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Agosto, os (d) efeitos do real

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Academic year: 2021

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* * *

* À Tânia, pelos acasos e ocasos.

* A Roberto Reis (in memoriam) e aos demais professores do Curso, pela consistência das palavras;

* À CAPES, pela indispensável ajuda material;

* À Cláudia e Camille, aos amigos e familiares, por comparti l harem;

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O r o m a n c e A g o s t o , de R u b e m F o n s e c a , p u b l i c a d o em 1990, m a r c a um e s p a ç o p r i v i l e g i a d o da s u s p e n s ã o dos l i m i t e s e n t r e o v i v i d o e o i n v e n t a d o , o que nos c o l o c a a n t e a q u e s t ã o da r e p r e s e n t a ç ã o do r ea l . E s t e t r a b a l h o p r o c u r a m o s t r a r c o mo u m a m a n e i r a de a r m a r p r o d u z u ma f o r m a de 1er o c o r p o , a c i d a d e e a H i s t o r i a , e n q u a n t o f r a g m e n t a ç ã o , l a b i r i n t o e c i r c u l a r i d a d e . A r e f l e x ã o da c o n j u g a ç ã o ou t r a n s g r e s s ã o das f r o n t e i r a s e n t r e o r eal e o i n v e n t a d o p a s s a p e l a a n á l i s e das s i t u a ç õ e s e i n s t â n c i a s n a r r a t i v a s , a t r a v é s das q u a i s se m o d e l a a r e a l i d a d e , e p e l a a b e r t u r a do t e x t o à p r ó p r i a h i s t o r i c i d a d e . Ne s s e t r â n s i t o do t e x t o aos i n t e r t e x t o s e n e s s a r e l a ç ã o s o b r e d e t e r m i n a d a do r o m a n c e A g o s t o c om seu p r ó p r i o t e m p o e n c o n t r a m o s e l e m e n t o s p a r a se p e n s a r a i n t e r p e n e t r a ç ã o dos d i s c u r s o s l i t e r á r i o e h i s t ó r i c o .

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Résum é

Le r o m a n À g o s t o de R u b e m F o n s e c a , p u b l i é en 1990, m a r q u e un e s p a c e p r i v i l é g i é de la s u s p e n s i o n des l i m i t e s e n t r e le v é c u et l ' i n v e n t é , ce qui n o u s me t f ac e à la q u e s t i o n de la r e p r é s e n t a t i o n du r é e l . Ce t r a v a i l c h e r c h e à m o n t r e r c o m m e n t une m a n i è r e d ' a r me r p r o d u i t une f o r m e de l i r e le c o r p s , la v i l l e et l ' H i s t o i r e en t a n t que f r a g m e n t a t i o n , l a b y r i n t h e et c i r c u l a r i t é . La r é f l e x i o n de la c o n j u g a i s o n ou la t r a n s g r e s s i o n des f r o n t i è r e s e n t r e le r ée l et l ' i n v e n t é p a s s e p a r l ' a n a l y s e des s i t u a t i o n s e des i n s t a n c e s n a r r a t i v e s , à t r a v e r s l e s q u e l l e s se m o d è l e la r é a l i t é , et pa r l ' o u v e r t u r e du t e x t e à l ' h i s t o r i c i t é e l l e- mê me . Da n s ce t r a n s i t du t e x t e a u x i n t e r t e x t e s et d a n s c e t t e r e l a t i o n s u r d é t e r m i n é e du r o m a n A g o s t o a v e c son p r o p r e t e m p s , n o u s r e n c o n t r o n s des é l é m e n t s p o u r e n v i s a g e r l ' i n t e r p é n é t r a t i o n du d i s c o u r s l i t t é r a i r e et du d i s c o u r s h i s t o r i q u e .

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1. Os ( d)efeitos do real 06

1.1 Vastas emoções e pensament os imperfeitos 07

2. Entre o possível e o passado: um real i nventado 21

2.1 A fabricação do real 22

2.2 Um intróito instigante: indícios 34

2.3 A construção dos personagens 42

2.4 A organização temporal da narrativa 63

3. Releituras ad nauseam 69

3.1 Repetição, transtextual idade 70

3.2 As armadilhas da lógica 80

3.3 A articulação do disperso 92

3.4 Uma lógica do desv(ar)io 98

3.5 Tempo de Violência', diálogos, t endênci as 113

3.6 Enigma, ofuscação, labirinto 119

4. Uma r eel aboração crítica do passado 125

4.1 Tensão sem oposição 126

4.2 Prosa televisiva de Agosto 136

Conclusão: Um liame entre o possível e o provável 141

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TALVEZ AS COISAS TIVESSEM ACONTECIDO A SSIM , CERTEZA EU MÃO PODIA TER, PODIA IMAGINAR, CONCLUIR, DEDUZIR - NÃO HAVIA

FEITO OUTRA COISA NAQUELA

HISTÓRIA TODA. DE QUALQUER

FORMA EU ESTAVA MUITO PERTO DA VERDADE,

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Object tro u v é

Rubem Fons eca passou ao cent ro de mi nhas e xpect at i vas por acaso. É cert o que, antes mes mo de ent r ar em cont at o com seus textos, antes mes mo daquel e ol har de soslai o, misto de desdém e

desejo, l ançado às suas "vastas emoç ões e p e ns ame nt os

i mperfei t os" que abundam nas bancas de revi stas, j á havi a uma pr eoc upaç ã o pelo t rânsi t o das palavr as às coisas, das coi sas às palavras - um i nt er esse pela fusão entre o vi vido e o i nvent ado.

Agost o surgiu, di gamos, qual um casual "achado". Cer t a vez, num pe r a mb u l a r ansi oso e errant e, mas atento, por um l ongo corr edor p a r c ame nt e i l umi nado pel a cl ar i dade vesper t i na, me deixei atr ai r pela l umi nosi dade de al gumas palavras. Num encont r o casual , depois de algumas palavr as que r et r at avam o meu i nteresse em pensar a di l ui ção dos l imi tes entre f i cção e história, ouvi de uma i nt e r l oc ut or a até então desconheci da: "Por que não Agosto?". Era como se, naquel a voz, eu vi s l umbr a s s e um pont o (de partida).

"Por que não Agost o?". E a i nst i gant e pergunt a ficou r ever ber ando no l abi r i nt o de meus ouvidos. Eu me pergunt ava:

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Como 1er esse texto: best s el l er h i s t ó r i c o- pol i c i a l ou me t a f i c ç ã o h i s t or i ogr á f i c a? Um fi lme escr i t o ou uma col l age ba r r oca? E se t odas as respos t as são vál i das ? Ness e caso tal vez se possa j u s t i f i c a r a t i r agem de cento e c i n q ü e n t a mil exempl ar es em doze

e di ções (sem cont ar a t i r agem do livro de bol so)

Agost o surgiu como pos s i b i l i d ad e de t r abal har com um desses livros com enorme sucesso de vendagem, mas, r ec ebi do sem muit o e nt us i asmo, em mai s de um caso, pela crí t i ca ( excet o as que- se i ncl uem nas orel has do pr ópr i o livro e em uma que out r a r evi sta ou pe s qui s a " acadêmi ca") . Mas, l evando em cont a cer t a t en d ê n ci a na textualidadeQ, c o n t e mp o r â n e a que s u bl i nha a d i ssol ução dos l i mi t es entre l i t e r a t ur a cult a e popul ar, el i t i s t a e acessí vel , aceit ei o desafio.

E foi assi m que, a col hendo a sugest ão daquel a voz casual , que acabou se t or nando r es ponsável pela or i ent aç ão deste t r abal ho, tracei o esboço de um pr oj et o que, a pr i ori , se pr e c i p i t a v a sobre o uso de a c o n t e c i me n t o s hi st ór i cos como mat ér i a l iterária. No entanto, em vez de encont r ar no t ext o em ques t ão um pont o, me deparei com a di ver s i dade de pont os e pontes.

Com efei to, vale ant eci par , não se pode 1er Agos t o senão enquant o uma exal t ação do t ext o como t eci do, como r es ul t ado de um processo no qual se r ecor t a e se costura. Aqui t oda c o n t i nui dade mai s não é que uma ilusão pr oduzi da no pr ópr i o ato de leitura.

Daí que para de s cor t i nar alguns efei t os e i mpl i cações de tal ac hado visei, de um lado, uma anál i se dos seus pr oc e di me n t o s internos, sua manei r a de dobr ar e desdobrar. O que j u s t i f i c a a pr e s e n ç a de t eór i cos chorno Gér ar d Genet t e. Mas, como em est udos mai s recent es ele prop^ôeNuma anál i se na qual o t ext o se abre à

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Ora, o t r ânsi t o do t ext o ao cont ext o, essa a r ma çã o que envolve as regras da língua e a di me ns ã o do event o, o corpus p r opr i ament e dito, é j u s t a me n t e o que apar ece sob o concei t o de di scur so na pe r s p e c t i v a foucaul t i na. Em Fouc a ul t t emos, mai s que um pont o de ap r o x i ma ç ã o entre f i cção e hi st ória, a r ed e f i n i ç ão desses concei t os: há menos Oposição do que uma r el a çã o de s o b r e d e t e r mi n a ç ã o entre ambos.

O que me i nt er essa aqui é, por t ant o, um elo de l i gação, funções em comum, r es sal t ar um grau de pa r e nt es co entre di f er ent es c ampos do saber. Como o pont o mai s sensual do corpo é aquel e onde a r oupa se abre, entre a r oupa e a pele, meu ol har pousa j u s t a me n t e num e n t r e : uma área de i nt er secção entre di f er ent es esferas do di scur so - t er r i t ór i o por e x ce l ê nci a do verossímil.

Se, de um lado, pr et endo t r a b a l h a r com o c r u z ame n t o de formas de r el ei t ur a do passado, de outro, quero f al ar das ( i m) pos s i bi l i dade s e efei tos da e scr i t ur a de Rube m Fonseca. Daí que esse ol har lançado sobre o t ext o nas suas mi n u d ê n c i a s , r ee nt r ânci as, t ext ur as, essa ma n e i r a de pe r s cr ut ar um gest o de or d e n a me n t o formal que vai da i ns t aur a çã o de um pr o b l e ma até a sua rel at i va di ssol ução, esse del ei t e em gerar (e de s mas ca r a r ) efei t os de real, dei xa ma r c a d a a dí vi da para com Rol and Barthes.

Assim, vale dizer, mes mo t r a b a l h a n d o com um corpus de apoi o not ada me nt e het er ogêneo, com pont os de vista c onf l i t a nt es , t ent ei pr i vi l egi ar algunjs pont os em comum: a rel ação de crise com a l i nguagem que i rrompe da d e s cr e nça em sua t r an s p ar ên c i a,

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o t ext o como pr ocess o, t eci do, enfi m, a c o n s c i ê n c i a de que a todo i nst ant e se t ecem f i c ç õ e s .

Dent re as várias pos s i bi l i dades de acesso ao texto p r et e ndo pe ns ar Agos t o enquant o espaço mar c ado pel a i ndef i ni ç ã o e/ou suspensão de cer t os limites: const ant e osci l ação entre real e i nvent ado, entre o col oqui al e o erudi t o, entre razão e e mo ç ão - t odos t emas nobr es no conj unt o dos t ext os de Rubem Fonseca. Meu pr opósi t o r uma no sent ido de i nvest i gar essa área de c onf r ont a çõe s e i nt er ações , onde par ece vi br ar mais t ensão do que oposi ção. Com isso" se quer mo s t r a r como Ag o s t o r e c o b r a a conce pçã o b a r r o c a do t ext o como cenári o de uma de s or dem ( compos t a e art i f i ci osa): de fato, dei xa ao lei t or uma i mpr e s s ão de caos, de de s o r i en t aç ão e de indecisão.

Além de t e ma t i z a r a quebra da c o n t i nui dade do t empo da hi st ór i a Agost o pr o b l e ma t i z a t ambém a cat egor i a do sujeito. O foco p r odut or de sent ido, nesse e s p a ç o de expansões e de t r an s f o r ma çõ e s c ar ent e de um cent r o or denador , entra em crise pela const ant e a mp l i aç ão do locus da ação, a pr of us ão de cort es, cenári os, per s onagens. A r ec o mp o s i çã o de cacos do vivido, em Agosto, não mas ca r a uma hi st ór i a e st i l haçada, em migalhas.

Num segundo moment o, me per mi t i r ei um mer gul ho na l ógica i manent e do text o, na sua es t r ut ur a çã o interna. Isso envol ve a man i p u l aç ão da t empor al i dade , a c o ns t r uçã o dos pe r s onagens , enfi m, as si t uações e as i nst ânci as na r r at i vas através das quais o aut or dobra e desdobr a o seu real.

A partir daí buscar ei r ef l et i r sobre o di ál ogo que o texto est abel ece com out r os t extos e l abor ados de modo si mil ar, como t ent at i va de r as t r ear as convenções do gênero que ora apropr i a, ora contest a (mas longe daqui a pr et ensão de ci r c unsc r e ve r uma gr amát i c a do gênero). Aqui se poder á const at ar o ensai ar da

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Enfim, a pr ove i t a ndo as homol ogí a s entre o vivido e o cri ado que pul ul am no es paço l i t erári o, t ent arei pe ns ar o l iame ent re o , possível e o pr ovável . Agos t o ent ra aqui como t r adução de um q ue s t i o n a me n t o sobre as poss i b i l i d ad e s da pl ena " apr eensão" da r eal i dade, sobr et udo quando se t rat a de um real pr et ér i t o, acessí vel a part i r de restos, ( r e) cor t es, sobre os quais se apói a o t ext o que o repr esent a. Acaso não será nesse text ual onde se gest am os ( d) ef ei t os do re a l l

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Os (d)éf e i t o s do real

" D a m e s m a f o r m a c o m o n ã o e x i s t i a m s i n ô n i m o s p e r f e i t o s , t a m b é m e c o m m a i s r a z ã o n ã o e x i s t i a m a n t ô n i m o s p e r f e i t o s , n ã o e x i s t i a m c o i s a s p e r f e i t a m e n t e i g u a i s n e m p e r f e i t a m e n t e o p o s t a s . A s s i m é a v i d a n u m a i l h a de c r o c o d i l o s ou n o R i o de J a n e i r o " . R u b e m F o n s e c a , A G r a n d e A r t e .

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c odi f i ca uma t e n d ê n c i a que, t al vez, possa ser e st e t i c a me n t e

defi ni da pel a e xpr ess ão neobarroca. E o que sugere a

r ei t er ação da fl ui dez dos l i mi t es, da p o r os i da de das f r ont ei r as , das oposi ções absol ut as em sus pens ão como art i f í ci os c o ns t ant es na escr i t ur a o b s e ca da pela conci são de Rube m Fonseca.

Aqui t emos el e me nt os para se pe ns ar a possível i nt er r el ação entre um ar t ef at o l it erári o ( n o me a d a me n t e do gênero p o l i c i a l ) produzi do em l arga escal a, com um cont ext o (para vári os t eór i cos ) p ó s - m o d e r n o , mas pr enhe de r es s ur gê nci as barrocas. Um t ext o escr i t o ao sabor de sua época. Ou seja, surge c er ce a d o por "i nteresses", quer no sent ido ps i c ol ógi co (um culto não ao passado mas às r el ei t ur as pr ob l e má t i c a s do passado - e aí ent r a o atual "boom" dos r omances hi st ór i cos) , quer no e c o n ô mi c o (custos de pr odução, t r í vi al i zação da nar r at i va, enxugament o) .

Se, por um lado, em Ag o s t o se t emat i za medos e t ens ões i ner ent es a seu pr ópr i o t empo, tais como: a cr escent e escal ada da vi ol ê nci a urbana; a sórdi da b a n a l i z a ç ã o da mort e; o c ar át e r rel ati vo e ambí güo da lei e da ordem; dest i nos de uma nação deci di dos a por t as fechadas, sem p a r t i c i p a ç ã o popul ar; de outro, encont r amos o que se pode c h amar de um f i lme escrito. A pr osa é ar r ast ada até uma f r ont ei r a l i mi te onde desbor da no p r o c e d i me n t o c i n e ma t o g r áf i co da mont agem: prosa c i n e ma t o g r á f i c a de Agost o. Tudo aqui se cont r ai , se reduz, se compr i me. Ni sso ele pode ser chamado de s i n t o m á t i c o .

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Mas, à me d i d a em que traz mar c as da t r a n s f o r ma ç ã o do gênero ao l ongo de sua hi st ór i a, à medi da que se p o s i c i o n a i r ôni ca e c r i t i c a me n t e f rent e ao passado, ul t r a pas s a a mer a condi ção de i l us t r ação de um vivido. Não se t rat a apenas de um r ef l exo da r ea l i da de obj et i va. Ni ss o ele é t ransf ormat i vo. Daí a

p os s i b i l i d ad e de abri -l o à h i s t or i c i dade através de uma

c o n f r ont a çã o com al gumas c onvenç ões do ramo l i t erár i o com as quai s di al oga e a pr opr i a e contesta.

Isso i mpl i ca numa cer t a noção de t ext o como f or ma de or gani zar e de c odi f i ca r a e xpe r i ê n c i a cot i di ana; como f or ma possí vel de e l abor ar novas versões ace r c a do real, do passado. Sem excluir, é claro, a e xi s t ênci a de di f er ent es graus de mi mesi s ( ent enda- se, as vári as for mas possí vei s de r e p r e s e n t a ç ã o ) pelos quais se pl asma, se model a o vivido. Tudo passa pela r el ação as s umi da com o que se visa contar.

No caso espec í f i c o de Ag o s t o tal ( r e) l ei t ur a t r aba l ha menos como r eco n s t i t u i ç ão i ntegral do pass ado do que se deixa l eva r nas águas do v e r o s s í m i l . Ai nda que a at mos f e r a r ef er enci al est ej a r epl et a de po r men o r e s concr et os, c i r cunst ânci as, f l as hs de um

vi vi do especí f i co, ainda que os a co n t e c i me n t o s hi st ór i cos

r ef er i dos no t ext o ( quase) f oram p r es enc i ados pelo pr ópr i o escri t or, vale dizer, Agost o não aspi ra cont ar a verdade ( ent e nda- se, um di scurso que se as s emel ha ao real). Com efeito, aqui o di s curs o l it erári o não se r eduz ao tal e qual acont eceu, antes, s e mei a dúvi das sobre o r esul t ado de um pr ocesso que se gest a na l ei t ur a das pistas, restos, fontes.

Di f er e n t emen t e do verí di co, 1j t o m ando Me e mpr é s t i mo l ei t uras de Júl i a Kri st eva, o verossí mi l , sem ser ver dadei r o, seri a um di scur so que se a s s e me l h a ao di scur so que se ass e mel ha ao real: o ver os sí mel f i n g e pr eoc upar - s e com a r eal i dade obj et i va, mas

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sense)-, f unda uma zona i n t e r me d i á r i a em que se insi nua um saber d i s f a r ç a d o 1.

O verossí mi l é um efeito. Mel hor , está nos efei tos que produz. Sendo o r es ul t ado de uma a r mação, de uma c onst r ução, t or na- se o pr odut o p a r exc el l anc e da ficção. Aí f unde- se o ve r da dei r o e o falso; ele i mita de al guma f or ma o real e, no ent ant o, cons er va em r el ação a este um cert o di st anc i a ment o. O gest o radi cal do ver os s í mi l e ncont r a- se j u s t a me n t e ness a conexão. É nos efei tos dessa ( co n ) j u n ç ã o que ele emerge.

Assi m, o verossí mi l em Agost o, t r abal ha menos como espel ho, r efl exo do real, do que como um espaço no qual se e nce nam al gumas poss i bi l i dade s que o real pode assumir. Com efei to, o t ext o se apóia sobre o passado, o vivido, mas de modo a t r ans f i gur á- l os poet i ca ment e. Não sem dei xar est ampado um cert o enfado frent e à Hi st óri a, se se qui ser, t ec endo- l he uma i magem que p r obl emat i za a di mensão do passado e do futuro, suger i ndo uma ci r cul ar i dade estéril.

Foi a part i r desse indíci o que se i nsi nuou a pos s i bi l i dade de ut i l i zar o n e o b a r r o c o 2 como um concei t o oper at ór i o para de s nudar

1 K R I S T E V A , Julia. A p r o d u t i v i d a d e d i t a texto. In: L i t e r a t u r a e

S e m i o l o g i a . Ri o de J ane i r o, Vo z e s , 1971, pp. 48, 49 e 51.

2 Se g u n d o Oma r Ca l a br e s e , Gi l o Do r f l e s j á havi a ut i l i z a do o t e r mo

n e o b a r r o c o num t e x t o i nt i t ul a do A A r q u i t e t u r a M o d e r n a , t o m a n d o de e mp r é s t i mo o t e r mo de Br i n k ma n n . C o m o diz, Do r f l e s i de nt i f i c a no c o n t e m p o r â n e o o a b a n d o n o ( ou q u e d a ) de t o d a s as c a r a c t e r í s t i c a s de o r d e m e

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os p r o c e d i me n t o s , os mo v i me n t o s no corpo desse texto. Nas pal avr as de Kr i st eva, o e n c a d e a me n t o do que será lido c omo um t ext o, a a r qui t et ur a muda, que vive dos i nt er st í ci os entre as palavras.

Ent ão a ques t ão do ne o bar r oc o surgi rá mai s como um cri t ér i o anal í t i co, do que a l i ment ar á a noção de um ret or no a um d e t e r mi na do mo me n t o hi st órico. Isto é, um est ado de espí r i t o {mens), uma cer t a col or ação col et i va do ps i qui s mo humano que não se ma n i f e s t a at rei t o a um esp a ç o - t e mp o r a l especí f i co, mas através da r ec or r ênc i a, da r e a p r e s e n t a ç ã o ou e xa c e r b a ç ã o de certos pr ocedi ment os .

Dito de out ro modo: ne obar roco como uma "qual i dade" ou "const ant e f o r m a l " 3, até por que assi m fica mai s fácil f al ar das várias r es sur gênci as barrocas mani f es t a s nos art i f í ci os que mol da m a t ext ur a do romance. Aqui o ba r r oco ressurge como a expr ess ão máxi ma do movi ment o e do di nami smo, da a bundânc i a de p or menor e s concr et os e de pe r s onage ns, do excesso noir, do desequi l í br i o, da cont r adi ção, da dual i dade, do par oxi s mo e da exci t ação contí nua.

Nessse sent ido, ( podemos di zer que o "código est ét ico" da t endê nci a ne o bar r oc a se del i nei a na r epr e s e nt a ç ão de um espaço i nst ável, não homogêneo, descent r al i zado. É o que se pode det ect ar na narrat i va ( ent enda- se aqui como a s ucessão dos aco n t ec i me n t o s no pl ano da hi st ór i a) de Agost o. Uma n a r r a t i va r epl et a de cortes, super posi ções, de sl ocament os.

de s i met r i a, v i s l u mb r a n d o a a s c e n ç ã o do d e s a r mô n i c o e a s s i mé t r i c o. Ve r C A L A B R E S E , Omar . A I d a d e N e o b a r r o c a . Li s boa , Ma r t i n s Fo n t e s , 1987, p . 28.

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de l i near i dade der i vada do ato de leitura. Daí a per t i nênci a, como ver emos, da r e a p r e s e n t a ç ã o como uma das f unções f un d ame n t a i s do verossí mil . A r ea pr es ent a çã o, a r epet i ção, cost ur a um sent i do na di sper são const ant e, pass a uma sensação de coesão.

O que (hos) i nter essa, sobr et udo, nesse campo pr i vi l egi ado pr enhe de oposi ções em suspens ão é o ensai ar de uma ve r d a d e i r a p o é t i c a da t ransgressão. Assim, ao se exi bi r numa r ec or r ênc i a const ant e ao j o g o e à r el a t i vi za çã o dos l imi t es (entre sonho e vigília, entre f i cci onal e hi st ór i co, entre cri ado e vivido, ent re o cult e o kit sch), o ne obar r oco sugere t ambém uma p oé t i ca do di ál ogo, da permut a. Pode- se dizer, um mec an i s mo i mpul si onai que inclui o Outro, o diferente.

Isso parece r e i vi ndi c a r uma mai or a p r oxi maç ão entre os mai s di versos campos do saber. Nesse movi me nt o í r at t s di sci pl i nar em busca de pr oce di me nt os, funções em comum, talvez, pos s amos i dent i fi car uma t ent at i va de r epr e s e nt a r de f orma mai s a br a ngent e a própr i a co mp l e x i d a d e do real.

Pa r t i c ul a r ment e, em Agost o, com seus múl t i pl os t r aj et os pelo seio da urbe e da di egese (nos l embr a um t r açado de linhas, uma rede, um l abi ri nt o de fi guras), enfi m, nesse espaço que se abre ao cruzament o de vári os di scur sos, a r epr e s e nt a ç ão da r ea l i da de vai cont or nando t ant o o possível quant o o passado. Um não se lê sem o outro, parece que o real fica numa cert a eq ü i d i s t ân c i a em r el ação ao abst r aí do - j o g o de espel hos, ref l exos, homologí as.

Assim, a i ndef i ni ção dos limi tes, atr i but o por e x ce l ê n ci a do neobarroco, pr esent e em mai s de um sent ido no r omance, par ece

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" r ac i onal i za çã o do real". Isso nos faz pensar, de um l ado, no t ur var das e s per a nça s na p o s s i b i l i d a d e de se al cançar , me d i a d a pelas pal avr as, a pl ena r ea l i da de das coi sas e, de outro, num cert o e nc a n t a me n t o que daí emana.

Es t amos ante à p r o b l e má t i c a que se i ns t aur a no t r âns i t o do que conta para o que é contado. Tal pr o b l e má t i c a pode ser t r aduz i da pel a i déi a de que toda t ent at i va de "apr eensão" da

r eal i dade conduz, n e c e s s a r i a me n t e , a uma i nevi t ável

(re) f i gur ação. Assi m, o real mai s não é que um efeito pr o d u z i d o por um const rut o l i nguí st i co d e p e n d e n t e da or g a n i z a ç ã o do he t e r ogêne o, da a r t i cul ação do di sperso. O que se que s t i ona aqui é a p o s s i bi l i dade de que um t ext o, seja "document al " ou "literário", possa mant er uma r el a çã o de t r ans par ênc i a com a r e a l i d a d e 4.

5 O q u e s t i o n a m e n t o de uma r e l a ç ã o de t r a n s p a r ê n c i a e nt r e o t e x t o e a r e a l i d a d e que " a p r e e n d e " a p a r e c e em t e ó r i c o s das mai s v a r i a d a s l i nhas de p e n s a me n t o , dos mai s v a r i a d o s c a mp o s do s abe r , c o mo F r e d r i c J a me s o n , R o g e r Cha r t i e r , R o l a n d Ba r t h e s , Mi chel F o u c a u l t , J a c q u e s La c a n, J a c q u e s De r r i d a , Li nda Hu t c h e o n , e nt r e o u t r o s . N o ç ã o que p a r e c e r e s u mi r - s e nas p a l a v r a s de Fo u c a u l t : "o qu e se vê n ã o se a l o j a j a m a i s no que se diz". Ver : As P a l a v r a s e

as Co i sa s. 1992, p . 25. N e s s e c o n t e x t o , c o mo diz Cha r t i e r , o real a s s u me u m

n o v o s e nt i do: a q ui l o que é real , e f e t i v a m e n t e , não é ( a p e n a s ) a r e a l i d a d e v i s a d a pel o t e x t o , ma s a p r ó p r i a ma n e i r a c o mo el e a cri a, na h i s t o r i c i d a d e de s ua p r o d u ç ã o e na i n t e n c i o n a l i d a d e de s ua e s c r i t a O p o n t o nodal de s uas t e o r i z a ç õ e s est á, p o r t a n t o , em c o m p r e e n d e r c o m o a a r t i c u l a ç ã o dos r e g i me s de pr á t i c a e das sér i e s de d i s c u r s o s p r o d u z o que é l í ci to d e s i g n a r c o mo a r e a l i d a d e . Ver: A H i s t ó r i a Cu lt ur al , 1990, p . 63 e 80. No c a mp o das a r t e s pl á s t i c a s es s e e s t r a n h a me n t o que se i n s t a u r a e n t r e as p a l a v r a s e as c o i s a s j á a p a r e c i a e m O Uso I d i o m á t i c o , de Ma g r i t t e ( 1 9 2 8 ) . El e e s c r e v e a bai xo de u m c a c h i mb o d e s e n h a d o " C' es t pas u n e pi pe" p a r a r e s s a l t a r a i déi a de que se t r a t a da r e p r e s e n t a ç ã o de u m obj e t o, não do p r ó p r i o obj et o.

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for mas de r e p r e s e n t a ç ã o ou de narr at i v a ( at r avés das quais se pode a l c anç ar a "lógica si mból i ca" humana) . Isso vem de encont r o ao que se pos t ul a em A Hi st óri a Cultural. Par a sus t ent ar uma d e f i ni ção de hi st ór i a como o "est udo dos pr ocess os com os quai s se const r ói um sent ido", Roger Cha r t i e r se faz val er das n oç ões de r epresent ação, p r á t i c a e a p r o p r i a ç ã o 5. Pode mos dizer que em ambos en co n t r amo s a cr ença de que não se pode pensar no real senão enquant o algo ar mado pel a ficção.

Tais casos, entre t ant os, nos servem ao menos como e xempl os que i ndi cam uma pr e d i l e ç ã o para uma cert a noção de "história" como est r ut ur a verbal na f or ma de um di scur so nar r at i vo em prosa. Isso i mpl i ca numa r ede f i ni ç ão de "ficção" como o uso de cert os p r o c e d i me n t o s pelos quais a hi st ór i a se ( des)dobra. Em resumo: f i cção como aspect o, t r ama da h i s t ó r i a 6.

5 J A ME S O N , Fr e dr i c . O I n c o n s c i e n t e P o l í t i c o . A n a r r a t i v a c o m o a t o

s o c i a l m e n t e s i m b ó l i c o . São Pa u l o , Át i ca, 1992, p . 32. C H A R T I E R , R o g e r . A H i s t ó r i a C ul t u ra l. E n t r e p r á t i c a s e r e p r e s e n t a ç õ e s . Ri o de J a ne i r o, Di f el , 1990.

Lei a - s e: "É p r e c i s o p e n s a r a h i s t ó r i a ( c u l t u r a l ) c o mo a a n á l i s e do t r a b a l h o de r e p r e s e n t a ç ã o , i st o é, das c l a s s i f i c a ç õ e s e das e x c l u s õ e s qu e c o n s t i t u e m, na sua di f e r e n ç a r adi cal , as c o n f i g u r a ç õ e s soci ai s e c o n c e p t u a i s p r ó p r i a s de u m t e m p o ou de um es pa ç o. As e s t r u t u r a s do mu n d o soci al não são um d a d o o b j e t i v o , t al c o mo o nã o são as c a t e g o r i a s i n t e l e c t u a i s e p s i c o l ó g i c a s : t o d a s el as s ão h i s t o r i c a me n t e p r o d u z i d a s pel as p r á t i c a s a r t i c u l a d a s ( po l í t i c a s , s oci ai s , di s c u r s i v a s ) que c o n s t r o e m s uas f i gur a s ( p . 27- Gr i f os nos s os ) .

6 A def i ni ç ão do c o n c e i t o de h i s t ó r i a c o mo e s t r u t u r a ve r ba l na f o r ma de um di s c u r s o n a r r a t i v o em f o r ma de p r o s a ( q u e p r e t e n d e ser um mo d e l o de

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A r e de f i ni ç ão do concei t o de f i cção como um ato de n o mea çã o, como mane i r a de t r amar (e não mai s na acepção vul gar como si nôni mo do falso) r ecebe, em Foucaul t , o nome ne ut r o de e x p e r i ê n c i a 1. Menos no sent ido de e mpi ri smo (at r avés do qual se i ns t aur a m c oncei t os e for mas de c o n h e c i me n t o ) do que como a d e t e r mi n a ç ã o de um campo pr i vi l egi ado, formal. Por out ras p al avr as, a fi cção como e x p e r i ê n c i a não só pr opõe um l ei t ur a i ncessant e, i nacabada, i nt e r mi ná vel , mas t a mbém poss i b i l i t a r evel ar • os mec an i s mo s , os efei t os e as poss i b i l i d ad e s da l i n g u a g e m8.

Isso j u s t i f i c a um consenso que vai se f i r mando no seio do

hodi erno: "a todo mome nt o t ecemos ficções". Mai s

pa r t i c u l a r me n t e , casos do r omanc i s t a e do hi st or i ador , não há

como cont est ar que ambos sel ec i ona m e const roem seus

per s onagens (e as r el ações que estes desenvol vem com out r os pe r s onage ns ) e os inserem em um enredo: pes qui sam, r ec or t am, t r amam, f a b u l a m 9. Buscam acessar a i nt el i gi bi l i dade, mel hor , a

e s t r u t u r a s e p r o c e s s o s p a s s a d o s no i n t e r e s s e de e xpl i c a r o que e r a m r e p r e s e n t a n d o - o s ) foi t o ma d a de e mp r é s t i mo a WH I T E , Ha yde n. M e t a H i s t ó r i a . A i m a g i n a ç ã o h i s t ó r i c a do s é c u l o X I X , p . 18. Já a n o ç ã o . de f i c ç ã o c o mo p r o c e d i m e n t o , p r o v é m de Mi chel F o u c a u l t , L a P r o t o - f á b u l a . In: V Á R I O S A U T O R E S . Verne: Un r e v o l u c i o n á r i o s u b t e r r â n e o . B u e n o s Ai res, Pa i d ó s , 1968, 22. 7 Op. ci t . p . 26.

® B A U D R Y , J ean Loui s. Teori a de C o n j u nt o, Ba r c e l o n a , Seix Ba r r a i , 1971, p . 167.

9 P E S S A N H A , J o s é Amér i co. H i s t ó r i a e f i c ç ã o : o s o n o e a v i g í l i a . In: R I E D E L , Di r c e Cor t e s . N a r r a ti v a , F i c ç ã o e H i s t ó r i a . I m a g o , 1988, 2 8 2 - 2 9 8 .

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Pode mos di zer que em tal r e f o r mu l a ç ã o de c oncei t os (em dí vi da ma n i f e s t a com o f o r m a l i s m o por c o mp a r t i l h a r essa p r eoc upaç ã o pelos art i f í ci os, pr odut or es do t ext o de modo geral ) mai s não t emos que uma suspensão ou, talvez, um pr oposi t al oc ul t ame nt o dos l imi tes entre f i cção e história. Isso não é p r e c i s a me n t e uma de s cobe r t a do nosso t empo. Suspensão essa, se pode dizer, como um p r o ce di me nt o que t ant o o barroco quant o o s ur real i smo j á havi am e mpr est ado sua linguagem.

Fal amos, por consegui nt e, não de um "ismo" q ua l que r e nca l a cr a do entre uma est rel a e uma cruz. Ant es t emos uma at i t ude frente à vida. Tal posi c i o n a me n t o parece se d e s pr ende r de uma certa est upef ação: cada vez que o uni verso se desdobr a ao ser, em expansão - toda fi xi dez é abol i da; cada vez que o

i ndi vi duo ampl i a suas front ei r as e se descobr e pl eno de

poss i bi l i dades, mas de algum modo i mpot ent e, cindido.

Em suma, um est ado que se despr ende p r e c i p u a me n t e de uma sit uação de cat ar se, ou se se preferir, de "cat ástrofe e m u d a n ç a " 10. Aqui temos uma cert a def or mação na perc epç ã o do que é real,

I® Ço m ef ei t o, pel a ar t e ma n i f e s t a - s e a ( a u t o ) c o n s c i ê n c i a que o ser h u ma n o t e m de seu p r ó p r i o t e mp o . Ve j a - s e o s u r g i me n t o do " b a r r o c o " c o n c o mi t a n t e a uma mu d a n ç a de p e r s p e c t i v a do ser h u ma n o e m f ace de um u n i v e r s o móvel , d e s c e n t r a l i z a d o , ou do " s u r r e a l i s mo " p e r me a n d o as du a s g r a n d e s g u e r r a s mun d i a i s e que r e v e r b e r a na ar t e c o n t e m p o r â n e a f ei t a na ex- I ogus l á vi a ; c o mo se di z num ar t i go de j o r n a l , "a ar t e s o b r e v i v e n u t r i n d o - s e da g u e r r a " , tal t r a b a l h o " p a s s o u a a dq u i r i r t o n s s ur r e a l i s t a s " . Ve r a r e p o r t a g e m

" A r t i s t a s e x p õ e m h o r r o r d a g u e r r a na B ó s n i a " . In: F o l h a de S ã o P a u l o , 23 de

(24)

16

por que este passa a a p ar ec e r não mai s ( t el eo) l ógi co ( com um pr oj et o ori ent ado para mai s "razão", "ci ênci a", "progresso")

por ém des pr oposi t ado: uma " i ncompr ee ns í vel sucessão de

a c o n t e c i me n t o s al eat ór i os"( p. 304).

No que t ange à ma n i p u l a ç ã o do real, nesse p o i n t d' es pr i t o f i cci onal e o hi s t ór i co, o real e o i magi nár i o dei xam de ser pe r c ebi dos c o n t r a d i t o r i a m e n t e 11. É como se os l imi t es ent re tais pól os fossem desl ocados, como diz Ma ch a d o de Assis, ao "nada

em ci ma do invisível ". Uma área t ens a de i nt e r aç ões e

conf r ont ações const ant es. Um lugar ( quase) "sem l imites": o l ugar sem l imi tes é esse espaço de conver sões, de t r an s f i g u r a çõ e s e disfarces: o espaço da l i n g u a g e m 12.

Assim, vemos at r a ves sar o i ntel i gí vel c o n t e mp o r â n e o a j á cor r i quei r a i ndagação: "onde os limi tes" - da razão, nesse "fins moder nos" t odos? Do ol har após o mi c r o s c ó p i o por t u n el ame n t o , ou do t el es cópi o Hubble. Do c i ne ma e da f ot ogr af i a em O Sacri f í ci o, de Andr ei Tarkovski . Da ci t ação e do cr i ado em O Nome da Rosa, de Umbe r t o Eco? Do pr esent e, do passado e do

U L es Vases C o m u n i c a n t s , de An d r é Br e t o n , p a r e c e ser a me t á f o r a mai s p e r t i n e n t e d e s s a r e c o n c i l i a ç ã o do real e do i ma g i n a d o ( ou s o n h a d o ) . Aqui , mai s que u ma r e l a ç ã o de c a u s a s e ef ei t os, t e m o s a i n s t a u r a ç ã o de u m p r o c e s s o de s o b r e d e t e r mi n a ç ã o . El e r e a f i r ma a i nde f i ni ç ã o dos l i mi t es q ue s e p a r a m os doi s d o mí n i o s ao f a z ê - l os a p a r e c e r u n i d o s pe l o f e n ô me n o da " c a pi l a r i da de " . Al i ás, é p r e c i s a me n t e na " r e s o l u ç ã o ( . ..) de s s e s doi s e s t a d o s a p a r e n t e m e n t e t ã o c o n t r a d i t ó r i o s que são o s o n h o e a vi gí l i a( . . . ) n u ma úni ca e s p é c i e de r e a l i da de " que B r e t o n c h a ma s u r r e a l i d a d e . Ver : B R E T O N , Andr é. M a n i f e s t o s do S ur r e a l i s m o . Li s boa , 1985.

S AR DUY, S e ve r o. E s c r i t o S o b r e Um Corpo. São P a u l o , P e r s p e c t i v a , 1979, p. 48.

(25)

Em Agos t o se exibe, mai s que a n e ce s s i da de de t r an s g r e s s ão (de uma a t mos f e r a r ef er enci al ao vácuo que a tudo a bi s ma) , um cort ej o ao e nt r e c r u z a me n t o de di ver s as l inguagens. Nessas vozes vári as t emos, par ece, uma i nf i ni dade de pont os a par t i r dos quai s

se pode pe r s cr ut ar esse t e r r i t ór i o instável, móvel ,

descent r al i zado.

É possível que esse "gosto de época", t r aduzi do pela de s c o n f i a n ç a na poss i bi l i dade de se e xpr i mi r o real "tal e qual" pela l i nguagem, t enha f avor eci do um mai or ace r c a me nt o e/ ou uma r e a p r o x i ma ç â o entre as f o r m a s hi s t ó r i c a e l iterária. Dito de out ro modo: r emet i do à esfera do i nt angí vel ; t oma do como um f or a da l i nguagem const r uí do a par t i r da l i nguagem; apr eendi do senão pelo uso de recur sos t r opol ógl cos , o real se de( sen) cant a. Mai s não t emos o que Barthes, numa p assagem epi gráfica, d e s i gnou efeit o de r e a l 13. Com isso ele r es ume a noção de que todo real é pr oduzi do por um art i fíci o, vi gi ado por d e t e r mi na das convenç ões, de pende nt e de "i nteresses" especí ficos.

B A R T H E S , Rol a nd. O e f e i t o de r eal . In. O R u m o r d a L í n g u a . São Pa u l o , Br as i l i ens e, 1988, pp. 1 5 8 - 1 6 5 . Ma i s a d i a n t e f a r e mo s uma anál i se, à l uz de s s a s u g e s t ã o ba r t h e s i a n a , de c o mo R u b e m F o n s e c a , em A g o s t o , d e s d o b r a o real. Le i a - s e t a mbé m, num t e x t o a n t e r i o r o n d e Ba r t h e s , t r a t a n d o do s e n t i d o diz: "A p r o d u ç ã o do s e nt i do e s t á s u b me t i d a a c e r t a s r e gr a s ; o que q u e r d i z e r q ue as r e g r a s não de l i mi t a m o s ent i do, mas que, ao c o n t r á r i o , o c o n s t i t u e m; o s e nt i do não p o d e na s c e r o n d e a l i be r da de é nul a: o r e g i me do s e nt i do é o da l i b e r d a d e vi gi ada. S y s t è m e de la M o d e , Par i s, Seui l , 1967, a p u d op. c i t . , p. 40.

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18

Nesse cont e xt o, nos par ece que j á não é mai s o real que i nt er essa (e me s mo a verdade, a f i n a l i d a d e , um "motor" para a hi st ória). Se, como quer Hut c heon, a ênfase se desl oca menos para o p r o d u t o do que para o p r o c e s s o , mai s não t emos que uma cert a noção de real (e de ver dade ) como "efect o del t r abaj o de la e n unci ac i ón d i s c u r s i v a " 14.

Então, f i l t r ado pel os sent idos, à mer cê do crivo cri at i vo da i magi nação, vert i do num t ext o p r oduzi do ao sabor de seu t empo, se pode dizer, ass ume um out ro encanto: não t emos o real senão através de uma t r ans f us ão poét i ca, post o que deri va de uma manei r a de armar , de or gani zar o que é p e r . s e heter ogêneo. At ravés dessas ma n e i r a s de t r a ma r p o d e r e mo s t ecer um nexo ou elo entre di f er e nt e s esferas ( f i cci onal , h i s t or i ogr á f i c a) do discurso.

Vale l embr ar que, segundo Ro g e r Char t i er , a rel ação do t ext o com o real pode ser def i ni da por aqui l o que o pr ópr i o t ext o most r a como real. Para ele, o t ext o f a b r i c a o real. Este surge como um r ef er ent e si t uado no seu exterior. Mas esse pr oce ss o se faz segundo d e t e r mi n a d o s "model os di scursi vos" e " del i mi t ações i nt el ect uai s" pr ópr i as de cada si t uação de escrita. Se, por um lado, Char t i er p e r c e b e que aí se e s t abe l e ce m as r egr as de escr i t a pr ópri as do gênero de que o t ext o emana, de outro, ele não nega que esse pr oce ss o possa est ar r evest i do pel os conce i t os e obsessões dos seus p r o d u t o r e s 15.

A ê nf as e p o s t a me n o s no p r o d u t o do que no p r o c e d i me n t o a p a r e c e c o mo um c o n s e n s o e n t r e os p ó s - e s t r u t u t a l i s t a s . Ve r Li n d a H u t c h e o n , A P o é t i c a

d o P ó s - m o d e r n i s m o , 74. Q u a n t o à a f i r ma ç ã o da v e r d a d e c o m o um e f e i t o

di s c ur s i vo, ver: Da ni e l Li nk, E l L i b r o de l os C a u t o s , B u e n o s Ai res, La Ma r c a , 1992, p . 7.

(27)

c o ns t r uçã o do real ou a p r oduçã o do sent i do (na hi st ór i a, na

l i t er at ur a) tem como f orma de e s t r ut ur ação i nt er na uma

"col agem" de detalhes, restos, f r agment os - à medi da que pr es s upõe o tal he ou sel eção - bem como a ma n i p u l a ç ã o desses el e me n t o s segundo d e t e r mi na dos cri t éri os, E assim t r a n s f o r ma m- se em di scur so com o escopo de a l cançar a i nt el i gi bi l i dade. Em r esumo, t ant o o real como a verdade surgem aqui como e f ei t os que emanam da t ext ual i dade.

Isso parece s ubl i nhar a i mp o r t â n c i a do que ( r e) cor t a, or gani za, si nt et i za, enfi m, de uma série de p r o ce di me nt os at r avés dos quai s arqui t et a o t ext o no afã de r e( a ) p r e s e n t a r o real, torná- lo vivo, pul sante. Se, de um lado, isso nos sugere que o ar bi t r ár i o r epous a na base de t oda f abr i cação da real i dade, de out ro, subl i nha uma cert a noção de autor menos um "genio mi st er i oso" do que um t r ab a l h a d o r que mani pul a det er mi nados r ecur sos narrat ivos.

Daí deriva, com efeito, a escol ha por d et er mi nadas s i t uações e i nst ânci as narrat ivas. Dent re elas, b u s c a r e mo s pensar aqui sobre os aspect os conce r ne nt es ao modo de r egul ação da i nf or ma çã o de

É c o mo se a t u a l me n t e o mu n d o real t e n h a se t o r n a d o l i t e r a t u r a , n u ma q u e s t ã o de t e x t o s , r e p r e s e n t a ç õ e s , di s c u r s o s . O ví nc ul o e nt r e o t e x t o e o mu n d o é a g o r a r e mo l d a d o , não pe l o d e s a p a r e c i me n t o do t e x t o no i n t e r e s s e de u m r e t o r n o ao real, mas por u ma i n t e n s i f i c a ç ã o da t e x t u a l i d a d e q u e a t o r n a co- e x t e n s i v a c om o real. Co m ef ei t o, u ma v e z que o real se t r a n f o r m o u em d i s c u r s o , j á não há mai s s e p a r a ç ã o e n t r e t e x t o e mu n d o a s er t r a n s p o s t a . C O N N O R , St eve. P ô s - m o d e r n i s n o e l i te r a t u r a . In: C u l t u r a P ó s - m o d e r n a . São P a u l o , Loyol a , 1993, p . 107.

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Ag o s t o num ne ce ssá r i o dupl o movi ment o: o c ompr omi s s o com uma d e t e r mi n a d a p e r s p e c t i v a ( pr i ncí pi o const r ut i vo t oma do de e mp r é s t i mo à ar qui t et ur a) al i ado a um certo d i s t a n c i a me n t o adot ados pelo na r r a dor em r el ação à hi st ór i a que conta.

Ou seja, pr e t e n d e mo s a nal i s ar agora o campo (de

c o ns ci ê nci a) onde se dá a r e p r e s e n t a ç ã o da i nf or mação, o que i mp l i c a r á por ext ensão, pensar a r el ação entre a voz do n a r r a d o r e das per s onagens e a quest ão dos j o g o s t empor ai s. Tais e l e me n t o s nos p e r mi t i r ã o d et ect ar como Rube m Fons eca desdobr a o seu real.

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u m r e a l i n v e n t a d o

"A n a r r a t i v a d i z s e m p r e m e n o s d o q u e a q u i l o q u e s a b e , m a s f a z m u i t a s v e z e s s a b e r m a i s d o q u e a q u i l o q u e d i z " .

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22 2.1 A f a b r i c a ç ã o do r e a l C o n t a r uma h i s t ó r i a , eis a f u n ç ã o de t o d a n a r r a t i v a - s e j a e l a v e r o s s í m i l ou v e r í d i c a . Ao n a r r a d o r , c a b e a f u n ç ã o de a r t i c u l a r a c o n t i n u i d a d e do d i s c u r s o , a s e q ü ê n c i a dos a c o n t e c i m e n t o s . I sso i m p l i c a t o d a u m a s é r i e de e s c o l h a s , d e p e n d e n d o da r e l a ç ã o que a s s u m e c om o que c o n t a . E n t ã o p o d e m o s d i z e r que t a n t o a n a r r a t i v a h i s t ó r i c a q u a n t o a n a r r a t i v a l i t e r á r i a a p a r e c e m l i g a d a s a um g e s t o de o r d e n a ç ã o f o r m a l , o que não s i g n i f i c a que não p o s s a m c o n t a r s uas h i s t ó r i a s em d i f e r e n t e s n í v e i s ou g r a u s . Os m o v i m e n t o s que t a i s g e s t o s p r o d u z e m se d e f i n e m p e l o mo d o de r e g u l a ç ã o da i n f o r m a ç ã o . Daí o i n t e r e s s e em a n a l i s a r a n a r r a t i v a de A g o s t o ( u m a e x p e r i ê n c i a e n t r e o p o s s í v e l e o p r o v á v e l ) n u m n e c e s s á r i o d u p l o m o v i m e n t o : o c o m p r o m i s s o c om uma d e t e r m i n a d a p e r s p e c t i v a e com um c e r t o d i s t a n c i a m e n t o i n s t a u r a d o e n t r e o n a r r a d o r e o n a r r a d o 1. Ne s s e s e n t i d o , v i s a m o s p e n s a r aq u i o c a m p o (de c o n s c i ê n c i a ) no qu a l se dá a r e p r e s e n t a ç ã o da i n f o r m a ç ã o d i e g é t i c a . 1 G E N E T T E , G é r a r d . D i s c u r s o d a N a r r a t i v a . L i s b o a , V e g a , s / d , pp. 1 5 9 - 2 0 9 . P a r a G e n e t t e , os a s p e c t o s d a " d i s t â n c i a " e d o f o c o d e n a r r a ç ã o ( q u e a t i v a as p o s s i b i l i d a d e s d e p e r s p e c t i v a ç ã o n a r r a t i v a ) c o n f o r m a m o q u e d e n o m i n a " r e g u l a ç ã o d a i n f o r m a ç ã o n a r r a t i v a " , a t r a v é s d a q u a l p o d e - s e c o n t a r u m a h i s t ó r i a " d e m o d o m a i s ou m e n o s p o r m e n o r i z a d o , p r e c i s o , ' v i v o ' " ( p . 1 6 2 ) .

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I sso i m p l i c a r á , p o r e x t e n s ã o , a n a l i s a r t a m b é m a r e l a ç ã o e n t r e a voz do n a r r a d o r e a v o z das p e r s o n a g e n s . Com i ss o n ã o se p r e t e n d e t o m a r o t e x t o c o mo p r e t e x t o p a r a d e l í r i o s t a x i o n ô m i c o s . O n o s s o i n t e r e s s e e s t á n u m a m a n e i r a de d o b r a r e d e s d o b r a r o v i v i d o , na r e p r e s e n t a ç ã o do p a s s a d o , na f a b r i c a ç ã o de r eal . Se, c o mo nos e n s i n a a m e d i c i n a l e g a l p e n a l , a t r a j e t ó r i a da b a l a ou do f e r i m e n t o d e t e r m i n a a p o s i ç ã o do c r i m i n o s o , no c o r p o de t o d o t e x t o p o d e m o s e n c o n t r a r , i m p l í c i t a ou e x p l i c i t a m e n t e , m a r c a s que d e n u n c i a m a p r e s e n ç a do e s c r i t o r . Em A g o s t o , um n a r r a d o r o n i s c i e n t e o b s e r v a s o b e r a n a m e n t e os a c o n t e c i m e n t o s do e x t e r i o r ( da h i s t ó r i a ) , a t e n t o ao m í n i m o g e s t o , ao ma i s í n f i m o d e t a l h e , m e s m o p o r q u e é p o r aí q u e ele c r i a a s e n s a ç ã o de i m e r s ã o ao p a s s a d o . G r a ç a s a sua u b i q ü i d a d e , o h e r ó i " p r o b l e m á t i c o " e as d e m a i s p r o t a g o n i s t a s não só a g e m l i v r e m e n t e à f r e n t e do l e i t o r c o mo t a m b é m , às v e z e s , lhe é f a c u l t a d o o a c e s s o aos se us p e n s a m e n t o s , às s uas ma i s í n t i m a s c o n t u r b a ç õ e s . C l a r o que não se t r a t a de um s t r e a m o f c o n s c i o u s n e s à la V i r g i n i a W o l f ou C l a r i c e L i s p e c t o r . De q u a l q u e r mo d o , há uma t e n t a t i v a de l e v a r o l e i t o r ao " c o n h e c i m e n t o " das e l u c u b r a ç õ e s , r e m e m o r a ç õ e s , s e n t i m e n t o s das p e r s o n a g e n s nos seus e s t a m e n t o s ma i s ou m e n o s p r o f u n d o s de l u c i d e z ou de l o u c u r a , o que p r o b l e m a t i z a , c o mo v e r e m o s , a n o ç ã o de um t e m p o l i n e a r , m e d i d o s e g u n d o as e s c a l a s o b j e t i v a s , do c o n t i n u u m c r o n o l ó g i c o 2. 2 É c o m o se a r e a l i d a d e se d i s s o l v e s s e e m m ú l t i p l o s e m u l t í v o c o s r e f l e x o s d a c o n s c i ê n c i a , c o m o n o s f a l a A u e r b a c h , em M i m e s i s . O c a p í t u l o i n t i t u l a d o A M e i a M a r r o m é b a s t a n t e s i g n i f i c a t i v o p a r a se c o m p r e e n d e r e s s a o b s e s s ã o h o d i e r n a p e l o e s f a c e l a m e n t o e p e l a

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Q u a n t o à r e p r e s e n t a ç ã o do d i s c u r s o das p e r s o n a g e n s , no que t a n g e ao g r a u de m i m e s i s que r e g u l a sua p r o d u ç ã o , i s t o é, a m o d a l i d a d e de r e p r e s e n t a ç ã o da v i d a s o c i a l , em A g o s t o t e m o s m o r m e n t e u ma n a r r a t i v a em e s t i l o i n d i r e t o : "O p o r t e i r o da n o i t e do e d i f í c i o D e a u v i l l e o u v i u . . . " . Ma s a l g u m a s v e z e s e n c o n t r a m o s s ut i s d e s l i z e s p a r a o e s t i l o i n d i r e t o l i v r e : aí a p e r s o n a g e m " f a l a p e l a voz do n a r r a d o r e as d ua s i n s t â n c i a s p a r e c e m m o m e n t a n e a m e n t e c o n f u n d i d a s " 3. A p r e d o m i n â n c i a de u ma n a r r a ç ã o em t e r c e i r a p e s s o a ( " o u v i u " , " r e s p o n d e u " , "f oi ", " o l h o u " ) d e i x a m a r c a d a , de i m e d i a t o , a e s c o l h a do a u t o r p o r um m a i o r d i s t a n c i a m e n t o com r e l a ç ã o à( s ) h i s t ó r i a ( s ) q u e c o n t a . Nã o só n a r r a do e x t e r i o r c o mo t a m b é m p e r m a n e c e a u s e n t e e n q u a n t o p e r s o n a g e m da açã o. Qu e r d i z e r , não faz p a r t e do " mu n d o " n a r r a d o . e s t r a t i f i c a ç ã o d o t e m p o . V e r A U E R B A C H , E r i c . M i m e s i s . S ã o P a u l o , P e r s p e c t i v a , 1 9 9 4 , pp. 471 - 5 0 2 . 3 Op . c i t . 1 7 3 . N o q u e d i z r e s p e i t o a q u e s t ã o d a d i s t â n c i a n a r r a t i v a , G e n e t t e d i s t i n g u e t r ê s e s t a d o s p o s s í v e i s d o d i s c u r s o ( p r o n u n c i a d o o u " i n t e r i o r " ) d e p e r s o n a g e m . D e u m l a d o , o d i s c u r s o n a r r a t i v i z a d o o u c o n t a d o , no q u a l a p e r s o n a g e m a s s u m e o e s t a t u t o d a e n u n c i a ç ã o , o u m e l h o r d i z e n d o , q u e c o n s i s t e n a m e r a t r a n s c r i ç ã o d a s p a l a v r a s s u p o s t a m e n t e p r o n u n c i a d a s ( o u n ã o ) p e l a s p e r s o n a g e n s ; d e o u t r o , o d i s c u r s o t r a n s p o s t o e m e s t i l o i n d i r e t o o n d e c a b e a o n a r r a d o r a s s u m i r o e s t a t u t o d a e n u n c i a ç ã o e s e u v a r i a n t e , o d i s c u r s o , i n d i r e t o l i v r e , m a r c a d o p e l a c o n f l u ê n c i a d a v o z d o n a r r a d o r c o m a v o z d a s p e r s o n a g e n s ; e, f i n a l m e n t e o d i s c u r s o r e l a t a d o o u r e p o r t a d o d e t i p o d r a m á t i c o . C o n f e r i r pp. 1 6 8 - 1 83.

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É c o mo se v i s a s s e a s s e g u r a r uma c e r t a n e u t r a l i d a d e ou m a i o r " o b j e t i v i d a d e " ( p a r a se d e m o n s t r a r c o n f i á v e l ao l e i t o r ? ) ao n ã o a s s u m i r d e l i b e r a d a m e n t e a p e r s p e c t i v a de uma e n t r e as d i v e r s a s d r a m a t i s p e r s o n a e que c r i a m a " s e n s a ç ã o de vi da" no r o m a n c e , que p a r t i c i p a m da r e c o m p o s i ç ã o d e s s e p a s s a d o ao qu a l o l e i t o r é c o n v i d a d o , não sem um e f e t i v o e s t r a n h a m e n t o , a r e v i s i t a r . Ou se j a, em t al " d i s t a n c i a m e n t o " n a r r a t i v o que i n a u g u r a e f i n d a o t e x t o , não se e x c l u e m a m a n i f e s t a ç ã o de v á r i o s p o n t o s de v i s t a. Ao c o n t r á r i o , é j u s t a m e n t e no t r â n s i t o r á p i d o e n t r e u ma c e n a e o u t r a , na c o s t u r a de e l e m e n t o s h e t e r o g ê n e o s que o n a r r a d o r se m o s t r a a r t i c u l a n d o a m u l t i p l i c i d a d e de voz es . F i n g i n d o c e d e r a p a l a v r a às p e r s o n a g e n s . S u p e r p o n d o um i n s t a n t e num s e g u i n t e , um e s p a ç o n u m out r o. Ai n d a que as s e m e l h a n ç a s e n t r e o c o m i s s á r i o A l b e r t o M a t t o s e o c o m i s s á r i o R u b e m F o n s e c a não s e j a m m e r a s c o i n c i d ê n c i a s ( p o r e x e m p l o , c o mo o i n v e s t i g a d o r R o s a l v o , de A g o s t o , R u b e m F o n s e c a e s t a v a , de f at o, t o m a n d o um c o p o de l e i t e a p o u c o s m e t r o s do a t e n t a d o da R u a T o n e l e r o s , c o n t r a C a r l o s L a c e r d a , no di a 05 de a g o s t o de 1954) , r a r a m e n t e a " vi são" ou " p o n t o de vi s t a " p o s s i b i l i t a u ma s i t u a ç ã o em que a p e r s o n a g e m e s t e j a em c o n d i ç ã o de i g u a l d a d e com o n a r r a d o r . Os " el es" da h i s t ó r i a são s e m p r e v i s t o s sob a o n i s c i ê n c i a do "eu" do d i s c u r s o (o que vê). E s s e "eu" s o b e r a n o , m e l h o r , o s u j e i t o do d i s c u r s o p e r m a n e c e d i s t a n t e , f o c a l i z a n d o de c i ma ou "por t r ás" os a c o n t e c i m e n t o s . Es s e n a r r a d o r - c â m e r a r e m e t e a um c e r t o t i po de n a r r a d o r que S i l v i a n o S a n t i a g o c h a m a " p ó s - m o d e r n o " à m e d i d a que p r o c u r a e x t r a i r a si da a ç ã o n a r r a d a , em a t i t u d e s e m e l h a n t e à de um r e p ó r t e r ou de um e s p e c t a d o r . El e n a r r a a a çã o

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26 e n q u a n t o e s p e c t á c u l o a que a s s i s t e ( l i t e r a l m e n t e ou n ã o ) da p l a t é i a , da a r q u i b a n c a d a ou de u m a p o l t r o n a na s a l a de e s t a r ou na b i b l i o t e c a ; ele n ã o n a r r a e n q u a n t o a t u a n t e 4. A t i v a d a p e l a f o c a l i z a ç ã o o n i s c i e n t e , em A g o s t o , a p e r s p e c t i v a n a r r a t i v a se a l t e r ( n ) a . I s t o é, não se r e s t r i n g e a u m a das p e r s o n a g e n s . As m e s m a s s i t u a ç õ e s , p o r e x e m p l o , as r e i t e r a ç õ e s a c e r c a do â n i m o de G e t ú l i o V a r g a s , das o b s e s s õ e s de A l b e r t o M a t t o s , das t e n s õ e s s ó c i o - p o l í t i c a s d a q u e l e t u m u l t u a d o mês de a g o s t o , são e v o c a d a s m ú l t i p l a s v e z e s , s e g u n d o p o n t o s de v i s t a d i f e r e n t e s . I sso nos r e m e t e à q u e l a p r o b l e m á t i c a s o b r e a p o s s í v e l c o n f u s ã o e n t r e a f o c a l i z a ç ã o m ú l t i p l a e a f o c a l i z a ç ã o zero. De f at o, a p a r t i l h a e n t r e a f o c a l i z a ç ã o v a r i á v e l e não f o c a l i z a ç ã o é, por v e z e s , d i f í c i l de e s t a b e l e c e r , p o d e n d o a n a r r a t i v a n ã o - f o c a l i z a d a , na m a i o r p a r t e das v e z e s , se a n a l i s a r c o mo uma n a r r a t i v a m u l t i f o c a l i z a d a ad l i b i t u m 5.

O que p o d e ser u s a d o p a r a d i s s i p a r tal c o n f u s ã o é que, em A g o s t o , o n a r r a d o r o n i s c i e n t e , do i n t r o i t o e n i g m á t i c o ao t r e v e l l i n g ú l t i m o , p e r m a n e c e r e s p o n s á v e l p e l a o r g a n i z a ç ã o e m o d e l i z a ç ã o do u n i v e r s o d i e g é t i c o , se c o n s e r v a n d o um o b s e r v a d o r i m p e s s o a l e f l u t u a n t e . ^ S A N T I A G O , S i l v i a n o . O n a r r a d o r p ó s - m o d e r n o . I n: N a s M a l h a s d a L e t r a . S ã o P a u l o , C o m p a n h i a d a s L e t r a s , 1 9 8 9 , p . 39 ^ O p . c i t , p . 190. D e s t e m o d o , em A g o s t o p a s s a - s e à v o n t a d e ( a d l i b i t u m ) d a c o n s c i ê n c i a d o " h e r ó i " p a r a a d o n a r r a d o r , h a b i t a n d o r o t a t i v a m e n t e a d a s m a i s d i v e r s a s p e r s o n a g e n s .

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P o r o u t r a s p a l a v r a s , ao c o n t r á r i o de A G r a n d e A r t e , de 1983, c u j a p e c u l i a r i d a d e r e s i d e n u m a p o l i f o n i a de v o z e s p l e n i v a l e n t e s , i s t o é, as p e r s o n a g e n s p r i n c i p a i s são, em r e a l i d a d e , não a p e n a s o b j e t o s do d i s c u r s o do a u t o r ma s os p r ó p r i o s s u j e i t o s d e s s e d i s c u r s o s i g n i f i c a n t e 6, em A g o s t o , a i n d a que os p e n s a m e n t o s ou as f a l a s das p e r s o n a g e n s i n u n d e m o e s p a ç o d i e g é t i c o c o m s u a s r e s p e c t i v a s v i s õ e s de m u n d o , não se o s t e n t a m c o mo s u j e i t o s da n a r r a ç ã o - é ao n a r r a d o r que c a b e a f u n ç ã o de s e l e c i o n a r , a n a l i s a r e s i n t e t i z a r . Co m e f e i t o , é p e r t i n e n t e d i z e r que t al s i t u a ç ã o n a r r a t i v a a c u s a o que se p o d e c h a m a r o n i s c i ê n c i a com r e s t r i ç õ e s de c a m p o p a r c i a i s . Há, de f a t o, m a r c a s c o n s t a n t e s no t e c i d o n a r r a t i v o que d e n u n c i a m a f i g u r a de um e n u n c i a d o r ( u b i q ü o ) a t r a v é s do qual o p r e t é r i t o p e r d e a sua f u n ç ã o r eal ( h i s t ó r i c a ) do p r e t é r i t o j á que o l e i t o r , j u n t o c om o n a r r a d o r , " p r e s e n c i a " o d e s e n r o l a r dos e v e n t o s 7. A s s i m, o l e i t o r é t r a n s p o r t a d o ao â m a g o de um l a b i r i n t o t e c i d o de v i g í l i a e i n s â n i a , de i n a l t e r a b i l i d a d e e r e l a t i v a m u d a n ç a , de i r o n i a e c e t i c i s m o , de s i m e t r i a s e d i s p e r s õ e s , d e n u n c i a d a s na c o n f l u ê n c i a de v o z e s d i v e r s a s - " f r u s t r a n t e c í r c u l o v i c i o s o " . E, se pode d i z e r , só s a i r á d e s s e l a b i r i n t o nas ú l t i m a s l i n h a s do t e x t o ( não sem f i c a r c o m u m a c e r t a a c i d e z no e s t ô m a g o a c o r r o e r o â n i m o , u ma r e l a t i v a p e r t u r b a ç ã o na 6 Q u e r d i z e r , t a i s v o z e s " m a n t é m c o m o u t r a s v o z e s d o d i s c u r s o u m a r e l a ç ã o d e a b s o l u t a i g u a l d a d e c o m o p a r t i c i p a n t e s do g r a n d e d i á l o g o " . V e r B A K H T I N , M i k a i l . P r o b l e m a s d a P o é t i c a d e D o s t o i é v s k i . R i o d e J a n e i r o , F o r e n s e U n i v e r s i t á r i a , 1 9 8 1 , p . 2. ^ R O S E N F E L D , A n a t o l e t a l l i . L i t e r a t u r a e P e r s o n a g e m . I n. A P e r s o n a g e m d e F i c ç ã o . P e r s p e c t i v a , 1 9 8 7 , p . 26.

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28 c o n s c i ê n c i a 8 ( p e s s o a l , h i s t ó r i c a ) p a r a um p a s s e i o p o r s i t u a ç õ e s c o r r i q u e i r a s da u r b e c a r i o c a . N e s s e m o m e n t o de d e s c o n t r a ç ã o f i n a l , o n a r r a d o r , num t r e v e l l i n g ( p r i n c í p i o c o n s t r u t i v o t o m a d o de e m p r é s t i m o ao c i n e m a que p o d e ser t r a d u z i d o p o r " p a n o r a m i z a r " ) p a s s a a r e l a t a r um c o t i d i a n o que p a s s a , p a r e c e , a l h e i o à t r a m a n o i r que até e n t ã o se d e s e n r o l a v a . É c o m o se t o d a e s s a a t m o s f e r a de a g i t a ç ã o e t u r b u l ê n c i a n a r r a d a f o s s e m e r a m e n t e v i r t u a l , m e r a o b s e s s ã o do n a r r a d o r , à m e d i d a que, a p e s a r de t u d o , a " c i d a d e t eve um di a c a l m o ( . . . ) a m e n o " ( p . 349) . A s s i m, t a l v e z p a r a e n f a t i z a r um m o v i m e n t o de s o m b r a s r u m a n d o em d i r e ç ã o da luz - não sem i n ú m e r a s c a t a r s e s - a m a d r u g a d a n o i r que i n i c i a o r o m a n c e c e d e l u g a r a "um d i a a m e n o de sol "; os t e n s i o n a d o s " g u a r d i õ e s " da n o i t e (o a s s a s s i n o n e g r o , c a p a n g a de um i n d u s t r i a l ; o A n j o N e g r o , c h e f e da G u a r d a P r e s i d e n c i a l de V a r g a s ; o c o m i s s á r i o M a t t o s c o mo r e p r e s e n t a n t e da l ei , o p o r t e i r o da n o i t e do E d i f í c i o D e a u v i l l e ) c e d e m l u g a r ao b o m m o v i m e n t o do c o m é r c i o l o c a l , * P e r t u r b a ç ã o n o â n i m o , n a c o n s c i ê n c i a c o m o n a do Sr . D . , f u n c i o n á r i o d o N A I ( d a B i b l i o t e c a U n i v e r s i t á r i a d a U F S C ) q u e , d e p o i s d e g r a v a r a m i n i - s é r i e e x i b i d a p e l a R e d e G o b o , a m e u p e d i d o , d i s s e p e r p l e x o : " E n t ã o a c o i s a v e m d a i " , a l u d i n d o a ò j á e m b l e m á t i c o " m a r d e l a m a " q u e a s s o l a v a ( e a s s o l a ) a n a ç ã o . E n t ã o , p o d e - s e d i z e r q u e A g o s t o v e m s u p r i r u m a l a c u n a a o v o l t a r - s e p a r a h i s t ó r i a b r a s i l e i r a . N ã o d e i x a d e s e r p o r t a d o r d e u m a f u n ç ã o d i d á t i c a : e s c a n c a r a o s d e f e i t o s d o p a s s a d o c o n v e r t e n d o - s e n u m a a d v e r t ê n c i a o q u e , t a l v e z , p o s s a i n s u f l a r o l e i t o r , m e n o s a p e r m a n e c e r n u m a p o s i ç ã o d e c o m o d i s m o , d e a p a t i a , d o q u e d e s u b l i n h a r a i n e f i c á c i a d a a ç ã o i n d i v i d u a l , p o r e x e m p l o , n a l u t a p e l a c i d a d a n i a .

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à a f l u ê n c i a de e s p e c t a d o r e s nos c i n e m a s da c i d a d e , aos t u r i s t a s e n t u s i a s m a d o s que c h e g a v a m à C i d a d e M a r a v i l h o s a . A s s i m, a t e n s ã o d e r i v a d a do a s s a s s i n a t o i n i c i a l c u l m i n a na e x c i t a ç ã o de um g r u p o de p a r t i c i p a n t e s de u ma e x c u r s ã o , a s s a s s i n a t o s em sé r i e dão l u g a r ao m o v i m e n t o das m a t e r n i d a d e s . São e n i g m a s que p a s s a m p o r um p r o c e s s o r i t u a l de r e v e l a ç ã o , s o m b r a s p e n e t r a d a s p e l a luz; t e n s ã o q u e se r e s o l v e em, t a l v e z , f u g a d i s s i m u l a d a ( d i v e r s ã o ) ; t e m p o que p a s s a e, ao p a s s a r , a l t e r a o q u a d r o de p e r s o n a g e n s que v i v e m ou s i m u l a m ( r e ) v i v e r a h i s t ó r i a h u m a n a .

Or a, o que se e x i b e com i sso, a f o r a c o r r o b o r a r as p a l a v r a s a t r i b u í d a s a G e t ú l i o V a r g a s : "os h o m e n s p a s s a m , o B r a s i l c o n t i n u a " - não se r i a a t e s t a r u ma ve z ma i s que o a u t o r , p a r a r e c o m p o r um e s q u e c i m e n t o , d e s n u d a r p a r t e s do p a s s a d o , p a r a a u f e r i r m a i o r gr au de v e r o s s i m i l h a n ç a à n a r r a t i v a t e v e que se d e b r u ç a r s o b r e a r q u i v o s , as ma i s v a r i a d a s f o n t e s ? L e m b r a R o s a l v o , o a u x i l i a r de M a t t o s , em c u j a i n v e s t i g a ç ã o t e v e que f o l h e a r a l g u m a s " c o l e ç õ e s de j o r n a i s v e l h o s " ( p . 4 4 ) . Aí se t o r n a p a t e n t e o o l h a r do a u t o r ( i m p l í c i t o - n ã o d e i x a m a r c a s e x p l í c i t a s no e n u n c i a d o de sua p r e s e n ç a ) s i m u l a d o n u m n a r r a d o r o n i s c i e n t e a t r a v é s do q u a l , d e s d e o p r i m e i r o l a n c e , r e m e t e o l e i t o r p a r a um p a s s a d o p o s s í v e l , i n s p i r a d o nas p á g i n a s de j o r n a i s , r e v i s t a s , nos l i v r o s de H i s t ó r i a , nas p r ó p r i a s r e m i n i s c ê n c i a s . Um o l h a r a t e n t o p a s s e i a pe l o p a s s a d o , mas é um o l h a r o b s e s s i v o : v i s ã o m o n o c r o m á t i c a - p a r e c e "ver t u d o c i n z a " ( p . 46) , c o mo nos a n t i g o s f i l m e s em p r e t o e b r a n c o à lá H u m p h r e y B o g a r t . É c o mo se o t e m p o , o e s p a ç o ,

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