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XVIII Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias SNBU 2014

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XVIII Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias SNBU 2014

SETOR DE MEMÓRIA DA FACE/UFMG: questões práticas e implicações epistemológicas

Carlos Alberto Avila Araujo Leonardo Vasconcelos Renault Fabiana Pereira Santos Tiago Miquéias Viana Mikael Vinicius de Souza Barbosa

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RESUMO

Relata a experiência de reestruturação do Setor de Memória da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG. Aborda o processo de descrição e tratamento dos documentos do setor. O acervo da Memória é composto, essencialmente, por registros acadêmicos/administrativos: diários de classe, atas de reuniões, coleções de alguns professores e registros de eventos. Possui, ainda, alguns livros e peças museológicas. O estudo e tratamento dos documentos se basearam nas regras de descrição do Código de Catalogação Anglo-Americano - AACR2 para a Biblioteconomia, das propostas descritivas do International Council of Museums - ICOM para a Museologia e dos padrões da Norma Brasileira de Descrição Arquivística - NOBRADE no escopo da Arquivologia. O processo envolveu uma equipe interdisciplinar composta de pessoas das áreas de Museologia, Arquivologia, Biblioteconomia, Informática e Ciência da Informação. A ideia de interrelação dessas áreas e desses profissionais se deu em função do cenário institucional da UFMG, onde cursos de graduação de Biblioteconomia, Arquivologia e Museologia estão sediados em uma Escola de Ciência da Informação. Conclui-se que no tratamento dos problemas relacionados com memória evidencia-se a necessidade de atuação em parceria e cooperação, destas áreas entre si e delas com demais campos científicos. Há, pois, uma ligação entre as propostas contemporâneas da Arquivologia, da Biblioteconomia e da Museologia, com esse quadro desenhado pelas tendências atuais de pesquisa em Ciência da Informação.

Palavras chave: Coleções Especiais, Memória Institucional, Biblioteconomia, Arquivologia, Museologia

ABSTRACT

Reports the experience of restructuring of the memory Sector of the Faculty of economic sciences, UFMG. Discusses the process of description and information treatment of the sector's documents. The memory collection is composed mainly by academic/administrative records: class diaries, minutes of meetings, collections of some teachers and event registrations. It also has some books and museum records. The study and treatment of the documents relied on rules of description of the Anglo- American cataloguing rules-AACR2 for library science, of the descriptive proposals of the International Council of Museums - ICOM for museum studies and the Brazilian standard of archival description-NOBRADE in scope of archival science. The process involved an interdisciplinary team composed of people from the areas of Museum Studies, Archival Science, Library Science, Computer Science and Information Science. The idea of interrelation of these areas with these professionals its possible with the current relation of the institutional setting of the UFMG, where undergraduate courses of Library Science, Archival Science and Museum Studies are headquartered in a School of Information Science. It is concluded that in the treatment of problems of the this project was evidenced the need for partnership and cooperation in these areas with each other and with other scientific fields. There is therefore a link between contemporary proposals of Archival Science, Library Science and Museum Studies, with this framework designed by the current trends of research in Information Science.

Keywords: Special Collections, Institutional Memory, Library Science, Archival Science, Museum Studies

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1 Memórias remotas

A construção de um setor de memória convoca diferentes saberes, diferentes campos científicos. Realizar uma “gestão da memória” implica, necessariamente, a atuação em parceria entre profissionais de áreas distintas. Ao mesmo tempo, as áreas envolvidas com esse trabalho saem, também elas, afetadas por esse encontro, isto é, a temática da memória também possibilita o incremento de conceitos, teorias e métodos das áreas de conhecimento que se envolvem em sua gestão.

Falar das disciplinas envolvidas na questão da memória poderia evocar discussões sobre a Comunicação, a História, a Administração, entre outras. No caso do Setor de Memória da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais – FACE/UFMG, ocorreu particularmente o envolvimento dos campos da Ciência da Informação, da Arquivologia, da Biblioteconomia e da Museologia. Tal escolha não se deu de maneira aleatória. Ela se relaciona com um cenário institucional da UFMG, onde cursos de graduação em Arquivologia, em Biblioteconomia e em Museologia estão sediados em uma mesma escola, a Escola de Ciência da Informação – ECI, o que implica uma mesma intenção de aproximação colocada tanto no campo científico como no setor de memória.

O setor de Memória da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG se encontra abrigado nas dependências da Biblioteca Professor Emílio Guimarães Moura. O acervo da Memória Institucional da FACE foi idealizado no ano de 1991, durante as comemorações do cinqüentenário da faculdade, vindo a ser criado por meio do “Projeto Memória FACE” no ano de 2008 com a finalidade de preservar documentos que permitam reconstituir a história institucional da FACE. Este acervo é composto, essencialmente, por registros acadêmicos/administrativos: diários de classe, atas de reuniões, coleções de alguns professores e registros de eventos. Possui ainda alguns livros e peças museológicas.

No ano de 2012 por meio do projeto de reestruturação do setor, formulou-se novas frentes de trabalho. Inicialmente, captou-se recursos junto à FACE por intermédio da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais - IPEAD no intuito de digitalizar algumas peças do acervo. Dessa forma institui-se parceria entre o IPEAD e o Arquivo Público Mineiro - APM resultando na digitalização de parte significativa do acervo.

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Outra etapa muito importante foi o estudo dos campos para descrever os objetos do acervo. Na perspectiva de um olhar mais amplo buscou-se mapear padrões descritivos das áreas de Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia para formar um único padrão descritivo que desse conta da multiplicidade da equipe que formou o projeto, bem como das características difusas do acervo. O estudo se baseou nas regras de descrição do Código de Catalogação Anglo-Americano - AACR2 para a Biblioteconomia, das propostas descritivas do International Council of Museums - ICOM para a Museologia e dos padrões da Norma Brasileira de Descrição Arquivística - NOBRADE no escopo da Arquivologia.

Delineada a planilha principal partiu-se para a estruturação do banco de dados de modo que a perspectiva de fundos (proposta pela Arquivologia) se somasse a outras formas de topologia do acervo, como por exemplo, a estruturação por assunto, autoria e até mesmo a perspectiva de um olhar espacial (característica da Museologia) através da navegabilidade no site.

Paralelo a estas iniciativas foi proposto um grupo de estudos com característica interdisciplinar que problematizou textos das três áreas envolvidas e de assuntos transversais como, por exemplo, a questão da memória. Estas reflexões foram fundamentais para o entendimento do que é o setor de memória no contexto da FACE e com isto delinou-se quais seriam as ações cabíveis no escopo dos trabalhos desenvolvidos pela equipe, posto que:

A curiosidade pelos lugares onde a memória se cristaliza e se refugia está ligada a este momento particular da nossa história. Momento de articulação onde a consciência da ruptura com o passado se confunde com o sentimento de uma memória esfacelada, mas onde o esfacelamento desperta ainda memória suficiente para se colocar o problema de sua encarnação. O sentimento de continuidade torna- se residual aos locais. Há locais de memória porque não há mais meios de memória (NORA, 1993, p.7).

Esta curiosidade motivou a vinda de uma equipe interdisciplinar1 que contou com três bolsistas de Museologia (na maioria do tempo), um professor da ECI/UFMG como orientador, uma arquivista (que se desligou do projeto recentemente), dois bibliotecários (foi agregado mais um bibliotecário recentemente totalizando três) e um analista de sistemas. Para o grupo

1 Para a consecução da proposta, foi formalizado um projeto, tendo à frente a arquivista Janda Tamara de Sousa e o bibliotecário Leonardo Vasconcelos Renault, além da bibliotecária Fabiana Pereira dos Santos, do profissional de computação Daniel Felippe Bernardino Corrêa (que estruturou o banco de dados), dos bolsistas do curso de Museologia Bárbara Lempp, Thiago Miquéias e Mikael Barbosa e da bolsista do curso de Biblioteconomia Gilmara Silva. Participou também a bibliotecária Letícia Alves Vieira como monitora dos estagiários no ultimo trimestre de 2013.

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de estudos agregou-se ainda mais dois estudantes de pós-graduação da ECI-UFMG2.

Os trabalhos continuam em pleno desenvolvimento tendo à frente agora uma bibliotecária em substituição à arquivista que se desligou da instituição. A perspectiva atual é de materialização do lugar da memória da FACE para que, numa projeção futura, possa se constituir cada vez mais em meio de (re)conhecimento e (re)construção de sua própria história.

2 Reflexos no campo teórico

Como evidenciado nas discussões acima, a temática da memória envolve diferentes aspectos: salvaguarda, disponibilização, identidade institucional, entre outros. Cada área envolvida é “provocada” de maneira diferente pela interação destes aspectos, principalmente com a criação de demandas novas, tais como uma maior complexidade na visualização e no tratamento dos problemas e da necessidade de se ter modelos mais atentos, justamente, a essa interrelação.

No campo da Arquivologia, tais reflexos se relacionam com diversas contribuições teóricas, entre as quais destacam-se as contribuições de Tanodi (2009), que define o objeto de estudo da Arquivologia não como sendo os arquivos ou os documentos mas sim a

“arquivalia”, isto é, a ação arquivística que se realiza sobre os diferentes produtos da ação humana. Outra contribuição é a noção de “arquivo total” de Silva et al (1998), isto é, a ideia de que a Arquivologia deve ser mais do que um conhecimento instrumental e técnico e de que o arquivo é mais do que a mera soma de “fundo” mais “serviço”, é uma unidade integral aberta ao contexto dinâmico e histórico que o substancializa. Também a proposta de uma Arquivologia pós-moderna por Cook (1997) deve ser considerada, na medida em que ela representa a crítica à ideia de arquivo como algo pronto, acabado, e do arquivista como um profissional neutro a lidar com a massa documental. Em sua discussão, Cook postula que o arquivista é um mediador do processo de construção da memória coletiva por meio da ação dos arquivos. Nesse sentido, o objeto da Arquivologia não seriam os arquivos ou os documentos, mas sim os processos, as dinâmicas de criação dos documentos e as relações

2 O grupo foi coordenado pelo professor da ECI Carlos Alberto Ávila Araújo e participaram dele todos os membros da equipe, além de um doutorando (José Alimateia Aquino Ramos) e uma mestranda (Gabrielle Francinne de Souza Carvalho Tanus) do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UFMG que no momento desenvolviam pesquisas relacionadas à mesma temática.

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entre os sujeitos envolvidos – os arquivos são, assim, profundamente carregados de influência de quem os cria e da sociedade em que se inserem.

No campo da Biblioteconomia, merecem destaque os estudos que apresentam a ideia de mediação como central para o campo (ALMEIDA JR, 2009), proporcionando uma mudança de perspectiva do entendimento da ação bibliotecária: de uma noção difusora, de transmissão de conhecimentos, para um entendimento dialógico, de construção conjunta de conhecimentos entre distintos atores. Esse caráter mediador ganha relevância no contexto digital, em que um novo cenário convoca à construção de novas intervenções por parte da biblioteca (PÉREZ PULIDO; HERRERA MORILLAS, 2005). Nesta mesma linha está a

“Nova Biblioteconomia” (LANKES, 2011), que vê como missão central desta área a promoção de condições para a criação de conhecimento por parte de diferentes comunidades;

e as reflexões que relacionam a biblioteca com o conceito de “esfera pública”, isto é, como promotora da participação ativa dos cidadãos na sociedade da informação (VENTURA, 2002).

Já na Museologia, a definição do objeto de estudo da área promovida por Stránský (2008) como sendo não o museu, mas o “museal” (ou a musealização), isto é, uma determinada dimensão da ação humana presente nos mais diversos contextos – inclusive, mas não só, no museu – traz todo um redirecionamento para o campo. Fernández de Paz e Agudo Torrico (1999) ressaltam que a discussão sobre a musealização traz uma problematização sobre quais bens ou objetos serão musealizados, isto é, que serão destacados como de especial significado dentro de um contexto cultural – e ainda, uma vez realizado esse processo, de que forma eles serão interpretados na realidade museal. Nesta mesma linha está a proposta da

“Nova Museologia”, a partir das ideias de Georges-Henri Rivière e Hugues de Varine-Bohan, que propuseram repensar o significado da própria instituição museu. Nessa visão, os museus deveriam envolver as comunidades locais no processo de tratar e cuidar de seu patrimônio.

Propõe-se assim uma mudança no sentido do museu: de lugar de entrega de um conhecimento a uma comunidade (transmissão), para lugar construído pela própria comunidade - veículo de expressão de uma identidade (MAIRESSE; DESVALLÉS, 2005).

Numa perspectiva distinta, o impacto das tecnologias digitais tem suscitado novas reflexões, como a área denominada Museum Informatics, que trata das interações sociotécnicas (entre as pessoas, a informação e a tecnologia) nos espaços museais (MARTY; JONES, 2008).

No campo da Ciência da Informação, é possível identificar a aproximação com estas

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ideias em, pelo menos, duas grandes perspectivas de estudo. A primeira é a ideia de inserção dos fenômenos informacionais em contextos sociohistóricos específicos, envolvendo autores distintos como García Gutiérrez (2008), Day (2001), Braman (2004) e que é muito bem expressa pelo conceito de “regime de informação” de Frohmann (2008): para se entender como algo se torna “informação”, é preciso analisar a inserção dos fenômenos informacionais em contextos concretos os quais eles se realizam. Tal abordagem conduz necessariamente a um modelo global de compreensão, incluindo as dimensões técnicas, tecnológicas, econômicas, jurídicas, regulatórias, sociais, culturais, entre outras.

A segunda perspectiva se constrói a partir da ideia de “ação informacional”. A origem dessa ideia remonta à proposta de criação de uma disciplina específica, a Epistemologia Social, por Shera (1977), ainda nos anos 1960 - uma disciplina dedicada ao estudo de todos os meios e processos por meio dos quais o conhecimento circula, integra-se e coordena-se no contexto de uma determinada coletividade. Tal ideia foi levada adiante por Wersig (1993), que propunha que a Ciência da Informação não deveria ser uma ciência dos documentos ou dos procedimentos de tratamento técnico destes documentos, mas sim uma área voltada para a reflexão sobre os processos de construção, circulação e apropriação destes documentos. A especificidade desta perspectiva é apresentada por Capurro (2009) que, para definir informação, remonta aos conceitos gregos de eidos (ideia) e morphé (forma), significando

“dar forma a algo”. Estudar informação é assim construir um olhar que se inscreve no âmbito da ação humana sobre o mundo (“in-formar”) e a partir do mundo (se “in-formar”). Ou seja, os seres humanos, em suas diferentes ações no mundo (produzir pesquisa científica, construir sua identidade, monitorar o ambiente mercadológico, testemunhar direitos e deveres, etc), produzem registros materiais, documentos – eles in-formam. É essa ação de produzir registros materiais que é a informação, que é o objeto de estudo da CI. A CI não estuda a ação administrativa, política, cultural, etc, em si mesmas, mas apenas naquilo que elas têm de informacional. Ao mesmo tempo, os seres humanos, também em suas diferentes ações (pode- se citar as mesmas ou outras, como tomar decisões de investimentos, testemunhar determinados direitos, comunicar-se com os outros, etc), utilizam documentos, registros materiais – os seres humanos se in-formam. É também essa ação de utilizar, se apropriar dos registros de conhecimento que é a informação, e que é também objeto de estudo da CI. Além disso, no movimento de produzir registros, os seres humanos constroem um repertório coletivo, um acervo social de conhecimento – enfim, memória. E é acessando esse acervo ou

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essa memória que os mesmos seres humanos também se informam.

Há, pois, uma ligação entre as propostas contemporâneas da Arquivologia, da Biblioteconomia e da Museologia, com esse quadro desenhado pelas tendências atuais de pesquisa em Ciência da Informação. Essa ligação pode ser interpretada, pois, como um sinalizador da importância que pode ter, em termos de incremento teórico e conceitual, uma maior aproximação e um diálogo mais efetivo entre essas áreas.

O tratamento dos problemas relacionados com memória evidencia a necessidade de atuação em parceria e cooperação, destas áreas entre si e delas com demais campos científicos. Ao mesmo tempo, como se pretendeu demonstrar, o cenário teórico contemporâneo (resultante da evolução do conhecimento científico nestas áreas) é claramente favorável a essa cooperação e à demanda por complexidade.

Portanto, a noção de “memória” atua como conceito articulador de diferentes saberes. A criação e a condução de setores de memória mostra-se, assim, um espaço excelente para a promoção de fertilização inter/transdisciplinar entre as áreas. Contribuiu para a articulação das relações entre as dimensões administrativa e científica, para o cumprimento das três

“missões” da universidade (ensino, pesquisa e extensão) e, ainda, como espaço laboratorial dos cursos de graduação, para o tensionamento de teorias e produção de novos conhecimentos.

3 Operação memória (procedimentos)

A primeira etapa do projeto de memória da FACE foi coordenada pela arquivista Janda Tâmara que juntamente com o apoio, para definir as pré-diretrizes documentais, do professor Galba3 realizaram a estruturação do arranjo em sua fase inicial, definindo as coleções de fundo bibliográfico e textual.

Após estruturado em hierarquias de tópicos e subtópicos, procedimento em que o conteúdo documental foi analisado e organizado de acordo com os temas, natureza e suporte dos acervos, passamos pela etapa de busca de possíveis locais para digitalização (tratamento digital) dos documentos em Belo Horizonte. Foi firmada uma parceria entre o IPEAD e APM, a qual digitalizou parte do acervo.

3 Professor Galba Di Mambro, Professor do Departamento de História da Universidade Federal de Juiz de Fora e Diretor do Arquivo Histórico UFJF.

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Antes do processo de digitalização fomos orientados a manter as características físicas dos documentos originais, (como rabiscos e comentários nas páginas, rasgos e alguns reparos, pois o acervo seria tratado no APM) os códigos atribuídos deveriam ser registrados e anexados juntos aos objetos, para evitar possíveis confusões entre os documentos físicos, digitais e facilitar o manuseio entre eles. Após esse processo, os documentos foram identificados com códigos escrito a lápis de grafita macia. Findo este processo, iniciou-se a preparação do acervo para digitalização no APM.

O procedimento de trabalho adotado pelo APM consiste na utilização de dois tipos de formatos no processo de digitalização de documentos textuais: o formato TIFF (para fins de preservação) e o formato JPEG (para fins de recuperação e acesso). Os equipamentos para a digitalização e todo o maquinário envolvido em cada etapa do processo, trabalhavam ligados em rede, sendo uma máquina com grande capacidade de armazenamento e processamento de dados, a matriz responsável por reunir e salvar todo o conteúdo produzido. Todo o acervo digitalizado, por uma medida de segurança, foi gravado em uma fita com a capacidade de 40 GB e arquivado em um local específico, com identificação do conteúdo tratado e separado pelo nome da instituição em que o serviço foi prestado.

Nesse contato com a instituição APM não se pode deixar de relatar uma valiosa experiência que, apesar de não estar presente no planejamento inicial, foi de grande importância para o projeto. Trata-se do aprendizado sobre processos básicos de restauração, limpeza e encadernação dos documentos que foram levados, o que possibilitou o entendimento de algumas técnicas, conhecimento de ferramentas e materiais utilizados para a limpeza e reparo.

Após o processo de digitalização e entrega dos materiais, retornou-se o trabalho de representação dos objetos tendo como referência a planilha Arquivo, Biblioteca e Museu - ABM a qual gerou um banco de dados para ser alimentado tendo os seguintes campos como referência:

Quadro 1 – Campos de descrição ABM ABM

Código identificador BRFACE

Nome da Coleção Solenidades

Título principal Encontro de administração

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Fon te:

Ela bor ado pel os pró prio s autores

Por fim procedeu-se à uma organização final com o objetivo de continuidade do processo de descrição dos objetos que ainda se encontra em curso.

4 Ausências (dificuldades de retenção da memória)

Acredita-se que é válido falar sobre alguns problemas que atravessamos no decorrer desse caminho. O primeiro deles foi a dificuldade de entendimento do papel do outro no projeto. Por estar lidando com objetos de diferentes formatos ainda não sabíamos qual o melhor tratamento para cada um deles, nem qual melhor instrumento que deveria ser Título da unidade de descrição Memória FACE

Autor Araújo, Elizabete Ribeiro de; Cunha,

Denise Ribeiro

Edição (número) 19

Data Maio de 1987

Editor (editora e local) FACE- Belo Horizonte

Tipo de publicação Boletim Informativo

Procedência Reprodução Comemorativa do 35º

aniversario do curso de administração da faculdade de ciências econômicas e 60º da Universidade Federal de Minas Gerais Condições de reprodução Acesso ao Formato Digital- Ao Original-

Fotocópia- (...)

Idioma Português

Características físicas

Localização dos originais Memória FACE

Material e técnica Gênero textual em papel

Descrição do objeto

Assunto Vocabulário não controlado

Arranjo Organizado por fundos

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utilizado. Estávamos no momento em que havia profissionais da área arquivística e biblioteconômica, porém ainda não havia ocorrido a discussão sobre os limites e possibilidades de cada profissional no processo. Após levantamento dos objetos da Memória FACE, pesquisado e pensado sobre as possibilidades foi decidido que a organização inicial se daria de forma arquivística. Assim, foi desenvolvido o sistema de organização dos objetos através de fundos.

No projeto que envolveu sujeitos de diferentes áreas do conhecimento sempre houve a preocupação de congregar os saberes dessas diferentes áreas. Muito se aprendeu e foi desenvolvido nesta experiência. A partir das reuniões e das trocas de e-mails, sempre tomando como ponto de partida os documentos existentes na Memória FACE e as formas de representação destes documentos/objetos nas áreas de arquivologia, biblioteconomia e museologia foram construídos os campos para representação dos itens.

Outra dificuldade que passamos foi de cunho administrativo, porém de vital importância para o desenvolvimento do projeto, que foi a contratação dos bolsistas. O valor das bolsas que nos foram cedidas era baixo e pouco atrativo, assim a carga horária era pequena e os bolsistas ficavam muito pouco tempo se dedicando ao projeto, conseqüentemente tivemos que aumentar o prazo para término do mesmo. Dois bolsistas saíram do projeto, o que demandou esforço para seleção, contratação e treinamento de novas pessoas.

Como já foi citada anteriormente a digitalização dos documentos foi realizada através de um convenio com uma entidade governamental, assim tivemos que nos adequar a seus prazos e formas de trabalho. Os arquivos digitais quando devolvidos eram verificados e renomeados um a um. Em algumas ocasiões houve desencontros, nem sempre conseguíamos alinhar os esforços e entrar num entendimento. Esta experiência foi de grande valia para nós, pois vivenciamos uma forma de trabalho diferente da que estávamos inseridos.

Com o fim da digitalização, a tabela para inserção de dados criada e banco de dados construído iniciou-se o trabalho de descrição dos objetos, porém por um problema técnico perdemos os dados e o processo de descrição teve que recomeçar novamente.

O projeto da Memória FACE apresentou muitos desafios para a equipe, pois nos deparamos com objetos de formatos variados e inovamos ao tratá-los de uma forma que agregasse saberes de três áreas: arquivologia, biblioteconomia e museologia. A idéia de congregar profissionais de diversas áreas trouxe muitas discussões válidas e enriquecedoras.

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O legado que o projeto deixa é o respeito e o reconhecimento do saber e da singularidade do outro. Ainda temos muito que caminhar, pois a Memória da FACE continua em construção e esta memória deve ser conhecida.

5 Memorabilia (memórias dignas de nota)

Em geral o que podemos pontuar é uma experiência rica em sua diversidade de olhares e fazeres reunidos sob a égide do projeto para o Setor de Memória da FACE/UFMG.

Evidentemente o estranhamento que o outro provoca nos provocou também alguns percalços e aprendizados mútuos. Este processo que ainda continua em curso e do qual pretendemos edificar como algo a ser lembrado.

Nos resta continuar a edificar a memória, ainda que trabalhando com os fragmentos e as exceções, mas com a certeza de um trabalho que não se esgota aqui e que tampouco vislumbra a noção de totalidade. O que se propõe é um começo, uma possibilidade para a construção de um projeto de memória, dentro das limitações do setor, para a Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG.

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