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"ABANDONAR A CAUSALIDADE": ADAPTAÇÃO DO CONHECIMENTO AO AMBIENTE INTELECTUAL

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(1)

r-A

Culrura

de

füeimar e

a

Teorfu

Quântica

55 alemães,

de

que a crise

iria

durar

um

tempo enorrne

-

apesar de que, na verdade, se

"resolveu"

em dois

ou

três anos, com a descoberta da mecânica quântica

-,

pode em parte ser entendida como uma relutância em contemplar a possibilidade de abrir mão de sua prestigiosa e alogiável empreitada; mas, em outra

parte,

também como expres-são de

um

pessimismo spengleriano:

"estou outra

vez convencido, em meu coração,

de

que essa mecânica

quântica"

-

que eu, Werner Heisenberg, acabo de descobrir

-"é

a resposta , razão pela qual Kramers me acusa de

otimismo".l4

M.

"ABANDONÀR

A

CAUSALIDADE'"I+S'146

ADAPTAçAO

DO

CONHECI-MENTO AO

AMBIENTE INTELECTUAL

II.

1.

Introdução:

O Conceito de &usalidøde

Em agosto de 7922, ao compor seu artigo "Sobre a

Atual

Crise na Física Teórica",

des-tinado

a

um público

leigo, Einstein iniciáva com uma definição do objetivo e estrutura da

teoria

física. "O

objetivo

da

física teórica",

afìrmavaEinstein, "é

criarum

sistema conceitual

ló$co

[!],

que repouse sobre o menor número possível de hipóteses mutua-mente independentes, e que nos permita entender causalmente

[!]

todo

o complexo de

processos

fí5isss.:'tez

p.

odo geral, a concepção de física teórica expressa

por

tal

144"(...) mich des O¡rtimismus anklagt

(...)". W

Heisenberg a Wolfgang Pauli, 29 de junho de 1925, segundo citação de B. L. van der Waerden, Søtrces of Quantum Mechanics (Amsterdã, 1967; reeditado em Nova

Yoik,

1969),

p.

27. O artigo de Heisenbergpropondo essamecânica

quântica que até era "schon richtig [já correta]", intitulava-se 'Über quantentheo¡etische

Um-deutung kinematischer und mechanischerBeziehungen",Zeitschr.

f.

Phys. 33 (18 de setembro

de 1925), pp. 879-893, recebido em 29 dejulho de 1925;encontra-se t¡aduziiloem v.d. Wae¡-den, ob. cit., pp. 261-2'16, e reeditado em M. Born, W. Heisenberg, P. Jordan, Zur Begründung

der Matrizenmech¿nik, Dokumente der Naturwissenschaft, Abteilung Physiþ Band 2, ed. por Armin Hermann (Sfuttga¡tì 1962i pp. 31-45.

l4sEsse é o título do capítulo

inici'¡

de Albrecht Mendelssohn-Bartholdy, The lhar and Germøn

Society (New Haven, 1937). Ali o eminente scl¡ olar jntídico emigrado afirma que 'i4. guerra can-celou a causalidade.

Ao

menos assim pareceu ao povo alemão

(...)

independentemente de seu inteæsse na política, seu estado de educação ou sua profissão e posição na vida fwalk in

lifel,

o povo como um todo percebeu a mudança bastante claramente, muito antes que pu-desse se¡ medida por historiadores ou sociólogos" þ. 20).

146Qu¡as investigações que abordam o movirnento de abandono da causalidade a¡tes de 1926: Victor F. Lenzen, "The Philosophy of Nature

in

the Light

of

Contemporary Physics",

Unr-venity

of

Califomia Publications in Philosophy 5 (L9U),pp.27-48;AloisGatterer,S.J., D¿s Problem des statistischen Nafitrgesetzes, Philosophie und Grenzwissenchaften, lheräusgegeben vom Innsbrucker lnstitut fü¡ scholastische Philosophie, 1. Band, 1. Heft (nnsbructç ilZ+1,

f0

pp.; Sæfan Kis, Døs Kausalifiprtnzip in derPhysirt, dissertação de douto¡amento, Universida-de Universida-de Greifswald (Greifswald, 1925) 35 pp.; Hugo Betgmann,Der Kømpf um das Kausalgesetz

in

der jüngsten Physik, Sammlung Vieweg, Helft 98 (Braunschweig,

lg2g),78

pp.; Philipp F¡anlç D¿s Kausalgesetz und,i,eine Grenzen, Schriften zur wissenschaftlichen Weltauffassung, Band 6 (Vien4 1932); Emst Cæsirer, Determinism and Indeterminísm in Modem Physics. Ilrs-torical and Systematic Studies of the Problem of Causality, 1aad" po¡ O. T. Benfey (New Haven, 1956); Max lammer, The Conceptual Development of Quantum Mechanícs (Nova York, 1966).

1474. Einstein, ob. cit. (nota 143), p.

l.

(2)

56

Paul Forman,

definição

não é

nem pouco

familiar

nem surpreendente; provavelmente, era compar-tilhada pela maioria dos físicos do

período.r{

Não obstante, duæ dæ restrições que Einstein

impõe

a uma teoria

flsica

parecem supérfluæ (é claro, um sistema conceitual

lógico,

o

que mais?) ou então gratuitas

(por

essa razão deve-se entender

procesos

fí-sicæ causalmente?). São precisamente essas adições claramente supérfluas e gratuitas

àquilo

que constituía

o

credo comum de seus colegas que

identificam

temæ considera-dos

por

Einstein como cruciais para a física

teórica.

Deixarei o

primeiro

deles

-

uma estrutura lógica

para

a

teoria física,

em oposição a

outra,

digamos

intuitiva

-

quase

completamente de

lado.rae

É,

o

segundo tema, a

"disputa

violenta sobre a sigrrificân-cia da

lei

da car¡salidade"

-

esse

foi

o modo como Max Planck

viu

a situação, em feve-reiro de

l923tso

-,

eue descrerærei e analisarei.

Mas

o

que se entende

por

"causalidade", ou mÞlhor, qual era a noção que os

físi-cos

e

filósofos

que lhes eram mais

próximos

associavam

a

esse termo, nessa época?

Em

uma palavra, a noção é legiforme

[bwfulness].

Nas palawas de

Moritz

Schlick em 7920,

"O

princípio

da causalidade

é

(...)

a expressão geral do

fato

de que tudo o que acontece na Natureza é

sujeito

a leis que se verificam sem

exceção."tsl

(Cf.

Spengler,

"A

causalidade é coextensiva

com o

conceito de

lei.

Existem apenas leis causais."ls2)

E

lnesmo dez anos mais tarde, em seus

hincípios

Físicos dø

Teoiø

Quântíca,

Heisen-berg aborda a questão dizendo que "sô se conseguirá a resolução dosparadoxos da

físi-14EA concepção é essencialmente aquela formulada integral e enfaticamente por Pierre Duhen,

La Théoie physique:

sot

objet, sa struclure, 2a. ed. (Pa¡is, 1914), trad. para o inglês por P. P. Wiener, The Aim and Structure of Physical Theory (Pnncnton, 1954), pp. 19, 52, 107 e passim.

149 dois âspectos nesse tema: 1) uma oposição racionalista-ir¡acionalista que se reflete em

atitu-des perante a causalidade e que, portanto, abo¡da¡ei de pæsagem; 2) uma oposição que atraves-sa a linha divisória entre esses primeiros alinhamentos, ent¡e intuitividade e

abstração,Anschøu-Iichkcit e Unanschaulichlæit, como desejável ou necessária numa teoria física- A exigênciapor Anschoulichlæfl também se ligava intimamente às predileções e antipatiæ caracte¡ísticas do

nleio intelectual de Weimar. Tal oposição desempenhou papel importante na física e na

mate-mática alemãs no período de Weima¡ (ver æ notas 235 e 237) e, especialmente, no período næ zista- Contudo, não tentarei lidar, aqui, com esse difícil problema"

1s0¡r4. Planch ob.

cit,

(nota

l8),

p. 140:'Seitlangem ist über-die BedeutungdesKausalgesetzes

in

de¡ Natw- und Geisteswelt

(...)

nicht so heftig gestritten worden wie

in

unseren Taçn.

(...)

Fast hat es den Anschein, als ob die denkende Menschheit bezüglich dieser Frageninzwei

geûennte Lager gespalten ist."

lsl

ì/f, Schlick "Naturphiloeophische Betrachtungen über dæ Kausalprinzip", Narurwiss. 8 (11 de junho cle f 920), pp. 461-474;parág¡afo iniciai. Essa era ainda a opinião geral cinco anos mais tarde, quando Kis, ob

cit.

(nota f46), p. 3, sustentava que "Das Kausalprinzip ist das

Alþe-meinste unær den Prinzipien der Naturwissenschaften. Es besagt, dæs die Naturvorgänge nach st¡engpn Gesetzen ablaufen, es ist mit den lVo¡ten Machs unsere Zuversicht in die Gesetzm8sig keit der Natur."

ls2|r[e1¿ 7?. Cf. Walter Rauschenberger ao resenhar Ernst Berg Das Problem der Kousalitut (Ber lim, 1922), em Kant-Sudìen 26 (1921),

p.

174: "Ve¡fasser ist also strenp¡ Determinist. Sein Kampf gegen dæ Kausalltätsgesetz encheint deshalb nicht ¡echt ventändlich. Kausalität und

Gesetzmässigkeit wurden bisher steb als gleichbedeutend angssehen." Ou sej4 determinismo:

(3)

I

A

Cttltum de

lüeimar e

a

Teoria

Qwôntica

57 ca atômica

por

meio da renúncia a velhæ e preciosas

idéiæ.

A mais importante delæ é

a de que fenômenos naturais obedecem a leis exatas

-

o

princípio

de causalidade."ls3

É

claro que Heisenberg passou a elaborar

tal

formulação,

introduzindo

distinções que apenas haviam surgido e sido empregadas após o desenvolvimento da mecânica quântica.

Entretanto, no período

de'1919-1925,

tanto

físicos como fìlósofos sustentavam a no-ção essencialmente kantiana de causalidade enquanto conformidade a leis; de

tal

mo-do

que,

como

Hans Reichenbach

pôs

em

1920, "se há

cogrição

da Natureza, então o

princípio

da causalidade é vrálido; pois sem tal

princípio

a cognição, por seu

próprio

sigrificado, é imp ossível". lsa

Mas se essa era a noção que

o

físico

alimentava da causalidade, como ele pôde

se-quer

ter

contemplado abandoná-la?

A

questão

foi

levantada em 7924 por Alois Gatte-rer,

filósofo

e jesuíta,

como "uma esffcie

de argumentum qd hominen que deveria

fa-zer

pensar especialmente aqugles

flsicos

que, como

[Ftanz]

Exner,

se deliciam em

tentar

degradar

todæ

as leis

físicæ

e qurmicas em leis estatísticas, e que, apesar disso, cheios de confiança e orgulho, ao mesmo tempo conduzem magníficas pesquisas sobre a constituição do átomo

químico.

Ora, pergunto, como alguém pode abordar tal pes-quisa com esperança de sucesso, e se devotar ativamente a ela, se secretamente acalenta a convicção de que, ao menos em parte, os processos elementares se dão aleatoriamen-te, sem obedecer a

leis (...)?'r t5s A

pergunta de Gatterer é boa, e seu interesse

-

da-da

a

própria

noção dos físicos sobre causalidade

-

deveria

ter

sido grande; evidente-mente, porém, a pergunta simplesmente não era cogente. Desse modo, se encontramos físicos a repudiar a causalidade

-

e derivando prazer ao

fazêlo

-

sem qualquer

tenta-tiva

de revisar e analisar criticamente essa noção, creio então que somos forçados a

þ-terpretar

esses repúdios

como

dirigidos contra

o tipo

de empreitada cognitiva com a qual os físicos até então entendiam estar comprometidos.

E

existem precedentes para essa reação contra a atividade cognitiva da física; como Stephen Brush

nos fez

æconhecer,

tais

sentimentos proporcionaram

muito

do calor

por

trás do movimento

positivista,

na

virada

do

século.rs6

Enquanto

Mach se con-tentava em desafìar a validade universal dæ leis da mecânica, as facções radicais reuni-dæ em

tomo

dos cânones positivistæ-monistas avançaram até a negação da existência de quaisquer

leis

exatas para os processos atômicos,

com

o

fìto

de abrir espaço para

rs3\\r. Hgj5s¡þry,The Physical Pinciples of the Quantum fneoryllCtttcAo, 1930),-p. 62. rs+ ¡1.

¡ji.¡.n¡ach,

"Philosophische

Kritik

der Wah¡scheinlichkeitrechnung", Naturwiss. 8 (20 de

fevereiro de 1920), pp. 146-153: "Dæs eine funktionelle Fornr existier! garantiert die

Kausali-tät.

(...)

Allerdings ist es denktar, dass das Naturgeschehen ohne funktiõnele Äbhengigkeiten verliefe; aber'wenn es ein e Erkenntn¡s der Nøtur gibt, dann gilt das Kausalprinzip, denn ohne die-ses ist E¡kenntinis ihrem Sinne nach nicht mögtich. (..

.)

Mr

könnten durchaus zu einer physi

kalischen Erkenntnis

to*rnrn,

wenn das Energiegesetz nicht gilt; die Gleichungen würden dann eben ande¡s lauten; aber ohne Geltung des Kausalgesetzes w?lre Erkenntnis unmöglich, weil wir überhaupt keine quantitativen Funktionalbeziehunçn aufstellen könnten.

"

rssA.

Gattercr, Das Problem des statístischen Nøturgesetzes,r (ob.

cit,

nota 146), pp.45-46.

1s6S. G. Brush, "Thermodynamics and History", The Graduate Joumal 7 (1967), pp.477-565.

(4)

58

Pøul Forman

"um

elemento de indeterminação", espontaneidade ou acaso absoluto na Natureza"

-como,

em

1892,

c,s.

Peirce pediu emTft

s

ll'I6nis¡.ts7 Não conheço nenhum outro

fí-sico de renome que tenha advogado publicamente a doutrina da acausalidade no

senti-do

de Peirce nos vinte e

cinco

anos æguintes, ou seja, antes do

fim

da

I

Guerra Mun-diallsE

-

e esse, fundamentalmente, é

o

sentido no qual era entendida no infcio da

dé-cada de 1920.

158]r[9 s¡tant6, por algumas

to de ¡eito¡ ¡a do dia de

cas, surgido como ¡esultado da introdução da penpectiva estatística na físic4 "é considerado

de

Die

ao

sexagésimo

191g),

Ma¡ian

atenção para

.,

domi

nante,

físicæ

(...)

à

condi_

dos",

ossível" que, dado tempo, a teoria de elétrons de Lorentz,

a

rela

da energia também seriam submetidas a esse programa. No

entan

owski era mostrar que ..o äcaso

-

no sentido usualmente

Embor¿ Planck e von Smoluchowski não identifiquem o bem possível que ambos estejam pensando especialmente em Smoluchowski certamente conheci4 de seus dias em Viena;e

molecula¡es de modo a conseguir acompanhar os processo molecr¡lare

ríamos nada senão um caos de eventos aleatórios, nos quais procur quer regularidade" (p.13). Em seguida Exner esboça uma ..visão de

(5)

L I

I

t I I i I t

i

A

Cultum de

lleimqr

e

a

Teoria

Quântica

59

Naturalmente,

é

necessário

registrar que

precisamente nesse

período

o

próprio

Mach, o movimento positivista em geral e mesmo neo-kantianos como Cassiret estavam

em

campanha contra

um

conceito bem diferente da causalidade.

Em

1913,

Friedrich

PoSke

pôde

observar

que

"recentemente,

entre

aqueles

que

se preocupÍrm

com

a

teoria do método cientlfico, virou

moda

atirar

o

conceito

de causalidade

no

ces-to

de

üxo".ls

O

que estava em

jogo

aqui nao efa,

Contudo, a

idéia

de conformi-dade a leiS,

antes

a

doutrina "metafísiCa"l

"animista", "fetichista"

de CauSa e

efeilo

lUrsache

und

Wirkungl enquanto

presuposto ontológico,

que Mach e seus alia' dos queriam

substituir pelo

conceito matemático de

função.lo

"Esse reunir de inter-conexões funcionais é

no

que consiste de

fato

a física

teórica",

explicou Wilhelm Wien

em

1914

a

uma

audiência leiga;

"a

causalidade

-

ou seja, der Satz

von

Unache

und

IUirkung

-

nada

tem

a ver

com

a históriaD.r61

Em

1918, esse

ponto

de vistahavia se

tomado

quæe

corriqueiro entre físicos

e

filósofos

estreitamente associados a eles

-e

combatido apenas

por

alguns arqui-reacionários, como

Emst

Gehrckeló2

-,

de mo-do que a "causalidade", despida de toda coloração ontológica, era encarada como equi'

valente

a

determinação

funcional.

Freqüentemente, mas

não

sempre;

a

causalidade era especifìcada como a concepção

"laplaciana"

de condições necessáriæ e suficientes para

tal

deterrninação completa,

ou

seja, uma seção

do

"mundo"

num

dado momen'

to;ror

,t

concepção derivava

não

apenas

da

dinâmica clássica como também, igual' mente, da própria noção de uma teoria de campo.

ausência de leis næ Geiteswissenschaften não se deve à natureza particlar de seu objeto de

estu-do, nem a "Dæ læbendige", nem ao [v¡e-arbítrio, mas resulta simplesmente do número relati-vafiente pequeno de eventos igualmente prováveis subjacentes aos feñomenos estudados. Além do mais, é digro de nota que P. Frank, Kausalgesetz (ob. ciL, nota 146), tratou "Die

energetische Naturauffassung" como uma dæ "Kausalitätsfeindliche St¡ömunge4";:e asseverou que "na época em que æ icleiæ daNaturphilosophie ostwaldranapareciam dominantes entre

pessoas ativæ na ciência natural, e mesmo entrc a maioria do público leigo interessado na

ciên-cia natural, podia-se considerar que havia sido eliminada a noção de causalidade mecânica no

sentido de Laplace, parecendo necessátia a íntrodução de fatores de tipo espiritualþoul-lilce

fac-fors]".

Comota¡tacoisanolivrodeFranlçissoé,largamente,nonsense;eîttetanto,ésugestivo,

lse F. Poske, em Festschrîft

lilr

K. Sudhofl (1913), segundo citaçiÍo de A. Hofle¡, Zeitschr.

f.

den physikat. u. chem. Unterricht 31 (ma¡ço de 1918), p. 39.

160E. Mach, ftre Analysisof the Sensations, trad para o inglês da 5a. ediSo, 1906, por S. Waterlow

(Ìeeahtado ení Nova Yorlq 1959), p.81; Joseph Petzoldt, "Naturwissenschafl", Høtdwörter-buch der Natunvissenschaften (Iena"

L9I2),7, pp'

50-94, nas pp. 79-80; Paul Volkmann, Einfiihrung

in

døs Studium der theoretischen Physik

(...)

mít einer Einleítung in der Theorie der physikalischen Erkenntnis, 2u ed. aum. (Leipzig-Berlim, 1913), pp. 385-398;Emst

Cæsi-rc¡

Substonce and Function, trad, para o inglês da edição alemã de 1910 por W. C. e M. C, Swabey (Chicago, 1923; reeditado em NovaYork 1953), Cap. 5; Hans Kelsen, SocÍer) and

Nø-nre

ftítio

em alemão:K¿usalítdt und Vergeltungl:A Sociological

Inquiry

(Oricago, 1943),

p.381.

16rW.Men, "Ziele und Methoden der theoretischen Physik [1919]", (ob. ciù, nota 90), p. 156.

ló2E.Ghrcke, Physik und Erkenntnistheone, Mssenschaft und Hypothese 12 (Iæipzig-Berlim,

1921), pp.43-s1.

r63Por exemplo Rudolf Carnap, "Dreidimensionalität des Raumes und Kausalität",Annalen der

(6)

demons-60

Pøul Forman

terminados sem ambigüidades, não

es

tecederam

a

descoberta de uma mec

sar disso, o

ponto

essencial é que

levasæ a

um

relaxamento

do

de derada,

como falha ou

abandono

da causaridade. Na verdade, encontraremos ocasio_

nalmente a palavra "causalidade" usada em diversos æntidos mais restritos,

e não mais

amplos,

do que

"determinismo"

-

,.causalidade,,

enquanto

,quiurf¿n.ii;ì;r;;

mecânica clássica,

à

conservação

de

ção em espaço e

tempo,

à ausência d crição

por

meio de

equações diferen especiais de cau

lidade

da

lei

da

rém, essas defìni

minação

livre

de

ambigüidades

-

eram conside¡adas equivarentes ao pressuposto

de

compreensbilidade da Natureza, e como tal repudiadas ou ¿eren¿i¿æ.

-IIL

2. Os

hímeíros.sinais

de

um,,&so,,, IgIg_1g20

Examinandose os

catárogos anuais de

riwos

e periódicos referentes

às

primeiræ

dé-em não permanecer de

fora

dessa discusão;

em

r9l5

a Academia prussiura de ciên_ cias oferecera

um þrêmio

Para a

melhor rusto¡a. do problema

da causalidade desde

Descartes;

em

1919,

o

prêmio

foi

conferido

a

uma

devotada estudante do

conheci-do determinista Benno Erdmaflr.16s

rcaDeusct.hes Brichervezeich¿¡lç-6

.g15'1g20),

p.770;10 (1g2r-rc25),

p. 12gg, relaciona dez

r 6s Ehe wentsch er, Geschichte

(7)

P

A

Cultum de

Weimar e

a

Teoria

Quântica

6l

Foi

exatamente nessa época

-

não conheço qualquer exemplo

anterior a

1919

-que,

na

correspondência privada

e

em comunicações públicas de físicos alemães,

co'

meçaram a aparecer as primeiræ indicações de que

uÍl

"caso"

se preparava. Respon' dendo a

uma

carta

-

posteriormente

perdida

-

de

Max Born,

Einstein perguntava,

irônico, em 1919:

"Será que a

um irmão-x

e determinista empedemido é

permitido

dizer, com lágrimæ nos olhos, que perdeu a fé na humanidade? É precisamente o

com-portamento

instintivo

de nossos contemporâneos em assuntos

políticos

o

que é ade-quado para se manter uma crença vívida no determinismo.'!16ó Por um lado, Einstein ridiculariza carinhosamente

Bom por

este sentir pena de si mesmo e de seu

país,lem-brandoo

da

imagem

pública do

físico teórico,

a de determinista

empedemido;por

outro lado,

Einstein faz

uma pequena

piada,

que só

pode fazer

algum sentido caso

fose fato

reconhecido que a

lei

da causalidade encontrava-se sob ataque na esfera

so-cial, e em discussão entre os físicos.

No

início

de dezembro, Einstein ainda podia brincar com Born a respeito do

assun-to,ró1 mas

no

fim

de

janeiro de

1920 seu

tom

se torna

muito

sério; com efeito, nesse

meio

tempo, numa longa carta que também se perdeu, Born evidentemente confessava que estava disposto a considerar seriamente a idéia da acausalidade, fundamentandose em argumentos de seu subordinado

Otto

Stem, um ex-aluno de

Einstein.l$

"Essahis-tória

de causalidade também me perturba bastante", admite Einstein, abalado

com

a

defecção de

Bom

mas também preocupado em não ofendê-lo com uma afirmação de' masiado categórica de sua "relutância

muito,

muito

grurde em abandonar a

causalida-de completa". Mais interesante

do

que essas observações

é a

æsociação de idéias, revelada

por

suÍ¡s localizações precisæ na longa carta de

Einstein

-

claramertte, uma resposta

ponto por ponto

a

Bom. Tal

associação aparece

perto

do

fim,

seguindo-se imediatamente

a

comentários,

não de todo

desprovidos de simpatia, sobre Oswald Spengler

-

cujo

A

Decadêncìa

do

Ocidente, publicado

no

ano anterior, continha far-l66Einstein-Bom,Briefwechsel (ob. cit., nota

l4),

pp. 29-30.

161Jbid.,

p.38.

Bom havia publicado uma curta exposiçao popular da relatividade geral, "Raum, Zeil und Schwerkraft", Frankfurter Zeitung,23 de novemb¡o de 1919, n9876, pp.1-3, em que, entre outas alfmetadas em Kan! obse¡vava que "Wer diese Entwicklung [da teoria da

rela-tividade] miterlebt

ha!

der wird sich des Zweifels am apriorischen Character auch ande¡er Ka-tegonen des Denkens nicht erv¡ehrtn können". Bom tomou-se então alvo dos ataques de

Re

bert Drill, "Ordnung und Chaos. Beítràge zur Geschichte von der Erhaltung

&rKtafl",

Frunk-lurtet Zeitung,30 de novembro de 1919,n4 895, pp. l-2;LQ de dezembro de 1919, ng 899, p. 1,

um kantiano fanático e extravagante que tentou demonstra¡ o catâler a priori do conceito

[me-tafísico, ontológico] de causalidade empægando o exemplo tão concreto fomecido por nossa

antecipação do gosto de uma fatia dçWunt. Isso estimr¡lou o senso de humor de Einstein: "Seip Nachweis der Itausalität a priori ist wahrhaft erhebend.

"

l6EEinstein aBom,27 de janeiro del92O,Briefwechsel,pp.42-45. Seiaext¡emamenteinte¡essa+

te sabe¡ quais eram æ opiniões de Bom e de Stem. P¡ovavelmente, algumæ indicações estavam

contidas numa palestra sobre "l[ahrscheinlichkeit und Kausalität

in

der Physik", proferida por Bom na Physikalischer Verein, Franldurt, em 27 de julho de 1920 (Jahresbericht, I9L9-I925, p.107), mas que parece ter perinanecido inédita.

(8)

62

Pøul Form¿n

Tal

associação

entre

Spengler

e o

tema da acausalidade é certamente explícita na conferência que Wilhelm trVien

proferiu

em feræreiro

de

l92O na

Academia prussiana de

ciênciæ,

sob¡e

"As

Conexões

Entre

a Física e outras Disciplinas", apenas um mês depois [de

Einstein ter

escrito sua resposta a

Bom].

Anteriormente,

usei essa mesma confer€ncia para

ilustrar a

adaptaçâo camaleônica da ideologia do

físico

a mudanças havidas em seu meio

intelectual. Aqui,

porém, r€presenta a

primeira

de uma série de

tentativas de traçar uma

linha

de demarcação clara entre esse meio e a física enquanto empreendimento

cognitivo.

A

contradição aparente

reflete,

antes, a distinção que

fìz

na Parte

II,

entre æ peculiaridades centrais e periféricas da ideologia

cientffìca.

Wien estava

Pronto

a adiantar uma nova concepção dæ fontes e da função

sóciointelectual

da atividade

cientffica,

com o

propósito

de

toma¡

a empresa estimável aos olhos do

público; no

entanto, não

estava disposto

a

comprometer os cânones que julgava

es-senciais ao método

científico

e seus objetivos

cogritivos. A fonte

e o valor rærdadeiros da ciência

natural

residem numa "necesidade

intema

da mente humana", mas tal

(9)

ne-A

Culnm

de

lleimar

e

s

Teoria

Quântica

63 cesidade é de

um

tipo

particular de conhecimento;trata-se de

um'.ilesejo

de compre-ender a causalidade do curso dos fenômen os [die Kausalititt des Geschehensl"

.*

A

motivação de Wien em

incorporar

a causalidade à

própria

definição de ciência

na-tural

se toma evidente no

fìm

da conferência, quando ele abotdaA Decadência do Oci-dente. Apesæ de conceder que existe ampla evidência de que é acurada a caracterização que Spengler oferece para a situação

cultu¡al

de entÍio, Wien rejeita em

princípio

a no-ção de leis histôricas, de qualquer curso'necessário para a

história.

Qualquer

lei

desse

tipo

pode ser, e é, violada repetidamente

"por

expressões irracionais do espírito

huma-no".

Fazendo Spengler voltar-se contra Spengler, Wien enfatiza que, se pressupomos uma

lei

universalmente válida para o processo de envelhecimento das culturas e a usa-mos para predizer o

futuro

de nossa

cultura, "então

estamos reintroduzindo

nahistó-ria

uma causalidade

escondida".

Parafræeando

um

epigrama bem conhecido de Kant, "gostaria de

afirmar

que na

história

tanto

mais ciência histórica verdadeira quanto menos física ela

contenha.

( . .

.)

A

causalidade é a fundamentação da imagem do

mun-do físico,

mas se

trata

de uma

categorialDenlcforml

de nossa mente [Gei'sf],

nãopo-dendo ser empregada também para a análise do mesmo

espírito

fGeistf , cujos efeitos cabe à históri ca Íetratar." t1r

Depois de adotar a caugalidade de

modo

a obter uma separação entre sua

discipli-na e

o

meio,

lVien

tem

pela

frente

a tarefa de afasta¡ a

tentativa

de Spengler de

des-crever

a física como

culturalmente

determinada;

e,

eqpecialmente, de

refutar a

as-serção de Spengler de que, perdendo

t

"garta",

a física estava renunciando à causali-dade.

Foi a

Natureza que

compeliu

o físico

a recorrer crescentemente à estatística;

e

esta

não é

um

sinal de

"decadência",

nem de

qualquer abandono da causalidade.

Ao

contrário, toda

utilização

da

estatística "postula a

causalidade", mas

a

grande complexidade

impede

que as interconexões causais sejam traçadas

em

detalhe. Em 1914, Wien havia enfatizado que, de

todæ

as ciênciæ naturais, a física te1ncaé

aque-la

na qual

a personalidade

do

cientista

encontra

a

maior amplitude e

importância,

tanto na

construção

de

teorias quanto influenciando

o

rumo do

desenvolvimento

científico;

agora,

contra

Spengler,

ele

se preocupa especialmente em

enfatizar

que,

"por

mais

fortemente

que

a

formação de

modqs

de pensamento físicos dependa da

constituição

do

cientista, mesmo assim ela é determinada decisivamente pela nature-za das próprias

coisas".

Os resultados de Arquimedes concordam inteiramente com os

nossos,

e

os

de

hoje

serão,

com toda

probabilidade, utilizáveis pelos físicos de uma cultura

posterior.lz

tNota

do îadutor. Há ligeira disparidade, no original, ent¡e essas citações de Wiencomose

apre-sentam neste trecho e em trecho anterior (cf. p.39). A discordância, porém, reside apenas na

for-ma, permanecendo inalterado o sentido.

l?l W. Men, ob. cit, (nota 100); æ citações são respectivamente rtas pp. 20, 35 e 38-39.

l?2lbid,

p.37;

w.

wien, "Ziele und Methoden der theo¡etischen

physik

Fest¡ede

(...)

1914",

(10)

M

Pøul Forman

A

atenção que Wien confere a Spengler,

o

foco que dirige à questão da causalidade e seu esforço consistente em isola¡ a flsica

-

enquanto empreendimento

cogtitivo

gue

tem

na causalidade sua característica defìnidora

-

do meio histórico acausal e

irracio'

nal

em que d praticada,

tudo

isso sugere que ele sentia uma conexão

fntima

entre os

mqrmurios

traiçoeiros

contra

a

causalidade .que apareciam êntre seus colegas, de um

lado,

e

a brilhante expresão que

Spengler deu a certas cortentes poderosas que cir-culavam no milieu contemporâneo, de

outro.

III.3.

C;onversões à

Acauslidade, 1919'1925

70

anos de idade, que vieram

alu'

das Ciênciæ

Naturais".læ

APesar de leis da Natureza tenham sido elabora-das

muito

antes,

tanto

na mente quanto

nas conversas

do

eminente espectrocopista vienense, provavelmente jamais

foram

sequer incluldas nos cursos que

proferiu

antes da

guerra.rø

A

argumentação se

inicia

com a

aftmativa

de

que nenhuma de nossas

leis da Natureza

é

exata.

A

partir

desse postulado

-

e aqui talvez esteja a ligaçã'o com

tas'm

fim

do século

XIX

-

Exner

con-que

que'

se examinado de

modo sufì'

do,

o

que cai se

Ílostraráperfeitamente

aleatório,

dirigido

tão freqüentemente pafa cima como para

baixo.r?s A

aparente

obe'

diência a leis que descobrimos no ruvel macroscópico é

'txplicada"

por Exner

median-te

uma segunda tese: a de que todas as leis naturais macroscópicas têm caráter esen-cialmente estatístico, a regularidade sendo produzida

-

de algum modo, que Pefmane' ce

não-identificado

-

como resultado da colaboração de movimentos aleatórios. NÍio há, de maneira alguma, novidade na especulação de que todas as leis macroscÓpicas são

essencialmente estatísticas, de que nenhuma é

exata,

A

inovação reside no salto desse

preisuposto para a conclusão de que a causalidade deixa de se

verificar,

Nenhuma

jus-tifìcdtiva

é oferecida para

tal

salto, e Exner sequer aborda o problema de como

movi'

mentos microscópicos perfeitamente acausais podem resultar em regularidades estatfs-tica.

O experimentalista Exner assume uma postura radical

nominalista-empirista:

as leis absolutamente rigoroSas

"são uma

criação

do

homem,

e

não parte da

Natureza".

E t?3F.Exner, Vorlevngen über die physikølßchen Grundlagen det Naturwissenschøften (1a. ed', viena, 1919;

2u

ed. atrn., lnipzig e Viena,

t922\.

As Vorlesungen cruciais, da 86a à 94a., são idénticas em ambas as edições, em todos os aspectos essenciais. As citações qr¡e se seguem são do prefácio à primeira edição e dæ 93a^ e 94a- Vorlesungen.

r?AEvidêndas intemas pæsentes nessæ lições finais sobre as leis daNaturez4bem como areferên-cia que, no prefácio, Exne¡ faz a elæ como um "Anhang" [apêndice], sugglem que elæ jamais

foram proferidas como tais, mæ sinþtizadas durante a guerr4 quando o liwo foi esc¡ito' Con-tudo, ver a nota 158.

l?sf,l<r¡s¡sustentava

(11)

Þ

A

Cultum de

lleimar

e

a

Teoria

Quântica

65 tampouco temos

o

direito

de postular

"a

existéncia de uma causalidade

ab¡oluta",

me-nos ainda com base no

fato

de que ela é necessá¡ia para que possamos entender a Natu-reza.

"ANatureza

nfo

pergunta se o homem a entende Qu não, e não estamos aquipara construir uma Natureza adequada a nosso

entendimento;

nossa tarefa é, simplesmente,

lidar

com

aquilo

que nos é dado, da melhor maneira

possível."

Não obstante nõo con-seguir ao mesmo tempo manter consistentemente sua postura empirista e negÍIr catego-ricamente a existência de causalidade

no

nlvel microscópico, Exnet deseja fortemente

fazê-lo,

de

modo

"a

chegar a

uma

imagem

do

mundo

unifìcada",

em que

todaleié

puramente estatfstica,

um

mundo de

puro

acaso. PortantO, ele Se esforça ao

máimo

para convencer sel¡s leitores (leigos) da implausibilidade da existência de tal substrato causal,

indo

e voltando

-

e confundindo-as largamente

-

ent¡e as questões da validade das leis da mecânica clássica

no domfnio

atômico e da validade do

princípio

de causa' lidade no mesmo dominio.

Apesar de indubitavelmente influentes, as lições de Exner exibem, sob diversos

as-pectos,

um

ar arcaico. Exner é uma mistura curiosa das correntes filosóficas das duas gerações precedentes:

um

mecanicista-materialista confesso, mas ao mesrno tempo cla-ramente

um

positivista em

sua perspectiva acerca das estruturas

científìcas.

hatica-mente não há vestígios da Lebensphilosophie e

do

existencialismo, que figurarão tão proeminentemente na maioria das conversões

ulteriores.

Os desenvolvimentos mais re-centes da física a que ele se refere são o movimento browniano e a

radiatividade;

em seus esforços de lançar dúvidas sobre

o

caráter causal dos processos atômicos, Exner deixa de fazer menção a qualquer

tipo

de

"quantum".

Desse modo, o

primeiro

apelo

por

uma renúncia à causalidade é claramente independente dos problemas levantados pela teoria guântica do átomo ou da radiação.

Além

de

Exner,

o

primeiro

a

se levantar contra a causalidade

foi

Hermann Weyl. Este era

um

fenomenologista de

tipo

inteiramente diverso de seus ex-irmãos machia'

nos.

Um

pouco

antes

da

guerra, enquanto

hivatdozent

em Göttingen, Weyl

havia

caído

sob

a influência

do

programa

de

'fenomenologia

pura"

de

Edmund

Husserl. Essa fenomenologia

platônica

da

mente,

baseada

numa

intensa introspecção, devia sua origem

a

preocupações epistemológicas, mas, nesse

período,

degenerava em exis.

tencialismo.

A

primeira intrusão

e*pllcita

da perspectiva filosófica de Weyl em seu tta-balho

científìco

data

de

I9l7

-

sua

tentativa

de situar

o

contínuo

sobre uma

funda'

mentação intuicionista.l?6, r?? l![¿s, como

indiquei

na Seção

II.4,

Weyl logo se

tornou

r?óH. Weyl, "Erkenntnis und Besinnung (Ein læbensrückblick)", Studia Philosopåla (1954), æedi' tado nas Ges. AbhI. Vol. 4 de Weyl, pp. 631-649, recorda que em seus anos de estudante em

Göttingen, de 1906 a 1910, seu kantismo adolescente se transformouempositivismo

-eleleu

Mach, Poincaré e F. A. Lange

-,

e foi apenas pouco antes de sua partida para Zurique, em 1913,

"que Husserl me livrou do positivismo, dirigindeme outra vez para uma visão rnais livre do

mundo". O contato com seu colega foi mediado por Helene Joseph, que formavaente os nu-merosos estudante estusiásticos de Husse¡l e com quem rüeyl se casou em 1913. Menções

ex-plfcitas a Husserl aparcceñrm pela primeira vez ern Das Kontinuum (Berlim, 1918), esc¡ito em 1917, e na int¡odução a Raum

-kit-Mateie,la-

ed. (Berlim, 1918), com prefácio datado da

(12)

66

Paul Fortnan

o principal

campeio do

intuicionisno

brouwe¡ianq na Alemanha. O

fato

de que ele en_ xergava uma conexão

fntima

entre o

intuicionismo

na matemática e a acausalidade na

ffsica se mostra claramente em seu manifesto

inicial

contra a causalidade, ,,A Relação da Abordagem Causal com a Abordagem Estatfstica na

Física",

publicado em agosto

de l92}.r7E,t7e

,,A estatística

constitui

meramente

um

atalhopara certas

conseqüên-repetidas, semprc com total aprovaçâo, em seuPåÍIos ophy of Mathemotìcs ø¡td Natural Sclence (Prinæton: P¡inceton Unirærsitypæs, 1949), taduzidoparaoinglês daedi@o alení.de1927. Em contraparti

inægranæs:

os

seu¡

ihrer

physikatir

"îl

schung6 (1923)'pp. 385-560, nas pp. 387-388. Po¡ volta de lg21,ent¡etanto,

*.ornpro¡nil-sos.fenomenologistas de Weyl haviam sido abalados pelo sucesso da metamatemática

fõrmalis-ta: "Se a perspectiva de Hilbert prevaleoer sobre o intuicionismo, como parece æ dar, entíío

ve-jo

nisso uma decisíva denota para a atitude frtosôfrca da fenomøologlaþrro, q*,assim, se de

monstra insuficiente para a compreensão da ciência criativa

"té mes-ó nå área Oè óogrriçáo mAs fundamental e mais prontamenþ aberta à eúdência

-

a mateinática.,' (weyl, ob.

cit,

not¿ 139)

ver

tamtém Feter Beisswanpç "Hermann \ileyl and Mathematical Texts',, Røttò.g

(l%6i,

pp.25-45.

177ll¡¡3 descriçâo admi¡ável e singrfarmente inteligível

desse notável fenômeno intelectual é

fome-cida por Herbert Spiegelberg, The Phenomenotogtcat Movement: A Hístorícal

Int¡duction,

2u

ed"',2 vols. (Haia" 1965), qræ pode ser suplementado por Joseph

J. I(ockelmans e Theodorc J.

Kisiel (eds), Phenomenology and the Natu¡al Sciences: Essays

øtd

Ttørtsløtions (Evanston, Ill.,

1970).

176ll'

\{syl,

"Das Verhältris der kausalen zur

statistischen Betrachtungsweise

in

der physik,,, SclweizerßcheMedizinischeWochenschrift 50 (19 de agosto de t92O), pp. 737-j41,¡eeditado

em Weyl' Ges. AbhI. Vol. 2, pp.

ll3-I22.

Weyl havia preparado uma confì¡ência com esse

títu-lo pata um simpósio sobp

"A

Sigrificação da Probabilidadp pa¡a a C1éncia Natural e a

Medici-na", que havia sido organizado por Heinrich Z¿¡rlgga4 professor de medicina forense em Zu¡i-que' Pala o congresso anual da Schweize¡ische Naturforschende Gesellschaft em Lugano, setem-bro de 1918. Contudo, o congrcsso

foi

cancelado em virtr¡de de uma epidemia de gripe; tlesæ

mddo, a tgmada de posig'o rnnir

pr""o."

tle

ï

yl de que dispom æ é o aistruct de 500 palawas da confeéncia que ele profedu no ano seguinte, 8 de seæmbro de l9l9;Schweizerische

Nøtur-fonchende Gesellschaft, verhandlungen (1919), pa¡te 2,pp. 152-153. Esse abstract

tem a

mes-ma estrutura gsral do artigo publicado, condm jargão fenomenológico-existencialista

husse¡lia-no ("dæ

nu¡im

lVillen ertebte.'G¡und-sein"', etc.) e conclui.orn urnu afirmação dacrençade Weyl "de que na base da estatística existe um princípio independente, qu"r,ão poa. ser

¡eduzi-do

à

obstmct suçre ioræment, qo", no-

oot*o

de 1919, Weyl

ainala

qræ assumiria em agosto

e

lg2}

e que, em particular, ele

aindâ

xão com o intuicionismo na matemáicá; em 1919, o

repú-dio à causalidade e "der reinen Gesetzesphysik" baseava-se apen¿rs em sua incompatibilidade com

o "für dnser ganzes Erleben fun-damentale Einsinnigloit de¡ T:;it' .

rT9Embora deixe de menciona¡ Hermann Weyl nesse contexto, A. d'Abro, Decline of Mechmism

(Nova Yo¡k, 19 39), , reeditadoù com o

título

The Rise

of

the New phy,sics

,

1 vol. èm 2 (Nova

Yorlç 1952), pp' vti' 212, justificou a inclusâo de um capítulo

"t

rp.ito áe ..As Cont¡ovéniæ

sobre a Natuæza da Matemática" em sua exposi$o histôrica rla æoria guântica, com base em

que

'Em

nosa opinião, tais contrord¡siæ se originavam das mesmæ <liferenças

pri*tOE.",

qu.

pareciam æsponsáræis pela controvérsi4 entlio conente, a respeito Aop¡incípio

de causalidade na física-

"

Concluindo esse capítrf o, <t'Abro sugeria que "Poãe aé ser'diio qìe a física

(13)

moder-

T-A

Cultum de Weil¡ur

e

a

Teo¡iø

Quântica

67 cias de leis causais", Weyl pergunta,

"ou

ela

implica

que nenhuma interconexão cau' sal rigorosa governa

o

mundo e que, em vez disso, O 'acaso' deve ser reconheCido, ao

lado

da

lei,

como

um

poder independente que restringe a validade da

lei?

Os ffsicos,

hoje,

são unânimes

em

defender a

primeira

dessas

opiniões".

Mas ontem; na

prima'

vera de 1918, Weyl também efa dessa

opinião;

em sua proposta de extensão da teoria

da

relatividade, ele havia

feito

uma

"tentativa",

como admitia,

"de

leva¡ adiante a

idéia de

uma

pura física

de

leis

para

a

totalidade

do mundo".rm

Agora, porém, Weyl muda ¿e i¿¿ia e se coloca em oposição à

opinido dominante.

Por que? Ele não está completamente satisfeito

com

a mecárúca estatística clássica e com o tratamento dos fenômenos de

flutuação;

mas a questão principal, como ele admite, é que

finalmente, e acima de tudo, é a essência do contínuo que não pode ser apanhada como uma coisa existente

í$da

þtanl,

mas apenÍrs como algo que se encontra no

ato de

ufi

nuncø completado ptocesso internamente di¡lgido de devir.

(.'.)

Num dado contíwo, é claro, esse p¡ocesso de devir pode apenas ter alcançado um oelto

ponto; ou seja, as reiapes quantit¿tivas em uma palte ,S do mundo leste considerado como um contínuo quadrimensional de eventos] dada intuitivamente sa-o me¡amente aproximadas, e apen:u¡ determináveis com certa latitude, não somente como conse¡'

qüência da precisâo limitada dos meus órgãos sensoriaís e instfumentos de medida,

mas porque tais relações szþ em si mesfnas qfetodas pot uma esrtcie de vagueza.

(...)

E

apenæ 'Tro fim dos tempos", por æsim dizer'

(.'.)

o plocesso nr¡nca

com-pletado

e S mantém em si mesmo aquele grau de

defini-ção

que

como seu ideal.

(...)

Dessa manei¡a, a pressão

rlgida

þ

se ¡elaxa e, sem prejuízo davalidade das leis na-turais, há espaço pøta decisões autônomas føntscheidungenl causalmente

independen-tes de modo abloluto umas das ouffas,

cljo

lugar [locus] conside¡o sel o quantum

elementar da matéria. Tais "decisões" são o que de fato é reø! no mundo, r81

Citei

longamente Weyl

tanto

porque ele

próprio

se alonga qua1to porque opiniões

e motivos

tão radicalmente existencialistas

muito

provavelmente seriam considerados

incríveis,

caso

lhe

fossem mer:rmente

atribrldos,

Mæ,

nitidamente, tais

motivos

são

primordiais. Weyl

resolveu abandonar

o

ideal de uma pura física de campo

-

para a

qual havia trabalhado

tanto,

e na qual havia conseguido resultados tão espetaculares

-e adotar a matéria, ou antes o

livre-a¡bftrio

desta, como arealidade

final.

Do mesmo

modo como a

geometria antes de Einstein,

o

campo e suas leis tra4sformaram-se em simples

pano-de-fundo. Por

qud? Porque isso parecia necessftio pafa escaPaf ao de-terminismo envolvido

no

conceito de

campo.

No outono de 1919 e no verão de

1920,

na está testemunhando a mesma ôrise que estivemos discutindo na matemática: os teóricos

quânticos ocup:rm a posição dos intuicionistas, enquarito Einstein e Planck assumem a dos for-malistas." Julgo que a conþctura de d'Abro é, essencialmente,

coÍeta-raoq.Weyl, Ges. Abhl.Vol.2, pp. LI6-IL7;"G¡avit¿tion und Etektrizität';,heuss.Akad.derWiss., Be¡Iin,'sitzungsber.(30demaiode1918),pp.465-480,reeditadonæGe¡.

AbhLYol.2,pp'

29-42e traduzido, com notas adicionais, em H. A. Lo¡entz et. al., The hinciple of Relativily

(Lond¡es, 1923; ¡eeditado em Nova Yorlç L952),9p. 2Ol-2L6. 181H. ll/eyl, Ges. Abhl. Vol. 2, pp. l2I-122.

(14)

68

Pøul Fortnon

weyl

não

diz

uma palawa sequer a reqpeito do quantum de açâo de

planck.

Evidente-mente,

ainda não lhe havia

ocorrido

que a teoria quântica poderia ser recrutada para proporcionar uma base

flsica

ostensiva para seu repúdio existencialista da causalidade. Foi apenæ no outono de

lg2o,enquanto

preparava a quarta edição de

Espaço-Tempo-'Matéria,

que

lveyl

acordou para a teoria quântica, compelindo - o a dizer, "cla¡a e

dis-tintamente,

que em seu estado presente a física simplesmente não é mais capaz de sus.

tentar

a crença numa causalidade fechada, apoiada sobre leis rigorosamente exatas, pa-ra a Natureza

material".

E

aqui lVeyl acrescenta também aquela consideração

existen-cialista

crucial, que

o

acompanha há algum

tempo

-

o

reprldio do

determinismo res-mais fundamental de

nosa

experiência

priori.t62

Assim,

'hão

apenas se restau-também a idéia genufna de causalidade, do modo mais

imediato

em nossa von-tade, acorda para uma nova vida. Ta:tada de fetichismo

por

Mach

(...)"

dtc.,

etc.l83

claro

-

e,

de

fato,

é caracterlstico dos acausalistas

-

que o

tip

dial

que Weyl

atribui

à matéria simplesmente não

é

aespécie

de

cogniçâo física. Desse

modo,

ao levar zua ..teoria leibniziana d¿

matéria

enquanto

agente'

à conclusão lógica

no

verão de

l924,wey|é

levado de

volta ao campo como a realidade

f'sÍca,primordial:

a partlcula primordial em si mesma não é sequer um ponto no espaço, mas algo

situa-î

ao Ego, cujas ações,

si

atavés de seu corpo

o

a essência int¡ínseca

desse agente produto¡ de campos

-

talvez a úda e a vontade

-,

na flsica

considera-mola apenas em temos das ações de campo que excita; e somos capazÊs de

caracte-rÞá-las numericamente (carga, mæsa) apenas em virtude dessas ações de campo.r8/t

weyl

tornou$e

capaz de æ reconciliar com tal resurreição do campo

porçe

julga-va

ter

finalmente encontrado uma saída para a proposição de que as teorias clássicæ

de

campo

incorporam e

impõem a concepção laplaciana de causalidade.

Num

artigo semi-popular, escrito em

forma

de diálogo, ele argumenta que, '.de acordo com a

teo-ria

da relatividade geral,

o

conceito de movimento

relativo

de diversos corlìos uns em relação aos

outros

é tão

pouco

sustentável quanto

o

de movimento absoluto de

um

único corpo".

conseqüentemente,

o princfpio

da causalidade não pode envolver tais

182

rE3l{' wsyl, "Feld und Materie', Annalen der physik 65 (1921), pp. 541-563,

recebido em 2g de maio de 1921; reeditado nas Ges. AbhL yol. 2 de Weyl, pp. 237-2Í9,na p. 255.

ttoT:Y"Il,^

':y1

irl

Matede?" Noturwiss. 12 (11, 18

e

25 de julho

e

rgi/;),

pp, 561_569,

(15)

A

Cltlnm

de

Weimm e

a

Teoriø

Qwântica

69 estados insustentáveis de movimento,

reiluzindo+e, portanto,

à afirmativa de que

"o

mundo

dos eventos depende apenas da carga e da massa de todas as partlculas

mate-riais,

e

deve ser determinado inequivocamente

por

elas. Como isso é obviamente

ab-surdo

(...),

aquele

princlpio

de causalidade deve ser abandonado."las

b.

Verõo e Outono de

1921:

Von Míses, Schottky,

Nernst

et. al.

Durante

o

verão

e

o

outono

de

1920, as conversões quase-religiosas à acausalidade, das quais Weyl fomece o exemplo mais precoce, tornaram'se um fenõmeno corriqueiro na comunidade dos ffsicos alemães. Como que varridos por um grande despertar

cole-tivo, um

atrás

do outro

os flsicos postaram-se

frente

a uma audiéncia acadêmica

pú-blica

para renunciar

à

doutrina

satânica

da

causalidade

e pata

proclamar

a notícia

alvissareira de que os flsicos estavam prestes a

liberar

o

mundo de seus vlnculos com

ela.

Os casos

de

que

tenho

conhecimento sâ'o

os

de Walter

Schottky

em

junho,

Ri'

cha¡d von Mises em setembro, Walther Nernst em outubro.r só

Particula¡mente interessante é a conversão de von Mises à acausalidade. Não apenas

porque

mostra quão subitamente

tal

regeneração podia

ter

lugar e como independia essencialmente das difìculdades encontradas

na ffsica

atômica, mas também polque

proporciona

evidência príma

facie

de uma conexão direta entre

o

repúdio da causali-dade

por um

rebento

fiel

do

positivismo

austrlaco

e

sua capitulação

à

lleltschmerz de

A

Decadêncio

do

Ocidente,

de

Spengler,

Na

aula inaugural

(e

de

despedida) de

von

Mises

na

Technische Hochschule de Dresden,

proferida

em fevereiro

de l92O

e

do

modo

como

foi

publicada em agosto, a causalidade ainda era manejada,

natural

e

não-pejorativamente,

como

sendo equivalente

à

explicação

física. "I.Ioje

testemu-nhamos

como

um

campo de

fenômenos,

novo

e

simplesmente enorme,

a

multipli'

cidade dos elementos químicos,

é

trando

para

o

domínio da

explicação

causal."

E

von

Mises considerava tranqiülamente

que

o

objetivo

da

ffsica

atômica,

como o

de

toda

ciência natural, é e deve ser

"explicar

todos esses fenômenos com base em alguns poucos

princípios,

revelar sua causalidade".lE?

No

entanto, quando se dirige â

aten-ção ao

apêndice permeadamente spengleriano que, em setembro de L927,

von

Mises

adicionou à

republicação dessa aula inaugural, encontra+e uma

atitude

inteiramente transformada com respeito à causalidade

-

como em relação a tanta outra coisa.

To'

do proceso

elétrico, térmico, óptico,

é

um

fenômeno estatístico, e como

tal

funda-mentalmente

incompatlvel com

o

conceito de causalidade. Enquanto nos basearmos l8sH.Weyl, "Mæsentr?lgheit und Kosmos.

Ein

Dialog", Noturwiss. 12

(I4

de março de 1924),

pp. L9.7-204;Ges. Abhl. Vol. 2, pp. 478-485,

1¡ó\Y.Schottlry, "Dæ Kausalproblem der Quantentheorie als eine Grundf¡age der modemen

Natur-forschung überhaupt. Versuch einer gemeinventlindlichen Darstellung", Naturwiss. 9 (24 e 30

de junho deI92l),pp.492-496,506-511;R.vonMises,"Übe,rdiegegenw¿irtigeK¡isederMe-chanik" (ob cit., nota 143); W. Nemst, Zum GüItígkeitsbereich det Naturyesetze (Berlim, 1921), 26 pp., reeditadoemNaturwiss. 10 (26 de maio

e

1922), pp.489-495. Essaé aaulainaugu-ral de Nemst como reitor da Universidade de Berlim, 15 de outub¡o de 192I.

(16)

7O

Paul Forman

nese

conceito,

"a

teoria quântica, e tudo o que se relaciona com ela, parecerão

consti-tuir

um

enigma

insolúvel.

Quem quer que trace a história da cognição física não pode deixa¡ de reconhecer que esse terreno exige inexoravelmente

-

o

que está sendo gra-dualmente

feito

-

umø alteração essercial de nosso modo de pensamento, de

todo

o esquema da'explicação

flsica'."l88

Deve+e

admitir

que

von

Mises

invocou

a

teoria

quântica

como a

ocæião p:lra o

repúdio

da causalidade. Mas ele não estava dísposto

a

fazet disso rz¿ís

do

que a

oca-sião;

em

particular,

não pretendia que sua

própria

disciplina, a mecânica clássica

apli

cada, permanecesse marcada

pelo

estigma da causalidade. Naquele mesmo mês de

se-tembro de

1921,

por

ocasião do

primeiro

congresso anual alemão de física e

matemá-tica,

von Mises ofereceu a seus colegas uma conferência

-

ou melhor, fez

uma'confìs-são pública perante seus iguais

-

"Sobre a

Atual

Crise na Mecânica".

Apæsentada do modo mais conciso, a pergunta

-

em cuja resposta negativa reco nheço a crise no estado atual de mecânica

-

se coloca da seguinte maneira: podemos

continuar a assumir que todo os fenômenos de movimento e equilíbrio que observa

mo6 em corpoa visíveis são explicáveis no âmtúto dos axiomas newtonianos e de suas

exþnsões? Em outras palavræ, é possível que o cu$o iemporal de todo movimento em uma porção arbitrariamente delimitada de mæsa seja dete¡minado inequivoca-menæ por meio da especificação do estado inicial e da suposiçâo d,e que aþuma lei de força apropriada esbja atuando?

(...)

Tudo o que desejo tentar mostar aqui é qræ

os fatos acumulados de que somos hoþ poesuidores tomam evidente ser altamente

improvável que esse obþtivo da mecâqica clássica posa jamais. ser concretizado, e

que outras considerações, perfeitamerlte definidas e não mais estranhas, estão

desti-nadæ a aliviar:ou suplementar aestrutura causal rígida fden starren Kausalaufboul

da teoria ciássica

(...1

seja o sacriflcio grande ou pãqo.io, seja ele fácil ou difícil,

paæce-me inevitável declarar, ao mesmo tempo clara e francamente, que na mecà nica puramente empírica exisþm fenômenos de movimento e equilbrio que.para

sempre escaparão a r¡ma explicação com bæe næ equações diferenciais da mecânica

'(...

).rD

Não se pode deixar de se choca¡

com o

tom

de

"eu

também" presente no repúdio de

von

Mises

à

"estrutura

causal

dgida"

da mecânica clássica e em sua apresentação de

tal

renfurcia como

um ato

de

virtude

moral.

E,

no

entantq

precisamente esse

tom

suger€ que

uma

conversão à acausalidade trazia consigo rÌma valorização social

sigri-fìcativa,

rccompensas sociais

tão

substanciais que

von

Mises

não

conseguia suportar que os flsicos atômicos æ monåpolizæsem.

Apesar de lVeyl

ter recorrido

à mecânica quântica em busca de apoio e muniçao para s€u ataque à causalidade, Walter

Schottþ

parcce

ter

sido o

primeiro físico

atd

mico

a

publicar

um manifesto acausal,

tratando

"O

Problema da Causalidade na

Teo-ria

Quântica

como

Questâo Básica

para

a

Ciência

Natural

Moderna

como

um

To

do".rs

Publicado em

junho

de

l92l

com

o

subtltulo

"Tentativa

de uma Exposição

taE/þ¡6f., p. 3Q.

r8eR. v. Mises, ob.

cit,

(nota 143\,SelectedPøp¿¡s Vol, 2,pp.482,487. teoW Schottky, obciù (not¿ 18ó).

(17)

l-A

Cultum de

lUeímar e

a

Teoria

Quôntica

jl

Popular",

esæ artigo é claramente uma versão ampliada de alguma conferência

-

mui-to

provavelmente,

urna

aula

inaugural

como

hivatdozent

em física aplicada na

Uni

versidade de Würzburg, onde

Schottþ

havia ingressado após vários anos nos

labora-tôrios

de pesquisas da Siemens e da Halske, em

Berlim. Schottþ

sente-se seguro de

que,

apesar de estar acostumado a considerar as leis rigorosas da física como modelo e ideal para

"toda

contemplaçao analltica da Natureza", sua audiência receberia bem uma exposição

histórica

geral

da

"crise",

da "revolução na concepção básica da for-ma e

âmbito

das leis ffsicast', que estava em preparação.lel

Na primeira

parte

do artigo,

Schottþ

constrói a proposiçâo de que o campo

eletro

magrrético e suas variáveis estão acabados, condenados. Pois, argumenta ele com lógica impecável, se não conhecemos as leis da interação de átomos com a radiação e, apesar disso, é só

por intermédio

de suas interaçoes

com

a matéria que podemos observar as

quantidades

do

campo eletromagnético, então essas "variáveis de estado da teoria de

cÍrmpo

(...)

não

mais

possuem

qualquer signifìcado

para

a

pesquisa

científica".

Após

admitir

que

"por

enquanto essa é uma conseqüência que

muitos

poucos físicos

aceitaram",

Schottþ

pergunta imediatamente

que

tipo

de

quantidades observáveis, e que

tipo

de conexões entre elas, devem ser colocadas no lugar do campo

eletromag-nético. E

a

resposta: "Parece que a

própria

lei

da causalidade, com seu

condiciona-mento completo

dos

fenômenosfuturospor

aquelespresentes epassados,

(...)

é pos-ta em dúvida."le2

É

o bastante quanto à primeira

parte.

Na segìrnda, encontrarnos de

volta

ao

traba-lho

as variáveis e equaçoes convencionais do campo eletromagrrético; tudo o que resta da

"análise"

anterior

é

a insistência de que qualquer solução para o problema da inte-ração

entre

átomos

e

radiação deve cancelar a causalidade.

A

primeira

sugestão de

Schottþ

é a conjectura, freqüentemente

recorente,

de que as equações de campo

de-terminam

meramente

a taxa

com que os processos quânticos elementares têm lugar. Mas essa

"salda,

à

primeira vista

muito

atraente,

é

impassável",

pois

Einstein havia

mostrado que,

devido a

inexatidão

na satisfação das leis de consewação, ao cabo de

tempos sufìcientemente longos seria possível

obter,

a

partir

do nada,

um

movimento

com

velocidade arbitrariamente grande

-

aspecto que escaparia

a

Born,

Kramers e

Slater três anos mais tarde.

Em

æguida

Schottþ

volta-se para sua idéia

predileta,

de que existe uma conexão direta entre os átomos que emitem

e

os que absorvem radiação,

por

meio

daaçãore-tardada

à

distância; de

modo

que,

no

momento em

que

um

quantum é

emitido,

está predeterminado onde, quando

e

por

qual átomo

será absorvido.

não seria isso causalidade

com

desforra,

uma física

à

ls

Calvino?

Foi

certamente desse modo que

Tetrode

-

um físico

teórico holandês imerecidamente obscuro*

-

apresentou a

. Noto do tradutor. Seu nome é associado à chamada expressão de Sackur-Tetrode para a entropia de um gás monoatômico.

ret Jbid., p. 4g2.

(18)

72

Paul Forman

situação exatamente

um

ano mais tarde, ao

publicar

as linhas gerais de uma teoria

ba-ontudo, isso sequer passa pela cabeça de

Schottþ;

salidade, derivado do

fato

de que não é mais

possf-como

um

fluir

contfnuo

e

uniforme",

de que as a emissão e a absorção se estendem

infìnitamelite

para o passado e para o

futuro,

tomando

imposível,

em

princípio,

prever o

futuro

a

partir

de

uma

seção

do mundo

num

dando

momento.

E

finalmente,

para

tornar

a

ta e sem

efeito direto",

"fora

da relação de causa e

efeito".ts

Isso quanto ao Privatdozenr

Sdrottþ.

Mas a demonstração do fracasso da causali-dade oferecida

quatro

meses mais tarde

pelo

Geheimrat

hofessor

Walter Nemst em sua aula inaugural como

reitor

da Universidade de

Berlim

-

e que produziu repercr¡¡i-sões corespondentemente matores

-

teria sido menos tendenciosa, menos ræa e fala-ciosa?

Difìcilmente.

Também neste caso o mais surpreendente é a intenção do autor de

fazer naufragar a

lei

da causalidade, por bem ou por mal. E sua motivação é

suficiente-mente

clara:

"Mas podem a

filosofia e

a ciência natural de

fato

afirmar

com certeza que, Por exemplo,

toda

ação humana é

o

resultado inequívoco de circunstâncias pre. dominantes

no

momento? Se leis naturais absolutamente rigorosas controlasseni o cup

so

de todos os eventos, seria praticamente impossível escapar de

tal

conclusão." Mas a

fìlosofia

só adotou essa posição porque

foi

tiranizada pelæ ciênciæ naturais exatas, cuja "concepção do

princípio

de causalidade como uma

lei

da Natureza absolutamente rigorosa amarrou a mente

lGeßtlem

botæ espanholæ;* portanto, é obrigação atual da pesquisa na ciência

natural

afrouxar sufìcientemente esses cordões, para que o

liwe

ca-minha¡ do pensamento fìlosófìco não mais seja.tolhids".tes

em

primeiro

lugar, que o

princípio

da s exatas; mæ nenhuma das leis que co. smo, que a causalidade não se verifique.

r'Nòta do tradutot' Bota espanhola: instrumento medieval de tortura que, aplicado às pernas e pés

d,a vítima e apertado, provocava seu esmagamento.

mana; portanto,

p

ção? O resultado é notaval_

mente

semelhante

tromagréticose tomairreal,

a consenraçâo de

e

_, mas com objetivo exata_

mente oposto, isto

1e41ry.5"¡ottry, ob. cit. (nora 186), pp. 509-511.

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