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Rev. adm. empres. vol.43 número2

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Academic year: 2018

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ABR/MAIO/JUN/2003 • ©RAE • 5 Que professor – honesto consigo mesmo e com sua

profis-são – nunca duvidou de sua capacidade didática e de sua con-tribuição para a formação de seus pupilos? De fato, questio-nar a si mesmo e cultivar a autocrítica constitui postura obri-gatória para quem se aventura pelo mundo da pesquisa e do ensino. Porém, dirão os mais críticos, talvez essa postura es-teja precisando de reforço e estímulo.

Tomemos a questão do ensino em administração no Brasil e em outros países. Os números que expressam seu cresci-mento são dramáticos, atestando a vitalidade do campo. Por outro lado, não faltam críticas. Conteúdos defasados, distân-cia da prática empresarial, superfidistân-cialidade, disseminação de valores pouco éticos, foco excessivo na instrumentalidade, didática ineficaz: a lista é longa.

Russell L. Ackoff, um dos pioneiros na educação em ges-tão, declarou recentemente em entrevista para a revista

Academy of Management Learning & Education: “O fato é que o ensino é o maior obstáculo ao aprendizado. A maior parte do que é ensinado nunca é usado e é irrelevante, e o que você usa é apren-dido no trabalho [...] Portanto, todo o conceito de educação está errado. Os garotos aprendem na escola e alguns adultos aprendem na universidade não por causa da escola ou da universidade, mas a despeito delas. As pessoas aprendem umas com as outras seguin-do sua curiosidade, mas aprendem muito pouco com os cursos.”

Na mesma entrevista, completa o respeitado educador: “[Os professores de administração] realmente pensam que o que eles estão ensinando é relevante, mas não é. Muito do que é ensinado foi relevante no máximo entre as duas guerras mundiais. Mas a maioria dos professores das escolas de administração não sabe o que aconteceu depois disso. Não há entendimento nas escolas de negócios sobre a natureza das mudanças que estão ocorrendo no pensamento e no ambiente, e sua importância”.

Voltemo-nos para a situação brasileira e o quadro pode ser ainda mais dramático. Os programas em administração brasilei-ros já se contam aos milhares. A qualidade, entretanto, não acom-panhou o rápido crescimento. Alguns programas sofrem com a situação das universidades públicas, questão tanto de orçamen-to quanorçamen-to de mentalidade. Muiorçamen-tos programas constituem verda-deiras fábricas de diplomas, no mais puro estilo “Mac-University”, com seus empresários do ensino e seus professores-empreende-dores. Outros programas sofrem ainda com o flagelo da transfor-mação da aula em espetáculo, com professores comediantes que “divertem” os alunos com casos, piadas e shows em PowerPoint.

Por esses e muitos outros motivos, consideramos extrema-mente bem vindas as provocações e reflexões trazidas nesta edição por autores brasileiros e estrangeiros.

ALIMENTO PARA A MENTE E PARA A ALMA

A última edição da RAE-revista de administração de em-presas trouxe artigos que registravam o “estado das coisas” da

EDITORIAL

pesquisa brasileira em quatro áreas da administração: opera-ções, finanças, marketing e recursos humanos. Neste número, deslocamos o foco para a questão do ensino e aprendizado.

O Fórum Educação em Administração, prefaciado pelo Pro-fessor Carlos Osmar Bertero, traz quatros artigos: os dois pri-meiros analisam os programas de pós-graduação voltados para executivos; os dois últimos discutem educação em gestão no Brasil hoje. No primeiro artigo, Jeffrey Pfeffer e Christina T. Fong analisam os impactos dos cursos de MBA na carreira dos estudantes. No segundo artigo, Henry Mintzberg e Jonathan Gosling apresentam uma proposta alternativa para a formação de executivos. No terceiro, Alexandre Nicolini apresenta uma reflexão sobre o processo de ensino na graduação em adminis-tração no Brasil. No quarto artigo, Roberto Ruas trata da versão brasileira do MBA norte-americano – o MPA – que, segundo o autor, seria mais adequado às necessidades do ambiente local. No campo da teoria das organizações, Rafael Alcadipani e João Marcelo Crubellate tratam da produção acadêmica sobre cultura organizacional, mostrando suas limitações ao assumir como pressuposto uma cultura nacional única.

Na área da estratégia, Fábio Luiz Mariotto trata do tema das estratégias emergentes, examinando suas origens, inter-pretações e as implicações para a prática administrativa.

Na área de Recursos Humanos, Isabella Vasconcelos, Fernando C. Prestes Motta e Luis Pinochet realizam, com o apoio de dois estudos de casos, uma análise crítica dos parado-xos envolvendo gestão de pessoas e mudanças tecnológicas.

Em RAE-Documento, Rogério Quintella traz oportuna con-tribuição, analisando diferenças e semelhanças entre o ENANPAD (o maior encontro brasileiro de administração) e a AOM (maior encontro norte-americano de gestão).

Em Pensata, Luiz Carlos Bresser Pereira registra homena-gem ao Professor Fernando C. Prestes Motta, ressaltando sua inquestionável qualidade de pesquisador e teórico das orga-nizações. Também em Pensata, Tânia Fischer relata sua expe-riência com o curso de Mestrado Profissional em Administra-ção, mostrando as seduções e riscos da formação de gestores. Completam esta edição duas resenhas e duas indicações bibliográficas.

CONVITE

Desejamos que esta edição, dedicada em boa medida à ques-tão da educação em gesques-tão, sirva de incentivo para o desen-volvimento de novos trabalhos sobre o tema. A RAE terá sem-pre grande interesse em veiculá-los.

Boa leitura!

Thomaz Wood Jr.

Referências

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