• Nenhum resultado encontrado

Homenagem ao amigo Pedro Pablo Magalhães Chacel, o semeador de sonhos

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "Homenagem ao amigo Pedro Pablo Magalhães Chacel, o semeador de sonhos"

Copied!
91
0
0

Texto

(1)
(2)

José Antônio Ribeiro Filho – médico, mastologista, Conselheiro do Conselho Federal de Medicina, ex-diretor do Hospital de Base do Distrito Federal

Correspondência: Clínica de Mastologia. SHLS 716, Centro Clínico Sul, Torre II, salas 221/223, CEP 70390-907, Brasília- DF. Telefones: 61 32451811 e 61 32458525

Internet: jarf@uol.com.br

Conflito de interesses: nada a declarar.

Homenagem ao amigo Pedro Pablo Magalhães Chacel, o semeador de sonhos

José Antônio Ribeiro Filho

DOI: xxxxxxxxxxxxxxx

Conheci Pablo Chacel em 1971, quando fui minis- trar um curso a alunos da Universidade de Brasília onde ele era professor. Desde então, mantivemos uma amizade estreita.

Trabalhei com ele no Hospital de Base e atuamos juntos no Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF). Como eu era novo na atividade conselhal, sentava-me, nas plenárias, ao lado dele.

Aprendi muito nesse período, pois Chacel foi conse- lheiro por muitos anos, primeiro como diretor, depois como presidente do CRM-DF e, por dez anos, de 1999 a 2009, representou o Distrito Federal no Conselho Federal de Medicina (CFM), atividade que exerço hoje com muito zelo, como forma de sucedê-lo à altura. Ele também foi presidente da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia de Brasília. Era um médico admirável, com um grande conhecimento dentro da especiali- dade, muito ético e um ser humano muito especial.

Digo sempre que Pablo era um semeador de so- nhos. Quando decidiu trocar o Rio de Janeiro pe- lo cerrado para assumir uma cadeira de profes- sor de Ginecologia e Obstetrícia na Universidade

de Brasília, ele deixou para trás uma clínica com clientela estabelecida, em um estado onde a famí- lia tinha tradição na área obstetrícia. Ele era, não podemos esquecer, neto de Fernando Magalhães, ginecologista que deu nome a um hospital-mater- nidade no município carioca.

Chacel acreditou no sonho de Brasília e aqui consoli- dou sua carreira e ajudou a solidificar a medicina da capital federal. Era um crítico ferrenho daqueles que criticavam a qualidade da medicina praticada aqui.

Dizia que esse preconceito começou com o ex-depu- tado Magalhães Pinto, que nunca fora a um médico brasiliense e defendia a ideia do atendimento no Rio ou em São Paulo e, portanto, não sabia que Brasília tinha uma medicina competente, com um parque tecnológico de destaque e médicos capacitados.

Chacel gostava de lembrar que o melhor hospital era aquele mais perto da nossa casa. Concordo com ele.

Como obstetra, fez milhares de partos e teve altís- simo número de pacientes. Por suas mãos nasceu, inclusive, uma neta de um dos nossos ex-presiden- tes da República. Mesmo tendo clínica particular,

(3)

Chacel era um defensor da saúde pública. Dizia que todo médico deveria trabalhar nos postos de saúde e nos hospitais públicos, o que seria uma oportu- nidade de crescimento e formação. “É no serviço público que conhecemos os casos mais complexos e difíceis”, ensinava.

Como professor universitário, ele defendeu a pre- ceptoria em residência médica. Para ele a con- vivência com os mais jovens era uma forma de aprimoramento, pois o instigava sempre a buscar novos conhecimentos. Em sua grande sapiência, re- conheceu que tinha preparado profissionais que se tornaram melhores do que ele.

Na rede pública do Distrito Federal, Chacel inicial- mente trabalhou no Hospital de Sobradinho, antigo hospital-escola da Universidade de Brasília. Quando começou a atuar no hospital, o índice de mortalida- de infantil na região era de 54/1.000. Seis meses após sua chegada, o índice caiu para 34/1.000.

Tinha total desapego às coisas materiais e não ficou rico com a medicina. Dizia que a melhor recompensa era o carinho da população e os resultados obtidos.

Indo contra a tendência atual, de incentivo à cesa- riana, Pablo também foi defensor do parto natural e incentivou seus alunos a privilegiarem essa prática.

Quando deixou a Universidade de Brasília, Pablo foi trabalhar no Hospital do Gama e de lá foi pa- ra o Hospital de Base onde foi chefe de unidade.

Aposentou-se da Secretaria de Saúde do Distrito Federal como médico do Hospital Regional da Asa Norte para onde tinha sido transferido o Serviço de Ginecologia e Obstetrícia.

É do período em que trabalhávamos juntos no Hospital de Base, que guardo as mais divertidas lembranças. Ele era um apaixonado por motos.

Argumentava, inclusive, que a moto se parecia com o aparelho reprodutor feminino, daí a razão da sua paixão, como ginecologista, pelo veículo.

Pois bem, quando ele chegava ao hospital pilotando sua moto, que era enorme, brincávamos que estava chegando o “frango da Sadia”. E parecia muito, já que ele era muito magro e tinha aquela cabeleireira vasta. Ele não se incomodava com o apelido.

Outra vez, o diretor do hospital mandou-o tirar o capacete de cima do birô de atendimento. Ele pas- sou o resto do dia atendendo com o capacete na cabeça. Uma das características que eu admirava nele era essa ironia divertida e a capacidade de se manter jovem.

Outra história dele foi um atendimento que ele fez a uma prostituta, na época em que atuava em Sobradinho. Como forma de evitar a propagação de doenças venéreas, foi estabelecido que todas as mu- lheres que trabalhavam com prostituição na região deveriam fazer exames para detectar essas enfermi- dades e, até que o resultado saísse, elas não pode- riam trabalhar. Preocupado com a subsistência des- sas mulheres, ele perguntou a uma delas quanto ela ganhava por programa. Ela disse o valor, mas adian- tou que para ele faria de graça, devido à gentileza do atendimento. É claro que ele declinou do convite.

Era um médico que não se restringia ao escopo da sua especialidade. Ao analisar os processos no CFM, era capaz de se aprofundar nos conhecimen- tos de outras áreas. Como mastologista a quem ele indicava pacientes com suspeita de câncer, nunca atendi uma dessas mulheres que não tivesse razões reais para consultar um especialista, o que mostra o quanto o conhecimento dele ia além de ginecolo- gia. Em meados da década de 70, ele teve de substi- tuir, de última hora, uma palestrante de uma jorna- da organizada pelas entidades da área ginecológica do Distrito Federal. Mesmo tendo apenas uma hora para se preparar para a conferência, deu uma aula, muito elogiada pelos participantes da jornada.

As mulheres, ao lado da medicina, foram outra paixão de Pablo. Conheci as três esposas dele. A primeira, veio do Rio de Janeiro com ele, mas che- gando aqui logo se separaram. Com esta ele teve dois filhos. Com a segunda, uma médica, teve uma filha, que hoje também exerce a medicina. Não te- ve filhos com a terceira e última esposa, Beth, mas criou uma enteada como se filha fosse.

Como conselheiro, principalmente na função de corregedor, cargo que exerceu por dez anos, pro- curava ser justo e humano, mas sem desobedecer ao código de ética médica. Analisava cada processo

(4)

com todo o cuidado. No CFM, era obcecado pela correção e pelo estudo criterioso dos processos ético-profissionais. O zelo com que ele atuava na corregedoria levou o CFM a contratá-lo, como as- sessor da diretoria, quando terminou seu mandato de conselheiro. Até a sua morte ele exerceu essa função, sempre com muita dedicação.

Atendendo a um pedido dele, parte das cinzas de Pablo foi jogada no jardim de inverno do CFM.

Mas ele também dizia que outra parte deveria ser jogada em um shopping, para que as mulheres se lembrassem dele.

Pablo dizia que, enquanto as pessoas tivessem capa- cidade de sonhar, elas não ficariam velhas. O corpo poderia envelhecer, mas elas não seriam velhas. Ele

era uma dessas pessoas: foi jovem até o fim da vida.

Eu, inclusive, recusei-me a vê-lo doente. Fui visitá-lo no hospital e como o encontrei na UTI, inconsciente, decidi que só voltaria quando ele estivesse em sua plena consciência. Ligava todos os dias para a esposa dele e, em minha página do Facebook, escrevi uma mensagem pedindo que rezassem por ele, mas não quis voltar ao hospital. Infelizmente, meu amigo se foi antes de eu conseguir desfrutar novamente da sua agradável companhia.

Fiquei muito abalado com a sua morte. Sinto falta dos seus ensinamentos, das conversas que tínha- mos e da sua presença. Agradeço a Deus a opor- tunidade que tive de conhecê-lo e, todos os dias, procuro exercer minha função de conselheiro com a mesma dedicação e humanidade que ele tinha.

(5)

Luiz Augusto Casulari e Lucilia Domingues Casulari da Motta – Editores Gerais da Brasília Médica

Correspondência: CLINEN – SCN quadra 1, bloco F, edifício América Office Tower, sala n.o 1105, CEP 70711-905, Brasília-DF.

Internet: lacasulari@unb.br

Conflito de interesses: nada a declarar pelos autores.

Influência da indústria nas recomendações das

sociedades médicas: a propósito do uso da estatina

Luiz Augusto Casulari e Lucilia Domingues Casulari da Motta

DOI: xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

As novas recomendações da American College of Cardiology (ACC) e da American Heart Association (AHA), em novembro de 2013,1,2 as quais preconizam aumento substancial no uso de estatina pela população, causaram indignação e várias manifestações de desagrado da comunidade médica mundial não comprometida com a indús- tria. Essas recomendações são propostas para subs- tituir aquelas do Third Adult Treatment Panel (ATP III) do National Cholesterol Education Program.3 A previsão é de que haverá aumento de 75% a 150% no uso das estatinas e isso inclui também pacientes sem doença cardiovascular.4

Para a indústria das estatinas é noticia alvissareira.

Mas, para os usuários fará bem à saúde?

Em artigo publicado na Brasília Médica, Michel de Lorgeril5 analisa publicações que mostram a associa- ção do uso de estatinas com câncer. Denuncia, tam- bém, o conflito de interesses com as indústrias que produzem tais medicamentos dos autores que negam tal associação. Também publicado, recentemente, na Brasília Médica, Neiva e Delgado-Rodrigues6 exa- minaram a possibilidade da associação do uso de estatinas e neuropatias periféricas. Leuschen e cola- boradores7 mostraram que existe risco aumentado de cataratas em usuários de estatina em relação àque- les que não fazem seu uso. Os autores recomendam que a relação risco e benefício do uso da estatina para prevenção primária de eventos cardiovascula- res deveriam ser considerados em relação ao uso de estatinas. Yoon & Lee,8 em artigo de revisão, ana- lisam vários ensaios os quais mostraram que o uso de estatina causa piora da hiperglicemia e aumenta o risco de surgimento de diabetes em usuários de es- tatina. Isso pode estar relacionado com a dose mais alta do medicamento. Um efeito limitante ao uso da estatina, que pode ter uma susceptibilidade genética, é a miotoxicidade, que causa miopatia e mialgia.9

A propósito de efeitos adversos nas recomenda- ções publicadas pelas sociedades de especialidades, Moynihan e colaboradores10 descrevem que menos da metade delas mencionam potenciais danos às al- terações propostas.

As atuais recomendações propostas pela ACC e a AHA1,2 são criticadas por vários motivos. Segundo Rudker e Cook,4 elas poderão resultar em uso da es- tatina em mais de 45 milhões de norte-americanos na meia idade que não têm doença cardiovascular, isto é, cerca de um em cada três norte-americanos adultos deverão ser aconselhados a usar o medica- mento. Os autores enfatizam que ensaios contradi- zem as declarações de que alto fator de risco sempre é preditivo de eficácia da estatina. Apresentam co- mo exemplo ensaios como o Corona11 e o Aurora,12 em que se avaliaram indivíduos com alto risco de acidente vascular e não encontraram evidência de redução de eventos, mesmo com grande redução do LDL colesterol. Em editorial,13 o periódico The Lancet chama a atenção sobre esse artigo, que con- dena as recomendações da ACC e AHA de Stone e colaboradores.1,2 Enfatizam também que a mudança de estilo de vida poderia ser mais eficaz do que a medicalização dessa população.

(6)

O painel que originou as recomendações da ACC e AHA1,2 teve como presidente, um dos dois adicionais presidentes e oito dos quinze participantes profissio- nais com ligações com a indústria. Jeanne Lenzer14 expõe que o presidente, Neil J. Stones, antes de parti- cipar dessas recomendações, teve ligações financeiras com a Abbott, AstraZeneca, Merck, Pfizer, Sanofi- Aventis e Shering-Plough, Sonaste e Reliant. Seis dessas indústrias produzem drogas para tratar hiperli- pidemia. Segundo Lenzer, quando foi inquirido sobre esse conflito de interesses, Stones se comprometeu a não receber nenhum tipo de financiamento por dois anos após a publicação dessas recomendações.

O comentário em nome da Brasília Médica é que agradecemos tamanha gentileza, honestidade e des- prendimento por parte do eminente norte-americano, e esperamos que os médicos brasileiros dispensem tal generosidade e analisem suas recomendações de maneira extremamente cautelosa para o benefício dos doentes brasileiros.

Infelizmente, o hábito de usar profissionais compro- metidos com a indústria não ocorre somente nessa situação do uso de estatina. Em análise de publica- ções de 2000 a 2013, Moynihan e colaboradores10 constataram que a maioria das recomendações de definição de doença proposta aumentaria o número de indivíduos considerados doentes com hipertensão arterial, asma, doença pulmonar obstrutiva crônica, artrite reumatoide, déficit de atenção e hiperativida- de e doença de Alzheimer. Nenhuma das recomen- dações apresentou rigorosa avaliação de potenciais danos desse aumento do diagnóstico. Em média, 75% dos membros dessas publicações tinham algum conflito de interesses com a indústria como consul- tores, conselheiros ou conferencistas ou receberam apoio financeiro para pesquisa.

Infelizmente, entre as sociedades brasileiras de médicos, não se tem o hábito de informar os pos- síveis conflitos de interesses com a indústria dos realizadores dessas recomendações. Convidamos os eventuais leitores deste editorial que façam es- sa pesquisa para a fácil constatação do desvio ético habitual chancelado pelas sociedades. No caso das apresentações em congressos, a Anvisa exige que o conferencista faça a declaração de possível conflito.

Contudo, passa-se tão rápido que muitas vezes não se percebe esse importante aspecto ético.

Não somos contra essa interação com a indústria, mas declarar é uma obrigação ética.

REFERÊNCIAS

1. Stone NJ, Robinson J, Lichtenstein AH, Bairey Merz CN, Blum CB, Eckel RH, et al. 2013 ACC/AHA guideline on the treatment of blood cholesterol to reduce atherosclerotic cardiovascular risk in adults: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines. Circulation 2013; Nov 12. [Epub ahead of print]. cir.0000437738.63853.7a 2. Stone NJ, Robinson J, Lichtenstein AH, Bairey Merz CN, Lloyd

Jones DM, Blum CB, et al. 2013 ACC/AHA guideline on the treat- ment of blood cholesterol to reduce atherosclerotic cardiovascu- lar risk in adults: a report of the American College of Cardiology/

American Heart Association Task Force on Practice Guidelines. J Am Coll Cardiol. 2013; Nov 13. DOI:101016/j.jacc2013.11.002.

3. National Cholesterol Education Program (NECP) Expert Panel on Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Cholesterol in Adults (Adult Treatment Panel III). Third report of National Cholesterol Education Program (NECP) Expert Panel on Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Cholesterol in Adults (Adult Treatment Panel III) final report. Circulation.

2002;106(25):3143-421.

4. Ridker PM, Cook NR. Statins: new American guidelines for pre- vention of cardiovascular disease. Lancet. 382(9907):1762-5.

5. De Lorgeril M. Colesterol, tratamento anticolesterol e câncer.

Brasilia Med. 2010;47(3):356-60.

6. Neiva MSS, Delgado-Rodrigues RN. Estatinas e neuropatias peri- féricas: uma revisão da literatura. Brasília Med. 2013;50(2):118-21.

7. Leuschen J, Mortensen EM, Frei CR, Mansi EA, Pandry V, Mansi I.

Association of statin use with cataracts: a propensity score-matched analysis. JAMA Ophtalmol. 2103;131(11):1427-34.

8. Yoon JS, Lee HW. Diabetogenic effect of statins: a double-edged sword? Diabetes Metab J. 2013;37(6):415-22.

9. Needham M, Mastaglia FL. Statin myiotoxicity: a review of genetic susceptibility factors. Neuromuscul Disord. Epub 2013 Sep 30.

10. Moynihan RN, Cooke GP, Doust JA, Bero L, Hill S, Glasziou PP.

Expanding disease definitions in guidelines and expert panel ties to industry: a cross-sectional study of common conditions in the United States. Plos Med. 10(8):e1001500.

11. Kjekshus J, Apetrei E, Barrios V, Böhm M, Cleland JG, Cornel JH, et al. Rosuvastatin in older patients with systolic heart failure. N Engl J Med. 2007;357(22):2248-61.

12. Fellström BC, Jardine AG, Schmieder RE, Holdaas H, Bannister K, Beutler J, et al. Rosuvastatin and cardiovascular events in patients undergoing hemodyalisis. N Engl J Med. 2009;360(14):1395-407.

13. Ridker PM, Cook NR. Editorial. Statins: new US guideline sparks controversy. Lancet. 2013;382(9907):1762.

14. Lenzer J. Majority of panelists on controversial new cholesterol guidelines have current or recent ties to drug manufactures. BMJ.

2013;347:f6989.

(7)

Ramires Alsamir Tibana – profissional de Educação Física, Centro Universitário Euro-Americano (Unieuro), Departamento de Educação Física, Programa de Pós-Graduação stricto sensu da Faculdade de Educação Física da Universidade Católica de Brasília, Brasília, Distrito Federal, Brasil Dahan da Cunha Nascimento – profissional de Educação Física, Centro Universitário Euro-Americano (Unieuro), Departamento de Educação Física, Programa de Pós-Graduação stricto sensu da Faculdade de Educação Física da Universidade Católica de Brasília, Brasília, Distrito Federal, Brasil Sandra Oliveira – profissional de Educação Física, Programa de Pós- Graduação stricto sensu da Faculdade de Educação Física da Universidade Católica de Brasília, Brasília, Distrito Federal, Brasil

Graciliano Rosa – profissional de Educação Física, Centro Universitário Euro-Americano (Unieuro), Departamento de Educação Física, Brasília, Distrito Federal, Brasil

Sandor Balsamo – profissional de Educação Física, Centro Universitário Euro-Americano (Unieuro), Departamento de Educação Física, Programa de Pós-Graduação stricto sensu da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Brasília, Brasília, Distrito Federal, Brasil

Renato André Sousa da Silva – profissional de Educação Física, Centro Universitário Euro-Americano (Unieuro), Departamento de Educação Física, Programa de Pós-Graduação stricto sensu da Faculdade de Educação Física da Universidade Católica de Brasília, Brasília, Distrito Federal, Brasil Roberta Kelly Menezes Maciel Falleiros – médica endocrinologis- ta, Unidade de Endocrinologia e Metabologia, Hospital Regional de Taguatinga, Brasília, Distrito Federal, Brasil

Darlan Lopes de Farias – profissional de Educação Física, Programa de Pós-Graduação stricto sensu da Faculdade de Educação Física da Universidade Católica de Brasília, Brasília, Distrito Federal, Brasil Jonato Prestes – profissional de Educação Física, Programa de Pós- Graduação stricto sensu da Faculdade de Educação Física da Universidade Católica de Brasília, Brasília, Distrito Federal, Brasil

Correspondência: Ramires Alsamir Tibana. Programa de Pós- Graduação em Educação Física e Saúde. Universidade Católica de Brasília, QS 7, lote 1, EPTC, bloco G, CEP 71966-700, Águas Claras, Taguatinga-DF, Brasil. Telefone: 61 33569350.

Internet: ramirestibana@gmail.com

Recebido em 19-9-2013. Aceito em 20-12-2013.

Conflito de interesses: nada a declarar pelos autores.

A força de preensão manual como marcador de saúde em adolescentes com sobrepeso

Ramires Alsamir Tibana, Dahan da Cunha Nascimento, Sandra Oliveira, Graciliano Rosa, Sandor Balsamo, Renato André Sousa da Silva, Roberta Kelly Menezes Maciel Falleiros, Darlan Lopes de Farias e Jonato Prestes

DOI: xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

RESUMO

Introdução. O excesso de peso é um sério proble- ma mundial de saúde pública e poucos estudos ana- lisaram e associaram a força muscular relativa em adolescentes com e sem sobrepeso.

Objetivos. Comparar a força muscular relativa de adolescentes de ambos os sexos com e sem sobrepe- so, além de correlacionar a força muscular relativa com a massa corporal, o índice de massa corporal, o perímetro da cintura e a razão cintura-estatura.

Método. Foram avaliados 237 adolescentes (115 meninos) (12,8 ± 1,2 anos; índice de massa corporal 19,8 ± 3,4 kg/m2), os quais foram classificados em:

eutróficos (n = 184; massa corporal 45,9 ± 7,9 kg; ín- dice de massa corporal 18,5 ± 1,9 kg/m2) e sobrepe- sados (n = 53; massa corporal 64,8 ± 12,6 kg; índice de massa corporal 25,2 ± 2,8 kg/m2).

Resultados. A força muscular relativa foi menor nos adolescentes com sobrepeso quando compa- rada a dos adolescentes eutróficos (0,45 ± 0,07 vs 0,55 ± 0,09; p = 0,001). Houve correlação negativa da massa corporal (r = -0,23; p = 0,001), do índice de massa corporal (r = -0,40; p = 0,001), do perí- metro da cintura (r = -0,38; p = 0,001) e da razão cintura-estatura (r = -0,47; p = 0,001) com a força muscular relativa.

Conclusão. Os resultados do presente estudo suge- rem haver possível influência negativa do excesso de peso e de variáveis antropométricas na força muscular relativa de adolescentes com sobrepeso.

Palavras-chave. Força muscular; obesidade; sobre- peso; adiposidade corporal

(8)

ABSTRACT

Handgrip strength as a health marker in overweight adolescents

Introduction. Excess body weight is a serious public health issue worldwide, and few studies have compared or analyzed the association between relative muscle strength in adolescents with and without overweight.

Objectives. The aim of this study was to compare the relative muscle strength of overweight and normal- weight adolescents of both sexes. The authors also attempted to correlate relative muscle strength with body weight, body mass index, waist perimeter, and waist-height ratio.

Method. 224 adolescents were evaluated (115 boys) (12.8 ± 1.2 years; body mass index 19.8 ± 3.4 kg/m2) and classified as having normal weight (n = 184; body weight 45.9 ± 7.9 kg; body mass index 18.5 ± 1.9 kg/m2) or being overweight (n = 53; body weight 64.8 ± 12.6 kg; body mass index 25.2 ± 2.8 kg/m2).

Results. Relative muscle strength was lower in overweight adolescents when compared with those who had normal weight (0.45 ± 0.07 vs 0.55 ± 0.09; p = 0.001).

A negative correlation between relative muscle strength and body weight (r = -0.23; p = 0.001), body mass index (r

= -0.40; p = 0.001), waist perimeter (r = -0.38; p = 0.001) and waist-height ratio (r = -0.47; p = 0.001) was found.

Conclusion. The results of the present study suggest a probable negative influence of excess weight and anthropometric variables on the relative muscle strength of overweight adolescents.

Key words. Muscle strength; obesity; overweight;

corporal adiposity

INTRODUÇÃO

Os índices de obesidade vêm crescendo de for- ma alarmante na maioria dos países, chegando a mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade é uma doença crônica epidêmica, que

atinge crianças, adolescentes e adultos de países com diferentes níveis de desenvolvimento e inclu- sive supera a desnutrição e as doenças infecciosas.

Essa epidemia global requer atenção especial dos serviços de saúde, pois até 2015, estima-se que aproximadamente dois bilhões e trezentos mil in- divíduos apresentarão sobrepeso e mais de sete- centos milhões, obesidade.1

Em adolescentes, informações provenientes de estudos longitudinais evidenciam aumento signi- ficativo na ocorrência de sobrepeso e constituem assim importante fonte de preocupação para pro- fissionais da área da saúde. Nesse aspecto, apresen- ta-se uma favorável condição para que crianças e adolescentes obesos tornem-se adultos obesos2 com grandes possibilidades de sofrerem as con- sequências desse agravo, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, doença aterosclerótica, hipertensão arterial, transtornos ortopédicos e ar- ticulares, doenças de pele, maior risco cirúrgico, dentre outras complicações.3

Por outro lado, a atividade física está diretamente relacionada à redução dos riscos de desenvolvi- mento de diversas doenças. Em estudos recentes, a força muscular, por exemplo, mostra relação in- versa com pressão arterial,4,5 síndrome metabóli- ca6 e obesidade7,8 em mulheres de meia-idade se- dentárias, de tal modo que é importante fator de saúde já na juventude.9 Andersen e colaboradores10 demonstraram que baixos níveis de aptidão aeró- bica na infância e na adolescência relacionaram-se com maiores riscos de doenças cardiovasculares na idade adulta. Em relação à força muscular, similar- mente, estudos demonstram associações inversas entre a força muscular com os fatores de risco car- diovascular11-13 e mortalidade em adolescentes.14 Por conseguinte, estão bem definidos na literatura os impactos negativos da obesidade sobre a saúde cardiovascular dos adolescentes, mas ainda são li- mitadas as informações sobre como a força muscu- lar pode relacionar-se com a adiposidade corporal em adolescentes. Portanto, o objetivo do presen- te estudo foi comparar a força muscular relativa de adolescentes com sobrepeso e sem sobrepeso, além de correlacionar a força muscular relativa

(9)

com a massa corporal, com o índice de massa cor- poral, com o perímetro da cintura e com a razão cintura-estatura.

MÉTODO AMOstRA

Este foi um estudo transversal, realizado no período de julho de 2011 até maio de 2013 em adolescentes residentes no Distrito Federal. Após os pais assina- rem um termo de consentimento livre e esclareci- do, participaram desse estudo de forma voluntária (amostra de conveniência), 237 adolescentes (115 meninos) (12,8 ± 1,2 anos etários; índice de massa corporal 19,8 ± 3,4 kg/m2), classificados em eutrófi- cos (n = 178; massa corporal 45,9 ± 7,9 kg; índice de massa corporal 18,5 ± 1,9 kg/m2) e sobrepesados (n

= 46; massa corporal 64,8 ± 12,6 kg; índice de massa corporal 25,2 ± 2,8 kg/m2). O critério de inclusão pa- ra os participantes foi ter idade de 12 a 15 anos.

Os critérios de exclusão foram presença de doenças cardiorrespiratórias (autorrelatada) e ou limitações físicas (autorrelatada) que comprometessem o de- sempenho durante os testes. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Católica de Brasília (resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde).

AntROPOMetRIA

A medida da massa corporal foi realizada com o in- divíduo descalço, com roupas leves, e foi utilizada balança digital. A estatura foi medida com estadiô- metro acoplado à balança e os avaliados tiveram classificação de sobrepeso por meio do índice de massa corporal por sexo e idade, segundo os pontos de corte propostos por Cole e colaboradores.15 A mensuração do perímetro da cintura foi realiza- da no ponto central entre o último arco costal e a crista ilíaca. A razão cintura-estatura (RCE) foi cal- culada por meio da equação: RCE = [circunferência da cintura (cm)/estatura (cm)].16 A coleta dos dados antropométricos foi realizada por somente um ava- liador experiente e treinado.

FORçA de PReensãO MAnuAl

A força de preensão manual foi obtida com dina- mômetro mecânico manual (Takei, T.K.K, Japão), respeitando o protocolo de España-Romero e co- laboradores.17 Para tanto, os voluntários perma- neceram em pé com os dois braços estendidos e o antebraço em rotação neutra.17 Para todos os par- ticipantes, a empunhadura do dinamômetro foi ajustada individualmente de acordo com o tama- nho das mãos de forma que a haste mais próxima do corpo do dinamômetro estivesse posicionada sobre as segundas falanges dos dedos indicador, médio e anular. O período de recuperação entre as medidas foi um minuto. O teste foi realizado em três tentativas na mão que o participante consi- derasse mais forte. A melhor marca dentre as três tentativas foi utilizada como medida. A força rela- tiva (FR) foi calculada com a equação proposta por Prestes e Tibana,18 em que FR = [força muscular absoluta (kg)/massa corporal (kg)]. A coleta dos dados da força de preensão manual foi realizada por um avaliador experiente e treinado.

AnálIse estAtístICA

A normalidade dos dados foi verificada pelo tes- te de Shapiro-Wik. Verificada a normalidade dos dados o teste t independente foi utilizado para comparação da força muscular relativa e antropometria entre os adolescentes sobrepe- sados e eutróficos. Adicionalmente, com base no valor da força muscular relativa, a amostra foi estratificada em quintis para comparação da massa corporal, do índice de massa corporal, do perímetro da cintura e da razão cintura-estatu- ra por meio da Anova one-way, seguida do teste post-hoc de Bonferroni quando apropriado. Para estabelecer correlações entre a variável força muscular relativa e as medidas antropométri- cas, utilizou-se o teste de correlação de Pearson.

Como correlações múltiplas foram realizadas, para não inflacionar o erro tipo I, a correção de Bonferroni foi aplicada dividindo-se 0,05 por 4 (p ≤ 0,012).19 Os dados foram analisados por meio do programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS, v.19, Chicago, IL) e o nível de sig- nificância adotado foi p < 0,05.

(10)

RESULTADOS

A tabela 1 apresenta as características da amostra.

Os adolescentes eutróficos apresentaram valores menores de massa corporal (p < 0,001), índice de massa corporal (p < 0,001), perímetro da cintura (p

< 0,001) e razão cintura-estatura (p < 0,001) quando comparados a adolescentes com sobrepeso. A força muscular relativa foi maior nos adolescentes eu- tróficos (p < 0,001) quando comparada a dos adoles- centes com sobrepeso (figura 1). Além disso, quan- do os adolescentes foram alocados em quintis da força muscular relativa, os adolescentes mais fra- cos (primeiro quintil) apresentaram maior massa corporal, índice de massa corporal (p < 0,01), perí- metro da cintura (p < 0,01) e razão cintura-estatura (p < 0,01) quando comparados aos demais quintis (figura 2), tanto nos meninos (tabela 2), bem como nas meninas (tabela 3).

0.8

0.6

0.4

0.2

0.0

Força muscular relativa

Sobrepesados Eutróficos

*

Figura 1. Força muscular relativa nos adolescentes com sobrepeso e eutróficos.

*Diferença significativa quando comparado aos adolescentes com sobrepeso (p < 0,001).

30

20

10

2Índice de massa corporal (kg/m) 0 B

1 2 3 4 5

Quintis

*

* * *

Massa corporal (kg)

80

60

40

20

0

A

1 2 3 4 5

Quintis

* * *

Figura 2. Massa corporal (painel A), índice de massa corporal (painel B), perímetro da cintura (painel C) e razão cintura-estatura (painel D) da população amostral estratificada em quintis da força muscular relativa. *Diferença significativa em comparação ao primeiro quintil (0,22-0,26) (p < 0,001); Diferença significativa em comparação ao segundo quintil (0,37-0,40) (p < 0,001).

Conforme apresentado na tabela 4, houve cor- relação negativa da massa corporal (r = -0,23;

p = 0,001; r = -0,23; p = 0,001), do índice de massa corporal (r = -0,40; p = 0,001; r = -0,23; p = 0,001), do perímetro da cintura (r =-0,38; p = 0,001; r = -0,23;

p = 0,001) e da razão cintura-estatura (r = -0,47;

p=0,001; r = -0,23; p = 0,001) com a força muscular relativa em meninos e meninas, respectivamente.

Perímetro da cintura (cm)

100 80 60 40 20 0

C

1 1 3 4 5

Quintis

* * *

0.6

0.4

0.2

0.0

Razão cintura-estatura

D

1 2 3 4 5

Quintis

*

(11)

Tabela 1. Características da amostra de acordo com o sexo

VARIáVEIS MENINOS

(n = 115)

MENINAS (n = 122)

TODOS

(n = 237) p

Idade (anos) 12,8 ± 1,4 12,8 ± 1,1 12,8 ± 1,2 0,97

Massa corporal (kg) 49,9 ± 13,5 49,7 ± 10,4 49,8 ± 11,8 0,89

Estatura (m) 1,59 ± 0,12 1,57 ± 0,07 1,58 ± 0,09 0,08

Índice de massa corporal (kg/m2) 19,5 ± 3,3 20,2 ± 3,6 19,8 ± 3,4 0,13

Perímetro da cintura (cm) 68,4 ± 8,4 67,7 ± 8,9 68,0 ± 8,7 0,59

Razão cintura-estatura 0,43 ± 0,04 0,43 ± 0,05 0,43 ± 0,05 0,74

Força absoluta (kg) 27,4 ± 8,6 25,1 ± 4,6 26,1 ± 6,8 0,01

Força relativa 0,55 ± 0,1* 0,51 ± 0,1 0,53 ± 0,1 0,003

*Diferença significativa entre meninos e meninas.

Força muscular relativa

0.8 0.6

0.4 0.2

30

20

10 Índice de massa corporal (kg/m2)

r=-0,40*

r=-0,47*

Força muscular relativa

Razão cintura-estatura

0.8 0.6

0.4 0.2

0.7

0.6

0.5

0.4

0.3 0.8

0.6 0.4

0.2

Massa corporal (kg)

100

80

60

40

20

Força muscular relativa

r=-0,23*

r=-0,38*

Força muscular relativa

Perímetro da cintura (cm)

0.8 0.6

0.4 0.2

120

100

80

60

20

Figura 3. Dispersões dos dados em relação à reta de regressão da massa corporal, do índice de massa corporal, do perímetro da cintura e da razão cintura-estatura em função da força muscular relativa. *(p = 0,001).

(12)

Tabela 3. Características das adolescentes de acordo com os quintis da força muscular relativa

VARIáVEIS QUINTIL 1

(n = 24)

QUINTIL 2 (n = 24)

QUINTIL 3 (n = 24)

QUINTIL 4 (n = 25)

QUINTIL 5 (n = 25)

Idade (anos) 12,8 ± 1,1 13,3 ± 1,0 13,4 ± 0,9 13 ± 1,2 13,2 ± 0,9

Massa corporal (kg) 60 ± 10,5 53,6 ± 7,8 51,4 ± 8,0 47,7 ± 6,8 45,6 ± 5,6

Estatura (m) 1,59 ± 0,06 1,59 ± 0,07 1,56 ± 0,06 1,56 ± 0,06 1,57 ± 0,05

IMC (kg/m2) 23,6 ± 3,8 21,3 ± 3,5 21 ± 2,5* 19,5 ± 2,3* 18,6 ± 2,2*†‡

PC (cm) 72,8 ± 7,3 68,5 ± 5,6 68,2 ± 5,4 63,5 ± 4,8*†‡ 62,3 ± 3,9*†‡

RCE 0,46 ± 0,04 0,43 ± 0,04 0,44 ± 0,04 0,41 ± 0,03*†‡ 0,40 ± 0,03*†‡

Força absoluta (kg) 22,5 ± 4,7 23,9 ± 3,4 25,4 ± 3,9 25,4 ± 3,7 28,1 ± 4,1*

Força relativa 0,38 ± 0,1 0,45 ± 0,1* 0,49 ± 0,1* 0,53 ± 0,1*†‡ 0,62 ± 0,4*†‡§

IMC – índice de massa corporal. PC – perímetro da cintura. RCE – razão cintura-estatura. *Diferença significativa entre meninos e meninas. *Diferença significativa em comparação ao primeiro quintil (p < 0,001). Diferença significativa em comparação ao segundo quintil (p < 0,001). Diferença significativa em comparação ao terceiro quintil (p < 0,01). §Diferença significativa em comparação ao quarto quintil (p < 0,001).

Tabela 4. Correlação entre as variáveis antropométricas com a força muscular relativa em meninos e meninas

VARIáVEIS MENINOS (n = 115) MENINAS (n = 122)

r p r p

Massa corporal (kg) -0,17 0,06 -0,51 0,001*

Índice de massa corporal (kg/m2) -0,44 0,001* -0,49 0,001*

Perímetro da cintura (cm) -0,30 0,001* -0,52 0,001*

Razão cintura-estatura -0,52 0,001* -0,45 0,001*

*Correlação significativa

Tabela 2. Características dos adolescentes de acordo com os quintis da força muscular relativa

VARIáVEIS QUINTIL 1

(n = 23)

QUINTIL 2 (n = 23)

QUINTIL 3 (n = 23)

QUINTIL 4 (n = 23)

QUINTIL 5 (n = 23)

Idade (anos) 13 ± 1,4 13,1 ± 1,5 13,1 ± 1,3 13,6 ± 1,3 13,9 ± 0,8

Massa corporal (kg) 60,6 ± 16,0 58,7 ± 20,9 52,8 ± 12,8 50,8 ± 11,2 55,7 ± 8,8

Estatura (m) 1,59 ± 0,11 1,58 ± 0,14 1,63 ± 0,14 1,62 ± 0,11 1,68 ± 0,08

IMC (kg/m2) 23,5 ± 3,8 22,7 ± 4,7 19,6 ± 2,2* 19,2 ± 2,1* 19,6 ± 2,1*

PC (cm) 75,4 ± 8,2 72,8 ± 12,6 68,2 ± 7,3* 67,3 ± 5,6* 69,1 ± 4,9*

RCE 0,47 ± 0,04 0,46 ± 0,06 0,42 ± 0,03* 0,42 ± 0,03* 0,41 ± 0,02*

Força absoluta (kg) 24,1 ± 6,4 28,6 ± 10,1 28,9 ± 7,4 31,3 ± 7,3* 40,5 ± 6,3*†‡§

Força relativa 0,40 ± 0,1 0,49 ± 0,2* 0,55 ± 0,2* 0,61 ± 0,3*†‡ 0,73 ± 0,06*†‡§

IMC – índice de massa corporal. PC – perímetro da cintura. RCE – razão cintura-estatura. *Diferença significativa em comparação ao primeiro quintil (p

< 0,001). Diferença significativa em comparação ao segundo quintil (p < 0,001). Diferença significativa em comparação ao terceiro quintil (p < 0,01).

§Diferença significativa em comparação ao quarto quintil (p < 0,001).

(13)

DISCUSSÃO

O objetivo do presente es tudo foi comparar a força muscular relativa de adolescentes com sobrepeso e sem sobrepeso além de correlacionar a força mus- cular relativa com a massa corporal, com o índice de massa corporal, com o perímetro da cintura e com a razão cintura-estatura. Os resultados en- contrados mostraram que os adolescentes sobre- pesados têm menor força muscular relativa quando comparados aos adolescentes eutróficos. Além dis- so, quando analisados os quintis da força muscular relativa, aqueles que apresentaram menor força muscular foram os que tiveram maior massa cor- poral, índice de massa corporal, perímetro da cin- tura e razão cintura-estatura. Assim, confirma-se a hipótese de que a baixa aptidão da força muscular na adolescência favorece os riscos à saúde tanto em meninos como em meninas.

Os resultados do presente estudo corroboram as evidências da literatura e indicam que o índice de massa corporal, o perímetro da cintura e a razão cintura-estatura são mais elevados em indivíduos com menor força muscular.6-10 Jackson e colabora- dores20 demonstraram que a prevalência e a inci- dência da obesidade diminuem sistematicamente com o aumento da força muscular em homens adultos, mesmo se corrigidas por idade, massa corporal e aptidão cardiorrespiratória. De forma análoga, Grontved e colaboradores13 analisaram a associação da força muscular isométrica com os fatores de risco cardiovascular em jovens duran- te doze anos. Os resultados mostraram que a ca- da desvio-padrão de diferença na força muscular isométrica esteve inversamente associada com o índice de massa corporal (-0,6 kg/m2), triglicerí- dios (-0,09 mmol/L) e pressão arterial diastólica (-1,2 mmHg).

Recentemente, Jiménez-Pavón e colaboradores12 usaram um método parecido com a do presen- te estudo para avaliar a força muscular em ado- lescentes (teste de preensão manual) e associar com marcadores de resistência a insulina. De acordo com os resultados apresentados, a força de preensão manual foi negativamente associa- da com a insulina de jejum. Similarmente, Lee e

colaboradores21 demonstraram que a força mus- cular máxima foi correlacionada com a sensibi- lidade à insulina (r = 0,39) e com o teste oral de tolerância a glicose (r = -0,32) em quarenta ado- lescentes obesos. Não obstante, Silventoinen e co- laboradores11 mostraram que os adolescentes com menor força muscular foram os que apresentaram maiores probabilidades de ter doenças coronaria- nas e acidente vascular encefálico.

Além disso, os benefícios de os adolescentes serem mais fortes e mais aptos fisicamente não se esten- dem apenas à composição corporal mais privile- giada e aos fatores de risco cardiovasculares mais brandos. Estudos recentes demonstram que crian- ças e adolescentes que são mais ativos fisicamente apresentam melhores desempenhos em testes de memória e aprendizado, aumento na função cog- nitiva em tarefas que requerem percepção22 e me- lhores desempenhos acadêmicos.23

É oportuno destacar algumas limitações metodoló- gicas do presente estudo. Em geral, investigações em grupos não escolhidos aleatoriamente (amostras de conveniência) têm como consequência produzir estimativas que não correspondem às frequên- cias realmente existentes na população. Ademais, o estudo trata-se de uma pesquisa transversal que impossibilita estabelecer relação de causa e efeito.

No entanto, estudos longitudinais têm demonstra- do que a força muscular é capaz de predizer diver- sas afecções orgânicas e níveis de mortalidade.4,13,14 Além disso, a força muscular foi avaliada apenas pe- lo teste de preensão manual, apesar de estudos te- rem usado essa ferramenta como parâmetro na ava- liação do estado geral de força.16,23 Adicionalmente, essa metodologia é de fácil aplicação e não necessita de equipamentos sofisticados, bem como de pessoal treinado, o que possibilita sua utilização para avaliar a força muscular em grandes populações.24 Por últi- mo, os adolescentes que apresentaram menor força muscular relativa foram aqueles com maior massa corporal, o que pode ter influenciado nos resultados do presente estudo.

Em conclusão, os resultados do presente estudo sugerem que, nas estratégias preventivas de obe- sidade, devem incidir não somente diminuição da

(14)

gordura corporal e aumento da aptidão cardiorres- piratória, mas também aumento da força muscular, sobretudo na prevenção da obesidade em adolescen- tes. De fato, o recente posicionamento da Academia Americana de Pediatria recomenda a inclusão do treinamento de força muscular com frequência de duas a três vezes por semana em dias não consecu- tivos para crianças e adolescentes.25

REFERÊNCIAS

1. World Health Organization (WHO). Obesity e overweight [acesso 20 maio 2013]. Disponível em http://www.who.int / dietphysicalactivity/childhood/en.

2. Vanhala M, Vanhala P, Kumpusalo E, Halonen P, Takala J. Relation between obesity from childhood to adulthood and metabolic syn- drome: population based study. BMJ. 1998;317(7154):319.

3. Must A, Jacques PF, Dallal GE, Bajema CJ, Dietz WH. Long-term morbidity and mortality of overweight adolescents. A follow-up of the Harvard Growth Study of 1922 to 1935. N Engl J Med.

1992;327(19):1350-5.

4. Tibana RA, Balsamo S, Prestes J. Associação entre força muscular relativa e pressão arterial de repouso em mulheres sedentárias.

Rev Bras Cardiol. 2011;24(3):163-8.

5. Tibana RA, César D, Tajra V, Vieira A, Franz CB, Pereira GB, et al. Avaliação da pressão arterial em mulheres sedentárias e sua relação com a força muscular. Rev Bras Promoção Saúde.

2012;25(3):337-43.

6. Tibana RA, Tajra V, César D, de Farias DL, Teixeira TG, Prestes J.

Comparação da força muscular entre mulheres brasileiras com e sem síndrome metabólica. ConScientiae Saúde. 2011;10(4):708-14.

7. Tibana RA, Teixeira TG, De Farias DL, Silva AO, Madrid B, Vieira A, et al. Relação da circunferência do pescoço com a força muscular relativa e os fatores de risco cardiovascular em mulheres seden- tárias. Einstein (São Paulo). 2012;10(3):329-34.

8. Teixeira TG, Tibana RA, César D, Tajra V, Balsamo S, Asano RY, Silva AO, et al. Comparação da força muscular entre mulheres de meia idade com e sem sobrepeso/obesidade. R Bras Ci e Mov. 2014;

22(1):5-11.

9. Ruiz JR, Castro-Piñero J, Artero EG, Ortega FB, Sjöström M, Suni J, et al. Predictive validity of health-related fitness in youth: a sys- tematic review. Br J Sports Med. 2009;43(12);909-23.

10. Andersen LB, Hasselstrøm H, Grønfeldt V, Hansen SE, Karsten F.

The relationship between physical fitness and clustered risk, and tracking of clustered risk from adolescence to young adulthood:

eight years follow-up in the Danish Youth and Sport Study. Int J Behav Nutr Phys Act. 2004;8(1):6.

11. Silventoinen K, Magnusson PK, Tynelius P, Batty GD, Rasmussen F. Association of body size and muscle strength with incidence of coronary heart disease and cerebrovascular diseases: a pop- ulation-based cohort study of one million Swedish men. Int J Epidemiol. 2009;38(1):110-8.

12. Jiménez-Pavón D, Ortega FB, Valtueña J, Castro-Piñero J, Gómez- Martínez S, Zaccaria M, et al. Muscular strength and markers of insulin resistance in European adolescents: the HELENA Study.

Eur J Appl Physiol. 2012;112(7):2455-65.

13. Grøntved A, Ried-Larsen M, Møller NC, Kristensen PL, Froberg K, Brage S, et al. Muscle strength in youth and cardiovascular risk in young adulthood (the European Youth Heart Study). Br J Sports Med. 2013; in press.

14. Ortega FB, Silventoinen K, Tynelius P, Rasmussen F. Muscular strength in male adolescents and premature death: cohort study of one million participants. BMJ. 2012;345:e7279.

15. Cole TJ, Bellizzi MC, Flegal KM, Dietz WH. Establishing a standard definition for child overweight and obesity world wide: interna- tional survey. BMJ. 2000;320(7244):1240-3.

16. Hu YH, Reilly KH, Liang YJ, Xi B, Liu JT, Xu DJ, et al. Increase in body mass index, waist circumference and waist-to-height ratio is associated with high blood pressure in children and adolescents in China. J Int Med Res. 2011;39(1):23-32.

17. España-Romero V, Ortega FB, Vicente-Rodríguez G, Artero EG, Rey JP, Ruiz JR. Elbow position affects handgrip strength in adoles- cents: validity and reliability of Jamar, DynEx, and TKK dynamom- eters. J Strength Cond Res. 2010;24(1):272-7.

18. Prestes J, Tibana RA. Muscular static strength test performance and health: absolute or relative values? Rev Assoc Med Bras.

2013;59(4):308-9.

19. Curtin F, Schulz P. Multiple correlations and Bonferroni’s correc- tion. Biol Psychiatry. 1998;44(8);775-7.

20. Jackson AW, Lee DC, Sui X, Morrow JR Jr, Church TS, Maslow AL, et al. Muscular strength is inversely related to prevalence and in- cidence of obesity in adult men. Obesity. 2010;18(10);1988-95.

21. Lee S, Kim Y, White DA, Kuk JL, Arslanian S. Relationships between insulin sensitivity, skeletal muscle mass and muscle quality in obese adolescent boys. Eur J Clin Nutr. 2012;66(12):1366-8.

22. Hillman CH, Buck SM, Themanson JR, Pontifex MB, Castelli DM.

Aerobic fitness and cognitive development: event-related brain potential and task performance indices of executive control in preadolescent children. Dev Psychol. 2009;45(1):114-29.

23. Castelli DM, Hillman CH, Buck SM, Erwin HE. Physical fitness and academic achievement in third- and fifth-grade students. J Sport Exerc Psychol. 2007;29(2):239-52.

24. Farias DL, Teixeira TG, Tibana RA, Balsamo S, Prestes J. A força de preensão manual é preditora do desempenho da força muscular de membros superiores e inferiores em mulheres sedentárias.

Motricidade. 2012;8(S2):624-9.

25. McCambridge TM, Stricker PR; American Academy of Pediatrics Council on Sports Medicine and Fitness. Strength training by chil- dren and adolescents. Pediatrics. 2008;121(4):835-40.

(15)

Eduardo Felipe Barbosa Silva – médico assistente, Unidade de Broncoesofagologia, Hospital de Base do Distrito Federal, Brasília, Distrito Federal, Brasil. Título de especialista em Pneumologia, Tisiologia e Endoscopia Respiratória

Luciana Miwa Nita Watanabe – médica assistente, doutora, Unidade de Broncoesofagologia, Hospital de Base do Distrito Federal, Brasília, Distrito Federal, Brasil

Denise Bastos Lage Ferreira – médica assistente, Unidade de Broncoesofagologia, Hospital de Base do Distrito Federal, Brasília, Distrito Federal, Brasil. Título de Especialista em Otorrinolaringologia e Cirurgia Cervicofacial

Gutemberg de Freitas Rêgo – médico assistente, Unidade de Broncoesofagologia, Hospital de Base do Distrito Federal, Brasília, Distrito Federal, Brasil. Título de Especialista em Cirurgia Torácica

Correspondência: Eduardo Felipe Barbosa Silva. Hospital de Base do Distrito Federal, Unidade de Broncoesofagologia, Setor de Ambulatórios, Bloco de procedimentos especiais, SMHS Área Especial, quadra 101, CEP 70330-150, Brasília-DF.

Internet: efbsbpt@gmail.com

Recebido em 14-11-2013. Aceito em 20-12-2013.

Conflito de interesses: os autores declaram não haver poten- cial conflito de interesses.

Análise de 153 casos de corpos estranhos esofágicos

Eduardo Felipe Barbosa Silva, Luciana Miwa Nita Watanabe, Denise Bastos Lage Ferreira e Gutemberg de Freitas Rêgo

DOI: xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

RESUMO

Objetivo. Descrever características clínicas e abor- dagens terapêuticas de uma série de pacientes com corpos estranhos esofágicos atendidos no setor de pronto-socorro de um hospital público de Brasília, Distrito Federal.

Método. Estudo descritivo e retrospectivo rea- lizado com base em prontuários de pacientes com diagnóstico de corpos estranhos esofágicos, atendidos no setor de urgências da Unidade de Broncoesofagologia do Hospital de Base do Distrito Federal durante o período de fevereiro de 2012 a janeiro de 2013. A amostra foi distribuída em dois grupos etários: adultos com 18 anos completos ou mais (grupo A); crianças e adolescentes com menos de 18 anos (grupo C), para a análise das seguintes variáveis: sexo, idade, características do corpo es- tranho (tipo, localização), quadro clínico, fatores predisponentes à ingestão e impactação do corpo estranho, tratamento, complicações e mortalidade.

Resultados. A amostra é composta de 153 indi- víduos, com predomínio etário no grupo A de 51 a 60 anos e, no grupo C, de até 2 anos. Os objetos mais comumente encontrados foram fragmentos alimentares, nos adultos, e moedas, nas crianças.

O esôfago cervical foi o local de impactação predo- minante na amostra. O método de tratamento mais utilizado foi a esofagoscopia, rígida ou flexível, com taxa de sucesso de 97,6%. Complicações causadas por eles ocorreram em 7,1% dos casos, e os tipos mais associados às complicações foram objetos pontiagudos, em adultos, e baterias do tipo botão, em crianças. Ocorreu um caso de perfuração eso- fágica iatrogênica pelo esofagoscópio rígido. Não houve registro de óbito neste estudo.

Conclusões. Os corpos estranhos pontiagudos e as baterias do tipo botão causaram a maioria das complicações. O diagnóstico e o tratamento devem ser precoces e a esofagoscopia, rígida ou flexível, se mostraram eficazes e seguras no tratamento.

Palavras-chave. Corpos estranhos; esôfago; com- plicações; tratamento

(16)

ABSTRACT

Analysis of 153 cases of esophageal foreign bodies Objective. To determine the clinical characteristics of patients presenting with esophageal foreign bodies seen in the emergency ward of a public hospital in Brasília – DF and to explore the available treatment methods.

Method. This was a descriptive and retrospective study based on data from the medical records of patients diagnosed with esophageal foreign bodies seen at the emergency ward of the Bronchoesophagology Unit of Hospital de Base of the Federal District from February 2012 to January 2013. The sample was divided into two groups – adults aged 18 years or older (group A); children and adolescents under 18 years (group C) – for the analysis of the following variables:

gender, age, characteristics of foreign body (type and location), clinical findings, predisposing factors for the ingestion and impaction of foreign bodies, treatment, complications, and mortality rate.

Results. The sample included 153 individuals. Age prevalence in group A was 51 to 60 years old and subjects under 2 years old prevailed in group C. The objects most commonly found were food fragments in adults and coins in children. The cervical esophagus was the main site of impaction in the study. The most widely used method of treatment was rigid or flexible esophagoscopy, with a success rate of 97.6

%. Complications occurred in 7.1% of cases and most of them were associated with sharp objects in adults and button batteries in children. There was one case of iatrogenic esophageal perforation by rigid esophagoscopy. There were no deaths in this study.

Conclusions. Sharp foreign bodies and button batteries caused most of the complications. Early diagnosis and treatment are extremely important and rigid or flexible esophagoscopy is an effective and safe treatment.

Key words. Foreign bodies; esophagus; complications;

treatment

INTRODUÇÃO

A ingestão de corpos estranhos de forma inten- cional ou acidental é ocorrência habitual em ser- viços de pronto-socorros.1 Aproximadamente um terço deles se impactam no esôfago e têm impor- tância clínica pela morbidade e mortalidade que podem causar.2

Nesse estudo, propõe-se determinar retrospec- tivamente as características clínicas e métodos de tratamento de uma série de pacientes com corpos estranhos esofágicos atendidos no setor de pronto-socorro de um hospital público de Brasília-DF.

MÉTODO

Trata-se de estudo retrospectivo descritivo realiza- do por meio da coleta de dados obtidos em prontuá- rios de pacientes atendidos no Setor de Emergência da Unidade de Broncoesofagologia do Hospital de Base do Distrito Federal, Brasília-DF, com diagnósti- co confirmado, por exames radiológicos e ou endos- cópicos, de corpo estranho esofágico no período de fevereiro de 2012 a janeiro de 2013.

Foram excluídos doentes com história de inges- tão de corpos estranhos não localizados no esô- fago e aqueles cujos dados de prontuários foram insuficientes (cinco pacientes). Para as análises, os sujeitos foram distribuídos em dois grupos etários. Grupo A, adultos com 18 anos completos ou mais, e grupo C, crianças e adolescentes com menos de 18 anos de idade. As variáveis analisa- das foram sexo, idade, tipo do corpo estranho, localização, quadro clínico, fatores predisponen- tes à ingestão e impactação, tratamento, compli- cações e mortalidade.

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal.

(17)

RESULTADOS

Foram incluídos 153 pacientes, ou seja, 101 adultos (grupo A) e 52 casos entre crianças e adolescentes (grupo C). Quarenta e nove indivíduos do grupo A (48,5%) e 28 indivíduos do grupo C (53,8%) foram do sexo masculino. A distribuição por idade foi bimo- dal – o primeiro pico ocorreu em crianças de até 2 anos de idade (n = 25; 48%), e o segundo, em adultos de 51 a 60 anos (n = 27; 26,7%) (figura 1).

Os corpos estranhos esofágicos mais encontrados no grupo A foram os de origem alimentar, como carne e ossos de bovinos e galináceos e espinhas de peixe (88,1%), e no outro, moedas (44,2% dos casos) (tabela 1). A maioria deles estava localizada no esô- fago cervical – 69,3% (grupo A) e 69,2% (grupo C).

Figura 1. Distribuição dos corpos estranhos esofágicos de acor- do com a faixa etária em 153 pacientes estudados

Tabela 1. Tipos de corpos estranhos esofágicos identificados na amostra estudada

CORpOS ESTRANhOS ADULTOS n

CRIANÇAS E ADOLESCENTES

n

Moedas 0 23

Alimentos (osso, carne) 89 9

Baterias do tipo botão 0 7

Fragmentos de metal 1 7

Fragmentos de brinquedo 0 3

Prótese dentária 9 0

Miscelânea

(pedra, lente de óculos, tampa de caneta, palito

de dente, comprimido).

2 3

Totais 101 52

As principais queixas clínicas foram dor, disfagia, odinofagia, sialorreia, recusa alimentar e vômitos em ambos os grupos.

Vinte e quatro adultos apresentaram história de:

ausência de elementos dentários (nove casos, 8,9%), estenose de esôfago cáustica (cinco casos, 4,9%), estenose de esôfago actínica (um caso, 0,9%), me- gaesôfago chagásico (um caso, 0,9%), psicopatias (três casos, 2,9%), epilepsia (um caso, 0,9%), sequela de acidente vascular cerebral (um caso, 0,9%), sín- drome de Down (um caso, 0,9%), neoplasia de larin- ge (um caso, 0,9%) e houve um paciente presidiário (um caso, 0,9%). Dois pacientes menores de 18 anos relataram antecedentes de estenose de esôfago (um caso, 1,9%) e atresia de esôfago com síndrome de Down (um caso, 1,9%), fatores que podem ser consi- derados predisponentes à ingestão e ou à impacta- ção dos elementos deglutidos (tabela 2).

0 5 10 15 20 25 30

Número de casos

Idade (anos)

71-80 61-70 51-60 41-50 31-40 21-30 18-20 17 15- 16 13-14 11-12 9-10 7-8 5-6 3-4 0-2

Referências

Documentos relacionados

Corograpliiu, Col de Estados de Geografia Humana e Regional; Instituto de A lta C ultura; Centro da Estudos Geográficos da Faculdade de Letras de Lisboa.. RODRIGUES,

Se você vai para o mundo da fantasia e não está consciente de que está lá, você está se alienando da realidade (fugindo da realidade), você não está no aqui e

Caso a resposta seja SIM, complete a demonstrações afetivas observadas de acordo com a intensidade, utilizando os seguintes códigos A=abraços, PA=palavras amáveis, EP= expressões

6 Consideraremos que a narrativa de Lewis Carroll oscila ficcionalmente entre o maravilhoso e o fantástico, chegando mesmo a sugerir-se com aspectos do estranho,

Com o objetivo de compreender como se efetivou a participação das educadoras - Maria Zuíla e Silva Moraes; Minerva Diaz de Sá Barreto - na criação dos diversos

O desenvolvimento das interações entre os próprios alunos e entre estes e as professoras, juntamente com o reconhecimento da singularidade dos conhecimentos

2. Identifica as personagens do texto.. Indica o tempo da história. Indica o espaço da história. Classifica as palavras quanto ao número de sílabas. Copia do texto três

Fugiu – forma verbal do verbo “fugir”, no Pretérito Perfeito do Indicativo, na 3.ª pessoa do singular. Forma afirmativa: Eu