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INFORMAÇÃO TÉCNICO-JURÍDICA

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INFORMAÇÃO TÉCNICO-JURÍDICA

1. Provocado pela Procuradoria de Recursos, que apontou recentes

decisões do Egrégio Tribunal Gaúcho inadmitindo Recursos Especiais manejados por

este Órgão Ministerial contra acórdãos que, negando vigência ao artigo 44 da Lei

11.343/06, concedem liberdade provisória aos acusados pela prática do delito de

tráfico de drogas, o Centro de Apoio Operacional Criminal sugere aos membros do

Ministério Público especial atenção aos casos de homologação dos Autos de Prisão em

Flagrante na espécie delitiva em comento.

O pleito se justifica na medida em que a não observância técnica do

acautelamento do acusado tem inviabilizado o acesso às instâncias superiores, pois se

decretada a prisão preventiva, quando homologado o auto de prisão em flagrante, não

há mais falar em

liberdade provisória

(que encontra vedação expressa no art. 44,

caput

, da Lei 11.343/2006), mas sim

revogação da segregação

, a teor do que

dispõe o art. 316 do CPP.

Eis, aqui, o cerne do problema.

(2)

A liberdade do acusado detido em flagrante delito pode advir de três

hipóteses:

(i)

Auto de Prisão em Flagrante ilegal/imperfeito: durante a lavratura

do APF não foram observadas as formalidade legais, tanto

atinentes à documentação, quanto aos direitos

constitucionalmente garantidos, como, por exemplo, a presença

de defensor. Neste caso, deixa-se de homologar o APF e ocorre o

relaxamento da prisão

1

;

(ii)

Auto de Prisão em Flagrante ilegal/imperfeito, mas presentes os

pressupostos da prisão preventiva: embora não observadas as

exigências, vislumbra-se a necessidade de acautelamento do

acusado, motivo pelo qual o APF não é o homologado, mas o juiz

decreta a prisão preventiva. Cessados, durante ou ao final da

instrução, os motivos pelos quais preso processualmente o réu,

fala-se em

revogação da prisão preventiva

2

; e,

(iii)

Auto de Prisão em Flagrante legal: observaram-se os ditames

formais e materiais, no entanto, o Magistrado, entendendo não

estarem presentes os requisitos que autorizam a prisão cautelar,

concede

liberdade provisória

ao acusado, com ou sem fiança.

1

CF. art. 5º, LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária.

2 CPP. art. 316 - O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no correr do processo, verificar

a falta de motivo para que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.

(3)

Como é sabido, a prisão em flagrante, por si só, encarcera o acusado e,

se presentes os requisitos formais, mantém sua segregação. Trata-se de exceção

constitucional à exigência de ordem judicial escrita e fundamentada

3

.

Neste particular, a lição de Denilson Feitoza:

Temos a situação de flagrante delito, a prisão em flagrante enquanto ato de prender no momento do flagrante, as formalidade para manutenção da prisão (documentação da prisão e efetivação dos direitos constitucionais do preso em flagrante) e a manutenção da prisão em flagrante (também denominada prisão em flagrante).

A lei não criou expressões diferentes para o ato de prender no momento do flagrante e a manutenção da prisão em flagrante. Tudo isso é tratado como um único fato contínuo, que é denominado prisão em flagrante. Meses depois do fato flagrante

delito, quando já não há mais a situação de flagrante delito,

ainda poderemos dizer que a pessoas está presa em flagrante, se a prisão não foi relaxada, nem houve ainda sentença penal condenatória.

(...)

O auto de prisão em flagrante devidamente lavrado, juntamente com os demais documentos (nota de culpa, comunicação da prisão ao juiz etc.), passa a ser o título que legitima a prisão4.

Uma vez homologado o respectivo auto de prisão em flagrante, a soltura

do flagrado será regulada pelas regras do instituto da liberdade provisória

5

.

Sobre o tema, dispõe o diploma processual que o juiz, ao verificar pelo

auto de prisão em flagrante que o agente praticou o fato, nas condições do art. 19, I,

II e III, do Código Penal,

poderá

, depois de ouvir o Ministério Público, conceder ao

3

LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e

fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei.

(4)

réu

liberdade provisória

, mediante termo de comparecimento a todos os atos do

processo, sob pena de revogação (art. 310,

caput

, do Código de Processo Penal).

Continua, na mesma esteira, estatuindo que igual procedimento (o do

cabeço do artigo, obviamente, que no caso será conceder liberdade provisória) será

adotado quando o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, a inocorrência de

qualquer das hipóteses que autorizam a prisão preventiva (arts. 311 e 312).

Ou seja, é a decisão de concessão ou indeferimento da liberdade

provisória - instituto vinculado à prisão em flagrante - que fica condicionada à

verificação da necessidade ou não da manutenção da prisão (cuja aferição se dará

pelo risco à ordem pública, à ordem econômica, pela conveniência da instrução

criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal que a liberdade do flagrado possa

representar), a teor do que dispõe o art. 310, parágrafo único, do Código de Processo

Penal.

Dito de outro modo, as hipóteses de prisão preventiva, no caso,

funcionam como parâmetro para avaliação do cabimento da liberdade provisória, que

será deferida ou não, em atenção ao art. 5º, LXVI, da CF, jamais para conversão

de eventual prisão em flagrante em preventiva.

Logo, caso observados os requisitos formais e constitucionais do Auto de

Prisão em Flagrante, legal será a prisão, ficando apenas a manutenção vinculada à

presença dos requisitos da prisão preventiva, que serão os parâmetros para concessão

ou não da liberdade provisória.

5

CF. art. 5º, LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança;

(5)

O que tem ocorrido na prática é que magistrados, ao invés de manter o

acusado preso por força do APF, decretam a prisão preventiva, porque presentes os

requisitos do art. 312 do Código de Processo Penal.

A prática é corriqueira e fomenta dissídio na doutrina e jurisprudência no

que diz respeito à natureza e autonomia da prisão em flagrante. Norberto Avena,

entretanto, parece adotar posicionamento mais compatível com o instituto, vejamos:

A nosso ver, deve-se buscar um ponto de equilíbrio na solução dessa controvérsia. Em síntese, nem aderimos ao radicalismo da posição que exige a decretação da preventiva como condição para que o flagrado possa permanecer encarcerado, nem tampouco compreendemos que seja aceitável a subsistência da prisão em flagrante a partir da simples homologação do respectivo auto, seguida de absoluto silêncio do magistrado quanto à concessão ou não de liberdade provisória ao flagrado.

Cremos, enfim, que ao receber e homologar o auto de prisão em flagrante, obrigatoriamente deverá o magistrado criminal, após vista ao Ministério Público, manifestar-se sobre a possibilidade ou não de concessão de liberdade provisória com lastro no art. 310, caput e parágrafo único, do CPP. Entendendo inocorrentes tais situações, caber-lhe-á, fundamentadamente, indeferir a liberação do flagrado, não sendo necessária, porém, a decretação formal da sua prisão preventiva6(grifo nosso).

No mesmo diapasão é o entendimento do Tribunal de Justiça do Rio

Grande do Sul:

HABEAS CORPUS. PRISÃO EM FLAGRANTE. POSTERIOR DECRETO DE PRISÃO PREVENTIVA. Paciente preso em razão de flagrante regular, do qual resultou fundada suspeita contra ele, com posterior decreto de prisão preventiva, o qual, embora desnecessário, está bem fundamentado, presentes os requisitos legais. Inexistência de constrangimento ilegal. Ordem denegada. (Habeas Corpus Nº 70036566768, Quarta Câmara

6

(6)

Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Constantino Lisbôa de Azevedo, Julgado em 17/06/2010)

HABEAS CORPUS - O paciente foi preso em flagrante, juntamente com a co-ré Rosane, sendo o respectivo auto homologado. Deve ser ressaltado que o "flagrante prende

por si só", como inúmeras vezes já deixou assentado esta Corte. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça. Não podemos olvidar, ainda, que este entendimento encontra amparo em julgado do Superior Tribunal de Justiça.

- Assim, lavrado o flagrante e sendo este homologado, como foi, não se pode falar em arbitrariedade da prisão. Não havia necessidade de decreto de prisão preventiva "strito sensu" para manter a segregação. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça.

- Por outro lado, inviável era a concessão de liberdade provisória. A questão se encontra pacificada na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e do Pretório Excelso. Não destoa a jurisprudência desta Corte.

- Na espécie, foi apreendida expressiva quantidade cocaína (aproximadamente 92 gramas). Com efeito, pequenas doses são suficientes para intoxicação por cocaína ou crack. Magistério de Marcos Passagli (Farmacêutico-Bioquímico. Especialista em Análise Clínicas e Toxicológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais. Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais. Pós Graduado em Estudos de Criminalidade e Segurança Pública pelo crisp/ufmg. Perito Criminal aposentado, ex-chefe da Divisão de Laboratório do Instituto de Criminalística de Minas Gerais, ex-Coordenador dos cursos de Criminalística da acadepol/mg. Professor da ACADEPOL/MG e da APM/MG ). - Não há dúvida, assim, que o fato imputado ao paciente põe em risco a ordem pública. Daí porque deixou assentado o Superior Tribunal de Justiça: "... ações delituosas como as praticadas na espécie (tráfico e associação para o tráfico), causam enormes prejuízos não só materiais, mas também institucionais, gerando instabilidade no meio social. E, nesse contexto, a paz pública ficaria, sim, ameaçada, caso não fossem tomadas as providências cautelares necessárias para estancar a atuação dos traficantes." (sublinhamos - passagem da ementa do HC 39675/RJ, Quinta Turma, Relatora: Ministra Laurita Vaz, j. em 22/02/2005).

- Por fim, a argumentação de que a manutenção da prisão cautelar fere o princípio constitucional da presunção de inocência não se sustenta, pois o Pretório Excelso declarou que: "Já se firmou a jurisprudência desta Corte no sentido de que a

(7)

prisão cautelar não viola o princípio constitucional da presunção de inocência, conclusão essa que decorre da conjugação dos incisos LVII, LXI e LXVI, do artigo 5. da Constituição Federal." (HC 71169/SP, Relator Ministro Moreira Alves, j. em 26/04/1994, 1ª Turma). ORDEM DENEGADA. (Habeas Corpus Nº 70035196195, Segunda Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marco Aurélio de Oliveira Canosa, Julgado em 29/04/2010)

HABEAS CORPUS. RECEPTAÇÃO DOLOSA.. 1. PRISÃO EM FLAGRANTE. MANUTENÇÃO. DESNECESSIDADE DA DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA. O magistrado, ao

receber o auto de prisão em flagrante, examina seus requisitos formais, não fazendo, nessa oportunidade, salvo alguma situação bem peculiar, qualquer exame sobre a liberdade provisória. A análise dessa matéria, nos termos do art. 310 do CPP, deve realizar-se depois de ouvido o Ministério Público ou em caso de pedido de liberdade provisória. Caso presente qualquer um dos requisitos do art. 312 do CPP, a manutenção da segregação está em consonância com as garantias constitucionais, desnecessitando a prolação de decreto de prisão preventiva. Decisão mantenedora da segregação. A decisão que manteve a prisão do acusado, após

homologação do auto de prisão em flagrante, está suficientemente fundamentada, dando-lhe a exata noção pela qual foi recolhido ao cárcere. Lastreada em requisito constante do art. 312 do CPP, a garantia da ordem pública, francamente ameaçada pela reiteração delitiva ¿ gozava do benefício da suspensão condicional do processo, recebido dias antes, por idêntico agir (receptação dolosa), quando tornou a conduzir veículo de origem espúria, portando documentos falsificados. Importante destacar a corrente criminosa em torno de roubo de veículos, da qual a receptação e transporte para outros locais é importante elo. Conquanto a gravidade do tipo in abstrato não seja suficiente à constrição, na esteira do que vem decidindo o E. STF e o STJ, ambas as Cortes admitem, todavia, que as circunstâncias concretas do crime, desde que evidenciem a periculosidade elevada do agente, são bastantes a demonstrar que a liberdade pode representar risco à ordem pública. Periculum libertatis evidenciado. A garantia da ordem pública - pressuposto elencado no art. 312 do CPP é válida e suficiente para a manutenção da prisão. 2. PENA A SER IMPOSTA, REGIME PRISIONAL E CONCESSÃO DE BENEFÍCIOS. A projeção de eventuais sanções e concessões de benefícios não se erigem obstáculo às prisões processuais, além de ser mero exercício

(8)

imaginativo, pois, ao Magistrado, examinando o caso concreto, compete à fixação das penas. Constrangimento ilegal não caracterizado. Constrangimento ilegal inocorrente. ORDEM DENEGADA. (Habeas Corpus Nº 70032107567, Oitava Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Fabianne Breton Baisch, Julgado em 30/09/2009)

Vale lembrar, outrossim, o que se faz a título de argumentação, o

instituto da fiança, hipótese de liberdade provisória aplicável no caso de prisão em

flagrante. Como explica Norberto Avena

7

, não haveria sentido conceber a possibilidade

de prestação enquanto não transitar em julgado a sentença condenatória, se a prisão

do flagrado ficasse adstrita à decretação da preventiva. Entendimento diverso, como

adverte o autor, importaria na imprestabilidade do art. 334 do Código de Processo

Penal

8

, pois ficaria a fiança utilizável somente até a homologação do expediente.

Em outras palavras, caso a homologação do Auto de Prisão em

Flagrante não mantivesse o acusado preso, mas sim em decorrência da prisão

preventiva, hipótese que não há possibilidade de fiança, nem mesmo haveria

necessidade da previsão legal, pois, visto desta forma, aportados os autos ao

magistrado, mesmo que homologada a prisão, ou seria decretada a preventiva ou

determinada a expedição de alvará de soltura, sem imposição de tal prestação, diante

da incongruência teleológica apresentada.

Em se tratando de tráfico de drogas, especialmente, a questão

reveste-se de maior importância. Isto porque a Lei 11.343/06, de repressão à produção e

tráfico ilícito de drogas, refuta o beneplácito da liberdade provisória, de forma que, em

7Op cit. p. 799. 8

A fiança poderá ser prestada em qualquer termo do processo, enquanto não transitar em julgado a sentença condenatória.

(9)

que pese não presentes os requisitos da prisão preventiva, impossibilitado estará o

magistrado de conceder a liberdade provisória.

Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos.

Situação distinta, reforça-se, ocorre quando não observados os

requisitos formais do Auto de Prisão em Flagrante, caso em que deverá o juiz, para

manter a prisão cautelar do acusado, deixar de homologá-lo e decretar a prisão

preventiva, com base nos art. 311 e 312 do CPP.

E, como exposto alhures, uma vez convertida a prisão em flagrante em

prisão preventiva, a liberdade dar-se-á pela revogação daquela, instituto não

obstaculizado pela Lei de Drogas.

Impende referir que a 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça já

firmou entendimento quanto à impossibilidade de concessão de liberdade provisória

em delitos tais,

in verbis

:

HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS, ASSOCIAÇÃO PARA O NARCOTRÁFICO, RECEPTAÇÃO E POSSE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO. FLAGRANTE. LIBERDADE PROVISÓRIA. INDEFERIMENTO. MANUTENÇÃO PELO TRIBUNAL IMPETRADO. GRANDE QUANTIDADE DE DROGAS APREENDIDAS. NATUREZA ALTAMENTE DANOSA DE UMA DELAS. POTENCIALIDADE LESIVA DA INFRAÇÃO. GRAVIDADE CONCRETA. NECESSIDADE DE ACAUTELAMENTO DA ORDEM PÚBLICA. VEDAÇÃO LEGAL À CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA E CONSTITUCIONAL. COAÇÃO ILEGAL NÃO DEMONSTRADA.

1. Evidenciada a gravidade concreta dos crimes em tese cometidos, diante da grande quantidade de entorpecentes apreendidos e a natureza altamente danosa de uma delas,

(10)

mostra-se necessária a continuidade da segregação cautelar, para o bem da ordem pública.

2. Não caracteriza constrangimento ilegal a manutenção da negativa de concessão de liberdade provisória ao flagrado no cometimento em tese do delito de tráfico de entorpecentes praticado na vigência da Lei n.º 11.343/06, notadamente em

se considerando o disposto no art. 44 da citada lei especial, que expressamente proíbe a soltura clausulada nesse caso, mesmo após a edição e entrada em vigor da Lei n.º 11.464/2007, por encontrar amparo no art. 5º, XLIII, da Constituição Federal, que prevê a inafiançabilidade de tais infrações. Precedentes da Quinta Turma e do Supremo Tribunal Federal.

3. Ordem denegada.

(HC 147019/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 23/03/2010, DJe 12/04/2010)

HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO. NARCOTRAFICÂNCIA. ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. PRISÃO EM FLAGRANTE EM 03.08.2009. INOCORRÊNCIA DE NULIDADE DO AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE. CRIME PERMANENTE. ALEGAÇÃO DE INOCÊNCIA. IMPROPRIEDADE DO MANDAMUS. LIBERDADE PROVISÓRIA. VEDAÇÃO LEGAL. PRECEDENTES. PARECER DO MPF PELA DENEGAÇÃO DO WRIT. ORDEM DENEGADA.

1. Não merece reparos o auto de prisão em flagrante realizado de forma escorreita, dentro do que preceitua o Código de Ritos Penal. A assertiva de que o paciente não sabia que a droga estava escondida no carro apreendido com cocaína deve ser comprovada durante a instrução criminal, existindo fortes indícios de que participava da empreitada criminosa.

2. A vedação de concessão de liberdade provisória, na

hipótese de acusados da prática de tráfico ilícito de entorpecentes, encontra amparo no art. 44 da Lei 11.343/06 (nova Lei de Tóxicos), que é norma especial em relação ao parágrafo único do art. 310 do CPP e à Lei de Crimes Hediondos, com a nova redação dada pela Lei 11.464/2007.

3. Parecer do MPF pela denegação da ordem. 4. Ordem denegada.

(HC 152467/AC, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 02/03/2010, DJe 26/04/2010)

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HABEAS CORPUS. CRIME DE TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. LIBERDADE PROVISÓRIA. APELO EM LIBERDADE. VEDAÇÃO EXPRESSA CONTIDA NA LEI N.º 11.343/2006. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA E SUFICIENTE PARA JUSTIFICAR O INDEFERIMENTO DO PLEITO. PRECEDENTES DESTA CORTE E DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. EXCESSO DE PRAZO. SENTENÇA CONDENATÓRIA PROFERIDA.

QUESTÃO SUPERADA.

1. Na linha do entendimento desta Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, a vedação expressa do benefício da

liberdade provisória aos crimes de tráfico ilícito de entorpecentes, disciplinada no art. 44 da Lei n.º 11.343/06 é, por si só, motivo suficiente para impedir a concessão da benesse ao réu preso em flagrante por crime hediondo ou equiparado, nos termos do disposto no art. 5.º, inciso LXVI, da Constituição Federal, que impõe a inafiançabilidade das referidas infrações penais.

2. Não se reconhece a possibilidade de apelar em liberdade a réu que não pode ser beneficiado com o direito à liberdade provisória, em razão do entendimento "de que não há lógica em permitir que o réu, preso preventivamente durante toda a instrução criminal, aguarde em liberdade o trânsito em julgado da causa, se mantidos os motivos da segregação cautelar" (STF, HC 89.824/MS, 1.ª Turma, Rel. Min. Carlos Britto, DJ de 28/08/08.) 3. Constatando-se que já foi proferida a sentença condenatória, resta superada a alegação de excesso de prazo para a formação da culpa.

4. Habeas corpus parcialmente conhecido e, nessa extensão, denegado.

(HC 118121/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 03/11/2009, DJe 30/11/2009)

Destaca-se ainda, embora não sedimentada, a forte corrente

jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal mantendo, em que pese

incidenter

tantum

, a constitucionalidade da vedação à concessão de liberdade provisória quando

preso em flagrante cometimento de delito de tráfico de drogas, anote-se:

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. CRIME DE TRÁFICO DE ENTORPECENTES. MANUTENÇÃO DA PRISÃO. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. INEXISTÊNCIA. DECISÃO LASTREADA NA GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. PRESSUPOSTOS DO ART. 312 DO CÓDIGO DE PROCESSO

(12)

PENAL. DEMONSTRAÇÃO. LIBERDADE PROVISÓRIA. VEDAÇÃO. ORDEM DENEGADA. JURISPRUDÊNCIA DO STF. I - Presentes os requisitos autorizadores da prisão cautelar previstos no art. 312 do Código de Processo Penal, em especial o da garantia da ordem pública, por existirem sólidas evidências da periculosidade do paciente, supostamente envolvido em gravíssimo delito de tráfico de drogas. II - A vedação à

liberdade provisória, ademais, para o delito de tráfico de drogas, advém da própria Constituição, a qual prevê a inafiançabilidade (art. 5º, XLIII). III - Habeas corpus

denegado.

(HC 101535, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em 27/04/2010, DJe-086 DIVULG 13-05-2010 PUBLIC 14-13-05-2010 EMENT VOL-02401-03 PP-00572)

HABEAS CORPUS. CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS. PRISÃO EM FLAGRANTE. INADMISSIBILIDADE, EM TESE, DE LIBERDADE PROVISÓRIA. SÚMULA 691 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. EXCEPCIONALIDADE DO CASO CONCRETO. INOCORRÊNCIA. WRIT NÃO CONHECIDO. PRECEDENTES. 1. É sedimentada a

jurisprudência atual desta Corte quanto à irrelevância da discussão acerca da existência ou não de fundamentação da prisão em flagrante de acusado de tráfico ilícito de entorpecentes, haja vista que a proibição de liberdade provisória, nesses casos, decorre da inafiançabilidade imposta pelo art. 5º, inc. XLIII, da Constituição Federal e da vedação legal imposta pelo art. 44 da Lei nº 11.343/06. 2. Não se conhece de habeas

corpus impetrado contra decisão de indeferimento de liminar proferida por Tribunal Superior. Entendimento sumulado por esta Corte. 3. O impetrante não demonstrou a excepcionalidade do caso concreto, que poderia conduzir à superação da súmula nº 691 desta Corte e ao conhecimento de ofício de suas alegações. 4. Habeas corpus não conhecido.

(HC 102558, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, julgado em 09/02/2010, DJe-045 DIVULG 11-03-2010 PUBLIC 12-03-2010 EMENT VOL-02393-03 PP-00619)

Habeas corpus. Tráfico ilícito de entorpecentes.

Impossibilidade de concessão de liberdade provisória. Constitucionalidade do art. 44 da Lei nº 11.343/06. Precedentes da Corte. 1. A decisão ora questionada está em

perfeita consonância com a jurisprudência de ambas as Turmas desta Suprema Corte, firmada no sentido de ser vedada a

(13)

concessão de liberdade provisória aos presos em flagrante por tráfico ilícito de entorpecentes. 2. Habeas corpus denegado. (HC 101259, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 01/12/2009, DJe-022 DIVULG 04-02-2010 PUBLIC 05-02-2010 EMENT VOL-02388-02 PP-00315)

Giza-se, por oportuno, que embora tenha sobrevindo alterações

9

quanto

à possibilidade de concessão de liberdade provisória a crimes hediondos (Lei

11.464/2007), permissão que consubstanciou teses de

novatio legis

in mellius

em prol

do princípio da especialidade, o Supremo Tribunal Federal já pronunciou-se quanto ao

alcance daquela Lei e manteve vedada a concessão da liberdade provisória:

HABEAS CORPUS. PRISÃO EM FLAGRANTE POR TRÁFICO DE DROGAS. LIBERDADE PROVISÓRIA: INADMISSIBILIDADE. DECISÃO QUE MANTEVE A PRISÃO. GARANTIA DE APLICAÇÃO DA LEI PENAL. CIRCUNSTÂNCIA SUFICIENTE PARA A MANUTENÇÃO DA CUSTÓDIA CAUTELAR. ORDEM DENEGADA. 1. A proibição de liberdade provisória, nos casos de crimes hediondos e equiparados, decorre da própria inafiançabilidade imposta pela Constituição da República à legislação ordinária (Constituição da República, art. 5º, inc. XLIII): Precedentes. O art. 2º, inc. II, da Lei n. 8.072/90 atendeu o comando constitucional, ao considerar inafiançáveis os crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos. Inconstitucional seria a legislação ordinária que dispusesse diversamente, tendo como afiançáveis delitos que a Constituição da República determina sejam inafiançáveis. Desnecessidade de se reconhecer a inconstitucionalidade da Lei n. 11.464/07, que, ao retirar a expressão 'e liberdade provisória' do art. 2º, inc. II, da Lei n. 8.072/90, limitou-se a uma alteração textual: a proibição da liberdade provisória decorre da vedação da fiança, não da expressão suprimida, a qual, segundo a jurisprudência deste Supremo Tribunal, constituía redundância. Mera alteração

9

Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:

I - anistia, graça e indulto; II - fiança e liberdade provisória

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textual, sem modificação da norma proibitiva de concessão da liberdade provisória aos crimes hediondos e equiparados, que continua vedada aos presos em flagrante por quaisquer daqueles delitos. 2. A Lei n. 11.464/07 não poderia

alcançar o delito de tráfico de drogas, cuja disciplina já constava de lei especial (Lei n. 11.343/06, art. 44, caput), aplicável ao caso vertente. 3. Irrelevância da

existência, ou não, de fundamentação cautelar para a prisão em flagrante por crimes hediondos ou equiparados: Precedentes. 4. Ao contrário do que se afirma na petição inicial, a custódia cautelar do Paciente foi mantida com fundamento em outros elementos concretos, que apontam o risco concreto de fuga como circunstância suficiente para a manutenção da prisão processual. Precedentes. 5. Ordem denegada.

(HC 99333, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 01/06/2010, DJe-120 DIVULG 30-06-2010 PUBLIC 01-07-2010 EMENT VOL-02408-04 PP-01252)

3. Por estas razões, rogamos aos membros do Ministério Público que

atentem a estes casos e, sendo decretada a prisão preventiva quando da

homologação do Auto de Prisão em Flagrante formalmente perfeito, embarguem a

decisão salientando a contradição do magistrado ao decretar a preventiva quando já

preso em virtude do flagrante, com o objetivo de recompor a prisão em flagrante

como exceção constitucional à exigência de ordem escrita e fundamentada do juiz

para a prisão (artigo 5º, inc. LXI, da Constituição Federal).

Mantido o equívoco, manejem Correição Parcial, com fulcro no art. 195

do COJE, por se tratar de decisão que acarreta a inversão tumultuária de atos e

fórmulas legais.

Tornamos a lembrar, tal procedimento possibilitará o acesso às

instâncias Superiores, pois decretada a prisão preventiva nos casos em que a Prisão

em Flagrante, de forma suficiente, manteria o acautelamento, fadado à inadmissão

estará o Recurso Especial em que suscitada a ilegalidade da soltura de réus

(15)

processados por tráfico de drogas, pela concessão de liberdade provisória (negativa de

vigência ao art. 44 da Lei 11.343/06).

Porto Alegre, 13 de julho de 2010.

_______________________________________

Fabiano Dallazen,

Promotor de Justiça,

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