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Imagens e narrativas de uma instituição asilar e da velhice, construidas por tres segmentos distintos : idosos moradores, gestores e voluntarios

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

IMAGENS E NARRATIVAS DE UMA INSTITUIÇÃO ASILAR E DA VELHICE, CONSTRUÍDAS POR TRÊS SEGMENTOS DISTINTOS: IDOSOS MORADORES,

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

IMAGENS E NARRATIVAS DE UMA INSTITUIÇÃO ASILAR E DA VELHICE, CONSTRUÍDAS POR TRÊS SEGMENTOS DISTINTOS: IDOSOS MORADORES,

GESTORES E VOLUNTÁRIOS

Katia Ricci dos Santos

Profª Drª Margareth Brandini Park

Este exemplar corresponde à redação final da Dissertação defendida por Katia Ricci dos Santos e aprovada pela Comissão Julgadora. Data: 26/02/2007 COMISSÃO JULGADORA: ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________

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RESUMO

A fim de contribuir para a melhoria das instituições de longa permanência, essa pesquisa tem como objetivo analisar como três segmentos distintos – asilados, voluntários e gestores – constroem e ressignificam a história de um asilo e as suas histórias de vida a partir dos vínculos institucionais. A pesquisa foi desenvolvida numa instituição de longa permanência, a Vila São Vicente de Paulo, fundada em Atibaia - SP em 1924. A metodologia usada foi a pesquisa-ação, utilizando-se no processo de reconstrução da história institucional e da história dos sujeitos imagens fotográficas do acervo oficial associadas à história oral. A análise dos dados foi composta: a) da visão panorâmica das narrativas individuais produzidas da seleção de imagens; b) discussão dos principais temas levantados em cada segmento associando-os aos conceitos encontrados na literatura: afetividade na velhice asilada, declínio físico e finitude (asilados), valorização das atividades e dos relacionamentos sociais (voluntários) e visão administrativa do cuidar de velhos (gestores); c) interpretação das fotografias excluídas. A afetividade e a sexualidade dentro do asilo são vividas de forma emblemática, ou seja, há estratégias do cotidiano, como as festas, para poder expressá-las. A finitude é um tema constantemente presente no discurso. Os voluntários pretendem ser o vínculo com o mundo externo e proporcionar atividades sociais consideradas fundamentais. Existe a preocupação dos gestores em administrar a instituição oferecendo mais do que alimentação, cuidados de saúde e habitação, mas a maioria sente que não tem formação gerontológica para fazê-lo.

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ABSTRACT

Intending to improve the long-term care institutions, this study aims to analyze how three distinguished groups - dwellers, volunteers and managers - affect an institution's history and the new significance of their own lives concerning their relationship with it. The research was developed in Vila São Vicente de Paulo, a long-term care institution in Atibaia, SP, founded in 1924. The methodology used was action-search using photographs from the institution’s collection, and oral history throughout the history reconstruction. Data analysis involved three steps: A) overview of the individual narratives, recorded from the chosen photographs, b) discussion of the themes considered the most important ones for each group and linking them with concepts of the literature: affect in the old age in an institution (for the elderly), bodily decay and finitude (dwellers), valorization of activities and social relationship (volunteers) and perceptions of caring for older persons (managers); c) interpretation of the photographs which were not chosen. Affection and sexuality in the institution are dealt with in symbolic ways, with daily strategies like parties and events. The theme finitude is frequently mentioned somehow. The volunteers intend to link institution and extramural community, and provide activities considered (by them) fundamental. the managers concern about caring for the institution and offering more than only proper alimentation, health caring and homes, but many consider themselves insufficiently prepared concerned knowledge.

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AGRADECIMENTOS

Para realizar uma pesquisa como esta foi preciso primeiramente o senso de inovação e de humildade por parte de quem administra para permitir a exposição de fatos históricos, a leitura de documentos e a constatação de que nenhuma instituição é perfeita. Muito obrigada à abertura dada por todos os gestores para que este estudo fosse realizado. Tenho a consciência que a confiança em mim depositada foi na expectativa de ampliar os conhecimentos sobre o envelhecimento institucionalizado e manter o discernimento para desenvolver o estudo sem prejudicar a vida dos moradores.

Foi preciso muita dedicação, colaboração, disponibilidade e boa vontade de várias pessoas para que a pesquisa se completasse. Agradeço especialmente aos meus informantes Dona Isaura, Dona Hilda, Sr. Ditão, Pedro, Gilberto, Sr. José Cintra, Sr. Leonino, Sr. Cardoso, Sr. Odécio, Dona Geny, Rita, Inge e Dr. Ettore que ajudaram a entender melhor o universo pesquisado. Muito obrigado aos funcionários que facilitaram os contatos e a realização das entrevistas, especialmente a coordenadora administrativa, Mariângela A. S. Pinto, por seu completo empenho em ajudar na localização de documentos, fotografias e, principalmente, a disposição infinita para receber sugestões e refletir comigo sobre o desenvolvimento do trabalho com os idosos da instituição.

Agradeço aos meus familiares pelo apoio afetivo e instrumental para realização desse mestrado. Em especial aos meus filhos, Beatriz e Bruno, por todo o suporte que me ofereceram com seus conhecimentos de informática e da língua inglesa. Ao meu marido, pelo constante e antigo incentivo e incondicional apoio para que eu pudesse realizar esse estudo. À minha cunhada, Sissi, pela sua presença sempre nas horas mais importantes e necessárias.

Agradeço aos professores Jaime Lisandro Pacheco, Renata Sieiro Fernandes e Amarildo Batista Carnicel pela participação na banca de qualificação

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professora Zula Garcia Giglio por concordar em participar da banca de defesa em condições tão imprevisíveis e fornecendo contribuições tão importantes.

Agradeço à professora e amiga Cássia Regina Rodrigues Varga por concordar em estar junto em mais um projeto.

Muito obrigada aos amigos e professores da gerontologia da Unicamp com quem pude compartilhar momentos de aprendizado e convivência, especialmente minha amiga Ilka Nicéia D’Aquino O. Teixeira que se fez sempre presente e me incentivou em muitos momentos. Além de realizar a revisão do meu trabalho.

E por fim, um agradecimento especial a minha orientadora, professora Margareth Brandini Park, que se revelou uma profissional extremamente sensível ao sofrimento humano e me proporcionou uma convivência pedagógica e pessoal muito próxima, tão rica de aprendizados e com total liberdade de criação. É um prazer conviver com uma pessoa tão especial.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 1

CAPÍTULO 1: AS INSTITUIÇÕES ASILARES E A LITERATURA... 7

1.1.PERFIL DO IDOSO INSTITUCIONALIZADO... 9

1.2.O ENVELHECIMENTO NOS ASILOS... 12

CAPÍTULO 2: HISTÓRICO E CONTEXTUALIZAÇÃO ATRAVÉS DA DOCUMENTAÇÃO OFICIAL... 17

2.1.TEMPO CRONOLÓGICO DO ASILO... 18

2.2.ESTATUTO DA VILA... 25

2.3.REGULAMENTO INTERNO DO ASILO... 26

2.4.ATIVIDADES DESENVOLVIDAS POR VOLUNTÁRIOS... 30

2.5.UM MARCO NA HISTÓRIA DA INSTITUIÇÃO... 31

2.6.DIRETORIAS E ZELADORIAS... 34

2.7.OESPAÇO FÍSICO E A PARTE HUMANA DA VILA... 35

2.8.ORGANOGRAMA: ... 39

2.9.QUADRO INFORMATIVO DA VILA SÃO VICENTE DE PAULO... 40

3. OBJETIVOS DO ESTUDO ... 45

3.1.OBJETIVOS GERAIS... 45

3.2.OBJETIVOS ESPECÍFICOS... 45

4. METODOLOGIA ... 47

CAPÍTULO 5: MORADORES ... 93

5.1.ESCOLHAS INDIVIDUAIS:OLHAR PANORÂMICO E NARRATIVA EXPLORATÓRIA 93 5.1.1. Dona Isaura: Minha infância... meus amigos mortos e vivos... meu declínio físico ... 93

5.1.2. Dona Hilda: Vida, somente antes do asilamento... 96

5.1.3. Sr. Pedro: Memórias de Vida ... 99

5.1.4. Sr. Benedicto: Tudo bonito, tudo bacana ... 103

5.2.DIÁLOGO E TEMAS NO SEGMENTO MORADOR... 108

5.2.1. Afetividade na Velhice Asilada ... 108

5.2.2. Declínio Físico, Fragilidade e Finitude ... 119

CAPÍTULO 6: VOLUNTÁRIOS... 133

6.1.ESCOLHAS INDIVIDUAIS:OLHAR PANORÂMICO E NARRATIVA EXPLORATÓRIA... 133

6.1.1. Dona Geny: O asilo: ensinamento e amizades... aprender a morrer . 133 6.1.2. Ingeborg: O voluntário é o elo e a interação do idoso com o mundo social... 136

6.1.3. Rita de Cássia: Fatos recentes e antigos proporcionam uma reflexão para mudanças ... 139

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6.2.1. Função do Voluntário ... 149

6.2.2. Valorização das atividades e relacionamentos sociais... 157

CAPITULO 7: GESTORES... 165

7.1.ESCOLHAS INDIVIDUAIS:OLHAR PANORÂMICO E NARRATIVA EXPLORATÓRIA.... 165

7.1.1. Sr. Odécio: A importância dos recursos financeiros para administrar a instituição ... 165

7.1.2. Sr. Leonino: Asilo: um lugar para viver... 168

7.1.3. Sr. Carlos Cardoso: É prioritário o vínculo e o compromisso de responsabilidade com o trabalho na instituição... 171

7.1.4. Sr. José Cintra: Outro tipo de cuidado que possa trazer algo mais que alimento e remédio... 179

7.1.5. Sr. Gilberto Crosta: Transição: uma instituição menos discriminatória para uma instituição com princípios gerontológicos... 184

7.2.DIÁLOGOS E TEMAS NO SEGMENTO GESTOR... 187

7.2.1. Visão Administrativa do Cuidar ... 187

CAPÍTULO 8: “MEMÓRIAS ESQUECIDAS”... 209

CONSIDERAÇÕES FINAIS... 233

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 243

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INTRODUÇÃO

São sete horas da manhã. Os moradores da Vila São Vicente de Paulo caminham em direção ao refeitório. É um dos momentos mais esperados do dia - o café da manhã. Provavelmente, as refeições são um dos poucos prazeres do dia. Esse, no entanto, é um dia atípico. Além das funcionárias, um grupo de estudantes do curso técnico de atendentes de enfermagem está no refeitório para ajudar a servir o lanche. Duas alunas bem intencionadas, mas não preparadas resolvem cantar músicas infantis. Elas são imediatamente seguidas pelas demais e causam uma reprovação generalizada. Excetuando-se os idosos com demência e com dependência física, os moradores retiram-se do recinto. Atraída pelo som, a coordenadora administrativa entra no recinto e troca olhares com as merendeiras. Deparando-se com a situação, expressa desapontamentos e desaprovação. A partir desse dia, os grupos novos de estagiários, voluntários ou visitantes, são propriamente informados sobre temas relacionados ao envelhecimento. Antes de desenvolverem atividades na instituição, são discutidos tópicos referentes aos objetivos de uma instituição de longa permanência, representação social da velhice e dinâmica da vida desses moradores. O objetivo é diminuir uma tendência que as pessoas têm de infantilizar os idosos, impondo-lhes papéis inadequados: criança, passivo ou incapaz.

Segundo Debert (2004, p. 136), “preparar os velhos para um envelhecimento institucionalizado adequado é oferecer-lhes espaço para o desenvolvimento de uma intimidade plena, um espaço doméstico perdido que poderia ser recuperado”. Constrói-se esse espaço de intimidade ouvindo o velho, não o infantilizando e não entrando em confronto com seus valores, cultura e história.

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Apesar dos asilos existirem no Brasil desde 17821, as pessoas têm dificuldades para lidar com o envelhecimento, principalmente com o envelhecimento institucionalizado. Segundo Groisman (1999a), isso ocorre em função das representações sociais negativas do envelhecimento. Existe uma supervalorização da velhice bem sucedida que implica a negação dos problemas físicos ou mentais decorrentes da idade avançada.

Atualmente, considera-se que as instituições de longa permanência são espaços absolutamente necessários para atender os idosos com doenças crônico-degenerativas. Esse processo evidencia-se em decorrência do aumento da expectativa de vida e das alterações ocorridas na estrutura familiar. Além disso, as instituições acumulam o papel que cumpriam anteriormente - acolher o idoso pobre e sem família. Observa-se que houve um avanço na legislação, mas nem todas as instituições estão preparadas para proporcionar uma moradia onde o velho possa viver dignamente.

Os asilos possuem, em comum, a função de propiciar o atendimento por meio de hospedagem, assistência à saúde de forma direta ou indireta e algumas atividades de ocupações e lazer. Quando a presença do idoso torna-se difícil ou insustentável na família, as instituições protegem aqueles sem família ou que são separados do seu grupo familiar.

Alguns estudos (HERÉDIA et. al., 2004; SIQUEIRA e MOI, 2003) demonstram que idosos residentes em asilos levam uma vida reclusa e formalmente administrada. É observado que eles apresentam um baixo nível de interação com outros idosos que vivem na instituição e têm limitados contatos sociais com pessoas de fora e familiares. Consequentemente, isso os tornam pessoas vulneráveis aos problemas afetivos e cognitivos. Para entender suas reações, é necessário focalizar não apenas o idoso institucionalizado, mas considerar também o ambiente no qual desenvolvem-se as relações sociais nos asilos. Herédia et. al. (op. cit.) observaram, em estudo sobre a realidade do idoso institucionalizado, que o asilamento provoca mudança no estilo de vida, passando

1 Segundo Born, o primeiro asilo para idosos foi criado no Rio de Janeiro, em 1782, pela Ordem Terceira da Imaculada Conceição. Informação apresentada no Seminário Instituição de Longa Permanência para Idosos

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a ser caracterizado pela passividade, não-participação, ausência do exercício da autonomia e supondo alterações profundas que conduzem às atitudes de espera. Essa mudança não é uma opção pessoal, mas é provocada pela condição de estar asilado. As autoras sensibilizam os interessados para a necessidade de reflexão sobre os valores que são importantes para os idosos asilados, explicando que o estilo de vida pessoal tem relação direta com o estado físico-mental. Em depoimentos na pesquisa, os idosos não explicitam seus sentimentos negativos em relação à instituição, mas muitos expressam o sentimento de não se sentirem no próprio lar, onde seriam os sujeitos de suas ações. Dessa forma, adaptam-se a contingência de cumprir normas e regras impostas pela instituição.

No asilo, o sentimento de pertencimento e a identidade social do idoso ficam comprometidos, pois a mudança de lugar afeta profundamente sua vida, Os papéis familiares significativos não são transportados para o ambiente institucional e os objetos pessoais quase sempre não o acompanham, deixando de existir familiaridade com a antiga casa. No entanto, o idoso que não possui laços familiares de pertencimento encontra, no asilo, um lugar de acolhimento, proteção e de mudança positiva de sua identidade social.

Para Lucca (2003) a identidade social do idoso se dá no espaço e no contexto em que vive, ou seja, desempenhando papéis e interagindo com os outros (identidade social). Essa identidade reforça-se na percepção como sujeito dessas interações dando significado as suas experiências e atribuindo sentidos aos sentimentos, falas e ações (identidade subjetiva). Essa interação entre o social e o subjetivo é mediada por determinantes políticos, ideológicos, culturais, biológicos e psicológicos.

Neves também entende a identidade além de seus aspectos individuais. Para esse autor, “a memória, como substrato da identidade, refere-se aos comportamentos e às mentalidades coletivas, na medida em que o relembrar individual encontra-se relacionado à inserção histórica de cada indivíduo”. O recordar incita à reflexão e a reconstituição temporal, contribuindo para aguçar a

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Para Pollak (1992), quando a memória e a identidade não estão suficientemente constituídas, instituídas e amarradas, os questionamentos vindos de grupos externos à organização e os problemas trazidos pelos outros, provocam a necessidade de rearrumações no nível da identidade coletiva e individual:

A construção da identidade é um fenômeno que se produz em referência

aos outros, em referência aos critérios de aceitabilidade, de admissibilidade, de credibilidade, e que se faz por meio da negociação direta com outros... a memória e identidade podem perfeitamente ser negociadas, e não são fenômenos que devam ser compreendidos como essências de uma pessoa ou de um grupo. (POLLACK, p.7)

Propiciar ao idoso a possibilidade de relatar sua história a partir do asilamento poderá trazer algum significado ou a reconstrução do significado de uma identidade social. A história oral desempenha um papel importante neste objetivo ao privilegiar a análise de grupos excluídos que não tiveram oportunidade de expressar suas visões de mundo, seus anseios e aspirações da memória coletiva, colaborando na formação de uma consciência plena (ALCÂNTARA, 2004).

As lembranças trazidas pelos idosos asilados, através da narrativa, terão a lógica do momento atual, obedecendo a uma seqüência livre, trazendo os fatos mais marcantes e deixando outros menos importantes de lado. Essas lembranças poderão trazer a visão que o idoso tem de sua própria história, de uma vida que ele próprio construiu e a representação que tem de si mesmo. Permite, portanto, captar o modo como sua vida se transforma e como diferentes relações, instituições ou aspectos significativos na sua vida podem se tornar importantes. (HERÉDIA et al., op. cit., p.67)

Será possível construir a história dessas instituições através do discurso do idoso, ouvindo seu relato e as impressões relacionadas à trajetória institucional e de vida? A construção da história asilar ajudará a entender o sentido de um envelhecimento de exclusão e de institucionalização de forma mais real e ampla? É possível conhecer o que pensa o idoso asilado sobre seu lugar de moradia e os vínculos ali construídos?

Se a instituição ressignifica a sua memória histórica, através de fotografias do próprio acervo institucional, permitindo ao idoso participar desse processo, ele

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pode reafirmar sua existência no tempo. Ele pode reviver e evocar, com imagens e idéias de hoje, as experiências do passado. Como a memória implica também em sentimentos, as lembranças relacionadas à vida na instituição podem ter novos arranjos quando compartilhadas com outras pessoas no presente.

Promover a ressignificação de experiências afetivas vivenciadas no passado e no presente faz com que o idoso institucionalizado sinta-se como fonte de informação. Ele poderá sentir-se valorizado e com uma identidade social, além de manter preservada sua capacidade cognitiva, autonomia e o respeito à última etapa do seu ciclo vital.

A proposta de envolver o idoso residente na reconstrução da história do local de moradia será a de verificar se esses idosos se reconhecem como parte da instituição e ainda, se a instituição é sentida como sua casa, onde há o sentimento de pertencimento e de uma identidade social.

A proposta deste estudo é valorizar a narrativa de cada indivíduo que participa da instituição - morador, gestor, voluntário – para enriquecer a realidade do local seguindo o que Portelli (1997, p 17) orienta: “cada pessoa é uma amálgama de grande número de histórias em potencial, de possibilidades imaginadas e não escolhidas, de perigos iminentes, contornados e por pouco evitados”.

Os responsáveis pelo gerenciamento da instituição e aqueles que prestam

trabalho voluntário também trazem um perfil estruturado do que é a velhice, envelhecimento e asilamento. Apoiados nesse perfil, eles tomam decisões, criam padrões de comportamento e de assistência, definem como o velho deve ser tratado e priorizam escolhas. O objetivo desta pesquisa inclui conhecer as decisões tomadas e os caminhos priorizados pelos gestores e voluntários através da narrativa da história institucional. Busca-se também observar se as histórias coincidem com o que o velho institucionalizado relata e valoriza. Os investimentos estariam compatíveis com as necessidades de uma velhice excluída e pouco ouvida? Quem cuida administrativamente e socialmente tem uma visão real da população atendida?

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CAPÍTULO 1: As Instituições Asilares e a Literatura

Historicamente, o acolhimento feito à população idosa e grupos marginalizados tem sua origem na Sociedade de São Vicente de Paulo – SSVP, organização católica formada por pessoas que se dedicam a caridade para aliviar o sofrimento dos mais desfavorecidos.

Essa organização foi fundada em Paris, em 23 de abril de 1833, por um grupo de estudantes de Direito da Universidade de Sorbone, liderados por Frédéric Ozanan, em resposta às críticas feitas pelos estudantes ateus de que os estudantes católicos pregavam, mas não faziam caridade. A organização adotou o santo São Vicente de Paulo (1581-1660) como patrono, conhecido como “Pai da caridade” pela sua inteira dedicação aos pobres e incrédulos.

Grupos similares começaram a surgir em toda a França, expandindo-se pelo mundo e chegando ao Brasil com a fundação da primeira unidade Vicentina em 4 de agosto de 1872, no Rio de Janeiro. O Brasil é o maior país vicentino do mundo. Há 250 mil vicentinos e 2 mil obras de assistência incluindo hospitais, lar de idosos, creches e centros comunitários. Isso explica a existência de tantas instituições com essa denominação, cujas ações compreendem o apoio aos indivíduos, famílias, moradias e grupos sociais marginalizados. As contribuições são variadas, privilegiando-se o contato pessoal, a visita domiciliar e o fornecimento de alimentos, roupas e afeto.

No início do século XX, outras sociedades beneficentes surgiram e se organizaram para dar acolhimento às pessoas pobres e desamparadas nos conhecidos asilos para mendigos, tais como Casas Maçônicas e associações religiosas de diferentes credos, que se engajaram nas ações sociais de assistência aos desamparados. (ANDER-EGG, 1995).

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sem vínculos familiares e excluída da sociedade. Portanto, a assistência asilar no Brasil é fortemente influenciada pela tradição religiosa e filantrópica que se manifesta pela ajuda e benevolência aos pobres e desassistidos.

Os asilos atuais são denominados Instituição de Longa Permanência; mas, segundo Derntl 2, esse não deve ser um nome definitivo. “Asilos” não parece ser o termo adequado e não parece estar correta a designação atual, já que o termo “longa permanência” pode não sugerir a idéia de um lar onde se dispensam cuidados especiais.

Estas instituições variam de um simples abrigo onde o idoso alimenta-se e dorme, às instituições com infra-estrutura precária e condições mínimas para funcionamento, até imóveis adaptados ou instituições construídas para tal fim, altamente organizadas e adaptadas aos requisitos da legislação3.

A partir de 1993, com a implementação da Lei Orgânica de Assistência Social - LOAS4, o país inicia um avanço lento na área institucional e social, prevendo o

desenvolvimento de projetos, serviços e programas de ações, que garantam a possibilidade de atuações menos paternalistas junto aos idosos e às instituições de longa permanência com a co-responsabilidade dos governos federal, estadual e municipal.

Em 1994, houve o lançamento da Política Nacional do Idoso que gerou uma série de leis5 que beneficiaram o idoso ao assegurar seus direitos sociais,

promovendo a autonomia, integração e participação efetiva na sociedade. O envelhecimento passa a ser considerado como um problema social e público.

Com o Estatuto do Idoso, houve o fortalecimento e a extensão de mecanismos de controle das ações desenvolvidas em âmbito nacional, a ampliação dos direitos dos idosos e a complementação da Política Nacional do Idoso. No entanto,

2 Derntl, Alice Moreira. Quem administra as instituições de longa permanência? Disponível em: http://www.portaldoenvelhecimento.net/acervo/pforum/ilpis5.htm . Acesso em: 26/12/2006.

3 Portarias Interministeriais: nº. 810/89 e geriátrico de 22/9/1989, que estabelecem as Normas para o Funcionamento de Casas de Repouso, Clínicas Geriátricas e outras instituições destinadas ao atendimento de idosos e nº. 73, de 10/5/2001, que estabelecem normas de funcionamento de serviços de atenção ao idoso no Brasil, modelo para financiamento de projeto de atenção à pessoa idosa.

4 Lei n°. 8742 de 07 de dezembro de 1993 e medida provisória n°. 2187-13 de 24/08/2001 que regulamentam os direitos institucionais dos idosos, como a garantia de salário mínimo de benefício.

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observam-se entraves: a ausência de mecanismos formais para se exigir que o Estado garanta os direitos proclamados, o despreparo da sociedade para enfrentar o envelhecimento e a falta de vontade política para investir nessa área.

Paralelamente ao respaldo da legislação, houve um trabalho de humanização e qualificação de recursos humanos. Cursos, congressos e a assessoria em geriatria e gerontologia foram desenvolvidos pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGC) e pela Associação Nacional de Gerontologia (ANG), fundadas em 1961 e 1991, respectivamente. Essas sociedades vêm promovendo debates sobre temas relacionados à política e gestão das ILPIs (instituições de longa permanência) formando profissionais com conhecimentos na área gerontológica e geriátrica e disseminando a visão interdisciplinar no cuidar.

1.1. Perfil do Idoso Institucionalizado

No Brasil, há uma grande procura por vagas nas instituições asilares para a internação de idosos dependentes que necessitam de cuidados especiais e também por idosos independentes, numa faixa etária de 60 a 65 anos. Esses foram alijados do mercado de trabalho e da proteção familiar em decorrência de transformações sócio-econômicas em curso na nossa sociedade. Pela falta de implementação de programas que apóiem a sua permanência no ambiente familiar e na comunidade, as instituições atendem as necessidades destes idosos (SIQUEIRA e MOI, 2003).

A norma da Política Nacional do Idoso é priorizar o atendimento oferecido pelas famílias. Essa diretriz, no entanto, não leva em conta as mudanças na estrutura da família e o aumento dos idosos dependentes, de forma que os asilos constituindo-se a principal alternativa de cuidados para os velhos.

A crescente inserção da mulher no mercado de trabalho faz com que esta não seja a principal cuidadora dos membros dependentes da família, como acontecia tradicionalmente. Outro agravante é que a população idosa tem sido o

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criou uma categoria de idosos que necessita de cuidados especializados e a carência e a desorganização das políticas sociais e de saúde, mesmo com propostas adequadas e implantadas, não são suficientes para superar os problemas crescentes (BORN, 2002). A conseqüência é a institucionalização dos cuidados ou a formação de redes de suporte social6 para complementar os cuidados que o Estado ou a rede privada não dão conta de oferecer.

As instituições de longa permanência desempenham o papel de acolhedora dos velhos em processo de exclusão social; porém, suas normas internas podem contribuir para o afastamento dos problemas sociais externos, causando um confinamento social e deixando os idosos restritos à vida asilar, o que se caracteriza como uma forma de ruptura dos elos que os ligavam à vida familiar e social (ALCÂNTARA, 2004; HERÉDIA, CORTELLETTI E CASARA, 2004).

Em estudo sobre a dinâmica da institucionalização em Belo Horizonte, Chaimowicz e Greco (1999) retratam um perfil institucional no qual há predominância de mulheres (81,1%) viúvas ou separadas e uma proporção de homens adultos com menos de 65 anos (31%) independentes, sugerindo a dificuldade de se auto-sustentarem e a ausência de outro modelo de assistência para esses idosos permanecerem em seus domicílios.

Esses dados se confirmam nos estudos de Herédia no Município de Caxias do Sul, onde 61,68% dos idosos institucionalizados são mulheres e 42,29% são homens. Oitenta e cinco por cento ainda possuem família. Um dado significativo é o percentual de solteiros (38,32%) que somado ao percentual de viúvos (42,99%) demonstram que a ausência de companheiro (a) é um fator determinante no asilamento (HEREDIA et al. 2004).

Também na região sul, no Município de Canoas, Groenwald (2004, p. 119) pesquisou oito instituições asilares e observou a presença de indivíduos abaixo da faixa etária considerada limite para a internação, bem como doentes mentais, alcoolistas, deficientes e pessoas marginalizadas pela família, que encontraram na instituição um lugar para morar. A autora constata a necessidade de uma reflexão sobre a diversidade de “categorias de pessoas que sofrem de incapacidades

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quando colocadas em uma mesma instituição, marcadas pela obrigatoriedade de uma rotina que, mesmo sendo necessária pela convivência, resulta na despersonalização de seus integrantes”.

Em estudo sobre a percepção de idosos e a decisão de mantê-los institucionalizados, realizado por Alcântara (2004) no Lar Torres de Melo em Fortaleza, o perfil do idoso asilado é de pobres, indigentes, abandonados, solitários, doentes, alcoólatras e precocemente envelhecidos. Encobrem-se várias categorias de pobreza, além da velhice desamparada. Às vezes, a internação torna-se inevitável e o asilo é uma necessidade para as famílias e a sociedade. Permanece a função inicial de instituição assistencial vista pelo idoso como um local de assistência médica, além da garantia de satisfação das necessidades básicas do dia-a-dia.

Na maior parte das instituições asilares pesquisadas no Brasil, constatou-se negligência em relação à identificação (nome completo, data de nascimento, sexo, endereço, parentesco, escolaridade, etc.), à capacidade funcional e ao estado de saúde no momento da internação (GROENWALD, 2004; HERÉDIA, CORTELLETTI E CASARA, 2004). Observou-se também inadequação quanto às condições físicas e sanitárias das instituições e ausência de capacitação profissional para o atendimento aos idosos evidenciando a presença de maus-tratos(ALCÂNTARA, 2004; GROENWALD, 2004; MINAYO, 2003).

Lemos e Medeiros (2006) enfatizam que apesar dos aspectos negativos em manter os idosos em situação asilar – isolamento, inatividade, despersonalização, desamparo e dependência – hoje, as instituições de longa permanência se tornaram espaços absolutamente necessários. Isso se deve ao fato de atender aos idosos pobres e sem família, associando ao avanço da expectativa de vida que, conseqüentemente, provoca o aumento da prevalência de doenças crônico-degenerativas.

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1.2. O envelhecimento nos asilos a) Asilo e história

Existem teorias que abordam o envelhecimento como uma etapa do ciclo de vida7 na qual a velhice é colocada como a última fase de um ciclo linear e

progressivo, com características próprias e que é aplicável a todas as sociedades. Debert (2004) defende a idéia de que o envelhecimento deve ser analisado numa visão mais complexa e elaborada, dentro do “curso de vida”, ou seja, como um processo gradual que considera os significados específicos para cada grupo social e deve ser entendido em função de um contexto histórico, social e individual.

A partir da perspectiva do curso de vida, Groisman (1999b) e Debert (2004) discutem a velhice sob uma dimensão histórica, propondo que o entendimento da institucionalização asilar do idoso deve, necessariamente, ser compreendido a partir desse contexto histórico, cultural e social.

Groisman (op. cit.) apresenta o asilamento como o mecanismo mais evidente de “tecnologia de diferenciação” descrito por Katz (1996). O autor, que se apóia na teoria foucaultiana, denomina a tecnologia de diferenciação como a influência de mecanismos políticos, culturais e econômicos, sofridos no período que abrange as últimas décadas do século XIX e todo o século XX, e que redefiniu o curso de vida moderno, separou a velhice de outras fases da vida e determinou a inclusão do velho em novos papéis sociais. São três movimentos de diferenciação: o saber geriátrico/gerontológico, o asilamento e a aposentadoria. No Brasil, a aposentadoria e o asilamento são os resultados de modificações ocorridas nas práticas de assistência à população carente, o que configurou uma identidade específica ao velho pobre, distinguindo-o de outros extratos marginais (loucos, mendigos, órfãos). O velho asilado é o velho desamparado e o velho aposentado é o velho inválido para o trabalho.

7 Ciclo de vida refere-se à idéia de sucessão, repetição e tendência ao fechamento e é usada com o sentido de sucessão de estágios ou idades do desenvolvimento individual. Vários autores a utilizaram, tais como:

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A fundação do asilo de velhos representa o reconhecimento da velhice como alvo de uma prática institucional, naquele tempo (século XIX), baseada na caridade. Funcionando como elementos de separação e demarcação da velhice – uma separação espacial, o asilo contribui para a criação de novas imagens da velhice. Contidos pelos muros do asilo, aqueles que lá ingressavam tornavam-se homogêneos (por sua velhice) e ganhavam visibilidade social simplesmente como os velhos de um asilo para a velhice desamparada. (GROISMAN, op. cit., p. 53)

A tecnologia de diferenciação referente ao saber gerontológico e o geriátrico relaciona-se à evolução da medicina, registrada por Foucault, que nos séculos XVIII e XIX passam a substituir a visão da doença associada às forças divinas para as doenças associadas aos tecidos do corpo. O enfoque passa a ser, consequentemente, na deterioração dos tecidos com o envelhecimento e a morte. No século XX, a velhice passa para o domínio científico da medicina (geriatria) e o idoso passa a ser sujeito de estudo de profissionais de várias áreas. Principalmente nos anos 80, com a associação dos idosos à marginalização e à solidão, em decorrência de mudanças estruturais na economia feudal de base agrária e doméstica para o capitalismo centrado no trabalho, os idosos passaram a ser percebidos por estudiosos, políticos, legisladores e pelo mercado consumidor. Nos últimos anos, o tema envelhecimento destaca-se nas práticas institucionais e no atendimento das necessidades dessa população.

Groppo (2004) também expõe o seu pensamento de que a modernização ocidental trouxe a estruturação rígida de faixas ou categorias etárias e com isso “os saberes disciplinares e as ciências informavam a práxis das instituições sociais, principalmente as estatais e jurídicas, sobre como proceder diante de cada faixa etária” (p. 14). Consequentemente, houve uma “cronologização” e uma “institucionalização do curso de vida”, permitindo às ciências definirem o que acontece e o que se deve fazer em cada etapa da vida, desconsiderando-se as diversidades culturais, educacionais, regionais e individuais dos seres humanos.

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b) Asilo como Instituição Total

Goffman descreve o asilo como uma instituição total8, onde há a restrição

de contato e “desenvolvem-se dois mundos sociais e culturais diferentes, que caminham juntos com pontos de contato oficial, mas com pouca interpenetração” (2001, p. 20). A ligação com o mundo externo acontece por meio das pessoas que atuam no funcionamento da estrutura asilar: funcionários, administradores e voluntários. São esses que exercem a função de controlar a manutenção dos papéis sociais e até mesmo de reafirmar os estereótipos existentes.

Groisman reforça essa característica da instituição asilar quando afirma que, com o surgimento do asilo, a velhice ganha um lugar, mas ao mesmo tempo perde simbolicamente o seu lugar na vida. A velhice encontra-se fora do tempo e do espaço, sacralizada, vista como degeneração e alienada do mundo (GROISMAN, 1999a, p. 83).

O processo de internação provoca no idoso o despojamento dos papéis desempenhados durante a vida, enfrentando o que Goffman (op. cit, p.25) denomina de “morte civil” 9, isto é, perder o direito à cidadania. Esse processo de mortificação o enfraquece e faz perceber que foi excluído dos laços familiares, do trabalho e da cultura por meio dos quais estabelecia sua relação de estar no mundo. A institucionalização afeta a identidade pessoal, descaracterizando o modo de ser, agir e pensar e tirando a consciência de pertencer ao grupo social. Anula-se assim, a possibilidade que o idoso tem de manter e estabelecer relações com quem o reconhece e valoriza pelos atributos que sempre lhe pertenceram. Consequentemente, as representações e os sentimentos que o idoso havia desenvolvido a respeito de si próprio a partir de suas vivências são abandonados. Seu eu é descaracterizado e sofre uma desfiguração padronizada.

Ao ser admitido na instituição, o idoso não é recebido como sujeito histórico. Muitas vezes, não tem a identificação completa e são ignoradas suas diferenças,

8 Instituição total é “um local de residência e trabalho onde um grande número de indivíduos com situação semelhante, separados da sociedade mais ampla por considerável período de tempo, leva uma vida fechada e formalmente administrada” (Goffman, 2001, p.11).

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desejos e expectativas de futuro. A ruptura dos laços afetivos deixados na vida anterior ao asilamento, associada à necessidade de se submissão a uma vida comunitária com pessoas com as quais ele nunca antes teve qualquer ligação afetiva, significa em princípio, um estado de extrema solidão. “Muitos asilos são, portanto, desertos de solidão” (ELIAS, 2001, p. 85-86).

Bruno (2003) em “Retratos da velhice” analisa o ensaio fotográfico de Lily Sverner sobre velhos institucionalizados. Essa documentação imagética desvenda o isolamento social em que vivem os idosos, o qual provém da própria depreciação imposta pela estrutura social. Revelam imagens de velhos junto de seus poucos e pequenos pertences, objetos relicários de memória e, ainda, a procura da contextualização. O ambiente físico é marcado pela ausência de individualidade.

Para Goffman, a vida institucionalizada reprimida causa formas de

mortificação do eu 10, que são operadas de forma racionalizada de proteção ao

interno. Muitas delas, às vezes sutis, são observadas nas instituições asilares, tais como: os apelidos para os internos dados pela equipe dirigente; o caráter público de visitas e a colocação do interno em posição tão secundária que a equipe responsável pelos cuidados se esquece, por diversas vezes, de cumprimentá-lo. Os diálogos estabelecidos relacionarem-se somente à verificação do banho, vestuário e alimentação.

As linhas da adaptação do interno ao asilamento ocorrem de formas individuais, alterando-se entre diferentes táticas, conforme descritas por Goffman:

1. Afastamento da situação: o interno entra num processo de alienação e se abstém de participar das atividades que envolvem interação com os demais;

2. Intransigência: ocorre quando o interno tem uma atitude de rebeldia e se recusa a colaborar com a equipe dirigente;

3. “Colonização”: o interno fica num estado de resignação e percebe a instituição como um mundo estável e satisfatório;

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4. Conversão: o interno aceita e se identifica com as regras estabelecidas pela direção, adotando, muitas vezes, o estilo e o vocabulário próprio dos dirigentes.

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CAPÍTULO 2: Histórico e Contextualização Através da Documentação Oficial Este trabalho aborda a memória de uma instituição de longa permanência (ILPI), a Vila São Vicente de Paulo, que abriga 41 idosos na fase atual, mas já acolheu cerca de 100 idosos desamparados. Nesses 82 anos de existência, essa instituição vem sendo administrada e cuidada por diferentes grupos de pessoas que deixam representados conceitos próprios de instituição asilar e velhice desamparada. São diferentes olhares e significados e, certamente, acompanhar essa história é acompanhar o amadurecimento da gerontologia, mesmo que de forma singular.

Os primeiros passos nesta pesquisa foram a leitura das atas para coletar informações objetivas sobre o histórico da instituição e a escolha das fotografias no acervo institucional para o desenvolvimento do trabalho com os três grupos escolhidos: asilados, gestores e voluntários.

As descrições abaixo estão baseadas na leitura dos livros atas de reuniões da diretoria e das assembléias gerais da Vila São Vicente de Paulo realizadas desde 03/08/1930. A pesquisadora apresentará a história oficial relatada nesses documentos como um parâmetro norteador e, posteriormente, terá como objetivo ressignificar a história institucional pelas construções mnemônicas dos sujeitos da pesquisa através das fotografias.

Segundo Prins (1992) utilizar outras fontes de informações é útil para confirmar ou não os dados. Associar essas informações à história oral pode proporcionar o contato com detalhes que seriam inacessíveis, pois estimulam o pesquisador a reanalisar outros dados de novas maneiras. Um exemplo seria dar “voz” àqueles que não se expressam no registro documental.

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2.1. Tempo Cronológico do asilo

A Vila São Vicente de Paulo foi fundada formalmente em 3 de agosto de 1930, na cidade de Atibaia-SP, por 33 cidadãos que eram liderados pelo então vigário da paróquia da cidade, o cônego Francisco Rodrigues dos Santos - conhecido como Padre Chico. Esse grupo reuniu-se na Igreja da Matriz e fundou a Irmandade Civil

Pró-Vila de São Vicente de Paulo, tendo por fim manter a Vila, já existente desde

1924. De acordo com as atas de reuniões e reportagem no jornal O Atibaiense, nessa época, a Vila era constituída de pequenas casas destinadas ao abrigo gratuito de famílias reconhecidamente pobres, “que não sofressem de moléstia contagiosa e que [apresentassem] bom comportamento”. Os responsáveis por administrar a Irmandade deveriam ser “pessoas de ambos os sexos, desde que maiores, católicos de reconhecida moralidade” 11. A Irmandade propunha-se a

fornecer, habitação gratuita aos pobres e distribuir, semanalmente, gêneros alimentícios e vestuários, quando dispusesse de recursos doados pela sociedade.

Prédio doado pela Prefeitura Foto atualizada da fachada da Vila

A Prefeitura da Estância de Atibaia doou à Irmandade um terreno de 12.750 m², em área central da cidade, para a construção da Vila. O terreno situava-se entre as ruas José Alvim e Tomé Franco, sendo que, atualmente esta última recebeu o nome de Rua São Vicente de Paulo. A partir da fundação da Irmandade, elegeu-se uma diretoria responsável por criar o estatuto e administrar o asilo ao longo dos anos. A preocupação inicial foi com o levantamento de verbas

11 Reportagem publicada no Jornal O Atibaiense de 04/10/1925 e relatos extraídos das Atas das Reuniões da Irmandade a partir de 1930.

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para a construção dos pavimentos que abrigariam os necessitados, pois só existia uma construção antiga que foi adaptada para moradia dos idosos. Em 17 de julho de 1932, seria inaugurada a capela, mas em virtude da Revolução Constitucionalista, a inauguração foi transferida para o dia 29 de outubro. Nessa mesma data a imagem de São Vicente de Paulo foi removida da Igreja do Rosário para a referida capela com celebração religiosa.

Inauguração do Pavilhão do refeitório Construção do pavilhão do refeitório

Em 1938, foi edificado por José Belizário de Camargo, o “Pavilhão Lourdes de Camargo”, destinado ao refeitório e administração do asilo. Em 20/12/1970, foi inaugurado um novo Pavilhão destinado à administração, serviços e novo refeitório. Em 21/12/1975, foi inaugurado o pavilhão de dormitórios para a guarida de mais 36 idosos indigentes. Em 1977, foi feita a construção do Ambulatório/Enfermaria que receberia idosos doentes em fase terminal vindos da Santa Casa de Atibaia. Em outubro de 2005, foi inaugurado o Centro de Convivência.

Em 1953, houve uma proposta das Irmãs Missionárias de São Carlos Barromeu para encampamento da Irmandade, comprometendo-se a dar continuidade ao trabalho que vinha sendo desenvolvido pela diretoria. Essa proposta foi rejeitada e mantida a administração com voluntários da sociedade eleitos anualmente.

Nesse mesmo ano a Prefeitura da Estância de Atibaia solicitou à Irmandade a desapropriação do terreno do asilo para a construção do Centro de Saúde e da

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terreno com área de 20.000 m². A alta valorização dos imóveis e dos materiais de construção na época provocou um adiamento do Estado em cumprir os prazos, sendo cancelado, pela Diretoria da Vila, o compromisso firmado.

Em 1967, foi aprovado um novo estatuto no qual se criou o Conselho Deliberativo, composto por 15 membros, com a função de fiscalizar e aprovar as ações da Diretoria, da Comissão de Sindicância e do Conselho Fiscal. Essas instâncias trabalharam conjuntamente até 1972 e depois passaram a fazer reuniões e atas separadamente, permanecendo assim até os dias de hoje. Isto indica o objetivo de separar as ações entre os grupos para haver uma ação fiscalizadora e normatizadora efetiva.

Em 1975, consta em ata que o número de asilados era de 69 pessoas, sendo 32 homens e 37 mulheres. Oitocentas e setenta e oito pessoas visitaram a instituição durante o ano de 1974. O cultivo de frutas, legumes e hortaliças era feito na própria instituição para consumo interno e para a comercialização. O lucro auxiliava no pagamento de despesas.

Em 1/09/1979, incentivou-se a formação de seis comissões para agilizar o trabalho da diretoria: comissão de expansão social e relações públicas; comissão de justiça; comissão de obras; comissão de higiene e saúde; comissão de manutenção e alimentação e comissão de festas. Na prática, não houve resultados efetivos e em 1985, o presidente em exercício, insistiu para que se formassem essas comissões para dar suporte administrativo à direção. Não há registro de que essas comissões funcionaram efetivamente.

No mês de outubro de 1996, a diretoria contratou uma psicóloga para prestar atendimento individual aos idosos. A profissional permaneceu por um mês e foi dispensada porque a zeladora comunicou à direção que os idosos manifestavam resistência (contrariedade) ao seu trabalho.

Em 1997, a Universidade São Francisco (USF) fez a proposta do asilo ser um “Núcleo de Alfabetização de Jovens e Adultos”. A programação foi realizada de junho a novembro deste mesmo ano com a participação ativa dos moradores e entrega de diplomas aos participantes.

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Curso de Alfabetização

Em 1998, consta em ata a diminuição do número de asilados, em função da morte natural de alguns e também por ser posta em vigor a lei federal n˚. 8842, de 04/01/94 e Decreto n˚ 1948, de 03/07/1996 no seu artigo 3˚ e, parcialmente, o artigo 18˚:

Artigo 3º “Atender em regime de internato, ao idoso sem vínculo familiar ou sem condições de prover a própria subsistência, de modo a satisfazer às suas necessidades de moradia, alimentação, saúde e convivência social”.

Artigo 18˚ “Fica proibida a permanência em Instituições asilares de caráter social, de idosos portadores de doenças que exijam assistência médica permanente ou assistência de enfermagem intensiva, cuja falta possa agravar, ou pôr em risco, sua vida ou a de terceiros”.

O artigo 18º ainda causa questionamentos quando se lida com o idoso que mora na instituição há muitos anos e se encontra numa situação de fragilidade e declínio físico. Essa condição de saúde vulnerável os coloca em risco de quedas, incapacidades12 e morte antecipada (MORLEY et al. 2002). Entretanto, a instituição é a casa deles e o deslocamento nessa condição, para um lugar estranho sem a presença de pessoas conhecidas, pode agravar a condição física ou tornar a finitude uma experiência mais ameaçadora.

A Vila São Vicente de Paulo tem obtido a isenção dos impostos e taxações municipais por ser entidade filantrópica e por possuir o certificado de entidade de fins filantrópicos, expedido pelo Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS.

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regulamentada pelo decreto n. 1948 de 3/7/1976, que determinava a presença de médico e enfermeira por 24 horas. Como o número de idosos que estava em estado terminal ou com grau de dependência grave tinha sido reduzido para dois, a direção determinou a desativação e transferência para o Serviço de Saúde Pública do Município, como previsto em lei, a responsabilidade do atendimento ao idoso com dependência severa. Esses dois idosos acamados foram mantidos na instituição em quartos adaptados.

A partir de fevereiro de 2003, a assistência direta ao idoso passa a ser administrada por uma coordenadora técnica e não por uma zeladora. Especializa-se a função e ampliam-Especializa-se as responsabilidades técnicas para com os idosos. O serviço de orientação nutricional e de enfermagem, iniciado em 2001, também é ampliado.

Cuidadora Diurna Cuidadora Noturna Cuidado ao idoso dependente

Neste mesmo período, passa a existir a presença de cuidadores noturnos e a instalação de campainhas nos quartos para que os idosos possam manter a comunicação com as cuidadoras, caso necessitem de atendimento ou de companhia. É de extrema importância salientar que o motivo de tal mudança foi desencadeado pela morte de uma moradora no período noturno. A condição em que ocorreu o falecimento revelou condutas até então desconhecidas pela diretoria a respeito do cuidado da zeladoria aos idosos nesse período. A zeladora mantinha o trinco dos quartos trancado pelo lado de fora para que os idosos não saíssem andando pelos corredores e, segundo declarações da funcionária, não sofressem quedas e não corressem o risco de se machucar. O ocorrido demonstrou o despreparo e a falta de conhecimento por parte da equipe de

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cuidados para atender as necessidades e compreender as condições físicas próprias do envelhecimento.

Em 27/02/2003, acontece uma reunião com a presença de todos os funcionários para comunicar o início do Programa de Profissionalização da Vila (PPV). Esse programa implantou mudanças funcionais para a melhoria dos serviços prestados ao idoso durante os anos de 2003 e 2004. As principais atividades implantadas foram:

• Modernização e atualização da descrição dos cargos e funções;

• Normatização das funções dos funcionários;

• Regularização das condições trabalhistas;

• Capacitação dos funcionários;

• Contratações e demissões para adequação de cargos;

• Organização do serviço voluntariado introduzindo-o definitivamente no novo organograma da instituição.

No dia 03/03/2003, foi realizada a primeira reunião da Diretoria com os internos quando os moradores verbalizaram alguns pedidos e comentários: “diversificar as

sopas do jantar”, “visitas que ficam sentando na cama... e fazem interrogatório”, “visitas que entra no quarto sem a presença” (do morador), “saber o porquê das mudanças ocorridas com as plantas e árvores”, “vou plantar mais alface e outros legumes e verduras pra ter mais variedade”, “colchão novo, cortinas, toalhas e mesinhas nos quartos”, “um lugar para prática de ginástica e existem aparelhos, como bicicleta e esteiras, que não podem ser usados e gostaria de saber o porquê”, “só pode sair duas vezes por semana, por quê?”, “mudar o almoço para 12:00 horas, o jantar para às 17:00 e ter uma complementação à noite” (ata da

diretoria, p.105-106).

Durante o ano de 2003, implantou-se a avaliação neuropsicométrica dos idosos com o objetivo de planejar, de forma individualizada, os cuidados, observando-se o grau de funcionalidade e de preservação neuropsicomotora de cada morador. Foi realizado um trabalho de diminuição da medicação dos idosos,

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No dia 18/04/2004, fundou-se o CEIVE, Centro de Estudo sobre o Idoso, Velhice e Envelhecimento com reuniões mensais para o estudo e discussão de textos gerontológicos.

Em 2004, foram finalizados os programas funcionais e houve a implantação de várias atividades voluntárias, tais como: fisioterapia, grupo de vivência, podologia, cuidados estéticos (manicure e corte de cabelo e barba), cozinha experimental e artesanato. Com o apoio da Secretaria da Educação e Cultura, foi implantado o trabalho intergeracional vinculado às escolas de ensino fundamental e médio de Atibaia. Foi reestruturado o serviço do Bazar Beneficente, quadruplicando o lucro para a instituição e começou a funcionar efetivamente o Centro-dia13.

Atividade Física Fisioterapia Manicure

Horta Alfabetização Voluntários trabalhando no bazar

Em outubro de 2005, houve a inauguração do Centro de Convivência Amigo Idoso que oferece atividades aos idosos do Município e aos moradores da Vila, incentivando o convívio e a participação social. As atividades desenvolvidas são: grupo de apoio a fumantes (para abandonarem o vício), baile, coral, yoga,

13 Centro-dia é uma das modalidades de atenção ao idoso prevista na Portaria nº. 75 de 10/05/2001 e consiste num espaço para atender idosos que possuem limitações para a realização das atividades de vida diárias (AVD), que convivem com suas famílias, porém, não dispõem de atendimento em tempo integral no

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musicoterapia, cine clube, palestras sobre envelhecimento e o funcionamento do Centro de Estudo sobre o Idoso, Velhice e Envelhecimento (CEIVE).

Reforma do espaço do Centro de Convivência Atividade no Centro de Convivência

2.2. Estatuto da Vila

O primeiro Estatuto da Irmandade foi elaborado em 1930. O documento foi alterado e aprovado com reformulações em 28/05/1967 e em 10/01/2004, foi totalmente reformulado para a adequação às exigências do novo Código Civil Brasileiro (Lei n°. 10.406, de 10 de janeiro de 2002), à regulamentação da Política Nacional do Idoso (Lei n°. 8842 de 04/01/1994) e à realidade da Instituição no momento histórico e social.

Duas importantes mudanças foram propostas e aprovadas referentes aos fins institucionais, tornando-os mais amplos em comparação ao anterior que se restringia à modalidade asilar. A instituição passa a oferecer dois outros tipos de atendimento para incrementar os serviços assistenciais e as atividades ocupacionais e de lazer dos internos:

Atendimento em centro-dia: regime de semi-internato, em que o idoso é trazido à instituição por familiares, onde permanece durante o dia, recebe alimentação e cuidados básicos e participa de diversas atividades ocupacionais e de lazer. O retorno à sua residência ocorre no final da tarde.

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Foi resgatado o nome original do espaço – Vila São Vicente de Paulo, substituindo Irmandade Civil Pró-Vila de São Vicente de Paulo - considerado mais abrangente e representativo das propostas em evolução referentes às atividades das modalidades asilares.

Outra mudança proposta e incluída no estatuto, no capítulo sobre denominações e fins da instituição, foi o acesso dos idosos moradores aos serviços de atenção integral à saúde, por intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS), assegurado pelo Estatuto do Idoso. Também foi previsto o desenvolvimento de esforços para reconstrução dos vínculos familiares que propiciem aproximação e retorno dos moradores à família. Três casos de retorno do idoso ao lar foram notificados nos últimos dois anos.

O Estatuto deixa claro o impedimento legal em se acolher, em qualquer modalidade de atendimento, idosos portadores de doenças agudas, infecto-contagiosas ou que requeiram assistência médica permanente ou enfermagem intensiva, cuja falta possa agravar ou pôr em risco a vida do idoso ou de terceiros.

Quanto aos poderes da instituição, manteve-se a Assembléia Geral, o Conselho Deliberativo, a Diretoria e o Conselho Fiscal. O Conselho Deliberativo, instância de representação dos associados14, é um órgão de consulta e de

fiscalização do cumprimento do estatuto, que direciona sua atuação para um melhor acompanhamento das atividades da associação e para uma colaboração mais estreita com a Diretoria, ampliando para quatro o número de reuniões anuais.

2.3. Regulamento Interno do Asilo

Em 1930 foi feito o primeiro regulamento interno do Asilo que foi revisado em 24/03/1968, contendo normas de internação, horários de refeição e visitas, direitos e deveres dos asilados e obrigações da zeladoria. Em 15/02/2003, o regulamento foi reformulado em sua totalidade porque algumas normas sofreram modificações e caíram em desuso com o passar dos anos, além de estar em consonância com

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a Lei 8.842, de 04/01/1994 e a Portaria número 1395-GM, de 10/12/1999, referente à Política Nacional de Saúde do Idoso. Atualmente, a diretoria vigente está adaptando alguns artigos que precisam de adequação pela regulamentação da Normatização da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) sobre funcionamento das Instituições de Longa Permanência (Resolução da Diretoria Colegiada – RDC n° 283, de 26 de setembro de 2005) e as adaptações ocorridas espontaneamente na instituição. Cabe ressaltar alguns tópicos significativos:

1. Horários: até 2000, os horários das refeições, higiene pessoal e visitas eram rígidos. Após assembléia com os moradores no dia 03/03/2003, seguindo sugestão da maioria dos residentes, os horários foram modificados, flexibilizados e ampliados.

2. Internação: até 2004, as internações eram feitas pelo presidente ou zeladora, respeitando os requisitos de “miserabilidade, idade avançada, invalidez ou incapacidade absoluta do ganha-pão” 15,

além de exame médico para apurar diagnóstico de doenças infecto-contagiosa ou transtornos mentais. Com o novo regimento, no acolhimento à solicitação de internação, é realizada uma entrevista individual com o idoso que está aguardando vaga no asilo, para comprovar a carência de recursos financeiros próprios ou da família, abandono, inexistência do grupo familiar ou impossibilidade de convivência. É necessário também que o idoso tenha idade acima de 60 anos e laudos médico e psiquiátrico16 de profissionais externos a

instituição. O laudo do médico responsável da Vila17 também é

necessário. A mudança atual é a aceitação do idoso para morar na instituição; pois sem a sua concordância não se realiza a internação. 3. Horários de visita ou de eventos: as visitas dos familiares eram

controladas e permitidas somente duas vezes por semana. Hoje, a

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freqüência é liberada, incentivando-se a presença dos familiares. Os horários de visitas de instituições e grupos (escolas, grupos da terceira idade, grupo religiosas etc.) ficam sujeitos à prévia autorização e acompanhamento da Diretoria, visando evitar-se a invasão na privacidade da rotina do morador, nos seus hábitos e preferências relacionadas às opções religiosas e culturais.

4. Direitos e deveres do asilado: os asilados precisavam de autorização da diretoria para sair e somente tinham permissão em dias estipulados (quintas-feiras, feriados, dias santificados, domingos e festas municipais). Os asilados com saída livre tinham que retornar à instituição até às 17:00 horas. Suas bolsas, sacolas ou embrulhos eram revistados ao voltarem da rua “para evitar a entrada de bebidas alcoólicas ou tóxicos”. Hoje, não existe esse controle. Os residentes são autônomos para sair, excetuando-se os casos de demência ou déficit cognitivo em que o idoso sai acompanhado por uma cuidadora para evitar que se perca. Não se realiza revista e o horário de retorno é preferencialmente até às 18:00 horas em função dos horários da portaria e visando a segurança do morador.

É proibida a entrada de bebidas alcoólicas e a sua aquisição implica advertência pela diretoria. “Em caso de reincidência, o responsável pelo idoso será imediatamente cientificado do fato, para efeito de retirá-lo do asilo e levá-lo para sua residência” 18. Na prática, os casos de uso de álcool são tratados com mais flexibilidade do que o regulamento prevê; nenhum morador foi expulso por esse motivo. 5. Medicação: com a desativação da enfermaria em 2000, os idosos

que precisavam de medicamentos mantinham a medicação em seu quarto ou na farmácia para serem medicados pela cuidadora. Atualmente, seguindo o regimento e a normatização, a farmácia também foi fechada e os remédios ficam sob a supervisão da

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coordenadoria administrativa para gerenciar o uso quando receitado e orientado pelo médico.

6. Zeladoria: de 1930 a janeiro de 2003, os cuidados aos idosos residentes, o zelo pelos bens do asilo e a supervisão dos trabalhos de natureza administrativa da cozinha, lavanderia, limpeza das dependências, jardins e animais, eram realizados por um zelador. A partir de fevereiro de 2003, esse cargo é substituído por um profissional de nível superior (nutricionista) e com curso de gerenciamento de Instituições de Longa Permanência.

7. No último Regimento foram introduzidas as atribuições dos profissionais que passaram a fazer parte da instituição ou dos que já faziam parte com outra denominação, como: nutricionista, cuidadoras (antes denominadas auxiliares de enfermagem), farmacêutica, funcionários do setor de manutenção e serviços gerais e voluntários. 8. Dentro dos dispositivos gerais estão previstas atividades como:

a. Celebrações religiosas no asilo aos sábados e reza do terço às terças-feiras;

b. O incentivo aos internos, dentro das possibilidades físicas, aptidão e vontade de cada um, para se dedicarem a atividades opcionais disponíveis, tais como “trabalhos leves na horta, no pomar e nos jardins, ajuda eventual na portaria, nos cuidados com as aves e serviços simples de limpeza e manutenção” 19.

c. O estímulo à participação, em dias e horários pré-estabelecidos, de atividades físicas e recreativas desenvolvidas por voluntários, tais como musicoterapia, coral, canto com sanfoneiros, fisioterapia, podologia, dança sênior20, etc.

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9. Falecimento: em caso de falecimento do morador, o regimento prevê que o corpo seja removido para o velório da Santa Casa de Atibaia ou para o cemitério onde será sepultado. A partir de maio de 2006, recuperou-se o esquema antigo do corpo ser velado na capela do asilo para que os moradores possam se despedir do amigo e morador.

2.4. Atividades Desenvolvidas por Voluntários

Existem datas comemorativas que sempre foram realizadas: festa do dia das mães, comemoração do dia dos pais, festa de Natal, Festa Junina tradicional com casamento caipira, celebração religiosa semanal e nos dias de festas, almoço do dia do idoso, comemoração da Páscoa, comemoração dos aniversários e “segunda-feira do acordeon”.

Até 2005, os aniversários dos moradores eram festejados com uma única festa no mês, quando se comemoravam todos os aniversários. A partir de 2006, os aniversários passam a ser comemorados individualmente e o aniversariante participa da organização da sua festa. Alguns não querem bolo e festa, mas um almoço com a escolha de um prato especial, o que vem sendo respeitado.

Festa junina Carnaval

Atividades esporádicas: passeios; apresentação de grupos teatrais, fanfarra e músicos, visita de grupos religiosos e filosóficos (1996 a 2001); chá da tarde com grupo da terceira idade ou alunos das escolas de ensino fundamental e médio.

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Chá da tarde do grupo de artesanato Passeio ao Zooparque

Atividades realizadas de forma descontinuada por voluntários: aulas de cerâmica (1998), atendimento psicológico (2003 a 2005), atividades de recreação (2002), atividade físicas (1996, 2000, 2004), yoga (1999 a 2001), alfabetização dos moradores (1997), dança sênior (2004 a 2006), artesanato (a partir de 2004),

A partir de agosto de 2006 a Direção da Vila autoriza a realização de estágios de alunos do curso de técnico de atendentes de enfermagem e estudantes de psicologia.

2.5. Um marco na história da Instituição

No ano de 2000, houve um acontecimento que desencadeou mudanças nas instalações físicas, na revisão da política de recursos humanos da instituição e nos cuidados prestados aos idosos. Algumas dessas mudanças ainda estão em processo de evolução.

Foi aprovado pelo Conselho o desenvolvimento de um projeto intitulado “Procura-se um Amigo”, criado por uma pesquisadora em gerontologia e também coordenadora de um dos grupos de terceira idade do município. O projeto objetivava conseguir “padrinhos” ou “amigos” para os internos que realizariam visitas, manteriam conversas com os moradores e proporcionariam, ocasionalmente, passeios externos.

Segundo o relatório em ata, em função da pesquisadora ter tomado algumas atitudes isoladas do conhecimento da Direção que causaram interferência nas

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