POR eduardo viotti
sicília
a ilha do vinho
de fascinante
gastronomia e
panoramas mágicos,
a sicília também
conquista pelo
aroma de seus
vinhos
Novos vinhedos
da Regaleali,
Tasca d’Almerita
V
isitar a Sicília é um daqueles programas imperdíveis, raros. Muito ao contrário da fama de violência que o cinema construiu, a ilha do sul da Itália, a Magna Grécia dos gregos e romanos é um lugar para-disíaco. Nós brasileiros encontramos ali uma especial identificação: com um pouco mais de ordem e progresso, o Brasil poderia parecer-se com a Sicília.A cada ano, a Assovini, associação dos produtores de vinho da ilha, rea-liza um evento chamado Sicilia en
Pri-meur, em que as safras dos vinhos que
estão prester a ingressar no mercado são oferecidas à avaliação de jornalis-tas internacionais. Este ano o evento transcorreu na panorâmica Taormina, em um hotel de sonho. Não há como não levar uma boa imagem dos vinhos ali apresentados. As degustações trans-correm de duas maneiras: em uma sala com serviço de sommelier, onde se pode provar os vinhos às cegas ou com a exposição dos rótulos; e também no salão principal aberto, em que cada produtor –ou o enólogo responsável pela produção– envolvido com a mani-festação expõe, atende e explica cada um de seus produtos. Nesta edição, a 12ª, havia cerca de 72 associados da Assovini no evento.
Feudo Principi di Butera, do grupo Zonin, em Caltanisseta, centro da Sicília
Reservatório de água,
antigo bebedouro
de animais na Feudo
Principi di Butera
Na gastronomia siciliana, simplicidade no preparo e ingredientes fabulosos
Oliveira centenária e vinhedos de terra branca na região de Agrigento
Salada de laranjas vermelhas e amarelas: sabor delicioso e muito frescor
Domenico e Carmelo Bonetta, irmãos e sócios na Baglio del Cristo di Campobello
Cristo di Campobello: devoção popular
Vinhedos
em encostas
vistos da Tasca
d’Almerita
Nos dias que antecedem o evento propriamente dito, os jornalistas de todo o mundo (este ano o editor de
Vinho Magazine, Eduardo Viotti, foi
o convidado brasileiro) percorrem a ilha em suas diversas (e tão diferentes entre si) regiões, formando um cenário abrangente da vitivinicultura local.
Este ano, atendendo ao aumento da demanda e também a uma pressão da moda em curso, a produção de vinhos biológicos representou um importante foco de interesse. Cerca de 61% dos 72 membros da Assovini têm certifica-ção como produtores que respeitam o meio-ambiente e 39% deles produzem vinhos com uvas biologicamente cer-tificadas. Impressionantes 82% desses produtores associados atuam no con-trole de pragas pelas regras da agricul-tura integrada.
GASTRONOmiA exemPlAR
A gastronomia siciliana é outro tema que acaba por ser paralelamente explorado pelos convidados no evento, mesmo que esse nãos eja o foco prin-cipal. Para mim, é uma das mais fas-cinantes do mundo. Veja, ali não há a sofisticação dos preparos ou as técni-cas refinadas de elaboração ou apre-sentação dos pratos, mas a riqueza e
marco Asmundo, enólogo, administra a Barone di Villagrande com a esposa
Bacelos de clones selecionados de Nero d’Avola, uma ótima novidade na Sicilia
Vulcão etna, ativo e fumegante, visto das ruínas do teatro romano de Taormina
Conde Alberto Tasca nos vinhedos
Pátio da Tasca
d’Almerita, onde
há escola de
culinária típica
frescor dos ingredientes, valorizados ao extremos em sua integridade, são um valor insuperável. Não tenho visto outra culinária que tanto se valha de legumes, vegetais e frutas, além, é claro, de fresquíssimos frutos do mar (não esqueça que estamos em uma ilha), mais que qualquer outra.
Nossa visita começou pela Feudo Principi di Butera, vinícola pertencente desde 1997 ao grupo Gianni Zonin, um dos gigantes do vinho italiano. Ela fica em Caltanisseta, mais ou menos no centro da ilha, e o enólogo Claudio Galosi nos recebeu com uma demons-tração de seus excelentes tintos e bran-cos. Ele tem uma definição sábia para os vinhos sicilianos. Para ele, são como o homem da terra. Se o abordar com rudeza e afrontá-lo, espere amargor. Se respeitar as suas desconfianças e tiver calma, será seu amigo mais fiel.
Depos fomos até a Baglio del Cristo di Campobello, onde os irmãos Car-melo (o líder, mais expansivo e auto-ritário, comemorava o aniversário da esposa conosco) e Domenico nos rece-beram para um perfeito almoço com pratos típicos feitos ali na hora. A viní-cola tem o apoio técnico do enólogo Riccardo Cottarella e excelente vinhos. Foi maravilhoso.
A simpática e hospitaleira família Tornatore: o maior vinhedo da DOC etna
Vinhedo em anfiteatro da Barone di Villagrande, na encosta leste do etna
mó, ou antiga pedra de moer azeitonas para a fabricação de azeite no frantoio
Alberto Aiello Graci, vinhos do etna
Torchio antigo
na vinícola Graci:
prensa ancestral
para vinho
Pernoitamos na Tenuta Regale-ali, uma propriedade chique da Tasca d’Almerita e para manter a aura nobre, o próprio conte Alberto Tasca nos recebeu em jantar com pompa e cir-cunstância. Vinhos excepcionais.
A Masseria del Feudo foi o próxmo destino. Francesco Cucurullo, o pro-prietário, nos recebeu com o entu-siasmo de sempre. A fazenda também produz azeite, frutas e grãos. E grandes vinhos, em um almoço sensacional.
A visita se estendeu ainda por mais quatro vinícolas, ao redor do Etna, todas de elevado padrão de quali-dade nos produtos e nas instalações. Na Tornatore, detentora do maior vinhedo da DOC Etna, a comida feita pela dona da casa estava tão boa quanto os vinhos, fermentados em toneis ovais de cimento, a última moda entre os orgânicos. Na Barone de Villagrande, a simpatia de Marco Asmundo e esposa brilhou em um jantar de alta gastrono-mia feito por uma chef local. A viní-cola oferece serviços de hospedagem também. E espumantes deliciosos. O passeio terminou com a visita a Graci, situada em Passopisciaro, vertente norte do Etna, no vale do Alcantara. Grandes vinhos, hospitalidade memo-rável, viva a Sicília!