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“O BICHO HOMEM”: DIMENSÕES SOCIOECONÔMICAS DA FOME NA SOCIEDADE CAPITALISTA

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Academic year: 2021

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“O BICHO HOMEM”: DIMENSÕES

SOCIOECONÔMI-CAS DA FOME NA SOCIEDADE CAPITALISTA

Angélica Melo de Sá1 Maria Alcina Terto de Lins2 Marcelo Góes Tavares3

Serviço Social

ciências humanas e sociais

ISSN IMPRESSO 2317-1693 ISSN ELETRÔNICO 2316-672X

RESUMO

O alimentar-se constitui uma das necessidades mais primitivas da humanidade, possibi-litando nutrir-se e recuperar as reservas energéticas e biológicas do corpo. Essa necessi-dade está na ordem da sobrevivência. Na socienecessi-dade capitalista, sobretudo marcada por uma intensa industrialização desenfreada, capaz de gerar a abundância, a fome ainda é uma das suas contradições mais paradoxais, refletindo o antagonismo de classes. O pre-sente artigo analisa tal contradição, onde a fome, em meio à produção da abundância, também é uma produção social perversa e necessária ao desenvolvimento capitalista.

PALAVRAS-CHAVE

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ABSTRACT

The food itself is one of the most primitive needs of humanity, allowing nourish your-self and recover energy and biological reserves of the body. This need is the order of survival. In capitalist society, particularly marked by intense unbridled industriali-zation, capable of generating abundance, hunger is still one of its most paradoxical contradictions, reflecting the antagonism of classes. This article analyzes such para-doxical contradiction, where hunger amid plenty of production, is also a perverse and necessary social production to capitalist development.

KEYWORDS

Abundance. Capitalism. Distribution. Hunger.

1 INTRODUÇÃO

Para compreender a existência da fome no mundo, na atual configuração da socie-dade capitalista, precisamos entender que todas as formas societárias tem um desenvol-vimento sociometabólico próprio de se reproduzir, o que implica na existência de uma complexa teia de relações históricas, socioeconômicas e políticas. É o que categorizamos por modo de produção – que é a forma como uma sociedade se organiza e se reproduz em sua realidade socioeconômica – e que, numa sociedade de classes, evidencia o pro-cesso histórico de exploração, dominação e opressão de uma classe sobre a outra.

Para tentar explicitar o funcionamento da sociedade capitalista e de sua re-produção social, precisamos deixar claro alguns de seus determinantes históricos: é uma sociedade baseada na exploração do homem pelo homem e do capital sob o trabalho, é dividida em classes sociais antagônicas, seu processo de acumulação da riqueza é socialmente apropriada por uma pequena parcela da sociedade, enquanto uma maioria sobrevive em condições sub-humanas. Diante dessas características, também, percebemos que nos aproximamos de características de modelos societá-rios primitivos, que remontam ao início da humanidade quando o acesso ao alimen-to era um problema. Trata-se de uma necessidade primeva da humanidade ainda contemporânea para nós, onde o alimentar-se satisfaz as necessidades biológicas do corpo e da própria sobrevivência.

Porém, é na superação dessa necessidade primeva que destacamos a questão central desse artigo: problematizar o quanto é contraditória a existência da fome no modo de produção capitalista, cujas relações de produção são marcadas pela abun-dância e crescente produtividade, mas que na mesma intensidade, produz a miséria sob forma de restrição do acesso ao alimento, uma necessidade das mais primárias para a humanidade.

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2 A FOME: REPRESENTAÇÕES DE UMA REALIDADE NEFASTA

Definir e interpretar a fome, sua origem e as causas de sua permanência na so-ciedade, de modo geral, parece um exercício fácil. Alguns estudos, por exemplo, afir-mam ser “a diminuição da quantidade de alimento consumido por falta ou dificuldade de acesso” (SAWAYA et al., 2003, p. 23).

Os diversos dicionários analisam a palavra fome de acordo com a sua morfolo-gia, por exemplo: a palavra fome é um substantivo feminino de acordo com a etimo-logia, sua origem vem do latim, em análise sintática é um sujeito simples na oração. De acordo com o Dicionário Houaiss (2013, p. 1), fome é uma “necessidade física de ingerir alimentos; sensação de desconforto ou condição física resultante disso”.

Poetas e romancistas como Graciliano Ramos, em “Vidas Secas”, Guimarães Rosa em “Grande Sertão: Veredas”, entre outros, também fazem interpretações e descre-vem a fome, porém em uma narrativa ficcional cheia de realidade, produzindo efeito de verossimilhança. Outro mestre da palavra, Manuel Bandeira, em seu poema “O bi-cho”, revela a capacidade que a fome tem de tirar do homem a sua essência humana.

Vi ontem um bicho/ Na imundície do pátio/ Catando comida entre os detritos./ Quando achava alguma coisa,/ Não examinava nem cheirava:/ Engolia com voracidade./O bicho não era um cão,/ Não era um gato,/ Não era um rato./O bicho, meu Deus, era um homem. (BANDEIRA, apud BREMER, 2011, p. 5).

Esse poema foi escrito quando o mundo vivia o pós-guerra de 1945, onde o autor retratou a fome por meio de uma representação poética, mostrando sua crítica à realidade social, e buscando um engajamento nas discussões sociais. Assim, mos-trava a atmosfera de desumanidade daquele momento, e que hoje permanece em cotidiano, sendo ainda contemporâneo.

Também, podemos encontrar uma interpretação da fome do ponto de vista biológico, fisiológico e médico, que nos revelam em escalas de níveis de desnutrição, além dos detalhes sobre o que acontece no organismo do indivíduo quando privado de alimento ou subalimentado.

A fome do ponto de vista biológico • Nas primeiras horas, a fome é um suave vazio no estômago, amenizado pela antecipação da saciedade. Corre-se até a cozinha, a lanchonete, o restaurante, ingere-se o necessário – e tudo volta à normalidade. Batimentos cardíacos, pressão arterial, estômago satisfeito. Ter fome e saciá-la é um prazer. • Nos primeiros dias, a fome come as forças. Os movimentos são

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lentos, água é fundamental. Não se dorme bem à noite, só se tem vontade de comer. Fica-se sentado, deitado. Quem levantar há que cuidar para não cair. Os níveis de colesterol e triglicérides estão altos. Os níveis de glicose e pressão estão baixos. Viver, respirar, até mesmo pensar é um fardo. • Nas primeiras semanas, a fome é um desespero que transforma o corpo no reino da doença e da dor. Não há mais energia nem para as funções básicas das células. Vem a visão dupla. O vômito de bílis esverdeada. Não se ouve direito. As pernas não se movem. Os braços doem. Os músculos, fracos, causam lesões no sistema nervoso. É a morte chegando. (PETRY, 2008, p. 75. Grifos do autor).

É possível encontrar as mais diversas interpretações a respeito da fome e no campo das Ciências Sociais, tais interpretações podem ser as mais diversas, a exem-plo de correntes sociológicas marcadas pela fenomenologia 4, tratando-a como algo

natural, que sempre existiu e sempre existirá.

Há também, aquelas interpretações próximas do senso comum que chega até cul-pabilizar o indivíduo pela própria situação, a exemplo da teoria malthussiana 5, que

afir-mava que “com o superpovoamento mundial poderia não haver comida para alimentar as populações; o espaço seria insuficiente para todos; [...] e não haveria infraestrutura so-cial para atender a todas as pessoas” (BARRETO, 2012, p. 107). Por essa análise, “a sujeição moral era a base da teoria [...] serviria para conter o crescimento populacional e afastar o perigo de um crescimento acelerado da população (ADAS, 1988, p. 22)”. Porém, Malthus não conseguiu perceber que o desenvolvimento das forças produtivas no capitalismo, superaria toda e qualquer expectativa de produção de alimento no mundo.

No Brasil, destacamos Josué de Castro, cujo livro “Geografia da Fome”, em 1946, período em que o país vivia sua fase desenvolvimentista, possibilitava uma leitura da 4 Fenomenologia: Corrente teórica do pensamento filosófico contemporâneo que trata da descrição e classificação de seus fenômenos. “[...] O conceito básico da fenomenologia, é a noção de intencionalidade. Esta intencionalidade é da consciência que sempre está dirigida a um objeto. Isto tende a reconhecer o princípio que não existe objeto sem sujeito [...] A fenomenologia descreve os fatos, não explica e nem analisa. Seu principal objeto é o mundo vivido, ou seja, os sujeitos de forma isolada. Considera a imersão no cotidiano e a familiaridade com as coisas tangíveis. É necessário ir além das manifestações imediatas para captá-las e desvendar o sentido oculto das impressões imediatas. O sujeito precisa ultrapassar as aparências para alcançar a essência dos fenômenos [...]”. (HERMANY, 2013, p. 8).

5 Malthus: escreveu a Teoria dos Rendimentos Decrescente, no século XVIII, na qual usando as noções de progressão geométrica e de progressão aritmética, o mesmo concluiu que, a relação entre o aumento da população e o da produção de alimentos não se faria na segundo uma precisão matemática, chamando assim a atenção para o crescimento populacional, que estava ocorrendo num ritmo superior ao da produção (ADAS, 1988, p. 22).

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realidade que partia do pressuposto de que por meio do desenvolvimento econômi-co, promovendo a industrialização do país e fazendo com que a economia crescesse rapidamente, todas as mazelas seriam resolvidas. É um referencial teórico obrigatório, desde então, para todos que estudam a fome como uma contradição da sociedade capitalista. Josué de Castro acreditava que "a fome não é mais do que uma expressão – a mais negra e mais trágica expressão do subdesenvolvimento econômico. Expres-são que só desaparecerá quando for varrido do país o subdesenvolvimento econô-mico, com o pauperismo generalizado que esse condiciona” (CASTRO, 1987, p. 305).

Portanto, o autor entende que a fome é determinada pelo subdesenvolvimento econômico do país, sendo por meio do crescimento econômico possível acabar com a fome no Brasil que nos torna bicho. No âmbito do Serviço Social, tal explicação e alternativa para fome pode ter uma conotação conservadora, sobretudo quando essa expressão na sociedade capitalista está intrinsecamente ligada ao acúmulo privado do capital, o que vai de encontro com o pensamento de Castro. Porém em nada in-valida o valor que sua obra tem para a compreensão da fome na contemporaneidade. Contamos, ainda, com interpretações advindas da teoria marxista, que mostram que a fome, assim como todas as expressões da questão social 6, tem sua gênese na

forma como a sociedade se organiza, sendo na sociedade capitalista, causadas pela relação de exploração do trabalho pelo capital, pela acumulação de riqueza concen-trada na burguesia.

No livro “A fome: crise ou escândalo?”, de 1988, escrito pelo geógrafo Melhem Adas, a fome: “a pobreza em que vivem milhões de seres humanos é que deve ser responsabilizada por essa tragédia. E por sua vez, sabe-se que a pobreza é uma cria-ção humana. É resultado do tipo de sociedade que construímos e ajudamos a manter com todas as suas contradições” (ADAS, 1988, p. 13). Percebemos, então, a intrínseca relação da fome com as condições de pobreza e miserabilidade em que vive grande parte da população mundial, sendo essa uma produção da própria sociedade e do desenvolvimento capitalista.

Encontramos em Marx, a discussão onde coloca que a fome não é apenas pro-duzida socialmente, como também é socialmente diferenciada entre as classes fun-damentais no capitalismo. Assim, fica claro que nesse modo de produção, toda a pro-dução tem um fim determinado de tal modo, que produz as necessidades de acordo com suas intenções. Ou seja, enquanto há pessoas morrendo de fome pelo fato de não conseguirem comprar alimento, outros poucos pertencentes à burguesia, conse-6 A questão social é uma categoria “resultante dos mecanismos de ‘exploração do trabalho pelo

capital’[...] não somente ao intenso processo de pauperização relativa e absoluta dos trabalhadores, a existência da abundante ‘superpopulação relativa’, mas, sobretudo, à problematização desse quadro do ponto de vista político, tendo em vista seus fundamentos e apontando a necessidade de sua superação sob outra forma de organização produtiva”. (SANTOS, 2012, p. 43).

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guem gastar R$ 400,00 (quatrocentos reais) comprando o equivalente 50g de caviar, uma iguaria sofisticada que não serve para matar a fome de seus consumidores, ape-nas supre a necessidade fetichizada produzida pelo capital. Portanto,

A fome é fome, mas a fome satisfeita com carne cozida, comida com uma faca e garfo é uma fome diferente daquela que se empurra de goela abaixo a carne crua comida com a ajuda da mão, unhas e dentes. Produção, portanto, produz não só o objeto, mas também a forma de consumo, não só objetivamente, mas também subjetivamente. A produção cria, assim, o consumidor. A produção não só fornece um material a necessidade, mas fornece também uma necessidade para o material. Logo que o consumo emerge do seu inicial estado de crueza natural e imediatismo e, se permanecesse nessa fase, isso seria porque a própria produção ficou presa, acumulada, lá, torna-se a si mesmo como uma unidade mediada pelo objeto [...] na forma de uma necessidade sentida pelo consumidor. Ela produz, assim, o objeto de consumo, a forma de consumo e o motivo do consumo. Consumo também produz a inclinação do produtor por acenando para ele como uma necessidade determinante. (MARX, 2000, p. 25. Tradução nossa).

O modo de produção capitalista por ser fetichizado, molda as necessidades dos indivíduos, criando níveis satisfação, ou seja, ela produz ao mesmo tempo o alimento e a fome, e dita como essa necessidade será atendida ou não. E é por isso que até mesmo o ato de comer, expressa o status do indivíduo e seu pertencimento de classe em uma determinada sociedade. Quando o sujeito não possui meios de garantir seu alimento, de imediato sabemos quais as condições em que ele vive, ou seja, que não possui o mínimo básico para uma vida saudável, quanto mais suprir outras necessi-dades, quaisquer que sejam.

Temos, também, uma linha mais radical, dentro da teoria social crítica marxista, que busca compreender a raiz do problema, tendo em Mészáros, a compreensão da impossibilidade de superação das expressões da questão social, entre elas a fome, dentro do modo de produção capitalista, pois para esse autor,

As prioridades adotadas no interesse da expansão e da acumulação do capital são fatalmente distorcidas contra os condenados à fome e à desnutrição, principalmente no ‘Terceiro Mundo’. O que não significa que o resto do mundo nada tenha a temer com relação a isso no futuro. As práticas de produção e distribuição do sistema do capital na agricultura não prometem para quem quer que seja, um futuro muito

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bom, por causa do uso irresponsável e muito lucrativo de produtos químicos que se acumulam como venenos residuais no solo, da deterioração das águas subterrâneas, da tremenda interferência nos ciclos do clima global em regiões vitais para o planeta, da exploração e da destruição dos recursos das florestas tropicais etc. Graças à subserviência alienada da ciência e da tecnologia às estratégias do lucrativo marketing global, hoje as frutas exóticas estão disponíveis durante o ano inteiro em todas as regiões – é claro, para quem tem dinheiro para comprá-las, não para quem as produz sob o domínio de meia dúzia de corporações transnacionais. Isso acontece contra o pano de fundo de práticas irresponsáveis na produção, que todos nós observamos impotentes. (MÉSZÁROS, 2002, p. 255. Grifos do autor).

Mais recentemente, entra em cena na produção bibliográfica, Jean Ziegler (2013), com o livro “Destruição em massa geopolítica da fome”. Neste, o autor dá visi-bilidade a destrutivisi-bilidade das modernas formas de produção agrícola. Analisa como estas são extremamente agressivas ao meio ambiente e socialmente improdutivas, pois além de produzir com um mínimo de força de trabalho humano, o que é pro-duzido não é para satisfazer as necessidades humanas. Ao contrário, visam atender o processo de acumulação capitalista.

A destruição de milhares de homens, mulheres e crianças pela fome constitui o escândalo do nosso século. A cada cinco segundos, morre uma criança de menos de dez anos. Em um planeta que, no entanto, transborda riquezas... No seu estado atual, a agricultura mundial poderia alimentar sem problemas 12 bilhões de seres humanos – vale dizer, quase duas vezes a população atual. Quanto a isto, pois, não existe nenhuma fatalidade. Uma criança que morre de fome é uma criança assassinada. (ZIEGLER, 2013, p. 21).

Dessa forma, é perceptível a existência de muitas interpretações sobre a fome, principalmente no que toca à sua gênese e mostra as grandes modificações pelas quais essa expressão da questão social passou e vem passando nesse processo de reprodução do modo de produção capitalista.

3 ASPECTOS DE UMA CONTRADIÇÃO REAL: A FOME NA SOCIEDADE DA

ABUNDÂNCIA

Para definir a fome precisamos analisar alguns elementos constitutivos desse fenômeno. Aqui, nos deteremos na pobreza e na desnutrição por compreender que

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esses fatos estão entrelaçados e evidenciam que é algo determinado socialmente, carregando consigo as contradições decorrentes das sociedades de classes.

Podemos dizer que numa sociedade de classes – na sociedade capitalista –, um indivíduo se encontra em situação de pobreza quando não consegue satisfazer as suas necessidades humanas fundamentais, como por exemplo, o acesso à comida, moradia, vestuário, educação e saúde, tendo como fator preponderante a insuficiên-cia de renda, motivado, principalmente, pelo desemprego e subemprego.

É desnecessário salientar que a caracterização da pobreza - e, do mesmo modo, a da desigualdade - não se esgota ou reduz a seus aspectos socioeconômicos; ao contrário, trata-se, nos dois casos, de problemáticas pluridimensionais. Na análise de ambas, há que sempre ter presente tal pluridimensionalidade; todavia, a condição elementar para explicá-las e compreendê-las consiste precisamente em partir do seu fundamento socioeconômico. Quando este fundamento é secundarizado (ou, no limite, ignorado, como na maioria das abordagens hoje em voga nas Ciências Sociais), o resultado é a naturalização ou a culturalização de ambas. Nas sociedades em que vivemos - vale dizer, formações econômico-sociais fundadas na dominância do modo de produção capitalista -, pobreza e desigualdade estão intimamente vinculadas: é constituinte insuprimível da dinâmica econômica do modo de produção capitalista a exploração, de que decorrem a desigualdade e a pobreza. No entanto, os padrões de desigualdade e de pobreza não são meras determinações econômicas: relacionam-se, através de mediações extremamente complexas, a determinações de natureza político-cultural; prova-o o fato inconteste dos diferentes padrões de desigualdade e de pobreza vigentes nas várias formações econômico-sociais capitalistas. (NETTO, 2007, p. 142. Grifos do autor).

Quando Netto afirma que a pobreza não se reduz a seus aspectos socioeco-nômicos e que é um problema pluridimensional, é porque existem diversas causas ou problematizações que levam o indivíduo à situação de pobreza, portanto, o seu combate não pode se reduzir apenas às soluções socioeconômicas, mas deve ser vista, também, como uma questão política, por exemplo, o combate à corrupção, da mesma forma como por suas determinantes culturais, como a discriminação racial e as desigualdades de gênero.

E como um indivíduo em situação de pobreza não consegue atender às suas necessidades humanas mais básicas, podemos dizer que é uma das principais causas da fome e não podemos afirmar que é apenas em situação de pobreza ou extrema

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pobreza que encontramos a existência de pessoas que passam fome, pois esse não é um fator absoluto, de acordo com Monteiro (2003, p. 8):

[...] indivíduo pode ser pobre sem ser afetado pelo problema da fome, bastando que sua condição de pobreza se expresse por carências básicas outras que não a alimentação – o instinto de sobrevivência do homem e de todas as outras espécies animais faz com que suas necessidades alimentares tenham precedência sobre as demais. A situação inversa, ocorrência da fome na ausência da condição de pobreza, não ocorre ou ocorre apenas excepcionalmente e por tempo limitado por ocasião de guerras e catástrofes naturais.

A fome crônica no Brasil, por ser de ordem estrutural e permanente, de acordo com Ziegler “é pouco espetacular” e, porém para a mídia, que quase sempre promove uma invisibilidade sobre a questão da fome, ao mesmo tempo em que é amplamente mascarada politicamente, trazendo o problema à tona apenas em momentos em que ocorre algum fenômeno que provoque uma necessidade de mobilização social. São ações pontuais e regionalizadas, como por exemplo, as enchentes na região sudeste e a seca prolongada no nordeste, o que leva ao entendimento, principalmente do senso comum, da “ausência” de risco de morte por fome no país.

Não deixa de ser alarmante o fato de atualmente existir mais de 25 milhões 7

de famílias inscritas no Cadastro Único 8 (MDS, 2013, p. 1), por viverem com renda

per capita mensal inferior a meio salário mínimo, necessitando serem incluídos nos programas e políticas sociais de combate à fome. É uma realidade estarrecedora, so-bretudo, quando comparada numericamente com a situação de países africanos e asiáticos, onde a fome atinge maiores proporções, de acordo com a ONU (2011, p. 1-9), atualmente, 563 milhões de pessoas passam fome na região da Ásia e do Pacífi-co, quantia que representa 62,5% do total mundial e, somente na África, atinge cerca de 239 milhões de pessoas.

7 Embora exista ainda uma grande parcela da sociedade sem acesso aos programas sociais, por causa da ocorrência de subnotificação de Registro Civil, e que não tem nem como estimar quantitativamente essa população, embora, segundo o IBGE, a condicionalidade de acesso às políticas públicas “ressaltou a importância do registro de nascimento e lhe conferiu maior visibilidade no conjunto de documentação civil básica dos cidadãos. E os nascimentos não registrados nos Cartórios no ano de sua ocorrência são incorporados às Estatísticas do Registro Civil nos anos posteriores, como registros extemporâneos. Este adiamento do registro de nascimento vem reduzindo a cada ano [...] Em 2010, eles totalizaram 209.903 registros” (IBGE, 2011, p. 2).

8 O Cadastro Único para Programas Sociais é o sistema que registra as informações sobre cada família de baixa renda, identificando seus membros e suas condições econômicas e sociais: o endereço, as condições da moradia, a situação escolar e de trabalho de cada pessoa da família, entre outras informações (MDS, 2013, p. 18).

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Por outro lado, temos outra realidade: o Brasil ocupa as primeiras posições de produtores mundiais de alimentos. Vejamos alguns dados obtidos no Ministério da Agricultura (BRASIL, 2013, p. 1). No biênio 2009/2010 foi o 3º maior produtor de milho (aproximadamente 53 milhões de toneladas); é o maior produtor de feijão (com 3,5 milhões de toneladas anuais); a soja é a cultura agrícola brasileira que mais cresceu nas últimas três décadas e corresponde a 49% da área plantada em grãos do país, em que é o 9º maior produtor mundial (colheu 11,26 milhões de toneladas na safra 2009/2010). Essa realidade de produção abundante de alimentos onde nos destaca-mos no cenário mundial como um dos maiores produtores, é também uma das nos-sas maiores contradições. Ao fato de sermos um dos maiores doadores de alimentos para a PMA cujo banco de alimentos é correspondente a 730 mil toneladas, nosso milho e soja são prioritariamente cultivados para a exportação e alimentação animal.

Há, atualmente, uma tendência de entrelaçar a existência da fome crônica com a situação de extrema miséria. Porém, o fato de haver indicadores de uma distribui-ção regional da desnutridistribui-ção e da fome crônica apontando a ausência desse problema em algumas áreas do país a exemplo de centros urbanos da Região Sudeste, produz também o que Josué de Castro (1987, p. 37) chamou de “fome oculta, na qual, pela falta permanente de determinados elementos nutritivos, em seus regimes habituais, grupos inteiros de populações se deixam lentamente morrer de fome, apesar de co-merem todos os dias”.

Pois, cada alimento tem uma propriedade necessária para o bom funcionamen-to do organismo humano, para que o mesmo consiga desenvolver as atividades coti-dianas de trabalho, uma vez que:

Os alimentos se diferem entre si por uma série de características: forma, odor, paladar, cor, composição química, etc. [...] quanto à capacidade [...] de produção de energética para o organismo. Todos os alimentos que ingerimos são transformados pelo nosso organismo em energia, que nos possibilita o desempenho das nossas atividades diárias. Assim uma boa alimentação requer, entre outros fatores, que os alimentos ingeridos sejam suficientes [...] equivalente àquelas dispendida pelo organismo nos trabalhos realizados. (ADAS, 1988, p. 8).

A não ingestão de um alimento adequado produz outra dimensão constitutiva e produto da fome: a desnutrição. Segundo Adas (1988) a desnutrição provoca diver-sas doenças, comuns em países em desenvolvimento, podendo ser classificadas de acordo com as suas causas:

[...] a desnutrição a calórico-proteica (provocada pela falta de calorias e proteínas), as doenças causadas pela deficiência de vitamina A, a anemia (provocada pela deficiência de ferro), o

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raquitismo (gerado pela deficiência de vitamina D), o bócio e os distúrbios causados pela carência de vitaminas do grupo B. Todas essas formas de desnutrição, quando não fazem suas vítimas diretamente, facilitam o aparecimento de outras doenças, que acabam levando o desnutrido à morte. Por exemplo, os óbitos de crianças pobres nos países do Terceiro Mundo não apontam a fome ou desnutrição como causa dessas mortes. Figuram como causas a pneumonia, a desidratação [...] No entanto essas doenças são consequências de um organismo debilitado ou sem resistência, em decorrência da desnutrição ou da fome. (ADAS, 1988, p. 10).

A desnutrição é diagnosticada por meio de índice antropométrico, que faz rela-ção da baixa estatura com o baixo peso para a idade “é um dos maiores problemas [...] dos países em desenvolvimento, estando associada ao maior risco de doenças infec-ciosas e de mortalidade precoce, comprometendo o desenvolvimento psicomotor, o aproveitamento escolar e a capacidade produtiva na idade adulta” (LIMA, 2010, p. 18). É decorrente das deficiências nutritivas e, segundo a Política Nacional de Alimen-tação e Nutrição, a principal é a Deficiência Energético-Proteica, que “refere-se ao es-tado nutricional que ressalta a deficiência de calorias e de proteínas. Ocorre, sobretudo em crianças” (BRASIL, 2003, p. 42). São as diversas “doenças que decorrem do aporte alimentar insuficiente em energia e nutrientes, ou ainda, com alguma frequência, do inadequado aproveitamento biológico dos alimentos ingeridos – geralmente motivado pela presença de doenças, em particular doenças infecciosas” (MONTEIRO, 2003, p. 8). Sendo uma alimentação saudável composta por alimentos de origem animal – carnes, ovos, leite e seus derivados etc. –, de origem vegetal – verduras, legumes, cereais e frutas –, devem ser balanceadas com seus diversos elementos “micronu-trientes – vitaminas, minerais e oligoelementos. A ausência, na alimentação, de iodo, ferro, vitamina A e C, entre outros elementos indispensáveis à saúde, causa, a cada ano, cegueira, mutilações e morte em milhões de pessoas” (ZIEGLER, 2013, p. 36).

Sem contar com a grande contribuição que a água tem nesse processo e pelas considerações “da OMS – Organização Mundial da Saúde, para um adulto reproduzir satisfatoriamente a sua própria força vital” (ZIEGLER, 2013, p. 32), ele precisa ingerir, em média, 2.200 calorias 9 diárias. Ou seja, podemos verificar que a fome é

determi-nada socialmente, e embora numa sociedade da abundância, como é o capitalismo, esse fenômeno é elemento constituinte da pobreza, da miséria que se alastra em países periféricos e também de economia central.

9 Calorias: é uma unidade utilizada para medir o valor energético dos alimentos (sua capacidade de gerar calor ou energia no organismo ao sofrer nele oxidação); Quantidade de alimentos que equivale a determinado valor energético.

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4 A FOME COMO QUESTÃO HUMANITÁRIA

A fome, de acordo com o mais recente Relatório da FAO (2012) sobre o estado de insegurança alimentar no mundo, traz a inaceitável estimativa da existência de quase 870 milhões de pessoas subalimentadas no mundo, ao que ZIEGLER (2013, p. 32) diz que, “a fome é o número um na lista dos 10 maiores riscos para a saúde. Ela mata mais pessoas anualmente do que AIDS, malária e tuberculose juntas” (FAO, 2012, p. 1). Isso mostra que a grande maioria dessas pessoas vive em países em de-senvolvimento (FAO, 2012, p. 2. Tradução nossa).

De acordo com Monteiro:

A fome é certamente o problema cuja definição se mostra mais controversa. Haveria inicialmente que se distinguir a fome aguda, momentânea, da fome crônica. A fome aguda equivale à urgência de se alimentar, a um grande apetite [...]. A fome crônica, permanente [...], ocorre quando a alimentação diária, habitual, não propicia ao indivíduo energia suficiente para a manutenção do seu organismo e para o desempenho de suas atividades cotidianas. (MONTEIRO, 2003, p. 8).

O fato de a alimentação ser uma condição sine qua non para que os indivíduos se desenvolvam satisfatoriamente e se tornem produtivos, ao mesmo tempo, é tam-bém uma mercadoria produzida com a intenção do lucro, sendo obrigatório que se tenha dinheiro para ter acesso, constituindo um dilema insuperável no capitalismo.

De acordo com Mészáros (2002, p. 255):

Graças à subserviência alienada da ciência e da tecnologia às estratégias do lucrativo marketing global, hoje as frutas exóticas estão disponíveis durante o ano inteiro em todas as regiões – é claro, para quem tem dinheiro para comprá-las, não para quem as produz sob o domínio de meia dúzia de corporações transnacionais. Isso acontece contra o pano de fundo de práticas irresponsáveis na produção, que todos nós observamos impotentes.

Independente da região geográfica que o indivíduo habite, tem que comprar o alimento necessário para viver, pois o alimento produzido é, também, uma mercado-ria e, portanto, propriedade privada de poucos que estão na dominação desse modo de produção, que produz a fome em meio à abundância.

Tal realidade implica diretamente na condição da força de trabalho e nós a en-tendemos por “conjunto das faculdades físicas e espirituais que existem na

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corpo-ralidade, na personalidade viva de um homem e que ele põe em movimento toda vez que produz [...]” (MARX, 1996, p. 285). Desse modo, torna-se mais difícil para uma pessoa que vive sob a égide da fome, realizar o que se exige no trabalho.

A partir do momento em que passa a existir um contingente de pessoas que não possuem condições de satisfazerem suas necessidades fisiológicas, inicia-se o processo que os leva a atingir o seu grau máximo de incapacidade de alimentar-se. Surge, então, o fenômeno da fome, fome intensa, que é a dimensão extrema da pobreza e privação, sinônimo de desequilíbrio social, que tem causas estruturais e construção histórica. A fome não é só efeito. Também é causa da miséria, uma vez que atrofia o corpo, reduz a capacidade de aprendizado, estreita a esperança e causa variados déficits, no futuro. (PEDRO, 2006, p. 93).

Uma vez que, a falta de acesso à alimentação “produz letargia e debilita gradu-almente as capacidades mentais e motoras. Implica marginalização social, perda de autonomia econômica e, evidentemente, desemprego crônico pela incapacidade de executar um trabalho regular” (ZIEGLER, 2013, p. 32), pois, se um trabalhador, no mar-co da produção capitalista mar-contemporânea não atinge as metas de produtividade, é levado a fazer parte do enorme contingente de pessoas desempregadas – chamadas por Marx (1996) de exército industrial de reserva, existente em todos os setores do mercado de trabalho.

E nesse cenário mundializado, há a necessidade de intervenção de diferentes instituições no combate a fome mundial. A ONU identifica a fome quanto à forma que se apresenta ou como é produzida, sendo distintas e identificadas como uma fome de ordem estrutural, que é a permanente, “própria das estruturas de produção [...] pouco espetacular e se reproduz biologicamente: a cada ano milhões de mães subalimenta-das dão a luz milhões de crianças deficientes. [...] significa destruição psíquica e física, aniquilação da dignidade, sofrimento sem fim” (ZIEGLER, 2013, p. 38) e outra forma de ordem conjuntural, sendo esta compreendida como:

[...] altamente visível. Irrompe periodicamente nas telas da televisão. Ela se produz quando, repentinamente, uma catástrofe natural – gafanhotos, seca ou inundação assolam uma região – ou uma guerra destrói o tecido social, arruína a economia, empurra centenas de milhares de vítimas [...] para acampamentos [...] Nessas circunstâncias, não se pode semear nem colher. [...] As instituições estatais deixam de funcionar. Para os milhões de vítimas amontoadas nos acampamentos, a última salvação está no Programa Alimentar Mundial (PAM). (ZIEGLER, 2013, p. 38).

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Segundo a ONU (2012, p. 2) a fome crônica traz consequências severas para a saúde e para o desenvolvimento da pessoa humana, entre as quais:

[ As pessoas que sofrem de fome crônica são subnutridas;

[ Não comem o suficiente para obter a energia que precisa para levar uma vida ativa;

[ Sua desnutrição torna difícil para estudar, trabalhar ou não realizar ativida-des físicas;

[ A desnutrição é particularmente prejudicial para mulheres e crianças; [ Crianças desnutridas não crescem tão rapidamente como as crianças

sau-dáveis, podendo se desenvolver mais lentamente;

[ Fome constante enfraquece o sistema imunológico e torna-os mais vulne-ráveis a doenças e infecções.

E quando “todos os dias milhões de pessoas ao redor do mundo comem ape-nas o mínimo de comida para manterem-se vivos e toda noite vão para a cama sem a certeza de que haverá comida suficiente para comer amanhã” (ONU, 2012, p. 2), este fator torna-se predominante e faz com que todos os níveis de desenvolvimento humano sejam prejudicados e inferiorizados, pelo fato de não conseguir acesso ao alimento, embora sejam produzidos abundantemente.

Diversos organismos ligados a ONU buscam propostas e alternativas de erradi-cação ou controle da fome e a insegurança alimentar no mundo, tais expressões são vistas como entraves para a economia mundial, de modo que, no relatório feito em 2012 sobre o estado da inseguridade da fome no mundo, afirma que:

[...] sem precedentes oportunidades técnicas e econômicas, achamos totalmente inaceitável que mais de 100 milhões de crianças menores de cinco anos de idade estão abaixo do peso e, portanto, incapaz de perceber o seu potencial socioeconômico e humano completo, e que a desnutrição na infância é uma causa de morte de mais de 2,5 milhões de crianças todos os anos. A fome e a desnutrição pode ser um obstáculo significativo ao crescimento econômico. (ONU, 2012, p. 4. Tradução nossa). Pois, sendo a alimentação uma necessidade humana indispensável à vida e que, de acordo com o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), “todo ser humano precisa se alimentar para continuar vivo e se alimentar bem para ter saúde. Ou seja, estas condições, estar vivo e ter saúde, dependem diretamente do quanto e do que se come” (BRASIL, 2013, p. 1).

Porém, na medida em que a desnutrição é uma doença causada pela fome e provocada pela falta de acesso ao alimento, nos moldes da produção capitalista

(15)

torna-se uma profunda contradição. A produção de alimentos é comprovadamente capaz de alimentar a população mundial satisfatoriamente, mas sendo essa produção parte de um sistema que ao mesmo tempo produz a abundância e também a miséria, podemos afirmar que a fome é consequência da forma como a sociedade se organiza e produz. É, uma construção social, que nos leva a entender a fome como expressão da questão social, ou seja, determinada pelas próprias relações sociais e econômicas existentes entre capital e trabalho.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A fome que desnutre, provoca letargia, reduz as defesas biológicas, causa dor, desperta desejos fetichizados, também contribui para a produção do desemprego. Faz parte de uma cadeia produtora de desigualdades e manutenção do status quo vigente. Torna-se ainda mais desigual essa sociedade capitalista, assegurando sua divisão clássi-ca em termos de posse dos meios de produção e da riqueza, entre os que comem e os que não conseguem satisfazer essa necessidade mais primitiva da humanidade.

Sendo o mercado de trabalho extremamente competitivo e seletivo, que separa as pessoas não apenas por qualificação profissional, mas também pela capacidade de produzir ao extremo, como ainda pela aparência física, uma pessoa letárgica e propensa ao adoecimento encontrará maior dificuldade de conseguir ingressar no mercado de trabalho. Consequentemente, esta pessoa se manterá sob a égide da fome. Não tendo outra solução para tal, é obrigado a ficar dependente das políticas sociais mostrando, assim, uma face da barbárie da sociedade capitalista, pois quando o indivíduo não consegue por si só atender as suas necessidades sociais, a reprodu-ção social, torna-se funcional, já que o indivíduo que convive com a fome crônica não deixa de fazer parte da sociedade do capital, não é um “excluído”, pelo contrário, a existência da miséria faz parte da lógica capitalista.

Dessa forma, fica claro que, se é por meio do trabalho que as necessidades hu-manas são atendidas, torna-se impossível exercer um trabalho, quando o indivíduo se encontra em situação de miserabilidade e fome. Por esse motivo, precisamos compre-ender o porquê da existência da fome na sociedade contemporânea, onde convivemos com a abundância, com produções recordes de alimentos e ao mesmo tempo não conseguimos atender as necessidades biológicas mais primitivas para que o homem tenha plenas condições de produção, seja para atender as suas outras necessidades, como também as próprias exigências do capital em suas relações de produção.

REFERÊNCIAS

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1 Acadêmica no curso de Serviço Social do Centro Universitário Tiradentes – Unit. E-mail: angelika_melo@hotmail.com

2 Assistente Social, mestre em Serviço Social pela Universidade Federal de Alagoas – UFAL e Doutoranda em Serviço Social pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. É docente no curso de Serviço Social da Faculdade Integrada Tiradentes – FITS. E-mail: mariaalcinat@yahoo.com.br

3 Historiador, Doutorando em História pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE na linha de pesquisa de Cultura e Memória e Mestre em História pela Universidade de Brasília – UnB na linha de pesquisa de História Cultural. É docente do Centro Universitário Tiradentes – Unit. Dedica-se a estudos sobre Brasil República, estado de exceção, memória, trabalho, cultura, identidades e patrimônio. E-mail: marce_goes@hotmail.com

Data do recebimento: 5 de Agosto de 2014 Data da avaliação: 13 de Agosto de 2014 Data de aceite: 12 de Agosto de 2014

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