel Gon•alves Ferreira Filho diz que o Brasil Ž um federalismo de 2¼ grau, mas essa Ž a posi•‹o minorit‡ria. Para esse autor, haveria dois graus: um da Uni‹o para os Estados, e outro, dos Estados para os Munic’pios.

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S‹o caracter’sticas da Repœblica o car‡ter eletivo, representativo e transit—rio dos detentores do poder pol’tico e responsabilidade dos governantes.

Os governantes, na Repœblica, s‹o eleitos pelo povo, o que vincula essa forma de governo ˆ democracia. AlŽm disso, na Repœblica, o governo Ž limitado e respons‡vel, surgindo a ideia de responsabilidade da Administra•‹o Pœblica.

Finalmente, o car‡ter transit—rio dos detentores do poder pol’tico Ž inerente ao governo republicano, sendo ressaltado, por exemplo, no art. 60, ¤4¼ da CF/88, que impede que seja objeto de delibera•‹o a proposta de emenda constitucional tendente a abolir o Òvoto direto, secreto, universal e peri—dicoÓ.

Outra importante caracter’stica da Repœblica Ž que ela Ž fundada na igualdade formal das pessoas. Nessa forma de governo Ž intoler‡vel a discrimina•‹o, sendo todos formalmente iguais, ou seja, iguais perante o Direito.

c) O regime pol’tico adotado pelo Brasil Ž a democracia, o que fica claro quando o art. 1¼, caput, da CF/88 disp›e que a Repœblica Federativa do Brasil constitui-se um Estado democr‡tico de direito.

O Estado de Direito Ž aquele no qual existe uma limita•‹o dos poderes estatais; ele representa uma supera•‹o do antigo modelo absolutista, no qual o governante tinha poderes ilimitados. O surgimento do Estado de direito se deve aos movimentos constitucionalistas modernos.

A evolu•‹o hist—rica do Estado de Direito nos evidencia que, inicialmente, predominava a ideologia liberal; era o chamado Estado Liberal de Direito, no qual a limita•‹o do poder estatal e a garantia das liberdades negativas eram os principais objetivos. Posteriormente, com a Revolu•‹o Industrial e a Revolu•‹o Russa, o Estado liberal d‡ lugar ao Estado Social de Direito, marcado pela exig•ncia de que o Estado oferte presta•›es positivas em favor dos indiv’duos (direitos sociais).

Hoje, vive-se o momento do Estado Constitucional, que Ž, ao mesmo tempo, um Estado de Direito e um Estado democr‡tico. Cabe destacar que a express‹o ÒEstado Democr‡tico de DireitoÓ n‹o implica uma mera reuni‹o dos princ’pios do Estado de Direito e do Estado Democr‡tico, uma vez que os supera, trazendo em si um conceito novo, mais abrangente.

Trata-se, na verdade, da garantia de uma sociedade pluralista, em que todas as pessoas se submetem ˆs leis e ao Direito, que, por sua vez, s‹o criados pelo povo, por meio de seus representantes. A lei e o Direito, nesse Estado, visam a garantir o respeito aos direitos fundamentais, assegurando a todos uma igualdade material, ou seja, condi•›es materiais m’nimas a uma exist•ncia digna. Nos dizeres de Dirley da Cunha Jr, Òo Estado Democr‡tico de

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Direito, portanto, Ž o Estado Constitucional submetido ˆ Constitui•‹o e aos valores humanos nela consagrados.Ó 17

O princ’pio democr‡tico Ž refor•ado pelo par‡grafo œnico do art.1¼ da Constitui•‹o Federal. Segundo esse dispositivo, todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamenteÓ nos termos da Constitui•‹o.Ó

No Brasil, existe uma democracia semidireta ou participativa, assim caracterizada pelo fato de que o povo, alŽm de participar das decis›es pol’ticas por meio de seus representantes eleitos, tambŽm possui instrumentos de participa•‹o direta. S‹o formas de participa•‹o direta do povo na vida pol’tica do Brasil o plebiscito, o referendo, a iniciativa popular de leis e a•‹o popular.

Esses mecanismos s‹o o que a doutrina chama Òinstitutos da democracia semidiretaÓ.

Cuidado para n‹o confundir plebiscito e referendo!

ƒ simples: o plebiscito Ž convocado antes da cria•‹o da norma (ato legislativo ou administrativo) para que os cidad‹os, por meio do voto, aprovem ou n‹o a quest‹o que lhes foi submetida. J‡ o referendo Ž convocado ap—s a edi•‹o da norma, devendo esta ser ratificada pelos cidad‹os para ter validade.

(FUB Ð 2015) O regime pol’tico adotado na CF caracteriza a Repœblica Federativa do Brasil como um estado democr‡tico de direito em que se conjuga o princ’pio representativo com a participa•‹o direta do povo por meio do voto, do plebiscito, do referendo e da iniciativa popular.

Coment‡rios:

No Brasil, vigora uma democracia semidireta, na qual se conjuga o princ’pio representativo com a participa•‹o direta do povo atravŽs do voto, plebiscito, referendo e iniciativa popular. Quest‹o correta.

(C‰mara dos Deputados Ð 2014) A democracia brasileira Ž indireta, ou representativa, haja vista que o poder popular se expressa por meio de representantes eleitos, que recebem mandato para a elabora•‹o das leis e a fiscaliza•‹o       

17CUNHA JòNIOR, Dirley. Curso de Direito Constitucional, 6» edi•‹o, p. 543.

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dos atos estatais.

Coment‡rios:

No Brasil, vigora uma democracia semidireta. Quest‹o errada.

(Pol’cia Federal Ð 2014) A Repœblica Federativa do Brasil, formada pela uni‹o indissolœvel dos estados, munic’pios e Distrito Federal (DF), adota a federa•‹o como forma de Estado.

Coment‡rios:

A forma de Estado adotada pela RFB Ž a federa•‹o. Quest‹o correta.

(TRE-AM Ð 2014) O Brasil adotou como sistema de govemo a Repœblica, o presidencialismo como forma de governo e a Federa•‹o como forma de Estado.

Coment‡rios:

O examinador inverteu as coisas. A forma de governo adotado pelo Brasil Ž a Repœblica; o presidencialismo Ž o sistema de governo. Quest‹o errada.

2.3- Harmonia e Independ•ncia entre os Poderes:

A separa•‹o de poderes Ž um princ’pio cujo objetivo Ž evitar arbitrariedades e o desrespeito aos direitos fundamentais18; ele se baseia na premissa de que quando o poder pol’tico est‡ concentrado nas m‹os de uma s— pessoa, h‡ uma tend•ncia ao abuso do poder. Sob essa perspectiva, a separa•‹o de poderes Ž verdadeira tŽcnica de limita•‹o do poder estatal.

As origens da separa•‹o de poderes remontam a Arist—teles, com a obra ÒA Pol’ticaÓ. Posteriormente, o tema tambŽm foi trabalhado por Jo‹o Locke e, finalmente, por Montesquieu, em sua cŽlebre obra ÒO esp’rito das leisÓ.

Modernamente, a separa•‹o de poderes n‹o Ž vista como algo r’gido. Com efeito, o poder pol’tico Ž uno, indivis’vel; assim, o que pode ser objeto de separa•‹o s‹o as fun•›es estatais (e n‹o o poder pol’tico). Assim, apesar de a       

18  MORAES, Alexandre de. Constitui•‹o do Brasil Interpretada e Legisla•‹o Constitucional, 9» edi•‹o. S‹o Paulo Editora Atlas: 2010, pp. 72.  

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Constitui•‹o falar em tr•s Poderes, na verdade ela est‡ se referindo a fun•›es distintas de um mesmo Poder: a legislativa, a executiva e a judici‡ria.

A Constitui•‹o Federal de 1988 adotou, assim, uma separa•‹o de Poderes flex’vel. Isso significa que eles n‹o exercem exclusivamente suas fun•›es t’picas, mas tambŽm outras, denominadas at’picas. Um exemplo disso Ž o exerc’cio da fun•‹o administrativa (t’pica do Executivo) pelo Judici‡rio e pelo Legislativo, quando disp›em sobre sua organiza•‹o interna e sobre seus servidores, nomeando-os ou exonerando-os. Ou, ent‹o, quando o Poder Executivo exerce fun•‹o legislativa (t’pica do Poder Legislativo), ao editar medidas provis—rias ou leis delegadas.

A Constitui•‹o Federal de 1988, em seu art. 2¼, trata da separa•‹o de poderes, dispondo que Òs‹o poderes da Uni‹o, independentes e harm™nicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judici‡rio.Ó

Chama-nos a aten•‹o o fato de que a Constitui•‹o explicita que os tr•s Poderes s‹o Òindependentes e harm™nicosÓ. Independ•ncia Ž a aus•ncia de subordina•‹o, de hierarquia entre os Poderes; cada um deles Ž livre para se organizar e n‹o pode intervir indevidamente (fora dos limites constitucionais) na atua•‹o do outro. Harmonia, por sua vez, significa colabora•‹o, coopera•‹o; visa garantir que os Poderes expressem uniformemente a vontade da Uni‹o.

A independ•ncia entre os Poderes n‹o Ž absoluta. Ela Ž limitada pelo sistema de freios e contrapesos, de origem norte-americana. Esse sistema prev• a interfer•ncia leg’tima de um Poder sobre o outro, nos limites estabelecidos constitucionalmente. ƒ o que acontece, por exemplo, quando o Congresso Nacional (Poder Legislativo) fiscaliza os atos do Poder Executivo (art. 49, X, CF/88). Ou, ent‹o, quando o Poder Judici‡rio controla a constitucionalidade de leis elaboradas pelo Poder Legislativo.

Alguns entendimentos importantes do STF sobre o sistema de freios e contrapesos:

1) Os mecanismos de controle rec’procos entre os Poderes (os freios e contrapesos) previstos nas Constitui•›es Estaduais somente se legitimam quando guardarem estreita similaridade com os previstos na Constitui•‹o Federal (ADI 1.905-MC)

2) Os mecanismos de freios e contrapesos est‹o previstos na Constitui•‹o Federal, sendo vedado ˆ Constitui•‹o Estadual criar outras formas de interfer•ncia de um Poder

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sobre o outro. (ADI 3046)

3) ƒ inconstitucional, por ofensa ao princ’pio da independ•ncia e harmonia entre os Poderes, norma que subordina acordos, conv•nios, contratos e atos de Secret‡rios de Estado ˆ aprova•‹o da Assembleia Legislativa. (ADI 676-2/RJ).

2.3- Objetivos Fundamentais da Repœblica Federativa do Brasil:

Os objetivos fundamentais s‹o as finalidades que devem ser perseguidas pelo Estado brasileiro. Que tal analisarmos o art. 3¼ da Carta Magna?

Art. 3¼ Constituem objetivos fundamentais da Repœblica Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solid‡ria;

II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginaliza•‹o e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, ra•a, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discrimina•‹o.

Como se lembrar do rol de objetivos da Repœblica Federativa do Brasil, uma vez que o art. 3¼ da CF/88 costuma ser cobrado em sua literalidade? Leia-o e releia-o atŽ decor‡-lo! Para ajud‡-lo na memoriza•‹o do mesmo, pe•o que preste aten•‹o nos verbos, sempre no infinitivo: construir, garantir, erradicar e promover.

Calma, o curso n‹o descambou para o Portugu•s! ƒ que apenas com essa observa•‹o, voc• poder‡ resolver a quest‹o de sua prova, mesmo se n‹o se lembrar de nada que esteja escrito no art. 3¼, CF/88.

Outra dica Ž que esses verbos formam a sigla ÒConga Erra ProÓ, que serve de memoriza•‹o. Pense em um rapaz, de apelido CONGA, que tem como OBJETIVO n‹o ERRAr na PROva:

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A promo•‹o do bem de todos, sem preconceitos, al•ada pela Carta Magna ˆ condi•‹o de objetivo fundamental da Repœblica Federativa do Brasil, consagra a igualdade material como um dos objetivos da Repœblica Federativa do Brasil. O Estado n‹o pode se contentar com a atribui•‹o de igualdade perante a lei aos indiv’duos; ao invŽs disso, deve buscar reduzir as disparidades econ™micas e sociais.

Um exemplo da aplica•‹o desse princ’pio Ž a reserva de vagas nas Universidades Federais, a serem ocupadas exclusivamente por alunos egressos de escolas pœblicas (cotas raciais). Busca-se tornar o sistema educacional mais justo, mais igual. N‹o se trata de preconceito, mas de uma a•‹o afirmativa do Estado.

Elucidando esse conceito, o STJ disp™s o seguinte:

Òa•›es afirmativas s‹o medidas especiais tomadas com o objetivo de assegurar progresso adequado de certos grupos raciais, sociais ou Žtnicos ou indiv’duos que necessitem de prote•‹o, e que possam ser necess‡rias e œteis para proporcionar a tais grupos ou indiv’duos igual gozo ou exerc’cio de direitos humanos e liberdades fundamentais, contanto que, tais medidas n‹o conduzam, em consequ•ncia, ˆ manuten•‹o de direitos separados para diferentes grupos raciais, e n‹o prossigam ap—s terem sido alcan•ados os seus objetivosÓ (REsp 1132476/PR, Rel. Ministro Humberto Martins, 2» Turma, julgado em 13/10/2009, DJe 21/10/2009)

OB JE TI V OS  F U ND A ME NT A IS   D A  R F B

CONstruir uma sociedade livre, justa e solidária

GArantir o desenvolvimento nacional

ERRAdicar a pobreza e a marginalização e reduzir as  desigualdades sociais e regionais

PROmover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, 

sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação

(29)

(MPE-SC Ð 2014) Constituem objetivos fundamentais da Repœblica Federativa do Brasil: construir uma sociedade soberana, justa e solid‡ria; garantir o desenvolvimento internacional; erradicar a pobreza e a marginaliza•‹o e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, ra•a, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discrimina•‹o.

Coment‡rios:

H‡ dois erros na assertiva. Primeiro, Ž objetivo fundamental construir uma sociedade livre, justa e solid‡ria. Segundo, Ž o objetivo fundamental garantir o desenvolvimento nacional.

Quest‹o errada.

2.4- Princ’pios das Rela•›es Internacionais:

Estudaremos, agora, os princ’pios que regem a Repœblica Federativa do Brasil em suas rela•›es internacionais, os quais est‹o relacionados no art. 4¼, da Constitui•‹o Federal.

Art. 4¼ A Repœblica Federativa do Brasil rege-se nas suas rela•›es internacionais pelos seguintes princ’pios:

I - independ•ncia nacional;

II - preval•ncia dos direitos humanos;

III - autodetermina•‹o dos povos;

IV - n‹o-interven•‹o;

V - igualdade entre os Estados;

VI - defesa da paz;

VII - solu•‹o pac’fica dos conflitos;

VIII - repœdio ao terrorismo e ao racismo;

IX - coopera•‹o entre os povos para o progresso da humanidade;

X - concess‹o de asilo pol’tico.

Referências

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