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APOSENTADORIA RURAL: A DIFICULDADE DO TRABALHADOR RURAL NA COMPROVAÇÃO DA ATIVIDADE LABORAL [ver artigo online]

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http://dx.doi.org/10.35265/2236-6717-215-9523

FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 215. V.9. ANO 2021.

APOSENTADORIA RURAL: A DIFICULDADE DO TRABALHADOR RURAL NA COMPROVAÇÃO DA ATIVIDADE LABORAL

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Adilen Roberta Morel de Moura1 Luciana Adélia Sottili2

RESUMO

O trabalhador rural foi um dos últimos grupos de trabalhadores que obteve o direito a receber o benefício da aposentadoria. Embora passados mais de 50 anos da obtenção deste direito, o trabalhador rural ainda encontra dificuldade para obter o benefício. Diante do exposto, surge a indagação “por que o trabalhador rural tem dificuldade em comprovar atividade laboral rural?”

O objetivo geral do presente artigo é compreender por que o trabalhador rural tem dificuldade de comprovar a atividade rurícola. Foram identificados os seguintes objetivos específicos para compreensão do tema: a) entender a o que é aposentadoria rurícola, b) compreender quem são os trabalhadores rurais e c) identificar quais as dificuldades que eles enfrentam para obter o benefício da aposentadoria. Em razão do tema necessitar de análise legislativa, doutrinária e jurisprudencial, a metodologia adotada foi a revisão bibliográfica. A análise mostra que, por muitas vezes, a baixa escolaridade dificulta ao trabalhador rural entender os requisitos comprobatórios que a lei atribui. O trabalhador rural não entende a necessidade de se guardar documentos pois historicamente a legislação ordinária facilitou esse entendimento quando assegurou a informalidade dos contratos de trabalho.

Palavras-chave: Trabalhador rural. Aposentadoria rural. Comprovação. Atividade rural. INSS.

RURAL RETIREMENT: THE DIFFICULTY OF RURAL WORKERS IN PROVING LABOR ACTIVITY

ABSTRACT

The rural worker was one of the last groups of workers who obtained the right to receive the retirement benefit. Although more than 50 years after obtaining this right, the rural worker still finds it difficult to obtain thebenefit. Given the above, the question arises" why does the rural worker have difficulty in proving rural work activity? " The general objective of this article is to understand why the rural worker has difficulty proving the rury activity. The following specific objectives were identified for understanding the theme: a) understanding what rury population

1 Autora. Graduanda no Curso de Direito no Centro Universitário São Lucas de Porto Velho (UNISL/RO). E- mail: adilen_morel@yahoo.com.br

2 Orientadora. Advogada. Mestra em Direito e Justiça Social (FURG). Professora no Centro Universitário São Lucas de Porto Velho (UNISL/RO). E-mail: luciana.sottili@saolucas.edu.br

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retirement is, b) understanding who rural workers are and c) identifying what difficulties they face in obtaining the retirement benefit. Because the theme requires legislative, doctrinal and jurisprudential analysis, the methodology adopted was the literature review. The analysis shows that, por often, low schooling makes it difficult for rural workers to understand the evidential requirements that the law assigns. The rural worker does not understand the need to keep documents because historically ordinary legislation facilitated this understanding when he ensured the informality of employment contracts.

Keywords: Rural worker. Rural retirement. Proof. Rural activity. INSS.

INTRODUÇÃO

A Seguridade Social é uma das bases constitucionais de ordem social cujo objetivo é o bem-estar e a justiça social dos indivíduos. Surgiu no século XIX como forma de amparar e proteger a sociedade. A Constituição Federal em seu art. 194 aduz que a seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativas dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.

Desde os primórdios das leis de cunho previdenciário a proteção ao rurícola foi esquecida. O legislador viu a necessidade de assistência beneficiária à essa categoria somente depois de quatro décadas das primeiras iniciativas previdenciárias urbanas.

O lapso temporal e a forma como foi tratado o contrato de trabalho na legislação resultou em um desconhecimento por parte dos rurícolas da possibilidade de obter a aposentadoria ou mesmo buscando-a, de obtê-la em razão de não ter guardado os documentos necessários para a sua obtenção, conforme será explanado no decorrer do presente trabalho.

O problema que se apresenta e que se busca resolver ao final da pesquisa é:

Porque o trabalhador rural tem dificuldade em comprovar a atividade laboral quando busca obter o benefício da aposentadoria?

O objetivo geral do presente artigo é compreender por que o trabalhador rural tem dificuldade de comprovar a atividade rurícola. Para alcançar este objetivo geral, foram estipulados os seguintes objetivos específicos: a) entender a o que é aposentadoria rurícola, b) compreender quem são os trabalhadores rurais e c) identificar quais as dificuldades que eles enfrentam para obter o benefício da aposentadoria.

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Para responder os questionamentos propostos, a pesquisa será dividida em três capítulos. O primeiro capítulo irá conceitualizar a previdência social abrangendo os principais princípios que o norteiam sendo necessário discorrer sobre a origem e evolução histórica da Previdência Social Rural, a definição de aposentadoria por idade e a aposentadoria por idade do trabalhador rural. O segundo capítulo discorrerá sobre a definição do trabalhador rural como segurado especial sob a ótica legislativa e socioeducacional. E o terceiro capítulo analisará qual é a dificuldade que os trabalhadores rurais encontram para a concessão beneficiária.

A pesquisa anseia compreender o obstáculo existente com a juntada de documentos que enquadrem o trabalhador rural à condição de segurado especial e provas materiais que comprovem o tempo de atividade laboral no campo.

A metodologia aplicada à pesquisa baseia-se na revisão bibliográfica, fundamentada por doutrinas, legislação, jurisprudência, instruções normativas, convenções internacionais, artigos científicos, teses, monografias além de textos e dados informativos do IBGE e INSS e análise qualitativa dos dados colhidos com o objetivo de ilustrar as dificuldades explicando e explorando a previdência no âmbito rurícola.

Para iniciar o artigo é necessária a compreensão da definição da Previdência Social e os principais princípios que o norteiam seguindo assim a abordagem sobre a aposentadoria rural.

1 A PREVIDÊNCIA SOCIAL

O alicerce da base constitucional da Ordem Social é advindo do trabalho em busca do bem-estar e da justiça social. Em analogia ao disposto no artigo 194 da Constituição Federal, a Seguridade Social é a soma das ações de iniciativas da sociedade e dos poderes públicos, com intuito de assegurar os direitos relativos à assistência social, saúde e a previdência. (BRASIL, 1988).

Antes de conceitualizar a previdência atual é importante analisar o porquê existe a aposentadoria, portanto, é necessária uma breve explanação histórica de como surgiu a necessidade da previdência social.

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1.1 BASE HISTÓRICA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

Partindo da premissa que previdência social é uma das bases constitucionais ela passa a existir de fato somente quando o Estado começa a regulamentá-la, antes disso qualquer movimento ou iniciativas são apenas precedentes históricos. Fábio Zambitte Ibrahim entende que qualquer ato antes da intervenção Estatal era generosidade: “[..] O Estado só virá a assumir alguma ação mais concreta apenas no Século XVIII, [...] Até então, a ajuda a pobres e necessitados aparece como algo desvinculado da ideia de justiça, reproduzindo mera caridade.” (IBRAHIM, 2014, p 1)

No século XVIII ainda sob a ótica do Estado Liberal há dois pontos importantes a serem apresentados. O primeiro é o momento da acessão da burguesia à política que possibilitou o crescimento das indústrias oferecendo trabalhos ocasionando o êxodo rural. As áreas urbanas tiveram um crescimento desordenado e nem todos os camponeses conseguiram trabalho, gerando vandalismo e vagabundagem. (LEITE, VELLOSO, 1963; ROCHA, 2014)

O segundo ponto foi que com a Revolução Industrial o trabalho passou a ser emprego e o trabalhador passou a receber salário, mesmo que muitas vezes irrisório.

Com o surgimento das primeiras máquinas a vapor, os trabalhadores começaram a ser explorados com atividades insalubres e jornadas de trabalho exorbitantes, sofrendo mutilações, cegueira e eram acometidos a doenças que os impossibilitavam a trabalhar, muitas vezes chegavam à velhice e ficavam à mercê de caridade e esmolas. Cansados de serem explorados começaram a se organizar e a reivindicar melhores condições de trabalho e salários, algumas reivindicações eram políticas e outras de forma violenta. O Estado pressionado passou de abstencionista para intervencionista, regulamentando as relações de trabalho. (MARTINS, 2006)

Nesse sentido Martins ensina que:

[...] O trabalhador prestava serviços em condições insalubres, sujeito a incêndios, explosões, intoxicação por gases, inundações desmoro- namentos, [..]. Ocorriam muitos acidentes de trabalho, além de várias doenças decorrentes de gases, da poeira, [...], tuberculose, a asma, e a pneumonia. (MARTINS, 2006, p. 6)

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Diante do abismo social gerado pela revolução industrial, o Estado viu a necessidade de reequilibrar a sociedade, formando uma nova concepção de direitos fundamentais, editando leis que garantissem ao hipossuficiente uma vida no mínimo digna, dando origem aos primeiros direitos sociais. As iniciativas regulamentadoras resultaram na criação do Direito do Trabalho “[...] cujo o desenvolvimento dos princípios, técnicas e institutos peculiares acabará reclamando o surgimento de novos ramos autônomos como o Direito Previdenciário” (ROCHA, 2014, p.32)

É evidente que a previdência social embrionária da Revolução Industrial evoluiu conforme as necessidades do indivíduo de cada época, através das ordens econômicas, dos diferentes Estados de Direto, com movimentos, legislações, doutrinadores e jurisprudências. Assim, hoje a previdência social tem uma definição clara conforme se analisará a seguir.

1.2 CONCEITO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL

A previdência social é definida como um mecanismo de proteção destinado ao trabalhador e seus segurados que têm por objetivo amparar financeiramente o segurado no momento que o impossibilite de trabalhar, como na velhice, invalidez, morte, maternidade etc. (ROCHA, 2020)

Daniel Machado da Rocha entende que:

A previdência social é o instrumento de amparo social resultante do equacionamento da economia coletiva e compulsória – capaz de re- distribuir os riscos sociais horizontal (entre grupos profissionais distin- tos) e verticalmente (entre gerações). No Brasil, apesar das deficiên- cias que apresenta, ela ainda constitui-se na mais significativa técnica de proteção social. Não apenas pelo amparo financeiro que propicia – necessário para manutenção de uma existência digna do segurado e de sua família, nos momentos em que as contingências socias se ma- terializam – como também pelo fato de evitar uma redistribuição de renda e viabilizar a manutenção de um nível mínimo de consumo nos momentos de crise econômica, o que é vital para o equilíbrio das so- ciedades contemporâneas. (ROCHA, 2004, p 12)

A seguridade social tem dois subsistemas o subsistema contribuitivo, formado pela previdência social, onde há o pagamento de contribuições e o subsistema não contribuitivo, formado pela saúde e pela assistência social, esses custeados pelos

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tributos gerais. Determinou a legislação que a seguridade será financiada por toda sociedade, de forma direta e indireta assumindo o risco social. (AMADO, 2020;

MORAES 2006)

A Constituição Federal de 88 elenca os tipos de contribuições:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos proveni- entes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:

I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre:

a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou cre- ditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;

b) a receita ou o faturamento;

c) o lucro;

II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, po- dendo ser adotadas alíquotas progressivas de acordo com o valor do salário de contribuição, não incidindo contribuição sobre aposentado- ria e pensão concedidas pelo Regime Geral de Previdência Social;

III - sobre a receita de concursos de prognósticos.

IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar. (BRASIL, 1988, on-line)

Portanto, a previdência social é um instrumento voltado à segurança preventiva do trabalhador de forma coercitiva uma vez que culturalmente a maior parte dos brasileiros estão preocupados com a sua subsistência deixando de lado a precaução do futuro.

O Direito Previdenciário é um campo do direito que tem princípios próprios que regulam a prática e interpretação das regras constitucionais e legais relativas ao sistema protetivo. Por ser um ramo do Direito Público naturalmente aplica-se também alguns princípios gerais elencados na Constituição Federal, como o princípio da equidade, da legalidade e do direito adquirido, este último, o indivíduo somente terá direito a aposentadoria, quando cumprir os requisitos impostos por lei. (IBRAHIM, 2014)

Os principais princípios que norteiam a previdência social estão espalhados pela Constituição Federal, mas a grande maioria está elencado no artigo 194 da Constituição Federal de 1988 e são vistos pelo legislador como objetivos do sistema previdenciário. O trabalho abrangerá sucintamente os principais.

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1.3 OS PRINCIPAIS PRINCÍPIOS UTILIZADOS NO DIREITO PREVIDENCIÁRIO Os princípios são uma das bases das normas jurídicas eles norteiam o sistema jurídico, ou seja, orientam como deverá ser aplicado o Direito. No sistema previdenciário os princípios se misturam aos objetivos, os principais são:

a) O princípio da solidariedade traduz o verdadeiro espírito da previdência social, uma vez que as contribuições individuais geram recursos suficientes para agasalhar todos e os mais necessitados. (IBRAHIM, 2014)

b) A Constituição Federal elenca o princípio da Universalidade da cobertura e do atendimento, entende-se por esse princípio que a proteção social deve atender a todos necessitados. (AMADO, 2020)

c) O princípio de Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais diz que o sistema de previdência social tem que conceder prestações iguais aos trabalhadores urbanos e rurais e de forma igual levando em consideração a isonomia. (AMADO, 2020)

d) O princípio da seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços foi uma forma de o legislador delimitar quais são os benefícios e quem são seus destinatários. (SANTOS, 2021)

e) O princípio da irredutibilidade do valor dos benefícios é uma segurança jurídica que o segurado tem de que o valor do seu benefício não será reduzido mesmo em momento de crises financeiras. (AMADO, 2020)

f) O princípio da equidade na forma de participação no custeio, ressalva que o indivíduo deverá contribuir com a previdência na medida de suas possibilidades. Ele está relacionado ao princípio da isonomia.

A legislação regulamentadora da previdência social no Brasil é a Lei 8.213/91, Lei de Benefícios da Previdência Social, que em seu artigo 18 elenca quais são os tipos de aposentadoria existentes no ordenamento jurídico, existe a aposentadoria por invalidez, a aposentadoria por tempo de contribuição, a aposentadoria especial e a aposentadoria por idade. Para esclarecer o objetivo proposto no artigo há a necessidade de se discorrer a respeito dos aspectos gerais da aposentadoria por idade adentrando no aspecto diferenciado da aposentadoria rural.

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1.4 APOSENTADORIA POR IDADE

A aposentadoria tem por objetivo assegurar o trabalhador em idade avançada quando não mais conseguir prover seu sustento, o benefício é de forma continuada e mensal, fruto da contribuição no período de atividade laboral. A Constituição Federal em seu artigo 201 assegura a aposentadoria por idade avançada ao homem aos 65 (sessenta e cinco) anos e à mulher aos 62 (sessenta e dois) anos, desde que tenham cumprido o tempo de carência exigida, que dependendo da data de filiação é variável.

Com a regulamentação da CF em 2019 pela EC nº103/2019 o benefício da aposentadoria por idade passou a ser nomeado como aposentadoria programada.

(LAZZARI, 2021)

Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência Social, de caráter contributivo e de filiação obri- gatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a:

I - cobertura dos eventos de incapacidade temporária ou permanente para o trabalho e idade avançada;

[...]

§ 7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência so- cial, nos termos da lei, obedecidas as seguintes condições:

I - 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 62 (sessenta e dois) anos de idade, se mulher, observado tempo mínimo de contribui- ção;

II - 60 (sessenta) anos de idade, se homem, e 55 (cinquenta e cinco) anos de idade, se mulher, para os trabalhadores rurais e para os que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, nestes in- cluídos o produtor rural, [...] (BRASIL, 1988, on-line)

A legislação foi sensível as condições desgastantes do trabalho rural, reduzindo a idade para 60 (sessenta) anos se homem e 55 (cinquenta e cinco) anos se mulher, tema que será melhor explanado em subcapitulo próprio.

Para compreender a aposentadoria rural urge a necessidade de uma breve contextualização da evolução legislativa em relação a morosidade para concessão do direito à aposentadoria rural em relação a aposentadoria urbana.

1.5 APOSENTADORIA POR IDADE DO TRABALHADOR RURAL

Sob a égide da Constituição de 1891 o Decreto Legislativo nº.4.682 de 24 de janeiro de 1923, conhecido como a Lei Eloy Chaves, foi a primeira consolidação

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legislativa previdenciária que autorizou a criação de Caixas de Aposentadorias e Pensões a um grupo de trabalhadores urbanos, este evento é considerado o Marco Inicial da aposentadoria no Brasil. (LEITE; VELLOSO, 1963; ROCHA 2004)

Somente em 1963 ainda sob o fulcro da CF/46 com o governo do João Goulart foi promulgado o Estatuto do Trabalhador Rural, a Lei nº 4.214, de 2 de março de 1963, que estendeu a previdência social aos trabalhadores rurais dando origem ao FUNRURAL, este considerado o marco inicial da previdência social rural.

O Estatuto do Trabalhador Rural em seu texto original elencou os segurados do FUNRURAL como segurados obrigatórios e segurados facultativos, bem como dependentes, ponderou as atividades por eles explorada, determinou os benefícios a eles garantidos e definiu os contratos de trabalho como tácito ou expresso, podendo ser oral ou escrito. (RIBEIRO, 2018)

Os artigos 62 e 63 da Lei nº 4.214/63 tratam a respeito do contrato de trabalho individual e podem ser apontados como os percussores responsáveis pela falta de organização por parte dos trabalhadores rurais, o texto original regulamenta que o contrato de trabalho pode ser verbal ou escrito. Considerando as condições da vida no campo e a falta de escolaridade dos trabalhadores rurais subentende-se que os contratos eram acordados verbalmente, já que seriam menos burocráticos e mais fácil para compreenderem a relação. (RIBEIRO, 2018)

Em 1971 a Lei Complementar nº 11 instituiu o Programa de Assistência ao Trabalhador Rural (PRORURAL) assegurando a proteção a aposentadoria por velhice ao trabalhador rural, após 65 (sessenta e cinco) anos de idade, assegurando 50% do maior salário mínimo da época. (IBRAHIM, 2014)

A Constituição de 1988 disciplinou a Seguridade Social como um sistema de Ordem Social com a finalidade de proporcionar toda a proteção a saúde, assistência social e a previdência. A proteção previdenciária passou a garantir cobertura aos trabalhadores urbanos e rurais.

A Constituição Federal/88 assegura a proteção beneficiária rural em seu artigo 201 supracitado. O constituinte entendeu que o trabalhador rural é hipossuficiente e muitas vezes trabalha apenas para a sua subsistência e a de seu grupo familiar. Nesse

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sentido baseado pelo princípio da isonomia, dispôs o trabalhador rural como segurado especial da previdência social. (SAVARIS,2015, on-line)

Em razão do princípio da uniformidade e por estar arrolado no rol constitucional como segurado obrigatório o trabalhador rural tem direito a mesma proteção dos trabalhadores urbanos, bem como a aposentadoria por idade.

A Legislação assegura a aposentadoria por idade ao trabalhador rural, desde que atenda a dois fatores: ter 60 (sessenta) anos se homem, 55 (cinquenta e cinco) anos se mulher e ter 180 (centos e oitenta) meses de atividade laboral. Porém, pela condição de segurado especial cabe a eles o ônus probatório do exercício laboral rural, mesmo que de forma descontínua. (BRASIL, 2020)

O sistema previdenciário tem caráter contribuitivo, porém a contribuição do segurado especial acontece de forma indireta sob a receita proveniente da comercialização da sua produção como prevista no artigo 25 da Lei 8.212/91. (BRASIL, 1991)

Assim, a inscrição ao Regime Geral de Previdência Social (RGPS) será considerada a partir do momento que o titular do grupo familiar se enquadre como segurado especial. Podendo o INSS solicitar documentos para comprovação da atividade laboral. (BRASIL, 2020)

Tradicionalmente o trabalhador rural é aquele que trabalha no campo com seus familiares pela subsistência, sem maquinários e sem empregados permanentes. São pessoas simplórias com pouco estudo que a legislação viu por bem tratá-los de maneira especial os definindo como segurados especiais, conforme será abordado no próximo tópico.

2 O TRABALHADOR RURAL COMO SEGURADO ESPECIAL

O Constituinte de 88 assegurou igualdade entre trabalhadores urbanos e rurais ao determinar a uniformidade e equivalência de benefícios e serviços, respeitando as condições especiais dos trabalhadores e seus dependentes. (SANTOS, 2021)

Segundo a Convenção nº 141 da OIT realizada em Genebra em 1975, trabalhador rural é todo indivíduo que labuta em região agrícola, em tarefas agrícolas, ou artesanais, ou em serviços similares, ou conexos, abrangendo não só os

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assalariados, mas também aqueles que trabalham por conta própria, como arrendatários, parceiros e pequenos proprietários. A Convenção reconheceu a função primordial e essencial do trabalhador rural para o desenvolvimento econômico e social do Mundo. (OIT, 1975)

Sergio Martins (2006, p. 142) sustenta que: “O empregado rural é a pessoa física que, em propriedade rural ou prédio rústico, presta serviço com continuidade a empregador rural, mediante dependência e salário”. Martins também diferencia de forma didática o trabalhador doméstico e rural:

[...] A distinção entre o trabalhador rural e o doméstico reside em que este presta serviços, a pessoa ou família, que não têm finalidade de lucro, enquanto, em relação ao primeiro, a atividade rural deve ser lu- crativa. Se há plantação no sítio, mas não há comercialização, o ca- seiro será empregado doméstico; porém, se houver venda de produ- tos, o mesmo caseiro será empregado rural. (MARTINS, 2006, p. 143)

A Lei nº 5.889, de 8 de junho de 1973 versa sobre as normas reguladoras do trabalho rural em seus artigos 2º e 3º e define o empregado e o empregador rural:

Art. 2º Empregado rural é toda pessoa física que, em propriedade rural ou prédio rústico, presta serviços de natureza não eventual a empre- gador rural, sob a dependência deste e mediante salário.

Art. 3º - Considera-se empregador, rural, para os efeitos desta Lei, a pessoa física ou jurídica, proprietário ou não, que explore atividade agro-econômica, em caráter permanente ou temporário, diretamente ou através de prepostos e com auxílio de empregados. (BRASIL, 1973, on-line)

Antes da Lei nº 8.213/91 o trabalhador rural tinha benefícios apenas de caráter assistencial. A Lei de Planos e Benefícios da Previdência Social (LBPS) passou a definir as características necessárias que determinam o trabalhador rural como segurado especial, passando assim, a ter benefício previdenciário diferenciado. O artigo 11 inciso VII elenca estas características, in verbis:

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Art. 11. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguin- tes pessoas físicas:

[...]

VII – como segurado especial: a pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros, na condição de:

a) produtor, seja proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado, par- ceiro ou meeiro outorgados, comodatário ou arrendatário rurais, que explore atividade:

1. agropecuária em área de até 4 (quatro) módulos fiscais;

2. de seringueiro ou extrativista vegetal que exerça suas atividades nos termos do inciso XII do caput do art. 2º da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, e faça dessas atividades o principal meio de vida;

b) pescador artesanal ou a este assemelhado que faça da pesca pro- fissão habitual ou principal meio de vida; e

c) cônjuge ou companheiro, bem como filho maior de 16 (dezesseis) anos de idade ou a este equiparado, do segurado de que tratam as alíneas a e b deste inciso, que, comprovadamente, trabalhem com o grupo familiar respectivo. (BRASIL, 1991, on-line)

A lei narrou em seu texto alguns elementos a serem analisados para que esses trabalhadores fossem enquadrados como segurados especiais. Um dos requisitos definidos em lei é o de residir em imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo ao imóvel rural em que labora. Vale mencionar que antes da alteração da lei em 2008 não havia referência expressa a moradia do trabalhador, muitas vezes gerando equívocos no enquadramento como assegurado especial. (RIBEIRO,2018) A lei aponta que o trabalhador poderá labutar em regime de economia familiar, o artigo 11, §1º define como regime familiar:

Art. 11. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguin- tes pessoas físicas:

[...]

§ 1º Entende-se como regime de economia familiar a atividade em que o trabalho dos membros da família é indispensável à própria subsis- tência e ao desenvolvimento socioeconômico do núcleo familiar e é exercido em condições de mútua dependência e colaboração, sem a utilização de empregados permanentes. (BRASIL, 1991, on-line)

Assim pode se ter indivíduos que trabalhem apenas com o intuito de buscar proveito econômico como toda profissão ou aqueles que trabalham para sua subsistência. José Antonio Savaris sustenta que:

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[...] poderemos ter segurados especiais, com esta condição reconhe- cida pelo próprio INSS, que trabalhem buscando apenas o proveito econômico – como em qualquer outra profissão) – ou em regime de economia familiar (para subsistência e desenvolvimento socioeconô- mico do grupo familiar), sendo perfeitamente compatível aqui o objeto de proveito econômico e de melhoria de condições de vida, ideal legí- timo de ser guardado por qualquer pessoa no contexto do liberalismo político-econômico que tem como base o primado do trabalho. E aí, neste último quadro, a hipossuficiência – que não é requisito legal -, mas que está presente em alguns casos apenas, pode não se fazer presente, não esgotando as possibilidades e muito menos convo- lando-se em pressuposto para concessão de direitos previdenciários.

(SAVARIS, 2015, on-line)

O legislador, quando aduz a condição de produtor, seja proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado, parceiro ou meeiro outorgados, comodatários ou arrendatário rurais, se refere aos produtores rurais que exerçam atividade em regime de economia familiar, enquadrados no certificado do INCRA onde o Decreto Lei nº 11.166/71 dispõe quem deve pagar a contribuição sindical.

A legislação sustenta que a atividade agropecuária não pode passar de 4 (quatro) módulos fiscais. Conforme determina o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), o módulo fiscal é fixado por cada município conforme a atividade econômica explorada e serve de parâmetro para classificar o tamanho da propriedade familiar. (BRASIL, 1964)

Entende-se por módulo fiscal a unidade de medida expressa em hectares, fixada para cada município, considerando os seguintes fatores: tipo de exploração predominante no município e renda obtida com a exploração predominante. Outras explorações existentes no município que, embora não predominantes, sejam significativas em função da renda ou da área utilizada e que tenha conceito de propriedade familiar. (BRASIL, 1964)

O módulo fiscal serve de parâmetro para classificação do imóvel rural quanto ao tamanho, na forma da Lei 8.629/93, sendo considerada pequena propriedade o imóvel rural de área compreendida entre 1 (um) e 4 (quatro) módulos fiscais. Ainda, é necessário ressaltar a importância do módulo fiscal uma vez que este diferencia o produtor rural do pequeno produtor rural tratado como segurado especial. (BRASIL, 1993)

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Por sua vez o inciso VII, do artigo 11 da Lei 8.213/91 considera que todos os membros do grupo familiar são segurados especiais, porém são excluídos os membros que tiverem outra fonte de renda.

É expressiva a quantidade de documentos aceitos como prova material, porém os trabalhadores rurais possem dificuldade em comprovar sua situação de segurado especial bem como o período de atividade laboral rurícola, situação que será abordada no próximo tópico.

3. A DIFICULDADE ENFRENTADA PELOS TRABALHADORES RURAIS PARA COMPROVAÇÃO DA ATIVIDADE LABORAL

É sabido que o trabalhador rural começa a trabalhar muito cedo em virtude de ter que ajudar na subsistência do grupo familiar, o que o impossibilita de ir para a escola. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), grande parte dos produtores rurais se declaram com baixo ou nenhum nível de escolaridade, tornando impossível alguns entendimentos das relações da vida civil, como guardar documentos que comprovem sua condição de segurado especial e a comprovação da atividade laboral, consequência das relações de trabalho muitas vezes acordadas na informalidade, por descuido da lei ordinária.

A legislação nº 8.213/91 elenca os documentos exigidos para possível concessão de benefícios para o trabalhador rural, in verbis:

Art. 106. A comprovação do exercício de atividade rural será feita, complementarmente à autodeclaração de que trata o § 2º e ao cadas- tro de que trata o § 1º, ambos do art. 38-B desta Lei, por meio de, entre outros:

I – contrato individual de trabalho ou carteira de Trabalho e Previdên- cia Social;

II – contrato de arrendamento, parceria ou comodato rural;

III – (revogado)

IV - Declaração de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, de que trata o inciso II do caput do art. 2º da Lei nº 12.188, de 11 de janeiro de 2010, ou por documento que a subs- titua;

V – bloco de notas do produtor rural;

VI – notas fiscais de entrada de mercadorias, de que trata o § 7o do art. 30 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991, emitidas pela empresa

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adquirente da produção, com indicação do nome do segurado como vendedor;

VII – documentos fiscais relativos a entrega de produção rural à coo- perativa agrícola, entreposto de pescado ou outros, com indicação do segurado como vendedor ou consignante;

VIII – comprovantes de recolhimento de contribuição à Previdência So- cial decorrentes da comercialização da produção;

IX – cópia da declaração de imposto de renda, com indicação de renda proveniente da comercialização de produção rural; ou

X – licença de ocupação ou permissão outorgada pelo Incra. (BRASIL, 1991, on-line)

As dificuldades que os trabalhadores rurais encontram para a concessão dos benefícios previdenciários começam com a juntada dos documentos que comprovem a atividade laboral. A informalidade que esses trabalhadores se sujeitam muitas vezes impossibilita a apresentação de um único documento elencado no artigo 106 da Lei 8.213/91. (RIBEIRO, 2018)

Contudo o legislador, no caput do art. 106, estabelece que a comprovação documental complementará a autodeclaração de atividade rural. E o INSS utilizará as informações quando precisar comprovar a atividade e a condição do segurado especial e do seu grupo familiar.

Conforme estudado nas doutrinas e jurisprudências nota-se que o artigo 106 não é taxativo e sim meramente exemplificativo, sendo admissível muitos outros documentos.

Conforme pesquisa conduzida por Maria Helena Carreira Alvim Ribeiro (2018), em diversas jurisprudências, os tribunais têm usualmente admitido como documento de prova material, os seguintes documentos:

Certidão de nascimento do segurado;

Certidão de nascimento de filhos do segurado;

Título eleitoral, onde conste a profissão de lavrador;

Certidão de Alistamento Militar, constando a profissão de lavra- dor;

Certificado de Dispensa de Incorporação emitido pelo Ministé- rio do Exército, constando que o segurado foi dispensado do serviço militar por “residir em Município não Tributário;

Documento de Informação e Atualização Cadastral do Imposto sobre Propriedade Territorial Rural, e Documento de Informa- ção e Apuração do Imposto sobre a propriedade Territorial Ru- ral;

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Certificado de Cadastro de imóvel Rural em nome do segurado especial;

Cópia de Escritura Pública da propriedade rural em nome se- gurado ou de terceiro onde trabalhe;

Declaração da Junta de Serviço Militar da Prefeitura Municipal, onde conste que o Autor ao se alistar no Serviço Militar decla- rou a profissão de lavrador;

Fichas de assistência médica do FUNRURAL;

Carteira de Identidade de Beneficiário, emitida pelo INAMPS, onde conste a profissão como trabalhador rural;

Histórico escolar dos filhos emitido por escola situada em zona rural;

Contrato de arrendamento de propriedade agrícola;

Contrato de parceria ou comodato rural;

Escritura de compra e venda de propriedade agrícola;

Bloco de Notas do produtor rural;

Cópias de ITR;

Comprovante de pagamento de ITR em nome do pai do segu- rado especial;

Documento de informação e atualização cadastral de ITR em nome do pai do segurado especial;

Comprovante de cadastro emitido pelo INCRA, por Certificado de Cadastro de Imóvel Rural – CCIR, ou qualquer outro docu- mento emitido pelo INCRA, indicando que o segurado proprie- tário de imóvel rural ou exercer a atividade rural como usufru- tuário, possuidor, assentado, parceiro ou meeiro outorgado, co- modatário ou arrendatário rural;

Autorização de Ocupação Temporária fornecida pelo INCRA;

Comprovante de pagamento do Imposto Territorial Rural – ITR;

Comprovante de recolhimento de contribuição à Previdência Social decorrentes da comercialização da produção;

Notas fiscais de entrada de mercadorias emitidas pela em- presa adquirente da produção, com indicação do nome do se- gurado como vendedor;

Documentos fiscais relativos à entrega de produção rural à co- operativa agrícola, entreposto de pescado, ou outros, com in- dicação do segurado como vendedor ou consignante;

Cópia de declaração de imposto de renda, com indicação de renda proveniente da comercialização de produção rural;

Caderneta de inscrição pessoal visada pela Capitania dos Por- tos, pela Superintendência do Desenvolvimento da Pesca (SU- DEPE), ou pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS).sic

Licença de ocupação de permissão outorgada pelo INCRA;

Certidão fornecida pela FUNAI, certificando a condição do ín- dio como trabalhador rural;

Declaração do sindicato que representa o trabalhador rural e do sindicato ou colônia de pescadores homologada pelo INSS.

Se não tiverem homologadas pelo INSS valerá apenas como prova testemunhal. (RIBEIRO, 2018, p. 124-125)

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Os documentos públicos também são aceitos como prova desde que sejam de acordo com a contemporaneidade do período laboral. A certidão de casamento é um exemplo típico. A decisão é unanime entre os tribunais e em consonância foi editada a Súmula 06 da Turma Nacional de Uniformização (TNU) do Juizado Federal: “A certidão de casamento ou outro documento idôneo que evidencie a condição de trabalhador rural do cônjuge constitui início razoável de prova material da atividade rurícola.” (BRASIL, 1995, p.00493)

São validos também documentos em nome de membros do grupo familiar que laborem conjuntamente. Há precedente a respeito de prova fotográfica como início de prova documental. A jurisprudência aceita documentos de forma descontinuada, não precisando a comprovação ano a ano e desde que corroborada com prova testemunhal idônea. (RIBEIRO, 2018)

Observa-se que a jurisprudência aceita inúmeros meios de comprovação de atividade laboral. Porém o Superior Tribunal de Justiça afirmou através da Súmula Vinculante 149 que “A prova exclusivamente testemunhal não basta à comprovação da atividade rurícola, para efeito da obtenção de benefício previdenciário.” Nesse sentido a prova testemunhal sozinha é insuficiente como prova, devendo ser corroborada com documentos que comprovem a atividade rural. (BRASIL, 1995, p.

44864, on-line)

No mesmo sentido a Instrução Normativa N77 elenca outros documentos que podem ser relacionados como prova inicial e reafirma que os documentos são validos para todos do grupo familiar mesmo que não esteja em seu nome. (BRASIL, 2015, on-line)

Indaga Jane Lucia Wilhelm Berwanger:

[...] porque há tantos indeferimentos se a normatização é tão generosa para com o trabalhador rural, no que se refere à comprovação da ati- vidade? Com base no conhecimento empírico, no exercício da relato- ria e julgamento dos recursos administrativos, podemos afirmar que o simples cumprimento da normatização (o que não significa admitir que toda ela encontra respaldo na lei e na Constituição, reduziria drastica- mente as demandas judiciais. Ou seja, ou por desconhecimento, ou

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por discordância, muitos servidores não aplicam as Instruções Norma- tivas e Orientações Internas. (BERWANGER, 2012, p. 119 apud RI- BEIRO, 2018, p 123)

A doutrina sustenta que todos os casos de negativa administrativa são por falta de provas ou alegação pelo fato de não ter direito à pretensão pleiteada. E vai além ao destacar o ato negatório do INSS:

[...] Em que pese a evolução legislativa no intuito de facilitar e flexibili- zar a comprovação da atividade rural do segurado especial, verifica- se que esse compromisso com a cobertura previdenciária diferenciada trazida pelas normas constitucionais não é praticado pelo INSS, ou mesmo não respeitado pela legislação ordinária. (SERAU, 2014, p.

103)

É evidente que existe uma dificuldade a respeito da comprovação da atividade laboral do trabalhador rural visto que há uma enorme flexibilidade na legislação.

Desde as primeiras normas de cunho previdenciário o legislador entendeu a hipossuficiência, a fragilidade, e as condições especiais do trabalhador, mas de nada adianta se todas as circunstâncias vencidas ao longo dos anos são ignoradas pela Autarquia responsável pela concessão do benefício.

É notório que mesmo com a disposição da legislação em tratar o trabalhador rural com isonomia, o trabalhador continua vivendo no “mundo rural”, onde não há a cultura de guardar documentos e pouco conhecimento a respeito da importância deste ato.

O Decreto nº 10.410/2020 que que alterou a regulamentação da Previdência Social vislumbra uma possível normatização e simplificação da comprovação da atividade rural. A partir de 1º de janeiro de 2023 tal comprovação será exclusivamente pelas informações constantes no Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS).

A legislação sustenta que o Ministério da Economia poderá firmar acordo de cooperação com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e com outros órgãos da administração pública federal, estadual, distrital e municipal para tentar manter o sistema do CNIS atualizado. (BRASIL, 2020).

Esta poderá ser uma possibilidade para mudar o cenário atual onde o trabalhador rural não consegue reunir documentos que comprovem sua condição de segurado especial e tampouco a atividade laboral exercida durante a vida. Porém a

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lei entrará em vigor somente para novos contratos, permanecendo ao acaso a dificuldade de comprovação dos contratos atuais e anteriores.

Levando em consideração que tradicionalmente os contratos de trabalho são firmados informalmente a lei assegura para os períodos anteriores a 2023 a comprovação do exercício de atividade rural como acontece atualmente. Ao analisar o Decreto 10.410/2020 nota-se que há uma continuidade ao sistema atual, pois se faltar documentos ou os dados não forem suficientes caberá ao segurado especial apresentar documentos comprobatórios. (BRASIL, 2020)

A lei visa uma desburocratização das formalidades da vida cível ao trabalhador rural. No entanto é necessário que hajam políticas públicas destinadas a facilitar o entendimento legislativo ao trabalhador no campo, onde na maioria das vezes há informalidade nas atividades exercidas desde o início de um contrato de trabalho firmado oralmente até a simples venda de ovos ou hortaliças onde não há o cuidado de se efetuar ou exigir notas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Previdência Social surgiu da necessidade de proteção ao indivíduo após tempos sombrios da Revolução Industrial. No Brasil a Previdência Social é um dos ramos da Seguridade Social que visa o bem-estar e a justiça social. Está prevista na Constituição Federal de 1988, e é definida como instrumento de proteção ao trabalhador e a seus segurados no momento que necessitar. Seus princípios estão entrelaçados com seus objetivos.

A aposentadoria por idade passou a ser definida como aposentadoria programada protegendo o trabalhador em idade avançada com 65 (sessenta e cinco) anos se homens e 62 (sessenta e dois) anos se mulheres. O legislador foi compassivo com o trabalhador rural diminuindo a idade para aposentadoria destes para 60 (sessenta) anos aos homens e 55 (cinquenta e cinco) anos para as mulheres.

Os trabalhadores rurais sempre enfrentaram dificuldades no reconhecimento de seus direitos, começando pelo fato de apenas terem tratamento isonômico previdenciário 45 (quarenta e cinco) anos após os trabalhadores urbanos.

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A morosidade ocasionou algumas peculiaridades na redação da legislação, como o contrato de trabalho oral, que foi identificado como precedente da cultura do trabalhador rural não guardar documentação.

A legislação previdenciária entendeu a necessidade de tratar o trabalhador rural como segurado especial, e elencou em seu texto as características necessárias para que o trabalhador se enquadre em condição especial para aposentadoria por idade, que além de atingir a idade necessária tem que provar a qualidade de segurado especial e comprovar por meios de documentos que exerceu atividade rural por 180 (cento oitenta) meses.

Com o passar dos anos o legislador foi ajustando e ampliando seus textos para conseguir englobar todos os trabalhadores dentro de uma só proteção. Esforço ocasionado pela dívida legislativa tardia, muitas vezes não vistas pelo cidadão comum porque sempre estão envolvidas em políticas de cunho social.

A legislação entende a dificuldade que o trabalhador rural tem em reunir documentos e tenta dirimir ao elencar tantos documentos aceitos como prova documental. Mas a Autarquia responsável para concessão do benefício previdenciário tem resistência a aceitar esses documentos para o enquadramento do trabalhador como segurado especial e a comprovação da atividade laboral, negando a aposentadoria, sendo necessária a judicialização.

Por fim, notou-se a falta de iniciativas públicas que possibilitem levar o entendimento das leis cíveis até o trabalhador rural para que ele compreenda a necessidade da comprovação documental para concessão da aposentadoria por idade rural.

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TÍTULO DO TRABALHO (FONTE TAHOMA, TAMANHO 7)

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2020.

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