1.0 - INTRODUÇÃO
Os prefixos “macro” e “micro” normalmente são usados não só para denotar coisas grandes e pequenas, respectivamente, mas também, a forma global ou particular como olhamos para elas. Assim sendo, a Macroeconomia lidaria, por exemplo, com aspectos globais de uma Economia, como o nível de investimento, o produto nacional bruto etc, ao passo que a Microeconomia seria afeita a unidades de natureza particular, qual seja, por exemplo, o desempenho financeiro de uma loja. Claro está que o Ministro da Economia vê o combate à inflação, à luz de todos os parâmetros que a influenciam, de modo bem diferente que o dono da loja, que apenas sente os seus efeitos negativos sobre seus lucros.
Ao examinarmos a Bíblia e, especificamente, qualquer dos muitos assuntos que ela aborda, podemos fazê-lo com uma visão macro de todo o livro, ou seja, inter-relacionando os ensinos do mesmo, ou limitando-nos aos versículos relativos ao assunto em apreço. Obviamente a pessoa que examina um tema à luz da macrovisão que tem de todo o livro, há de interpretar as diretrizes bíblicas de forma muito mais fiel que outra que se limita a um texto particular, ou mesmo ao seu contexto próximo.
Ao longo deste texto estaremos abordando assuntos ligados à interpretação do livro de Apocalipse. Ao fazê-lo, contudo, não queremos proceder apenas da forma como o faz a maioria dos autores, tentando desvendar, versículo a versículo, os segredos nele escondidos. A primeira vez que escrevi sobre o Apocalipse fiz isso e fiquei frustrado ao final, por descobrir que, mesmo como autor, acrescentara muito pouco àquilo que já sabia.
Em função disso e à luz do que foi dito acima, talvez você esteja se perguntando como é que podemos fazer para ter uma visão macro do livro de Apocalipse. Ocorre, contudo, que essa é a pergunta errada. Esse livro deve ser estudado à luz de uma visão macro de toda a Bíblia, ou seja, trata-se da consumação de um plano divino, que nos é apresentado ao longo de toda ela. Como podemos querer entender a consumação se a dissociamos do todo? Precisamos não perder de vista que a Bíblia se auto-interpreta, ou seja, versículos não muito claros devem ser interpretados à luz de outros do mesmo Texto Sagrado.
Ao longo dos últimos anos tenho dedicado meu tempo, cada vez mais, ao estudo de Escatologia e passei a encará-lo como um quebra-cabeças do tipo chamado “puzzle” (um neologismo cujo sentido literal como substantivo seria “confusão”). Esse tipo de quebra-cabeça tem uma forma bem característica de ser montado. Separa-se e monta-se, inicialmente, todas as peças que têm uma borda reta. Estas se constituem na moldura ou no contorno do “puzzle”. No nosso caso específico, essas peças correspondem às profecias claras e bem definidas, com as quais estaremos trabalhando. Estão incluídas, nesta categoria, no Velho Testamento, algumas profecias de Daniel, de Isaías, de Ezequiel e de outros profetas e, no Novo Testamento, o sermão profético pronunciado por Jesus, bem
como alguns textos de Paulo e de Pedro e ainda o próprio texto de Apocalipse, é claro (ver figura 1a).
Figura 1a - Contorno típico de um “puzzle”
Na seqüência de montagem procura-se, as peças que indiquem transições bem definidas, como, por exemplo, a separação entre o céu e os tons mais escuros de árvores e montanhas ou mesmo entre montanhas e mar. Essas separações corresponderiam, ainda, a profecias, mas não tão claras como as citadas anteriormente (ver figura 1b).
Figura 1b - Adicionando interfaces bem definidas
Finalmente, as últimas peças do “puzzle” são montadas por “tentativa e erro”. De igual modo algumas profecias são tão confusas que só mesmo “tateando” para ver onde se encaixam numa seqüência global (ver figura 1c).
Figura 1c - Completando o “puzzle”
Claro que não desvendaremos todos os segredos, mas certamente teremos uma visão bem clara, que permitirá distinguir entre as alegorias do texto e as muitas interpretações fantasiosas que se tem criado em relação ao mesmo. Que Deus, para tanto, nos abençoe e dirija!
A título de informação adicional, é importante ressaltar a singularidade da Bíblia no tocante a profecias. Cerca de 30% da Bíblia é dedicado a profecias diversas (/13/, pág. 21), que lidam, basicamente, com o povo de Israel e com o seu Messias. Isso estabelece um contraste marcante com os escritos de outras religiões como o Corão, por exemplo, onde a profecia inexiste. Além disso, o fato da maioria dessas profecias já terem sido cumpridas à risca, confere à Bíblia uma credibilidade que nenhum outro livro pode ter. É no mínimo curioso, portanto, que a crítica muçulmana da falta de credibilidade da Bíblia possa ser rebatida de forma tão cabal e enfática pela própria Bíblia.
Apenas a título de exemplo, a Bíblia contém cerca de 300 profecias no Velho Testamento identificando o Messias de Israel (/13/, pág. 22). Todas foram
cumpridas literalmente. Estabelecendo, conservadoramente, uma probabilidade de 50% para o cumprimento de cada uma, a probabilidade matemática de Jesus ser o Messias, por ter cumprido as 300, seria de aproximadamente 100%.
Probabilidade de Jesus ser o Messias = 100 (1-0.5^300) = 99.9999999999999...). Raciocinando ao longo desta mesma linha, o fato de terem sido cumpridas, fielmente, todas as profecias passadas relativas a diversos outros assuntos bíblicos, faz com que queiramos conhecer com afinco todas as futuras, pois o Deus que estabeleceu e cumpriu todas as anteriores é o mesmo que estabeleceu e cumprirá todas as futuras.