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A geometria das dimensões de pisos e revestimentos como fator modular de diminuição dos resíduos na construção civil

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Academic year: 2021

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Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus de Pato Branco Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil

BRUNO SOARES MARTINS

A GEOMETRIA DAS DIMENSÕES DE PISOS E REVESTIMENTOS COMO FATOR MODULAR DE DIMINUIÇÃO DOS RESÍDUOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

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BRUNO SOARES MARTINS

A GEOMETRIA DAS DIMENSÕES DE PISOS E REVESTIMENTOS COMO FATOR MODULAR DE DIMINUIÇÃO DOS RESÍDUOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Tecnológica Federal do Paraná́ como requisito para obtenção do título de “Mestre em Engenharia Civil” - Área de conhecimento: Meio Ambiente.

Orientadora: Prof.a. Dra. Ticiane Sauer Pokrywiecki Co-orientador: Prof. Dr. Julio Caetano Tomazoni

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Ficha Catalográfica elaborada por Suélem Belmudes Cardoso CRB9/1630 Biblioteca da UTFPR Campus Pato Branco M386g Martins, Bruno Soares.

A geometria das dimensões de pisos e revestimentos como fator modular de diminuição dos resíduos na construção civil / Bruno Soares Martins . -- 2018.

172 f. : il. ; 30 cm.

Orientadora: Profa. Dra. Ticiane Sauer Pokrywiecki Coorientador: Prof. Dr. Julio Caetano Tomazoni

Dissertação (Mestrado) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil. Pato Branco, PR, 2018.

Bibliografia: f. 92 - 94.

1. Resíduos como material de construção. 2. Construção civil -Revestimentos. 3. Sustentabilidade e meio ambiente. 4. Geometria. I. Pokrywiecki, Ticiane Sauer, orient. II. Tomazoni, Julio Caetano, coorient. III. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Programa de Pós-Graduação

em Engenharia Civil. IV. Título.

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TERMO DE APROVAÇÃO Nº 26

Título da Dissertação

A geometria das dimensões de pisos e revestimentos como fator modular de

diminuição dos resíduos na construção civil.” Autora

Bruno Soares Martins

Esta dissertação foi apresentada às 10 horas do dia 05 de junho de 2018, como requisito parcial para a obtenção do título de MESTRE EM ENGENHARIA CIVIL– Linha de pesquisa

Tecnologia Ambiental No Ambiente Construído, no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil. O autor foi arguido pela Banca Examinadora abaixo assinada, a qual, após deliberação, considerou o trabalho aprovado.

Profa. Dra. Ticiane Sauer Pokrywiecki

UTFPR/FB Presidente

Prof. Dr. Volmir Sabbi UTFPR/PB Examinador

Profa. Dra. Andrezza Pimentel dos Santos Universidade Positivo

Examinadora

Prof. Dr. Eduardo Roberto Batiston UNOCHAPECÓ

Examinador

Visto da Coordenação

Prof. Dr. Ney Lyzandro Tabalipa

Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil- PPGEC

O Termo de Aprovação assinado encontra-se na Coordenação do PPGEC Ministério da Educação

Universidade Tecnológica Federal do Paraná Câmpus Pato Branco

Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil

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AGRADECIMENTOS

Sempre que uma nova fase se inicia, é necessário um grande planejamento e o apoio de muitas pessoas. Determinadas escolhas interferem diretamente no cotidiano, não somente daquele que caminha, mas de todos que estão à sua volta. Portanto, gratidão é o que sinto e o incentivo é o que me moveu em mais essa etapa. Agradeço primeiramente a Deus por sempre me ouvir e me mostrar os caminhos.

À minha amada esposa, Liana Vendruscolo Michelon Martins, que sempre esteve ao meu lado, incentivando, apoiando, sendo compreensiva, demostrando todo o seu amor e carinho comigo. Que me inspira todos os dias, pela sua garra e determinação em tudo que faz.

Aos meus filhos, Vitória Michelon Martins, e Gustavo Michelon Martins, pelo amor e carinho e por, indiretamente, transformarem os desafios em algo motivador e maior.

Aos meus pais, Pedro Soares Martins e Vivian Carla dos Santos, por terem me educado e ensinado que os melhores caminhos nem sempre são os mais fáceis.

À Família e aos amigos, por sempre acreditarem que seria possível, mesmo diante de tantos desafios e que, nunca mediram esforços para que cada dia dessa jornada fosse recompensado em momentos únicos.

Em especial aos Amigos e parceiros nessa jornada, Adriana Kunen, Lucas Gabriel Winter, Joana Davoglio e Juceane de Fátima Biava, pela amizade e incentivo. Também de forma muito especial à Família Mater Dei. Principalmente ao Vitor Ivan Pretto Guerra, pelo apoio, compreensão, amizade e por tantos ensinamentos de vida. À Ivone Maria Pretto Guerra, pela acolhida, alegria e inspiração diária.

Aos amigos e colegas de trabalho, Caccia Amaral, William Nishii, Fabio Cantu, Poliana Mazon, Michel Macedo, Sidney Bressan, Vicente Deeke e demais, por todo o apoio e contribuição com a pesquisa.

Aos Professores do PPGEC, por todo o conhecimento transmitido. Aos professores, Dr. Vomir Sabbi, Dr. Luciano Candiotto, Dr. Ney Tabalipa e Dr. Eduardo Roberto Batiston, pelas contribuições com o trabalho. Em especial a Professora Dra. Ticiane Sauer Pokrywiecki, pela paciência, apoio e disposição, na construção dessa pesquisa.

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Às construtoras e colegas que cederam parte de seus projetos subsidiando a pesquisa, e que sem a contribuição não seria possível.

A todos os colegas que responderam o questionário e que contribuíram para os resultados da pesquisa.

E por fim, a todos que eventualmente eu possa não ter nominado, os meus mais sinceros agradecimentos.

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RESUMO

A presente pesquisa teve como objetivo analisar os resíduos da construção civil, provenientes do assentamento de pisos e revestimentos e quantificar o resíduo do recorte das peças a partir do projeto de paginação, por meio da comparação da variação das medidas, respeitando as dimensões mais recorrentes ofertadas pela indústria cerâmica. Ao considerar o dimensionamento do material e aplicado ao processo projeto de forma modular, por meio de comparação entre o projeto original e o de modulação redimensionada, sugere a redução do resíduo e a sustentabilidade ambiental. Para tanto, é necessário contextualizar o crescimento das cidades contemporâneas e a interferência das ações do homem no meio, que influencia diretamente para a expansão da construção civil. O setor, que se configura como um forte agente na economia do país e do mundo, também é apontado como um dos maiores consumidores dos recursos naturais, pois utiliza energia de forma intensiva, tanto na construção, no uso e na manutenção. Por meio do software de desenho técnico e a partir da identificação dos dimensionamentos de pisos e revestimentos recorrentes no mercado, foi possível comparar geometricamente aos edifícios residenciais de múltiplos pavimentos de Pato Branco e quantificar o resíduo gerado. Dessa forma, foi possível analisar a interferência modular na racionalização projetual do uso da matéria prima, que pode reduzir em até 65,03%, no resíduo do assentamento de pisos e revestimentos. A discussão é salutar, uma vez que fortalece o pensamento sustentável na indústria da construção civil, que é apontada como o setor de atividades humanas que mais consome recursos naturais e utiliza energia de forma intensiva.

Palavras-chave: Resíduo. Pisos e Revestimentos. Construção Civil. Sustentabilidade ambiental. Geometria.

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ABSTRACT

The present research intends to analyze the residues of the civil construction, from the settlement of floors and coatings and quantify generated by the cut of the pieces, by comparing the variation of the measurements, respecting the most recurrent dimensions offered by the ceramic industry, which, when considering the dimensioning of the material and applied to the design process in a modular way, through a comparison between the original design and the resized modulation, suggests the reduction of the residue and the environmental sustainability. To do so, it is necessary to contextualize the growth of contemporary cities and the interference of human actions in the environment, which directly influences the expansion of civil construction. The sector, which is a strong agent in the economy of the country and the world, is also considered one of the largest consumers of natural resources, because it uses energy intensively, both in construction, use and maintenance. Through technical drawing software and from the identification of the most recurrent floor and coating designs in the market, to compare geometrically to the residential buildings of multiple floors of Pato Branco and to quantify the generated waste, analyzing the modular interference in the design rationalization of the use of the material raw material, which can reduce by up to 65.03%, in the residue of the laying of floors and coatings. The discussion is salutary, since it strengthens sustainable thinking in the construction industry, which is pointed out as the human activities sector that consumes the most natural resources and uses energy intensively.

Keywords: Waste. Floors and coverings. Construction. Environmental sustainability. Geometry.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Projeção das áreas ocupadas pelo crescimento das cidades ... 21 Figura 2: Anúncio de venda de resíduo cerâmico ... 39 Figura 3: Importância das fases do empreendimento. ... 48 Figura 4: Síntese explicativa da aplicação do método com a utilização da ferramenta

de recurso gráfico computacional. ... 55 Figura 5: Planta baixa do pavimento tipo – Construtora X – Edifício 1. ... 64 Figura 6: Ambiente sala de estar e jantar – Construtora X – Edifício 1 – Apartamento

1, medidas compatíveis com as peças da análise. ... 65 Figura 7: Planta baixa do pavimento tipo – Construtora X – Edifício 2. ... 68 Figura 8: Ambiente sala de estar e jantar – Construtora X – Edifício 2 – Apartamento

1, medidas compatíveis com as peças da análise. ... 69 Figura 9: Ambiente cozinha e lavanderia – Construtora X – Edifício 2 – Apartamento 2, medidas não compatíveis com as peças da análise. ... 70 Figura 10: Planta baixa do pavimento tipo – Construtora Y – Edifício 3. ... 73 Figura 11: Ambiente sala de estar e jantar – Construtora Y – Edifício 3 – Apartamento 1, medidas incompatíveis com as peças da análise. ... 74 Figura 12: Planta baixa do pavimento tipo – Construtora Y - Edifício 4. ... 76 Figura 13: Ambiente sala de estar e jantar – Construtora Y – Edifício 4 – Apartamento 1, medidas incompatíveis com as peças da análise. ... 77 Figura 14: Tamanhos dos ambientes, projeto original e projeto redimensionado. .... 80 Figura 15: Sobreposição entre o projeto original e o projeto modificado ... 81

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Identificação dos possíveis desperdícios ... 38

Tabela 2: Esquema demonstrativo da tabela de análise. ... 57

Tabela 3: Síntese da análise de dimensões do fornecedor A ... 60

Tabela 4: Resultados da análise de dimensões do fornecedor A. ... 61

Tabela 5: Síntese da análise de dimensões do fornecedor B. ... 61

Tabela 6: Resultados da análise de dimensões do fornecedor B. ... 62

Tabela 7: Síntese da análise – média dos ambientes. ... 66

Tabela 8: Quantidade de resíduo por apartamento. ... 66

Tabela 9: Resultado do resíduo em m² – edifício 1. ... 67

Tabela 10: Síntese da análise – média dos ambientes. ... 71

Tabela 11: Quantidade de resíduo por apartamento. ... 71

Tabela 12: Resultado do resíduo em m² – edifício 2. ... 72

Tabela 13: Síntese da análise – média dos ambientes. ... 74

Tabela 14: Quantidade de resíduo por apartamento. ... 75

Tabela 15: Resultado do resíduo em m² – edifício 3. ... 75

Tabela 16: Síntese da análise – média dos ambientes. ... 78

Tabela 17: Quantidade de resíduo por apartamento. ... 78

Tabela 18: Resultado do resíduo em m² – edifício. ... 79

Tabela 19: Síntese comparativa do redimensionamento do apartamento 1 – edifício 1. ... 82

Tabela 20: Análise parcial dos resultados individualizados por ambiente – Construtora X – Edifício 1 – Apartamento 1 – Projeto original. ... 82

Tabela 21: Análise parcial dos resultados individualizados por ambiente – Construtora X – Edifício 1 – Apartamento 1 – Projeto redimensionado. ... 83

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LISTA DE GÁFICOS

Gráfico 1: Tabulação do questionário aplicado – questão 1. ... 85

Gráfico 2: Tabulação do questionário aplicado – questão 2. ... 85

Gráfico 3: Tabulação do questionário aplicado – questão 3. ... 86

Gráfico 4: Tabulação do questionário aplicado – questão 4. ... 87

Gráfico 5: Tabulação do questionário aplicado – questão 5. ... 88

Gráfico 6: Tabulação do questionário aplicado – questão 6. ... 88

Gráfico 7: Tabulação do questionário aplicado – questão 7. ... 89

Gráfico 8: Tabulação do questionário aplicado – questão 8. ... 90

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Três Fases da gestão ambiental no mundo. ... 25 Quadro 2: Hierarquia do sistema de gerenciamento de resíduos. ... 30 Quadro 3: Resultado de análise de resíduos no projeto de alvenarias. ... 49 Quadro 4: Variação do custo de construção em função do índice de compacidade do

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANFANCER Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos, Louças Sanitárias e Congêneres

BIM Building Information Modeling CAD Computer Aided Design

CAU Conselho de Arquitetura e Urbanismo

CIAM Congresso Internacional de Arquitetura Moderna CIB Conselho Internacional da Construção

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente FINEP Financiadora de Estudos e Projetos

LEED Leadership in Energy and Environmental Design MMA Ministério do Meio Ambiente

PCC-USP Engenharia de Construção Civil – Universidade de São Paulo PIB Produto Interno Bruto

RCC Resíduo da Construção Civil

SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial USGBC U.S. Green Building Council

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... 14 2 OBJETIVOS ... 17 2.1 OBJETIVO GERAL ... 17 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ... 17 3 REFERENCIAL TEÓRICO ... 18

3.1 DEGRADAÇÃO AMBIENTAL: DA HISTÓRIA À CIDADE CONTEMPORÂNEA ... 18

3.2 POLÍTICAS PARA O RESÍDUO DA CONSTRUÇÃO CIVIL ... 24

3.3 O RESÍDUO DA CONSTRUÇÃO CIVIL, PISOS E REVESTIMENTOS ... 28

3.3.1 O mercado imobiliário impulsionando o setor da construção civil ... 28

3.3.2 Resíduo da Construção Civil ... 30

3.3.3 Resíduo proveniente dos pisos e revestimentos enquanto impacto ambiental 33 3.4 INDUSTRIALIZAÇÃO, UM FATOR DE RACIONALIZAÇÃO NA CONSTRUÇÃO CIVIL... 40

3.5 PROCESSO DE PROJETO, GEOMETRIA E MODULAÇÃO ... 43

3.5.1 O projeto como instrumento de racionalização na construção civil ... 45

3.5.2 A geometria de um edifício, a forma e a dimensão X impacto ambiental ... 50

4 MATERIAIS E MÉTODOS ... 54

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ... 60

5.1 IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO TAMANHO DAS PEÇAS DE PISOS E REVESTIMENTOS ... 60

5.2 ANÁLISE COMPARATIVA: PROJETOS X RACIONALIZAÇÃO GEOMÉTRICA ... 63

5.2.1 Análise do resíduo nos edifícios/ apartamentos. ... 63

5.2.1.1 Construtora X – edifício 1 ... 64

5.2.1.2 Construtora X – edifício 2 ... 68

5.2.1.3 Construtora Y – edifício 3 ... 72

5.2.1.4 Construtora Y – edifício 4 ... 76

5.2.2 Comparativo entre projeto original e o projeto com ajuste dimensional modular – Construtora X – edifício 1 ... 79

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6 CONSIDERAÇÕES E CONCLUSÕES ... 91

REFERÊNCIAS ... 93

APÊNDICE... 96

PLANILHAS DE ANÁLISE DOS RESÍDUOS...96

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1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa pretende analisar a problemática dos resíduos da construção civil provenientes do assentamento de pisos e revestimentos. A proposta é quantificar o resíduo causado pelo recorte das peças, por meio da comparação da variação de medidas, considerando as dimensões mais recorrentes ofertadas pela indústria cerâmica. Avaliou-se sob critérios da geometria, a forma com que a modulação e a racionalização do processo projetual e construtivo, fortalecem a sustentabilidade na construção civil, já que a indústria da construção é apontada como o setor de atividades humanas que mais consome recursos naturais e utiliza energia de forma intensiva.

Para melhor compreensão da expressão do resíduo gerado pela construção civil, será apresentado o cenário da degradação ambiental ao longo da história, principalmente nas cidades contemporâneas, que tem se desenvolvido rapidamente. Fruto do crescimento dos centros urbanos, o setor da construção civil também acaba se destacando na economia mundial e nacional, devido à significativa parcela do Produto Interno Bruto (PIB), segundo Nagalli (2014), chegando a 15% e por ser responsável pelo contingente de pessoas, que direta ou indiretamente emprega.

Além disso, o impacto ambiental causado pelo crescimento populacional e a concentração de pessoas nos centros urbanos, pode ser um fator de risco para a própria continuidade da humanidade, uma vez que os recursos naturais estão cada vez mais escassos.

A importância da preservação ambiental, não é um assunto da atualidade como parece ser, pois há muito tempo vem se discutindo o ambientalismo. Em um primeiro momento em ações isoladas de políticas públicas de alguns governantes, que demonstravam preocupação com planeta, eram limitadas a situações pontuais de preocupação com o desmatamento, a poluição dos rios, entre outros, a imaginar a expressão e importância que estas ações tomariam. A discussão torna-se mais ampla, rompendo as fronteiras políticas e geográficas, tornando o conteúdo ambientalista, acima de tudo, um fator humano e urbano, independente dos fatores sociais e econômicos de cada país.

Esses fatores serão discutidos com a aproximação ao conteúdo dos tratados ambientalistas que resultam nas políticas públicas nacionais para os resíduos da construção civil, principalmente a Resolução nº 307 do Conselho Nacional do Meio

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Ambiente (CONAMA), fundamentada em discussões e planejamento da Agenda 211.

Esta resolução é um dos principais instrumentos que fomenta a sustentabilidade na construção e no ambiente construído, assuntos que fortalecem o consumo racional e a diminuição do resíduo.

No contexto sustentável, algumas ações de políticas públicas vêm conscientizando a população quanto a importância de reciclar, uma ação de educação ambiental bastante salutar. Essas ações estão distantes da construção civil e do consumo energético dos edifícios, uma vez que as edificações são caracterizadas como um dos maiores agressores do meio. Portanto, encontrar alternativas de diminuição do impacto ambiental é fundamental.

Certamente, com o crescimento do número de construções, a preocupação com o resíduo da construção civil deve ser ainda maior, já que este cresce na mesma proporção. Enquanto não há uma mudança significativa nas técnicas construtivas empregadas na construção civil brasileira, focando a industrialização, racionalização da matéria prima e mão de obra, o resíduo continuará a ser expressivo como impacto ambiental no meio ambiente.

Inerente ao crescimento do setor, destaca-se o mercado imobiliário que impulsionou a construção civil nos últimos anos, o que só foi possível, pelo cenário econômico favorável do país, com amplos investimentos nos programas habitacionais e de crédito imobiliário. Mas nem tudo é positivo, pois o desenvolvimento do setor também contribui para o aumento do resíduo.

Na construção civil, o desperdício de material é considerável quando se trata do processo construtivo tradicional brasileiro, que pode ser realizado sem especialização da mão de obra, interferindo diretamente no lucro e qualidade construtiva. Agregando a isso, a rapidez que o mercado exige acaba atropelando importantes etapas de planejamento, cujo projeto passa a ser tratado como mera formalidade documental, não sendo, necessariamente, o fator decisivo para as soluções empregadas no processo construtivo.

A necessidade de se dar maior importância para o resíduo da construção civil, fica evidente, e este pode ser minimizado no processo construtivo. Porém, para que isso ocorra, é importante que a atenção ao processo de projeto e de planejamento da

1 Agenda 21 – programa de ação para implementar o desenvolvimento sustentável. É uma espécie de receituário abrangente para guiar a humanidade em direção a um desenvolvimento que seja ao mesmo tempo socialmente justo e ambientalmente sustentável [...]. (BARBIERI, 2005, p.13).

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obra sejam maiores e fundamentados em procedimentos de características da industrialização. O que irá priorizar a máxima eficiência no consumo da matéria prima, a maior agilidade, aliado à qualidade final da obra. Portanto, de que forma pode-se diminuir o resíduo gerado pela construção civil, por meio da geometria e compatibilidade modular entre os pisos e revestimentos e o ambiente construído?

Os pisos e revestimentos no processo construtivo, fazem parte dos materiais geradores de resíduos, tanto que, uma prática comum no mercado é a compra excedente à quantidade necessária, taxando o desperdício como algo natural ao processo construtivo. Porém, não é possível admitir que peças de dimensionamento conhecido, precisem ser cortadas em praticamente todos os ambientes, por ausência de planejamento ou de correta especificação. Essas estão, na maioria das vezes, condicionadas a serem especificadas após a fase projetual e não na fase inicial de projeto, onde os ambientes são dimensionados.

Para tanto, foram desenvolvidas análises quanto ao dimensionamento das peças de pisos e revestimentos e com base na recorrência dimensional disponível no mercado. A aplicação do método se deu pela comparação geométrica dos edifícios residenciais de múltiplos pavimentos de Pato Branco para quantificar o resíduo gerado, analisando a interferência modular na racionalização projetual do uso da matéria prima, por meio do software de desenho técnico e a partir da identificação dos dimensionamentos de pisos e revestimentos recorrentes no mercado. A análise evidencia que a redução pode chegar até 65,03%, no resíduo do assentamento de pisos e revestimentos.

Não somente os materiais, objeto deste trabalho, são importantes para a diminuição do impacto ambiental causados pelas construções. Dimensionar os projetos, levando em consideração a medida dos materiais empregados nas obras, pode ser considerado um fator de sustentabilidade, uma vez que a quantidade de material utilizado e de resíduo gerado é consideravelmente menor, como será demostrado, no estudo realizado sobre pisos e revestimentos cerâmicos.

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2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Avaliar a dimensão de pisos e revestimentos disponíveis, relacionando-os com a geometria e modulação dos ambientes a serem revestidos, a fim de quantificar o resíduo, a partir do projeto de paginação de piso, do recorte das peças de acabamento e os reflexos da compatibilização dimensional para a sustentabilidade ambiental.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• identificar e caracterizar o tamanho de pisos e revestimentos ofertados pelas duas indústrias do segmento, no mercado nacional, definidas pelo autor pelo critério de expressão de mercado.

• determinar a dimensão mais recorrente, a partir da avaliação os tamanhos das peças de piso e revestimento disponíveis no catálogo das indústrias fabricantes destes produtos;

• comparar os projetos dos edifícios residenciais de múltiplos pavimentos, quanto ao dimensionamento, modulação e racionalização geométrica, com o as medidas dos produtos ofertados pelas indústrias objeto do estudo;

• quantificar o resíduo gerado, proveniente do recorte no assentamento de pisos e revestimentos, pela ausência da racionalização geométrica;

• redimensionar a planta de um dos apartamentos, seguindo o princípio modular, analisar o resíduo gerado e comprovar a eficiência do módulo de pisos e revestimentos, para a sustentabilidade ambiental;

• verificar junto aos profissionais de Pato Branco e região, quais são os critérios utilizados na especificação dos pisos e revestimentos e se adotam alguma técnica projetual para a redução do resíduo gerado em obra.

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3 REFERENCIAL TEÓRICO

Neste trecho são apresentados o contexto histórico até a temática, fatores políticos, de mercado, bem como, a compreensão técnica sobre a modulação com base na geometria, como um fator projetual de diminuição do resíduo na construção civil.

3.1 DEGRADAÇÃO AMBIENTAL: DA HISTÓRIA À CIDADE CONTEMPORÂNEA

A degradação ambiental tem diversas causas que estão diretamente ligadas à ação do homem, pela exploração, física ou econômica, desenfreada dos recursos naturais para promover a sua própria sobrevivência. A preocupação ambiental é tida por muitos como uma invenção do século XX. Porém, percebe-se apenas, que neste período os problemas ambientais ficam mais evidentes. As ações de políticas públicas que chamam a atenção para o assunto nos últimos tempos, conquistam espaço e se fortalecem.

Para Curi (2011), ao contrário do que sugere o senso comum, é utopia de um passado distante afirmar que o homem e natureza se confundiam. O ser humano sempre explorou a natureza como se fosse um repositório infinito de bens, dispostos unicamente com o propósito de servi-lo. O que mudou com o tempo foram o tamanho e a densidade da população, o poder destrutivo, físico e tecnológico, de nossos instrumentos.

Portanto, simplificar as ações do passado, das relações humanas e o planeta, pode ser fácil, porém a destruição do meio ambiente faz parte do início da sustentabilidade, sendo o esgotamento dos recursos naturais, um dos fatores que levaram ao colapso sociedades primitivas. (DIAMOND, 2005 apud KEELER; BURKE, 2010).

O comportamento histórico da humanidade tende a comprometer a continuidade da população, repetindo fatores históricos, conforme apontado por Keeler e Burke (2010).

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Além de ter sido uma das principais causas do desaparecimento das culturas primitivas, a destruição do meio ambiente continua sendo uma ameaça para a vida contemporânea. O período que vivemos fornece inúmeros exemplos de tal destruição: a extinção das espécies, a destruição das florestas tropicais, a carência de plantações, a exaustão do solo, a pesca e a práticas florestais irresponsáveis, e os danos aos pântanos e rios devido à poluição industrial. (Keeler & Burke, 2010, p. 29).

Com o passar dos anos, a falsa impressão que o homem vivia em paz com o planeta, fica ainda mais evidente, já que em toda a história, a evolução humana está diretamente ligada à degradação do meio. A ausência dos avanços técnicos e tecnológicos da época, dão a sensação que os impactos no meio eram menores, uma imagem equivocada do ecologicamente correto.

Ele jamais abriu mão dos seus desejos mais supérfluos em nome da natureza, enxergando-a sempre como uma fonte inesgotável de insumos para suas atividades. Logo, o que mudou com o passar dos anos não foi a postura do homem, mas sim o poder de destruição das suas ferramentas [...]. (CURI, 2011, p. 08).

Segundo Capra (2005) apud Curi (2011), os defensores da ecologia rasa2

acreditam que o homem está fora da natureza e ainda propõem que o ser humano, senhor do meio ambiente, tem o direito ilimitado de explorar os recursos naturais em prol do seu desenvolvimento. A ecologia rasa propaga, assim, uma visão utilitarista do meio ambiente, justificando as agressões cometidas contra ele.

O pensamento de redução de consumo e otimização do processo produtivo está plenamente relacionado à obtenção de lucro – tanto na construção quanto na manutenção dos edifícios – e esses fatores não se desassociam, uma vez que os interesses econômicos e os de sustentabilidade resolvem questões ambientais e econômicas.

Para tanto, os movimentos ambientalistas não surgem do acaso, expressam a preocupação ambiental, que uma tendência lógica ao crescimento populacional. Na tentativa de diminuir o consumo dos recursos naturais também há de se considerar o benefício econômico.

Rogers (2001), afirma que a sobrevivência da sociedade sempre dependeu da manutenção do equilíbrio entre as variáveis de população, recursos naturais e meio

2 A ecologia rasa não considera os recursos naturais como limitados ou esgotáveis, tendo o ser humano no topo da importância, no que se refere ao meio ambiente.

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ambiente. Reafirmando a citação de Keeler e Burke (2010), também enfatiza que o desleixo para com este princípio foi desastroso e as consequências fatais para as antigas civilizações, porém, percebe-se que não é exclusividade da história.

Nossa escolha de estilo de vida, essa teimosa aderência ao caminho errado, ainda constitui uma barreira significativa à melhoria da saúde e da prosperidade de indivíduos e famílias, bem como ao futuro viável das nossas comunidades e do nosso país. Além disso, há o prospecto assustador das mudanças climáticas no planeta. O trabalho e os princípios dos grupos e movimentos mencionados anteriormente – crescimento inteligente, Novo urbanismo e edificações sustentáveis como representado pelo USGBC3 e o LEED4 – são avanços inspiradores. (Farr, 2013, p. 27).

Para o autor, é necessário que a sociedade repense onde e como vive, trabalha, se diverte e compra, sendo que um estilo de vida sustentável só se constrói com base nos princípios do crescimento urbano inteligente, do Novo Urbanismo e das edições sustentáveis. “Caso tenha êxito, não só reduzirá drasticamente os danos ambientais como também oferecerá melhorias assombrosas à qualidade de vida atual”. (Farr, 2013, p. 27).

Ao mesmo tempo em que se observa uma sociedade nova, globalizada e comunicativa, de níveis mundiais de crescimento populacional em expansão, também se percebe a destruição, pela ação do homem, dos recursos naturais e do meio ambiente de forma rápida e desenfreada. “É uma ironia que as cidades, habitat da humanidade, caracterizem-se como o maior agente destruidor do ecossistema e a maior ameaça para a sobrevivência da humanidade no planeta”. (Rogers, 2001, p. 04).

Ainda para Rogers (2001), como não é possível quantificar os níveis de consumo atuais, é necessário precaução, para garantir a sobrevivência da nossa espécie no planeta.

A preocupação do autor, vem de algumas mudanças sociais, culturais e tecnológicas. Advindo da Revolução Industrial, o êxodo rural e, consequentemente, o crescimento populacional, promovem um crescimento desenfreado das cidades e uma aglomeração excessiva. Tanto nos países industrializados, quanto nos países em

3 U.S. Green Building Council (USGBC) – Conselho Americano para edifícios verdes. Órgão responsável pela certificação LEED.

4 Leadership in Energy and Environmental Design (LEED) – Sistema internacional de certificação e orientação ambiental para edificações utilizado em mais de 160 países, e possui o intuito de incentivar a transformação dos projetos, obra e operação das edificações, sempre com foco na sustentabilidade de suas atuações. (GBC, 2014).

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desenvolvimento, a capacidade das cidades está sendo solicitada até o limite, sua expansão se dá de tal forma, que os padrões tradicionais de acomodação do crescimento urbanos precisam ser repensados.

O crescimento das cidades e, consequentemente, populacional, enfatizado por Rogers (2001), leva a crer que a urbanização desenfreada – crescimento do número de edifícios e construções de igual forma – levará a um exponencial crescimento do volume de recursos consumidos e da poluição gerada.

Nos países desenvolvidos, a migração das pessoas e atividades dos centros urbanos tradicionais para o sonhado mundo dos bairros residenciais distantes levou a um enorme desenvolvimento dos subúrbios, construção de estradas, aumento do uso de automóveis, congestionamento e poluição do ar. (Rogers, 2001, p. 07).

As cidades nunca abrigaram tantas pessoas, nem tão grande proporção da raça humana. Entre 1950 e 1990, a população das cidades no mundo decuplicou, indo de 200 milhões para mais de dois bilhões. O futuro da civilização será determinado pelas cidades e dentro das cidades, como ilustrado na figura abaixo. (Rogers, 2001).

Figura 1: Projeção das áreas ocupadas pelo crescimento das cidades Fonte: Leite (2012, p. 28).

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Além do crescimento geográfico, é importante observar que, do ponto de vista do consumo, as cidades atuais consomem três quartos de toda a energia consumida no mundo e causam pelo menos três quartos da poluição global. As cidades são o centro da produção e do consumo da maior parte dos bens industriais e acabam se transformando em parasitas da paisagem, em enormes organismos, drenando o mundo para o seu sustento e energia: inexoráveis consumidores e saudadores de poluição. (Rogers, 2001).

A preocupação ambiental realmente não é algo novo, nem mesmo deve ser um discurso politicamente correto utilizado como clichê. É fundamental para sobrevivência da espécie, que as ações de sustentabilidade e para a diminuição do consumo dos recursos naturais sejam efetivas, enquanto não houver diminuição no ritmo de crescimento das aglomerações urbanas. Dessa preocupação ambiental, é que surgem as conferências mundiais sobre meio ambiente, promovendo discussões e agendas conjuntas em prol da preservação do meio ambiente, assunto que será tratado adiante.

Para Curi (2011), a noção de esgotamento ou renovação de recursos envolve a dimensão de tempo, e a perspectiva de tempo dos humanos nem sempre é a mesma daquela que seria necessária para a renovação de um certo recurso. Assim, por recurso renovável se entende aquele que pode ser obtido indefinidamente de uma mesma fonte, enquanto o não renovável possui uma quantidade finita, que em algum momento irá se esgotar se for continuamente explorado. Na realidade, todos os recursos podem se renovar através de ciclos naturais, embora alguns possam levar até milhões de anos, o que é impensável para o padrão humano de tempo. A perspectiva de tempo humana e o modo de usar os recursos são as condições que os tornam renováveis ou não. (CURI, 2011, p.12).

As cidades estão promovendo uma instabilidade social devastadora e levando a um declínio ambiental adicional e têm sido encaradas como arena para o consumo. A conveniência politica e comercial deslocou a ênfase do desenvolvimento urbano de atender às necessidades mais amplas da comunidade para atender às necessidades circunstanciais dos indivíduos. (Rogers, 2001).

Outro fator discutido pelos autores, que tratam do tema na promoção da sustentabilidade urbana, é a tecnologia. Aliada a racionalização dos processos produtivos, se apresentam como uma contribuição para o processo de crescimento

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das cidades, sendo uma ferramenta fundamental para o equilíbrio da nossa capacidade produtiva, podendo promover a sustentabilidade.

A disseminação da crise global gerou uma constatação mundial de que nosso meio ambiente é um patrimônio frágil e limitado. Da mesma forma que o novo conhecimento técnico transformou a antiga vila agrária na cidade industrial, também a tecnologia da informação, trazendo consigo um novo conhecimento ambiental, está forçando a criação de uma sociedade global – uma sociedade que reconheça a necessidade de ser absolutamente cuidadosa no tocante às consequências ambientais e sociais de suas ações. (Rogers, 2001, p. 147).

O conceito de cidade sustentável reconhece que as cidades, assim como os edifícios, precisam atender aos nossos objetivos sociais, ambientais, políticos e culturais, bem como os objetivos econômicos e físicos. São organismos dinâmicos e complexos quanto àprópria sociedade e suficientemente ágil para reagir rapidamente às suas mudanças.

A cidade sustentável deve operar segundo um modelo de desenvolvimento urbano que procure balancear, de forma eficiente, os recursos necessários ao seu funcionamento, seja nos insumos de entrada (terra urbana e recursos naturais, água, energia, alimentos, etc.), seja nas fontes de saída (resíduos, esgoto, poluição, etc.). Ou seja, todos os recursos devem ser utilizados de forma mais eficiente possível [...]. (Leite, 2012, p. 135).

As cidades devem ser ecológicas, minimizando o impacto no meio ambiente e promovendo uma integração e equilíbrio entre a paisagem e as construções e que a infraestrutura seja racional e eficiente no consumo dos recursos. (Rogers, 2001).

Para Leite (2012), em um mundo globalizado, as boas práticas se replicam rapidamente promovendo a sustentabilidade e, para isso, os bons exemplos precisam ser explorados e valorizados. Por exemplo: O surgimento dos selos de certificação ambiental para edifícios, como um importante instrumento de racionalização e consumo.

Muitas ações disseminadas como sendo de sustentabilidade urbana, tratam o conceito de urbanismo sustentável como fator determinante. Porém, não há cidade sem edifício e não se desassocia a necessidade de discutir o crescimento das cidades também sob a ótica do impacto causado por eles. Para isso, dois setores são extremamente importantes no desenvolvimento urbano sustentável, a construção civil e o mercado imobiliário.

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É fundamental que esses dois setores busquem se reinventar para caminhar para modelos mais sustentáveis. Esta busca engloba a construção e adoção de sistemas indicadores de sustentabilidade em toda cadeia produtiva: incorporação, desenvolvimento imobiliário, projeto, construção e uso/manutenção das edificações da cidade. (Leite, 2012, p. 148).

É necessário mudar os paradigmas dos modelos produtivos da construção civil no Brasil, em que os sistemas industrializados que são a exceção, passem a ser a regra. Essa mudança transformaria as obras em montagens, mais limpas, rápidas, eficientes e que acima de tudo, contribuam para a melhoria da qualidade de vida do usuário, do ambiente urbano e dos fatores ambientais.

3.2 POLÍTICAS PARA O RESÍDUO DA CONSTRUÇÃO CIVIL

Foram as ações isoladas de determinados governantes que trouxeram à tona a importância de uma discussão mais ampla sobre a ideia de preservação ambiental.

As questões sociais, econômicas e de crescimento populacional demoram a ser percebidas como fatores motivadores dos diversos problemas ambientais e discutir apenas o desmatamento, a poluição dos rios, a chuva ácida e etc., já não é suficiente. Cruzam-se as fronteiras políticas e geográficas, tornando o conteúdo ambientalista, acima de tudo, um fator humano e urbano, independente das fronteiras e dos fatores sociais e econômicos de cada país.

Novas diretrizes ajudam a compreender a evolução das conferências e tratados ambientalistas, chegando ao movimento das edificações sustentáveis, incluindo algumas medidas mais abrangentes de proteção ambiental.

Em escala internacional, o pensamento ambientalista (auxiliado por acordos intergovernamentais ocasionais) surgiu em uma arena politica muito diferente da atual. As primeiras conferências enfatizavam a proteção de espécies de vida selvagem em troca de pesquisas cientificas. (Keeler & Burke, 2010, p. 40).

As preocupações dos movimentos ambientalistas aproximavam a discussão às temáticas do ambiente humano, surgindo assim a primeira conferência das Nações Unidas, em Estocolmo5, na Suécia, em 1972. Conferência que abriu as portas para

5 Conferência de Estocolmo – evento cujo objetivo era estudar estratégias para corrigir problemas ambientais em todo o planeta, é considerado um divisor de águas, devido à grande quantidade de conferencias das Nações Unidas que foram realizadas a seguir. (KEELER; BURKE, 2010, p.43).

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vários tratados internacionais sobre o meio ambiente e edificações sustentáveis, afinal, não é possível desassociar o crescimento populacional urbano, do crescimento das construções e edifícios.

Ao longo dos anos, o crescimento do setor da construção civil é amplamente discutido pelas conferências ambientalistas. O Brasil, por meio do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), seguindo o estabelecido nos acordos internacionais e principalmente pela Agenda 21, implementa as políticas públicas que promovem a sustentabilidade ambiental. (Barbieri, 2005).

Curi (2011) explica a evolução do pensamento, posturas e acordos ambientalistas, na esfera pública ou privada e os seus momentos na história, com ênfase na terceira fase do quadro 1. Na década de 1980, também surgiram os primeiros serviços de consultoria, diagnóstico e supervisão ambiental, aptos a orientar as organizações sobre como proceder na era da sustentabilidade organizada em três fases e explicadas no quadro a seguir:

Quadro 1: Três Fases da gestão ambiental no mundo. Fonte: Curi (2011), adaptado pelo autor (2017).

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Ainda a autora contextualiza a gestão ambiental no Brasil, em que as iniciativas de gestão global e regional têm cooperado para amenizar os problemas ambientais. O quadro 1 alerta, também, que os resultados podem ser insignificantes se não houver compromisso no nível nacional. Os acordos propõem diretrizes básicas, mas a implementação e o controle dessas medidas dependem do empenho dos governos locais. Os problemas dos resíduos e poluição se tornam mais expressivos na década de 1960. A partir dessa data, as autoridades começaram a acompanhar de perto o impacto ecológico do progresso.

[...]. Nos anos 1970, a Conferência de Estocolmo acentuou essa tendência: em 1973, o governo federal fundou a Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema), iniciativa em seguida copiada por muitos líderes estaduais. Apesar desses avanços, ainda não era comum uma visão holística da natureza — água, biodiversidade e qualidade do ar, por exemplo, recebiam tratamentos separados, pois se ignorava a interdependência dos componentes do ecossistema. (Curi, 2011, p. 107).

Das conferências internacionais saíram os acordos e destes as políticas públicas individualizadas de cada governo em seu país. No caso do Brasil e aproximando ao tema, através dos encaminhamentos da Conferência de Estocolmo e Agenda 21, através do Ministério do Meio Ambiente, o resíduo na construção é tratado pelo CONAMA através da Resolução nº 307 de 2002, que estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil.

Na busca de minimizar os impactos ambientais provocados pela construção, surge o paradigma conceitual da construção sustentável. No âmbito da Agenda 21 para a Construção Sustentável em Países em Desenvolvimento, a construção sustentável é definida como: “um processo holístico que aspira a restauração e manutenção da harmonia entre os ambientes natural e construído, e a criação de assentamentos que afirmem a dignidade humana e encorajem a equidade econômica”. No contexto do desenvolvimento sustentável, o conceito transcende a sustentabilidade ambiental, para abraçar a sustentabilidade econômica e social, que enfatiza a adição de valor à qualidade de vida dos indivíduos e das comunidades. (Brasil/MMA, 2012, p. [s.p.]).

Evidencia-se, com a citação acima, a importância mundial do tema construção sustentável, como política pública de conscientização da população e também das empresas geradoras de resíduos. Porém para Nagalli (2014), é necessário diferenciar a proposta de gestão dos Resíduos da Construção Civil (RDC) do seu gerenciamento.

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Gestão é um processo amplo composto por políticas públicas, leis e regulamentos que balizam e direcionam políticas públicas, leis e regulamentos que balizam e direcionam atuação dos agentes do setor. Já o gerenciamento se ocupa das atividades operacionais cotidianas e do trato direto com os resíduos. Com isso o gerenciamento aborda as ações desenvolvidas por empreendedores e construtores no sentido de antever, controlar e gerir a manipulação dos resíduos de suas obras. (Nagalli, 2014, p. 05 e 06).

A Resolução 307 do CONAMA considera diversas questões inerentes aos resíduos da construção, com destaque para: políticas urbanas; necessidade de implementação de diretrizes para a efetiva redução dos impactos ambientais gerados pelos resíduos oriundos da construção civil; disposição de resíduos da construção civil em locais inadequados contribuindo para a degradação da qualidade ambiental; gestão integrada de resíduos da construção civil proporcionando benefícios de ordem social, econômica e ambiental; entre outros.

Já no seu Artigo 1º, trata de estabelecer diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil, disciplinando as ações necessárias de forma a minimizar os impactos ambientais. (Brasil, 2002). Porém, percebe-se que a resolução trata da necessidade da correta destinação e do gerenciamento do resíduo proveniente da construção, fazendo com que o impacto gerado por ele no meio ambiente seja menor, ou seja, corrigir aquilo que está errado, da melhor forma possível.

O pensamento é louvável, uma vez que a correta destinação evita problemas ainda maiores a sociedade como um todo. Entretanto, a melhor forma de tratar o resíduo, sem que ele cause impacto no meio ambiente, é buscar alternativas técnicas e tecnológicas para que o resíduo não seja gerado. Extinguir os resíduos em um processo produtivo é utopia, porém estabelecer critérios e métodos de minimizar a geração do resíduo é necessário, podendo ser a tônica do desenvolvimento sustentável para os próximos anos.

Portanto, cabe enfatizar que, apesar dos avanços nos âmbitos público e privado, ainda há muito por fazer. Afinal, pouco adianta ter uma das legislações ambientais mais extensas do mundo, quando suas regras são violadas diariamente. Para tanto, será preciso promover intensos programas de conscientização ecológica e social, acompanhados de punições severas para os infratores. (Curi, 2011).

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3.3 O RESÍDUO DA CONSTRUÇÃO CIVIL, PISOS E REVESTIMENTOS

3.3.1 O mercado imobiliário impulsionando o setor da construção civil

A construção civil brasileira vem aumentando a sua participação na economia nacional nos últimos anos. Com aproximadamente 15% do PIB, o setor da construção civil se destaca na economia nacional, sendo um dos mais importantes ramos de produção no país. (Nagalli, 2014).

Além disso, o crescimento do mercado na construção civil, faz do Brasil um dos principais protagonistas no mercado mundial de revestimentos cerâmicos, onde ocupa a segunda posição em produção e consumo, ficando atrás da China, porém à frente dos tradicionais fabricantes italianos e espanhóis. (ANFACER, 2015).

Com as cidades em plena expansão e crescimento, a necessidade do homem por abrigo segue na mesma proporção. O mercado imobiliário aquecido por amplos investimentos, que aliados a uma situação econômica favorável e incentivos do governo com linhas de crédito imobiliário, contribuíram para amenizar o déficit habitacional.

Diante desse crescimento e das possibilidades, os edifícios se reafirmam como um investimento lucrativo, com potencial de lucro imediato, já que a construção civil se conforma como um mercado rentável. O momento oportuno desperta o interesse dos mais diversos tipos de investidores que vislumbravam na construção civil um meio de rápido retorno de capital investido. Esse aumento no investimento resultou num crescimento considerável no número de construções e aumentando a demanda por mão de obra que passa a ser mais escassa e valorizada.

[...] quase todas as construções são feitas exclusivamente em busca do lucro. Novos edifícios são vistos como pouco mais de meros produtos, como resultado financeiro no balanço patrimonial das empresas. A busca pelo lucro determina suas formas, qualidades e desempenhos. [...]. (Rogers, 2001, p. 67).

A expansão da construção civil, traz consigo, de igual forma, todo o ônus da agressão ao meio, já que o setor é caracterizado como um dos maiores geradores dos resíduos sólidos.

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O final do século XIX e o início do século XX foram caracterizados por uma forte especulação imobiliária. As novas forças econômicas que controlavam a formação da cidade tinham como única finalidade o investimento de capitais com lucros os mais elevados possíveis, obtidos através da utilização máxima das áreas e total liberdade em responder às normas ou obrigações de qualquer tipo. (Mascaró, 2010, p. 18).

Para que o mercado seja ainda mais rentável e lucrativo, o processo de construção de um edifício deve ser muito rápido. Essa rapidez não possibilita, muitas vezes, aos projetistas o tempo necessário para um projeto racional, econômico e que promova a sustentabilidade, tanto ambiental quanto econômica – não somente na construção, mas na manutenção do edifício – a longo prazo. O investimento em tempo e recursos nas fases iniciais de planejamento, contribuem para a redução dos custos e do desperdício.

Qualquer gasto não relacionado diretamente à obtenção de lucro a curto prazo expõe os incorporadores a desembolso a longo prazo, o que torna a empresa menos competitiva e, portanto, mais vulnerável a riscos financeiros e, em ultima instância, a ser absorvida por outro conglomerado. Nossa economia de resultados imediatos – cujo objetivo é “agarrar hoje o dinheiro de amanhã”, na descrição assustadora do empresário Lord Hanson da era Thatcher – não oferece qualquer estímulo a investimentos em tecnologias ecológicas a longo prazo, é a antítese do pensamento sustentável [...]. (Rogers, 2001, p. 67).

O pensamento, ou imposição do mercado, sob as potencialidades técnicas dos projetistas, resulta em edifícios que tendem a prejudicar o lucro, e os índices de desperdício e resíduos, pela não racionalização do processo construtivo.

Leite (2012), evidencia que o mercado imobiliário precisava aproveitar o momento favorável, mas para isso, seria preciso alavancar uma reinvenção dos seus modelos de incorporação, menos capitalistas e mais preocupados com a cidade, menos estanques aos problemas urbanos e ambientais. Ainda reforça, contextualizando a construção civil, conforme segue:

A relação entre o setor e o ambiente urbano é estreita [...]. É preciso que, ao construírem o espeço urbano, os empreendedores tenham uma ampla visão da relação entre seus projetos e a cidade, observando as condições existentes para integrar aspectos de sustentabilidade em seus empreendimentos. (Leite, 2012, p. 152).

É preciso reconhecer que o sistema construtivo brasileiro, na sua grande maioria ainda é bastante artesanal e dependente da mão de obra. Não se muda a

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cultura na mesma rapidez que se planeja a utilização de novos sistemas e tecnologias construtivas, apesar de desejável, como evidenciado por Leite (2012), referenciando as necessidades do mercado imobiliário e construtores. Sendo assim, uma alternativa para a diminuição do resíduo e que possa contribuir com o mercado, é buscar nos sistemas construtivos mais eficazes, aliados da lucratividade e que também possibilitem a diminuição dos resíduos da construção civil.

3.3.2 Resíduo da Construção Civil

É necessário diferenciar o resíduo da construção civil dos outros resíduos gerados pelo cotidiano humano, industrial, hospitalar, entre outros. Os resíduos podem ser classificados como: não duráveis (resíduo reciclável domiciliar, como as embalagens plásticas e etc.) e os duráveis (automóveis, edifícios, etc.). As políticas públicas, na maioria das vezes, estão focadas nos produtos não duráveis. Porém, os chamados bens duráveis, nos quais se enquadra a construção civil que é considerada um dos maiores agressores do meio, a sustentabilidade ainda não é tão difundida.

Em 2010, com a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que regulamentou o setor, impôs diversas obrigações aos governantes e às corporações, buscando a qualidade produtiva nas obras. Dentre as estratégias tratadas evidencia-se a não geração, minimização, reutilização, reciclagem e descarte adequado dos resíduos sólidos, conforme quadro abaixo, com ênfase nos itens 1º: Não geração e 2º: Minimização.

Quadro 2: Hierarquia do sistema de gerenciamento de resíduos. FONTE: Nagalli (2014, p.10), modificado pelo autor (2017).

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Os impactos ambientais causados pela expressiva quantidade de entulho e o seu descarte inadequado impõem a necessidade de soluções rápidas e eficazes para a gestão adequada. São necessárias ações conjuntas das diversas esferas da sociedade, tais como: poder público, setor industrial da construção civil e sociedade civil organizada, na elaboração e consolidação de programas específicos que visem a diminuição destes impactos. (SENAI, SEBRAE, & GTZ, [s.d.]).

O Conselho Internacional da Construção (CIB) aponta a indústria da construção como o setor de atividades humanas que mais consome recursos naturais e utiliza energia de forma intensiva, gerando consideráveis impactos ambientais. Além dos impactos relacionados ao consumo de matéria e energia, há aqueles associados à geração de resíduos sólidos, líquidos e gasosos. A estimativa é que mais de 50% dos resíduos sólidos gerados pelo conjunto das atividades humanas sejam provenientes da construção. (Brasil/MMA, 2012).

Com base em um banco de dados de aproximadamente 150 obras estudadas pelo projeto Finep/Senai e mais obras estudadas pelo PCC-USP com metodologia compatível, Souza (2005) apresenta análise de indicadores e perda geral de materiais, levando em consideração a concretagem, armação, alvenaria, revestimentos, internos e de fachada com argamassa, revestimentos com gesso, revestimentos cerâmicos e contrapiso. A conclusão revela que em um edifício cerca de 25% da massa de material é desperdiçada e em uma análise de composição de custos, 10% do custo é desperdiçado em decorrência da perda física do material empregado.

Desperdiçar um a cada quarto edifícios, é inadmissível, uma vez que o déficit habitacional chega a 9%. (Pinheiro, 2016).

Diante do cenário apresentado, as políticas públicas para o gerenciamento de resíduos da construção civil (RCC), visam a redução da quantidade de resíduos gerados por meio do fomento de novas posturas gerenciais nas empresas geradoras de resíduo, já que são consideradas não usuais no setor. (SENAI, SEBRAE, & GTZ, [s.d.]).

A Resolução nº 307 do CONAMA, estabelece critérios e normas para a gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos na construção civil. São algumas das principais ações para mudança desse setor, estabelecendo obrigações para os geradores e para o município. (Brasil, 2002).

Quanto ao gerenciamento, o objetivo deve ser a não geração de resíduos e, secundariamente, a redução, reutilização, reciclagem e destinação final. O objetivo do

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gerenciamento é também a implantação de programas de gerenciamento de resíduos da construção em seus empreendimentos. (Brasil, 2002).

Ao município, determina a implantação da gestão dos resíduos da construção civil através da elaboração do Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil. É necessário adaptar o processo para garantir a correta destinação ambiental dos resíduos da construção. (Brasil, 2002).

O Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) desenvolveu uma pesquisa que contribui com a compreensão do panorama da construção civil e reforçou a importância de ações de gestão pública no setor. As políticas públicas estão diretamente ligadas à fiscalização e implantação dos programas de gerenciamento de resíduos da construção às grandes empresas e incorporadoras. As pequenas construções e reformas tendem a não estarem organizadas com o resíduo da construção. Conforme pesquisa realizada pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR, 2015) em conjunto com o instituto Datafolha, a autoconstrução6,

onde não há um profissional habilitado responsável pelos serviços, representa 85% da população economicamente ativa (54% da população brasileira) que construiu ou reformou nos últimos anos.

Os dados da autoconstrução levam a crer que a ausência de profissional habilitado, Arquiteto ou Engenheiro Civil, pode desencadear uma problemática ainda maior, se estes edifícios apresentarem patologias expressivas, necessidade de adaptações com amplo volume de remoção de material e possivelmente, de gerenciamento.

Um dos fatores causadores do consumo de recursos naturais em excesso é o elevado índice de perdas incorporadas às construções ou eliminadas como resíduos. É inevitável que as perdas aconteçam, porém, a fração de perdas que excede o limite característico da tecnologia empregada é considerada desperdício.

A construção civil, nos moldes como é hoje conduzida, apresenta-se como grande geradora de resíduos. No Brasil, onde boa parte dos processos construtivos é essencialmente manual e cuja execução se dá praticamente no canteiro de obras, os resíduos de construção e de demolição, além de

6 Autoconstrução é o termo utilizado para identificar as construções feitas de forma empírica, desprovida da técnica e com a ausência de profissional habilitado.

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potencialmente degradadores do meio ambiente, ocasionam problemas logísticos e prejuízos financeiros. (Nagalli, 2014, p. 05).

Dentre as alternativas para redução do impacto ambiental gerado pela atividade construtiva evidencia-se: a alteração do processo de projeto visando a redução do consumo de recursos na fase de utilização; projeto do produto e planejamento dos sistemas de produção, visando evitar perdas como a compatibilização de projetos e paginação de alvenarias; paginação de pisos e revestimentos, possibilitando o uso racional dos materiais.

Desde a fase de projeto, uma decisão equivocada pode ser responsável por desperdícios ou por gastos com retrabalho. Porém, é a fase de execução onde acontece a parcela mais visível das perdas, pois todas as decisões tomadas na fase anterior ganham dimensão física. (SENAI, SEBRAE, & GTZ, [s.d.], p. 14).

A melhor e mais eficiente forma do resíduo não ser um problema ambiental, é eliminar a possibilidade de ser gerado. Isso pode acontecer de duas formas: mudando as tecnologias empregadas na construção civil, fortalecendo o processo industrializado e/ou por meio do planejamento e da qualidade dos projetos e, consequentemente, na otimização do uso dos recursos naturais empregados nas indústrias e materiais para a construção.

Característico de um mercado de ampla rotatividade e comercialização dos edifícios, a falsa ideia de que se perde tempo com o planejamento, com a qualidade técnica e de detalhamento projetual, contradiz o ideal da racionalização produtiva e lucrativa.

3.3.3 Resíduo proveniente dos pisos e revestimentos enquanto impacto ambiental

Antes de aprofundar a discussão sobre o resíduo dos pisos e revestimentos, é necessário caracterizar os materiais alvo da discussão deste trabalho, afim de detalhar a composição do material, fatores dimensionais, tolerâncias, absorção de água, entre outros.

O piso cerâmico, assim como o revestimento cerâmico é uma placa extrudada ou prensada destinada ao revestimento de pisos. Fabricada com argila e outras matérias-primas inorgânicas, com a face exposta vidrada ou não e com determinadas

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propriedades físicas e características próprias compatíveis com a finalidade. O porcelanato é o piso cerâmico não vidrado composto por pigmentos misturados à argila durante o processo de prensagem. Quando queimados os ladrilhos apresentam aspecto de pedra natural, em que camadas de pigmentação permeiam a base de argila. Possibilitam o acabamento polido (com brilho) e não polido (sem brilho). (Yazigi, 2011).

O autor ainda trata do dimensionamento, onde suas dimensões podem ser divididas em: nominal, referenciada aos pisos cerâmicos individuais e dadas em centímetros; a de fabricação, fixada pelo fabricante e em conformidade com a nominal. O fator da tolerância das dimensões reais é o valore externo a que podem chegar as dimensões das peças individuais, em relação às suas dimensões de fabricação.

Essencialmente os pisos e revestimentos fazem parte da fase de acabamento da obra. Para Nagalli (2014) a fase de acabamento é, em conjunto com a etapa construtiva de alvenarias, o grande vilão na geração de resíduos. Por outro lado, acaba sendo uma oportunidade de fomentar o desenvolvimento de padrões que possam contribuir com o planejamento e gerenciamento dos resíduos das obras, antes mesmo dela acontecer.

[...] ao investigar as publicações disponíveis na área, concluíram que a investigação sobre os resíduos de construção e demolição ainda não é sistemática e carece de aprofundamento e padronização. (YUAN; SHEN, 2011 apud NAGALLI, 2014, p. 6).

A perda inerente ao processo produtivo não deve ser encarada como natural. O grande desafio para a construção civil é uma melhoria e ampliação do ambiente construído com o emprego de um volume menor de recursos naturais, sendo o projeto uma das fases capazes de contribuir com otimização dos recursos empregados.

Os resíduos gerados, provenientes das perdas ocorridas durante o processo de construção ou de demolições, são responsáveis por aumentar ainda mais o impacto ambiental provocado por este setor. (SENAI; SEBRAE ; GTZ, [s.d.], p. 11).

Para as relações comerciais de venda de produtos utilizados no processo construtivo, estipular um percentual excedente e convencioná-lo ao pensamento de perda natural em função do desperdício em obra, pode ser lucrativo. No caso dos pisos e revestimentos aplica-se a compra um acréscimo de 10% podendo chegar a

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15%7, prevendo o suposto desperdício. Ou seja, o percentual excedente é vantajoso,

pois continua sendo venda, movimentando o setor e os fornecedores.

A prática citada vai na direção oposta aos conceitos de sustentabilidade aplicados à construção civil. Fabricantes disponibilizam pessoal treinado e capacitado para especificação de seus produtos em suas lojas e pontos de venda, atendendo às necessidades dos clientes, mas sem considerar a racionalização geométrica e a eficiência no consumo do material como fator decisivo. As escolhas e especificações de produtos, muitas vezes, estão ligadas apenas aos valores estéticos pretendidos.

[...] o gerenciamento de resíduos deve atuar como um conjunto de ações operacionais que busca minimizar a geração de resíduos em um empreendimento ou atividade. Usualmente estruturado por meio de um programa ou plano, costuma abranger conteúdos relacionados a seu planejamento, delimitação e delegação de responsabilidades, práticas, procedimentos e recursos (materiais humanos, financeiros, temporais etc.), atividades de capacitação e treinamento, diagnóstico e/ou prognostico dos resíduos. (Nagalli, 2014, p. 09 e 10).

Há um outro fator que contribui para a escolha e especificação após a fase projetual de determinados elementos de obra. É a diversidade atual e a quantidade de lançamentos anuais de produtos de acabamentos disponíveis no mercado tanto no aspecto técnico quanto de design. Esta diversidade cria no mercado uma expectativa pelo novo. É também utilizado como argumento de venda adicional, sendo atribuído à padronagem estética, gerada pelos lotes produtivos, a necessidade de compra excedente. O mesmo material pode ter outra tonalidade, textura e pequena diferença dimensional, que podem ser percebidas na composição de um piso por exemplo.

Cabe reforçar que pode não ser vantajosa para a indústria a redução do consumo devido a utilização de um regramento mais criterioso no que diz respeito ao padrão dimensional, técnico e estético das peças de pisos e revestimentos. No universo da sustentabilidade, a prática comercial em função dos índices de resíduos comprovados dos produtos objeto desta pesquisa, interfere na necessidade de consumo dos pisos e revestimentos, sendo também um fator contrário da sustentabilidade econômica e social.

7 Informações quanto ao percentual de compra excedente de pisos e revestimentos, conforme conhecimento prático do pesquisador. 10% para paginação de piso ortogonal e 15% para paginação diagonal.

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Especificamente, na indústria de pisos e revestimentos, evidencia-se uma ausência de normatização e padronização quanto ao dimensionamento das peças, que disponibilizam 741 itens8 entre os dois fabricantes escolhidos para a presente

pesquisa. Essa diversidade, aliada à constante inovação e lançamento de produtos no mercado, vícios nos processos de compras nas construtoras, dificultam a especificação prévia pelos arquitetos e engenheiros com critérios de racionalização geométrica e modular, contribuindo para o aumento do desperdício e resíduo destes materiais.

Portanto, existe a necessidade de mudança imediata no pensamento empregado na cadeia da construção civil. Projetar e planejar conforme informações previamente determinadas, faria com que o projetista tivesse a possibilidade de diminuir ou extinguir o resíduo gerado pelo processo produtivo essencialmente artesanal.

É importante pensar o material que será especificado, não somente na questão da aplicabilidade de modo genérico, mas nos diversos fatores que podem influenciar nos fatores de sustentabilidade da edificação. Esses fatores podem ser: procurar saber se o produto possui na sua fabricação algum elemento nocivo à saúde; se é possível ser reciclado; se durante a aplicação gera resíduo, entre outros. Conhecer antes de especificar e/ou projetar é fundamental para o equilíbrio ambiental entre projeto, execução e demolição.

No projeto de edificações, a especificação de materiais está entre as tarefas mais frequentes dos estudantes que estão se tornando profissionais. Ela também é uma das bases de conhecimento e treinamento dos arquitetos de edificações sustentáveis. Isso acontece porque a especificação de materiais representa a espinha dorsal da edificação sustentável, ou seja, trata-se de uma metáfora para a área como um todo e, portanto, contém uma ideia básica – o pensamento no ciclo de vida. (Keeler & Burke, 2010, p. 183).

O especificador deve certificar-se que a indústria realmente atende aos fatores ambientais no processo produtivo e no próprio produto, que o material cumpre o que é anunciado, evitando ser iludido pelos esforços de marketing em camuflar as implicações ambientais negativas de um material por meio da supervalorização de atributos ambientais irrisórios.

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Tratando o resíduo e o impacto ambiental, para Yazigi (2011), o desperdício pode ser conceituado como qualquer atividade que consome recursos e não agrega valor ao cliente. Perda pode ser considerada qualquer influência que reflita no uso de mão de obra, materiais e equipamentos em quantidades superiores àquelas necessárias à produção da edificação. O desperdício em obras tem as mais variadas origens, como:

Falhas na empresa construtora:

• falhas de gestão e organização (projetos não-otimizados, inadequação entre o projeto e o empreendimento; falhas de suprimento de materiais e mão de obra e outras);

• falhas humanas;

• deficiência nos controles. Falhas no processo de produção:

• perda de materiais (excesso de argamassa de assentamento e revestimento; desequilíbrio nas dosagens de argamassa e de concreto; roubos e danos; inadequação de estocagem e outras);

• problemas da qualidade (com consequentes reparos e retrabalho); • baixo índice de produtividade (mão de obra de baixa qualificação; falta

de racionalização da produção – equipamentos, métodos e processos produtivos inadequados);

• falta de gerenciamento da produção.

Yazigi (2011) afirma, ainda, que existe uma grande variação no índice de perdas de um mesmo insumo em diferentes canteiros de obras e que grande parte das perdas é evitável mesmo sem a alteração substancial do processo construtivo. Dentre os pisos e revestimentos a incidência de perda pode ser atribuída a fragilidade do material, excesso de corte nas peças para a à execução da obra.

Referências

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