PAULO CESAR ALMEIDA SCARPA
IDEOLOGIA, INDIVËDUO E SOCIEDADE EM ALTHUSSER
CURITIBA -2004
PAULO CESAR ALMEIDA SCARPA
IDEOLOGIA, INDIVËDUO E SOCIEDADE EM ALTHUSSER
Monografia apresentada j disciplina de orientaomo monogrifica do departamento de cirncias sociais como requisito parcial j conclusmo de curso de graduaomo em cirncias sociais do setor de Cirncias Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Parani. Orientador: Dr. Dimas Floriani
CURITIBA -2004
¬ memyria de meu pai, Paulo Cesar do Nascimento Scarpa.
Gostaria de agradecer a todos aqueles que contributram direta ou indiretamente para tornar este trabalho posstvel. Em especial agradeoo meu orientador Dimas Floriani, primeiro por ter aceitado o meu pedido de orientaomo e em segundo pelas suas observao}es e sugest}es mais que pertinentes. Sem seu incentivo e acompanhamento cuidadoso durante todo o processo, a realizaomo deste trabalho seria imposstvel. Gostaria ainda de agradecer aos professores Renato Monseff Perissinotto e Adriano Nervo Codato por me auxiliarem no amadurecimento de minhas idpias sobre as quest}es tratadas neste trabalho. A demonstraomo de interesse destes professores pelas minhas d~vidas e dificuldades merece algo mais que uma simples menomo.
Sou grato ainda ao meu irmmo Orlando Scarpa Neto por ter me ouvido atentamente durante as minhas explicao}es sobre meu trabalho e por debatr-lo comigo durante os nossos passeios diirios com os cachorros. Agradeoo ainda j minha mme por ter me apoiado na minha decismo de escolha de carreira e pelo seu incentivo moral durante todo o pertodo de minha graduaomo.
Agradeoo tambpm j Bruna Gisi Martins de Almeida por ter lido o meu trabalho atenciosamente e pela sua ajuda nas correo}es. Suas contribuio}es foram fundamentais.
INTRODUdO E HISTÏRICO DO CONCEITO 6
CAPËTULO 1 - O MATERIALISMO HISTÏRICO ALTHUSSERIANO 16
A SOBREDETERMINAomO
20
CAPËTULO 2 - A IDEOLOGIA EM ALTHUSSER 25
OS APARELHOS IDEOLyGICOS DE ESTADO
28
SOBRE A IDEOLOGIA PROPRIAMENTE DITA
33
INTERPELAomO E SUJEITO
39
CONCLUS®ES FINAIS 41
REFERÇNCIAS BIBLIOGRÈFICAS 58
INTRODUdO E HISTÏRICO DO CONCEITO
O OBJETIVO CENTRAL DESTE TRABALHO p ANALISAR A RELAomO ENTRE INDIVtDUO E SOCIEDADE NA OBRA ALTHUSSERIANA A PARTIR DE SEU CONCEITO DE IDEOLOGIA. POR QUE RETOMAR JUSTAMENTE ALTHUSSER? EM PRIMEIRO LUGAR PELA IMPORTkNCIA SIGNIFICATIVA QUE ESTE AUTOR TEM DENTRO DO MARXISMO. SUA INTERPRETAomO INpDITA E POLrMICA DAS OBRAS DE MARX DEU INtCIO A UMA NOVA LINHA TEyRICA MARXISTA: O MARXISMO ESTRUTURALISTA. EM SEGUNDO LUGAR, PRETENDO UMA REFLEXmO CRtTICA j FORMA COMO MUITOS AUTORES SmO COLOCADOS EM ALGUM RyTULO GENpRICO QUE POUCO DIZ SOBRE SUAS OBRAS - ESTRUTURALISTA, FUNCIONALISTA, INDIVIDUALISTA ETC -, MUITAS VEZES MAIS PELA FORoA DA TRADIomO DO QUE PELA ADEQUAomO EFETIVA DESTE RyTULO jS SUAS IDpIAS,
ALGO QUE ACABA POR DISPENSAR A NECESSIDADE DE REVISmO DA OBRA DO AUTOR. ALTHUSSER AO MEU VER p UM EXEMPLO CLiSSICO DISSO, SUA OBRA FOI MARGINALIZADA DEVIDO A SUA ESTIGMATIZAomO ENQUANTO UM ESTRUTURALISTA IRRESPONSiVEL.
O PROBLEMA DA ESTIGMATIZAomO DE ATORES EM RyTULOS SIMPLISTAS OCORRE INCLUSIVE COM OS GRANDES CLiSSICOS DAS CIrNCIAS SOCIAIS. Ji FAZ PARTE DO SENSO COMUM ACADrMICO TRATAR DURKHEIM COMO UM POSITIVISTA QUE, DEVIDO A ISSO, NmO TERIA MAIS RELEVkNCIA PARA A SOCIOLOGIA CONTEMPORkNEA. NmO RARO OUVIMOS EM CONVERSAS DE CORREDOR, SALAS DE AULA, PALESTRAS, CONGRESSOS E ATp EM TEXTOS ACADrMICOS A DESCONSIDERAomO DE AUTORES COMO DURKHEIM E, MAIS ATUALMENTE MARX, COMO Ji ESTANDO ULTRAPASSADOS, DESATUALIZADOS E SEM NADA A DIZER PARA A NOVA GERAomO DE SOCIyLOGOS. MESMO QUE TAIS AFIRMAo}ES APRESSADAS E COM POUCA BASE CIENTtFICA FOSSEM VERDADE, Hi PELO MENOS UMA RAZmO PARA RELER OS CLiSSICOS: A INFLUrNCIA QUE TIVERAM NOS GRANDES NOMES DA SOCIOLOGIA CONTEMPORkNEA. COMO CRtTICA A ESTA TENDrNCIA ESTE ESTUDO PRETENDE REVER ALTHUSSER PARA QUESTIONAR ESTA SUA MARGINALIZAomO. e PRECISO TENTAR PERCEBER COMO ALTHUSSER TEVE UMA INFLUrNCIA SIGNIFICATIVA PARA AUTORES IMPORTANTES DA SOCIOLOGIA CONTEMPORkNEA. AUTORES COMO FOUCAULT E BOURDIEU - PARA CITAR APENAS DOIS - FORAM INFLUENCIADOS NmO Sy PELAS QUEST}ES ALTHUSSERIANAS, MAS TAMBpM POR SUAS RESPOSTAS.
POR SER ESTE UM DOS DEBATES MAIS ELEMENTARES DENTRO DAS CIrNCIAS SOCIAIS. QUASE TODOS OS AUTORES NAS CIrNCIAS SOCIAIS EM ALGUM MOMENTO DEBATEM OU SmO CRITICADOS A PARTIR DESTE DEBATE. ALpM DISSO, NO QUE SE REFERE j ALTHUSSER ESTA FOI A PRINCIPAL RAZmO POR TER SIDO ROTULADO COMO DESATUALIZADO: SUA OBRA SERIA MUITO ESTRUTURALISTA - RyTULO ESTE NmO ACEITO PELO PRyPRIO ALTHUSSER - E NmO DARIA CONTA DE EXPLICAR A REALIDADE SOCIAL. PROPONHO NESTE TRABALHO UM ESBOoO DE UMA RELEITURA DA RELAomO INDIVtDUO E SOCIEDADE A PARTIR DA yTICA DA SUA TEORIA DA IDEOLOGIA POR SER NESTA TEORIA QUE ALTHUSSER PENSA A AomO INDIVIDUAL EM RELAomO COM AS ESTRUTURAS QUE PERPASSAM OS ATORES. CABE NOTAR QUE A QUESTmO INDIVtDUO E SOCIEDADE NmO p UMA RELAomO APENAS ENTRE INDIVtDUO E ESTRUTURA, ELA p MUITO MAIS AMPLA QUE ISSO. REFERE-SE TAMBpM j RELAomO ENTRE REPRODUomO E MUDANoA, OBJETIVIDADE E SUBJETIVIDADE, INDIVIDUALISMO METODOLyGICO E ESTRUTURALISMO; EM SUMA, p UMA RELAomO ENTRE DUAS CORRENTES TEyRICAS E, ARRISCO DIZER, ENTRE DUAS VIS}ES DE MUNDO.
PARA UMA MELHOR COMPREENSmO DO CONCEITO DE IDEOLOGIA NA OBRA ALTHUSSERINA FAZ-SE NECESSiRIO UMA BREVE EXPOSIomO DESTE CONCEITO TAL COMO ELE APARECE HISTORICAMENTE E PRINCIPALMENTE NO QUE SE REFERE j OBRA MARXIANA. O CONCEITO DE IDEOLOGIA, EM FUNomO DAS ViRIAS INTERPRETAo}ES j QUE ESTi SUJEITO, p PROVAVELMENTE UM DOS CONCEITOS MAIS CONTROVERSOS E DE INTERPRETAo}ES DISTINTAS DENTRO DO CAMPO DAS CIrNCIAS HUMANAS. SEGUNDO KONDER (2002), EMBORA O
TERMO IDEOLOGIA SEJA RECENTE, DATANDO DO INtCIO DO SpCULO XIX, A QUESTmO DA IDEOLOGIA p UMA QUESTmO CLiSSICA PRESENTE Ji NA FILOSOFIA GREGA. NESTA FILOSOFIA O TEMA DA IDEOLOGIA ERA ENTENDIDO COMO O REGISTRO DAS PRESS}ES DEFORMADORAS ATUANDO SOBRE O PROCESSO DE ELABORAomO DO CONHECIMENTO; PLATmO Ji ADVERTIA PARA O FATO DE PODERMOS ESTAR VENDO SOMBRAS E NmO HOMENS.
A TEMiTICA DA IDEOLOGIA, HISTORICAMENTE, TERIA COMO PANO DE FUNDO QUEST}ES COMO: O QUE ME AUTORIZA A DIZER QUE CONHEoO ALGUMA COISA? QUEM ME GARANTE QUE O QUE SEI CORRESPONDE j REALIDADE? E MAIS, COMO POSSO SABER SE SEI O QUE SEI, SE NmO POSSO COTEJAR O QUE SUPOSTAMENTE SEI COM O QUE SOU FORoADO A ADMITIR QUE NmO SEI? ESTAS QUEST}ES FORAM TRATADAS POR MUITOS ANOS PELA TEORIA DO CONHECIMENTO. FRANCIS BACON, O PRECURSOR DA TEORIA DA IDEOLOGIA MODERNA, CRITICA EM SUA OBRA NOVUM ORGANUM, O FATO DA IDADE MpDIA SER ABSTRATA - EM OPOSIomO j CIrNCIA EXPERIMENTAL - POR DAR AOS SERES HUMANOS NOo}ES FALSAS. SUA INTENomO ERA LIBERTAR OS HOMENS DESSAS FALSAS NOo}ES A PARTIR DA CIrNCIA, QUE POSSIBILITARIA A REVELAomO DAS COISAS TAL COMO ELAS REALMENTE SmO E ENTmO, UMA LIBERTAomO PARA O HOMEM.
O TERMO IDEOLOGIA PROPRIAMENTE DITO APARECE PELA PRIMEIRA VEZ COM DESTUTT DE TRACY NUM LIVRO DE 1801 INTITULADO ³ELEMENTOS DE IDEOLOGIA´ NA QUAL A IDEOLOGIA APARECE COMO UMA NOVA DISCIPLINA FILOSyFICA. SEGUNDO DE TRACY A REALIDADE OBJETIVA CHEGARIA AOS HOMENS PELAS IMPRESS}ES SENSORIAIS. A APREENSmO DESTA
REALIDADE SE COMPLEXIFICARIA COM A SOFISTICAomO DAS IDpIAS E A IDEOLOGIA SERIA A DISCIPLINA QUE RECONSTITUIRIA ESTE PROCESSO DE APREENSmO DO REAL PELO SER HUMANO. O GRUPO DO QUAL DE TRACY FAZIA PARTE AUTODENOMINAVA-SE IDEyLOGOS E ACREDITAVAM QUE ESTA NOVA DISCIPLINA DEVERIA SER UMA SUB-iREA DA ZOOLOGIA. EM UMA DISCUSSmO QUE ESTE GRUPO SE ENCONTRA COM NAPOLEmO, NO ANO DE 1812, ESTE SE ENFURECE E OS CRITICA DE FAZEREM UMA TENEBROSA METAFtSICA ACUSANDO-OS DE IDEyLOGOS. NAPOLEmO AINDA OS CRITICAVA POR HAVER UM DESCOMPASSO ENTRE AS SUAS AMBIo}ES E AS LIo}ES DA HISTyRIA; OS IDEyLOGOS NmO TERIAM DADO A DEVIDA ATENomO PARA ESTAS. e COM NAPOLEmO, PORTANTO, QUE O TERMO GANHA UM SENTIDO NEGATIVO ALTERANDO O SENTIDO POSITIVO ORIGINAL. FOI NO SENTIDO NAPOLE{NICO QUE O TERMO PREVALECEU NAS DpCADAS SEGUINTES. (KONDER, 2002)
e POSStVEL OBSERVAR QUE TANTO NO CONCEITO DE NAPOLEmO QUANTO NO DE DE TRACY FALTA UM ESPtRITO CRtTICO E AUTOCRtTICO SOBRE OS CONFLITOS INTERNOS DO CONHECIMENTO HUMANO E AS TRANSFORMAo}ES HISTyRICAS. NmO Sy A DA TRANSFORMAomO HISTyRICA, MAS TAMBpM j DE QUEM FAZ ESTA TRANSFORMAomO. e COM KANT APENAS QUE ESTA LACUNA COMEoA A SER PREENCHIDA COM SUA ABORDAGEM DO SUJEITO COMO SENDO CONSTRUTOR DO CONHECIMENTO ALpM DA IDpIA HEGELIANA DE UM SUJEITO QUE CRIA SUA PRyPRIA REALIDADE.
EM 1843 MARX DESENVOLVE SEU CONCEITO DE IDEOLOGIA A PARTIR DA RELAomO QUE HEGEL ESTABELECE ENTRE ESTADO E SOCIEDADE CIVIL EM ³CRtTICA DO DIREITO P~BLICO HEGELIANO´. PARA MARX SERIA O POVO QUEM
FAZ A CONSTITUIomO E NmO A CONSTITUIomO QUE FAZ O POVO. AQUI ESTi O EMBRImO DO CONCEITO DE ALIENAomO DE MARX, ONDE O HOMEM NmO Vr O ESTADO COMO SENDO CRIAomO SUA, CRITICANDO A NOomO HEGELIANA QUE CONCEBE O ESTADO COMO O LUGAR ONDE A RAZmO PREVALECE. SEGUNDO MARX ESTA VISmO SERIA UMA CONSTRUomO IDEOLyGICA, POIS HEGEL TERIA CONFUNDIDO A LIBERDADE SUBJETIVA COM A LIBERDADE OBJETIVA E OLHAVA PARA O ESTADO PELO kNGULO DO PRyPRIO ESTADO, QUE SE Vr COMO SENDO UNIVERSAL E NmO ESTANDO ENVOLVIDO COM A PROPRIEDADE PRIVADA. HAVERIA ENTmO UMA ILUSmO IDEOLyGICA NA QUAL OS INDIVtDUOS NmO CONSEGUIRIAM DISTINGUIR SUA yTICA PARTICULAR DA DO GrNERO HUMANO. OS INDIVtDUOS MISTURARIAM E CONFUNDIRIAM O UNIVERSAL COM O PARTICULAR. NO LIVRO ³A QUESTmO JUDAICA´ MARX FALA SOBRE UMA UNIVERSALIDADE FORA DO ALCANCE DAS PESSOAS. MARX ATp ESSE PONTO ESTARIA AINDA MUITO BASEADO EM FEUERBACH E p NA ³CONTRIBUIomO j CRtTICA DA FILOSOFIA HEGELIANA DO DIREITO: UMA INTRODUomO´ QUE TENTA SUPERAR SUAS INFLUrNCIAS INTELECTUAIS. A CRtTICA ABSTRATA Ji NmO SERIA MAIS SUFICIENTE SENDO NECESSiRIO COLOCAR OS PORTADORES MATERIAIS COMO ELEMENTOS DA ANiLISE. e A PARTIR DESTE MOMENTO QUE MARX COMEoA A DESENVOLVER O QUE SERIA SUA FILOSOFIA DO TRABALHO INDO A RAIZ DO PROBLEMA DA ALIENAomO.
MARX AFIRMA QUE p PELO TRABALHO QUE COMEoA A SEPARAomO ENTRE SUJEITO E OBJETO E SERIA POR ESTA ATIVIDADE QUE O HOMEM TRANSFORMA O MUNDO E A SI MESMO. EM 1844, NOS ³MANUSCRITOS ECON{MICOS E FILOSyFICOS´, A HISTyRIA UNIVERSAL p ENTENDIDA COMO
SENDO A PRODUomO DO SER HUMANO PELO TRABALHO HUMANO. POR QUE ENTmO, O TRABALHO SE TORNA ALGO DESAGRADiVEL E PENOSO? HEGEL NmO FAZ ESSE PERGUNTA, Vr APENAS O LADO POSITIVO DO TRABALHO, PORTANTO SUAS LIMITAo}ES IDEOLyGICAS NmO ESTAVAM NO QUE ELE VIU, MAS SIM NO QUE DEIXOU DE VER. HEGEL NmO COMPREENDIA A INVERSmO DE MUNDO FEITO PELA RELIGImO E PELO ESTADO (AMBOS POR SUA VEZ, CRIADOS PELO HOMEM). O DINHEIRO APARECERIA NOS MANUSCRITOS COMO O ELEMENTO ESSENCIAL DO MUNDO INVERTIDO, TROCANDO VALORES QUALITATIVOS POR QUANTITATIVOS, O QUE AGRAVARIA AINDA MAIS AS DISTORo}ES DA IDEOLOGIA.
EM ³A SAGRADA FAMtLIA´ MARX E ENGELS TRAVAM UMA POLrMICA COM BRUNO E EDGAR BAUER. CRITICAM-NOS POR CONCEBEREM A HISTyRIA COMO UMA FORoA, UM SUJEITO METAFtSICO QUE REDUZIRIA OS INDIVtDUOS j MEROS CARREGADORES. PARA MARX E ENGELS A HISTyRIA p UMA ATIVIDADE ONDE SERES HUMANOS PERSEGUEM SEUS OBJETIVOS, AS IDpIAS NmO PODEM EXECUTAR ALGUMA COISA POR SI Sy, PARA TAL p PRECISO QUE OS SERES HUMANOS PONHAM EM MOVIMENTO UMA FORoA PRiTICA.
PARA OS HEGELIANOS O ESTADO ORGANIZAVA RACIONALMENTE OS INDIVtDUOS ATOMIZADOS DA SOCIEDADE. DESSA FORMA CONTRIBUtAM PARA A ATOMIZAomO, POIS ATRIBUtAM A UM DOS FATORES DELA - O ESTADO - A TAREFA DE SUPERi-LOS. EM ³A IDEOLOGIA ALEMm´ MARX E ENGELS AFIRMAM QUE OS HOMENS, EMBORA CRIADORES, SE CURVARAM DIANTE DE SUAS PRyPRIAS CRIAo}ES. NESTA OBRA OS AUTORES FAZEM CRtTICAS jS DISTORo}ES IDEOLyGICAS DA TRADIomO IDEALISTA SUBJETIVA QUE SUPERVALORIZA O
PODER DAS REPRESENTAo}ES. PARA OS AUTORES NENHUM DESSES FILySOFOS FEZ A CONEXmO ENTRE A FILOSOFIA ALEMm E A REALIDADE ALEMm; DA REFLEXmO CRtTICA COM AS CONDIo}ES MATERIAIS EM QUE VIVEM OS CRtTICOS. IDEOLOGIA APARECE AQUI COMO INCAPACIDADE DE COMPARAR AS IDpIAS COM O USO HISTyRICO DELAS, SUA INSERomO PRiTICA NO MOVIMENTO DA SOCIEDADE. E ESTA PRyPRIA INCAPACIDADE DEVIA SER COMPREENDIDA
HISTORICAMENTE.
A DIVISmO SOCIAL DO TRABALHO SEPARARIA A CONSCIrNCIA DO SER CONSCIENTE, DIVISmO ESTA QUE SE TORNA DEFINITIVA QUANDO DIVIDE O TRABALHO MATERIAL DO TRABALHO ESPIRITUAL, TORNANDO ASSIM POSStVEL CONSTRUIR UMA REPRESENTAomO DE ALGO SEM PRECISAR REPRESENTAR ALGO EFETIVAMENTE. TORNA-SE ENTmO HISTORICAMENTE POSStVEL FAZER TEORIA PURA, TEOLOGIA, FILOSOFIA ETC. A ORIGEM DA IDEOLOGIA ESTi, POIS, NA DIVISmO SOCIAL DO TRABALHO OU DA PROPRIEDADE, AMBAS IDrNTICAS, POIS O QUE UMA DIZ SOBRE A ATIVIDADE A OUTRA DIZ SOBRE O PRODUTO DA ATIVIDADE: p A FRAGMENTAomO DA SOCIEDADE HUMANA QUE PRODUZ AS DISTORo}ES IDEOLyGICAS. TORNA-SE NECESSiRIO RETOMAR O CONCEITO DE ALIENAomO, NO QUAL O TRABALHO TRANSFORMA-SE NUMA ATIVIDADE ESTRANHA PARA O HOMEM, SE CONTRAP}E A ELE E O SUBJUGA AO INVpS DE SER DOMINADO POR ELE. A PARTIR DESSE PROCESSO DE ALIENAomO O ESTADO SE ESTRUTURA COMO FIGURA INDEPENDENTE E ASSUME O CARiTER DE UMA ³COMUNIDADE ILUSyRIA´, SENDO ASSIM, O ESTADO NmO PODE SER O LUGAR DA RAZmO UMA VEZ QUE p CONSTRUtDO NO INTERIOR DE UMA SOCIEDADE DIVIDIDA E p
COMPROMETIDO POR ESSA CISmO. SEUS MOVIMENTOS SmO INFLUENCIADOS PELAS IDpIAS E REPRESENTAo}ES DA CLASSE DOMINANTE. AS IDpIAS DA CLASSE DOMINANTE SE TORNAM AS IDpIAS DOMINANTES, A CLASSE QUE POSSUI O PODER MATERIAL ACABA POR POSSUIR TAMBpM O PODER ESPIRITUAL.
OUTRA CONSEQrNCIA DA DIVISmO SOCIAL DO TRABALHO p A EXIGrNCIA DA DIVISmO DA PRyPRIA CLASSE DOMINANTE, ONDE PENSADORES SE DEDICARIAM j TAREFA DE CONSTRUIR REPRESENTAo}ES DE CLASSE QUE APARECERIAM COMO INTERESSE COMUM A TODOS OS INTEGRANTES DA SOCIEDADE. MAS PARA TAL, OS TEyRICOS PRECISARIAM ACREDITAR REALMENTE NO QUE FAZEM, ESTAREM CONVENCIDOS DE QUE ESTmO CONSTRUINDO UM PENSAMENTO VERDADEIRAMENTE UNIVERSAL. COMO ESCLARECE KONDER (2002, P.43)
PARA MARX, ENTmO, A DISTORomO IDEOLyGICA NmO SE REDUZIA A UMA RACIONALIZAomO ~NICA, GROSSEIRA, TOSCA, BISONHA OU CANHESTRA DA DOS INTERESSES DE UMA DETERMINADA CLASSE OU DE UM DETERMINADO GRUPO. MUITAS VEZES ELA FALSEIA AS PROPORo}ES NA VISmO DO CONJUNTO OU DEFORMA O SENTIDO GLOBAL DO MOVIMENTO DE UMA TOTALIDADE, NO ENTANTO RESPEITA A RIQUEZA DOS FEN{MENOS QUE APARECEM NOS PORMENORES.
NA OBRA ³CONTRIBUIomO j CRtTICA DA ECONOMIA POLtTICA´, MARX INTRODUZ OS CONCEITOS DE VALOR DE USO E VALOR DE TROCA. O VALOR DE USO p SUBJETIVO E QUALITATIVO ENQUANTO QUE O VALOR DE TROCA p QUANTITATIVO E SE DEFINE NO kMBITO DAS RELAo}ES SOCIAIS. MAS O TRABALHO NmO CRIA APENAS VALORES DE USO, CRIA TAMBpM COISAS A
SEREM TROCADAS. EMBORA A COISA PARA SER TROCADA (VALOR DE TROCA) DEVA TER ALGUM VALOR DE USO, A EXPANSmO DO VALOR DE TROCA ACABA POR OBSCURECER A PERCEPomO DO VALOR DE USO. COM ISSO FORMA-SE TERRENO PARA A CONSTRUomO DO CONCEITO DE ³FETICHE DA MERCADORIA´. EM ³O CAPITAL´ RETOMA A IDpIA DE QUE O DINHEIRO PASSA DE EQUIVALENTE UNIVERSAL DESTINADO A AGILIZAR A TROCA PARA INVADIR TODAS AS ESFERAS HUMANAS, COLOCANDO UM PREoO E QUANTIFICANDO TUDO. e UM PODER CAPAZ DE SUBSTITUIR TODOS OS OUTROS VALORES E OCUPANDO SEUS LUGARES. ACONTECE QUE O DINHEIRO NUNCA PODE SER VALOR UMA VEZ QUE SEMPRE APONTA PARA ALGO QUE ESTi FORA DELE, QUE NmO p ELE. O INDIVIDUO ACABA POR AGIR SEM COMPREENDER SUAS Ao}ES, O SEU MOVIMENTO SOCIAL POSSUI UM MOVIMENTO DE COISAS. COM TUDO REDUZIDO j MERCADORIA, O PRyPRIO TRABALHO HUMANO SE TRANSFORMA EM OBJETOS DE COMPRA E VENDA. O SUJEITO AGE POR UMA FALSA CONSCIrNCIA, Sy QUE O PROCESSO DA IDEOLOGIA p MAIOR QUE SIMPLESMENTE UMA FALSA CONSCIrNCIA. E p NESTE CARiTER PROCESSUAL
QUE ESTi A CHAVE PARA O ENTENDIMENTO DO CONCEITO. A IDEOLOGIA NmO SE
EQUIVALE j FALSA CONSCIrNCIA Ji QUE INCORPORA EM SEU MOVIMENTO
CONHECIMENTOS VERDADEIROS. (KONDER:2002)
ALTHUSSER IRi DESENVOLVER MAIS ESTA ~LTIMA IDpIA AO DESENVOLVER UMA TEORIA DA IDEOLOGIA - TEORIA ESTA NmO PRESENTE ORIGINALMENTE EM MARX. O CONTEXTO EM QUE SURGE ALTHUSSER, p NA DpCADA DE 50 ONDE A DECOMPOSIomO DA DOUTRINA OFICIAL DO PARTIDO U.R.S.S E A MORTE DE STALIN PERMITEM UMA RELEITURA CRtTICA FORA DA
VISmO ORTODOXA OFICIAL. e O INtCIO DE UMA ONDA DE MOVIMENTOS TEyRICOS DE INSPIRAomO CONSERVADORA, COM ANiLISES SyBRIAS E MODESTAS, MUITAS VEZES RENUNCIANDO ANSEIOS REVOLUCIONiRIOS IMEDIATOS. ALGUNS NOMES DESSA pPOCA SmO: RAYMOND ARON, SEYMOUR LIPSET E DANIEL BELL. SmO ATAQUES FORTES DE UM CONSERVADORISMO INTELIGENTE E jS VEZES VINDOS DA PRyPRIA ESQUERDA COMO POR EXEMPLO MARCUSE, MERLEAU-PONTY, SARTRE E AINDA O MARXISMO REVISIONISTA ITALIANO. NESTE PANORAMA ALTHUSSER APARECE COM UMA OBRA ORIGINAL POR RETOMAR O MARXISMO-LENINISMO E O RELER POR UMA INTERPRETAomO DIFERENTE DA FEITA PELA DOUTRINA OFICIAL DA U.R.S.S.
O PONTO DE PARTIDA DE SUA REFLEXmO SOBRE IDEOLOGIA p O PRINCtPIO DO MATERIALISMO HISTyRICO - TODA SOCIEDADE Sy EXISTE PORQUE CONSOME E Sy Hi CONSUMO ONDE Hi PRODUomO. TODA SOCIEDADE SE ORGANIZA EM FUNomO DE UM MODO DE PRODUZIR OS BENS QUE NECESSITA E DA NECESSIDADE DE REPRODUZIR SEU MODO DE PRODUomO E AS CONDIo}ES MATERIAIS DE PRODUomO EM GERAL. UMA DAS PRINCIPAIS CONDIo}ES MATERIAIS DE PRODUomO QUE TEM QUE SER REPRODUZIDA p A FORoA DE TRABALHO. PARA QUE ELA SE REPRODUZA p NECESSiRIO MEIOS MATERIAIS (SALiRIO) E FORMAomO DE COMPETrNCIA (EDUCAomO). ESTA FORMAomO NmO p MAIS FEITA NO LOCAL DE TRABALHO E CADA VEZ MAIS FORA DA PRODUomO ATRAVpS DO SISTEMA ESCOLAR, DA IGREJA, DAS FORoAS ARMADAS ETC. NA REPRODUomO DA FORMAomO DA FORoA DE TRABALHO MISTURAM-SE CONHECIMENTOS TpCNICOS, INFORMAo}ES CIENTIFICAS, SABERES PRiTICOS, NORMAS ADEQUADAS j SUBMISSmO E CRITpRIOS DESTINADOS j UMA
ADAPTAomO j ORDEM VIGENTE. EM SUMA, PROMOVE-SE UMA ACEITAomO DA IDEOLOGIA DOMINANTE.
ALTHUSSER RESSALVA QUE A INFRA-ESTRUTURA A SUPRA-ESTRUTURA SmO METiFORAS E POR ISSO TEM APENAS CARiTER DESCRITIVO. PARA
ESCAPAR j MERA DESCRITIVIDADE A RELAomO
INFRA-ESTRUTURA/SUPRA-ESTRUTURA DEVE SER ABORDADA DO PONTO DE VISTA DO PROCESSO MATERIAL DE PRODUomO. PARA E REPRODUomO ACONTECER p NECESSiRIO UM APARELHO DO ESTADO - GOVERNO, ADMINISTRAomO, EXpRCITO, POLtCIA, TRIBUNAIS, PRIS}ES ETC - E ViRIOS APARELHOS IDEOLyGICOS DE ESTADO: IGREJAS, ESCOLAS, PARTIDOS, EMPRESAS, FAMtLIAS, JORNAIS ETC. O ESTADO TERIA, PARA ALTHUSSER UM CARiTER MAIS REPRESSIVO ENQUANTO QUE OS APARELHOS IDEOLyGICOS DE ESTADO TERIAM NA REPRESSmO SUAS CARACTERtSTICAS SECUNDiRIAS E O QUE PREVALECERIA p A IDEOLOGIA.
ALTHUSSER FOI O PRIMEIRO TEyRICO MARXISTA A PROPOR QUE A IDEOLOGIA SERIA UM ELEMENTO ONIPRESENTE, TRANS-HISTyRICO E ETERNO NA HISTyRIA HUMANA. ELA NmO EXISTIRIA APENAS EM FUNomO DA SOCIEDADE DE CLASSES. COM ISSO VAI PROPOR UMA TEORIA DA IDEOLOGIA EM GERAL, ASSIM COMO FREUD TERIA REALIZADO UMA TEORIA DO INCONSCIENTE EM GERAL. COM ISSO ELE CHEGA A DUAS CONCLUS}ES GERAIS SOBRE A IDEOLOGIA. PRIMEIRO, EM TODAS AS SOCIEDADES, DIVIDIDAS OU NmO EM CLASSES, A IDEOLOGIA TEM A FUNomO PRIMORDIAL DE ASSEGURAR A COESmO SOCIAL, REGULAMENTANDO A RELAomO DOS INDIVtDUOS COM SUAS TAREFAS. SEGUNDO, A IDEOLOGIA p O CONTRiRIO DA CIrNCIA.
EM SUA TEORIA GERAL DA IDEOLOGIA, SERIA NA IDEOLOGIA QUE OS HOMENS REPRESENTAM O MUNDO PARA SI MESMOS, MAS ESTE NUNCA p TAL COMO ELE EXISTE EFETIVAMENTE E SIM UM MUNDO MARCADO PELA INTERVENomO
HUMANA. O QUE p NELE REPRESENTADO p SUA RELAomO COM AS CONDIo}ES REAIS DE EXISTrNCIA, E NmO AS CONDIo}ES REAIS DE EXISTrNCIA EFETIVAMENTE. e ESSA RELAomO QUE ESTi NO CENTRO DE TODA REPRESENTAomO IDEOLyGICA. OS INDIVtDUOS POUCO COMPREENDEM QUmO MATERIAL p A RELAomO DELES COM O REAL. O AUTOR CRITICA A SUBESTIMAomO DA MATERIALIDADE E DEFENDE QUE AS IDEOLOGIAS DEVEM SER PENSADAS A PARTIR DE SUAS VIABILIZAo}ES REAIS. UMA IDEOLOGIA EXISTE SEMPRE EM UM APARELHO E EM SUA PRiTICA OU PRiTICAS, EXISTrNCIA ESTA SEMPRE MATERIAL. OS SUJEITOS HUMANOS Sy EXISTEM MATERIALMENTE, SUAS IDpIAS SmO SEUS ATOS MATERIAIS INSERIDOS EM PRiTICAS MATERIAIS, REGULADAS POR RITUAIS MATERIAIS. ESTES RITUAIS, POR SUA VEZ, SmO DEFINIDOS PELO AIE MATERIAL DE ONDE PROVpM AS IDpIAS DO DITO SUJEITO. A CONDIomO DO SUJEITO RESULTA DE UM PROCESSO IDEOLyGICO QUE DIFICULTARIA OS INDIVtDUOS CONCRETOS A RECONHECEREM A MATERIALIDADE DA RELAomO DELES COM O REAL. O SUJEITO (POR SER SUJEITO), SE SENTE CAPAZ DE REPRESENTAR FIELMENTE A REALIDADE, MAS A REPRESENTA, DE FATO, IDEOLOGICAMENTE. e A IDEOLOGIA QUE CONSTITUI O SUJEITO. TODA IDEOLOGIA TERIA COMO FUNomO PRIMORDIAL CONSTITUIR INDIVtDUOS EM SUJEITOS, DEFINIomO ESTA ENCONTRADA EM ViRIOS TEXTOS ALTHUSSERIANOS. A EXISTrNCIA DE SUJEITOS PARECE EVIDENTE, MAS, ESTA EVIDrNCIA p UM EFEITO DA
IDEOLOGIA. CABERIA j CIrNCIA SUPERAR ESSE EFEITO E POR ISSO O DISCURSO CIENTIFICO p UM DISCURSO SEM SUJEITO.
PARA ASSEGURAR, EM ULTIMA INSTkNCIA, A REPRODUomO DAS CONDIo}ES DE PRODUomO A IDEOLOGIA MANTpM UM MECANISMO PELO QUAL OS INDIVtDUOS SE RECONHECEM UNS AOS OUTROS COMO SUJEITOS E AO MESMO TEMPO ESSE RECONHECIMENTO SE VERIFICA NUM QUADRO DE AGUDA DESIGUALDADE. PASSEMOS AGORA PARA UM DESENVOLVIMENTO MAIS APURADO DESTA BREVE EXPOSIomO DO SISTEMA ALTHUSSERIANO SOBRE A IDEOLOGIA E SUAS IMPLICAo}ES NA RELAomO ENTRE INDIVtDUO E SOCIEDADE.
CAPËTULO 1 - O MATERIALISMO HISTÏRICO ALTHUSSERIANO
SERi DEIXADO DE LADO NESTE ITEM APROFUNDAMENTOS MAIORES SOBRE ViRIOS TEMAS DA DISCUSSmO ALTHUSSERIANA COMO, POR EXEMPLO, A DISTINomO ENTRE FILOSOFIA E CIrNCIA, CIrNCIA E IDEOLOGIA, OBJETO REAL E OBJETO DO CONHECIMENTO ETC. NESTE ITEM SERi ABORDADO APENAS A INTERPRETAomO, OU MELHOR, A VISmO ALTHUSSERIANA DO MATERIALISMO HISTyRICO. PARA ALTHUSSER, O MARXISMO SERIA AO MESMO TEMPO UMA FILOSOFIA (DENOMINADA DE MATERIALISMO DIALpTICO) E UMA CIrNCIA DA HISTORIA (DENOMINADA DE MATERIALISMO HISTyRICO). ESTA DISTINomO p UM PONTO CHAVE DENTRO DA FILOSOFIA ALTHUSSERIANA E DE SEU CIENTIFICISMO, POIS O MATERIALISMO HISTyRICO SERIA O ELEMENTO
PRINCIPAL DO MARXISMO EM DETRIMENTO DO MATERIALISMO DIALpTICO, PRIMAZIA ESTA Ji PRESENTE DESDE SEUS PRIMEIROS TEXTOS.
E QUAL SERIA O OBJETO DO MATERIALISMO HISTyRICO, OU EM OUTROS TERMOS, DA CIrNCIA DA HISTORIA? PARA ALTHUSSER, NEM TUDO QUE OCORRE NO PASSADO HISTyRICO PODE SER CONSIDERADO OBJETO DA CIrNCIA DA HISTyRIA. PARA DpCIO SAES UMA PRIMEIRA DEFINIomO PARA O OBJETO DA HISTyRIA ENCONTRA-SE EM ³PARA LER O CAPITAL´ ONDE SmO CONSIDERADOS FEN{MENOS HISTyRICOS TODOS AQUELES QUE MUDAM DE ALGUMA FORMA AS RELAo}ES ESTRUTURAIS EXISTENTES NA SOCIEDADE. MAS EM ³CONTRADIomO E SOBREDETERMINAomO´ SmO DEFINIDOS COMO HISTyRICOS TODOS AQUELES ACONTECIMENTOS QUE SE RELACIONEM DE ALGUMA FORMA COM AS ESTRUTURAS. LOGO, ESTA DEFINIomO DE HISTyRIA NmO ABARCA SOMENTE AQUELES FEN{MENOS QUE MUDEM A ESTRUTURA SOCIAL, MAS TAMBpM AQUELES CONTRIBUEM PARA A CONSERVAomO DA SOCIEDADE. O QUE Ji SE PODE CONCLUIR DAQUI - E O QUE NOS INTERESSA MAIS - p QUE, EMBORA ALTHUSSER CONSTRUA GRADATIVAMENTE O SEU CONCEITO DE OBJETO DA CIrNCIA DA HISTORIA, p IMUTiVEL A SUA PREOCUPAomO COM AS ESTRUTURAS NA DEFINIomO DO OBJETO DA HISTyRIA. SE QUISERMOS RESUMIR A SUA VISmO DE HISTyRIA, ESTA PODERIA SER DEFINIDA COMO O ESTUDO DO MODO DE PRODUomO (EM GERAL) EMBORA NmO SE LIMITE A ISSO, UMA VEZ QUE EXISTEM ViRIOS MODOS DE PRODUomO PARTICULARES. DESTA FORMA, COM UM CONCEITO E UM ESTUDO DE UM MODO DE PRODUomO EM GERAL, TORNA-SE POSStVEL PENSAR A RAZmO PELA QUAL UM MODO DE PRODUomO SE TRANSFORMA OU SE MANTpM, COLOCANDO EM QUESTmO O TEMA CLiSSICO DA
TRANSFORMAomO SOCIAL (SAES:1998).
QUAL O PROPySITO DE UMA DISTINomO ENTRE MODO DE PRODUomO EM GERAL E MODO DE PRODUomO EM PARTICULAR NO SISTEMA ALTHUSSERIANO? EM ³SOBRE O TRABALHO TEyRICO´ (1978). ALTHUSSER EXPLICA HAVER NA CIrNCIA DOIS PROCESSOS: POR UM LADO, O OBJETO DE CONHECIMENTO - QUE p CONSTRUtDO PELO CIENTISTA - E DE OUTRO, O OBJETO REAL - QUE EXISTE INDEPENDENTEMENTE DO PENSAMENTO. O CIENTISTA CONSTRyI SEUS OBJETOS - COMO, POR EXEMPLO, MODO DE PRODUomO - NA INVESTIGAomO CIENTtFICA PARA SE CHEGAR AO CONHECIMENTO FINAL DOS OBJETOS REAIS. O DISCURSO TEyRICO DEVE PRODUZIR CONCEITOS, NUNCA COM UM FIM EM SI MESMO, MAS SIM PARA SE CHEGAR AO CONHECIMENTO DOS OBJETOS REAIS, QUE SmO CONCRETOS E SINGULARES, E, NO CASO DO MATERIALISMO HISTyRICO, ESSES OBJETOS CONCRETOS E SINGULARES SmO AS FORMAo}ES
SOCIAIS.
ANTES DE ENTRAR NA DISCUSSmO SOBRE FORMAo}ES SOCIAIS UMA PRIMEIRA CONCLUSmO PODE SER TIRADA AQUI: A SOCIEDADE PARA ALTHUSSER p ANTES DE TUDO UMA ESTRUTURA, E OS CONCEITOS GERAIS, OU EM TERMOS MAIS ALTHUSSERIANOS, OS OBJETOS DE CONHECIMENTO, DEVEM SER INSTRUMENTOS PARA SE ENTENDER ESTAS ESTRUTURAS. OS CONCEITOS PARTICULARES ACABAM POR SERVIR COMO APERFEIoOAMENTOS DOS PRIMEIROS CONCEITOS CONSTRUtDOS - OS MAIS GERAIS.
PARA ALTHUSSER O CONCEITO DE MODO DE PRODUomO NmO SE
RESTRINGE j CONFIGURAomO DO SISTEMA ECON{MICO (OU SEJA, AS RELAo}ES DE PRODUomO MAIS O ESTiGIO DE DESENVOLVIMENTO DAS FORoAS
PRODUTIVAS), MAS FUNCIONA COMO UM SIN{NIMO DE TOTALIDADE SOCIAL, OU EM TERMOS MAIS ALTHUSSERIANOS, ESTRUTURA SOCIAL TOTAL. MODO DE PRODUomO p O FUNCIONAMENTO DAS SOCIEDADES HUMANAS ONDE SmO
ARTICULADAS ViRIAS ESTRUTURAS QUE CORRESPONDEM j DIFERENTES NtVEIS DA ATIVIDADE SOCIAL. E O QUE SERIA ESTRUTURA PARA ALTHUSSER?
ESTE CONCEITO NmO p SISTEMATIZADO PELO AUTOR, PORpM, DpCIO SAES IDENTIFICA NUM TEXTO DE POULANTZAS1 UMA DEFINIomO NA QUAL
ESTRUTURA p DEFINIDA COMO ³UM CONJUNTO PARTICULAR DE VALORES QUE ORIENTA UM CERTO TIPO DE ATIVIDADE SOCIAL FIXANDO OS LIMITES
VALORATIVOS DENTRO DOS QUAIS SE DESENVOLVEM AS Ao}ES SOCIAIS DESSE TIPO´ (SAES, 1998, P.25). EM OUTRAS PALAVRAS, A ESTRUTURA p UM PADRmO VALORATIVO SEGUIDO PELAS PRiTICAS SOCIAIS DE UM CERTO TIPO E, ENTRE ESTRUTURA E PRiTICA, HAVERIA, SEGUNDO ALTHUSSER, UMA CAUSALIDADE METONtMICA, OU SEJA, A CAUSA (A ESTRUTURA) NmO EXISTE SENmO ATRAVpS DE SEUS EFEITOS (AS PRiTICAS). A ESTRUTURA Sy EXISTE DEVIDO jS PRiTICAS ORIENTADAS VALORATIVAMENTE, E, POR ISSO, A ESTRUTURA p SEMPRE UMA CAUSA AUSENTE. COMO AFIRMA DpCIO SAES (1998, P. 26) ³AS ESTRUTURAS QUE COMP}EM A TOTALIDADE SOCIAL Sy EXISTEM CONCRETAMENTE, PORTANTO, ATRAVpS DE PRiTICAS, NA MEDIDA EM QUE p NAS Ao}ES HUMANAS QUE SE CORPORIFICAM, OU SEJA, MATERIALIZAM-SE OS VALORES ESTRUTURAIS (IMATERIAIS)´. ACONTECE QUE OS AGENTES SE ORIENTAM DE FORMA ³INCONSCIENTE´ DAS ESTRUTURAS, ESTAS NmO SmO TRANSPARENTES PARA ELES. e APENAS NA PRiTICA CIENTtFICA QUE CHEGAMOS AO CONHECIMENTO DAS ESTRUTURAS E, POR SUA VEZ, ESSAS ESTRUTURAS NmO PODEM SER
CONHECIDAS DIRETAMENTE, MAS APENAS ATRAVpS DE SEUS CANAIS: AS
INSTITUIo}ES OU APARELHOS. E MESMO ASSIM ESSES APARELHOS NmO SmO UM REFLEXO EXATO DAS ESTRUTURAS, ESTAS APENAS SE EXPRIMEM NELAS, PORpM, DE MODO ³REFRATADO´ E SmO AS PRyPRIAS REGRAS INSTITUCIONAIS -OU REGRAS DO APARELHO - QUE OCULTAM (PARA OS AGENTES) E INDICAM (PARA O CIENTISTA) A EXISTrNCIA DE VALORES ESTRUTURAIS SUBJACENTES jS Ao}ES.
A ESTRUTURA SOCIAL TOTAL p UMA ARTICULAomO DE M~LTIPLAS ESTRUTURAS, CORRESPONDENTES A DIFERENTES NtVEIS DA ATIVIDADE SOCIAL. Hi AQUI UMA DIFERENoA A SER RESSALTADA ENTRE ESTRUTURA E INSTkNCIAS OU NtVEIS. A TOTALIDADE SOCIAL p COMPOSTA DE TRrS
ESTRUTURAS: ECON{MICA, IDEOLyGICA E JURtDICO-POLtTICO, MAS ELA p TAMBpM COMPOSTA POR ViRIAS OUTRAS INSTkNCIAS; ECON{MICA,
IDEOLyGICA, JURtDICO POLtTICA, CIENTIFICA, TEyRICA, ARTtSTICA ETC. POIS SE UMA ESTRUTURA CORRESPONDE A UMA INSTkNCIA, NEM TODA INSTkNCIA p UMA ESTRUTURA. SmO AS ESTRUTURAS QUE SmO FUNDAMENTAIS PARA O FUNCIONAMENTO DAS SOCIEDADES, OU SEJA, SmO DETERMINANTES,
ENQUANTO QUE AS INSTkNCIAS SmO DETERMINADAS PELA FORMA COMO AS ESTRUTURAS SE ARTICULAM. NOTA-SE QUE SmO AS ESTRUTURAS A CHAVE DA COMPREENSmO DA SOCIEDADE UMA VEZ QUE ELAS SmO A PEoA FUNDAMENTAL DO FUNCIONAMENTO DESTA MESMA. ESTA p A FAMOSA FORMULA TRINITiRIA SOBRE AS ESTRUTURAS DO MODO DE PRODUomO. O MODO DE PRODUomO SERIA RESULTADO DE UMA COMBINAomO DESSAS TRrS ESTRUTURAS DE FORMA HIERiRQUICA AINDA QUE COM UMA AUTONOMIA RELATIVA ENTRE ELAS, OU SEJA, EMBORA HAJA SEMPRE UMA ESTRUTURA DOMINANTE AS OUTRAS DUAS NmO ESTmO SIMPLESMENTE SUBORDINADAS A ELA NUMA RELAomO DE
DEPENDrNCIA ABSOLUTA. UMA OUTRA PECULIARIDADE p QUE, EMBORA HAJA SEMPRE UMA ESTRUTURA DOMINANTE, ELA NmO p SEMPRE A MESMA (POR EXEMPLO A ECON{MICA). UM DETERMINADO MODO DE PRODUomO PODE TER
COMO ESTRUTURA DOMINANTE A ECON{MICA, A JURtDICO-POLtTICA OU A IDEOLyGICA. O CONCEITO DE MODO DE PRODUomO GERAL DENOMINA ESSA FORMA DE ARTICULAomO HIERiRQUICA DAS TRrS ESTRUTURAS NA
COMPOSIomO DE TODAS AS SOCIEDADES ENQUANTO QUE O MODO DE
PRODUomO PARTICULAR SE REFERE j VARIAomO DA ESTRUTURA QUE OCUPA O PAPEL DOMINANTE.
EXISTE AQUI UMA COMPLICAomO: O QUE DETERMINA QUAL ESTRUTURA OCUPARi O LUGAR PRIVILEGIADO? ALTHUSSER AFIRMA QUE p A ESTRUTURA ECON{MICA QUE DETERMINA ISSO, SENDO ELA, PORTANTO, A ESTRUTURA DETERMINANTE EM ~LTIMA INSTkNCIA. e ELA QUE DETERMINA O FATO DE HAVER SEMPRE UMA ESTRUTURA DOMINANTE NO MODO DE PRODUomO E AINDA QUAL DESTAS ESTRUTURAS OCUPARi O LUGAR DOMINANTE DENTRO DESSE PROCESSO DE PRODUomO. E p JUSTAMENTE DEVIDO A ESSE PRINCtPIO DETERMINANTE EM ~LTIMA INSTkNCIA DA ESTRUTURA ECON{MICA QUE A AUTONOMIA DAS OUTRAS ESTRUTURAS Sy PODE SER RELATIVA, E NUNCA ABSOLUTA. A PRyPRIA AUTONOMIA p OUTORGADA PARA AS OUTRAS
ESTRUTURAS PELA ESTRUTURA ECON{MICA (MESMO QUANDO ESTA MESMA p SUBORDINADA).
PODEMOS AINDA ESTENDER NOSSA COMPREENSmO SOBRE A RELAomO DAS ESTRUTURAS ATRAVpS DO CONCEITO ALTHUSSERIANO DE
SOBREDETERMINAomO. ESTE CONCEITO DIZ QUE AS ESTRUTURAS SE IMPLICAM RECIPROCAMENTE, ONDE CADA ESTRUTURA p CONDIomO PARA A REPRODUomO DAS OUTRAS, DANDO MAIS UMA IDpIA DE SISTEMA. O CONCEITO APONTA PARA O CONDICIONAMENTO RECtPROCO DAS ESTRUTURAS NO MODO DE PRODUomO AO MESMO TEMPO EM QUE INDICA QUE ESTE PROCESSO p SUBORDINADO j UMA DETERMINAomO EM ~LTIMA INSTkNCIA DA ESTRUTURA ECON{MICA. e A IDpIA DE SOBREDETERMINAomO QUE FAZ A MEDIAomO ENTRE A IMPLICAomO RECtPROCA DAS ESTRUTURAS E A AUTONOMIA RELATIVA E A DETERMINAomO EM ~LTIMA INSTkNCIA PELA ESTRUTURA ECON{MICA. DEFENDEREI MAIS ADIANTE QUE A PARTIR DESTE CONCEITO p TAMBpM POSStVEL PENSAR A MEDIAomO ENTRE AS INSTITUIo}ES E OS INDIVtDUOS, OU SEJA, ENTRE A ESTRUTURA E A SOCIEDADE. PASSEMOS AGORA PARA UMA EXPOSIomO DO CONCEITO DE SOBREDETERMINAomO.
A SOBREDETERMINAomO
ALTHUSSER VAI PARTIR DA CONSTATAomO DE MARX DE QUE A DIALpTICA DE HEGEL ESTi DE CABEoA PARA BAIXO SENDO PORTANTO, NECESSiRIO INVERTr-LA. A EXPRESSmO ³INVERSmO´, SEGUNDO ALTHUSSER, p APENAS METAFyRICA, Ji QUE NmO SE TRATA DE PROPOR UMA INVERSmO DE
HEGEL AO Pp DA LETRA, POIS ISSO, SERIA DIFERENTE DO QUE FOI PROPOSTO POR PROUDHON. SE A DIALpTICA MARXISTA p, EM SEU PRyPRIO PRINCtPIO, O OPOSTO DA DIALpTICA HEGELIANA, ESSA DIFERENoA DEVE MANIFESTAR-SE NA SUA ESSrNCIA, ISTO p, NAS SUAS DETERMINAo}ES E NAS SUAS PRyPRIAS ESTRUTURAS. EM OUTROS TERMOS, AS ESTRUTURAS FUNDAMENTAIS DA DIALpTICA HEGELIANA, COMO POR EXEMPLO, A NEGAomO DA NEGAomO, A IDENTIDADE DOS CONTRiRIOS, A SUPERAomO, A TRANSFORMAomO DA QUALIDADE EM QUANTIDADE, A CONTRADIomO ETC, POSSUEM EM MARX UMA ESTRUTURA DIFERENTE DA QUE POSSUEM EM HEGEL. CRITICA AINDA A EXPOSIomO DA DIALpTICA MARXISTA DE MAO-TSp-TUNG EM SUA OBRA ³SOBRE A CONTRADIomO´ POIS OS CONCEITOS QUE DESENVOLVE NESTE LIVRO APARECERIAM COMO SENDO ESPECtFICOS DA DIALpTICA EM GERAL E NmO COMO IMPLICAo}ES NECESSiRIAS DA CONCEPomO MARXISTA DA SOCIEDADE E DA HISTyRIA. A PREOCUPAomO DE ALTHUSSER ESTi EM DESCOBRIR AQUILO QUE p ESPECtFICO E ~NICO DA DIALpTICA DE MARX EM RELAomO j DIALpTICA DE HEGEL E PARA TAL, REFLETE SOBRE O CONCEITO MARXISTA DE CONTRADIomO, MAIS ESPECIFICAMENTE NO TEMA LENINISTA DO ³ELO MAIS DpBIL´.
ESTA METiFORA LENINISTA TERIA UM SENTIDO PRiTICO: UMA DEFESA VALE O QUANTO VALE O SEU ELO MAIS DpBIL. QUEM QUISER ATACAR NUMA DADA SITUAomO DEVE DESCOBRIR A FRAQUEZA QUE TORNA TODA A FORoA DA DEFENSIVA IN~TIL. e A PARTIR DESTA TEORIA, POR EXEMPLO, QUE SE PODE ENTENDER PORQUE A REVOLUomO NA R~SSIA FOI POSStVEL E VITORIOSA: ELA FOI POSStVEL, POIS O MUNDO ESTAVA NUMA SITUAomO OBJETIVAMENTE
REVOLUCIONiRIA, MAS ISSO NmO EXPLICA PORQUE A REVOLUomO TRIUNFOU APENAS NA R~SSIA. QUAL A RAZmO DESTA PECULIARIDADE (SENDO A R~SSIA ERA O PAtS MAIS ATRASADO DA EUROPA)? BOM, A RAZmO SERIA, SEGUNDO ESTE RACIOCtNIO, QUE A R~SSIA ERA O PONTO MAIS FRiGIL DO SISTEMA DE ESTADOS IMPERIALISTAS. A GRANDE GUERRA APENAS AGRAVOU E PRECIPITOU ESTA FRAQUEZA DA R~SSIA, MAS NmO A CRIOU. A FRAQUEZA RESULTAVA DE UM TRAoO ESPECtFICO, ³A ACUMULAomO E EXASPERAomO DE TODAS AS CONTRADIo}ES HISTyRICAS ENTmO POSStVEIS EM UM ~NICO ESTADO´ (ALTHUSSER, 1979, P.82). A R~SSIA SE ENCONTRAVA ATRASADA EM RELAomO A SUA REVOLUomO BURGUESA E, AO MESMO TEMPO, jS VpSPERAS DE UMA REVOLUomO PROLETiRIA. ALTHUSSER (1979, P.85) CONCLUI ENTmO QUE:
A CONTRADIomO (EM GERAL E ESPECIFICADA - FORoAS PRODUTIVAS E AS RELAo}ES DE PRODUomO) DEFINE UMA SITUAomO ONDE A REVOLUomO ESTi NA ORDEM DO DIA, MAS NmO PODE PROVOCAR TAMBpM UMA SITUAomO
REVOLUCIONiRIA, MUITO MENOS O TRIUNFO DELA. PARA QUE ESTA
CONTRADIomO SE TORNE ATIVA, p PRECISO MAIS QUE APENAS A CONTRADIomO POR SI Sy: p PRECISO UMA ³ACUMULAomO DE CIRCUNSTkNCIAS' E CORRENTES ' TAIS QUE, QUALQUER QUE SEJA A ORIGEM E O SENTIDO (E NUMEROSOS DENTRE ELES SmO NECESSARIAMENTE, PELA SUA ORIGEM E PELO SEU SENTIDO, PARADOXALMENTE ESTRANHOS, ATp MESMO ABSOLUTAMENTE OPOSTOS' j REVOLUomO), POSSAM SER FUNDIDAS' EM UMA UNIDADE DE RUPTURA: QUANDO CONSEGUEM AGRUPAR A GRANDE MAIORIA DAS MASSAS POPULARES NO ASSALTO A UM REGIME PARA CUJA DEFESA AS CLASSES DIRIGENTES SE ACHAM IMPOTENTES.
LEMBREMOS QUE UMA REVOLUomO IMPLICA UMA SITUAomO ONDE AS MASSAS POPULARES (SUBDIVIDIDAS EM CLASSES: PROLETiRIOS, CAMPONESES, PEQUENOS BURGUESES ETC.) ESTmO UNIDAS NUM ASSALTO CONTRA UMA CLASSE DOMINANTE (TAMBpM SUBDIVIDIDA EM FEUDAIS, GRANDES BURGUESES, INDUSTRIAIS ETC.) DILACERADA E DESARTICULADA. ISSO Sy OCORRE QUANDO ESTmO COMBINADOS UMA ACUMULAomO DE CONTRADIo}ES SENDO QUE, NEM TODAS TrM A MESMA ORIGEM NEM O MESMO SENTIDO, NEM O MESMO NtVEL E LOCAL DE APLICAomO, MAS QUE, MESMO ASSIM, SE FUNDEM EM UMA UNIDADE DE RUPTURA. NmO p MAIS POSStVEL FALAR ENTmO DA CONTRADIomO GERAL APENAS, MAS EM UMA CONTRADIomO FUNDAMENTAL (QUE p A QUE COLOCA A REVOLUomO NA ORDEM DO DIA) QUE ESTi ATIVA EM TODAS ESSAS ViRIAS OUTRAS CONTRADIo}ES E ATp NA SUA FUSmO; MAS AO MESMO TEMPO ESSAS CONTRADIo}ES E A SUA FUSmO NmO SmO PURO REFLEXO DELA. A EXISTrNCIA DESSA CONTRADIomO FUNDAMENTAL NmO BASTA.
AS SUPERESTRUTURAS SERIAM INSTkNCIAS QUE DERIVAM DA CONTRADIomO FUNDAMENTAL, MAS QUE TrM CONSISTrNCIA E EFICiCIA PRyPRIAS. AS DIFERENoAS DAS ViRIAS INSTkNCIAS PODEM SE FUNDIR EM UMA UNIDADE REAL (NO CASO DO PERtODO REVOLUCIONiRIO), MAS ISSO NmO SIGNIFICA QUE ELAS SE REDUZEM A UM FEN{MENO DE UMA SIMPLES CONTRADIomO. ISTO SERVE PARA MOSTRAR O QUANTO ³A CONTRADIomO´ p INSEPARiVEL DA ESTRUTURA DO CORPO SOCIAL TOTAL, INSEPARiVEL DAS CONDIo}ES FORMAIS DE EXISTrNCIA E, MAIS IMPORTANTE, INSEPARiVEL DAS INSTkNCIAS QUE GOVERNA. ELA p DETERMINANTE, MAS TAMBpM DETERMINADA, EM UM ~NICO MOVIMENTO. DETERMINADA PELOS DIVERSOS NtVEIS E INSTkNCIAS DA
FORMAomO SOCIAL QUE ELA MESMA DETERMINA. ELA p ENTmO, SOBREDETERMINADA EM SEU PRINCtPIO.
ALTHUSSER FAZ ESTE ESFORoO TODO PARA MOSTRAR QUE ESTi TRABALHANDO COM UMA COISA COMPLETAMENTE DIFERENTE DA CONTRADIomO HEGELIANA. A CONTRADIomO HEGELIANA NUNCA p SOBREDETERMINADA, ELA APENAS APARENTA SER EM ALGUNS MOMENTOS.
ESSE ESQUEMA SIMPLES, ABSTRATO, E TRANQILIZADOR QUE COLOCAVA SUA Fp NA CONTRADIomO ABSOLUTA ENTRE CAPITAL E TRABALHO NmO Sy NmO CONSEGUIRIA EXPLICAR ViRIOS FEN{MENOS COMO ACABA SEMPRE JOGANDO-OS j EXCEomO: EXCEomO DE 1848, EXCEomO DE 1871, EXCEomO DO rXITO DE 1917 ETC. ORA, DE ACORDO COM ALTHUSSER, OS PRINCIPAIS TEXTOS POLtTICOS E HISTyRICOS DE MARX E ENGELS OFERECEM UMA IMPORTANTE MATpRIA PRIMA PARA ENTENDER ESSAS SUPOSTAS ³EXCEo}ES´. A CONTRADIomO CAPITAL-TRABALHO NUNCA p SIMPLES, MAS p SEMPRE ESPECIFICADA PELAS FORMAS E PELAS CIRCUNSTkNCIAS HISTyRICAS CONCRETAS
NAS QUAIS SE EXERCE. E p ESPECIFICADA PELAS FORMAS DA SUPERESTRUTURA (ESTADO, IDEOLOGIA DOMINANTE, RELIGImO, MOVIMENTOS POLtTICOS ETC.); PELA SITUAomO HISTyRICA INTERNA E EXTERNA QUE A DETERMINA EM FUNomO DE SEU PASSADO NACIONAL POR UM LADO (REVOLUomO BURGUESA INICIADA, EXPLORAomO FEUDAL ELIMINADA, COSTUMES LOCAIS, TRADIo}ES NACIONAIS E ³ESTILO PRyPRIO´ DAS LUTAS E DO COMPORTAMENTO POLtTICO) E DO CONTEXTO MUNDIAL POR OUTRO LADO (O DOMINANTE NESSE kMBITO: CONCORRrNCIA DAS NAo}ES CAPITALISTAS OU IMPERIALISMO ETC.).
SEMPRE SOBREDETERMINADA. LOGO, A PARTIR DESSA NOVA REGRA SE DEVE ENTENDER AS ANTIGAS ³EXCEo}ES´ COMO EXEMPLOS METODOLOGICAMENTE SIMPLES DA REGRA. CONTINUANDO, NENHUMA CONTRADIomO SE APRESENTA EM ESTADO PURO, ELA ESTi SEMPRE SOBREDETERMINADA. E p NESTA SOBREDETERMINAomO QUE ESTARIA A ESPECIFICIDADE DA CONTRADIomO MARXISTA EM RELAomO j HEGELIANA. e PRECISO BUSCAR SEMPRE A DETERMINAomO EM ULTIMA INSTkNCIA PELO ECON{MICO (MODO DE PRODUomO) E A AUTONOMIA RELATIVA DAS SUPERESTRUTURAS E A SUA EFICiCIA ESPECtFICA. A DIALpTICA ECON{MICA JAMAIS AGE EM ESTADO PURO.
O PAPEL DOMINANTE QUE ESTA CONTRADIomO PRINCIPAL TEVE NAS OBRAS DE MARX TINHA UM PAPEL PEDAGyGICO, E SEGUNDO ALTHUSSER AS CIRCUNSTkNCIAS HISTyRICAS PEDEM SEMPRE NOVAS FORMAS PEDAGyGICAS. E POR ISSO A TEORIA DA EFICiCIA ESPECtFICA DAS SUPERESTRUTURAS E OUTRAS CIRCUNSTkNCIAS AINDA ESTARIA, EM GRANDE PARTE, PARA SER ELABORADA. E JUNTO COM A TEORIA DE SUA EFICiCIA, RESTARIA DESENVOLVER A TEORIA DA ESSrNCIA PRyPRIA DOS ELEMENTOS ESPECtFICOS DA SUPERESTRUTURA. ESTE TRABALHO PODE AJUDAR NA CONTRIBUIomO DESTE DEBATE E PARA UMA MAIOR COMPREENSmO DA EFICiCIA DA SUPERESTRUTURA, MAIS ESPECIFICAMENTE, DA SUPERESTRUTURA IDEOLyGICA.
COMO PENSAR ENTmO AS SOBREVIVrNCIAS DAS SUPERESTRUTURAS? APENAS PELA IDpIA DE SOBREDETERMINAomO DE TODA CONTRADIomO. ISSO LEVA A 1) QUE UMA REVOLUomO NA ESTRUTURA NmO MODIFICA NECESSARIAMENTE E REPENTINAMENTE (O QUE OCORRERIA SE A DETERMINAomO ECON{MICA FOSSE A ~NICA DETERMINAomO) AS
SUPERESTRUTURAS, E, EM PARTICULAR AS IDEOLOGIAS PORQUE ELAS TrM, COMO TAIS, UMA CONSISTrNCIA SUFICIENTE PARA SOBREVIVER POR SI FORA DO CONTEXTO IMEDIATO DA SUA VIDA. 2) UMA NOVA SOCIEDADE, SAtDA DA REVOLUomO, PODE, PELAS PRyPRIAS FORMAS DA SUA NOVA SUPERESTRUTURA, OU POR CIRCUNSTkNCIAS ESPECtFICAS (NACIONAIS OU INTERNACIONAIS) PROVOCAR ELA PRyPRIA A SOBREVIVrNCIA, OU MELHOR, A REATIVAomO DOS ELEMENTO ANTIGOS. ESTA REATIVAomO Sy p POSStVEL, SEGUNDO ALTHUSSER, EM UMA DIALpTICA SOBREDETERMINADA.
CAPËTULO 2 - A IDEOLOGIA EM ALTHUSSER
APyS TRATAR DA RELAomO DA IDEOLOGIA COM AS ESTRUTURAS SOCIAIS, PASSEMOS PARA A RELAomO DA IDEOLOGIA COM O INDIVtDUO.
EM ³A FAVOR DE MARX´ ALTHUSSER (1979, P.204) DEFINE A IDEOLOGIA COMO SENDO ³UM SISTEMA (POSSUINDO A SUA LyGICA E O SEU RIGOR PRyPRIO) DE REPRESENTAo}ES (IMAGENS, MITOS, IDpIAS, OU CONCEITOS SEGUNDO O CASO) DOTADOS DE UMA EXISTrNCIA E UM PAPEL HISTyRICO NO MEIO DE UMA SOCIEDADE DADA´. A IDEOLOGIA IRi SE DIFERENCIAR DA CIrNCIA, POIS A SUA FUNomO PRiTICO-SOCIAL PREDOMINA SOBRE A SUA FUNomO TEyRICA OU DE CONHECIMENTO. E QUAL SERIA A NATUREZA DESTA SUA FUNomO SOCIAL? PARA RESPONDER A ESSA QUESTmO ALTHUSSER RECORRE j TEORIA MARXISTA DA HISTORIA, NA QUAL, SEGUNDO O AUTOR, OS SUJEITOS DA HISTyRIA SmO AS SOCIEDADES HUMANAS, E ESTAS, POR SUA VEZ, SmO
TOTALIDADES CUJA UNIDADE p CONSTITUtDA PELA ARTICULAomO DAS TRrS ESTRUTURAS PRINCIPAIS: A ECON{MICA, A POLtTICA E A IDEOLyGICA -DETERMINADAS EM ULTIMA INSTkNCIA PELA ESTRUTURA ECON{MICA. AQUI SE ENCONTRA UMA ESPECIFICIDADE IMPORTANTE DA TEORIA DA IDEOLOGIA ALTHUSSERIANA, O FATO DE QUE A IDEOLOGIA p UM ELEMENTO INDISPENSiVEL j VIDA HISTyRICA, E MAIS, QUE APENAS UMA CONCEPomO IDEOLyGICA DO MUNDO PODE CONCEBER UMA SOCIEDADE SEM IDEOLOGIA, ONDE ESTA SEJA SUBSTITUtDA TOTALMENTE PELA CIrNCIA. COMO REALoA O PRyPRIO AUTOR (1979, P.205, GRIFO DO AUTOR) ³O MATERIALISMO HISTyRICO
NmO PODE CONCEBER QUE UMA SOCIEDADE COMUNISTA POSSA JAMAIS
PRESCINDIR DE IDEOLOGIA, QUER SE TRATE DA MORAL, DA ARTE OU DAS REPRESENTAo}ES DO MUNDO´. ISSO NmO IMPLICA EM DIZER QUE A IDEOLOGIA p ESTiTICA. NAS TRANSFORMAo}ES SOCIAIS, OCORREM MODIFICAo}ES IDEOLyGICAS CORRESPONDENTES, HAVENDO INCLUSIVE SURGIMENTO DE NOVAS FORMAS IDEOLyGICAS, MAS A RIGOR, NENHUM MODO DE PRODUomO -QUE IMPLICA EM FORoAS PRODUTIVAS E RELAo}ES DE PRODUomO DETERMINADAS - PODE DISPENSAR UMA ORGANIZAomO SOCIAL DA PRODUomO E DE SUAS CORRESPONDENTES FORMAS IDEOLyGICAS. E p Sy AO RECONHECER A NECESSIDADE DA IDEOLOGIA QUE NOS PERMITE AGIR SOBRE ELA E TRANSFORMi-LA.
SENDO A IDEOLOGIA, ANTES DE TUDO, UM SISTEMA DE REPRESENTAo}ES ELA p TAMBpM, PROFUNDAMENTE INCONSCIENTE. ELAS SE IMP}EM
PRIMORDIALMENTE COMO ESTRUTURAS, OU SEJA, NmO PASSAM PELA
FORMA DE CONSCIrNCIA, MAS COMO O SEU PRyPRIO MUNDO (MAIS ADIANTE, ATRAVpS DO CONCEITO DE INTERPELAomO, ALTHUSSER DARi UMA DIMENSmO MAIOR AO CONCEITO DE IDEOLOGIA). OS HOMENS VIVEM AS SUAS Ao}ES NmO DE FORMA LIVRE E CONSCIENTE, MAS SIM NA IDEOLOGIA, ATRAVpS E PELA A IDEOLOGIA. A PRyPRIA AomO POLtTICA DOS HOMENS SE PASSA NA IDEOLOGIA, OU MELHOR, p ELA PRyPRIA IDEOLOGIA. A IDEOLOGIA SE REFERE ENTmO, SEGUNDO ALTHUSSER (1979, P.206) ³j RELAomO VIVIDA DOS HOMENS NO SEU MUNDO´. ESTA RELAomO APARECE COMO SENDO CONSCIENTE APENAS NA MEDIDA EM QUE p INCONSCIENTE. O QUE p EXPRESSO NA IDEOLOGIA NmO SmO AS RELAo}ES DOS HOMENS COM AS SUAS CONDIo}ES DE EXISTrNCIA, MAS A MANEIRA COMO VIVEM A SUA RELAomO COM AS CONDIo}ES DE EXISTrNCIA - O QUE SUP}E, POR SUA VEZ, UMA DIVISmO ENTRE RELAomO REAL E RELAomO VIVIDA. NA RELAomO VIVIDA, ESTi INVESTIDO JUNTAMENTE A RELAomO REAL E O PRINCtPIO ATIVO DA IDEOLOGIA - QUE MODIFICA OU REFORoA A RELAomO DOS HOMENS COM AS SUAS CONDIo}ES DE EXISTrNCIA NA SUA RELAomO VIVIDA - QUE SE ENCONTRA NESTA SOBREDETERMINAomO DO REAL PELO IMAGINiRIO E DO IMAGINiRIO PELO REAL. e JUSTAMENTE POR ISSO QUE ALTHUSSER TIRA QUALQUER CARiTER INSTRUMENTAL DA IDEOLOGIA, POIS AO TOMAREM UMA IDEOLOGIA COMO MEIO DE AomO, OS INDIVtDUOS VmO ESTAR ENVOLVIDOS NELA AO MESMO TEMPO EM QUE SE SERVEM DELA.
ALTHUSSER Di O EXEMPLO DA SOCIEDADE CAPITALISTA ONDE A IDEOLOGIA DOMINANTE p A IDEOLOGIA DA CLASSE DOMINANTE, MAS ESSA IDEOLOGIA NmO TEM UMA RELAomO DE EXTERIORIDADE COM ESTA MESMA CLASSE. A BURGUESIA NO SpCULO XVIII NmO DESENVOLVEU UMA FILOSOFIA
APENAS PARA LIBERTAR OS HOMENS DO FEUDALISMO PARA ENTmO EXPLORi-LOS NO CAPITALISMO. QUEM DIZ ISSO, SEGUNDO ALTHUSSER, p ROUSSEAU COM SEU MITO DE DESIGUALDADE ONDE OS RICOS CONVENCEM OS POBRES A VIVER UMA SERVIDmO COM SE FOSSE A SUA LIBERDADE. A BURGUESIA - OU QUALQUER OUTRO GRUPO SOCIAL - DEVE ANTES ACREDITAR NO SEU MITO PARA DEPOIS CONVENCER OS OUTROS. NAS PALAVRAS DO PRyPRIO AUTOR (1979, P. 208)
NA IDEOLOGIA DA LIBERDADE A BURGUESIA VIVE ASSIM COM MUITA EXATIDmO A SUA RELAomO COM AS SUAS CONDIo}ES DE EXISTrNCIA: ISTO p, A SUA RELAomO REAL (O DIREITO DA ECONOMIA CAPITALISTA LIBERAL), MAS INVESTIDA EM UMA RELAomO IMAGINiRIA (TODOS OS HOMENS SmO LIVRES, INCLUSIVE OS TRABALHADORES LIVRES).
LOGO A FUNomO DA IDEOLOGIA DOMINANTE NmO p APENAS DOMINAR A CLASSE EXPLORADA, MAS TAMBpM PARA SE CONSTITUIR ELA PRyPRIA EM
CLASSE DOMINANTE, FAZENDO-LHE ACEITAR COMO REAL E JUSTIFICADA A SUA RELAomO VIVIDA COM O MUNDO. E A CONTRA-PROVA DISSO p QUE, SE A IDEOLOGIA SERVISSE APENAS PARA A EXPLORAomO DE UMA CLASSE, ENTmO A IDEOLOGIA DESAPARECERIA COM AS CLASSES, ALGO QUE COM Ji VIMOS, p IMPENSiVEL. SE A IDEOLOGIA p ATIVA SOBRE A PRyPRIA CLASSE DOMINANTE E A ADAPTA AS SUAS CONDIo}ES REAIS DE EXISTrNCIA, ENTmO A IDEOLOGIA p INDISPENSiVEL PARA QUALQUER SOCIEDADE PARA FORMAR OS HOMENS, PARA COLOCi-LOS EM CONDIo}ES DE CORRESPONDER jS EXIGrNCIAS DAS SUAS CONDIo}ES DE EXISTrNCIA.
ENTmO, UMA SOCIEDADE SOCIALISTA NmO PODE SER VISTA COMO UM FIM DA HISTyRIA, ELA DEVE ESTAR AINDA CONSTANTEMENTE TRANSFORMANDO -REVOLUCIONANDO - AS SUAS CONDIo}ES DE EXISTrNCIA. OS HOMENS, POR SUA VEZ, DEVEM TAMBpM SER CONSTANTEMENTE TRANSFORMADOS PARA QUE SE ADAPTEM A ESSAS NOVAS CONDIo}ES. ORA, ESSA ADAPTAomO DOS HOMENS NmO p ESPONTkNEA, p JUSTAMENTE NA IDEOLOGIA QUE A SOCIEDADE SEM CLASSES VIVE A INADEQUAomO-ADAQUEomO DE SUA RELAomO COM O MUNDO E p NELA E ATRAVpS DELA QUE SE TRANSFORMA A CONSCIrNCIA DOS HOMENS. COMO RESUME O PRyPRIO AUTOR (1979, P. 208):
NUMA SOCIEDADE DE CLASSES, A IDEOLOGIA p O RELAIS PELO QUAL, E O ELEMENTO NO QUAL, A RELAomO DOS HOMENS COM AS SUAS CONDIo}ES DE EXISTrNCIA SE REGULA EM PROVEITO DA CLASSE DOMINANTE. NUMA SOCIEDADE SEM CLASSES, A IDEOLOGIA p O RELAIS PELO QUAL, E O ELEMENTO NO QUAL, A RELAomO DOS HOMENS COM AS SUAS CONDIo}ES DE EXISTrNCIA p VIVIDA A PROVEITO DE TODOS OS HOMENS.
OS APARELHOS IDEOLyGICOS DE ESTADO
O CARiTER MAIS CONHECIDO DA TEORIA DA IDEOLOGIA ALTHUSSERIANA p O QUE DIZ RESPEITO j FUNomO CONSERVADORA DA IDEOLOGIA, OU SEJA, A SUA FUNomO NO AUXtLIO DA CONSERVAomO E REPRODUomO DO SISTEMA SOCIAL. ESTA VISmO SE ENCONTRA SISTEMATIZADA EM SUA OBRA ³OS APARELHOS IDEOLyGICOS DO ESTADO´. PARA O AUTOR UMA FORMAomO SOCIAL DEVE PRODUZIR SUAS CONDIo}ES DE PRODUomO AO
MESMO TEMPO EM QUE AS REPRODUZ, LOGO, PARA QUE UMA PRODUomO EXISTA, ELA DEVE SER ANTES DE TUDO REPRODUZIDA. PARA QUE A PRODUomO SEJA POSStVEL DEVEM SER REPRODUZIDAS DUAS COISAS: (A) AS FORoAS PRODUTIVAS E (B) AS RELAo}ES DE PRODUomO EXISTENTES. NO CASO DA REPRODUomO DAS FORoAS PRODUTIVAS - OU FORoA DE TRABALHO SE PREFERIR - ALTHUSSER APONTA QUE ELA OCORRE ESSENCIALMENTE FORA DO PRyPRIO TRABALHO, OU SEJA, NUM LOCAL QUE NmO A EMPRESA. PARA QUE A FORoA DE TRABALHO SE REPRODUZA DEVE SER ASSEGURADA SUA EXISTrNCIA MATERIAL - FEITO ESSENCIALMENTE ATRAVpS DOS SALiRIOS - MAS ISSO APENAS NmO BASTA; ESTA FORoA DE TRABALHO DEVE SER COMPETENTE E SABER COMO - KNOW HOW - TRABALHAR NUMA EMPRESA. ESTE PROCESSO p FEITO CADA VEZ MAIS FORA DELA, ATRAVpS DO SISTEMA EDUCACIONAL CAPITALISTA E OUTRAS INSTITUIo}ES. ESTE FATO p RELEVANTE, POIS NmO BASTA APENAS ENSINAR A PARTE TpCNICA DO TRABALHO, DEVE-SE SOCIALIZAR PARA O TRABALHO, ENSINANDO NORMAS, REGRAS DE MORAL, CONSCIrNCIA CtVICA E PROFISSIONAL. DEVE-SE ENTmO REPRODUZIR NmO APENAS SUA QUALIFICAomO TpCNICA, MAS TAMBpM SUA SUBMISSmO jS REGRAS DA SOCIEDADE - OU EM TERMOS MAIS BRANDOS, A SUA SOCIALIZAomO - E, ISSO SIGNIFICA, PORTANTO, UMA REPRODUomO DE SUA SUBMISSmO j IDEOLOGIA VIGENTE. MAS, COMO Ji VIMOS, A IDEOLOGIA NmO p UM INSTRUMENTO, OS MEMBROS PRINCIPAIS E LtDERES DESSAS INSTITUIo}ES DEVEM ESTAR IMBUtDOS DESSA IDEOLOGIA, POIS ANTES DE TUDO, ACREDITAM E VrEM SENTIDO NO QUE FAZEM. PORTANTO, EM RESUMO, E NAS PALAVRAS DE ALTHUSSER (1974, P.22) ³p NAS FORMAS E SOB AS FORMAS DE SUJEIomO
IDEOLyGICA QUE SE ASSEGURA A REPRODUomO DA QUALIFICAomO DA FORoA DE TRABALHO´.
O SEGUNDO PONTO MENCIONADO ACIMA, A REPRODUomO DAS RELAo}ES
DE PRODUomO, p O MAIS IMPORTANTE. PARA DESENVOLVER ESTE TyPICO ALTHUSSER FAZ UMA DIGRESSmO SOBRE SEU CONCEITO DE SOCIEDADE, TENTANDO SUPERAR A ANTIGA FyRMULA MARXISTA DE INFRA-ESTRUTURA E SUPERESTRUTURA - CONSIDERADA COMO SENDO DEMASIADA DESCRITIVA PELO AUTOR. A SUA VISmO DE SOCIEDADE Ji FOI APRESENTADA NESTE TRABALHO, NO ITEM ANTERIOR, CABE-NOS, PORTANTO APONTAR QUE ESTAMOS TRABALHANDO COM FEN{MENOS DA SUPERESTRUTURA, E QUE, DEVIDO A ISSO, SmO PENSADOS PRINCIPALMENTE DO PONTO DE VISTA DE REPRODUomO. A ANiLISE ALTHUSSERIANA DO ESTADO, DIREITO E DA IDEOLOGIA SE DmO SOB ESSE PONTO DE VISTA. EM RELAomO AO ESTADO, O AUTOR AFIRMA QUE A TEORIA MARXISTA AINDA SE ENCONTRA EM UMA FASE DESCRITIVA, DEVENDO POR ISSO SER ULTRAPASSADA. O ESTADO, PARA A TEORIA MARXISTA CLiSSICA, SERIA ANTES DE TUDO, UM APARELHO REPRESSIVO QUE PERMITE jS CLASSES DOMINANTES ASSEGURAREM A SUA DOMINAomO SOBRE A CLASSE OPERiRIA. ALTHUSSER ADICIONA A ISSO QUE O ESTADO Sy TEM SENTIDO EM FUNomO DO PODER DO ESTADO, E, TODA LUTA DE CLASSES GIRA EM TORNO DESSE PODER, OU MELHOR, DA TOMADA E CONSERVAomO DESSE PODER POR UMA CERTA CLASSE OU FAComO DE CLASSE. Hi, PORTANTO UMA DISTINomO ALTHUSSERIANA ENTRE APARELHO DO ESTADO E PODER DE ESTADO. A PRyPRIA TEORIA MARXIANA DO ESTADO, NO ENTANTO, Ji ABORDA ESSA DISTINomO, UMA VEZ QUE SABEMOS QUE O APARELHO DO
ESTADO PODE PERMANECER INTACTO MESMO MODIFICANDO O PODER DE ESTADO. OS CLiSSICOS DO MARXISMO APENAS ABORDARAM ESSA COMPLEXIDADE DO ESTADO EM SUA PRiTICA POLtTICA, MAS NmO A EXPRIMIRAM EM UMA TEORIA CORRESPONDENTE. ESTE PONTO p MUITO SIGNIFICATIVO PARA O PRESENTE TRABALHO, POIS ALTHUSSER RECONHECE COMO ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DE UM SISTEMA TEyRICO, A PRiTICA DO PRyPRIO TEyRICO. RETORNAREMOS A ESSA QUESTmO MAIS ADIANTE.
A PRINCIPAL CONTRIBUIomO ALTHUSSERIANA - E A QUE NOS INTERESSA AQUI - PARA A TEORIA DO ESTADO E DA IDEOLOGIA ESTi NUM SEGUNDO MOMENTO, AO CONSTATAR A EXISTrNCIA DOS APARELHOS IDEOLyGICOS DO
ESTADO. O APARELHO DO ESTADO, DEFINIDO Ji PELOS CLiSSICOS DO MARXISMO, p ANTES DE TUDO UM APARELHO REPRESSIVO DE ESTADO (ARE) E QUE OPERA, EM ~LTIMA INSTkNCIA, PELA VIOLrNCIA - O GOVERNO, A ADMINISTRAomO, O EXERCITO, A POLICIA, OS TRIBUNAIS, AS PRIS}ES ETC. Ji OS APARELHOS IDEOLyGICOS DE ESTADO (AIE) SmO INSTITUIo}ES ESPECIALIZADAS E DISTINTAS; EMPIRICAMENTE ELAS SERIAM:
- O AIE RELIGIOSO (O SISTEMA DE DIFERENTES IGREJAS)
- O AIE FAMILIAR (QUE DESEMPENHA TAMBpM OUTRAS FUNo}ES COMO NA REPRODUomO DA FORoA DE TRABALHO E, SEGUNDO OS MODOS DE PRODUomO, DA UNIDADE DE PRODUomO E (OU) UNIDADE DE CONSUMO.
- O AIE JURtDICO (QUE PERTENCE TAMBpM AO ARE)
- O AIE POLtTICO (O SISTEMA POLtTICO DE QUE FAZEM PARTE OS DIFERENTES PARTIDOS)
- O AIE SINDICAL
- O AIE DA INFORMAomO (IMPRENSA, RiDIO, TELEVISmO ETC.) - O AIE CULTURAL (LETRAS, BELAS ARTES, ETC.)
-NO QUE MAIS SE DIFEREM OS AIE DO ARE? Hi UM APARELHO REPRESSIVO APENAS ENQUANTO QUE EXISTEM UMA PLURALIDADE DE AIE; O ARE PERTENCE AO DOMtNIO P~BLICO ENQUANTO QUE A MAIORIA DOS AIE PERTENCEM AO DOMtNIO PRIVADO. O FATO DOS AIE SEREM PRIVADOS EM SUA MAIORIA NmO p CONTRADITyRIO COM O FATO DE SEREM APARELHOS DE ESTADO, POIS FUNCIONAM COMO AIE, TENDO COMO ESPECIFICIDADE QUE FUNCIONAM PRINCIPALMENTE PELA IDEOLOGIA ENQUANTO QUE O ARE FUNCIONA PRINCIPALMENTE PELA REPRESSmO. e JUSTAMENTE ESSA IDEOLOGIA QUE UNIFICA OS ViRIOS AIE, UMA VEZ QUE ESTmO TODOS FUNCIONANDO SOB A MESMA IDEOLOGIA SEGUNDO A VELHA MiXIMA NA QUAL A IDEOLOGIA DOMINANTE p SEMPRE A IDEOLOGIA DA CLASSE DOMINANTE. E, PARA QUE UMA CLASSE EXERoA SEU PODER, NmO BASTA DETER O PODER DE ESTADO, SENDO INDISPENSiVEL EXERCER TAMBpM SUA HEGEMONIA SOBRE OS AIE, TORNADO-OS NmO APENAS ALVO, MAS TAMBpM LOCAL DA LUTA DE CLASSES. O ARE PODE SER SUBSTITUtDO MAIS FACILMENTE QUE OS AIE, POIS AS ANTIGAS CLASSES DOMINANTES PODEM DURANTE MUITO TEMPO AINDA CONSERVAR NELES POSIo}ES FORTES.
NESTE MOMENTO TORNA-SE POSStVEL RESPONDER COMO p ASSEGURADA A REPRODUomO DAS RELAo}ES DE PRODUomO. ELA p ASSEGURADA PELO PODER DO ESTADO E SEUS APARELHOS: O APARELHO REPRESSIVO DE UM LADO E OS APARELHOS IDEOLyGICOS DE ESTADO POR OUTRO. Hi ENTmO UMA DIVISmO DO TRABALHO ENTRE ESSES DOIS APARELHOS: POR UM LADO O ARE ASSEGURA PELA FORoA AS CONDIo}ES POLtTICAS DA REPRODUomO DAS RELAo}ES DE PRODUomO ASSEGURANDO AINDA DESSA
FORMA AS CONDIo}ES PARA O EXERCtCIO DOS AIE. A HARMONIA ENTRE O ARE E OS AIE p ASSEGURADA PELA IDEOLOGIA DOMINANTE - IDEOLOGIA ESSA QUE TAMBpM UNIFICA A DIVERSIDADE DOS AIE. A EXISTrNCIA DE UMA GRANDE DIVERSIDADE DE AIE p UM FEN{MENO VIStVEL APENAS NAS SOCIEDADES CAPITALISTAS CONTEMPORkNEAS. NA SOCIEDADE FEUDAL, POR EXEMPLO, HAVIA UM AIE DOMINANTE, A IGREJA, QUE CONCENTRAVA ViRIAS FUNo}ES QUE NAS SOCIEDADES CAPITALISTAS SmO REALIZADAS POR AIE DISTINTOS (RELIGIOSO, ESCOLAR, INFORMAomO E CULTURA). e JUSTAMENTE DEVIDO A ESSE FATO QUE A LUTA IDEOLyGICA DO ILUMINISMO ERA UMA LUTA ANTI-RELIGIOSA E ANTI-CLERICAL, E, COM O ADVENTO DAS REVOLUo}ES BURGUESAS FORAM CRIADOS NOVOS AIE PARA SUBSTITUIR O APARELHO IDEOLyGICO RELIGIOSO. A BURGUESIA TINHA QUE ASSEGURAR NmO Sy A SUA HEGEMONIA POLtTICA, MAS TAMBpM A SUA HEGEMONIA IDEOLyGICA, INDISPENSiVEL j REPRODUomO DAS RELAo}ES DE PRODUomO CAPITALISTAS. E COM ISSO A LUTA DE CLASSES IDEOLyGICA TORNA-SE MUITAS VEZES UMA LUTA CONTRA A MORAL DA FAMtLIA, DA ESCOLA DA IGREJA ETC. EXEMPLOS DESSAS MANIFESTAo}ES PODEM SER ENCONTRADAS NOS MOVIMENTOS SOCIAIS DA DpCADA DE 60.
E HAVERIA ALGUM APARELHO IDEOLyGICO DOMINANTE NAS SOCIEDADES CAPITALISTAS CONTEMPORkNEAS? GERALMENTE p DADO AO APARELHO IDEOLyGICO POLtTICO ESSA FUNomO, DADO A IMPORTkNCIA DA DEMOCRACIA E DO SUFRiGIO UNIVERSAL PARA AS SOCIEDADES. Hi DOIS FATOS QUE DESMENTEM ESSA AFIRMAomO, SEGUNDO ALTHUSSER: ESSA p A REPRESENTAomO QUE A PRyPRIA IDEOLOGIA DOMINANTE TEM DE SI MESMO E
MAIS, p VERIFICiVEL HISTORICAMENTE QUE A BURGUESIA PODE EXISTIR COM AIE POLtTICOS DIFERENTES DA DEMOCRACIA PARLAMENTAR. AVANoANDO NA TESE, p O APARELHO IDEOLyGICO ESCOLAR QUE CUMPRE A POSIomO DOMINANTE NOS AIE. O APARELHO IDEOLyGICO ESCOLAR, ASSIM COMO OS OUTROS AIE, CUMPRE UMA MESMA FUNomO, A SABER, A REPRODUomO DAS RELAo}ES DE PRODUomO, ISTO p, DAS RELAo}ES DE EXPLORAomO CAPITALISTAS. CADA AIE REALIZA ESTA FUNomO DE UMA MANEIRA ESPECIFICA, POR EXEMPLO, O AIE POLtTICO SUJEITA OS INDIVtDUOS j IDEOLOGIA POLtTICA DE ESTADO, j IDEOLOGIA DEMOCRiTICA. A ESCOLA p UM APARELHO QUE ENGLOBA CRIANoAS DE TODAS AS CLASSES DESDE OS SEUS PRIMEIROS ANOS DE VIDA E ENSINA-LHES SABERES PRiTICOS ENVOLVIDOS NA IDEOLOGIA DOMINANTE (A LtNGUA NATIVA, CiLCULO, HISTyRIA, CIrNCIAS, LITERATURA) E SIMPLESMENTE A IDEOLOGIA DOMINANTE NO ESTADO PURO (MORAL, INSTRUomO, FILOSOFIA). NEM TODOS OS ALUNOS SEGUEM O CURSO ESCOLAR ATp O FINAL - UNIVERSIDADE, DOUTORADO ETC - E CADA GRUPO QUE VAI FICANDO PELO CAMINHO ESTi IMBUtDO DA IDEOLOGIA QUE CONVpM AO PAPEL QUE DEVE DESEMPENHAR NA SOCIEDADE DE CLASSES. e UMA DIMENSmO ESTRUTURAL QUE DISTRIBUI ESSES PAPEIS PARA OS ViRIOS INDIVtDUOS NA SOCIEDADE, SEJA PAPEL DE EXPLORADO (COM CONSCIrNCIA PROFISSIONAL, MORAL, CtVICA, NACIONAL E APOLtTICA ALTAMENTE DESENVOLVIDA) OU PAPEL DE AGENTE DA EXPLORAomO (SABER MANDAR E FALAR AOS OPERiRIOS, AS RELAo}ES HUMANAS), ESSA CONSCIrNCIA DO PAPEL DE CADA UM NA SOCIEDADE LHE p DADO POR UMA DIMENSmO MUITO ALpM DO CONTROLE INDIVIDUAL.
DECIDIMOS COMEoAR PELA APLICAomO DO CONCEITO DE IDEOLOGIA ALTHUSSERIANO, ATRAVpS DE SUA TEORIA DOS APARELHOS IDEOLyGICOS DO ESTADO, ANTES DE APROFUNDAR SUA TEORIA DA IDEOLOGIA EM SUA FORMA DIGAMOS, MAIS PURA. O OBJETIVO DESTE MpTODO FOI PURAMENTE DIDiTICO PARA SIMPLIFICAR A EXPOSIomO.
ALTHUSSER TEM A INTENomO DE CONSTRUIR UMA TEORIA DA IDEOLOGIA EM GERAL E NmO DAS ViRIAS IDEOLOGIAS PARTICULARES, QUE SmO, POR DEFINIomO, SEMPRE POSIo}ES DE CLASSE E TEM SUAS BASES NA HISTyRIA DESSAS ViRIAS SOCIEDADES EM ESPECtFICO. UMA TEORIA DAS ViRIAS IDEOLOGIAS REPOUSA, EM ~LTIMA INSTkNCIA SOBRE A HISTyRIA DAS FORMAo}ES SOCIAIS E DAS LUTAS DE CLASSES QUE NELAS SE DESENVOLVEM. NmO Hi, PORTANTO, UMA TEORIA DAS IDEOLOGIAS EM GERAL, POIS SUA HISTyRIA SE ENCONTRA, EM ~LTIMA INSTkNCIA, FORA DAS IDEOLOGIAS, EMBORA LHES DIGA RESPEITO.
A TEORIA DAS IDEOLOGIAS DEPENDE DE UMA TEORIA DA IDEOLOGIA EM GERAL. BOM, A PRIMEIRA TESE DA TEORIA DA IDEOLOGIA EM GERAL DIZ QUE: A IDEOLOGIA NmO TEM HISTyRIA. ESTA TESTE Ji SE ENCONTRA EM MARX, MAS COM UM OUTRO SIGNIFICADO: UM SIGNIFICADO NEGATIVO - IDEOLOGIA ENQUANTO ILUSmO - E COM UM TEOR POSITIVISTA-HISTORICISTA PARA ALTHUSSER A TESE QUE A IDEOLOGIA NmO TEM HISTyRIA NmO DEVE TER UM SENTIDO NEGATIVO (A IDEOLOGIA ESTi FORA DELA), MAS SIM POSITIVO. e POSITIVO POIS O CARiTER PRyPRIO E ESPECtFICO DA IDEOLOGIA p SER DOTADA DE UMA ESTRUTURA E DE UM FUNCIONAMENTO TAL QUE ELA p UM
REALIDADE NmO HISTyRICA, NO SENTIDO QUE ESSA ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO ESTmO PRESENTES SOB UMA MESMA FORMA, IMUTiVEL, NA HISTyRIA INTEIRA. COMO AFIRMA ALTHUSSER (1974, P.74)
POR UMA LADO, CREIO PODER SUSTENTAR QUE AS IDEOLOGIAS TrM UMA
HISTyRIA PRyPRIA (EMBORA ESTA HISTyRIA SEJA DETERMINADA EM ~LTIMA
INSTkNCIA PELA LUTA DE CLASSES); E, POR OUTRO LADO, QUE A IDEOLOGIA
EM GERAL NmO TEM HISTyRIA, NmO NUM SENTIDO NEGATIVO (A SUA HISTyRIA
ESTi FORA DELA) MAS NUM SENTIDO ABSOLUTAMENTE POSITIVO.
O CARiTER POSITIVO DA IDEOLOGIA ESTi JUSTAMENTE NO FATO DE QUE ELA TEM UMA ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO PRyPRIO, O QUE A FAZ UMA REALIDADE NmO HISTyRICA, OU MELHOR, OMNI-HISTyRICA, A SUA ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO PERMANECE IMUTiVEL DURANTE TODA A HISTyRIA HUMANA, AQUILO QUE ALTHUSSER CHAMA DE HISTyRIA TOTAL. PARA MELHOR EXPLICAR ISSO O AUTOR RELACIONA ESSA IDpIA j PROPOSIomO FREUDIANA SEGUNDO A QUAL O INCONSCIENTE NmO TEM HISTyRIA, OU SEJA, p ETERNO. ISSO DE FORMA ALGUMA SIGNIFICA QUE A IDEOLOGIA (OU O INCONSCIENTE FREUDIANO) TRANSCENDE A HISTyRIA, MAS SIM QUE ELA p IMUTiVEL NA SUA FORMA AO LONGO DA HISTyRIA.
A TEORIA GERAL DA IDEOLOGIA ALTHUSSERIANA REPOUSA SOBRE DUAS TESES: UMA NEGATIVA E OUTRA POSITIVA. A PRIMEIRA TESE -NEGATIVA - DIZ (1974, P.77): ³A IDEOLOGIA REPRESENTA A RELAomO IMAGINiRIA DOS INDIVtDUOS COM AS SUAS CONDIo}ES REAIS DE EXISTrNCIA´. ESTA AFIRMAomO PODE SER MAIS FACILMENTE COMPREENDIDA SE ENTENDEMOS A IDEOLOGIA COMO CONCEPo}ES DE MUNDO QUE NmO
CORRESPONDEM j REALIDADE - O QUE NmO AS TORNAM FALSAS. UM EXEMPLO QUE O PRyPRIO AUTOR Di SmO OS MITOS DE UMA SOCIEDADE INDtGENA: ESSES MITOS NmO CORRESPONDEM A UMA REALIDADE, O QUE NmO SIGNIFICA DIZER QUE ELES SmO MENTIRAS, p UM PROCESSO MUITO MAIS COMPLEXO, POIS Hi UM SENTIDO QUE p DADO i ESSES MITOS PELOS NATIVOS. POIS AO MESMO TEMPO EM QUE SmO ILUSmO - POR NmO CORRESPONDEREM j REALIDADE - FAZEM ALUSmO j ESSA REALIDADE E QUE TORNA-SE NECESSiRIO INTERPRETi-LOS PARA REENCONTRAR, SOB A SUA REPRESENTAomO IMAGINiRIA DO MUNDO, A PRyPRIA REALIDADE DESSE MUNDO. A IDEOLOGIA p ENTmO, NESSE MOMENTO, UMA COMPLEXA DIALpTICA ENTRE ILUSmO E ALUSmO.
UM NOVO PROBLEMA p COLOCADO COM ESTA AFIRMAomO PELO PRyPRIO ALTHUSSER (1974 P. 79): ³POR QUE PRECISAM OS HOMENS DESTA TRANSPOSIomO IMAGINiRIA DAS SUAS CONDIo}ES REAIS DE EXISTrNCIA PARA SE REPRESENTAREM AS SUAS CONDIo}ES DE EXISTrNCIA REAIS?´. SEGUNDO ALTHUSSER Hi DUAS RESPOSTAS PRINCIPAIS ENCONTRADAS NOS CLiSSICOS QUE ELE NEGA. A PRIMEIRA p A DO SpCULO XVIII QUE CULPA OS CLpRIGOS E OS DpSPOTAS POR FORJAREM MENTIRAS PARA QUE OS HOMENS OBEDEoAM j DEUS, E CONSEQENTEMENTE AOS CLpRIGOS E DpSPOTAS. NESTE CASO Hi UMA CAUSA DA IDEOLOGIA, QUE p UM N~MERO REDUZIDO DE HOMENS QUE DOMINAM O POVO SOBRE UMA REPRESENTAomO FALSEADA DO MUNDO, RACIONALMENTE CONSTRUtDO POR ESSE POUCOS CtNICOS. A SEGUNDA RESPOSTA p A DE FEUERBACH E QUE TERIA SIDO RETOMADA PELO JOVEM MARX. NESTA EXPLICAomO Hi TAMBpM UMA CAUSA PARA A TRANSPOSIomO E DEFORMAomO IMAGINiRIA DAS CONDIo}ES DE EXISTrNCIA REAIS DOS HOMENS.
A CAUSA p A ALIENAomO MATERIAL DAS CONDIo}ES DE EXISTrNCIA DOS PRyPRIOS HOMENS. MARX IRi RETOMAR ISSO DEFENDENDO QUE OS HOMENS TrM UMA REPRESENTAomO ALIENADA DE SUAS CONDIo}ES DE EXISTrNCIA, POIS ESSAS MESMAS CONDIo}ES DE EXISTrNCIA SmO ALIENANTES (TRABALHO ALIENADO).
ESSAS TESES SUP}EM QUE O QUE p REFLETIDO NA REPRESENTAomO IMAGINiRIA DO MUNDO (NUMA IDEOLOGIA) SmO AS CONDIo}ES DE EXISTrNCIA DOS HOMENS, ISTO p, SEU MUNDO REAL. ALTHUSSER DEFENDE QUE NmO SmO AS CONDIo}ES DE EXISTrNCIA REAIS, O MUNDO REAL, QUE OS HOMENS REPRESENTAM NA IDEOLOGIA, MAS SIM A RELAomO DOS HOMENS COM ESTAS CONDIo}ES DE EXISTrNCIA QUE LHES p REPRESENTADA NA IDEOLOGIA. e ESTA RELAomO QUE ESTi NO CENTRO DE TODA REPRESENTAomO IDEOLyGICA (E, PORTANTO, IMAGINiRIA DO MUNDO REAL). e NESTA RELAomO QUE ESTi A CAUSA QUE DEVE DAR CONTA DA DEFORMAomO IMAGINiRIA DA REPRESENTAomO IDEOLyGICA DO MUNDO REAL. E AINDA SEM ENTRAR NA QUESTmO DA CAUSALIDADE FICARtAMOS COM UMA TESE ASSIM: p A NATUREZA
IMAGINiRIA DESTA RELAomO QUE FUNDAMENTA TODA A DEFORMAomO IMAGINiRIA QUE SE OBSERVA NA IDEOLOGIA. NAS PALAVRAS DE ALTHUSSER (1974, P. 82):
TODA A IDEOLOGIA REPRESENTA, NA SUA DEFORMAomO NECESSARIAMENTE IMAGINiRIA, NmO AS RELAo}ES DE PRODUomO EXISTENTES (E OUTRAS RELAo}ES QUE DELAS DERIVAM), MAS ANTES DE TUDO, A RELAomO (IMAGINiRIA) DOS INDIVtDUOS COM AS RELAo}ES DE PRODUomO E COM AS RELAo}ES QUE DELAS DERIVAM. NA IDEOLOGIA O QUE p REPRESENTADO NmO p O SISTEMA DAS RELAo}ES REAIS QUE GOVERNAM A
EXISTrNCIA DOS INDIVtDUOS, MAS A RELAomO IMAGINiRIA DESTES INDIVtDUOS COM AS RELAo}ES REAIS EM QUE VIVEM.
ASSIM, A PRyPRIA QUESTmO DA ³CAUSA´ DA DEFORMAomO IMAGINiRIA DAS RELAo}ES REAIS NA IDEOLOGIA CAI POR TERRA E DEVE SER SUBSTITUtDA POR OUTRA QUESTmO: POR QUE p QUE A REPRESENTAomO DADA AOS INDIVtDUOS DA SUA RELAomO (INDIVIDUAL) COM AS RELAo}ES SOCIAIS QUE GOVERNAM AS SUAS CONDIo}ES DE EXISTrNCIA E A SUA VIDA COLETIVA E INDIVIDUAL p NECESSARIAMENTE IMAGINiRIA? E QUAL A NATUREZA DESTE IMAGINiRIO? A PRyPRIA QUESTmO COLOCADA ASSIM Ji EVITA AS DUAS RESPOSTAS ANTERIORES REJEITADAS POR ALTHUSSER.
A SEGUNDA TESE SE REFERE AO FATO QUE A IDEOLOGIA SEMPRE TEM UMA EXISTrNCIA MATERIAL. UMA IDEOLOGIA Sy EXISTE ATRAVpS DE SUAS PRiTICAS MATERIAIS, E ESTAS PRiTICAS POR SUA VEZ, Sy EXISTEM ATRAVpS DE UM APARELHO MATERIAL. E MAIS, PARA REPRODUZIR A IDEOLOGIA p AINDA NECESSiRIO QUE O AGENTE VEJA SENTIDO NESSAS SUAS Ao}ES E PRiTICAS, VIVIDAS DENTRO DA IDEOLOGIA. AS IDpIAS DE UM SUJEITO, POR SUA VEZ, Sy PODEM EXISTIR EM SEUS ATOS, NUMA EXISTrNCIA MATERIAL. ESSES ATOS NmO SmO ATOS LIVRES, MAS SIM ATOS INSERIDOS EM PRiTICAS. E POR FIM, ESSAS PRiTICAS SmO REGULADAS POR RITUAIS NOS QUAIS ESSAS MESMAS PRiTICAS SE INSEREM, TUDO ISSO NO INTERIOR DE UM APARELHO IDEOLyGICO (POR EXEMPLO, UMA MISSA, ENTERRO, REUNImO DE PARTIDO ETC.). LEVANDO EM CONTA APENAS UM INDIVIDUO, A EXISTrNCIA DE SUAS CRENoAS SmO MATERIAIS POIS ³AS SUAS IDpIAS SmO ATOS MATERIAIS INSERIDOS
DEFINIDOS PELO APARELHO IDEOLyGICO MATERIAL DE QUE RELEVA AS IDpIAS DESSE SUJEITO´ (ALTHUSSER, 1974, P.74). LOGO, TODA PRiTICA p RITUALIZADA. ASSIM COMEoAMOS A CLAREAR COMO ALTHUSSER ENTENDE A AomO DE UM SUJEITO. EM SUAS PALAVRAS (1974, P.89):
SURGE ASSIM QUE O SUJEITO AGE ENQUANTO p AGIDO PELO SEGUINTE SISTEMA: IDEOLOGIA EXISTE NUM AI MATERIAL, PRESCREVENDO PRiTICAS MATERIAIS, REGULADAS POR UM RITUAL MATERIAL, AS QUAIS (PRiTICAS) EXISTEM NOS ATOS MATERIAIS DE UM SUJEITO AGINDO EM CONSCIrNCIA SEGUNDO A SUA CRENoA.
TODA PRiTICA OCORRE, PORTANTO, ATRAVpS E SOB A IDEOLOGIA AO MESMO TEMPO QUE Sy EXISTE IDEOLOGIA ATRAVpS DO SUJEITO E PARA SUJEITOS. DISTO SE EXTRAI O TERMO CENTRAL DE QUE TUDO DEPENDE: A NOomO DE SUJEITO.
UMA IDEOLOGIA EXISTE SEMPRE EM UM APARELHO E EM SUAS PRiTICAS, ELA NmO PODE PAIRAR POR SI Sy. E O QUE SE PASSA NOS INDIVtDUOS QUE VIVEM NA IDEOLOGIA? EM CERTAS REPRESENTAo}ES DE MUNDO (RELIGIOSO, MORAL ETC) A RELAomO IMAGINiRIA COM AS CONDIo}ES DE EXISTrNCIA REAIS (A REALIDADE, OU SEJA, AS RELAo}ES DE PRODUomO EM ~LTIMA INSTkNCIA), p ELA PRyPRIA MATERIAL. EXEMPLIFICANDO: UM INDIVtDUO QUE ACREDITA EM DEUS OU NO DEVER OU NA JUSTIoA. ESTE ACREDITAR DEPENDE DIRETAMENTE DAS IDpIAS DO INDIVtDUO, OU SEJA, DE SUAS CRENoAS. O COMPORTAMENTO DO INDIVtDUO IRi ENTmO RESULTAR DESSAS SUAS CRENoAS. ³ESTE CONDUZ-SE DESTA OU DAQUELA MANEIRA, ADOTA ESTE OU AQUELE COMPORTAMENTO PRiTICO E, O QUE p MAIS
IMPORTANTE, PARTICIPA DE CERTAS PRiTICAS REGULAMENTADAS QUE SmO A DO APARELHO IDEOLyGICO DO QUAL DEPENDEM' AS IDpIAS QUE ELE ESCOLHEU LIVREMENTE COM TODA CONSCIrNCIA ENQUANTO SUJEITO´. PEGUEMOS POR EXEMPLO UM CRUCIFIXO (OU UM LIVRO EM OUTRA LtNGUA) E LEVANDO ELE PARA OS OUTROS VEREM. ELE NmO SIGNIFICA NADA NA REALIDADE, p VAZIO. e A IDEOLOGIA QUE VAI DAR SENTIDO A ELE, QUE VAI PREENCHr-LO. MAS ESSE SENTIDO NmO p NEUTRO, ELE TEM IMPLICAo}ES (COMO POR EXEMPLO, DE DOMINAomO).
SE O INDIVtDUO ACREDITA EM DEUS VAI TER PRiTICAS QUE CORRESPONDEM A ESSA CRENoA, PRiTICAS ESTAS NmO ALEATyRIAS (EXCLUSIVAMENTE INDIVIDUAIS), MAS SIM SOCIAIS, OU SEJA, RITUALIZADAS (REZA, VAI j MISSA, CONFESSA ETC.), POIS p NECESSiRIO QUE OS OUTROS O RECONHEoAM COMO SUJEITO DOTADO DE CRENoAS E SUBJETIVIDADE. O MESMO ACONTECE SE O INDIVtDUO ACREDITA NO DEVER, DIREITO OU NA REVOLUomO. O INDIVtDUO DEVE AGIR SEGUNDO SUAS IDpIAS, ³DEVE INSCREVER NOS ATOS DE SUA PRiTICA MATERIAL SUAS PRyPRIAS IDpIAS DE SUJEITO LIVRE´ (ALTHUSSER, 1999, P.207). E MESMO QUE UM INDIVtDUO AJA DIFERENTE DO QUE DIZ PENSAR Sy PODEMOS CONCLUIR QUE NA VERDADE O QUE ELE PENSA p OUTRA COISA, E QUE NA VERDADE, ESTi AGINDO SEGUNDO ESSAS OUTRAS IDpIAS.
O QUE Hi ENTmO SmO ATOS; ATOS INSERIDOS EM PRiTICAS. ESSAS PRiTICAS SmO REGULAMENTADAS POR RITUAIS (RECONHECIMENTO SOCIAL) QUE EXISTEM MATERIALMENTE NOS APARELHOS IDEOLyGICOS (DESDE UMA MISSA ATp UMA REUNImO DE UM PARTIDO POLtTICO). E POR ISSO AS IDpIAS DE
UM INDIVtDUO SmO MATERIAIS, POIS SUAS IDpIAS SmO SEUS ATOS INSERIDOS EM PRiTICAS MATERIAIS, REGULADAS POR RITUAIS MATERIAIS, QUE POR SUA VEZ, SmO DEFINIDOS PELO APARELHO IDEOLyGICO MATERIAL DO QUAL DEPENDEM AS IDpIAS DESSE SUJEITO. E ALTHUSSER AFIRMA AINDA (1999, P.208):
E SE ALGUpM NOS OBJETAR QUE O SUJEITO EM QUESTmO PODE AGIR DIFERENTEMENTE LEMBRAMOS QUE DISSEMOS QUE AS PRiTICAS RITUAIS NAS QUAIS SE REALIZA UMA IDEOLOGIA PRIMiRIA' PODEM PRODUZIR'(ISTO p, SUBPRODZIR) UMA IDEOLOGIA SECUNDiRIA - GRAoAS A DEUS, CASO CONTRiRIO NUNCA SERIA POSStVEL A REVOLTA NEM A TOMADA DE CONSCIrNCIA REVOLUCIONiRIA NEM A REVOLUomO.
CONCLUINDO:
1. TODA PRiTICA EXISTE POR MEIO E SOB UMA IDEOLOGIA 2. TODA IDEOLOGIA EXISTE PELO SUJEITO E PARA OS SUJEITOS
INTERPELAomO E SUJEITO
A CATEGORIA DE SUJEITO p A CATEGORIA CONSTITUTIVA DE TODA IDEOLOGIA, NA MEDIDA EM QUE TODA IDEOLOGIA TEM POR FUNomO CONSTITUIR OS INDIVtDUOS CONCRETOS EM SUJEITOS. e NESTE JOGO DE DUPLA CONSTITUIomO QUE CONSISTE O FUNCIONAMENTO DE TODA IDEOLOGIA. NENHUM INDIVtDUO ESCAPA DESTE PROCESSO A NmO SER QUE NmO VIVA NUMA SOCIEDADE, LOGO, O HOMEM NmO p UM ANIMAL POLtTICO OU UM ANIMAL
ECON{MICO, ELE p ANTES DE TUDO UM ANIMAL IDEOLyGICO. E, SEGUINDO ESSA LyGICA, SE A CIrNCIA p O OPOSTO DA IDEOLOGIA, A PRiTICA CIENTIFICA p - OU DEVERIA SER - UMA PRiTICA SEM SUJEITO. MAS DEIXAREMOS ESSA QUESTmO, ALTAMENTE POLrMICA DE LADO, PARA CONTINUAR COM O CONCEITO DE INTERPELAomO.
O EFEITO ELEMENTAR DA IDEOLOGIA p TORNAR AS COISAS EVIDENTES, POR EXEMPLO, QUANDO DIZEMOS ³MAS ISSO p yBVIO´. ESTE PROCESSO DE ³EVIDENCIAMENTO´ p CHAMADA DE FUNomO DE RECONHECIMENTO
IDEOLyGICO (ENQUANTO SEU OPOSTO SERIA A FUNomO DE DESCONHECIMENTO). POR EXEMPLO, QUANDO RECONHECEMOS ALGUpM NA RUA, MOSTRAMOS QUE O RECONHECEMOS DIZENDO ³OLi´ E APERTANDO-LHE A MmO, ELE POR SUA VEZ APERTA DE VOLTA (PRiTICA RITUAL MATERIAL DO RECONHECIMENTO IDEOLyGICO DA VIDA COTIDIANA). ESSES ViRIOS RITUAIS SERVEM PARA NOS GARANTIR QUE SOMOS SEMPRE SUJEITOS CONCRETOS, INDIVIDUAIS, INCONFUNDtVEIS E INSUBSTITUtVEIS. MAS ESTE RECONHECIMENTO DE QUE SOMOS SUJEITOS E QUE FUNCIONAMOS NOS RITUAIS PRiTICOS DA VIDA COTIDIANA (APERTO DE MmO POR EXEMPLO) NOS Di APENAS A CONSCIrNCIA DA NOSSA PRiTICA (ETERNA) DO RECONHECIMENTO IDEOLyGICO MAS NmO Di O CONHECIMENTO (CIENTIFICO) DO MECANISMO DESTE RECONHECIMENTO. ESTE CONHECIMENTO p NECESSiRIO PARA UM DISCURSO QUE ROMPA COM A IDEOLOGIA E TORNE-SE CIENTtFICO, OU SEJA, SEM SUJEITO.
COM ISSO CHEGAMOS A PRIMEIRA FyRMULA ALTHUSSERIANA (1974, P. 93) SOBRE A INTERPELAomO: ³TODA A IDEOLOGIA INTERPELA OS INDIVtDUOS
