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Ebook Interdisciplinaridades

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Academic year: 2021

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Joedy Luciana Barros Marins Bamonte

Regilene Aparecida Sarzi-Ribeiro

[ORGS.]

INTERDISCIPLINARIDADES

EM CONTEXTO

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INTERDISCIPLINARIDADES EM CONTEXTO Joedy Luciana Barros Marins Bamonte Regilene Aparecida Sarzi-Ribeiro Joedy Marins

Erika Woelke Canal 6 Editora

Profa. Dra. Janira Fainer Bastos Prof. Dr. José Carlos Plácido da Silva Prof. Dr. Luís Carlos Paschoarelli Prof. Dr. Marco Antônio dos Reis Pereira

Prof. Dra. Maria Angélica Seabra Rodrigues Martins Organização

Imagem da capa e aberturas Projeto Gráfi co e Diagramação

Conselho Editorial

Rua Machado de Assis, 10-35 Vila América | CEP 17014-038 | Bauru, SP Fone/fax (14) 3313-7968 | www.canal6.com.br

Interdisciplinaridades em contexto / Joedy Luciana Barros Marins Bamonte e Regilene Aparecida Sarzi-Ribeiro (orgs.). - - Bauru, SP: Canal 6, 2017.

186 p. ; 21 cm.

ISBN 978-85-7917-515-2

1. Artes visuais. I. Bamonte, Joedy Luciana Barros Marins. II. Sarzi-Ribeiro, Regilene Aparecida. III. Título.

CDD: 700.7 I61177

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1ª Edição 2018

Joedy Luciana Barros Marins Bamonte

Regilene Aparecida Sarzi-Ribeiro

[ORGS.]

INTERDISCIPLINARIDADES

EM CONTEXTO

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PREFÁCIO

Joedy Luciana Barros Marins Bamonte

A presente publicação é feita de proposições a respeito da cidade enquanto experiência visual. Constitui uma seleção de trabalhos apresentados durante o IX Encontro de Arte e Cultura, realizado em 2015, na cidade de Bauru, pelo Curso de Artes Visuais da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista em parceria com o SESC, sob organização minha e da Profa. Dra. Eliane Patrícia Grandini Serrano.

Ao priorizar interpretações artísticas geradas sobre e no espaço urbano, a versão do evento buscou a atuação das artes visuais em seus diversos segmentos, partindo do olhar para o que está próximo, ao alcance dos sentidos.

Ao perceber o entorno e identificar-se com o que está próximo a ele, o artista está nas ruas, nas casas, nos diálogos, nas escolas, nos meios de transporte, vendo-se nas dificul-dades e prazeres do cotidiano, em seu semelhante.

A cidade, enquanto habitat, é o centro de intensas trocas, conflitos, convívios, fluxos, um espelho da sociedade e de nós mesmos. Representa nosso universo de escolhas, pos-sibilidades de interesses e inserções. Nele, uma organicidade é elaborada, uma trama é tecida, um texto no contexto.

As páginas a seguir pretendem uma imersão poética sobre o local de permanência do artista, onde ele também é o observador, receptáculo e canal expressivo, onde o leitor é convidado a refletir, a fruir e a reconhecer-se.

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Sumário

7

INTRODUÇÃO

Regilene Aparecida Sarzi-Ribeiro

13

AÇÕES ARTÍSTICAS PÚBLICAS: SUPERFÍCIES EM ADERÊNCIA HÍBRIDA

Mariana Binato de Souza

Reinilda de Fátima Berguenmayer Minuzzi

41

FOMOS PARA CROATÃ! A INSURGÊNCIA DE UM TERRORISMO POÉTICO

NO CAMPUS UNIVERSITÁRIO DA UNESP-BAURU Richard Augusto Silva

José S. Laranjeira Dorival Campos Rossi

71

A CIDADE COMO ESPAÇO POÉTICO E ALGUNS CAMINHOS PARA A

HISTÓRIA DA ARTE NA CONTEMPORANEIDADE Regilene A. Sarzi Ribeiro

(6)

97

IMERSÕES DA INDÚSTRIA CULTURAL SOBRE O ENSINO DE ARTE: DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE

Ana Beatriz Buoso Marcelino

119

ARTE TÊXTIL, BORDADO E SUA INSERÇÃO NO REPERTÓRIO ARTÍSTICO

Natalia Nascimento Nogueira Maria Antonia Benutti

141

CAMINHOS NÃO-TRADICIONAIS PARA A GRAVURA: A POÉTICA NO

ENCONTRO COM A LINGUAGEM E CONSIGO MESMO. Maria Claudia de Sousa

Joedy Barros Marins Bamonte

155

ARTE, NATUREZA E EXPERIMENTAÇÃO

Cássia Lindolm Bannach Eliane Patrícia Grandini Serrano

171

ATIVIDADES ARTÍSTICAS NA TERCEIRA IDADE: AÇÕES DESENVOLVIDAS

PELO PROJETO DE EXTENSÃO “REJUVENESCENDO COM ARTE” Michele Rosane Cardoso

Thaís Regina Ueno Yamada Erika Gushiken

Jeferson Denzin Barbato

6

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introduÇÃO

Regilene Aparecida Sarzi-Ribeiro

Este livro nasceu do anseio das organizadoras, Joedy Bamonte e Regilene Sarzi, de reu-nir as pesquisas atuais dos docentes do Departamento de Artes e Representação Gráfica da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da UNESP, campus de Bauru, São Paulo. Neste sentido, trata-se de uma publicação interdisciplinar que surgiu da ideia de mapear as pesquisas realizadas visando uma cartografia que apresentasse a diversidade de temas e resultados tal como uma rede tecida a partir da identidade e ou coletividade.

Cabe lembrar que “o Departamento de Artes e Representação Gráfica foi instituciona-lizado através da Resolução UNESP nº 87 de 16/10/00, após processo de fusão de dois an-tigos departamentos: Departamento de Representação Gráfica e Departamento de Artes. Tais departamentos funcionavam como unidades independentes, sendo o primeiro volta-do para a área técnica e o segunvolta-do para a área artística. O curso de Artes Visuais, na épo-ca intitulado Eduépo-cação Artístiépo-ca, era lotado no Departamento de Artes e o Departamento de Representação Gráfica atendia com disciplinas da área técnica as três unidades, a Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, a Faculdade de Ciências e a Faculdade de Engenharia, do Campus Bauru” (Histórico. Departamento de Artes e Representação Gráfica – Site FAAC, UNESP, Bauru).

Atualmente, as pesquisas dos docentes do Departamento de Artes e Representação Gráfica integram cinco linhas de pesquisa, a saber: Arte – Educação; Artes Plásticas; Ensino

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da Representação Gráfica; Fundamento e Crítica das Artes e Linguagem Gráfica para Engenharia, Arquitetura e Desenho Industrial.

Em Interdisciplinaridades em contexto foram reunidos artigos de docentes,

discen-tes e profissionais participandiscen-tes do IX Encontro de Arte e Cultura, edição 2015. O tema do referido evento foi “Provocações Estéticas: a cidade como experiência visual” e priorizou as interpretações artísticas geradas sobre e no espaço urbano, investigando a atuação das Artes Visuais em seus diversos segmentos.

Cabe destacar que a opção pela publicação deste material é resultado do entendimen-to da organização do evenentendimen-to de que esta seria uma forma de prestigiar o alentendimen-to nível dos artigos submetidos e apresentados na forma de comunicações orais no IX Encontro de Arte e Cultura, em 2015. Os textos escolhidos para participar desta edição foram os melhores avaliados pela comissão científica do evento.

No artigo “Ações artísticas públicas: superfícies em aderência híbrida”, Mariana Binato de Souza e Reinilda de Fátima B. Minuzzi discorrem sobre ações coletivas e colaborativas no âmbito urbano. Richard Augusto da Silva, José dos Santos Laranjeira e Dorival Campos Rossi, em “Fomos para Croatã! A insurgência de um terrorismo poético no campus univer-sitário da Unesp-Bauru”, relatam uma experiência cuja produção artística é considerada de caráter original e criativo. Em “A cidade como espaço poético e alguns caminhos para a história da arte na contemporaneidade”, Regilene Sarzi Ribeiro relaciona obras e artistas que exploram a cidade como locus de criação, para tecer novos caminhos para a história da arte.

Ana Beatriz B. Marcelino, no artigo “Imersões da indústria cultural sobre o ensino de arte: desafios na contemporaneidade” apresenta um estudo sobre as relações de consu-mo e o ensino da arte. Natalia Nascimento Nogueira e Maria Antonia Benutti, no texto “Arte têxtil, bordado e sua inserção no repertório artístico” propõem uma breve revisão histó-rica sobre a arte têxtil, da pré-história até o contemporâneo. No artigo “Caminhos não tradicionais para a gravura: a poética no encontro com a linguagem e consigo mesmo. A xilogravura como veículo para minha expressão”, Maria Claudia de Sousa e Joedy Barros Luciana Marins Bamonte apresentam um relato do processo de criação pessoal e poético a partir da xilogravura. E por fim, em “Arte, natureza e experimentação”, Cássia Lindolm

8

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Bannach e Eliane Patrícia Grandini Serrano relatam um processo experimental realizado com pigmentos naturais, resultado de uma Iniciação Científica.

No artigo Atividades Artísticas na terceira idade: ações desenvolvidas pelo projeto de extensão “Rejuvenescendo com Arte”, Michele Rosane Cardoso, Thaís Regina Ueno Yamada, Erika Gushiken e Jeferson Denzin Barbato apresentam um relato do trabalho desenvolvido nos últimos anos pelo Projeto de Extensão da UNESP em Bauru, intitulado “Rejuvenescendo com Arte”, que aplica arte como forma de promoção de qualidade de vida e socialização na terceira idade, atuando diretamente com a comunidade.

Os artigos foram reunidos em torno ou não do tema do evento “Provocações Estéticas: a cidade como experiência visual”. A cidade, por constituir nosso habitat, centro de inten-sas trocas, conflitos, convívios, fluxos, espelho da sociedade e de nós mesmos, representa nosso universo de escolhas e possibilidades de percepções e inserções.

E foi pensando nesse contexto, que foram propostas reflexões a respeito da atuação do artista como receptáculo e canal expressivo no processo de leitura de seu local de permanência. Para isso, a edição do evento para 2015 procurou espaços que abrigassem obras de artistas, pesquisadores e estudantes, fóruns que nos levassem a refletir sobre a área e sobre a sua presença, uma provocação ao pensar e à fruição, procurando-nos, reconhecendo-nos.

Em suma, o livro “Desenhos da Pesquisa & Interdisciplinaridade em Contexto” propõe um mapeamento de encontros possíveis entre áreas e contextos das pesquisas em Artes e Representação Gráfica.

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AÇÕES ARTÍSTICAS

PÚBLICAS: SUPERFÍCIES EM

ADERÊNCIA HÍBRIDA

Mariana Binato de Souza

1

Reinilda de Fátima Berguenmayer Minuzzi

2 1. Mestranda, Programa de Pós Graduação em Artes Visuais – PPGART - UFSM, marianabinato@ gmail.com 2. Professora Doutora, Departamento de Artes Visuais, DAV, e Programa de Pós Graduação em Artes Visuais – PPGART - UFSM, reibmin@yahoo. com.br

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ÕE S A RT ÍS TI CA S PÚ BL IC AS : S UP ER FÍ CI ES EM A DER ÊN CI A H ÍB RI DA ria na Bin ato de So uz a e Re ini lda de Fá tim a B ergu en ma yer Min uz zi

Resumo

O presente artigo aborda uma produ-ção poética em artes visuais, no campo da arte e da tecnologia, que se constitui como uma proposta de intervenções em superfícies urbanas, tendo como temática o território e elementos de cidades interio-ranas. Permeando processos analógicos e digitais, o estudo, neste sentido, busca aproximar a arte pública e urbana das co-munidades do interior, locais que perma-necem, em muitos momentos, à margem das manifestações artísticas contemporâ-neas, usualmente concentradas nos maio-res centros urbanos. Desta maneira, tais ações artísticas públicas, propostas para serem partilhadas de maneira coletiva e colaborativa com o grupo envolvido, no que tange a sua constituição como produto final, podem sofrer interferência dos parti-cipantes, possibilitando que os processos experienciados instiguem novos modos de subjetivação do indivíduo em sua relação com a arte no contexto atual. Para proble-matizar as questões conceituais e teóricas implícitas, dialoga-se com autores e teóri-cos do campo, bem como relacionam-se produções contemporâneas consoantes com a investigação.

Palavras-chave: Ação artística; arte

pú-blica; hibridação; contexto urbano; arte e tecnologia.

Abstract

This article discusses a poetic production in visual arts, in the field of art and technology; it is a proposal of interventions in urban surfaces, with the thematic territory and inner cities elements. Permeating analog and digital processes, the study in this regard, seeks to approach the public and urban art of rural communities, places that remain, in many instances, on the sidelines of contemporary art forms, usually concentrated in big urban centers. So, such public artistic actions, proposals to be shared collectively and collaboratively with the group involved, with respect to its establishment as an end product, may suffer interference from participants, allowing that the experienced processes instigate new modes of individual subjectivity in its relation to art in the current context. To discuss the conceptual and theoretical issues implied, it dialogues with authors and theoretical field and

Mariana Binato de Souza

e

Reinilda de Fátima

Ber-guenmayer Minuzzi

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AÇ ÕE S A RT ÍS TI CA S PÚ BL IC AS : S UP ER FÍ CI ES EM A DER ÊN CI A H ÍB RI DA Ma ria na Bin ato de So uz a e Re ini lda de Fá tim a B ergu en ma yer Min uz zi

relate to contemporary productions consonant with the investigation.

Keywords: Artistic action; public art;

hybridization; urban context; art and technology.

Introdução

Muitos comentam que uma pesquisa em artes visuais precisa partir do pesquisador, de seus interesses, de suas experiências e principalmente de seus questionamentos, mesmo esta sendo uma tarefa árdua, pois faz refletir sobre o que nos incomoda e nos desestabiliza. Dos anseios em viver em uma comunidade pequena, no caso a cidade de São Pedro do Sul, Rio Grande do Sul, com muito potencial a ser explorado dentro do contexto artístico, urbano e tecnológico, nasceu esta pesquisa.

Assim, o fato de querer aproximar a arte contemporânea à cidades do interior, como onde cresci, através de ações artís-ticas no próprio local, passou a ter mais significado e pude perceber que seria uma forma de justificar minhas escolhas e traje-tória a quem ainda poderia não ter enten-dido ou conhecido. As direções pessoais e os caminhos que trilhamos reverberam

diretamente em nossa vida acadêmica e profissional, desta maneira quando cria-mos um elo entre ambas podecria-mos ter uma pesquisa de grande potencial. Partindo do que nos afeta, e quando os temas de pes-quisa acontecem a partir de experiências de vida ou do nosso conhecimento parti-cular, a possibilidade de que sejam desen-volvidos bons projetos aumenta, tendo em vista a amplitude do nosso conhecimen-to em relação a este determinado tema. Temos o “conhecimento de causa” e este fato pode trazer à pesquisa um cunho mui-to mais significativo.

Colocar-se no centro da pesquisa sig-nifica revisitar nossas escolhas, a maneira como nos relacionamos com nosso entor-no, como nos afetamos com nossas recor-dações, como nos construímos como sujei-tos no contexto social, cultural, familiar e como construímos nossa história pessoal. Estes fatores constituem uma base para o processo de pesquisa e dependem exclu-sivamente, em um primeiro momento, de nós mesmos, nós somos os responsáveis por construirmos e elencarmos temáticas e conceitos que partem de anseios e ques-tionamentos pessoais que podem ser apro-fundados e estudados a partir da pesquisa autobiográfica.

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ÕE S A RT ÍS TI CA S PÚ BL IC AS : S UP ER FÍ CI ES EM A DER ÊN CI A H ÍB RI DA ria na Bin ato de So uz a e Re ini lda de Fá tim a B ergu en ma yer Min uz zi

Uma abordagem autobiográfica permi-te que o autor construa-se como pesquisa-dor e teórico do que escreve e estuda, seu pensamento e sua escrita são legítimos e consistentes, tendo assim o poder de se constituir como fonte de pesquisa. O ato de questionar-se e discutir o projeto a todo instante colabora de maneira muito evo-lutiva para o processo de pesquisa, refor-mula os posicionamentos e as respostas do problema de maneira incessante sem haver uma estagnação, quando as respos-tas são encontradas surgem novas pergun-tas e assim sucessivamente. As propospergun-tas artísticas atuais que se estabelecem no campo da tecnologia, estabelecem uma parceria de criação com as mídias digi-tais e favorecem, de maneira mútua, as partes envolvidas, tecnologia, arte e es-pectadores/colaboradores. O processo de hibridação entre estes campos acontece naturalmente visto que a tecnologia, com o passar dos anos, revelou-se de maneira constante no cotidiano das pessoas, e as-sim no contexto artístico, arte e vida conti-nuam caminhando lado a lado no contexto contemporâneo.

Neste sentido, este estudo busca ex-plorar formas colaborativas de inserção da arte e da tecnologia no contexto urbano de

São Pedro do Sul, Rio Grande do Sul, cida-de emancipada em 22 cida-de março cida-de 1926 que conta com uma população média de 17 mil habitantes, sendo boa parte mora-dora da zona rural. Esta cidade, como mui-tas outras comunidades pequenas, possui ícones e peculiaridades características que os habitantes já estão acostumados, pois muitos vivem nela desde que nasceram, assim como seus pais, avós. Intervenções urbanas de autoria colaborativa são o foco do projeto, que busca criar dispositivos à população como uma maneira de fazê-la experienciar suas ações dentro do contexto urbano e em relação ao desenvolvimento cultural local. Permitir rever os locais coti-dianos e ressignificar os conceitos e olhares acerca do que já faz parte da vida da popu-lação local pode revelar lacunas propícias à inserção e ao deslocamento da arte e da tecnologia.

Os símbolos e características da cida-de, como a praça central que agrupa o co-mércio local em sua volta e as festividades nos finais de semana, o tradicional Clube do Comércio que reúne a sociedade para reuniões e bailes desde sua fundação em meados da década de 30, as características festas de igrejas no interior aos finais de se-mana, os conhecidos populares, mendigos

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que carregam consigo diferentes histórias no imaginário das pessoas, e talvez a prin-cipal característica de pequenas cidades, a receptividade e o fato de a maioria dos ha-bitantes se conhecerem e possuírem algum tipo de parentesco distante ou amizade de longa data são fatores que reforçam a rela-ção com os interesses locais, havendo, em muitos casos, um engajamento da popula-ção para o desenvolvimento de projetos e de ações que beneficiem a cidade.

Desenvolvimento

SUPERFÍCIES URBANAS, INTERAÇÃO E

COLABORAÇÃO

Ao iniciar um levantamento no contex-to da cidade de São Pedro do Sul sobre as demandas culturais que envolviam a co-munidade e entender em que brechas as propostas desta pesquisa poderiam ser relevantes à cidade e à população, percebi que o envolvimento da população, aliada aos órgãos públicos em busca de atrativos culturais à cidade, estava estagnado. A ci-dade, com o passar dos anos, perdeu mui-tos projemui-tos que eram realizados tanto por entidades sociais quanto pelos órgãos pú-bicos, muitas vezes pela falta de interesse

da comunidade que deixou de valorizar os acontecimentos locais.

Com o intuito de envolver a comunidade são-pedrense de uma maneira mais ativa no contexto urbano, o projeto buscou in-tensificar o conceito de colaboração com base no que já havia sido trabalhado ante-riormente em intervenções que foram ori-ginadas a partir da interação da população via redes sociais. Busquei identificar algum tipo de temática que chamasse a atenção dos moradores da cidade, bem como que pudesse estabelecer uma ligação com as intervenções já trabalhadas e geradas com base em relatos e no retorno das pessoas frente às ações do projeto. A partir de algu-mas análises de campo frente às mudanças históricas da cidade, foi solicitado em um grupo da rede social Facebook, administra-do por uma professora local, que a popu-lação divulgasse fotografias antigas da ci-dade a fim de que pudesse ser resgatada a história arquitetônica de São Pedro do Sul e compará-las aos espaços atuais.

Muitas pessoas da comunidade cola-boraram com esta busca de fotografias antigas e, consequentemente, buscaram resgatar as antigas histórias da cidade que eram vinculadas aos lugares frequentados no passado. Estes locais contam a história

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da cidade de maneira muito rica, sem deixar de lado a atuação dos moradores e da socie-dade da época, hoje já adormecida pelo tempo. Mesmo havendo poucos prédios históricos e nenhum tipo de incentivo à sua restauração e manutenção, a cidade ainda abriga muitas histórias através de sua arquitetura rica em detalhes de fachada preservados com o passar dos anos. Em contrapartida, diversos locais centrais estão sendo tomados por construções novas que ignoram completamente as referências arquitetônicas históricas, dando espaço somente a edificações aglomeradas com foco na quantidade, deixando de lado a quali-dade e o valor estético. Muitos tapumes tomaram lugar na ciquali-dade de maneira invasiva, isolando as novas construções da sociedade, parecendo assim que emergem nos espaços em um curto período de tempo.

Figura 1. Registros fotográficos da arquitetura da cidade de São Pedro do Sul – RS que serviram de referências para a criação dos estêncis.

Fonte: Acervo da autora.

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Estas relações entre os lugares antigos e históricos da cidade com as novas cons-truções serviram de base para a criação de uma proposta de oficina denominada ResgateStencil, que teve por objetivo reu-nir pessoas da comunidade interessadas em interpretar estas antigas edificações de maneira conjunta a fim de que pudessem ser geradas produções imagéticas em es-têncil (molde vazado para desenvolvimen-to/reprodução de configurações visuais específicas) que seriam posteriormente aplicadas a tapumes e tecidos e, assim, inseridos no contexto urbano e expositivo da cidade de maneira simultânea. O pro-cesso de colaboração, que é um dos focos do trabalho, necessita do papel da popula-ção como muito mais do que espectador, mas como um membro atuante tanto no processo de criação quanto na busca de referenciais, pois a investigação propõe e necessita partir das menções e alusões do colaborador atuante que também é res-ponsável pelo andamento do projeto.

[...] a relação entre o espectador e a obra se modifica. O espectador – que já então não é apenas o espectador imó-vel – é chamado a participar ativamente da obra, que não se esgota, que não se

entrega totalmente, no mero ato contem-plativo: a obra precisa dele para se reve-lar em toda a sua extensão. Mas aquela estrutura móvel possui uma ordem in-terna, exigências, e por isso não bastará o simples movimento mecânico da mão para revelá-la. Ela exige do espectador uma participação integral, uma vontade de conhecimento e apreensão (GULLAR apud ARANTES, 2005, p. 36).

Desta maneira, usou-se a Fanpage do projeto #SPSArteColaborativa e os grupos vinculados à cidade para convidar a comu-nidade a participar de uma oficina gratui-ta de estêncil. Os interessados deveriam inscrever-se via e-mail para participarem da ação coletiva, sem nenhum tipo de de-finição de idade ou grau de escolaridade, pois o projeto estava aberto a receber uma diversidade de pessoas que pudesse cola-borar com a pesquisa. Ao convidar a po-pulação para participar, foi explicado que a oficina resultaria em uma exposição na Casa de Cultura e na praça central da cida-de durante a semana cida-de aniversário cida-de 89 anos do município, de 22 a 31 de março de 2015. O intuito da oficina foi incentivar as pessoas a pensarem em São Pedro do Sul como um espaço suscetível a mudanças

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com base no que a própria comunidade de-seja, com o foco que a cidade, além de ser habitada pelas pessoas, é de responsabili-dade das mesmas e esta responsabiliresponsabili-dade está diretamente vinculada às ações co-letivas que existem ou não no espaço que habitam.

Uma sociedade que deseja cultura, es-paços destinados ao lazer, à interação so-cial, deve também estimular seu entorno a fim de que possa cobrar e estabelecer rela-ções de troca com seu meio, permutando ideias com ações.

[...] atuam na fronteira da arte como rein-venção do cotidiano, criam zonas dialógi-cas de atuação temporárias, sabem que por meio deste espaço mágico definido como Arte a realidade passa a ser mo-delizada, formatando o que Laddaga pontua como um novo paradigma para processos de arte colaborativa, a de instaurarem novas “ecologias Culturais” (KINCELER, SILVA, PEDEMONTE, 2009, p. 3).

Ao fim do período prévio de inscrições, oito pessoas haviam mostrado interesse em participar do projeto, desta maneira mantive contato com todos para que se

sentissem motivados e passei a fornecer materiais como vídeos e catálogos do pro-jeto Jardim Miriam Arte Clube (JAMAC), co-ordenado pela artista Monica Nador, para que tivessem um primeiro contato com os processos de um projeto de autoria com-partilhada, como o denomina Monica.

Durante o processo de adequação do projeto à realidade do local, foram feitas parcerias com determinadas entidades e órgãos públicos do município a fim de que a oficina pudesse acontecer também com o envolvimento de diferentes áreas. O Lions Clube, entidade assistencialista da cidade, emprestou sua sede para o de-senvolvimento da oficina, a Secretaria de Educação, agora responsável também pela Casa de Cultura, cedeu o espaço expositi-vo da mesma e a empresa de fornecimento de água, Corsan, autorizou o uso do espa-ço da caixa d’água central da cidade como ambiente expositivo. O fato de criar estes laços com empresas, entidades e órgãos da cidade propicia também um outro tipo de olhar e análise frente às ações artísticas e aos projetos desenvolvidos na cidade e valorizar estas colaborações, pois todos foram devidamente nomeados e identifi-cados nos materiais de divulgação do pro-jeto como apoiadores, igualmente reforça

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AÇ ÕE S A RT ÍS TI CA S PÚ BL IC AS : S UP ER FÍ CI ES EM A DER ÊN CI A H ÍB RI DA Ma ria na Bin ato de So uz a e Re ini lda de Fá tim a B ergu en ma yer Min uz zi a responsabilidade e principalmente o incentivo que estes órgãos dão à cultura local e aos projetos desenvolvidos com a população. Segundo Rancière (2002 apud LADDAGA, 2012, p. 36), “existe uma experi-ência sensorial específica – a estética – de que reside a promessa de um novo mundo da Arte e uma nova vida para os indivíduos e as comunidades” e as entidades apoiado-ras também têm um grande papel no que a arte pode proporcionar às comunidades.

Na data e local marcados para o início da oficina, denominada ResgateStencil, algumas das pessoas que mostraram in-teresse inicial se fizeram presentes, totali-zando 5 participantes e, mesmo não sendo um número expressivo em relação à popu-lação da cidade que teve acesso aos convi-tes, o grupo formado mostrou-se muito in-teressado e principalmente engajado com a proposta. Um dos colaboradores trouxe referências que faziam parte da história da sua família na cidade o que foi de grande valia, visto que este era um dos focos da proposta, partir das referências dos cola-boradores mesmo existindo uma linha con-dutora que delineasse o projeto.

O perfil dos colaboradores foi muito diferente, alguns já possuíam graduação, outros ainda eram acadêmicos, outros

profissionais autônomos e também estu-dantes do ensino médio. D.S. é dentista, 31 anos, veio até a oficina por incentivo do namorado L. P., arquiteto de 30 anos, V. S. é cabeleireiro, tem 26 anos e cursou cinco semestres de Design, K. M., 29 anos, é aca-dêmica do curso de arquitetura da Ulbra na cidade de Santa Maria e trouxe sua filha K. M. de 10 anos à oficina para interagir com a própria mãe e com o projeto e por fim E. B., 20 anos estudante do ensino médio e que quer cursar Artes Visuais. Todos os en-volvidos no grupo possuem algum tipo de interesse em fazer algo pela cidade, envol-vendo seus princípios e vivências.

“Faz isso primeiro em entornos locais, onde há indivíduos capazes de dividir e conectar atores e processos cruciais, onde oferece a esses grupos de indivídu-os a pindivídu-ossibilidade de separarem e reuni-rem algumas de suas experiências, mas também de se identificarem enquanto partes específicas de uma comunidade mais ampla. Que facilita a ativação de certa interação criativa, que oferece con-textos em que os participantes podem estabelecer “acordos gerais sobre pro-cedimentos e resultados”, em que alguns podem se colocar na posição de “árbitros

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que estabelecem limites às atuações à habilidade individual, ao conhecimento”, em que po-dem se propor formas de preparação disciplinada e se acumular as experiências em histórias. É assim que, na opinião de Charles Tilly, se produz a formação de identidades. (LADDAGA, 2012, p. 35).

Passamos a perceber que, por mais que existam diferenças de ideais, classes sociais e vivências entre os participantes, é na mistura de todas estas particularidades que se criam situações ricas para o projeto e para a oficina, pois as trocas entre todos os colaboradores tornam-se ainda mais intensas e consistentes.

Figura 2. Colaboradores da pesquisa no primeiro encontro Fonte: Fotografias da autora, 2015.

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Durante o primeiro encontro, situei os colaboradores acerca de minha pesquisa de mestrado e mostrei os objetivos que norteavam meus interesses em realizá-la em São Pedro do Sul, percebendo, neste momento, que se sentiram valorizados por estarem contribuindo de maneira ativa à pesquisa e dando um retorno às suas pró-prias inquietudes e às carências da cidade como um todo. Como já estavam familia-rizados com a proposta, pois já havia con-versado com os colaboradores individual-mente através das redes sociais, iniciamos um processo de reconhecimento de ima-gens, seleção, análise do material que seria posteriormente trabalhado, adaptando as ideias e os já pensados projetos.

Assim, iniciamos a desconstrução visual dos registros imagéticos acerca da arquite-tura da cidade fazendo releiarquite-turas de facha-das, unindo diferentes detalhes das ima-gens, interpretando a partir das referências que haviam sido compiladas com base em imagens fornecidas ao grupo da cidade anteriormente citado. Eduardo trouxe re-ferências da casa onde os antigos familia-res moraram que era característica por ter três grandes figueiras plantadas em sua frente, assim incorporou estas imagens ao seu desenho bastante detalhado. Alguns, já

mais familiarizados com o desenho, outros ainda buscando uma aproximação e de-senvoltura. D. S., que possui formação em odontologia, teve um pouco de dificuldade em desconstruir e interpretar as fotografias que serviram de referência, porém depois de pouco tempo já estava familiarizada aos materiais e ao processo de ressignificar o olhar frente aos ângulos tão estáticos da arquitetura; Leonardo, arquiteto, passou a desenhar os detalhes despercebidos que fazem parte das fotografias das igrejas da cidade e assim reorganizá-los a fim de montar um painel bem geométrico; Karla, inicialmente ainda muito presa aos dese-nhos da arquitetura das fotografias de uma maneira mais realista, sem conseguir per-ceber os detalhes e as formas que pode-riam ser criadas.

Os desenhos dos colaboradores deve-riam adequar-se às técnicas do estêncil, pois seriam assim aplicados nos materiais escolhidos para as intervenções, ou seja, quatro tecidos medindo cada um 2,4m X 3,5m que seriam colocados no espaço cen-tral da Praça Crescêncio Pereira, afixados na estrutura da Caixa D’água e em tapumes de construção em madeira medindo 1,1m X 2,2m para serem colocados no espaço ex-positivo interno da Casa de Cultura.

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Durante a primeira noite de encontro pude perceber o interesse dos colaboradores com o projeto e entender que o engajamento de todos seria muito responsável e satisfatório para o período das oficinas. Após iniciarem os projetos de como ficariam os tapumes e a adaptação dos desenhos às dimensões dos materiais, os colaboradores mencionaram que já queriam “colocar a mão na massa” e partiram para a pintura do fundo dos tapumes de madeira, pro-cesso que facilitou muito o andamento do projeto no decorrer dos próximos dias. O ato de iniciar o processo de pintura e de manuseio de tintas e cores deixou clara a empolgação para darem continuidade ao trabalho no dia seguinte. O grupo envolveu-se de uma maneira cole-tiva durante os dias de oficina, havendo trocas sobre diversos assuntos, bem como conver-sas muito proveitoconver-sas e, principalmente, uma relação de colaboração para além do projeto, muitas vezes foram mencionadas ideias para dar continuidade às produções, conversas em relação ao uso dos espaços expositivos da cidade e da própria cidade como ambiente de intervenção, seja ela musical, teatral e até mesmo de convivência coletiva.

Figura 3. Aplicação dos estêncis criados pelos colaboradores a partir das imagens arquitetônicas de São Pedro do Sul – RS. Fonte: Fotografias da autora, 2015.

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Pude perceber que por mais que o grupo formado tivesse muitas diferenças possuía vários princípios e ideais semelhantes, fato que os fez estar ali unidos. Foram seis ho-ras de trabalho no primeiro dia, que rende-ram tapumes pintados, desenhos iniciados e também moldes vazados para estêncil já recortados, o que incentivou ainda mais os colaboradores, pois puderam começar a ver seus trabalhos tomando forma. No segundo dia de oficina, mesmo sem os colaboradores poderem ter comparecido na parte da tarde, construí um painel em tecido com alguns dos moldes de estêncil já criados por mim e pelos colaboradores e, durante a noite, o grupo trabalhou mais uma vez de maneira muito intensa e comprometida. A maneira de adaptar o desenho ao estêncil foi uma das maiores dificuldades do grupo, porém, com um pouco de tempo, conseguiram to-dos adequarem seus projetos.

L. P. e D. S. fizeram um painel em conjun-to que foi projetado por ambos a partir dos detalhes das igrejas da cidade. Eduardo op-tou por usar alguns detalhes geométricos da fachada do tradicional Hotel Cordoni, agre-gando dois personagens que compunham outra fotografia de referência e as figueiras que fazem parte da história da sua família. Vinícius optou por trabalhar o fundo de seu

tapume com bastante cor e criar um estên-cil grande fazendo referência ao portão da Casa de Cultura. Karla optou por estrutu-rar seu projeto baseando-se na fachada da Farmácia São Pedro, que conserva até os dias de hoje a mesma arquitetura.

Durante o segundo dia de trabalho na oficina, buscamos tentar resolver o pro-blema de expor os tecidos na Praça da ci-dade a fim de que pudesse contemplar os objetivos do projeto sem deixar de lado a preocupação com a integridade das pro-duções resultantes, pois havia algumas preocupações coletivas a respeito também da segurança da estrutura da Caixa D’água cedida à mostra. Na segunda noite alguns painéis já estavam finalizados, o processo mais intenso foi o da confecção dos moldes vazados que detém certo cuidado e tem-po para criação. No terceiro dia de oficina, Karla pode se fazer presente durante a tar-de e construiu suas produções em estêncil finalizando seu painel. Durante este tempo optei por dar atenção aos painéis de tecido que ocupavam quase todo o local onde es-tava acontecendo a oficina, assim deveria aproveitar o momento em que havia me-nos pessoas no local.

Em um dos tecidos busquei criar uma composição que integrasse todos os

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moldes criados pelo grupo, onde os desenhos elaborados, de certa maneira conseguiram dialogar uns com os outros favorecendo muito a construção do painel. Em outro tecido foi realizado um fundo a partir de tintas coloridas e sob ele a inscrição #SPSArteColaborativa, identificando o projeto a fim de que a população pudesse dialogar com o mesmo em suas ações presentes e futuras.

Durante a noite os colaboradores tiveram tempo para finalizar os seus painéis. Leonardo e Daiane estavam confeccionando o segundo com uma interpretação do olhar da está-tua de São Pedro Apóstolo, que fica em cima da igreja, para a cidade. Eduardo finalizou o fundo do seu painel para inserir os três moldes que estavam faltando. Vinicius concluiu o estêncil em formato grande e o aplicou ao seu painel que já estava com o fundo pronto. Os colaboradores ficaram muito satisfeitos com os tecidos, principalmente com o criado a partir dos modelos em estêncil de cada um. Nesta terceira noite de encontro, todos pu-deram finalizar seus trabalhos nos tapumes em madeira e ver os resultados do conjunto como um todo. Na tarde do dia seguinte eu e Karla construímos o último painel em tecido com as produções em estêncil que ela havia criado.

Analisando os dias de criação com o grupo, pude perceber que todos, sem nenhum tipo de exceção, interessaram-se pelo projeto de maneira muito comprometida, isto se deu principalmente em função da carência que todos relataram sentir sobre a displicência com a cultura dentro do município, bem como a falta de locais a serem frequentados para ati-vidades diferenciadas. Por mais que os dias de oficina tenham sido poucos, todos conse-guiram encontrar seu papel no grupo e principalmente trabalhar colaborativamente, ade-quando seus projetos pessoais aos objetivos da oficina, relacionando a arquitetura antiga à atual, reformulando conceitos acerca da arte e principalmente em relação aos modos expositivos da arte e da sua inserção no contexto urbano.

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Durante o domingo que sucedeu a se-mana da oficina, no dia 22 de março de 2015, a cidade completou 89 anos e muitas atividades haviam sido programadas para comemorar o aniversário de Emancipação Político Administrativa. A Praça Crescêncio Pereira foi o palco da maioria das festivida-des. Neste dia, grande parte da população deslocou-se ao centro da cidade para pres-tigiar as atividades comemorativas. Como já havia sido planejado, a parte inferior da Caixa D’água serviu de espaço para a inter-venção de parte dos trabalhos realizados na oficina ResgateStencil. Quatro tecidos medindo 2,4m X 3,5m foram fixados na parte superior dos vãos entre as colunas que sustentam a caixa D’água, não impe-dindo a passagem dos pedestres. Dentro do espaço expositivo da Casa de Cultura foi montado o restante da exposição com os tapumes criados pelo grupo e um vídeo com as imagens que serviram de referência para o projeto mostrando a história da ci-dade através de fotografias.

Figura 4. Painéis finalizados pelos colaboradores com as suas criações e interpretações a partir da arquitetura da cidade de São Pedro do Sul – RS pintados a partir da técnica do Estêncil.

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ÕE S A RT ÍS TI CA S PÚ BL IC AS : S UP ER FÍ CI ES EM A DER ÊN CI A H ÍB RI DA ria na Bin ato de So uz a e Re ini lda de Fá tim a B ergu en ma yer Min uz zi Figura 5. Exposição dos painéis em tecido criados com o grupo de colaboradores envolvidos na pesquisa no espaço central da Praça Crescêncio Pereira em São Pedro do Sul – RS durante os sete dias de comemorações de aniversário do município. Fonte: Fotografias da autora, 2015.

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A intervenção na Praça Crescêncio Pereira e a exposição na Casa de Cultura fi-caram montadas de 22 a 31 de março, aber-tas à visita da população, sendo que nos dois espaços foi fixado um texto com uma explicação acerca do projeto, mostrando a ação dos colaboradores e as referências que nortearam a produção dos trabalhos.

Durante o dia 22, pude ter uma aproxi-mação maior com a população que estava no centro da cidade prestigiando as come-morações de aniversário do município e inevitavelmente tiveram contato com os trabalhos expostos na Praça, muitas pes-soas pararam para ler o texto que discor-ria sobre o projeto, outras pessoas vieram me questionar acerca do que se tratavam os tecidos pendurados. Durante o perío-do da tarde foram entregues cerca de 500 convites em formato de cartão de visita para a população, convidando-os para ver a intervenção no espaço central da Praça Crescêncio Pereira e no espaço da Casa de Cultura.

COLABORAR E INTERAGIR, UM PROCESSO

CONTÍNUO

O principal conceito que engloba esta produção poética em artes visuais acontece

em torno da autoria colaborativa, ou seja, o fato do espectador além de interator do projeto também ter a possibilidade de par-ticipar ativamente da proposta sendo um dos autores do trabalho que é coordenado pelo artista propositor. O tipo de colabo-ração que acontece nesta proposta tem o intuito de propiciar aos envolvidos uma re-lação de troca tanto com o trabalho quanto com os próprios colaboradores, construin-do assim relações subjetivas a partir destas vivências que serão elementos fundamen-tais para o processo de construção da iden-tidade de todos a partir do proposto.

O projeto que é construído a partir da colaboração tem o intuito de utilizar-se das referências e vivências dos participantes envolvidos, muito mais do que um grupo de pessoas diferentes que trabalham jun-tas, tem-se um grupo que se envolve com o trabalho, com a troca de ideias, concei-tos, conversas, trazendo ao projeto uma identidade própria baseada nas diversida-des que o compõe. São distintas pesquisas autobiográficas que constroem um estudo baseado nestas diversas biografias, unidas aos objetivos e direcionamentos da pes-quisa. Construir uma proposta de autoria colaborativa que possa englobar diferen-tes perfis, bem como inúmeras referências

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de identidades, pode ser desafiador, mas também propicia ao projeto uma gama de diferentes recursos e fontes para serem trabalhados.

O fato de inserir um trabalho colaborati-vo dentro de um contexto urbano, que já é parte das referências dos colaboradores, é uma forma de realocar estes referenciais a partir da visão deste grupo que, em conjun-to, estudou, transformou, recriou e inter-pretou seu olhar frente às paisagens vistas diariamente.

A artista Mônica Nador, depois de mui-tos anos tentando encontrar-se dentro de seus próprios projetos e experiências, bus-cou explorar uma maneira de aliar suas pesquisas. O mural com 20 metros, deno-minado “Parede para Nelson Leiner”, foi o início do projeto idealizado pela artista posteriormente, “Paredes Pinturas”, que tinha como principal objetivo criar pinturas murais artísticas em muros dentro do am-biente urbano. Seu projeto ocupou as ruas e passou a fazer parte da arquitetura da ci-dade de uma maneira ainda mais presente. O projeto que Mônica construiu possibili-tou que seu trabalho se expandisse de ma-neira mais abrangente dentro do contexto urbano contemporâneo. A partir da pin-tura de paredes de ambientes comerciais

e residenciais, em espaços periféricos da cidade de São Paulo, estabeleceu-se uma aproximação com o que posteriormente embasou o trabalho da artista, o cotidiano das pessoas e as suas referências culturais, imagéticas que constroem o que se conhe-ce como cultura popular e cotidiana.

Figura 6. Projeto Paredes Pinturas coordenado pela artista Mônica Nador, casa pintada no Largo do

Oratório, Morro da Providência. Fonte: https://atelie1m2.wordpress.com/2012/07/13/mm/

Este processo de aproximação com a vida de quem habita a cidade revela mui-to sobre como se consolidam as relações entre o sujeito e o ambiente em que ele se constrói. A partir do momento em que o am-biente que este indivíduo vive é modificado,

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modificam-se também as suas relações, suas construções subjetivas, que são cons-truídas a partir da relação do sujeito com o ambiente que ele habita, reverberam direta-mente na maneira como o sujeito se confi-gura, a arte passa a ter o papel de transfor-mar o outro a partir da sua presença.

O processo de autoria compartilhada que a artista propõe, aqui chamado de au-toria colaborativa, retorna à comunidade de maneira que a arte aproxima-se da vida das pessoas, mesmo que inicialmente de maneira muito discreta. Estabelece-se uma relação que carrega o valor pessoal de cada sujeito que participa da produção, tornan-do-se responsável pelo trabalho, agregan-do para si os valores que a arte e o instituto constroem diariamente. A imersão em um ambiente artístico promove a ascensão de cultura e de conhecimento que reverberam diretamente na vida de cada um.

[...] Afinal, tudo que aquelas pessoas não precisavam era de mais um ‘estrangeiro’ mostrando-lhes a sua sabedoria e talen-to em contrapontalen-to com a miséria e igno-rância locais. Meu objetivo era acolher, incluir os ‘nativos’, incluir-me entre eles, ser um igual, e não reiterar o abismo existente entre nós. O próximo passo foi,

portanto, realizar uma oficina de dese-nho em que pedi aos participantes que representassem sua cultura local. A pin-tura mural em Nilo Peçanha foi executa-da num espaço onde um grupo folclórico de percussão – o Zambiapunga – ensaia-va. Pedi-lhes que desenhassem os obje-tos e adereços representativos da ativi-dade, fizemos uma votação e pintamos máscaras e tambores em nossa parede. (NADOR, p.62-6, apud NADOR; RIVITTI; RJEILLE, 2012, p. 49).

Este transitar de seu trabalho por dife-rentes vias de acesso à arte propiciou uma maior abrangência do Projeto Paredes Pinturas, assim o reconhecimento das ações artísticas nos diferentes ambientes ocorreu de maneira global, tanto críticos, curadores e frequentadores de ambientes de exposição quanto os moradores dos locais onde o projeto inseriu-se no contex-to urbano cotidiano constroem conheci-mentos e dialogam com o que veem. Esta maneira de inserção da comunidade no processo de construção artística de ma-neira colaborativa, que parte dos seus re-ferenciais, das imagens que emergem do seu contexto e da sua história, permite um processo de olhar novamente o papel do

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cidadão dentro da sua comunidade, do ver-dadeiro ato de entender seu papel sobre a cidade, sua evolução, seu diferencial cultu-ral, desta maneira todos se sentem respon-sáveis pela maneira como veem, interagem e refletem sua função dentro de uma cultu-ra que é construída por todos.

Existem muitos outros grupos coletivos de ações artísticas que envolvem a cidade e os moradores como referências para os projetos e para os trabalhos desenvolvidos nestes contextos. Percebe-se que desta maneira o processo de aceitação das co-munidades frente ao novo acontece de uma maneira mais comprometida, pois também são responsáveis pelos resultados daquela proposta, o trabalho parte de si, para si e para os outros. A inserção destes coletivos no espaço urbano permite aos espectado-res que tem a oportunidade de se relacio-narem com as intervenções, uma maneira diferente de perceber a cidade e os locais aos quais já estão familiarizados, assim a partir da inserção da arte no contexto ur-bano são convidados a refletir sobre seus trajetos, sobre os locais que as interven-ções ocupam, ou a maneira que buscam se relacionar com seu entorno.

O Projeto #SPSArteColaborativa esta-belece-se a partir de uma relação muito

estreita com as referências que os colabo-radores trazem, pois todos fazem parte de um mesmo contexto, nasceram e viveram na mesma cidade que é o ponto de partida da pesquisa e do projeto. Mesmo que re-lacionando diferentes tempos, hibridizan-do épocas e tecnologias, percebemos que o fato dos colaboradores possuírem um mesmo contexto de criação, de crescimen-to durante os anos de vida, cria um vínculo que direciona o projeto de uma maneira singular, além disso, têm-se as mesmas carências sociais, culturais e necessidades de recriar o ambiente no qual se insere a proposta.

Os coletivos artísticos que criam estas interferências e intervenções no contexto das cidades, sejam elas pequenas ou não, possuem um papel muito relevante para o contexto no qual se inserem, pois além de criarem dispositivos para perceber-se o cotidiano de uma maneira única, reforçam a ideia de que a arte pode desvincular-se dos espaços expositivos e permear os dife-rentes espaços da cidade com o intuito de criar um diálogo tanto com a cidade quanto com seus próprios habitantes. Este fato de realocar projetos e ações artísticas, muito presente na contemporaneidade e no con-texto da arte, propicia um direcionamento

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à experiência cultural e artística cotidiana, não somente para a contemplação, mas também à ressignificação pessoal e coleti-va em relação à arte e o urbano.

HIBRIDAÇÕES COLETIVAS

Na oportunidade da mostra coletiva anu-al no Grupo de Pesquisa Arte e Design, em 2014, realizada na Sala Cláudio Carriconde (Centro de Artes e Letras, UFSM), em uma produção individual, expus imagens onde constavam códigos bidimensionais, QR co-des, que direcionavam o usuário interator aos registros fotográficos de uma das eta-pas da pesquisa também realizada através de intervenções urbanas na cidade de São Pedro do Sul, Rio Grande do Sul. A expe-riência de expor uma visualidade distinta do restante da mostra gerou certo interes-se, porém desconforto aos espectadores, pois os códigos se parecem muito uns com os outros e suas informações só serão co-nhecidas a partir da interação, no caso, os registros fotográficos dos espaços onde aconteceram as intervenções na cidade. Os códigos necessitam, inevitavelmente, que o usuário possua um aparelho compatível, smartphone, tablet ou similar, e que instale o aplicativo que faz a leitura do código a fim

de que tenha acesso ao conteúdo. No local exposto havia instruções a serem seguidas pelos usuários para que pudessem ser di-recionados ao ambiente virtual onde os registros fotográficos estavam disponíveis.

Figura 7. Registro fotográfico dos Códigos Bidimensionais que direcionam à intervenções em São Pedro do Sul, expostos na Mostra anual, Itinerários, do

Grupo de Pesquisa Arte e Design, 2014. Fonte: Fotografia da autora, 2014.

O caráter tecnológico que inclui usuá-rios e interage com os espectadores tam-bém possui um papel limitador, necessita que o interator tenha certo tempo, para poder realmente interagir com o trabalho, que possua ferramentas, no caso, apa-relhos compatíveis ao processo, para ter acesso ao que está sendo proposto como

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forma de interação e principalmente tenha interesse em desvendar o que os códigos bidimensionais têm a informar.

A tecnologia ainda é vista dando-se ên-fase a dificuldades de conservação, regis-tro, modos de exposição, valor de merca-do e obsolescência das mídias e suportes, como menciona Sandra Rey (2012), porém o processo de hibridação da arte e tecnolo-gia apresenta evoluções constantes, pode-mos perceber de maneira muito evidente que os artistas estão adentrando à tecno-logia sem receios e pré-julgamentos, pois torna-se cada vez mais claro que mesmo as artes primeiras como a pintura e o desenho podem ser recriadas a partir da tecnologia, sem que seja perdido seu potencial artísti-co. Não há nenhum intuito de que haja rup-turas; a tecnologia, como explica Sandra Rey (2012), busca apenas fornecer um su-porte e maiores possibilidades, assim a arte contemporânea passa a se aproximar ainda mais dos seus observadores a partir dos meios que a tecnologia dispõe. Mesmo que estes suportes ainda tenham certo distanciamento dos usuários interatores e espectadores, quando usados, prendem a atenção, revelando uma maneira diferente de se criar e se relacionar com a arte, prin-cipalmente do público jovem e infantil que

tem necessidade de relações tecnológicas em todos os âmbitos.

A gama de tecnologias utilizadas atu-almente como aliadas dos artistas e dos seus processos de criação torna-se cada vez maior, dispositivos e programas antes utilizados apenas em determinadas áreas permitem ao campo artístico novos meios de criar, a partir de seus resultados possibi-litam o início de novos trabalhos. Na maio-ria dos casos, as obras que se utilizam da tecnologia partem de imagens que existem ou não no mundo real, quando digitaliza-das, fotografadas ou codificadas a partir de algum tipo de varredura passam a existir em números, como é o caso do uso de ima-gens analógicas históricas que passam a fa-zer parte dos meios digitais através de sua numerização. Couchot (2003) explica que a partir do momento em que uma imagem é numerizada há a possibilidade de colocá-la em memória, duplicá-la, transmiti-la a par-tir de sua numerização através de qualquer meio, ela deixa de ter qualquer relação com a realidade, passando assim a fazer parte apenas do “mundo virtual”. A experiência realizada a partir da oficina ResgateStencil, que ao veicular fotografias antigas da cida-de em comparação com atuais, possibilitou inúmeras realocações em espaços, mídias,

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redes sociais e diversos modos de propaga-ção da imagem pelo fato de terem sido co-dificadas, favorecendo sua replicação sem perda de qualidade ou de originalidade.

Através da numerização as imagens po-dem sofrer os mais diferentes processos de modificação, o artista a partir de uma imagem base, passa a criar novas imagens, transformá-las, utilizando-se dos mais va-riados programas tecnológicos que permi-tem que estes processos híbridos possam acontecer. Estas imagens numerizadas per-mitem duplicação, mantendo-se idênticas sem que haja qualquer tipo de deteriora-ção e assim mesmo após os mais variados processos de modificação, permitem con-servarem-se originais.

[...] esses procedimentos utilizados pelos artistas da modernidade são dilatados, ampliados e qualificados com as novas tecnologias que permitem dar os mais variados tratamentos à imagem, como se esta fosse uma cenografia. Resultam, assim, imagens fictícias e/ou híbridas. (PLAZA; TAVARES, 1998, p. 196).

O processo de numerização, segundo Couchot (2003), permitiu à imagem a capa-cidade de interação tanto com quem a cria

quanto com quem a observa, e a arte pas-sou a explorar esta interatividade. A tecno-logia que numerizou as imagens deslocou o observador, que até então era vinculado ao status de receptor das obras, até o local de interator, ou seja, algumas obras de arte contemporânea que utilizam das tecnolo-gias passaram a estabelecer uma relação de interatividade com quem as observa. A atividade artística que antes necessitava apenas do artista para existir passou a sen-tir a necessidade de outros sujeitos, desta maneira a obra de arte interativa só acon-tece a partir do relacionamento e da troca com o outro.

Segundo Sandra Rey (2012), os proces-sos híbridos atuais que se baseiam na tec-nologia permitem não só construírem a imagem, mas também alterá-la conforme seus elementos a partir de dispositivos in-terativos. Podemos perceber que as obras de arte contemporânea expostas não es-tão acabadas, elas se constroem gradati-vamente a partir da interação com quem a observa, esta abertura acontece a partir da tecnologia e de suas capacidades de troca. A interação por meio dos códigos bidimen-sionais permite que seja feita uma relação entre o mundo real, em que o próprio códi-go e o sujeito habitam, com as informações

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presentes no ambiente virtual, que são do ambiente real, porém de uma maneira pró-pria virtual.

Estas relações entre os diferentes es-paços que habitamos, sejam eles reais ou virtuais, permitem que possamos nos revelar como seres híbridos, que transita-mos em ambientes diferentes no mesmo espaço temporal, sem que percamos nos-sos vínculos, reais ou virtuais. Passamos a deixar de lado as terminologias que sele-cionam e separam tempos e espaços, nos permitimos viver em um local híbrido, de conceitos e de terminologias, que buscam abarcar todas as experiências que vivemos cotidianamente.

Os processos de interatividade, que se tornam cada vez mais presentes no contex-to contemporâneo, dão abertura e liber-dade ao sujeito observador. Há uma rela-ção de aproximarela-ção e dependência entre ambos que Valente (2008) explica como uma hibridação interformativa, ou seja, é o processo híbrido que acontece a partir de obras produzidas em procedimentos colaborativos e cooperativos, nos quais os sujeitos interatores são tão importantes quanto o próprio artista, pois somente a partir deles e da sua capacidade e interes-se de interação é que a obra acontece, interes-sem

seu papel ela apenas existe, sem conseguir instaurar-se como tal. Este tipo de hibri-dação interformativa faz alusão também à ação de autoria colaborativa, pois o fato de diferentes pessoas colaborarem com o processo de criação e de construção do projeto são também atos híbridos, que re-lacionam diferentes referenciais e sujeitos. Desta maneira este processo de rela-ção e hibridarela-ção interformativa não acon-tece somente no âmbito tecnológico e de cunho interativo, mas também no contex-to artístico contemporâneo, no qual existe uma relação de troca entre as obras e os observadores e também entre os próprios observadores e colaboradores dos proje-tos, é necessário que aconteça uma expe-riência e uma fruição, um momento de ir e vir entre o sujeito, a obra e as experiências artísticas que acontecem a partir destas relações. Hibridizar identidades, compar-tilhar a autoria e construir de maneira co-letiva vem ao encontro do que Silva (2000) define como hibridismo quando menciona a combinação de identidades culturais que resultam em grupos renovados, estes se reforçam a partir das somas, construindo novos e amadurecidos projetos.

Sandra Rey (2012) relaciona os proces-sos híbridos contemporâneos ao que ela

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menciona como modus operandi, explica que esta definição é na verdade um cruzamento onde os artistas devem proceder de maneira aberta, sabendo lidar com os dados que a cultura contemporânea dispõe. Podemos entender que nestes dados estão incluídos tam-bém os sujeitos interatores, os tamtam-bém autores, porém desconhecidos que farão parte das obras a partir de sua relação com as mesmas. O artista, assim como sua obra, passa a ser um sujeito híbrido que, com base nas construções coletivas proporcionadas por ele aos observadores e espectadores, reconstrói-se, utilizando-se deste repertório criado e construído, hibridiza-o aos repertórios de vida que embasam suas obras e projetos, assim cria sempre algo novo que é construído a partir do que foi hibridizado ao passado.

Tomando por base esta hibridação a partir do coletivo podemos perceber que a arte, dependente da interação, possui resultados imprevisíveis em cada ambiente exposto, a cada público com que se relaciona criará sempre novas consequências, tanto à própria obra quanto ao artista e aos observadores. A interatividade promove uma capacidade de renovação constante tendo em vista que não causarão as mesmas reflexões, não serão vistas pelas mesmas pessoas, não possuem um manual de como interpretá-la, mas sim possuem lacunas que dão liberdade para serem preenchidas.

Criar a partir da tecnologia, aliada à autoria compartilhada, revela a força que os pro-cessos híbridos possuem dentro do contexto artístico contemporâneo e pós-moderno, percebemos que os antigos ideais de pureza foram consumidos pelas alianças criadas pe-los desiguais. Na arte, hibridizar e colaborar passou a significar mais somas e trocas do que rupturas ou desqualificação, permitindo que haja influências e que os saberes sejam coletivos, não mais somente individualizados, assim adquirimos e dividimos conhecimen-to científico, tecnológico e habilidades interdisciplinares que irão construir em cada sujeiconhecimen-to subjetividades individuais que só são permitidas aos que possuem a oportunidade deste tipo de vivência.

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Referências

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FOMOS PARA CROATÃ!

A INSURGÊNCIA DE UM

TERRORISMO POÉTICO NO

CAMPUS UNIVERSITÁRIO

DA UNESP-BAURU

Richard Augusto Silva

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José S. Laranjeira

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Dorival Campos Rossi

5 3. Graduado, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, richardaugusto.ra89@ gmail.com 4. Professor Doutor, Departamento de Artes e Representação Gráfica - FAAC – UNESP, joselaranjeira@uol. com.br

5. Professor Doutor, Departamento de Design - FAAC – UNESP, bauruhaus@yahoo.

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Resumo

Influenciada pelo movimento de contra-cultura Provos (1965), discute-se sobre um processo artístico em que a cidade apre-senta-se como plataforma e o virtual como as camadas de interface, mediando ações artísticas e território coletivo no contexto contemporâneo, através da narrativa poéti-ca - Ilhas de Croatã. Apresenta-se uma breve análise sobre duas de suas ações artísticas: TRANSITOSitus (Situações Transitórias), im-plantação experimental de uma bicicleta branca como transporte coletivo, público e livre, inserida no campus universitário da Unesp-Bauru; e na ação TRANSITOSensorium (Transitos Sensoriais), reterritorializando uma cidade imaginária a partir de QRcodes, espalhados pela cidade de Bauru, onde o usuário encontra um hibridismo entre as lin-guagens visuais, sonoras e escritas. A pesqui-sa relaciona a ideia de território por meio de uma relação entre espaço e poder, elencan-do as concepções de Psicogeografia – estuelencan-do de ações afetivas no espaço coletivo e Zonas Autônomas Temporárias. Trata-se de um es-tudo experimental, com a inserção de novas tecnologias.

Palavras-chave: Território, ações,

apro-priação, desterritorialização e arte.

Abstract

Influenced by the counterculture moviment Provo (1965), it discuss an artistic process in which the city presents itself as a platform and the virtual as the layers interface, mediating artistic actions and collective territory in the contemporary context, through the poetic narrative - Croatan Islands. Presenting a brief analysis of its two artistic actions: TRANSITOSitus (Transits Situations), the experimental deployment of a white bicycle as collective, public and free transport, inserted in the campus of Unesp-Bauru. And TRANSITOSensorium action (Transits Sensory), reterritorializing an imaginary city from QRcodes throughout the city of Bauru, where the user finds a hybridity between visual, sound and written language. The survey relates to the idea of territory through a relationship between space and power, listing the concepts of psychogeography - the study of affective actions in collective space and Temporary Autonomous Zones. This is an experimental study, with the inclusion of new technologies.

Keywords: Territory, actions,

appro-priation, deterritorialization and art.

Richard Augusto Silva

,

José S. Laranjeira

e

Dorival

Campos Rossi

(41)

FO MO S P AR A C RO AT Ã! A I NS UR GÊ NC IA D E U M T ER RO RI SM O P OÉ TI CO N O C AM PU S U NI VE RS IT ÁR IO D A U NE SP -B AU RU Ric ha rd A ug us to S ilv a, J os é S. L ara nje ira e D or iva l C am po s R os si

Introdução

No final da década de 1960, a articula-ção entre movimentos sociais, mobiliza-ções estudantis e o surgimento e influência da contracultura, resultaram em propa-gações nas relações de práticas artísticas com práticas políticas. Sucedeu, então, a formação de grupos, coletivos e movimen-tos caracterizados por um ativismo político e artístico, os quais levantavam questiona-mentos e propostas quanto ao território coletivo, referente ao espaço público, há-bitos culturais e ações artísticas no meio urbano.

Influenciada pelas concepções dos gru-pos Provos (1965) e Situacionismo (1957), os quais surgiram no contexto do parágrafo citado acima, a pesquisa propõe por meio de uma narrativa poética, denominada “Ilhas de Croatã”, externar a ideia de terri-tório, numa relação entre espaço e poder. Discute-se, então, o processo artístico em que a cidade apresenta-se como platafor-ma, e o virtual como camadas de interface mediando ações artísticas e território cole-tivo no contexto contemporâneo.

As ações interventivas das Ilhas de Croatã relacionam de forma poética a arte e o espaço público, manifestados numa

Zona Autônoma Temporária. A proposta faz alusão ao mito de Croatã, o qual cons-trói-se como interfaces de extensões ter-ritoriais (ilhas), conectadas com Croatã, cidade imaginária.

As ilhas são projetadas como zonas de espaço-tempo de caráter artístico em ruas, esquinas, praças públicas, territórios de aglomerações nas cidades, conectados por meio de códigos de barra com narra-tivas hospedadas na plataforma virtual do projeto, dentro Campus Universitário da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, na cidade de Bauru, me-diante o uso de uma bicicleta branca, livre e pública.

Busca-se compreender as atividades sociais na contemporaneidade, associa-das com ações artísticas no campo social, entendendo o envolvimento entre arte, público e território, suas concatenações e multiplicidades, apresentando um modo de conhecimento do sujeito atual, o qual concebe novas formas de se apropriar do território.

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