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Palavras-chave: CTS, Extensão Universitária, Educação em Saúde, Educação Popular, Educação Superior.

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1 RESGATANDO SABERES E PRÁTICAS: APROXIMAÇÃO NECESSÁRIA ENTRE PRODUÇÃO E CONSUMO DE ALIMENTOS PARA FORMAÇÃO E ATUAÇÃO CRÍTICA E CONSCIENTE DE NUTRICIONISTAS.

MÔNICA DE CALDAS ROSA DOS ANJOS1 ISLANDIA BEZERRA DA COSTA2 GABRIELA DOS SANTOS SCHNEIDER3

Resumo: Trata-se de um projeto de extensão universitária, cuja perspectiva está pautada na aproximação entre a ciência da Nutrição e a produção e o consumo de alimentos. Objetiva a construção de espaços dialógicos acerca dos aspectos científicos, tecnológicos, culturais e sociais que abarcam a produção e o consumo de alimentos, de modo a promover a Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, e o resgate do ato de comer como ato político e direito humano. Prevê, inicialmente, momentos de discussão, a partir da unificação entre conhecimento, prática e realidade social, de modo a provocar a superação do modelo de formação hegemônico, com vistas à formação e atuação crítica de nutricionistas. Em um segundo momento, integra-se à realidade do campo, em que as unidades produtivas passam a ser objeto de investigação, tendo, nos conhecimentos e necessidades dos agricultores, agricultoras e respectivas famílias, o ponto de partida para contextualização, imersão e emersão da realidade. Nesta etapa, intensificam-se os processos de codificação, problematização e decodificação, voltados à superação das situações-limite. Neste sentido, o projeto configura-se como uma estratégia de mudança paradigmática, que intenta voltar o olhar técnico e científico de nutricionistas, para um sistema agroalimentar coerente a promoção da saúde humana, ambiental e social.

Palavras-chave: CTS, Extensão Universitária, Educação em Saúde, Educação Popular, Educação Superior.

1 Universidade Federal do Paraná, Departamento de Nutrição, Brasil. Doutora em Educação Científica e Tecnológica. monica.anjos@ufpr.br

2 Universidade Federal do Paraná, Departamento de Nutrição, Brasil. Doutora em Ciências Sociais.

islandia@ufpr.br

3 Universidade Federal do Paraná, Curso de Nutrição, Brasil. Graduanda em Nutrição.

gabrielaschneider@ufpr.br

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2 INTRODUÇÃO

Este projeto de extensão universitária traz o desafio de repensar o processo de educação de nutricionistas, amparado pelas estruturas existentes na agricultura familiar, visando compreender os significados e as situações limite que regem a produção de alimentos. No campo da formação, é necessário ultrapassar diversas barreiras impostas ao longo do tempo que impedem que a Nutrição enquanto ciência de caráter interdisciplinar tenha um olhar que contemple a produção de alimentos e as contradições existentes no âmbito das recomendações nutricionais, bem como, em relação ao que tem sido considerado como alimento de qualidade.

Ao mesmo tempo, esta ciência dispõe de um conhecimento tecnológico e científico que pode e deve ser socializado para compreensão dos procedimentos utilizados na agricultura familiar, de modo a promover a Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.

Do ponto de vista da produção de alimentos, sabe-se que o Brasil dispõe de um grande arsenal de alimentos, em termos de diversidade e capacidade de produção. A agricultura familiar é reconhecidamente o segmento que garante a alimentação diária da população, tendo em vista que, de uma forma geral, aquilo que se produz pela agricultura familiar está diretamente ligado ao que se consome no ambiente local, resultando desta relação entre produção e consumo, a cultura alimentar e suas diversas expressões nos pratos e alimentos típicos de cada lugar.

Dados do Censo Agropecuário revelam a expressividade da agricultura familiar no Brasil enquanto principal fornecedora de alimentos básicos, fortemente representados na cultura alimentar da população brasileira, tais como as culturas da mandioca, feijão e milho (87, 70 e 46% da produção nacional, respectivamente) (IBGE, 2006).

Com a crescente preocupação da população em relação à alimentação que garanta saúde, a produção ecológica de alimentos tem sido foco dos consumidores, no entanto, entraves na liberação e comercialização de tais alimentos têm dificultado a concretização desta alimentação considerada mais adequada. Um exemplo de situação limite a ser enfrentada, diz respeito às legislações sobre padrão de identidade e qualidade dos alimentos, restritas, muitas vezes, a aspectos estéticos e higiênicos sanitários, desvalorizando aspectos de qualidade ampla. Neste sentido, Prezotto (2002) sugere a adoção de outro olhar para qualidade, a fim de provocar a superação da situação limite, o qual abrange aspectos relacionados à: produção ecológica, facilidade de uso, qualidade sensorial e, aos aspecto social, cultural e nutricional.

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3 Agravando esta situação limite, o modelo agroalimentar, em curso no Brasil, tem se pautado na concentração de terras, no enfraquecimento dos pequenos empreendimentos e do segmento da agricultura familiar, usurpando das famílias, a autonomia, condições de vida e de reprodução social. Na via do consumo, a industrialização dos alimentos e o incentivo ao consumo de alimentos processados e ultraprocessados em substituição aos alimentos in natura, tem gerido todo um padrão de consumo alimentar, forçando a uma produção e a um consumo alimentar descaracterizado das tradições e da cultura alimentar da população.

Na contramão deste modelo dominante de produção, percebe-se um movimento crescente em torno do desenvolvimento e fortalecimento de estratégias e alternativas ao sistema agroalimentar global que, especialmente a partir da adoção dos preceitos da Agroecologia, tem despertado um amplo questionamento aos padrões hegemônicos de estruturação e organização do sistema agroalimentar global (MURDOCH, MARSDEN, BANKS, 2000).

A produção familiar de alimentos ecológicos está atenta à comunidade em que está inserida, colaborando para a valorização dos alimentos e preparações locais, buscando equilíbrio ambiental e social, e impulsionando a geração de emprego e renda das famílias envolvidas na produção.

Neste sentido, a produção ecológica, em especial, a Agroecologia, tem importante papel neste movimento de valorização do alimento local, a partir da sua complexidade, enquanto campo de conhecimento, prática social e movimento social, condensados em um todo indivisível (NIEDERLE, ALMEIDA, VEZZANI, 2013)

Enquanto campo de conhecimento, a Agroecologia é entendida, segundo Caporal e Costabeber (2004), como uma teoria crítica que fornece simultaneamente as bases conceituais e metodológicas para o desenvolvimento de agroecossistemas sustentáveis. Como prática social, está pautada na manutenção e manejo de agroecossistemas biodiversificados, nos quais são promovidos efeitos de sinergia e sincronia entre componentes e subsistemas, gerando crescentes níveis de autonomia técnica, estabilidade produtiva e resiliência ecológica (PETERSEN, 2009). Como movimento social, mobiliza atores envolvidos em sua construção, articulada na defesa da justiça social, meio ambiente, segurança e soberania alimentar, economia solidária e ecológica, equidade entre gêneros e relações mais equilibradas entre o rural e o urbano (NIEDERLE, ALMEIDA, VEZZANI, 2013).

Desta forma, sustenta-se que para garantir o acesso a alimentos saudáveis, pautados na compreensão ampla deste conceito e nos preceitos da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, se faz necessária a articulação entre os saberes tecnológicos, científicos e

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4 populares, por meio da construção de espaços dialógicos com a participação de agricultores, nutricionistas, técnicos, professores, estudantes e consumidores. Para tanto, o incentivo à agricultura familiar agroecológica perpassa o apoio à construção de mecanismos e estratégias para inserção de seus produtos no mercado, feita a partir da experiência e capacidade de cada grupo destes sujeitos. É importante salientar que esta inserção precisa considerar os limites de alcance da agricultura familiar à legislação, que em boa parte foi pautada em modelos industriais, excluindo grande parcela dos agricultores da produção e comercialização de alimentos processados artesanalmente.

Perez-Cassarino (2012) demonstra que a construção de mecanismos de comercialização, que buscam na lógica própria da agricultura familiar o seu sustento, tem proporcionado o resgate da autonomia das famílias, das relações de solidariedade entre agricultores e deste com os consumidores e o fortalecimento da produção para o autoconsumo. Apoiando-se em uma forma de gestão apropriada à realidade destes empreendimentos familiares, estas estratégias de comercialização rompem com a lógica mercantil estrita, onde o alimento nada mais é do que mercadoria.

E é neste espaço que a ciência da Nutrição pode ser protagonista na construção de uma sociedade mais justa e equitativa, ao fazer uso do conhecimento científico e tecnológico a favor da produção e do consumo de alimentos que considera o desenvolvimento humano e social, para além do desenvolvimento econômico.

Para tanto, se faz necessário romper com o modelo tradicional de educação. Segundo Carvalho (2011), ainda que a ciência atual reconheça o fato da concepção mecanicista do universo não ser mais defensável, a educação ainda privilegia a concepção do modelo individualista e mecanicista, ignorando a complexidade das realidades existentes.

Esse modelo, reducionista e positivista, reconhece o método analítico como sendo o único capaz de oferecer a explicação mais completa e válida de produzir conhecimento. Modelo que, no caso da formação em saúde, baseia-se no modelo biomédico, que fragmenta o ser humano em especialidades e o isola de sua condição social concreta, e que tem como pano de fundo, a educação sanitária, focada na doença e em sua prevenção, a partir do repasse de informações corretas à população (VILELA; MENDES, 2003).

No caso da formação de nutricionistas, existe uma visão voltada à tecnicidade que, muitas vezes, acaba por dirigir o olhar do estudante para problemas pontuais, solucionáveis com uma simples receita adaptada à realidade que se consegue ver, com os olhos formatados, para agir de uma determinada maneira, aprendida durante o curso de graduação. Todavia, essa

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5 receita que, inúmeras vezes, é apresentada como uma “chave mestra”, nem sempre abre todas as portas necessárias para que ocorra uma aproximação com a realidade concreta. Uma realidade que, por não ser totalmente conhecida, e por não permitir adaptações e engendramentos, solicita que os sujeitos, que a almejam conhecer, integrem-se a esta e provoquem emersões desta, de modo a trazer possibilidades e elementos que facilitem sua compreensão (ANJOS, 2014).

Neste contexto, a formação do nutricionista permanece deficiente em relação à abordagem de questões políticas, socioeconômicas e culturais, repercutindo no empobrecimento da análise crítica a respeito do modelo agroalimentar hegemônico, bem como, dos significados sobre alimentação adequada e saudável, Direito Humano à Alimentação Adequada e Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. Neste sentido, Freitas et al. (2008) propõem uma visão humanista da ciência da Nutrição, sugerindo que o olhar se volte a compreensão da cultura alimentar e suas representações sociais para ampla interpretação do sujeito.

De modo a romper com este engessamento identificado na formação de nutricionistas, este projeto de extensão universitária tem por objetivo, construir um espaço de discussão e ação permanente acerca dos aspectos científicos, tecnológicos, culturais e sociais que abarcam a produção e o consumo de alimentos agroecológicos, com vistas à promoção da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (SSAN).

Para tanto se propõe a: 1) Debater o modelo de formação de nutricionistas e o sistema agroalimentar sob a perspectiva da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional; 2) Contextualizar a realidade em que as famílias de agricultores estão inseridas, bem como seus modos de produção; 3) Identificar demandas relacionadas às dificuldades em produzir e comercializar alimentos e produtos oriundos da agricultura familiar agroecológica; 4) Codificar, problematizar e descodificar as situações-limite que impedem o desenvolvimento humano, social, cultural e econômico do segmento da agricultura familiar; bem com, 5) Assessorar técnico e cientificamente a implantação e manutenção de unidades produtivas para fins de divulgação, comercialização e aceitabilidade de alimentos e produtos produzidos pela agricultura familiar agroecológica.

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6 METODOLOGIA

Entendendo que o processo metodológico é uma etapa fundante do projeto de extensão, esta será detalhada para compreensão do objetivo do projeto, bem como, do modelo usado para entendimento da realidade (objeto de estudo).

As atividades deste projeto estão sendo realizadas no âmbito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), no Departamento de Nutrição da (DNUT). O universo de ações conta com a participação ativa de associações, cooperativas, grupos informais e fornecedores individuais de agricultura familiar e empreendimentos de economia solidária das Mesorregiões Paranaenses: Metropolitana de Curitiba, Centro-Sul e Sudeste, que possuam cozinhas comunitárias e agroindústrias familiares ativas e que produzam e manipulem alimentos de origem agroecológica.

Os sujeitos deste projeto são estudantes de graduação, professores e professoras da UFPR, nutricionistas, agricultores e agricultoras familiares e respectivas famílias, consumidores e consumidoras de alimentos ecológicos.

A presente proposta, teórica e metodológica, pauta-se na pesquisa participante (BRANDÃO; STRECK, 2006) e investigação temática (FREIRE, 2010). Nessa concepção, compreende-se o projeto como um espaço: de construção, consolidação e socialização de conhecimentos; de formação técnica, política e cidadã; de interação entre academia e comunidades; de integração à realidade; de debate e de superação das situações limitantes; bem como, de empoderamento e assunção como sujeitos da práxis, transformadores sociais, autônomos e emancipados.

Para atender a esse princípio, o desenvolvimento do projeto foi pensado em três momentos que não ocorrem sequencialmente, podendo, em alguns casos, acontecerem simultaneamente. O primeiro e o segundo momentos estão voltados ao desvelamento de situações-limite, que geram e/ou mantém a opressão, tanto no campo da formação, como no campo do trabalho. Esses momentos fazem-se necessários, para tornar os signos/linguagem comuns, de modo a possibilitar a compreensão da realidade, a aproximação com o objeto cognoscível, e a interação entre os sujeitos envolvidos no processo. E, o terceiro momento envolve assessoria técnica e científica voltada à implementação e manutenção de Unidades Produtivas, com vistas à produção, divulgação, comercialização e aceitabilidade, de produtos alimentícios provenientes do sistema de produção agroecológica.

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7 Em relação ao primeiro momento, duas ações serão realizadas: 1) Debate acerca do modelo de formação profissional, junto aos participantes provenientes da academia, de modo a entenderem como as práticas pedagógicas se instituem, e interferem no processo de construção e socialização do conhecimento. Neste momento, faz-se necessária a ruptura e superação do modelo de extensão pensada como assistencialista, prestadora de serviço e messiânica, para que se possa avançar na construção coletiva de soluções para os problemas demandados. 2) Debate acerca do modelo de formação profissional, a fim de compreender suas relações e implicações na Soberania, Segurança Alimentar e Nutricional e Direito Humano à Alimentação Adequada e Saudável.

Neste momento, são realizados rodas de conversa, cine debates e grupos focais para debater, a princípio, os seguintes temas: práticas pedagógicas, educação em saúde, educação popular, epistemologia, investigação temática, agricultura familiar, agroecologia, modelo de produção convencional, legislações sanitárias para fins de produção e comercialização de produtos alimentícios, soberania alimentar, segurança alimentar e nutricional, direito humano à alimentação adequada e saudável, controle social, entre outros temas que se fizerem necessários para o enfrentamento da insegurança alimentar e nutricional.

Parte dos estudos vem ocorrendo anteriormente às idas a campo, de modo a orientar as ações referentes à contextualização da realidade, para levantamento de demandas e de situações limite, para superação.

Em relação ao segundo momento, e considerando que toda ação educativa deve partir de uma reflexão sobre o sujeito, que está envolvido no processo, e de uma análise crítica da realidade investigada, cinco ações tem sido realizadas e envolvem, não somente os membros da academia, como, e principalmente, agricultores(as) que trabalham nas unidades produtivas:

1) Delimitação das unidades produtivas com o propósito de criar lideranças capazes de socializar o conhecimento construído, assessorando, de modo autônomo e independente, os demais sujeitos envolvidos no processo. Esta etapa visa conhecer a história do lugar, sua gente, a cultura, as práticas, os modos de vida e de produção, as relações intersubjetivas, em uma tentativa de contextualizar a realidade e direcionar a pesquisa, em buscas de respostas aos problemas identificados, ou em processo de identificação. 2) Detecção de problema. Durante a detecção de problema, se faz necessário compreender como as pessoas envolvidas no processo percebem o mesmo, e se o percebem, devido à imersão na situação-limite. Para tanto, serão realizadas reuniões, objetivando capacitar as pessoas envolvidas para pesquisa, de modo a investigar, junto ao seu ambiente familiar/comunitário, possíveis problemas e causas

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8 relacionadas, principalmente, mas não somente, às dificuldades em produzir e comercializar produtos alimentícios provenientes das unidades (processo de codificação). 3) Convocação de especialistas e entidades interessadas e/ou envolvidas no problema detectado. Esta etapa visa enfrentar o problema, de modo a buscar compreensões diversas sobre o mesmo, e soluções.

Nesta etapa, reuniões com um grupo reduzido de pessoas serão realizadas, a fim de compreender os códigos identificados, bem como, identificar as situações-limite que impedem a compreensão do problema, pelos sujeitos envolvidos no processo. Na sequência realiza-se problematizações, a fim de descodificar as situações-limite para compreensão do problema detectado. Nesta etapa, caberá a pessoa que conduzirá as discussões, provocar os demais a melhor conhecer a realidade, mapeando-a, descrevendo-a e contextualizando-a. 4) Definição de ações coletivas para planejar, conjuntamente, as ações, o cronograma das atividades e das próximas reuniões, a fim de se estabelecer metas de trabalho, tanto voltadas à equipe do projeto, como aos participantes. 5) Balanço das ações, com o objetivo de reescutar os dizeres dos envolvidos acerca das percepções que tiveram sobre a realidade, ao longo do processo. Essa ação visa identificar: problemas não solucionados e respectivos motivos; novos problemas e estratégias de ação; bem como, problemas solucionados e avanços percebidos. Essa etapa deverá ser realizada, continuamente, de modo a manter viva a busca por novos conhecimentos, e por meios de expandi-los e de socializá-los.

Ressalta-se que as etapas referentes ao segundo momento são realizadas com base nos referenciais teórico e metodológico propostos por Brandão e Streck (2006) - pesquisa participante; por Freire (2010) – Investigação Temática; e por Anjos (2014) - Motirõ.

Em relação ao terceiro momento, este vem sendo realizado em conjunto com os demais momentos e envolve atividades técnicas, tais como: 1) Elaboração de Manuais de Boas Práticas de Fabricação de Alimentos e de Procedimentos Operacionais Padrão, em conformidade com as legislações vigentes, e com base na realidade e caracterização das unidades. 2) Elaboração de fichas técnicas; Resgate intergeracional, teste de receitas e elaboração de fichas técnicas para cada produto em processo de desenvolvimento, visando verificar problemas na execução das receitas, identificar estratégias para elaboração e, reduzir o número e a quantidade de ingredientes não orgânicos da composição dos produtos em desenvolvimento, ou em fabricação, de modo a torná-los cem por cento (100%) orgânicos. 3) Elaboração de rotulagem nutricional, de modo a constituir as embalagens voltadas à comercialização, bem como, auxiliar na divulgação dos componentes nutricionais, voltados à escolha destes alimentos. 4) Realização de testes sensoriais, de modo a verificar o percentual de aceitabilidade dos alimentos e produtos

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9 fabricados pelas unidades. 5) Elaboração de material de divulgação junto a consumidores físicos e jurídicos, visando melhor utilização, armazenamento e qualidade ampla dos alimentos processados comercializados pelas associações e cooperativas.

RESULTADOS

Este projeto, que tem como proposta inicial ocorrer em quatro anos, está no seu primeiro ano de execução. Neste período, algumas atividades já foram desenvolvidas, tais como:

1) Reuniões com as instituições parceiras para levantamento das demandas. Neste momento, as seguintes demandas comuns foram apresentadas: Elaboração do Manual de Boas Práticas e dos Procedimentos Operacionais Padrão; Desenvolvimento de Rotulagem dos produtos; Oficinas sobre Boas Práticas e Desenvolvimento de preparações para fins de produção nas cozinhas comunitárias e/ou agroindústrias familiares. Após o levantamento das demandas e discussões sobre responsabilização na pesquisa, as atividades foram dividas entre os membros da equipe, de modo a levantar elementos para investigações futuras. Em relação à rotulagem, foi construída uma planilha de modo a facilitar a compilação das informações nutricionais dos produtos desenvolvidos e elaborar os rótulos. Após essa construção, uma planilha simplificada foi encaminhada aos parceiros para coleta das informações necessárias.

2) Dentre as atividade consideradas necessárias, pautou-se o levantamento das percepções de produtores e consumidores, sobre o que consideram ser uma alimentação saudável e de qualidade. Esta investigação tem por objetivo, identificar quais os entraves presentes para acessar uma alimentação considerada saudável e de qualidade, de modo a promover o empoderamento dos sujeitos quanto ao Direito Humano à Alimentação Adequada.

3) Outro ponto considerado necessário, trata da identificação de estratégias de venda para escoamento do excedente de produção, visando o fortalecimento do segmento da agricultura familiar, em especial, agroecológica. Nesta etapa foram discutidas diversas ferramentas relacionadas à área de gerenciamento e marketing de modo a promover a inserção dos produtos no mercado consumidor de alimentos in natura e processados. Percebeu-se a necessidade de conhecer as percepções dos consumidores de alimentos agroecológicos em relação aos mecanismos de acesso de alimentos produtos agroecológicos.

4) Visitas às instituições parceiras foram realizadas, com o intuito de contextualizar a realidade em que as famílias de agricultores estão inseridas, bem como entender seus modos de produção e as dificuldades que enfrentam. Até o momento, todas as instituições parceiras foram visitadas, sendo caracterizadas, parcialmente, sete das trinta e uma unidades familiares. Não se

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10 pretende realizar a visita em todas as unidades, mesmo porque, o projeto visa devolver a autonomia e a tomada de decisão às famílias, trabalhando com multiplicação de saberes e práticas, a partir da socialização do conhecimento construído junto aos atores sociais.

5) Reuniões de formação - Educação para ser. Semanalmente ocorrem momentos de discussão entre a equipe do projeto, visando romper com as estruturas do modelo tradicional, que tem formado nutricionistas tecnicistas, deslocados da realidade em que se inserem. Dentre os debates considerados chave, estão a discussão sobre a obra de “Extensão ou Comunicação?”, de Paulo Freire e o artigo “Formação pedagógica de professores de nutrição: uma omissão consentida?” de autoria da Nilce Maria da Silva Campos Costa.

6) Participação na Semana Acadêmica de Nutrição com a exposição fotográfica:

“Engula esta maçã”, com o objetivo de provocar discussões acerca do sistema agroalimentar dominante. Percepções dos participantes sobre a exposição fotográfica foi realizada e, aplicou- se a análise de mineração de palavras, para apresentar aos participantes do debate.

7) Socialização dos saberes e práticas. A equipe tem participado de eventos científicos para divulgar o projeto e as atividades que vem sendo desenvolvidas. Dentre os eventos mais expressivos, cita-se: o IX Congresso Brasileiro de Agroecologia e a III Jornada Questão Agrária e Desenvolvimento, que debatem, além do sistema agroalimentar, questões relacionadas à sociologia rural.

CONCLUSÕES/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este projeto tem possibilitado a integração dos sujeitos, formadores e em formação como nutricionistas, na realidade do sistema agroalimentar, tema de expressiva relevância no campo de atuação deste profissional, provocando problematizações acerca das opressões que regem a produção e o consumo de alimentos.

As problematizações têm oportunizado a estes sujeitos emergir da realidade a que estão inseridos, de modo a desvelar situações limite que não eram percebidas e/ou consideradas problemas a serem superados.

Trazer o nutricionista, formado ou em formação, para refletir sobre o modelo de produção de alimentos, até então, pouco discutido, em seu processo de formação, é possibilitar o resgate: de saberes e práticas tradicionais; da relação entre produção e consumo de alimentos;

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11 da relação entre produtor e consumidor; da essência como sujeitos protagonistas da própria história e da transformação da ciência da Nutrição.

Este projeto, ainda em seu início, tem buscado estratégias que permitam o Educar para ser, de modo a devolver aos sujeitos, a autonomia, a segurança, a diversidade, a cultura, a constante reflexão sobre a ação, para uma atuação cidadã, política e transformadora da realidade.

REFERÊNCIAS

ANJOS, M. C. R. Fronteiras na construção e socialização do conhecimento científico e tecnológico: um olhar para a extensão universitária. Tese (Doutorado em Educação Científica e Tecnológica), Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2014.

BRANDÃO, C. R.; STRECK, D.R. Pesquisa participante: a partilha do saber. São Paulo: Ideias & Letras, 2006.

CARVALHO, A. M. M. Tendências na formação do profissional nutricionista nos cursos de graduação

vinculados ao Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde). Dissertação (Mestrado em Ciências Médicas: Psiquiatria), Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2011.

CAPORAL, F.; COSTABEBER, J. A. Agroecologia: alguns conceitos e princípios. Brasília:

MDA/SAF/DATER/IIC A, 2004.

FREITAS, M.C.S. et al. Uma leitura humanista da nutrição. IN: FREITAS, M.C.S.; FONTES, G.A.V.;

OLIVEIRA, N. (Orgs.) Escritas e narrativas sobre alimentação e cultura. Salvador: EDUFA, 2008. p.207-15.

FREIRE, P. Extensão ou comunicação? São Paulo: Paz e Terra, 2010.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo Agropecuário 2006. Rio de Janeiro: IBGE, MPO, 2006

NIEDERLE, P. A.; ALMEIDA, L.; VEZZANI, F. M. Agroecologia: práticas, mercados e políticas para uma nova agricultura. Curitiba: Kairós, p. 98/99, 2013.

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VILELA E. M.; MENDES, I. J. M. Interdisciplinaridade e saúde: estudo bibliográfico. Revista Latino Americana de Enfermagem. v.11, n.4, p. 525-31, 2003.

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13 AGRADECIMENTOS

À equipe do projeto: Adriella Camila Gabriela Fedyna da Silveira Furtado da Silva, Andréa Vargas, Camila Ramos Pinto Sampaio, Camila Magalhães Malcher, Caroline Opolski Medeiros, Fernanda Salvador Alves, Flávia Edimara da Silva, Milena Regina Mussoi, Monique Ellen dos Santos, Paola Karolyne Jandrey, Silvia do Amaral Rigon, Thainá dos Santos Periard Perrot e Veridiane Guimarães Ribas Sirota; e às instituições parceiras:

Associação para o Desenvolvimento da Agroecologia – AOPA; Associação dos Grupos de Agricultura Ecológica São Francisco de Assis – ASSIS; Cooperativa Terra Livre e; Escola Latino Americana de Agroecologia, que têm colaborado constantemente com a compreensão do objeto de estudo, incitando reflexões sobre o processo de educação, bem como sobre o modelo de produção e consumo de alimentos.

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