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Sumário. Texto Integral. Tribunal da Relação de Guimarães Processo nº 123/12.3TBCBC-C.G1

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Tribunal da Relação de Guimarães Processo nº 123/12.3TBCBC-C.G1 Relator: ANTÓNIO SOBRINHO Sessão: 19 Maio 2016

Número: RG

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: APELAÇÃO Decisão: IMPROCEDENTE

SUSPEIÇÃO PERITO

Sumário

I - Os fundamentos de suspeição pressupõem que ocorra uma circunstância pela qual possa suspeitar-se da isenção dos peritos, a qual se coaduna em regra com razões de parentesco, afinidade, interesse processual equivalente às partes, inimizade ou intimidade com as partes.

II – Inexistindo uma situação de suspeição, eventual irregularidade no

desempenho funcional, na qualidade de perito, enquadrar-se-á já na validade ou regularidade do acto de peritagem em si.

Texto Integral

Acordam no Tribunal da Relação de Guimarães:

I – Relatório;

Por apenso aos autos de expropriação em que são expropriados B… e C…

vieram os expropriados suscitar incidente de suspeição dos peritos nomeados pelo Tribunal, D…, E… e F….

Alegaram que aqueles peritos remeteram ao perito por si nomeado, G…, um e- mail cujo teor daria a entender que os peritos recusados agiriam de forma não isenta.

Concluem que os peritos não são imparciais, pedindo a sua destituição.

Notificados os Srs. Peritos, vieram os mesmos e, ainda, o perito da Entidade Expropriante, H…, esclarecer os factos que estiveram na origem do aludido e-

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mail.

Foi realizada inquirição de testemunhas, tendo sido ouvidos os cinco peritos.

Posteriormente, foi decidido julgar improcedente o incidente de suspeição e, em consequência, não declarar impedidos para intervirem nos presentes autos os Srs. Peritos nomeados pelo Tribunal, C…, D… e E…..

Inconformados com tal decisão, dela interpuseram recurso os recusantes/

expropriados, em cuja alegação formulam, em súmula, as seguintes conclusões:

1. Devem os factos constantes do ponto 4, ser dados como NÃO PROVADOS;

2. Não ficou provado, que “No âmbito de tal reunião, ficou determinado que o perito F… elaboraria um projecto de relatório de avaliação”;

3. Não pode o tribunal “a quo” dar como provado que o Perito G…foi

convocado para a conferência a que alude o artigo 49º, nº 1 do Código das Expropriações;

4. Sendo que apenas foi efectivamente enviada uma posição final;

5. Tal resulta do depoimento do perito Engenheiro G…, perito dos expropriados.

6. Na realização de uma peritagem, embora havendo opiniões diferentes, têm os peritos de tentar chegar a um consenso, antes de elaborarem uma posição final;

7. Dos depoimentos dos peritos dos expropriados, do perito da entidade expropriante e dos peritos do Tribunal, ficamos sem saber quanto tempo durou a referida reunião, e sobre o seu conteúdo;

8. Além de que o local em causa, o exterior de um restaurante, não é e nem pode ser o local adequado para que os peritos levem a efeito a conferência a que se refere o artigo 49º, nº 1 do Código das Expropriações;

9. Percorrendo os depoimentos de todos os peritos, não chegamos a nenhuma conclusão sobre a reunião que foi realizada, nem sobre o que nela ficou

decidido, devendo os factos constantes do ponto 4 devem ser dados como NÃO PROVADOS;

10. É inverosímil e improvável que se tenham discutido as questões mais

relevantes para a elaboração da perícia colegial, até porque como referiram os peritos dos expropriados e da entidade expropriante, a mesma não durou mais que 10 a 20 minutos. Além de que, os depoimentos dos peritos são

contraditórios quanto ao conteúdo desta reunião e à sua duração, bem como ao que ali se combinou;

11. Acresce ainda, o facto de ser dado como provado o ponto 5 da douta sentença, não poder o tribunal recorrido retirar as conclusões que

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efectivamente retirou;

12. Salvo o devido respeito, que o tribunal recorrido e o Mmo. Juiz “a quo”

merecem da aqui signatária, não se tratou de um “mal-entendido”, mas sim de um mau procedimento dos peritos nomeados pelo Tribunal que

grosseiramente ignoraram o perito dos expropriados, como se ele não fizesse parte dos peritos designados para elaborar o relatório;

13. Tal conduta é grave e consubstanciadora de colocar em causa a isenção dos peritos, que ignoraram todos os outros peritos;

14. O ponto 5 da sentença, é comprovativo disso, pois transcreve o email aqui em causa, e parte do qual agora se reproduz “onde consta a posição final homologada pelos Peritos indicados pelo Tribunal”;

15. Se os próprios referem que se trata de uma posição final, é porque não admitem que a mesma seja modificada;

16. Mais referem que “Assim, solicita-se que analisem e que caso não estejam de acordo acrescentem a posição discordante”, ou seja, não admitem novas reuniões para discussão, e daí referirem ”acrescentem a vossa posição”.

17. Ora, tal procedimento nunca poderá ser percebido como um mal-

entendido, tanto mais que é escrito por pessoas com habilitações superiores e peritos com larga experiência;

18. Aliás, a resposta dos Srºs Peritos ao requerimento de suspeição é

elucidativa ( em tudo)… pois agora já dizem – é caso para dizer que já sabem dizer – “tratava-se de minuta de relatório”;

19. Deve este Tribunal alterar a resposta à matéria de facto, devendo ser dado NÃO PROVADO O PONTO 4, pois nenhuma prova foi feita no sentido de que o conteúdo da reunião foi o aí referido, nem tendo sido apurado o tempo da referida reunião;

20. Não era possível, após a vistoria ao local, e no exterior de um restaurante, poder levar a cabo a conferência a que alude o artigo 49º, nº 1 do Código das Expropriações;

21. Não pode o tribunal satisfazer-se apenas e só com um relatório pericial, que com certeza fundamentará a decisão final, construído, sem um debate profundo e sem que nele constem as diversas posições, de todos os peritos;

22. O Tribunal tem de ter em conta um relatório elaborado por todos os

peritos após um debate entre todos, por forma a decidir a justa indemnização a aplicar, nos termos do disposto na Constituição da República Portuguesa e no Código das Expropriações;

23. A improcedência do presente incidente de suspeição, conduzirá a

posteriori, à declaração de nulidade da decisão que vier a ser proferida, desde que centrada num auto pericial, “ferido de morte”;

24. Sendo esse auto será aquele que decorre de uma decisão parcial, sem

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cumprimento das regras previstas no Código das Expropriações;

25. Acresce que os peritos demonstraram a sua parcialidade, aquando da resposta ao pedido de declaração de suspeição;

26. Os peritos do tribunal actuaram como partes e não como deviam, com distanciamento da causa a decidir;

27. Nos presentes autos, foi suscitado o incidente de suspeição dos peritos nomeados pelo Tribunal, porquanto o comportamento daqueles não se coadunou com o esperado e exigido pelas normas legais aplicáveis ao caso.

28. Nestes casos, deve o colégio dos peritos nomeados reunir e discutir todas as questões que se colocam no âmbito da perícia para que após isso deliberem todos em conjunto;

29. E dispõe o artigo 49º nº1 do Código das expropriações que o acórdão dos árbitros seja proferido em conferência servindo de relator o presidente;

30. Sendo que o nº2 preceitua que tal acórdão, devidamente fundamentado, é tomado por maioria não se obtendo uma decisão arbitral por unanimidade ou maioria, vale como tal a média aritmética dos laudos que mais se aproximarem ou o laudo intermédio, se as diferenças entre ele e cada um dos restantes forem iguais;

31. Os procedimentos e exigências referidos não foram cumpridos pelos peritos indicados pelo tribunal e aqui sujeitos a incidente de suspeição;

32. Foi afastado o perito indicado pelos expropriados, a que nunca os restantes peritos convidaram para participar na deliberação que aqueles tomaram, tal como se impunha;

33. Tal atitude revela que os peritos recusaram trabalhar em conjunto para elaborar o acórdão de peritagem, limitando-se a elaborar um documento em que vertiam a sua posição face ao assunto que lhes foi submetido, não

havendo um prévio acordo entre todos os peritos nem uma reunião que

antecedesse a sua elaboração, o que coloca de forma irremediável em causa a isenção e imparcialidade dos peritos nomeados pelo tribunal;

34. Enquanto intervenientes no processo expropriativo, aos peritos compete prosseguir o interesse público, no respeito pelos direitos e interesses

legalmente protegidos dos expropriados e demais interessados, estando sujeitos a observarem determinados princípios, designadamente o da imparcialidade;

35. Como auxiliares da justiça e dada a especial relevância e responsabilidade dos peritos, cuja prova embora não vinculativa é um instrumento

indispensável para se decidir sobre a justa indemnização com vista ao reforço da isenção, foram criados mecanismos de garantia de imparcialidade sendo um deles o instituto da suspeição;

36. A valoração do comportamento dos peritos, neste caso, deve obedecer a

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uma exigência específica de um verdadeiro juízo pericial, que que se pretende tutelar, definindo-se como ausência de qualquer prejuízo ou preconceito em relação à matéria a decidir ou às pessoas afectadas por esse juízo, o que significa que o motivo ou circunstância que justifica a suspeição terá de radicar na relação do perito com o objecto da causa ou com os sujeitos, de modo a criar, neste caso, uma predisposição favorável ou desfavorável;

37. A circunstância de o perito dos expropriantes não ter sido consultado, é adequada a gerar desconfiança sobre a sua isenção, e recorrendo ao senso e experiências comuns tal actuação é adequada a gerar a referida desconfiança;

38. E a comprovar isso, temos as respostas dos peritos ao incidente de

suspeição, as quais fazem parte destes autos, onde se denota a inimizade que têm com o perito dos expropriados e com os próprios expropriados, usando linguagem até ofensiva;

39. A relação de confiança, imparcialidade, já antes estava comprometida com o envio da “posição final” via email, e atentas as palavras do perito dirigidas aos expropriados, em sede judicial no âmbito do incidente de suspeição, levam a crer que tal relação de confiança e imparcialidade se tornou completamente impossível;

40. O facto de apelidar os expropriados, num documento junto a estes autos de ignorantes e insolentes compromete desde logo toda a peritagem em que este perito poderá intervir.

41. Ao decidir como decidiu, a sentença recorrido violou, entre outros, o artigo 61º e 62º do C. EXp., e o artigo 615º, nº1, al. c) do CPC.

Pedem que seja revogada nesta parte a sentença recorrida e a sua

substituição por outra que declare que os peritos nomeados pelo tribunal estão impedidos de intervir nos presentes autos.

Não houve contra-alegações.

II – Delimitação do objecto do recurso; questões a apreciar;

O objecto do recurso é delimitado pelas conclusões das alegações, nos termos do artº 639º, do Código de Processo Civil (doravante CPC).

As questões suscitadas pelos recorrentes podem sintetizar-se nos seguintes itens:

a) Erro na apreciação da prova.

b) Erro de direito: declaração de suspeição dos peritos.

Colhidos os vistos, cumpre decidir.

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III – Fundamentos;

1. De facto;

A factualidade dada como assente na sentença recorrida é a seguinte:

Factos Provados

1. Por despachos de fls. 297 e 298 e 427 dos autos principais, foram nomeados como peritos para realização de relatório à parcela expropriada, C…, D…, E…, F…. e G….Carlos Miguel Pinto João, Eduardo José Lascasas Moreira dos

Santos, António Francisco Coelho Pinheiro, Paulo Edgar Rodrigues Ribeirinho Soares e José Afonso Gonçalves Lima Abreu, tendo os três primeiros peritos sido indicados pelo Tribunal, o quarto pelos Expropriados e o quinto pela Entidade Expropriante.

2. Tendo em vista a elaboração do relatório pericial, os aludidos peritos reuniram-se no passado dia 12 de Maio de 2015, tendo nesse dia reunido no local da parcela expropriada.

3. Após a visita à parcela, os peritos reuniram-se, durante período de tempo não concretamente determinado, na esplanada da designada “Churrasqueira do Paço”, em Arco do Baúlhe.

4. No âmbito de tal reunião, ficou determinado que o Perito F… elaboraria um projecto de relatório de avaliação, no qual ficaria sufragada a opinião dos Peritos do Tribunal, e que remeteria os mesmos aos restantes Peritos, para que referissem as posições que entendessem.

5. No dia 28 de Setembro de 2015, o Perito F…remeteu aos Peritos dos Expropriados e da Entidade Expropriante, com conhecimento dos restantes peritos, um e-mail que continha como anexo um laudo de peritagem, e como conteúdo o seguinte teor:

“Exmos Srs. Peritos Indicados pelas partes:

Em anexo envio a minuta do laudo de peritagem relativo ao processo supra referido, onde consta a posição final homologada pelos Peritos indicados pelo Tribunal.

Assim, solicita-se que analisem e que caso não estejam de acordo acrescentem a posição discordante.

Com os meus cumprimentos F…”

6. Os Peritos do Tribunal, bem como o da Entidade Expropriante, encontram- se na disponibilidade de apreciar o relatório por si remetido e, sendo caso

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disso, realizar nova reunião com todos os peritos.

Factos não Provados:

Não se provou que o Perito G… não tenha sido convocado para qualquer reunião.

2. De direito;

a) Erro na apreciação da prova:

Os recorrentes impugnam a decisão de facto, no que concerne à matéria constante do ponto 4 dos factos provados da sentença recorrida, o qual deveria ter merecido resposta negativa, e cujo teor é o seguinte:

Provado:

«4. No âmbito de tal reunião, ficou determinado que o Perito António Francisco elaboraria um projecto de relatório de avaliação, no qual ficaria sufragada a opinião dos Peritos do Tribunal, e que remeteria os mesmos aos restantes Peritos, para que referissem as posições que entendessem».

Baseiam-se para o efeito nos elementos de prova atinentes ao depoimento da testemunha G…, perito dos expropriados, e às declarações dos peritos

indicados pelo tribunal, C…, D… e E….e ainda do perito da expropriante, H….

Apreciando.

Em matéria de valoração das provas, nomeadamente do depoimento e

declarações em questão, o tribunal a quo aprecia-os livremente, por força do disposto no artº 607º, nº 5, do CPC, salvo o estatuído na parte final do mesmo preceito.

É certo que, no que respeita à questão da alteração da matéria de facto, face ao invocado erro na avaliação da prova testemunhal e declarações dos

recusados, mas sem se descurar, no caso concreto, a prova documental, cabe a esta Relação, ao abrigo dos poderes conferidos pelo artº 662º, do CPC, e,

enquanto tribunal de 2ª instância, reapreciar, não apenas se a convicção expressa pelo tribunal a quo tem suporte razoável naquilo que a gravação da prova e os restantes elementos constantes dos autos revelam(1), mas,

também, avaliar e valorar (de acordo com o aludido princípio da livre convicção) toda a prova produzida nos autos em termos de formar a sua própria convicção relativamente aos concretos pontos da matéria de facto objecto de impugnação, modificando a decisão de facto se, relativamente aos

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mesmos, tiver formado uma convicção segura da existência de erro de julgamento da matéria de facto (2).

É inelutável, porém, não olvidar que, mesmo havendo gravação sonora dos meios de prova produzidos oralmente, o Tribunal de recurso está cerceado de toda a panóplia de elementos probatórios ao dispor do Tribunal a quo que enriquecem a reconstituição dos factos, como seja, desde logo, a nível testemunhal, a espontaneidade do testemunho, a linguagem gestual, os silêncios ou hesitações, enfim, a percepção do imediatismo, credibilidade e isenção desse depoimento e declarações.

Os apelantes insurgem-se contra a prova da materialidade fáctica vertida no aludido ponto 4, com os fundamentos de que: i) não resultou provado que o Sr.

Perito G… foi convocado para a conferência a que alude o artigo 49º, nº1, do Código de Expropriações; ii) não se sabe quanto tempo durou a reunião; iii) o local da reunião em causa não é adequado para que os peritos levam a cabo a dita conferência.

Ora, o enquadramento legal da dita reunião como não subsumível na conferência prevista no artº 49º, do Código de Expropriações (CE) não constitui matéria de facto, mas sim matéria de direito.

Por outro lado, a duração e o lugar de tal reunião têm relevância inócua quanto ao factualismo contido no assinalado ponto 4, já este não se refere a tais circunstâncias, mas sim o ponto 3 provado, o qual não foi impugnado.

Certo é também que, neste ponto 3 está consignado que os peritos reuniram- se durante período de tempo não concretamente determinado – o que foi corroborado globalmente pelos Srs. Peritos, segundo, aliás, a própria tese dos recorrentes.

Já quanto ao conteúdo da reunião a que se reporta o impugnado ponto 4 aqui em questão, é o próprio Sr. Perito dos expropriados quem esclarece que, quando se reuniram na esplanada da “Churrasqueira do Paço”, aquele propôs que, juntamente com o Sr. Perito da expropriante, elaborariam um texto que depois, reunindo-se, discutiriam com os restantes peritos.

Mais referiu o Sr. Perito dos expropriados que tal proposta não foi aceite pelos peritos indicados pelo Tribunal, tendo dito um deles que faria uma proposta, mandá-la-ia e depois seria discutida.

Tal factualismo foi corroborado pelos demais peritos, inclusive por parte do Sr.

Perito da expropriante, esclarecendo este que, em termos de metodologia, ficou acordado nessa reunião (onde se discutiu, como questões fundamentais, a classificação do solo como apto para construção e a legalidade do

licenciamento, por parte do Sr. Perito da expropriante, bem como a

indemnização pela depreciação da parte sobrante, por parte do Sr. Perito dos expropriados) que o projecto de relatório seria elaborado pelo Sr. Engº F…, de

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acordo com aquilo que foi abordado nessa reunião, seria remetido aos

restantes peritos, que não ficou excluído haver outra reunião de trabalho, caso fosse necessário debater qualquer outro ponto, a solicitação de qualquer

perito.

Em suma, reexaminada a prova testemunhal e as declarações dos Srs. Peritos, podemos concluir que a convicção formada pelo tribunal a quo, quanto ao citado ponto de facto 4, além de não padecer de qualquer erro manifesto ou grosseiro, coaduna-se, em termos de razoabilidade e adequação, com os referidos elementos probatórios produzidos em audiência.

Ademais, os recorrentes limitam-se a impugnar a factualidade provada com base em excertos parciais extraídos desses relatos, seja quanto à hora ou lugar dessa reunião, sem terem em conta a globalidade dos testemunhos prestados, os quais, merecedores de objectividade, detalhe e credibilidade, apontam manifestamente no sentido de se ter apurado, como decidido pelo julgador a quo, a materialidade fáctica do redito ponto 4.

Porquanto se deixa exposto, decide-se manter a materialidade fáctica constante da decisão recorrida, designadamente quanto ao ponto de facto provado nº 4 - artº 663º, nº 6, do CPC.

b) Erro de direito: declaração de suspeição dos peritos.

Os apelantes argumentam que existe erro quanto à questão de direito consubstanciado na circunstância de se mostrarem preenchidos os

fundamentos para a declaração de suspeição dos Srs. Peritos indicados pelo tribunal.

Entende-se que não lhes assiste razão.

Aliás, diga-se, em abono da verdade, que independentemente da

improcedência da matéria de facto impugnada, a factualidade em causa não é subsumível numa situação de suspeição dos Srs. Peritos.

Os fundamentos de suspeição pressupõem que ocorra uma circunstância pela qual possa suspeitar-se da isenção dos peritos - cfr. artº 17º, nº1, do Dec.Lei nº 125/2002, de 10.05 – elencando-se nas alíneas a) a e) deste preceito situações em que tal se verifica, as quais se coadunam em regra com razões de parentesco, afinidade, interesse processual equivalente às partes,

inimizade ou intimidade com as partes.

Ora, do factualismo provado não é possível extrair qualquer circunstância fáctica da qual possa emergir uma suspeita de isenção dos Srs. Peritos em causa.

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E, relativamente, ao propalado ‘email’ que arrufou o Sr. Perito dos

expropriados, também não é possível discernir do seu teor que aqueloutros Srs. Peritos pretendiam apresentar o resultado pericial em definitivo e que os mesmos o fizessem ao arrepio da audição e colaboração dos restantes peritos.

Na verdade, do próprio texto desse ‘email’ consta, por um lado, que se trata de uma minuta do laudo de peritagem e, por outro, faz-se apelo à sua análise e, em caso de desacordo, ao aditamento da posição discordante.

Em suma, não traduz uma avaliação definitiva, impeditiva de alterações ou posições divergentes, nem literalmente arreda a possibilidade de os Srs.

Peritos reunirem posteriormente.

Mesmo no seu parágrafo 1º, o que se infere da expressão “posição final homologada” é que a dita minuta, enquanto tal (ou seja, esboço, rascunho), traduz a corroboração, a aprovação a que chegaram, entre si, os peritos

indicados pelo tribunal, mas solicitando aos demais peritos para apresentarem as suas divergências ou discordâncias.

Não se tratava, portanto, nem de um relatório final de peritagem, nem de um documento estanque a qualquer modificação, mormente por parte dos

restantes peritos avaliadores.

Ao invés do exposto, a verificação de situações que se prendem com o

procedimento de desempenho funcional, na qualidade de perito, enquadrar-se- ão já na validade ou regularidade do acto de peritagem em si.

Em resumo, in casu, o que poderá ou não configurar-se é, pois, uma situação de irregularidade do acto de avaliação, susceptível (ou não) de interferir no exame e decisão da causa, mas jamais de suspeição dos Srs. Peritos visados, nos termos articulados pelos recusantes/expropriados e objecto do presente recurso.

Improcede, assim, a apelação.

Sumariando:

I - Os fundamentos de suspeição pressupõem que ocorra uma circunstância pela qual possa suspeitar-se da isenção dos peritos, a qual se coaduna em regra com razões de parentesco, afinidade, interesse processual equivalente às partes, inimizade ou intimidade com as partes.

II – Inexistindo uma situação de suspeição, eventual irregularidade no

desempenho funcional, na qualidade de perito, enquadrar-se-á já na validade ou regularidade do acto de peritagem em si.

IV – Decisão;

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Em face do exposto, na improcedência da apelação, acordam os juízes desta 1ª secção cível em confirmar a sentença recorrida.

Custas pelos apelantes.

Guimarães, 19 de Maio de 2016

___________________________________

(1) Nesta concepção, a divergência quanto ao decidido pelo tribunal a quo na fixação da matéria de facto só assumirá relevância no Tribunal da Relação se for demonstrada, pelos meios de prova indicados pelo recorrente, a ocorrência de um erro na apreciação do seu valor probatório.

(2) A jurisprudência tem vindo a evoluir no sentido de se firmar um

entendimento mais abrangente no que se refere aos poderes de alteração da matéria de facto pela Relação, considerando-os com a mesma amplitude que a dos tribunais de 1ª instância. Nessa medida, e no que se refere à questão da convicção, já não estará em causa cingir apenas a sua actividade de

apreciação ao apuramento da razoabilidade da convicção do julgador da 1ª instância, mas antes formar a sua própria convicção nos elementos

probatórios disponíveis nos autos (cfr., entre outros, o Acórdão do STJ de 16.12.2010, proc. 2401/06.1TBLLE.E1.S1, in www.dgsi.pt).

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