Registro: 2016.0000093643 ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0034795-71.2013.8.26.0068, da Comarca de Barueri, em que é apelante AGUINALDO JOSE DOS SANTOS, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO.
ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de
São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GUILHERME DE SOUZA NUCCI (Presidente), LEME GARCIA E OSNI PEREIRA.
São Paulo, 23 de fevereiro de 2016.
Guilherme de Souza Nucci RELATOR
Apelação nº 0034795-71.2013.8.26.0068 Comarca: Barueri
Apelante: AGNALDO JOSE DOS SANTOS Advogada: Dalva Dias
VOTO Nº. 11882
Apelação. Uso de documento falso. Pedido de absolvição por insuficiência de provas. Impossibilidade. Palavra dos policiais militares com inegável valor probante. Exibição a pedido da autoridade. Irrelevância para configuração da ilicitude. Condenação mantida. Reprimenda fixada acertadamente mantida no patamar mínimo legal ante a compensação entre a reincidência e a confissão espontânea pelo recorrente. Regime inicial adequadamente estabelecido. Improvido.
Trata-se de recurso de apelação interposto por AGNALDO JOSE DOS SANTOS contra sentença de primeiro grau (fls. 129/133 e 142), prolatada em 28 de novembro de 2014, pelo MM. Juiz de Direito, Dr. Leandro de Paula Martins Constant, da 2ª Vara Criminal da Comarca de Barueri, que o condenou às penas de 2 anos e de reclusão, em regime aberto, e pagamento de 10 dias-multa, no piso legal,
declarando-o incurso no art. 304, caput , combinado com o art. 297, ambos do Código Penal.
Irresignado, interpôs recurso de apelação pleiteando, em resumo, absolvição por insuficiência de provas.
Devidamente contrarrazoados, a douta Procuradoria Geral de Justiça, em seu parecer, opinou pelo improvimento ao apelo.
É o relatório.
Em que pesem as ponderáveis alegações recursais, o apelo defensivo não comporta provimento, merecendo subsistir a r. decisão atacada.
Consoante descreve a denúncia, no dia 11 de novembro de 2013, na Rua Getúlio Vargas, nº. 396, após informações noticiando a presença do apelante, foragido da justiça, policiais militares diligenciaram até o local, tendo aquele se identificado como Marcos Roberto Teixeira Abade, mediante a exibição de cédula de identidade, apurando-se ser documento falso.
A materialidade e a autoria delitiva restaram amplamente demonstradas no decorrer da instrução processual, conforme laudo pericial e demais provas orais, todas produzidas em perfeita consonância, restando de rigor a manutenção do édito condenatório.
O policial Marcos Leonel narrou ter recebido a notícia sobre a localização do recorrente, o qual seria foragido da justiça. Em diligência até o local, avistou o apelante, o qual se apresentou como Marcos Roberto Teixeira Abade,
inclusive exibindo cédula de identidade anotando o mesmo nome. Entretanto, conduzido ao distrito policial, o recorrente acabou confessando a utilização de falsos documentos, com o fito de manter-se foragido da justiça.
Em semelhante prisma seguiu o depoimento do policial Eber Costa, o qual apenas acrescentou que a fotografia da cédula foi substituída pela imagem do apelante.
O recorrente, em seu interrogatório, confessou a propriedade do documento falsificado, do qual se utilizava para ocultar sua identidade.
O laudo pericial (fls. 92/94) é suficiente à materialidade, atestando a falsidade da cédula examinada.
Quanto aos depoimentos dos policiais militares, devem ser analisados sob o mesmo prisma de qualquer outra testemunha, não tendo seu valor diminuído pelo fato de serem servidores públicos. A esse respeito, valioso mencionar decisão do Superior Tribunal de Justiça, in litteris:
Conforme entendimento desta Corte, o depoimento de policiais responsáveis pela prisão em flagrante do acusado constitui meio de prova idôneo a embasar o édito
condenatório, mormente quando
corroborado em Juízo, no âmbito do devido processo legal. (HC 166979/SP. Min.
Ademais, sendo agentes públicos, gozam de presunção de legitimidade, não se podendo, em princípio, considerá-los inidôneos ou suspeitos para prestar depoimentos, exclusivamente por sua condição funcional, na ausência de quaisquer elementos concretos aptos a eivar sua credibilidade, os quais, in casu, inexistem.
Diante do quadro, ao contrário das alegações defensivas, a confissão ofertada pelo apelante se coaduna às demais provas coligidas, sendo suficientes à manutenção do édito condenatório em seu desfavor.
O próprio recorrente confirmou portar a falsa identidade, da qual se utilizou, com o fito de ludibriar os milicianos, posto temer ser identificado e, em razão disso, detido.
Desde logo o apelante se apresentou como Marcos, a despeito de sua a pronta identificação pelos policiais, razão pela qual forneceu a contrafação contendo semelhante nome, visando a conferir verossimilhança.
Destarte, nem se olvide que, mesmo sendo solicitada a apresentação do documento pela autoridade policial, tal fato não teria o condão de afastar a prática delitiva. Sobre este aspecto, assim vimos nos posicionando:
Apresentação espontânea ou exigência da autoridade: cremos ser totalmente irrelevante se o agente utiliza o documento falso em ato unilateral ou se o faz porque qualquer autoridade assim exige. Há perfeita possibilidade de
configuração do tipo penal quando a exibição de uma carteira de habilitação falsa, por exemplo, é feita a um policial rodoviário que exige sua apresentação, por estar no exercício de sua função fiscalizadora1.
Na mesma esteira, oportuno mencionar julgado, perfeitamente amoldável ao caso sub judice, no qual o Superior Tribunal de Justiça assim pronunciou-se:
Reiterada é a jurisprudência desta corte e do STF no sentido de que há crime de uso de documento falso ainda quando o agente o exibe para sua identificação em virtude de exigência por parte da autoridade policial
(REsp nº. 193.210 DF, rel. José Arnaldo da Fonseca, 5ª Turma, 20.07.1999, v.u.)
Em suma, o apelante agiu de maneira espontânea, porquanto, desde logo apresentou a falsa carteira, comprovando-se, assim, o elemento volitivo.
De tal sorte, amplamente demonstradas autoria e materialidade do delito, irreprochável a condenação do apelante como incurso na conduta delitiva prevista no art. 304,
caput, combinado com o art. 297, ambos do Código Penal,
restando de rigor a manutenção do decisum, cuja reprimenda aplicada dispensa reparos.
Na dosimetria da pena, consoante o art. 59 do Código Penal, ante a ausência de circunstâncias judiciais negativas aptas a majorar quantitativamente, na primeira etapa do sistema trifásico, o magistrado sentenciante manteve a pena no patamar mínimo legal, perfazendo 2 anos de reclusão e pagamento de 10 dias-multa.
Na segunda etapa, o magistrado agiu com acerto ao compensar a reincidência (fls. 114/116 condenação por roubo, transitada em julgado) e a confissão espontânea, motivo pelo qual manteve a pena no mesmo
quantum, tornando-a definitiva, ante a ausência de demais
causas modificadoras.
Por derradeiro, a quantidade de pena estabelecida, aliada às condições pessoais do apelante (muito embora não se olvide tratar-se de sujeito reincidente), permitiu a manutenção de regime menos severo, suficiente à reprovação do delito, conforme previsão proveniente da súmula nº. 269 do STJ, que admite a adoção do regime prisional semiaberto aos
reincidentes condenados a pena igual ou inferior a quatro anos se favoráveis às circunstâncias judiciais, entretanto, ilide a
substituição por restritiva de direitos.
Por fim, tendo em vista o desconto do computo da custódia cautelar (1 ano e 17 dias), agiu com acerto o magistrado a quo ao conferir a detração, nos moldes do § 2º, do art. 387, do Código de Processo Penal, assim estabelecendo
o regime aberto, em favor do recorrente.
Ante o exposto, pelo meu voto, nego
provimento ao apelo defensivo interposto, mantendo, in totum, a
r. sentença atacada, por seus próprios e jurídicos fundamentos.
GUILHERME DE SOUZA NUCCI Relator