• Nenhum resultado encontrado

Download/Open

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Download/Open"

Copied!
70
0
0

Texto

(1)1. UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO. EZILENE NOGUEIRA RIBEIRO. EURICO ALFREDO NELSON (1862-1939) E A INSERÇÃO DOS BATISTAS EM BELÉM DO PARÁ. SÃO BERNARDO DO CAMPO 2011.

(2) 2. EZILENE NOGUEIRA RIBEIRO. EURICO ALFREDO NELSON (1862-1939) E A INSERÇÃO DOS BATISTAS EM BELÉM DO PARÁ. Dissertação apresentada no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, Faculdade de Humanidades e Direito, para obtenção do grau de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Lauri Emilio Wirth. SÃO BERNARDO DO CAMPO 2011.

(3) 3. EZILENE NOGUEIRA RIBEIRO. EURICO ALFREDO NELSON (1862-1939) E A INSERÇÃO DOS BATISTAS EM BELÉM DO PARÁ. Dissertação apresentada no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião à Universidade Metodista de São Paulo, Faculdade de Humanidades e Direito para obtenção do grau de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Lauri Emilio Wirth. Área de Concentração: Religião, Sociedade e Cultura Data de defesa: 04 de abril de 2011 Resultado:__APROVADA___. BANCA EXAMINADORA: Lauri Emilio Wirth. Prof.Dr. _________________________. Universidade Metodista de São Paulo. Leonildo Silveira Campos. Prof.Dr. _________________________. Universidade Metodista de São Paulo. Éber Ferreira Silveira Lima Universidade Nove de Julho. Prof.Dr. _________________________.

(4) 4. A dissertação de Mestrado sob o título “EURICO ALFREDO NELSON (1862-1939) E A INSERÇÃO DOS BATISTAS EM BELÉM DO PARÁ” elaborada por Ezilene Nogueira Ribeiro foi apresentada e aprovada em 04 de abril de 2011, perante banca examinadora composta por: Prof. Dr. Lauri Emilio Wirth ( Presidente/Universidade Metodista de São Paulo), Prof. Dr. Leonildo Silveira Campos (Titular/Universidade Metodista de São Paulo) e Prof.Dr. Éber Ferreira Silveira Lima (Titular/Universidade Nove de Julho).. Prof.Dr. Lauri Emilio Wirth Orientador/ Presidente da Banca Examinadora. Prof. Dr. Jung Mo Sung Coordenador do Programa de Pós-Graduação. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião. Área de Concentração: Religião, Sociedade e Cultura Linha de Pesquisa: Teologia e História.

(5) 5. Ribeiro, Ezilene Nogueira Eurico Alfredo Nelson (1862-1939) e a inserção dos batistas em Belém do Pará / Ezilene Nogueira Ribeiro. – São Bernardo do Campo, SP: Universidade Metodista de São Paulo, 2011. [8], 97 f.. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) - Universidade Metodista de São Paulo - Faculdade de Direitos e Humanidades, 2011. Resumo em português e inglês.. 1. Batistas – Pará. 2. Eurico Alfredo Nelson. 3. Igreja – Implantação. I. Título. CDD 286.8115.

(6) 6. Dedico este trabalho aos meus pais Cari e Maroca. E aos meus filhos Paulo e Lucas..

(7) 7. AGRADECIMENTOS. À CAPES, pela bolsa de Mestrado.. Ao meu orientador. Profissional muito competente e dedicado.. Aos meus pais Carivaldo e Maria da Luz.. Aos meus filhos Paulo e Lucas.. Ao IEPG e a boa acolhida na casa de estudante.. Devo igualmente grande gratidão aos professores da banca de qualificação na demonstração da existência de outros caminhos.. Ao Seminário Batista Equatorial, pela liberação das minhas atividades docentes no ano de 2009.. Ao delegado Luiz Alcântara, pela compreensão e liberação das minhas licenças funcionais.. Aos professores do curso, grandes mestres e aos colegas, grandes companheiros..

(8) 8. RIBEIRO, E.N. Lauri Emilio Wirth (orient.) Eurico Alfredo Nelson (1862-1939) e a inserção dos batistas em Belém do Pará, 2011. 105 p. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Universidade Metodista de São Paulo. São Bernardo do Campo, 2011.. RESUMO. Esta dissertação propõe-se apresentar alguns aspectos que favoreceram a chegada do cristianismo batista em Belém do Pará, nos idos do século XIX e XX. Além disso, se fará uma descrição da urbe, apontando alguns fatores que possibilitaram a imigração de Eurico Nelson. Trata-se de um sueco batista que veio “viver pela fé” numa cidade visivelmente adensada pelo processo de exploração da borracha e que permitia em seu cenário a movimentação de várias pessoas de diferentes nacionalidades, além do próprio homem procedente da Amazônia, que guarda forte herança indígena. Far-se-á um recorte dos seis primeiros anos da atuação de Eurico Nelson na cidade, analisando suas atividades religiosas nesse contexto cultural tão diferente do seu, como ponto de partida para entender as tessituras do cotidiano batista emergente no Pará. Ou seja, há uma suspeita de que os batistas de Belém do Pará, na história da implantação desta igreja, possuem características pouco contempladas por sua historiografia tradicional, que provavelmente decorrem da dinâmica de inserção neste contexto urbano específico.. Palavras chaves: Eurico Nelson, batistas, Pará..

(9) 9. RIBEIRO, E.N. Lauri Emilio Wirth (orient.) Eurico Alfredo Nelson (1862-1939) e a inserção dos batistas em Belém do Pará, 2011. 105 p. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Universidade Metodista de São Paulo. São Bernardo do Campo, 2011.. ABSTRACT. This paper intends to present some aspects that favored the arrival of Christianity Baptist in Belem, in the late nineteenth and twentieth centuries. In addition, a description will be the town, pointing out some factors that led to the immigration of Eurico Nelson. It is a Swedish Baptist who came to "live by faith" in a dense city clearly the process of exploitation of rubber in your scenario that allowed the movement of people from many different nationalities, besides the man himself coming from Amazon, which bears a strong Indian heritage. Far will be a cut of the first six years of activity in the city of Nelson Eurico, analyzing their religious activities in this cultural context so different from his, as a starting point for understanding the fabric of everyday Baptist emerging Pará That is, there a suspicion that the Baptists of Belém do Pará, in the history of implementation of this church, some features are covered by their traditional historiography, which probably arise from the dynamics of inclusion in this specific urban context.. Keywords: Eurico Nelson, Baptists, Pará..

(10) 10. SUMÁRIO. 1 Introdução .......................................................................................................................................... 11 Capítulo I: Imigração e Modernização em Belém................................................................................. 15 1.1 Notas Historiográficas ................................................................................................................ 16 1.2 Combatê-la é, pois, uma necessidade urgente: a febre amarela ................................................. 21 1.3 A chegada de Eurico Nelson em Belém do Pará ......................................................................... 28 Capítulo II: Missionário ou colportor? .................................................................................................. 34 2.1 A construção biográfica de Eurico Nelson ................................................................................. 45 2.2 Um guardião do passado? .......................................................................................................... 50 Capítulo III: Protestantes Batistas e a Era das Missões......................................................................... 56 3.1 Protestantismo Batista no Brasil. ............................................................................................... 63 3.2 Protestantismo Batista no Pará ................................................................................................... 67 3.3 A “saga” de Eurico Nelson em Belém do Pará: retratos de outra história ....................................72 Capítulo IV: Contra quem Eurico Nelson estava afinal lutando?......................................................... 81 4.1 Os metodistas? ............................................................................................................................ 82 4.2 Os batistas?...................................................................................................................................87 Considerações Finais ............................................................................................................................. 91 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 96 Fontes Primárias .............................................................................................................................. 100 Jornais: ............................................................................................................................................ 101 Fontes Secundárias ......................................................................................................................... 102 ANEXOS............................................................................................................................................. 103.

(11) 11. 1 Introdução. Há parcos registros no meio acadêmico dos primeiros anos de trabalho missionário de Eurico Nelson em Belém do Pará. Sobre sua permanência na região, esta pesquisa vale-se do que se encontra disponível nas biografias produzidas em torno de suas atividades, principalmente do acervo do próprio grupo batista (BRATCHER, 1953; PEREIRA, 1954; CRABTREE, 1962; LANDERS, 1982). Uma referência bibliográfica encontrada é do historiador Martin Dreher (1992) que analisou e discutiu a temática do protestantismo na Amazônia dentro de uma discussão mais ampla de estudos de história da igreja perguntando principalmente pelo sentido que a presença protestante teve na região e sobre os Batistas, conferiu a Eurico e Ida Nelson o pioneirismo das atividades religiosas do grupo. Deseja-se neste trabalho, descrever e analisar alguns aspectos que foram favoráveis a experiência religiosa batista no Pará, estabelecida tanto em relação à participação de Eurico Nelson no período da implantação de 1891 a 1897, quanto em relação ao contexto social que envolvia outros protagonistas, que recepcionaram a evangelização dos Nelson. Desta forma, destacam-se no primeiro capítulo, dois assuntos que foram citados por Eurico Nelson em um relatório publicado no Jornal Batista de 1923: a imigração e as epidemias, pois se compreendeu que os processos imigratórios marcaram intensamente o dia a dia da cidade, tornando o espaço urbano apropriado para o aparecimento de outras expressões religiosas, como a de Nelson. Com relação à segunda questão (as epidemias) compreendeu-se que os processos epidêmicos representavam um verdadeiro contrasenso diante da retórica elitista de atrair imigrantes para o Pará, mas os dois temas dentro de seus recortes permitem, por outro lado, uma visualização contextual mais completa, que se considera importante para os objetivos deste trabalho, que também levou em consideração a recorrente menção nas cartas pessoais de Eurico Nelson (fontes primárias desta pesquisa), das questões relacionadas ao contexto urbano. As cartas de Eurico Nelson utilizadas nesta pesquisa compõem o acervo Erik Alfred Nelson da Southern Baptist Historical Library and Archives, em Nasville. Esta instituição pertencente à Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos, com sede em Nasville, que disponibilizou para consulta pública várias cartas manuscritas e datilografadas, remetidas por Eurico Nelson a amigos, familiares e representantes das organizações batistas. Para os.

(12) 12. objetivos deste trabalho, deteve-se principalmente nas cartas que foram disponibilizadas a partir do ano de 18981 e dirigidas em sua maioria ao secretário executivo da Junta de Missões Estrangeiras com sede em Richmond (a Foreign Mission Board) – o Pr. Robert J. Willingham. O que se sabe a respeito do missionário batista Eurico Nelson (além das cartas) encontra-se publicado pela denominação Batista desde 19452. São biografias a respeito de sua vida missionária na Amazônia, da sua participação na fundação de igrejas batistas no Brasil e de sua experiência como colportor. Não há no texto biográfico, porém, informações mais precisas sobre a experiência social de Eurico Nelson com os sujeitos históricos paraenses, o que representa verdadeiro “ponto de partida” para o estudo proposto neste trabalho, embora sobre as biografias considera-se que sejam resultados de uma posição religiosa que é muito importante identificar ao longo de uma análise mais crítica sobre as histórias apresentadas. Toma-se como exemplo, a história da pouca referência que os biógrafos fazem dos primeiros adeptos paraenses em um cenário tão marcado pelas intensas transformações da cidade como tão bem foi demonstrado pela historiografia regional. Entre as biografias de Eurico Nelson, destaca-se neste trabalho a escrita de Pereira (1954) e Landers (1982), embora em alguns momentos desta dissertação tenha se citado as de Crabtree (1962) e Almeida ([197_?). Em geral, estes relatos pouco divergem a respeito dos episódios mais gerais da vida do biografado e sobre as culturas locais, quando muito se reportam, é de uma forma claramente preconceituosa, ao afirmar que o homem procedente da Amazônia era “ignorante e obscurecido pelo catolicismo” (PEREIRA, 1954, p.64)3 mas tratavase de uma “gente desconfiada mas boa de coração, donde iriam sair os futuros membros de suas igrejas” (PEREIRA, 1954, p.52).. 1 Quando Eurico Nelson já estava efetivamente vinculado à Junta de Richmond. 2 O pastor batista José dos Reis Pereira escreveu uma biografia de Nelson editada pela Casa Publicadora Batista, em 1945. 3 O Pastor José dos Reis Pereira compara o homem procedente da Amazônia como “certas crianças caprichosas, que recusam comida: se entre uma colherada e outra for intercalada uma brincadeira qualquer são capazes de comer um prato cheio de papa ou mingau. O povo ignorante, obscurecido pelo catolicismo, procede de fato como crianças caprichosas às quais é preciso oferecer o alimento que dá vida e saúde mediante cuidados e artifícios especiais”. (Cf. PEREIRA, 1954, p.58). O próprio Pereira Reis registra ainda que o início das atividades de Nelson foi desanimadora, pois “há anos que estavam trabalhando ali, pensavam êles, e não havia conversões”(ibid)..

(13) 13. Sem dúvida, o estudo das massas anônimas continua apresentando dificuldades para pesquisadores que têm interesse na temática, principalmente quando se deparam com o problema da falta de fontes escritas sobre a vida do indivíduo. Contudo, o acesso às cartas de Eurico Nelson possibilitou a visualização de outros sujeitos históricos que como afirma Trindade (1999) estavam “escondidos nas brumas” de uma historiografia que não lhes havia dado o devido lugar, trazendo novas informações sobre modos de pensar, estilo de vida, etc., e abrindo enfim, novas possibilidades de pesquisa. Além do mais, consideram-se neste trabalho as questões culturais do homem amazônico já bem discutidas pela Antropologia Regional nos estudos em andamento a respeito das suas práticas religiosas. Um importante trabalho realizado sobre esta temática vem sendo priorizado pelo antropólogo Heraldo Maués que analisa a religião na Amazônia a partir do homem procedente da região e que destacou das relações entre o homem e sua cultura, dois tipos de experiências religiosas no Pará: o catolicismo popular, compreendido “como um conjunto de crenças e práticas socialmente reconhecidas como católicas, de que partilham os não especialistas do sagrado, quer pertençam às classes subalternas ou as classes dominantes” (MAUÉS, 1985, p. 18)4 e a pajelança cabocla, entendida como uma “forma de culto mediúnico muito difundido na Amazônia” (ibid) que é objeto de estudo de vários pesquisadores (GALVÃO, 1955, 1983; MAUÉS, 1985, 1990, 2005 e FIGUEIREDO, 1996). Inicia-se então o primeiro capítulo desta dissertação com uma breve descrição do contexto da cidade onde se desenvolveu o cristianismo batista paraense propriamente dito, porém o objetivo será focalizar principalmente, o cotidiano dos sujeitos históricos que Eurico Nelson evangelizou através da colportagem5 em Belém do Pará da Bélle Epoque. Recorreremos aos espaços revisitados nos trabalhos historiográficos de Trindade (1999), Sarges (2000), 6 Fontes7 (2002), Campos (2004) e Lacerda 8(2006).. 4 Neste ponto, o antropólogo recortou como objeto de estudo as práticas religiosas das populações rurais da Amazônia. 5 A colportagem foi o primeiro método adotado por Eurico Nelson para evangelizar a população local. Vendia bíblias e novos testamentos em casa, nas ruas e nos bondes públicos. 6 Nazaré Sarges faz estudos sobre a reurbanização de Belém no final do século XIX e início do XX e o triunfo modernista expresso na Belle Epoque do Pará, no período áureo da borracha amazônica. 7 Edilza Fontes discute a presença de imigrantes portugueses em Belém, no período de 1884 a 1914. Analisou os projetos imigrantistas dos governos paraenses, as disputas no mercado de trabalho e a propaganda visando a vinda de imigrantes..

(14) 14. No segundo capítulo discuti-se a construção de uma dada memória de Eurico Nelson nas biografias de Pereira (1954) e Landers (1982), tomando como referência os pressupostos teóricos de Burke (1994), Levi (1996), Bourdieu (1996) e Campos (2006). Toma-se como questão central a produção de obras biográficas no seio das instituições religiosas, e no caso de Eurico Nelson, a construção e fixação de um modelo ideal de missionário que deveria ser seguido pelo grupo. O terceiro capítulo analisa e compara dois tipos de protestantismos distintos: o protestantismo batista brasileiro com fortes heranças americanas e o protestantismo batista que foi implantado no Pará que se considera eqüidistante do modelo de implantação do epicentro Sul e Sudeste. As cartas de Eurico e Ida Nelson e dos demais sujeitos históricos que foram encontrados pelo caminho deixam entrever que as experiências religiosas do casal de pioneiros são bem atípicas do modelo organizacional dos batistas (por várias razões apresentadas neste trabalho) e, conforme elas iam aparecendo nas narrativas do missionário Nelson ia se “checando” outras fontes como o jornal O Apologista Christão Brazileiro, do metodista Justus Nelson para melhor compreensão dos fatos mencionados e melhor visualização do que foi a inserção do protestantismo batista em Belém do Pará a partir de Eurico Nelson.. 8 Lacerda faz estudos sobre a chegada nordestina no Pará, principalmente oriundos do Ceará, no período de 1889 a 1916. Estuda as experiências sociais dos cearenses nesse contexto em transformação, examinando os muitos significados atribuídos a ela pelos migrantes..

(15) 15. Capítulo I: Imigração e Modernização em Belém.

(16) 16. Quando ainda residia na América, em um dia de Outubro de 1890, veio-me ao pensamento a idéia de trabalhar no Valle do Amazonas. Havia completado um mez como pregador do Evangelho, no Estado de Kansas, e o meu pensamento de trabalhar no Amazonas, era minha preocupação continua. Em janeiro de 1891, finalmente, resolvi seguir para Belém do Pará, onde cheguei no dia 19 de novembro do mesmo anno. Emquanto aprendia a língua portugueza, occupava-me em pregar a bordo dos navios de vela, surtos do porto de Belém, na maior parte norueguezes, suecos e inglezes, e a ajudar, nos hospitaes, o tratamento dos doentes, especialmente estrangeiros, atacados de febre amarella, que então grassava intensamente. Em janeiro de 1893, casei-me, no consulado norte-americano com d. Ida que também veio do Kansas para trabalhar nesta. Em Fev. de 1896, foi organizada a Primeira Igreja Baptista de Belém, e em Agosto do anno seguinte, fiz a primeira visita a Manáos. 9. 1.1 Notas Historiográficas. A exploração da borracha na Amazônia contribuiu para uma série de mudanças em Belém do Pará bem antes de Eurico Nelson aportar no vapor Esperança10, em 19 de novembro de 1891. A ocupação da cidade por grandes levas de imigrantes estrangeiros de diversas origens e condições sociais, além de nordestinos, atraídos pela ideia de riqueza fácil, trouxe a sensação de “euforia de riqueza” (SARGES, 2000, p.20) para os moradores de uma cidade que na virada do século “estava em ritmo de certo crescimento em virtude da economia da borracha” (LACERDA, 2002, p.397) Embora esse crescimento contínuo fosse de fato reflexo do ciclo econômico, já que o período entre 1870 a 1920 é “considerado pela historiografia regional como a fase áurea da exploração do látex” (FONTES, 2002, p.82), as maiores fortunas da região pertenciam aos grandes proprietários dos barracões da borracha que enriqueciam também com a prática dos aviamentos11 e eram possuidores de grandes palacetes no centro da cidade, cada vez mais adensado com a chegada de visitantes na província. O espaço urbano em razão do processo de 9 O Jornal Batista. Belém, 04 jan.1923, p.10. Doravante OJB. Este texto está respeitando a grafia original, com todas as lacunas de sentido, além dos erros, ortográficos e sintáticos. 10 Há uma divergência em relação a data da chegada de Eurico Nelson e em relação ao nome do vapor. Cf. O Apologista Christão Brazileiro, doravante ACB de 21/11/1891, n.42. 11 Esta temática foi estudada por Lacerda (2002), ao analisar a rota que os nordestinos cearenses faziam até os seringais quando várias regiões interioranas do Pará recebiam grandes levas de pessoas saídas do Ceará. Ainda naquele Estado eram agenciados por empresas que contratavam mão de obra barata, em troca de transporte e mercadorias..

(17) 17. crescimento ia se transformando continuamente com o “calçamento das ruas com paralelepípedos de granitos importados da Europa, construção de prédios públicos, casarões em azulejos, monumentos, praças, etc.” (SARGES, 2000, p.16). Além desse aspecto, Fontes (2002) ao discutir os processos imigratórios ocorridos em Belém no final do século XIX, afirma que o Pará também foi marcado pelo “movimento histórico da crise gerada pelo fim da escravidão brasileira” (p.257) e com o auge do ciclo da borracha até a mão de obra procedente da Amazônia foi convocada para as áreas extrativas dos seringais, enquanto que “a maior parte da mão de obra que aportava em Belém” (ibid) se dirigia aos seringais que sempre recebiam as maiores demandas de trabalhadores. Os principais representantes dos setores agrícolas e extrativistas percebiam na aproximação da abolição da escravidão brasileira que seus problemas aumentariam ainda mais e debatiam soluções viáveis para a crise de mão de obra do Pará, sem, porém, encontrar consenso a respeito da mais adequada. Debates geralmente “acalorados”(FONTES, 2002, p.7) que só tinham um ponto em comum: a defesa de que “seria pela imigração estrangeira que o trabalho inteligente e a riqueza chegariam ao Pará”12. Dentro desse contexto de discussão, a resposta viável foi à implantação dos “projetos imigrantistas” (FONTES, 2002, p. 5) que propunham “a substituição do trabalho escravo pelo trabalho do imigrante europeu, através da atração para a Região Norte de parte da corrente imigratória que se dirigia para outros estados” (ibid). Ressaltou a autora que os setores econômicos paraenses defendiam o aproveitamento da mão de obra européia sim, porém sem elaborar políticas de fixação dos recém-chegados na região, limitando-se apenas a atraí-los com propagandas sedutoras a respeito da possibilidade de enriquecer no Pará13. Além disso, diversos discursos procuravam defender a imigração européia no Pará, mas um em particular chamou a atenção de Fontes: a política de “branqueamento”. 12 Esta afirmação carregada de juízo de valor foi analisada pela historiadora paraense em sua tese de doutorado. Analisou a discussão entre os setores econômicos, principalmente em relação a opção feita pelas classes proprietárias paraenses de atrair a imigração portuguesa para Belém na virada do século XIX para o XX (idem, p.20). 13 Conforme Fontes (2002) estas propagandas iam desde a apresentação do Estado como um patrocinador da modernização até o ideário de progresso na região, ideia também analisada por Sarges (2000) ao afirmar que o “conceito de modernidade está ligado ao de progresso através do desenvolvimento da vida urbana, da construção de ferrovias, da intensificação das transações comerciais e da internacionalização de mercados”. (SARGES, 2000, p. 92)..

(18) 18. (BEZERRA NETO, 1998, p.244), que procurava intensificar os processos de miscigenação iniciados no período colonial e era usada como uma das justificativas para os casamentos inter-raciais ou inter-étnicos com o fim de embranquecer uma população predominantemente indígena. Na época, o principal defensor desse discurso foi o jornalista paraense José Veríssimo14 quando afirmava que o elemento branco era o fator “mais importante” na constituição do povo paraense, por “ter-lhe dado a língua, a religião, a cultura e civilização” (VERÍSSIMO, 1900 apud FONTES, 2002 p.49), visão claramente etnográfica quando defendia “que houvesse a hegemonia dos elementos raciais superiores durante o processo de mestiçagem, substituindo-se os caracteres e morais daqueles considerados inferiores” (p.246). Soluções para o problema da mão de obra escassa, principalmente no setor agrário, atração de correntes migratórias, constituição de um mercado de trabalho “numeroso, disciplinado e dependente”(FONTES, 2006, p.8) foram políticas implantadas no Pará para atender às classes proprietárias e para o sucesso desses projetos. Fontes, inclusive, destacou uma série de propagandas15 dirigidas aos países europeus com a intenção de colocar o estado em maior visibilidade, embora nem todos os grupos sociais da província desejassem a vinda de qualquer europeu. Nos jornais da época, a historiadora encontrou noticiada a opção de preferência de parte daqueles que defendiam, por exemplo, a vinda do imigrante português como “o único que se aclimataria e se fixaria” (p.12) na região. Para a consolidação de um mercado de trabalho no Pará a partir do imigrante europeu, dois argumentos foram colocados na pauta das reuniões das grandes classes proprietárias que defendiam os projetos imigrantistas: a defesa de que no Estado havia um pólo de desenvolvimento que correspondia ao processo econômico advindo da exploração da goma elástica e o grande desejo de comprovar que já havia sido alcançado o grau do 14 Sobre a temática do pensamento social e etnografia em José Veríssimo, Bezerra Neto (1998) faz uma análise dos principais aspectos das teses de José Veríssimo acerca das sociedades amazônicas quando afirma que o intelectual paraense foi “fortemente influenciado pelo naturalismo, evolucionismo e positivismo” e chegando a conclusão que o conteúdo de suas obra é nitidamente etnográfico “a partir das vinculações com os paradigmas postulados pela famosa Geração de 70”. Cf. Bezerra Neto (1998, p.239-261). 15 O Barão de Sant‟Anna Nery foi encarregado através de um contrato com o governo da Província, de fazer propaganda na Europa em favor da imigração “e tornar conhecidas as condições da Província por meio de conferências, publicações e de um guia para os imigrantes. Estabeleceu também que deveria haver uma exposição permanente de produtos paraenses na sede da agência central em Paris (FONTES, 2002, p.23)..

(19) 19. “processo civilizatório” e que além do mais a região não era mais “um inferno verde, mas como um paraíso a espera de ser descoberto” (FONTES, 2002, p.43). Tanto a questão da imigração como a do ideário que valorizava o trabalho assalariado no Brasil no início da Modernidade são questões já bem discutidas pela historiografia brasileira,16 pois a Modernidade resultou em profundas transformações na sociedade com os seus lentos processos de inserção na nova economia capitalista. Dentre tais transformações deseja-se destacar duas grandes conseqüências para o Brasil e para o Estado do Pará: o crescimento populacional e a urbanização. A primeira, porque foi responsável pelo adensamento das cidades, quando as pessoas tiveram que se adaptar a uma nova realidade e por consequência a segunda, porque se promovia uma transformação da urbe quase sempre em prol de um nível de reprodução do capital que circulava no processo de acumulação de riquezas das grandes classes proprietárias. Com relação à cidade de Belém do Pará, Sarges (2000) afiança que o processo da urbanização teve um impulso significativo, porém específico. O desenvolvimento da cidade não se deu em torno de um impacto industrial expressivo, como nas demais capitais brasileiras, e sim, em torno da exploração da borracha que atingiu a Amazônia no período de 1870 a 1910. Como a cidade tornou-se o principal “porto de escoamento” (p.89) da borracha, sofreu como resultado, o impacto do crescimento populacional visível ainda mais com a chegada de estrangeiros e nordestinos. A preocupação das elites da borracha com a ordenação do espaço, muito contribuiu para a rápida alteração demográfica da capital paraense que, no entanto esbarrou em mais dois problemas encontrados: a questão das moradias e das epidemias. Sobre a chegada de visitantes, Lacerda nos recorda que Viver no Pará da virada do século XIX e primeiras décadas do século XX e aí adaptar-se, provavelmente não era tarefa das mais fáceis para o imigrante recémchegado da Europa ou para aqueles que saiam dos sertões cearenses. As dificuldades eram muitas e iam desde uma nova língua que deveria ser aprendida até uma ocupação produtiva que com urgência deveria ser arranjada pelo recém-chegado. (LACERDA, 2002, p.397).. 16 Cf. Sidney Chalhoub (1986), Alain Corbin(1987) Marshall Berman (1988), Carl Schorske (1988) e Richard Sennet (1988) ..

(20) 20. Lacerda (2006) demonstra que a adaptação do recém-chegado não era uma tarefa fácil e que era comum a preocupação com as instalações depois do desembarque no porto, mas em geral, o migrante cearense que viajava por conta própria “se dirigia à casa de algum parente, ou para um dos muitos hotéis ou casas de pensão, espalhados pela cidade”. (p.176) Esta autora ressaltou, porém, que a falta de infra-estrutura na cidade era um problema não resolvido da administração pública, pois no momento da chegada dos visitantes não havia uma recepção organizada, contribuindo para que vivessem em “aglomerações inconvenientes” (ibid, p. 177). O problema dos altos valores cobrados nos aluguéis foi um dos assuntos mais recorrentes nas cartas pessoais de Eurico Nelson, embora se destaque que os cearenses chegados à região vinham com uma finalidade específica, pois os setores que os agenciavam, logo na ocasião da chegada, cobravam deles “um enquadramento o mais breve possível nas relações de produção” (LACERDA, 2002, p.177), enquanto que a alocação prévia de estrangeiros dependeria principalmente de duas opções: estar com subvenção do governo ou atender alguma demanda de trabalho pré-estabelecido. Nenhuma dessas opções foi o caso de Eurico Nelson. Já com relação aos imigrantes estrangeiros, a historiografia também confirma que o fluxo de pessoas nos portos de Belém era continuo e acentuado no período áureo da borracha, pois entre os anos de 1890 a 1901, “a propaganda do Estado do Pará estava em plena ação na Europa” (FONTES, 2002, p.75) e que o número de habitantes estrangeiros no consulado indicavam que várias pessoas estavam imigrando para Belém, computando 7.316 estrangeiros no Pará, o que representava 1,5% sobre a população total. Em Belém existiam 6.529 recenseados, embora Fontes (2002) tenha ressaltado que estes números poderiam ser bem maiores já que seus dados de pesquisa delimitaram-se a população portuguesa. Entre os anos de 1908 a 1911 entraram nos portos de Belém 19.500 estrangeiros que basicamente desenvolviam serviços urbanos na capital e a maior parte deles era de origem portuguesa. Confirmando o que Lacerda (2006) compreendeu a respeito da chegada dos imigrantes nordestinos, Fontes também afirmou que:. As redes familiares ou de vizinhança foram responsáveis pela introdução e alocação de imigrantes no Pará. Muitos vinham aos cuidados de um tio, um irmão, do pai, ou recomendados a antigos vizinhos ou amigos. Estas redes de solidariedade podem ser observadas na análise de autos policiais. (FONTES, 2002, p.91).

(21) 21. Os que vinham subvencionados pelo estado, como era o caso dos portugueses, encontravam com maior facilidade moradias para alugar em Belém e muitas vezes já contavam com um familiar no aguardo da chegada, enquanto que aqueles outros, vindos espontaneamente, como era o caso de Eurico Nelson, enfrentavam as duras dificuldades de encontrar lugar em Belém naquela ocasião, pois tinham que dispor de altos valores para o pagamento de um aluguel exorbitante, em geral, nas áreas mais centrais da cidade. Estes eram os espaços de moradia das elites, logo eram áreas privilegiadas e com os valores acima do orçamento da maioria populacional, esta última em geral, morava nas áreas periféricas mais baratas, porém contempladas por todos os tipos de problemas decorrentes de falta de estrutura. Fontes afirma que os imigrantes que “chegavam à região vieram diretamente para o Pará, sem passar pelo Rio de Janeiro ou São Paulo”(FONTES, 2002, p.106), situação facilitada pela estreita ligação entre o Brasil e os Estados Unidos através das companhias de navegação que traziam aos portos brasileiros, diversos imigrantes procedentes da Europa e dos Estados Unidos. Como a atração de obra se deu diretamente no exterior, este provavelmente foi o caso de um estrangeiro recém-chegado à cidade em 1891, que se quer destacar neste trabalho, o batista Eurico Alfredo Nelson.. 1.2 Combatê-la é, pois, uma necessidade urgente: a febre amarela. Eurico Nelson foi um dos tantos imigrantes europeus em Belém do Pará na virada do século XIX para o XX, e como se percebe na narrativa que abre este capítulo, entendeu de imediato os problemas incididos em estar na cidade no período áureo da borracha. Sobre sua permanência em Belém destacou na mesma narrativa o impacto social causado pela febre amarela17, principalmente entre os estrangeiros que contraiam a doença durante o trajeto até a 17 De acordo com Figueiredo (2000), as epidemias de febre amarela urbana relacionam-se a fatores de ordem social e climática e em geral, os surtos iniciais ocorrem quando o vírus é introduzido através de indivíduos infectados em comunidade humana suscetível, com moradias infestadas pelo mosquito vetor e sob condições de temperatura e umidade elevadas, estimulando sua multiplicação. Este autor também indica que há um segundo tipo de transmissão detectado em 1930, sem a presença do mosquito transmissor Aedes aegypti, quando os indivíduos acometidos eram trabalhadores das matas, admitindo-se uma forma de amarela silvestre, causada pelo.

(22) 22. cidade e que permaneciam em “quarentena” 18 nas embarcações fiscalizadas pela Comissão de Saúde da província. Beltrão afirma que o tema das epidemias é uma “trama extraordinariamente rica, sobretudo pela possibilidade de estudar um momento de crise quando as ações sociais ganham maior visibilidade e apontam mudanças”(BELTRÃO, 2004, p.36), o que parece bem adequado aos objetivos desta pesquisa que propõe estudar o contexto que gesta a igreja batista do Pará, pois as ações de Eurico Nelson diante de tais contingências revelam que não ficou alheio aos problemas que iam surgindo durante sua permanência em Belém e para tanto, considera-se que sua esposa Ida Nelson, contraiu febre amarela em duas ocasiões diferentes: uma logo depois do casamento (PEREIRA, 1954) e outra depois do nascimento do primeiro filho do casal, fato que foi registrado pelo também sueco Justus Nelson, redator do jornal O Apologista Crhistão Brazileiro da Igreja Metodista, quando citou que a esposa do Pastor, D. Ida W.Nelson, cahiu doente de febre amarela em 17 do mês findo, porém na data de escrever– se esta noticia (27), já se acha felizmente em franca convalescência. 19. São os estudos antropológicos sobre epidemias no Pará que de fato colocam em maior visibilidade a experiência social dos vários moradores de Belém que passaram muito tempo não percebidos pela historiografia oficial e que muito além do quadro de sofrimento e calamidades, os processos ocasionados pelas epidemias colocavam na vanguarda àquela imagem idealizada das elites que era utilizada para atrair visitantes à província e que além de tudo, divulgavam o grave problema de saúde pública que rondava a província como resultado constante das formas diferentes de administrar a cidade, ou seja, as doenças acabavam derrubando os argumentos defendidos pelos sanitaristas, como por exemplo, o de Américo Campos que defendia a imigração estrangeira a partir do uso de uma série de medidas contato do homem com um ciclo de transmissão que envolvesse macacos e mosquitos haemagogus e que o ciclo silvestre ocorre quando o homem adquire febre amarela quando penetra neste meio ambiente, atingindo principalmente lenhadores, garimpeiros, seringueiros e outras pessoas ligadas a vida nas matas e que no Brasil as epidemias de febre amarela costumam se originar na Amazônia. 18 Com o episódio da epidemia de cólera morbus no Pará no ano de 1855, foram determinadas algumas disposições pelo presidente da província para conter a entrada de afetados, entre elas dispunha-se que os navios suspeitos ou que viessem de portos suspeitos ou com casos confirmados, fossem obrigados a quarentena em frente à ilha de Tatuoca. Disposição relacionada provavelmente ao fato ocorrido no Rio de Janeiro no ano de 1849, quando marinheiros doentes do navio dinamarquês Navarre iniciaram a transmissão da doença no Brasil. Cf. Vianna (1906) e Figueiredo (2000). 19 ACB, de 01 jan. 1895, p.03. Este texto está respeitando a grafia original, com todas as lacunas de sentido, além dos erros, ortográficos e sintáticos..

(23) 23. sanitaristas e com a constituição de uma “polícia higiênica”20 coercitiva no cumprimento do código de posturas da cidade. No Pará, este olhar desfavorável à imigração foi acolhido principalmente pelos médicos sanitaristas contrários a vinda de imigrantes para Belém (VIANNA, 1906), como bem demonstra Arthur Vianna ao citar que Houve uma causa que originou essa deplorável propagação da febre amarela, e alimentou-se durante mais de um lustro – a emigração estrangeira, quer promovida pelo governo, quer espontânea. [...] Infelizmente a emigração em massa devia ser um desastre: não estávamos preparados para fazê-la com resultados profícuos. (VIANNA, 1975 [1906], p.93).. Um dos sanitaristas contrário à imigração estrangeira foi sem dúvida, o farmacêutico Arthur Vianna21 (1906) ao afirmar em seu estudo sobre as epidemias no Pará, que a epidemia de febre amarela no final do século XIX, propagou-se rapidamente na província e de fato resultou num grande número de doentes, embora tenha destacado que entre a população paraense não houve nenhum caso de morte registrado, fato que compreendeu da seguinte forma A febre não ataca os filhos da cidade, nem os estrangeiros e filhos de outros estados já longamente estabelecidos aqui; a recente estadia é uma condição primacial, excepcionalmente violada. Um fato digno de ser assinalado é a completa imunidade do paraense, filho da cidade ou nela residindo há muito. [...] O nosso povo desconhece por completo o papel altamente importante que os mosquitos desempenham na transmissão das moléstias, quando os combates com defumações e uso de mosquiteiros é com o fim único de evitar as ferroadas incômodas. [..] Combatê-la é, pois, uma necessidade urgente. (VIANNA, 1975[1906], p.97-99).. Para este autor, fazer uso de mosquiteiros e defumações nas casas mais pobres foram os fatores responsáveis pela imunização da maioria populacional que desconhecia que o 20 Este termo, segundo Sarges (2000), faz referência à criação da Policia Municipal através da Lei n. 158 de 17/12/1897, que desempenhava o papel de “zelador da ordem pública, exigindo do cidadão que agisse de acordo com os padrões higiênicos definidos pelas autoridades sanitárias” (p.98) e que lhe atribuía “poder de interferir na higienização dos estabelecimentos públicos, habitações coletivas, hotéis, pensões, hospitais, barbearias, mercados, asilos, fábricas, até o controle de alimentos a serem vendidos à população” (p.99). 21 Conforme Sarges (2002), Arthur Octávio Nobre Vianna (1873-1911) nasceu em Belém e estudou no Lyceu Paraense, diplomou-se em Farmácia pela antiga Escola de Farmácia do Pará, recebendo o título de “Farmacêutico laureado pela Escola do Pará”. Era o irmão mais velho do médico Gaspar Vianna. Em 1911, quando terminava o curso de medicina, faleceu no Rio de Janeiro, com apenas 38 anos de idade. (p. 97)..

(24) 24. carapanã Stegomyia fasciata,22 era o transmissor do causador da doença. Vianna ainda informou que entre os anos de 1891 a 1894 o quadro de mortos havia diminuído bastante, embora tenha ultrapassado os limites dos anos de 1855, 1871, 1883 e 1887 que foram considerados os mais agudos e quanto às medidas sanitárias adotadas para combater a febre amarela, citou ainda que os médicos sanitaristas promoveram uma “campanha de extermínio ao mosquito que seria imprescindível para redução dos afetados” (VIANNA, 1975, p.101) e que era “raro, raríssimo mesmo” ver um enfermo de febre amarela tratado em domicílio “com a observância das prescrições científicas, sob o ponto de vista profilático” (p.100). A respeito desse tratamento em domicílio, o sanitarista assegurou que no período de intensa imigração estrangeira em Belém, os quartos de hotéis eram usados para hospedar os doentes de febre amarela, que quando tratados em casa promovia a infecção de um membro após outro da família “o que se pressupunha a imposição de medidas necessárias, como a desinfecção regular e apropriada dos prédios para combater o mosquito” (ibid), e por esta razão se justificava a notificação compulsória à Comissão de Higiene Pública, conforme o art.43 do Código de Postura Municipal que determinava que “nenhum morador poderia ter em casa pessoa infectada de doença epidêmica sob pena de pagar uma pesada multa”(SARGES, 2000, p.102), motivo pelo qual se têm dúvidas com respeito a fundação de um asilo para atender pessoas portadoras de febre amarela pelo sueco Eurico Nelson. Sobre este asilo, tanto o pastor José Pereira dos Reis como Asa Routh Crabtree comentam que a experiência de Eurico Nelson em Belém foi uma “aventura de fé”(CRABTREE, 1962, p.198), pois alguns dêstes forasteiros achavam-se acometidos de febre amarela e outras moléstias, e sentiam-se desamparados, na miséria. Depois de trazer-lhes a mensagem confortadora do evangelho, o coração do pregador, transbordante de compaixão para com os pobres marinheiros, resolveu logo fundar para êles, um asilo na cidade. O asilo foi sustentado por ofertas voluntárias. (ibid). Os hospitais que recepcionavam os doentes foram escolhidos pela Comissão de Higiene Pública para o isolamento dos doentes por epidemias. Na biografia de Pereira (1954) há um único episódio narrado sobre a experiência de Eurico Nelson nos hospitais da cidade, que trata-se da visita que fez com a esposa a uma jovem noruegueza que “estava se. 22 Na época do contágio a que se refere o autor, era o nome científico em latim do mosquito transmissor da febre amarela e, hoje, é conhecido pelo nome de Aedes aegypti..

(25) 25. preparando para ser enfermeira” (p.49) e morreu em Belém em decorrencia de febre amarela no Hospital São Francisco da Penitência. Ao tratar dos locais que atendiam pessoas portadoras de febre amarela, Fontes (2002) destacou que em 1871 ocorreu uma quadra de febre amarela em Belém que investia principalmente contra estrangeiros estabelecidos na cidade e como forma de conter os avanços, a política pública formou uma “Comissão de Socorros” em todos os distritos da capital, criando enfermarias especiais na Santa Casa de Misericórdia para os doentes pobres. Além dessa medida criou-se uma Comissão Portuguesa de Socorros aos Indigentes que angariava recursos especificamente para o tratamento dos indigentes e os hospitais da Real Sociedade Beneficente Portuguesa e o da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência para receber os imigrantes que chegavam à cidade através dos portos. Todos esses hospitais, ou eram dirigidos pelas ordens religiosas ou eram dirigidas por irmandades específicas. A Santa Casa, por exemplo, era a instituição que mais atendia à comunidade carente, mesmo não contando com pessoal qualificado e nem com número suficiente de profissionais para atender a demanda. Contava com poucas enfermarias e muitas vezes as pessoas ficavam nos corredores ou nos cantos aguardando atendimento.23 Segundo Beltrão (2004), os processos epidêmicos no Pará e suas deletérias conseqüências foi assunto considerado costumeiro na Província na época, pois além da exposição das pessoas, a região não contava com um expressivo grau de saneamento básico, de educação sanitária e condições adequadas de higiene. Beltrão assegura também que todas as vezes que se comunicava uma quadra epidêmica à Comissão de Saúde Pública, esta se encarregava de executar medidas para combater à doença, que em grande parte eram carregadas de ações morais e disciplinadoras, que visavam organizar e disciplinar o comportamento das pessoas na cidade, “expurgando do meio urbano” (TRINDADE, 1999, p.24) àqueles que destoavam do ideal sanitarista presente nas medidas de controle. Fontes (2006) afirmou que na brochura o Pará em 1900, o médico e inspetor sanitário Américo Campos argumentava que de fato o Pará era um paraíso, porém os males. 23 Cf. VIANNA (1992 [1902)..

(26) 26. que chegavam à região eram exportados de fora, não sendo resultado nem do solo da Amazônia e nem tampouco de seu clima. Como patrono da imigração, Américo Campos defendia como causa dessas moléstias a ação do homem que não tomava todos os cuidados com a higiene e que as autoridades competentes estavam obrigadas a “punir os infratores” por menor que fosse o delito, obrigando a todos a cumprir as disposições dos códigos de postura ou dos regulamentos sanitários, pois só desta forma se extinguiria as moléstias. Fontes (2006) atribuiu a atividade profissional de Américo Campos (infectologista) à percepção do valor que as medidas higiênicas e saneadoras tinham sobre as doenças, pois defendia a tese que o homem deveria educar-se para remover os focos que poderiam originar epidemias e que a febre amarela concentrada em Belém atacava apenas os recém-chegados, principalmente os que na cidade moravam em casas anti-higiênicas, sem espaço, sem luz e sem limpeza, elementos que a autora identificou como parte de um discurso que defendia o princípio de “práticas políticas, definidores de políticas públicas [...] em nome de um discurso civilizado” (FONTES, 2002, p.49). Além do mais, o cuidado com a imagem da cidade era tão grande que Fontes (2006) destacou ainda a criação de uma série de órgãos responsáveis em fiscalizar as demandas 24. Aspectos que também foram destacados no trabalho de Sarges (2002) ao afirmar que a Belle Époque imprimia a redefinição do espaço urbano, a redistribuição dos locais destinados aos serviços sanitários e o emprego de mecanismos de controle dos hábitos da população, o que tornava visível a distinção entre as áreas dos ricos e as áreas periféricas destinadas á população mais pobre. Quanto à atividade empregada por Eurico Nelson de atender doentes acometidos por febre amarela, Landers (1982) também assegurou que Eurico Nelson foi autorizado por um capitão a “pregar a bordo dos navios em quarentena nas manhãs dos domingos” (p.26) e que foi dessa forma que ele começou a se dedicar a cuidar de doentes de febre amarela que estavam nos navios, confirmando que os doentes eram levados para os três hospitais da cidade: Santa Casa, um hospital público administrado por freiras, outro hospital administrado por enfermeiros da Ordem Terceira de São Francisco, e o hospital Beneficência Português,. 24 Entre estes órgãos Fontes (2002) citou os seguintes: a Inspetoria Geral do Serviço Sanitário do Pará (que atuava pela higiene e saúde pública), o Instituto Bacteriológico, o Instituto Clínicas e Bromatológicas, o Laboratório Farmacêutico, o Hospital de Isolamento e o Desinfectório Central, os lazaretos e postos de quarentena, a Polícia Higiênica e Sanitária dos Animais..

(27) 27. também administrado por enfermeiros. Ainda segundo Landers, as freiras da Santa Casa permitiam a visita às quintas-feiras e domingos e “quando os marinheiros recebiam alta do hospital eram levados para a casa de Nelson a seu convite” (p.27). Para o autor, foi dessa forma que Eurico Nelson conseguiu acesso às lojas da companhia de navegação, conseguindo inclusive viagens e contribuições para suas despesas pessoais e que alguns capitães lhe deram dinheiro para as missões enquanto Nelson cuidava dos marinheiros no porto (ibid). Uma nota do jornal O Apologista Cristão Brazileiro afirma que Eurico Nelson tinha intenções de construir um asilo para cuidar dos doentes de febre amarela, apoiado por amigos pessoaes e philantropicos na pátria, e também pelos estrangeiros, do seu idioma n’esta capital, elle pretende abrir um modesto azylo para os marinheiros, no bairro do Commercio. 25 Considera-se de antemão que se tornou comum na historiografia protestante brasileira o relato de que um missionário fundador, no final do século XIX tenha adotado como atividade religiosa inicial à pregação evangelística nos navios estrangeiros, principalmente aos domingos e entre os marinheiros doentes. Para uma pessoa como Eurico Nelson que chegou “a nenhum” 26, provavelmente a dificuldade de estabelecer uma espécie de hospital em casa, sob intensa fiscalização municipal era muito pouco provável e acrescenta-se a esta discussão a conotação que essa palavra “asilo” carregava na época, que não era a das mais agradáveis. Além do mais, a dificuldade financeira de Eurico Nelson registrada nos escritos de Reis Pereira também descreve uma de suas moradias em Belém que se reduzia a “um quarto sem janela, e uma cozinha (PEREIRA, 1954, p.56) ocupado por Eurico Nelson, a esposa Ida Nelson e Ivo Amazonas, o primeiro filho do casal e provavelmente esta situação nada adequada, contribuiu para que Pereira superdimensionasse a situação, atribuindo as adversidades do contexto a um “árduo começo de um trabalho glorioso” (ibid, p.43) do casal que seguia euforicamente a ideia fixa de evangelizar o vale amazônico.. 25 ACB, de 21 Nov. 1891, p.01. Este texto está respeitando a grafia original, com todas as lacunas de sentido, além dos erros, ortográficos e sintáticos. 26 Gíria da época que queria dizer “sem nenhum tostão”..

(28) 28. 1.3 A chegada de Eurico Nelson em Belém do Pará. Richard Graham (1973) ao tratar da Inglaterra e o início da modernização no Brasil, destacou que teriam sido os britânicos que direta e indiretamente, ajudaram a iniciar a transformação do Brasil, de uma economia agrária para uma industrial.. 27. A marca de. identificação do sistema econômico moderno no Pará, no final do século XIX, foi notória com a melhoria tecnológica dos navios a vapor e o barateamento dos transportes marítimos28 que traziam continuamente os imigrantes, principalmente dos Estados Unidos. A construção de motores a vapor de alta pressão, além de aumentar a velocidade dos navios reduzia a quantidade de carvão usada tradicionalmente e aumentava o espaço livre para o transporte de carga. Desconhece-se, até o presente momento, que as propagandas de incentivo à vinda de imigrantes ao país tiveram influência na escolha de Eurico Nelson para sediar os trabalhos religiosos iniciais, embora Sipiersky (2002) tenha destacado que Belém nesse período era um local conhecido no mercado internacional da borracha e nas casas de exportação que mantinham os interessados neste produto em constante comunicação. O biógrafo mais famoso de Eurico Nelson no meio batista, José dos Reis Pereira dá conta que Erik Alfred Nelson nasceu na Suécia e foi batizado na Igreja Luterana. Seu primeiro contato com os batistas foi na Suécia e resultou no seu rebatismo 29 por um colportor30. Ainda segundo Pereira (1954), os pais de Eurico Nelson romperam com o luteranismo e organizaram 27 O Brasil colonial tinha sido dominado por uma economia açucareira e escravocrata totalmente dependente de Portugal e recebia produtos manufaturados dessa metrópole e mesmo com a contínua corrente de inovações tecnológicas, básicas numa sociedade moderna em 1850, a vida brasileira não poderia ser caracterizava com esse status, pois na verdade estava mais para uma sociedade tradicional. (GRAHAM, 1973, p.14). 28 Que foram os fatores apontados por Graham (1973) como aspectos-chave desse desenvolvimento. Este autor afirma que veleiros e navios a vapor transportavam rapidamente maiores quantidades de produtos manufaturados para o mundo subdesenvolvido, trazendo de volta matéria prima e alimentação e que em 1851 um serviço regular de navios a vapor inaugurou a linha Brasil-Inglaterra, como se fosse um sinal de estreitamento de relações entre os dois países. 29 Como os batistas não aceitam outra forma de batismo que não seja a do grupo, obrigam o neófito a ser rebatizado. 30 Àquele que vende Bíblias ou Novos Testamentos. A origem do termo é apresentada por Michel de Certeau em sua obra A cultura no Plural. Em nota ele informa que a palavra francesa colporter significa o que transporta consigo a mercadoria à venda e ainda designa a literatura veiculada por meio dos livreiros ambulantes (colporteus), principalmente nos séculos XVII e XVIII. Cf. CERTEAU, 1995, 55.

(29) 29. uma escola dominical para doutrinar os novos adeptos e como se recusaram a cumprir as obrigações religiosas da igreja oficial, imigraram para os Estados Unidos em 1869. Os biógrafos Pereira (1954) e Landers (1982) afirmaram que Eurico Nelson adulto. tentou em vão ingressar num curso de formação teológica para a qualificação do ministério pastoral batista. Frustrado por não ter obtido êxito neste objetivo, decidiu imigrar sem esta formação religiosa para o Brasil em 1891, e escolheu a cidade de Belém do Pará para viver a partir do mês de novembro daquele ano. Seus biógrafos registram que no dia da chegada, deparou-se primeiramente com uma grande quantidade de pessoas que afluía à cidade. Era o dia da maior festa religiosa do Pará: o círio de Nazaré, que todos os anos reúne na cidade de Belém um grande número de fiéis a essa devoção e são provenientes, principalmente, das áreas interioranas do estado. É exatamente no período do apogeu e da decadência do ciclo da borracha que começa e termina a história de Eurico Nelson em Belém. Ele manteve relação de amizade com outros imigrantes que já estavam na cidade, como o pastor metodista Justus Nelson, o cônsul americano da cidade e o “lord” irlandês Ivo Robinson (PEREIRA, 1954, p.48). Justus Nelson, também sueco, era o proprietário do Jornal “O Apologista Christão Brazileiro”, um jornal semanal que publicava artigos predominantemente religiosos e afirmava ser um órgão da Igreja Metodista Episcopal. Justus Nelson publicou a chegada de Eurico Nelson da seguinte forma: No dia 20 do corrente chegou a esta capital, vindo de New York no vapor “Segurança” o Sr. E.A.Nelson, que veio ajudar na obra do evangelho no Pará. O Sr. E.A.Nelson é membro da Igreja Baptista e natural da cidade de Chanute, Estado de Kansas, Estados Unidos da América. Apoiado por amigos pessoaes e philantropicos na pátria, e também pelos estrangeiros, do seu idioma n‟esta capital, elle pretende 31 abrir um moderno azylo para os marinheiros, no bairro do Commercio.. Provavelmente, Eurico Nelson também tenha entrado em contato com outros estrangeiros que transitavam na província, assim como migrantes nordestinos que foram atraídos pelas propagandas da política e da economia brasileira, mas como já se sabe, Eurico Nelson não se enquadrou no perfil de imigrante estrangeiro exigido pelos projetos “imigrantistas” e segundo a historiografia batista não recebeu nenhum tipo ajuda financeira. 31 ACB, de 21 nov. 1891, p.01. Este texto está respeitando a grafia original, com todas as lacunas de sentido, além dos erros, ortográficos e sintáticos..

(30) 30. dos batistas, conforme o próprio biógrafo demonstra ao afirmar repetidamente que Nelson vivia “completamente desprovido de recursos” (PEREIRA, 1954, p.46). As cartas pessoais de Eurico Nelson utilizadas no presente trabalho demonstram que as dificuldades frequentemente citadas por ele foram inúmeras e em geral relacionadas diretamente ao contexto, porém a historiografia protestante dá conta que embora houvesse inúmeras adversidades nessa primeira inserção de protestantes, a maior parte dos “propagandistas protestantes” esperavam a “conversão do evangelho das populações que, brutalmente consideravam não cristãs” (LÉONARD, 2002, p.84), a partir da pregação de suas próprias doutrinas e de seus métodos confessionais anglo-saxões. Entende-se por conversão, a atitude de buscar prosélitos como atividade central das atividades pietistas dos quais são herdeiros das plataformas americanas (MACIEL, 1988) e este aspecto é considerado fundamental para os batistas, pois Marcelo Santos (2003) afirmou que o trabalho missionário deste grupo “deve estar ligado a uma atividade missionária e com objetivos explícitos de conversão” (p.19) e como se percebe, Eurico Nelson não seguiu neste momento de sua história em Belém as prescrições de praxe do grupo que declarava pertencer. Por qual motivo? Porque suas atividades religiosas em Belém entre os anos de 1891 a 1896 não resultaram de um planejamento missionário vinculado as boards(juntas missionárias protestantes americanas)? Sabe-se que o primeiro casal batista enviado pela Junta de Missões Estrangeiras, com sede em Richimond, no sul dos Estados Unidos – Os Bagbys - foram destacados pela Missão Batista Americana para “estabelecer bases evangelísticas no Brasil, como ocorreu na Bahia. Esta teria sido a primeira província a “apresentar a organização de um trabalho Batista voltado para a propaganda e o recrutamento de fiéis no meio da população local” (SANTOS, 2003, p.19-20). A respeito da introdução do protestantismo no Brasil e dos trabalhos dos missionários, Velasques Filho (2002) assevera que antes da chegada desse agente de papel específico, havia os colportores que os precediam, registrando a respeito desta questão que Desde cedo, no Brasil, os protestantes se preocupavam com a produção e difusão da literatura religiosa. Já vimos que, mesmo antes da chegada dos missionários das igrejas, as Sociedades Bíblicas já estavam operando, ainda que de forma muito desordenada no Brasil. Seus colportores precederam os missionários protestantes no interior brasileira, levando a Bíblia para ser vendida. Em muitos desses casos, os esforços dos colportores resultaram em congregações e igrejas locais, mais tarde filiadas a uma denominação (VELASQUES FILHO, 2002, p. 106).. Além do mais, Eurico Nelson que era um colportor não enviado por Sociedades Bíblicas, optou em ficar na cidade e arcou com o alto custo de vida que a mesma apresentava,.

(31) 31. principalmente quando optou em ficar de aluguel nos bairros considerados centrais, o que aumentava a estatística do número de estrangeiros que concorriam para encontrar uma moradia mais adequada nessas áreas que eram consideradas caras, já que os estrangeiros favorecidos pelo governo imperial recebiam “algum auxilio para o serviço de imigração” (FONTES, 2002, p.19), auxilio este que se reduzia a recepção e agasalho dos imigrantes que chegavam à capital do império, por cinco dias, e “na concessão de algum crédito para as despesas necessárias com transporte dos mesmos até o estabelecimento a que se destinavam” (ibid). O registro de Antonio Batista de Almeida32 informa que a primeira moradia de Eurico Nelson com Ida Nelson foi à Rua dos Cavaleiros n. 423, no bairro da Cidade Velha, permanência esta que não foi possível por muito tempo, pois, com a sua falta de recursos foi obrigado a procurar outro local para morar com a esposa. Além disso, é preciso considerar ainda que como a cidade estava passando por remodelação da urbe, alguns bairros foram contempladas com os “melhoramentos” (SARGES,2000, p.96) da Intendência, principalmente as áreas centrais que foram calçadas e ajardinadas, enquanto que, para as demais áreas periféricas restaram os espaços alagados, escuros e aonde o risco de contágio por doenças epidêmicas era maior. Estas últimas custavam bem menos do que as casas das áreas centrais e eram destinadas as pessoas mais pobres. O jornal OApologista Chistão Brazileiro publicou uma nota intitulada Sailor´s Home que informa uma das mudanças de casa que Eurico Nelson fez em Belém. Segundo o jornal, nesta casa Eurico Nelson estabeleceu “um retiro para marinheiros, gabinete de leitura, e culto. Já mudou para uma casa mais commoda, à Rua dos Mártyires n. 3733, aonde era antigamente a casa de cultos da Igreja Methodista”34. É exatamente a partir deste aspecto relacionado à conjuntura sócio-histórica do final do século XIX para o início do século XX, que marca a chegada de Eurico Nelson do Pará que fez surgir o interesse de estudar mais atentamente as narrativas do missionário batista nas cartas que escreveu para Robert Willingham, secretário executivo da Junta de Richimond, 32 Antonio Batista de Almeida escreveu um livro intitulado “80 anos construindo a gloria de Deus”. Este material, porém não consta data de publicação e nem editoração. Presume-se que seja uma publicação da década de 70 do século XX.. 33 Esta nota foi corrigida por Justus Nelson no ACB de 16/01/1892, pois o número da casa era 47 e não 37. A rua dos Mártires é hoje a Trav. 28 de setembro no bairro do Reduto, uma área que na época sofria o impacto dos alagamentos. 34 ACB, de 02 fev. 1892, p.03. Este texto está respeitando a grafia original, com todas as lacunas de sentido, além dos erros, ortográficos e sintáticos..

(32) 32. verificando a possibilidade de historiografar suas atividades religiosas e tentando também dialogar com o contexto que se desenvolveu suas ações. Ao iniciar pelo contexto, destacam-se neste trabalho as considerações tecidas pela historiadora paraense Nazaré Sarges (2000) ao afirmar que o novo modelo de vida moderna implantado na Europa chegou ao Pará através das elites do ciclo da borracha. Estas estavam interessadas em construir na Amazônia uma civilização que reproduzisse esses modelos. Sarges analisou especificamente as transformações processadas na urbe a partir dos discursos elitistas, verificando que os resultados dessas mudanças para a cidade criou um ambiente extremamente contraditório que já havia sido observado nas demais capitais brasileiras (CHALHOUB, 1996). Uma parte da cidade recebia os capitais da borracha que eram investidos na construção de boulevards, praças, implantação de bonds e alargamento de avenidas. Enquanto que para a outra parte adotava-se política pública de saneamento que pretendia conter “os maus hábitos de uma população indisciplinada e fétida”(SARGES, 2002, p.97). A historiografia paraense demonstra categoricamente que havia dois discursos em voga a respeito do novo mundo urbano que se imprimia na cidade: um que defendia as pretensões cosmopolitas dos poderes públicos, desejosas de imprimir na cidade características urbanas mais modernas e outro que apontava claramente um contexto de fronteira, onde os moradores eram pressionados a sair da convivência dos espaços centrais, afastando-se para as áreas periféricas35, onde as “ações de desenvolvimento urbano passavam ao largo” (ibid). Como explicar então, que apesar de todas essas mudanças na cidade e sensação de “enriquecimento”, alguns segmentos sociais, que constantemente causavam tensões na urbe, viviam à margem da assistência adequada do poder público que era direcionada a segmentos privilegiados? Dois aspectos precisam ser considerados para responder esta questão: o primeiro diz respeito à experiência social dos sujeitos que constituíam o espaço mais marginalizado. Para Lacerda (2006), estes espaços estavam muito próximos a classificação de rural, ou seja, uma conotação distante daquela que a intervenção urbana com base no modelo moderno, tinha efetivamente feito em determinados espaços da cidade para transmitir a ideia. 35 Campos (2004) apresenta questões interligadas ao contexto da Belle Epoque, desde as dimensões da expansão urbana que a cidade tomava até os questionamentos sobre as experiências sociais de variados sujeitos que cotidianamente estabeleciam “relações sociais que no “interior do espaço bellepoqueano (...) provocavam tensões na urbe” ( p.59)..

Referências

Documentos relacionados

Seja o operador linear tal que. Considere o operador identidade tal que. Pela definição de multiplicação por escalar em transformações lineares,. Pela definição de adição

xạ thì không có đầy dủ các khâu của 1 phản xạ vì vậy sự co cơ đó chỉ là sự cảm ứng của của các sợi thần kinh và tế bào cơ đối với sự kích thích. - Trao đổi

A estimativa do desembolso direto foi calculada a partir das despesas das famílias com assistência à saúde (medicamentos, assistência médica e odontológica particular etc.)

Consultar a Secção 11 para obter informações pormenorizadas sobre sintomas e efeitos na saúde.. Classificação de acordo com o Regulamento (CE)

Para essa discussão, selecionamos o programa musical televisivo O fino da bossa, apresentado por Elis Regina e Jair Rodrigues, na TV Record de São Paulo, entre os anos de 1965 e

Para o acionamento do gerador foi utilizado o conversor eletrônico half bridge, com o qual foi desenvolvida uma técnica de variação do Ângulo de disparo para

Enquanto no National Wilms Tumor Study- 2, os resultados indicaram que o pior prognóstico em pacientes com mais de 2 anos refletia a associação com outras variáveis

Há alunos que freqüentarão o AEE mais vezes na semana e outros, menos. Não existe um roteiro, um guia, uma fórmula de atendimento previamente indicada e, assim sendo, cada aluno terá