Bispo Sr. Dr. Gebhard Fürst
O TEMPO ESTÁ CUMPRIDO
Sobre o significado das festas cristãs
Carta Pastoral
dirigida às igrejas da diocese de Rotemburgo-Estugarda
na Quaresma Pascal de 2018
Bispo Sr. Dr. Gebhard Fürst Carta pastoral para a Quaresma de 2018
O TEMPO ESTÁ CUMPRIDO Sobre o significado das festas cristãs
– 1° Domingo da Quaresma: 18 de fevereiro de 2018 –
A presença de Deus no mundo Queridos irmãos e irmãs!
No início da Quaresma Pascal eu vos saúdo calorosamente!
As próximas semanas oferecem-nos a oportunidade de pre- pararmo-nos para a festa da ressurreição de Jesus Cristo.
A Páscoa não é a simples celebração de um evento ocorrido no passado. A Páscoa é a festa da vida. “A Páscoa proclama um início que já determinou o futuro mais longínquo” (Karl Rahner). Para nós, como seres humanos, isso significa que mesmo em situações e momentos nos quais erramos e falha- mos, subsiste a esperança na ação salvadora de Deus. O “sim”
dado por Deus aos homens é algo fundamental, algo que permanece inabalável e válido de modo incondicional. É isso que celebramos na Páscoa.
Queridos irmãos e irmãs,
A nossa vida quotidiana traz-nos não só momentos de satisfação, mas também momentos penosos, os quais por vezes gostaríamos de evitar. A nossa vida quotidiana oferece simultaneamente inúmeras possibilidades de entretenimento.
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"Ele pregava o Evangelho de Deus"
(Marcos 1,14)
As possibilidades oferecidas pelas mídias digitais para mer- gulharmos em outros mundos são praticamente inesgotáveis.
Mas ao mesmo tempo elas suscitam o perigo de nos perder- mos. As inovações no campo da digitalização, informática e comunicação, sempre em rápida evolução, trazem numerosas opções. Muitas dessas inovações são sem dúvida importantes e positivas, mas há muitas coisas que também já assumiram uma forma alarmante.
Não pretendo lançar um olhar pessimista sobre o futuro, mas gostaria de compartilhar com todos vós um receio que me preocupa. Devido à mecanização do mundo e, em última análise, da própria humanidade, as pessoas correm o risco de tornarem-se um mero objeto à disposição. Entrevejo aqui uma grave crise na nossa cultura humana.
Um sentimento dirigido ao sagrado Queridos irmãos e irmãs,
Esta crise só será superada se desenvolvermos novamente um sentimento piedoso perante tudo que é inviolável e sagrado.
Precisamos de um novo sentimento e uma nova sensibilidade em relação ao sagrado, que jamais e em qualquer circunstância deverão ser violados. Nesta situação de crise, um relaciona- mento mais forte com tudo que é santo só nos pode fazer bem.
A imagem cristã do homem denota que não somos pessoas
“feitas por conta própria”. Não nos criamos sozinhos, nem
somos um produto de nós próprios. Cada indivíduo deve a
sua existência a Deus, o Criador mais eminente. Como cristãos,
e perante o assalto perpetrado pelos meios tecnicamente viáveis, temos hoje por missão proteger a totalidade da criação, a humanidade e, em última instância, o próprio Deus.
O homem é um ser criado. Portanto, as seguintes considera- ções podem ser tomadas em consideração de modo especial:
como criatura, o homem é um ser recebedor, um ser que ganhou vida. O homem é a imagem de Deus. Ele é a imagem do Deus intangível que, por meio de Jesus Cristo, veio abraçar a humanidade e trabalhar entre nós. Nele, o amor de Deus tornou-se encarnado. Este amor de Deus quer ganhar vida também em nós. Ele quer transformar-nos para que nos tornemos um brinde para os demais. É neste sentido que devemos contemplar-nos a nós próprios e aos nossos próximos, os quais devemos amar como a nós mesmos.
As festas cristãs como contributo para uma cooperação frutuosa
As festas cristãs são muito importantes para fortalecer a compreensão de tudo que é sagrado, e a cultura humana daí resultante. As nossas festas cristãs – uma vez devidamente compreendidas – trazem um significativo contributo para a sociedade, para uma vida humanamente digna, e para o convívio entre todos os seres humanos. As nossas festas contribuem decisivamente para que, no presente e no futuro, seja possível recriar e preservar o que é humano no homem.
Elas servem para aprimorar os seres humanos do futuro! Isto vale igualmente para o domingo, como feriado cristão da ressurreição e início da semana.
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A liturgia das festas cristãs contém dimensões e questões humanas muito profundas, as quais estão retratadas nas palavras: De onde viemos? Para onde vamos? O que é o homem?
O que podemos esperar?
Queridos irmãos e irmãs,
O calendário das comemorações, o ano eclesiástico e a beleza da liturgia em toda a sua profunda solenidade, levam-nos a encarar as questões fundamentais da existência humana.
O propósito fundamental das festas não é recompor as for- ças gastas na faina do dia-a-dia, mas sim elevar-nos acima da vida quotidiana. Assim, as festas cristãs, como momentos de recordação do que é humano e divino, constituem verda- deiras forças curativas para a memória cultural.
Em nome dessa memória cultural, a preservação das festas cristãs deve ser uma tarefa urgente para a Igreja, inclusive na dimensão sociopolítica. A dedicação às festas não deve estar entregue a simples interesses tendenciosos, de caráter econó- mico ou individualista. Como mensageiras para uma vida bem sucedida, as nossas festas têm um grande significado cultural.
As festas cristãs mantêm presente o que é espiritual Neste ano comemoramos mais uma vez a Páscoa – o Domingo de Ramos e a Sexta-Feira Santa – como a festa da ressurreição, além de Pentecostes, Natal e muitas outras festas sagradas.
A celebração do ano eclesiástico mantém presente a consciên-
cia e a essência do que é espiritual, despertando a fé no Deus
vivo, intangível e trino. Na liturgia, na celebração da Eucaristia e nos sacramentos surgem grandes questões humanas, tudo de uma maneira aberta para a nossa vivência e experiência.
As festas da cristandade têm por fim celebrar Deus. Assim, elas celebram igualmente o homem que é imagem de Deus, o homem que, conforme relata o verso 8,6 dos Salmos, “foi coroado com a glória de Deus”. As festas cristãs, os nossos feriados, preservam a dignidade do ser humano, que em nenhuma circunstância pode ser ferida. Elas atuam como um permanente apelo à memória, preservando a sua existência.
Devemos ser uma igreja convidativa e vivificante Queridos irmãos e irmãs,
O meu desejo é que possamos ser uma igreja convidativa, uma igreja que, imersa neste espírito, seja capaz de disseminar uma cultura para a vida e um estilo de vida. Convido assim todos vós a participar nisto, cada um da sua maneira. Durante as cerimónias de crisma e nas visitas pastorais às comunidades posso sempre sentir quão forte e variado é o vosso empenho.
Por tudo isso, agradeço-vos do fundo do coração.
Todos nós queremos ser uma igreja habitável, uma igreja que oferece abrigo, e também uma igreja profética, empenhada em praticar equidade em todas as áreas da nossa vida e do nosso convívio. Estamos todos a trabalhar unidos para construir uma igreja capaz de servir a humanidade. – Uma igreja na qual o evangelho da salvação seja vivo e acessível para todas as pessoas; também e especialmente nas nossas festas cristãs.
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A presença de Deus neste mundo Queridos irmãos e irmãs,
O evangelho do primeiro domingo da Quaresma proclama:
“O tempo está cumprido, o reino de Deus está próximo”
(Marcos 1,15). O reino de Deus está próximo; e ele já está a manifestar-se.
Para as próximas semanas, a caminho da Páscoa, desejo-vos a bênção do Deus intangível!
Amen!
Rotemburgo, 2 de fevereiro de 2018, Dia da Festa da Apresentação do Senhor.
O vosso bispo,
Dr. Gebhard Fürst
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