• Nenhum resultado encontrado

Universidade Federal do Rio de Janeiro. Há muito tempo atrás Um estudo sobre haver + nome com valor temporal. Maíra Silva de Paiva

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Universidade Federal do Rio de Janeiro. Há muito tempo atrás Um estudo sobre haver + nome com valor temporal. Maíra Silva de Paiva"

Copied!
168
0
0

Texto

(1)

Há muito tempo atrás

Um estudo sobre haver + nome com valor temporal

Maíra Silva de Paiva

(2)

Livros Grátis

http://www.livrosgratis.com.br

Milhares de livros grátis para download.

(3)

Maíra Silva de Paiva

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como requisito para a obtenção do Título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).

Orientadora: Professora Doutora Marcia dos Santos Machado Vieira.

Faculdade de Letras - UFRJ 2010

(4)

Maíra Silva de Paiva

Orientadora: Marcia dos Santos Machado Vieira

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).

Examinada por:

_____________________________________________________________________ Presidente, Professora Doutora Marcia dos Santos Machado Vieira – Departamento de Letras Vernáculas da UFRJ

______________________________________________________________________ Professora Doutora Eliete Figueira Batista da Silveira – Departamento de Letras Vernáculas da UFRJ

_____________________________________________________________________ Professora Doutora Vera Lucia Paredes Pereira da Silva – Departamento de Linguística e Filologia da UFRJ

______________________________________________________________________ Professora Doutora Maria Aparecida Lino Pauliukonis – Departamento de Letras Vernáculas da UFRJ

_____________________________________________________________________ Professora Doutora Maria Maura Cezario - Departamento de Linguística e Filologia UFRJ

Rio de Janeiro Fevereiro de 2010

(5)

Há muito tempo atrás - Um estudo sobre haver + nome com valor temporal. / Maíra Silva de Paiva Rio de Janeiro: UFRJ/FL, 2010.

xvi, 165f.:il.; 31cm.

Orientadora: Marcia dos Santos Machado Vieira

Dissertação (Mestrado) – UFRJ/ FL/ Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, 2010.

Referências Bibliográficas: f. 147 - 156

1. Funcionalismo 2. Caracterização das expressões temporais formadas por haver 3. Gramaticalização de haver I. Machado Vieira, Marcia dos Santos. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas. III. Título.

(6)

In absentia:

Dedico este trabalho à minha doce e amada mãe, Dolores, a maior responsável por essa conquista.

In praesentia: A

Mirla, minha irmã, por todos os sacrifícios feitos para me manter estudando, e por ter gerado a Luiza, um lindo presente que trouxe a alegria de volta a minha vida.

Eduardo, meu amigo e namorado, pela paciência, companheirismo e cumplicidade.

(7)

Primeiramente, a todos da minha família, por estarem a todos os momentos ao meu lado dando força sempre que preciso e pelos sacrifícios para que eu pudesse me dedicar ao Mestrado.

À minha orientadora, Marcia dos Santos Machado Vieira, por ter me apresentado à pesquisa científica, pelos ensinamentos, pela paciência com os prazos e, em especial, pela confiança por ter me dado, sempre, bastante liberdade para criar, mudar, repensar e produzir, ao meu tempo, este trabalho.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas e em Linguística, por todos os ensinamentos ao longo de minha trajetória acadêmica que me impulsionaram e me fizeram crescer acadêmica e profissionalmente.

Às professoras Eliete Figueira Batista da Silveira, Vera Lucia Paredes Pereira da Silva, Maria Aparecida Lino Pauliukonis e Maria Maura Cezario por terem gentilmente aceitado participar da banca examinadora.

Ao meu querido amigo Thiago Giamattey, pelo companheirismo desde os primeiros passos na iniciação científica até hoje (“pegamos” muito!). Agradeço muito pelas maravilhosas discussões, sobre todos os textos lidos, por ter despertado em mim grande interesse em diferentes assuntos, devido a sua total sede de conhecimento.

À minha amiga Alessandra de Paula, que em pouco tempo se tornou extremamente importante em minha vida. Minha companheira nas aulas de mestrado, parceira nos desesperos dos trabalhos produzidos. Agradeço pela paciência nas minhas crises e nas nossas discussões, muitas vezes calorosas.

A Rodrigo Campos Ribeiro, pela amizade (furona), pelas conversas sérias e a cumplicidade. Em especial, pelos diversos momentos divertidos junto com a Alê e o Thiago, pelas nossas “farrinhas”.

(8)

Iniciação Científica, me ensinando e guiando nos primeiros passos e pelos trabalhos em conjunto. Em especial, à Giselle, pelas ajudinhas, até mesmo via telefone.

À Ana Paula Klem, à Adriana Rodrigues, à Cristina Marcia Monteiro de Lima Correa, à Daniely Cassimiro de Oliveira Santos, à Maria de Fátima Vieira e a Vinícius Maciel de Oliveira, pela companhia nos congressos e pelos divertidos momentos na F-310.

À minha querida amiga, Nivia, que me atura, há quase 15 anos, com muita paciência e companheirismo.

À Ana Paula, a Elson, à Mariana Corrêa, à Mariana Monteiro e a Wagner Santa Cruz, pela amizade. E às amigas Aline Oliveira, Graziele Guerra, Luciane Sant’ana e Renata de Carvalho, por estarem ao meu lado desde a infância e por torcerem por mim, mesmo que distante.

Aos meus alunos e ex-alunos, por terem me proporcionado a descoberta do amor que tenho por minha profissão.

Aos informantes que aceitaram produzir os textos narrativos e participar dos testes de atitudes. Aos professores que me concederam um pouco de seu tempo e ‘emprestaram’ seus alunos para que eu pudesse propor o tema das narrativas e aplicar os testes. Aos colegas de profissão e de pesquisa que me cederam redações.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelas bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) e de Mestrado, que muito auxiliam e estimulam o envolvimento nas pesquisas acadêmicas.

A todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente para o desenvolvimento desta pesquisa.

(9)

E falamos do tempo e do tempo, dos tempos e ainda dos tempos: “Quanto tempo ele falou?, “Quanto tempo ele levou para fazer isso?”, “Há quanto tempo que não vejo isso?” e “Essa sílaba tem o dobro do tempo de uma sílaba breve”. Dizemos essas coisas, ouvimo-las, os outros compreendem quando as dizemos, entendêmo-las. São claríssimas, utilizadíssimas e, no entanto, nada é tão obscuro, nada tem uma interpretação tão fora do domínio corrente.

(10)

Parte desta pesquisa foi desenvolvida com financiamento do CNPq (03/2009 – 02/2010)

(11)

SINOPSE

Análise funcionalista dos usos das expressões formadas pelo verbo haver + Nome/Sintagma Nominal com valor temporal nos gêneros narrativa escolar e notícia jornalística. Investigação sobre a gramaticalização de haver em tais expressões com base no comportamento observável em textos e na percepção de falantes do Português

(12)

A presente dissertação focaliza o comportamento semântico e morfossintático das expressões formadas pelo verbo haver + Nome/Sintagma Nominal com valor temporal, a partir de uma amostra de dados do Português Brasileiro dos gêneros narrativa escolar e notícia jornalística.

A pesquisa lida com as características funcionais das expressões temporais, o estatuto do verbo haver na função de elemento integrante de tais expressões e seu, possível, estágio de gramaticalização. Descreve o comportamento desse verbo, considerando o processo de especialização semântica e morfossintática, as motivações e as restrições desse processo.

A análise pauta-se em pressupostos da Teoria Funcionalista, da qual se adotaram os conceitos de transitividade, planos discursivos (Hooper & Thompson, 1980), status informacional (Chafe, 1984) e gramaticalização (Heine, 2003; Hopper, 1991 e Bybee, 2003).

Tratam-se separadamente os dois gêneros textuais, respeitando-se os contextos discursivos. Ao exame de dados do uso, somam-se observações resultantes da pesquisa em obras didático-pedagógicas e da pesquisa por meio de testes de atitudes aplicados a alunos de diferentes níveis de escolaridade (graduação, ensino fundamental e médio) e delineados com inspiração em metodologia laboviana de testes de atitude.

Em linhas gerais, constata-se que há diferenças entre os dois gêneros textuais nos usos das expressões temporais em estudo. Destacam-se, contudo, características comuns: a estrutura haver + numeral/pronome indefinido + substantivo com valor temporal, o ponto de ancoragem temporal no momento de enunciação e a predominância de ocorrências em plano discursivo de fundo. Sobre o verbo haver compondo a expressão, assume-se que esse item está gramaticalizado, é um elemento instrumental formador de expressão adverbial. Palavras chave: Funcionalismo, Gramaticalização, Expressão temporal, Haver

(13)

This dissertation focuses on the semantic and morphosyntactic behavior of expressions formed by the verb haver + Noun/Noun Phrase with temporal value, from an sample of Brazilian Portuguese data of school essays and journalistic news.

The research deals with the functional characteristics of temporal expressions, the status of verb haver (there is) on that kind of expressions and its possible stage of grammaticalization. It describes the behavior of this verb, taking into account the process of semantic and morphosyntactic specialization, its motivations and restrictions.

The analysis is guided by some Functionalist theory's presuppositions, such as concepts of transitivity, discourse level (Hopper & Thompson, 1980), informational status (Chafe, 1984), and grammaticalization (Heine, 2003; Hopper, 1991 e Bybee, 2003).

The two textual genres previously mentioned have been treated separately, taking into account their discursive contexts. Besides the data analysis, it has done an observation of didatic-pedagogical works and material obtained from subjective evaluation tests, which were based on sociolinguistics methodology of attitude tests, applied to students of different levels of education.

Overall it has seen that there are differences between the two textual genres in regard to the use of temporal expressions in exam. Nevertheless they share some characteristics: structure haver + numeral/indefinite pronoun + noun with a temporal value; temporal anchorage point located on the moment of enunciation; and predominance of occurrences on discursive background. It is also assumed the verb haver composing the past time expression is grammaticalizated, it is an instrumental part of the adverbial expression.

(14)

ÍNDICE DE QUADROS, FIGURAS E TABELAS... 15

INTRODUÇÃO... 18

1. Revisão bibliográfica sobre haver e expressões de tempo passado... 24

1.1. Origem e primeiros usos de haver... 24

1.2. Descrições sobre haver em dicionários de Língua Portuguesa... 27

1.3. Descrições sobre haver e expressões de temporais/advérbios em gramáticas da Língua Portuguesa... 31

1.4. Descrições sobre expressões de tempo decorrido em Gramáticas descritivas e textos acadêmicos... 36

2. Pressupostos teóricos... 42

2.1. Teoria Funcionalista... 42

2.1.1. Transitividade e planos discursivos... 44

2.1.2. Fluxo de informação... 50

2.1.3. Processo de Gramaticalização... 54

2.2. Gêneros e tipologias textuais ... 59

2.2.1. Notícia jornalística... 64

2.2.2. Redação/narrativa escolar... 68

3. Metodologia... 71

3.1. Dados do comportamento observável... 71

(15)

3.2. Testes de atitude... 76

3.2.1. As principais orientações teórico-metodológicas... 77

3.2.2. Os testes analisados... 78

3.2.3. Procedimentos de análise dos testes de atitude... 80

4. Expressões temporais com o verbo haver... 81

4.1. Caracterização das expressões... 81

4.1.1. Análise estatística sobre as expressões nas narrativas escolares... 90

4.1.2. Análise estatística sobre as expressões nas notícias jornalísticas... 99

4.1.3. Comparação entre observações feitas nas redações e nas notícias... 107

4.2. As expressões temporais nos planos discursivos figura e fundo... 110

4.3. As expressões temporais no fluxo informação... 117

4.4. O comportamento semi-gramatical de haver nas expressões temporais. 122 5. Considerações finais... 143

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 147

(16)

QUADROS

Quadro 1 – Usos pessoais do verbo haver... 29 Quadro 2 – Usos impessoais do verbo haver... 30 Quadro 3 – Usos pronominais do verbo haver... 30 Quadro 4 – Componentes considerados em relação à transitividade por

Hopper e Thompson (1980)... 44 Quadro 5 – Fatores considerados na individualização do Objeto por

Hopper e Thompson (1980)... 45 Quadro 6 – Caracterização de gêneros e tipos textuais segundo Marcuschi (2002)... 59 Quadro 7 – Quadro adaptado das características da tipologia textual

narrativa... 60 Quadro 8 – Distribuição dos dados: textos consultados e textos utilizados.... 71 Quadro 1 – Distribuição dos testes pelos níveis de escolaridade... 77 Quadro 2 – Posições dos adjuntos adverbiais segundo Martelotta (1994)... 85 Quadro 11 – Adaptação das cadeias de gramaticalização propostas por Travaglia (2003)... 133

FIGURAS

Figura 1 - Organograma adaptado da constituição do sistema temporal

segundo Fiorin (1996)... 82 Figura 2 – Pontos de ancoragem da expressão temporal ... 82

(17)

funcional... 133

GRÁFICOS Gráfico 1 – Configuração Gráfico 1 – Produtividade das expressões temporais nos textos consultados... 91

Gráfico 2 – Configuração do elemento nominal formador da expressão em delimitável ou não delimitável... 92

Gráfico 3 - Valor da expressão: durativo ou pontual... 94

Gráfico 4 – Posição da expressão no texto nas notícias... 103

Gráfico 5 - Posição da expressão na predicação nas notícias... 104

Gráfico 6 – Comparação entre aspectos durativo e pontual nas redações e nas notícias... 108

Gráfico 7 – Posição da expressão na predicação em narrativas e notícias... 109

Gráfico 8 – Planos discursivos nas redações e notícias... 117

Gráfico 9 – Status informacional nas narrativas e notícias... 114

Gráfico 10 – Fluxo de informação nas porções textuais... 120

TABELAS Tabela 1 –Distribuição dos dados das narrativas escolares pelas porções textuais... 92

Tabela 2 – Distribuição dos dados das narrativas escolares pelas posições das expressões na sentença... 93

(18)

Tabela 4 – Distribuição das expressões temporais entre O Globo e o Extra em relação ao aspecto e ao termo ao qual a expressão se liga... 97 Tabela 5 – Posição da expressão no texto nos dados do jornal O Globo e

Extra... 100 Tabela 6 – Distribuição das expressões por seções dos jornais... 102 Tabela 7 – Produtividade dos planos discursivos figura, fundo 2 e fundo 1 nos corpora... 108 Tabela 8 – Relação entre as sentenças com as expressões temporais e o

fluxo de informação... 113 Tabela 9 – fluxo de informação nas posições textuais (percentuais) em cada gênero... 117 Tabela 10 – Resultado dos testes aplicados a graduandos sobre a manutenção do sentido básico da expressão depois da manipulação da mesma... 125 Tabela 11 – Resultado dos testes aplicados a alunos do EF e EM sobre a manutenção do sentido básico das expressões durativas depois da manipulação da mesma... 128 Tabela 12 – Resultado dos testes aplicados a alunos do EF e EM sobre a manutenção do sentido básico das expressões pontuais depois da manipulação da mesma... 129 Tabela 13 – Resultados dos testes sobre as possíveis classificações para as expressões temporais... 131 Tabela 14 – Tipos de substantivos que acompanham haver na formação da expressão... 136

(19)

INTRODUÇÃO

As questões relativas à expressão de tempo vêm sendo estudadas por vários pesquisadores. Ainda assim, restam questões a responder, uma vez que são diversas as expressões linguísticas temporais. Sabe-se que não se podem tratar as expressões de tempo como uma classe homogênea, pois uma análise mais profunda evidencia que esta designação recobre elementos distintos, tais como: advérbios e sintagmas adverbiais em sentido estrito (ontem), (domingo passado); outros advérbios a serviço desse tipo de referência (dez anos atrás); sintagmas adverbiais compostos por preposições (desde anos) ou verbos (há/faz/tem/vai (para) dez anos). Neste trabalho, observam-se, então, as expressões temporais formadas pelo verbo haver em um conjunto de dados da variedade brasileira da Língua Portuguesa.

O objeto de estudo são as expressões definidoras de intervalos as quais operam uma medição a partir do um ponto de perspectiva, definido no eixo do tempo. Pretende-se trabalhar apenas com um tipo de adverbial operador de localização de tempo decorrido/escoado/passado, que indica (a) transcurso de tempo ou (b) dado momento no passado em relação (b.i) ao momento presente da enunciação ou (b.ii) a um momento anterior à enunciação.

As expressões configuram-se da seguinte forma:

haver + Nome/Sintagma Nominal1 indicador de valor temporal (+que)

1. A pouco tempo eu morava em um prédio de 6 andares [Redação, 9º ano]

2. Professores não recebem aumento há 11 anos. [Notícia, O Globo]

(20)

Será feita uma análise do comportamento semântico e morfossintático das expressões temporais formadas pelo verbo haver comparando-se os gêneros textuais redação escolar do tipo narrativo2 e notícia jornalística.

Vale ressaltar que, até onde se sabe, pouco se estudou o assunto no Brasil, mas, na literatura encontrada sobre a impessoalidade de haver, há menção ao seu uso como formador de expressões temporais. Porém, a descrição sobre haver especificamente nessas expressões, aparentemente, não foi aprofundada. Além disso, o assunto não é diretamente tratado nas gramáticas tradicionais ou descritivas; quando mencionado, encontra-se na seção sobre as orações sem sujeito ou, mais raramente, na seção destinada à classificação de orações num período composto.

Tomou-se como ponto de partida para a formulação de questões e hipóteses descritivas sobre o comportamento do verbo haver nesse tipo de expressão a tese de doutorado de Machado Vieira (2001), que, na seção “os casos de fazer com referência a tempo cronológico”, indica:

O verbo impessoal fazer atuaria, então, como elemento funcional que opera sobre sintagmas nominais com sentido cronológico para a indicação do somatório de tempo a partir de dois pontos (origem e destino) ou para a localização de um evento no eixo temporal. E, como operandum/operador temporal, possuiria propriedades que o relacionam às categorias de verbo predicador, operandum/operador causativo e constituinte gramatical de expressão adverbial. (op. cit.: 299)

Contribuíram significativamente também para o desenvolvimento deste estudo os trabalhos de Dapena (1983) e Móia (1999) que fomentaram algumas inquietações sobre o comportamento do verbo e da expressão como um todo. Em artigo sobre a semântica das expressões temporais com haver, Móia (1999)

(21)

reforça a ideia de semelhança entre as expressões compostas por verbo e as compostas por preposições/advérbios, tais como dentro de/daqui /daí a X-TEMPO, X-TEMPO depois de/antes de ou a X-TEMPO de.

Dapena (1983), por sua vez, enfatiza a questão da função da expressão temporal, apontando problemas em relação a esse assunto:

El primero de ellos corresponde al hecho insólito de que aquélla pueda funcionar — ¿indistintamente? — como subordinante y como subordinada (comp. Hace mucho tiempo que viven aquí junto a viven aquí hace mucho tiempo). Por otro lado, en el uso subordinante se plantea la cuestión de determinar el papel que la frase subordinada desempeña dentro del conjunto oracional: ¿Se trata de una subordinada substantiva o, más bien, de relativo?... Y por lo que se refiere al empleo subordinado, resulta bastante extraño que una oración con verbo en forma personal se subordine a otra sin ninguna marca o elemento de relación, y que, a su vez, sea susceptible de ir regida directamente por una preposición. (op. cit.: 485)

Motivada por uma pesquisa sobre a nomenclatura com que o assunto é exposto em obras didáticas e gramaticais, Paiva (2007), em um artigo sobre as possíveis classificações para as expressões temporais formadas pelo verbo

haver, constata que há incoerência quanto à categorização dessas estruturas e indica que há, em gramáticas normativas, ao menos quatro possibilidades de referência:

i) A oração introduzida pelo QUE é classificada como subordinada adverbial temporal e, consequentemente, a com HAVER como principal. (...)

ii) A oração com o verbo HAVER é classificada como oração subordinada adverbial temporal. Sendo assim, a oração subordinada é justaposta, visto que não se liga à principal por transpositor. (...)

(22)

iii) A oração introduzida por QUE é classificada como subordinada substantiva subjetiva. (...)

iv) A expressão temporal é classificada como adjunto adverbial de tempo. Não é considerada, então, como uma oração. (...)

Desses trabalhos e dessa situação de tratamento de tal tipo de estrutura, surgiu o interesse pela análise do comportamento funcional não só das expressões temporais em si, mas também pela investigação do estatuto do verbo haver — elemento integrante de tais expressões. Nesta análise, interessa averiguar aspectos relativos à possibilidade de haver se encontrar em algum estágio de gramaticalização.

Esta pesquisa propõe-se, assim, a descrever o comportamento desse verbo de modo mais aprofundado, considerando o processo de especialização semântica e morfossintática ao qual se submete haver, as motivações e as restrições desse processo, a configuração das estruturas que esse item compõe, a relação entre a disposição dessas estruturas e efeitos de sentido na construção de textos, entre outros aspectos.

Podem-se, então, enumerar os seguintes objetivos:

i. Verificar as características semântico-discursivas das expressões temporais formadas pelo verbo haver + N/SN;

ii. Analisar os efeitos de sentido obtidos a partir da ordenação da estrutura no período e de seus elementos internos;

iii. Averiguar a relação das expressões temporais com os planos discursivos e o

fluxo informacional.

iv. Comparar os fatores acima nas narrativas escolares e nas notícias, a fim de descrever o uso das expressões em cada gênero textual focalizado.

v. Checar a pertinência do nível de gramaticalização do verbo haver como elemento formador de expressão de tempo decorrido sugerido em Machado Vieira (2001).

(23)

vi. Discutir, a partir da observação de testes de atitude linguística, a possibilidade de terem "o mesmo sentido básico" as expressões formadas apenas por haver e as acompanhadas de outro elemento indicador de tempo decorrido com valor relativamente equivalente. Ainda a partir dos testes, verificar se a supressão do verbo na expressão acarreta alteração semântica.

A análise fundamenta-se em pressupostos teórico-metodológicos da Teoria Funcionalista. Para essa teoria, a função comunicativa possui um papel predominante nas línguas, e a língua é concebida como um instrumento de interação social. Seu foco é o uso da língua dentro de um contexto discursivo; logo, encaminha que a observação das estruturas gramaticais se dê na situação comunicativa.

Considerando, conforme princípios funcionalistas, a língua como uma estrutura maleável e adaptativa e a função como elemento a partir do qual se torna possível compreender a linguagem, este estudo parte da noção de que a verdadeira gramática da língua opera no uso, levando em consideração, assim, as motivações externas ao sistema linguístico e pressões comunicativas a que os interlocutores estão expostos.

Para a análise das características das expressões, pretende-se levar em conta conceitos da Teoria Funcionalista, tais como transitividade, planos

discursivos (Hooper & Thompson, 1980) e status informacional (Chafe, 1984).

E, por se considerarem as expressões temporais formadas por haver como locuções adverbiais, é extremamente relevante, ainda, o conceito de

gramaticalização (Heine et al, 1991; Heine, 2003; Hopper, 1991 e Bybee, 2003).

Adotaram-se, também, tópicos da Linguística Textual sobre gêneros e tipos textuais, a fim de se obterem fundamentos para a análise sobre as diferenças de usos das expressões temporais em estudo nos gêneros adotados.

A análise terá como ponto de partida a observação de obras didático-pedagógicas — de caráter normativo e descritivo — destinadas a público de diferentes níveis de ensino, bem como pesquisas de cunho acadêmico. Terá como objetos de análise empírica dados da produção linguística observada em

(24)

textos da variedade brasileira do Português e, ainda, material obtido em testes de atitude confeccionados com inspiração em metodologia sociolinguística de pesquisa de atitudes e aplicados a alunos de graduação, ensino fundamental e médio. Os dados de uso são representativos da modalidade escrita de dois gêneros textuais: notícias de jornais e redações escolares, ambos do tipo narrativo. Com isso, busca-se organizar basicamente duas amostras para análise: (i) uma com dados da observação (crítica e com algum grau de consciência) dos usuários a respeito da língua que usam e (ii) outra com dados do uso escrito do PB coletados em textos produzidos em dois gêneros.

Esta dissertação divide-se em quatro capítulos além desta introdução, que se apresentam da seguinte forma: capítulo 1 – revisão bibliográfica sobre o verbo haver e expressões de tempo decorrido; capítulos 2 e 3 – aspectos teórico-metodológicos da pesquisa; capítulo 4 – análise do objeto de estudo e interpretação dos resultados. Por fim, seguem as considerações finais e as referências bibliográficas.

(25)

1. Revisão bibliográfica sobre haver e expressões de tempo passado

Fazem-se, neste capítulo, explanações sobre os usos do verbo haver e das expressões temporais em gramáticas, dicionários e trabalhos de cunho acadêmico de diversos autores. A análise das obras centrou-se nas expressões indicadoras de tempo passado, e, em especial, nas formadas pelo verbo haver — objeto de estudo deste trabalho. Entende-se, aqui, por expressões temporais o que comumente se chama circunstanciais temporais ou locuções adverbiais. Objetiva-se, com isso, sumariar aspectos de descrições já disponíveis que possam contribuir para um melhor entendimento sobre o comportamento dessas expressões e do verbo em estudo.

Na primeira seção, foi feita uma breve resenha da origem e dos primeiros usos do verbo haver, verificando-se, também, suas acepções e funções descritas em dicionários e gramáticas descritivo-normativas, bem como uma revisão nestas das descrições sobre as expressões de tempo passado. Já na segunda seção, procedeu-se à resenha das gramáticas de cunho descritivo e de trabalhos e pesquisas acadêmicas sobre as expressões de tempo decorrido/escoado.

1.1. Origem e primeiros usos de haver

Haver é originário da forma latina habere que se apresentava com as acepções de ‘possuir’, ‘obter’, ‘manter’, ‘reter’, ‘segurar’, ‘conter’ e ‘deter’. Segundo Sampaio (1978), no latim clássico habere era verbo pleno empregado com a noção de posse de coisas materiais — como em Tantas divitias habet: nescit quid faciat auro.3 — e de posse espiritual, relacionando um sujeito a seu complemento — como em vulneribus didicit miles habere metum4.

Nesse período, habere também era empregado como auxiliar dando à conjugação perifrástica um matiz de dever, obrigação. Sampaio (1978) indica que “a reunião de tempo e aspecto numa só forma verbal acabou por ocasionar

3 Ele tem tão grandes riquezas, que não sabe o que fazer com ouro. 4 Com os ferimentos o soldado aprendeu a ter medo.

(26)

o aparecimento da perífrase com habere, que exprimia a posse da ação concluída e a continuidade deste estado até o presente” (Sampaio, 1978:3).

A noção de posse expressa por habere posteriormente, devido a um desgaste semântico, generaliza-se, e o centro semântico passa para o particípio do outro verbo. Então, nesse contexto, habere torna-se um verbo auxiliar desprovido de conteúdo semântico.

No português arcaico as duas formas coexistem até o século XV, como se verificam nos seguintes exemplos5:

"..., ou hás o sem perdido ou és encantada, que és donzela de grã guisa...” (A demanda do Santo Graal.157) — perífrase indicando o estado de posse, a manutenção de uma ação.

“Ora hei pavor que a havemos perdida.” (A demanda do Santo Graal pg.168) — perífrase reduzida a um mero pretérito.

Mantém-se, então, apenas a perífrase reduzida a pretérito, que posteriormente passou a ter como alternante a perífrase formada através do verbo ter.

Ainda segundo Sampaio (1978), embora o uso padrão de habere no latim clássico fosse pessoal significando ‘ter, possuir’, há documentos do latim da decadência e do latim vulgar, em que o verbo habere aparece com o sentido existencial.

Para a passagem do uso pessoal para o impessoal, a autora aponta a hipótese de Bassols de Climent de que “houve primeiro uma mudança de formulação mental que resultou em uma mudança de construção” (op. cit.:10). Para a frase Dominus habet multum vinum6, houve a correspondência Domus habet multum vinum7. A casa, como um ser inanimado, não pode logicamente possuir; assim, a construção se aproxima a outra que exprime existência e não posse domi est multum vinum8. Domus passou, então, a ser visualizado como locativo e a construção sem um sujeito.

5

Exemplos de Sampaio (1978).

6 O senhor tem muito vinho. 7 A casa tem muito vinho. 8 Em casa há muito vinho.

(27)

Mattos e Silva (1997) afirma que, no século XIII, habere com o sentido de existir co-ocorre com o verbo esse. Em sua análise sobre as Cantigas de Santa Maria, percebe que nesse uso há uma predominância do ser (56% das ocorrências) em relação a haver (44% das ocorrências).

Em estruturas possessivas, haver é o verbo mais usual ocorrendo com complemento de qualquer valor semântico, utilizado para posse de objetos materiais adquiríveis, de bens/qualidades imateriais adquiríveis e posse inadquirível e inalienável.

Ainda segundo Mattos e Silva (2000), do século XIV para o século XV, em construções existenciais o verbo haver já apresenta maior número de ocorrências do que o verbo ser. Na primeira metade do século XV, haver possessivo torna-se menos frequente perdendo espaço para ter. O que ocorre também em perífrases com particípio passado e nas construções em que tem papel de auxiliar de tempo composto.

Na segunda metade do século XVI haver é suplantado por ter em todos os contextos de posse. Nos séculos XVII e XVIII, haver só predomina em contextos existenciais. Já no século XX, parece completar-se o processo de esvaziamento semântico do verbo haver, usado essencialmente em construções existenciais na modalidade escrita da língua.

Sintetizando-se os usos pode-se apresentar o seguinte quadro:

Latim clássico habere:

• verbo pleno — tem noção de posse.

• auxiliar — apresenta matiz de dever, obrigação. • auxiliar — é desprovido de conteúdo semântico.

Latim da decadência e latim vulgar:

(28)

Português arcaico:

• As duas formas de particípio coexistem.

• Mantém-se apenas a perífrase reduzida a pretérito.

Século XIII:

• existencial — co-ocorre com esse.

Século XIV e XV:

• Existencial — haver é mais produtivo que ‘ser’.

Século XV:

• Possessivo — perde espaço para ‘ter’.

Segunda metade do século XVI:

• Possessivo — é suplantado por ter em todos os contextos de posse.

Séculos XVII e XVIII:

• Só predomina em contextos existenciais.

1.2. Descrições sobre haver em dicionários de Língua Portuguesa

Nos dicionários etimológicos de Silveira Bueno (1976), Machado (1973), Cunha (1999) e, ainda, Houaiss (2007), verificou-se a origem de haver no verbo habere do latim com acepções de ‘possuir’, ‘obter’, ‘manter’, ‘reter’, ‘segurar’, ‘conter’ e ‘deter’. Machado (1973) aponta, como fonte histórica, em 1012, a forma avemus em kartula venditionis de ereditate nostra ue avvemus in Villa Fornele.

Em relação aos possíveis usos de haver, todos os autores consultados apresentam as mesmas possibilidades: uso transitivo com diversas acepções9, impessoal, pronominal ou emprego auxiliar.

Como verbo auxiliar, viu-se que ele pode aparecer: junto a particípio, indicando tempo pretérito (havia sido); seguido de de mais presente do infinitivo

(29)

de outro verbo, exprimindo futuridade promissiva (hei de andar); seguido ou não pela a preposição de, indicando futuro (havias-te surpreender).

Houaiss afirma que, no sentido de 'receber, ganhar' e nas extensões deste, como 'experimentar, sentir' e 'ter', o verbo haver pode formar, com seu objeto direto, uma unidade semântica e funcional.

Haver é impessoal nos sentidos de 'existir, continuar a existir, acontecer, ocorrer'. Freire (1954) chama atenção para a questão de que o verbo haver como verbo impessoal não deixa de ser transitivo. Os autores consultados ressaltam, ainda, que, quando haver aparece em complexos verbais, seu auxiliar também permanece invariável (há pessoas/deve haver pessoas), toda a locução é impessoal.

Houaiss afirma que, nas construções nas quais o haver possui o sentido de 'existir', como nas orações do tipo há muito que fazer, o verbo não é auxiliar, tem sentido pleno (impessoal). Indica, ainda, que, no Brasil, nas acepções impessoais de 'estar presente, encontrar-se', 'existir', 'acontecer, realizar-se',

haver pode ser substituído, no registro da língua informal, pelo verbo ter, também impessoal.

Encontraram-se registros, em todas as obras avaliadas, do uso impessoal de haver como formador de expressão de tempo passado. Nesse uso, o verbo

haver é combinado a um elemento que faça referência temporal, tal como em “há dias”.

Os autores chamam atenção para a correlação temporal de haver com o outro verbo nessas construções. Se o verbo da frase seguinte estiver no passado,

haver deve apresentar-se também no passado. O uso no futuro denota incerteza. Alguns autores, como Houaiss apontam, que, no registro informal,

haver costuma ser empregado no presente do indicativo. Verificou-se também que, nessas construções de tempo, o verbo pode vir antecedido da preposição de, em especial em Portugal.

Para Fernandes (1958), nesses casos a oração de haver é subordinada adverbial, e o que, que às vezes aparece, deve ser considerado simples expletivo.

(30)

Para Freire (1954) e Almeida (2008), nessa acepção formam-se com o verbo

haver frases adverbiais.

Segundo Almeida (2008), nessas expressões temporais, o “há não é percebido como verbo, mas antes como preposição, e daí o antepor-se-lhes de, desde, até, por analogia com expressões como de então, desde ontem, até hoje” (op. cit.: 337). Defende, assim, que essas construções são locuções adverbiais de tempo em forma oracional intercaladas na oração; como prova, diz que vêm modificando um verbo.

Esse autor ressalta, ainda, que há redundância no acréscimo de atrás e de passados, à expressão (1954) "há dias". “A simples presença do verbo haver dispensa essas e qualquer outra palavra que venha a denotar tempo decorrido.” (op. cit.: 237).

Quadro resumitivo dos usos e acepções do verbo Haver10

Usos pessoais:

SIGNIFICADOS EXEMPLOS

ter ou obter comunicação de; receber, alcançar

logo os Noronhas houveram notícia da sua prisão

estar na posse de, ser proprietário de; possuir

os Albuquerques hão cabedal de escudos para muito mais

experimentar uma sensação, ser afetado por; sentir

por presenciáreis tais atrocidades, haveis receio de ali ficar

considerar, julgar Se houveres que é fraqueza morrer em tão penoso e triste estado.

receber de volta; reaver nada conseguiu haver do que lhe havia sido roubado

Quadro 1 - Usos pessoais do verbo haver

(31)

Usos impessoais:

SIGNIFICADOS EXEMPLOS

ter existência (material ou espiritual); existir, subsistir

para ela, só há no mundo o neto

estar ou encontrar-se concretamente em determinado lugar ou situação

alguém à porta, batendo

ter transcorrido ou ser decorrido (tempo)

cinco anos deixei de fumar

ser ou tornar-se realidade no tempo e no espaço; acontecer, realizar-se

não houve sessão de cinema

ser possível – seguido de infinitivo sem preposição

Não há fartar um moiro, se come na mesa alheia.

Quadro 2 – Usos impessoais do verbo haver

Usos pronominais:

SIGNIFICADOS EXEMPLOS

proceder socialmente; conduzir-se, lidar com, sair-se

elas se houveram com elegância na discussão

andar às voltas com; arcar quem entra naquela repartição começa a se haver com as complicações da burocracia

ter trato com; lidar, prestar contas a; avir-se

quem não for já para a cama vai

haver-se comigo depois

(32)

1.3. Descrições sobre haver e expressões de temporais/advérbios em gramáticas da Língua Portuguesa

Todas as gramáticas consultadas mencionam os usos de haver encontrados nos dicionários. São descritos, em especial, os usos como verbo auxiliar e seus usos impessoais.

Dias (1959) descreve haver como auxiliar e formador de expressão temporal. Defende que esse verbo pode ser empregado como substantivo em expressões formadas por preposição e substantivo, tal como de há muito. Afirma, ainda, que o que usado depois de construções temporais com o verbo haver funciona como uma conjunção temporal.

Said Ali (1966), ao falar sobre verbos sem sujeito, apresenta a possibilidade de análise do verbo haver nessas estruturas de forma semelhante a sua acepção de posse — o que chama de abuso de alguns gramáticos. Esses gramáticos apresentam, nas palavras de Said Ali, dois absurdos: a) há = tem = possui. Ex.: Há homens = possui homens; b) devido à noção de posse pressupor um possuidor, levantam a possibilidade de um sujeito oculto.

O autor afirma, então, que “nenhum substantivo ou palavra substantivada é sujeito sintático dos verbos que exprimem fenômeno da natureza; nenhum substantivo ou palavra substantivada pode tão pouco exercer essa função em orações existenciais como 'há homens'”(op. cit.: 85).

A visão de Barreto (1903) se enquadra na linha criticada por Said Ali, pois o autor, ao tratar não do verbo haver, mas de fazer em estruturas temporais, comenta que, na estrutura “— Já esteve no Recife! Em que épocha?— Fazem dois annos”, é erro supor que o sujeito do verbo fazer é “dois annos” (op. cit.: 93).

O autor considera que “dois anos é complemento directo do verbo fazer, verbo transitivo activo. Qual então é o sujeito? A proposição latente — que estive no Recife. Logo, o verbo fazer deve estar no singular, porque uma oração que exercita o officio de sujeito de um verbo qualquer, exprime uma noção substantiva singular, e o verbo deve pois, ficar n'esse numero.” (op. cit.: 93).

(33)

Barreto afirma, ainda, que há outros autores que consideram fazer nessas frases como impessoal. E finaliza o capítulo afirmando que “o infinitivo de fazer comunica sua impessoalidade aos auxiliares. Tal como no caso de haver”.

Góis (1958), ao tratar da sintaxe de haver, defende que, quando empregado impessoalmente, concorda com sujeito indeterminado. Para ele, “nas formas — há dias, há pouco, havia meses, havia quatro semanas, — o verbo HAVER é igualmente impessoal e intransitivo: como tal fica no singular, concordando com sujeito indeterminado.” (op. cit.: 57) Diz, ainda, que haver pode aparecer no futuro indicando incerteza sobre a quantidade de tempo decorrido ou regido pela preposição de se estiver no presente do indicativo.

Maciel (1931), na seção sobre a sintaxe do verbo haver, defende que esse verbo funciona como adjunto adverbial em frases ou expressões em que apenas indica circunstância de tempo, podendo ser seguido às vezes do que expletivo, que, ainda segundo o autor, funciona como elemento apenas decorativo e pleonástico, sem prestabilidade sintática.

Bechara (1999:440) afirma que os adjuntos adverbiais temporais “podem referir-se ao verbo, ao sintagma verbal ou a toda oração”. Enfatiza que podem ser representados por advérbio, sintagmas preposicionados ou por oração e representam o tempo propriamente dito, a duração, a quantificação temporal etc.

Ainda segundo o autor, a ordem dos advérbios está diretamente ligada ao seu papel sintático-semântico e sua relação com o verbo. Assim, os advérbios mais internamente ligados ao núcleo verbal não possuem flexibilidade de posição, já aqueles mais externamente ligados apresentam certa flexibilidade.

Em sua gramática, Bechara (1999) menciona as expressões em estudo quando trata das orações subordinadas adverbiais temporais. O autor defende que é opinião generalizada considerá-las como orações subordinadas adverbiais temporais e o que que, às vezes, as segue como conjunção temporal.

Esse gramático apresenta outras possíveis classificações, propostas por diferentes autores, para essas expressões. Dentre elas está a possibilidade de

(34)

considerar o que como expletivo dentro da oração principal e a oração com

haver como adverbial temporal, sendo, então, justaposta à oração subordinada — opção que Bechara julga boa. Apresenta, também, a proposta seguida por Barreto (1903) — considerar o verbo como pessoal nessa construção — e a seguida por de Maciel (1931) — considerar a expressão como uma locução adverbial.

O mesmo ressalta, porém, que “em tais orações, a análise se torna difícil pelo fato de a construção ter-se fixado apesar de alterado o sentido lingüístico. Há um visível descompasso entre sua estrutura de superfície e profunda.” (op. cit.: 504)

Cunha e Cintra (1985) apenas comentam sobre a impessoalidade do verbo haver quando formador de expressão de tempo, sem questionar, porém, a função sintática de tal expressão.

Cunha (1976), ao falar sobre a colocação dos advérbios na sentença, afirma que esses podem ser antepostos ou pospostos ao constituinte com o qual se relacionam. Ressalta, porém, que há uma função de realce na antecipação do advérbio ao verbo.

Esses autores levantam a questão da dificuldade de generalização sobre a ordem dos advérbios. Apontam que, em função de pressões de informatividade ou discursivas, eles podem deslocar-se na sentença.

Rocha Lima (1998) menciona a impessoalidade do verbo haver ao formar expressões de tempo passado. E, comenta, ainda, sobre a classificação de tais expressões ao tratar das orações subordinadas adverbiais temporais, nomeando-as justapostas.

Em síntese, na investigação em gramáticas normativas sobre as expressões temporais formadas por haver, perceberam-se ao menos quatro classificações possíveis para tais expressões. Foram consultadas gramáticas de décadas anteriores e gramáticas contemporâneas; as classificações vistas encontram-se nos materiais das diferentes épocas. Abaixo são apresentadas e

(35)

exemplificadas as quatro classificações para as expressões em estudo e alguns autores que as adotam:

i) A oração introduzida pelo que é classificada como subordinada adverbial temporal e, consequentemente, a com haver como principal. Dessa forma, o que é entendido como uma conjunção temporal. É esta, segundo Bechara (1999), a orientação mais seguida.

3. Há duas semanas que o documentário vai ao ar noite e dia11 [O Globo] Oração Principal (OP) Oração Subordinada Adverbial Temporal (OSAT)

Em construções como a seguinte, acredita-se na elipse do QUE subordinativo.

4. o time carioca não sofria gol no Maracanã há quatro jogos [Jornal, Extra]

OSAT OP

há quatro jogos que o time carioca não sofria gol no Maracanã

ii) A oração com o verbo haver é classificada como subordinada adverbial temporal. Sendo assim, a oração subordinada é justaposta, visto que não se liga à principal por transpositor. Essa é a visão de alguns autores, incluindo Rocha Lima (1999).

Neste caso, o que “reduzido a simples palavra memorativa, relembra, na oração principal, a partir de que fato se faz alusão ao tempo na subordinada anterior” (Bechara, 1999).

11 Nos corpora adotados não foram verificados dados nos quais a expressão temporal fosse

seguida pelo conectivo que; por isso, para a exemplificação foram coletados alguns dados, em jornais, que servissem de exemplo.

(36)

5. Há duas semanas que o documentário vai ao ar noite e dia [O Globo]

OSAT OP

6. eu morava em Bangu a 4 anos atrás [Redação, 7º ano EF]

OP OSAT

iii) A oração introduzida por que é classificada como subordinada substantiva subjetiva.

Neste caso, o que é entendido como conjunção integrante e o verbo haver não é considerado impessoal, visto que possui uma oração como sujeito.

7. há dois meses que não fazia uma refeição completa12 [Jornal, O globo] OP Oração Subordinada Substantiva Subjetiva (OSSS)

Tal classificação seria mais adequada para o verbo fazer, segundo os autores que a consideram, como Mário Barreto e Cândido Jucá Filho. Porém, ainda segundo eles, como as estruturas são equivalentes, pode-se aplicar a ambos os verbos.

iv) A expressão temporal é classificada como adjunto adverbial de tempo. Não é considerada, então, como uma oração.

8. A 1 mês atrás eu e minha prima estava brincando [Redação, 7º ano EF] Adjunto Adverbial de Tempo

(AAT)

Predicação nuclear

12 Nos corpora adotados não foram verificados dados nos quais a expressão temporal fosse

seguida pelo conectivo que, por isso para a exemplificação foram coletados alguns dados, em jornais, que servissem de exemplo.

(37)

9. O BuscaPé foi fundado há dez anos [Jornal, O Globo] Predicação nuclear (AAT)

O autor Maximino Maciel, em sua Grammatica descriptiva de 1931, já mencionava esta possibilidade de classificação na seção sobre a sintaxe do verbo haver dizendo que ele pode atuar “como adjunto adverbial em phrases ou expressões em que apenas indica circunstância de tempo, seguido ás vezes do QUE expletivo.” Definia, ainda, que o que na frase funciona “como elemento apenas decorativo e pleonástico, sem prestabilidade syntactica”

Há de se mencionar, também, que outros autores, tal como Antenor Nascentes, por exemplo, consideram esta classificação apenas para as expressões justapostas, isto é, sem a presença do que:

10. A disputa interna no Palácio começou há dois meses [Jornal, Extra]

1.4. Descrições sobre expressões de tempo decorrido em Gramáticas descritivas e textos acadêmicos

Câmara Jr. (1977) defende que há três tipos de advérbios, dentre eles os que se destinam a situar eventos no tempo. Afirma que esses são de natureza pronominal — do mesmo modo que os de lugar — e são, portanto, diferentes dos demais advérbios, de natureza nominal. Os advérbios temporais situam o evento comunicativo no tempo em relação à posição temporal do falante, podendo esse evento situar-se no momento da comunicação ou fora dele.

Segundo Mira Mateus et alii (2003),

os localizadores temporais são constituídos por advérbios capazes de fornecer as coordenadas temporais que permitem situar a eventualidade descrita numa frase, selecionando um intervalo de tempo constituído como seu referente(op. cit.: 168).

(38)

A localização temporal pode ser relativa ou absoluta; no último caso, é dêitica (referência estabelecida pelo momento de enunciação) ou anafórica (referência em uma expressão na frase ou texto).

A autora indica que alguns adverbiais possuem certa duplicidade em relação ao tipo de referência; ou seja, podem ser dêiticos ou anafóricos, conforme o contexto em que aparecem. Apresenta como exemplos as frases “Maria chegou há pouco.” e ”Os meus amigos foram ao Brasil apesar de terem marcado a viagem há pouco.” (op. cit.: 169).

Fiorin (1996) apresenta três momentos na constituição do sistema temporal: o momento da enunciação, o momento da referência, e o momento do acontecimento. Segundo ele, os advérbios de tempo articulam-se em dois sistemas, um enunciativo, isto é, centrado no momento de referência presente, o da enunciação, e um enuncivo, centrado em um momento de referência pretérito ou futuro, um momento de referência instalado no enunciado.

O sistema enunciativo expressa-se para revelar concomitância, anterioridade ou posterioridade. Para revelar anterioridade, podem-se utilizar ontem, em + SRT13 + passado, em + ultimo + SRT, há +numeral ou pronome + SRT;

numeral ou pronome + tempo ou SRT + atrás.

Fiorin lembra que “é possível usar conjuntamente um tempo verbal e uma expressão adverbial temporal que não pertencem ao mesmo sistema de referência, quando dois momentos distintos de referência estiverem implicados” (op. cit.: 166). Com a expressão temporal em estudo, pode verificar-se o exemplo “há dois anos eu faria isso”.

Moura Neves (2000), ao abordar as formas dos adverbiais, menciona, entre outras, as formas verbais há/faz/havia/fazia + substantivo qualificativo. Para ela, as categorias de lugar e de tempo são dêiticas, visto que “fazem orientação por referência ao falante e ao aqui - agora, que constituem o complexo modo-temporal que fixa o ponto de referência do evento de fala”. (op. cit.: 258)

(39)

Os circunstanciais temporais podem ser em si mesmos fóricos ou não-fóricos. Os fóricos “indicam circunstância que é referida no momento da enunciação, numa escala de proximidade temporal” (op. cit.: 258). Já os não-fóricos indicam a circunstância de tempo.

Moura Neves (2002) questiona o estatuto dos advérbios de tempo e lugar, defendendo que possuem um estatuto particular, não avaliado pela tradição gramatical. “De fato, se o advérbio se define como modificador do verbo (ou, ainda, do adjetivo ou advérbio), como ocorre tradicionalmente, os circunstanciais não pertencem à classe, já que nenhum advérbio de tempo ou lugar realmente modifica o verbo. Por outro lado, se o advérbio se define como a palavra que indica circunstância, conforme também ocorre tradicionalmente, os circunstanciais são os advérbios por excelência.” (op. cit.: 250)

Novamente, nesse outro trabalho, Moura Neves define fórico como “elemento que propicia a busca ou a recuperação de informação, por remissão a um ponto do enunciado, ou à situação de enunciação” (op. cit.: 251). A autora diferencia, então, dêixis de forismo, afirmando que todo circunstancial fórico é dêitico.

Martelotta (1994) subdivide os circunstanciadores temporais em cinco grupos de acordo com sua função discursiva. São eles circunstanciadores: de tempo determinado, de tempo indeterminado, iterativos, de simultaneidade e delimitativos.

A categoria com a qual se identificam as expressões temporais com haver é a dos circunstanciadores temporais delimitativos. Para ele, “Sua função é referir-se a situações estáticas ou a eventos não-específicos, delimitando o início e/ou o fim de sua permanência no tempo” (op. cit.: 41). O autor apresenta os exemplos: “há três anos, durante dois meses, até o ano que vem.”

Em relação à posição dos circunstancias na sentença, Martelotta (1994) apresenta seis posições. As três antes do verbo são: 1) não ocorrendo sujeito antes do verbo, 2) antes do sujeito, 3) entre o sujeito e o verbo. E as três depois do verbo: 1) não ocorrendo complemento ou predicativo depois do verbo, 2)

(40)

entre o verbo e o complemento ou predicativo, 6) depois do complemento ou predicativo.

Móia (1999) aponta que têm sido referidos, de maneira geral, casos em que o complemento da expressão formada pelo verbo haver é um predicado de quantidades de tempo, como três anos, muito tempo. Porém, esse complemento pode também ser uma expressão que designa intervalos (há três domingos) ou um predicado situacional (cinco refeições).

Ressalta, ainda, que as expressões com haver podem aparecer em, ao menos, três contextos distintos: (i) como argumentos (geralmente preposicionados) de predicados “Os vestígios arqueológicos encontrados datam de há cem mil anos”; (ii) precedidas por uma preposição temporal em posição adverbial “Esta cidade tem sido governada por autarcas socialistas desde há duas décadas”; (iii) não precedidas de preposição e em posição adverbial “Esse edifício foi demolido há dois anos”. Porém, o ator considera que “em todas estas estruturas, os sintagmas encabeçados por haver são meramente expressões designadoras de intervalos” (op. cit.: 220).

Toral (1992), ao analisar, na língua espanhola, o verbo hacer indicando tempo cronológico, aponta que as expressões por ele formadas podem indicar um caráter pontual (Hace seis ú ocho meses que dejé yo El cuartelllo) ou durativo (¡Né! ¡Pero si hace diez dias que estoy aqui, gusano!) de “um estado de coisas” a depender da correlação temporal entre o tempo do discurso e os verbos envolvidos na construção.

Segundo a autora, o sintagma nominal que acompanha o verbo apresenta as seguintes características: (i) São sempre substantivos que designam transcurso de tempo; (ii) nunca aparecem precedidos do artigo definido, (iii) podem ser contáveis, acompanhados por quantificadores (Hace dos años), ou não contáveis (Hacia mucho tiempo).

Dapena (1983), também analisando a língua espanhola, questiona o caráter funcional das expressões temporais formadas por hacer. Aponta algumas dúvidas: essas expressões funcionam como subordinantes ou subordinadas?; se

(41)

subordinante, a que tipo de subordinada se relacionam?; como se ligam sem conector?

Para ele, uma explicação pode ser considerar toda a expressão como uma forma fixa, equivalente a um advérbio de tempo. O autor comenta, ainda, que não há dúvida quanto ao caráter adverbial ou circunstancial da expressão, dada a possibilidade de comutação com outros sintagmas adverbiais, como em: Su padre murio { hace cuatro años / em mayo de 1982 / el domingo pasado / ayer / antes / después etc.

Dapena afirma, porém, que tal explicação não dá conta de todas as questões que envolvem as expressões com hacer e prossegue sua análise buscando entender como funciona a oração formada por “hacer + que + or” e a formada por or + hacer. As expressões formadas sem que14 são orações adverbiais, porém são distintas das descritas nos tratados gramaticais. Afirma que as orações temporais tradicionais situam temporalmente a ação de um verbo em relação à ação de outro verbo, já as formadas por hacer situam temporalmente a ação do segundo verbo em relação a quantidade de tempo decorrido.

Sobre o verbo hacer, o autor diz “en este contexto se hallaría totalmente gramaticalizado y cuya funcíon consistiría en indicar, por una parte, el término ad quem del transcurso y, por outro lado, el carácter retospectivo del cómputo realizado.” Por fim, menciona que se trata de um sintagma adverbial autônomo, uma expressão adverbial.

Machado Vieira (2001), em sua tese de doutorado sobre predicações com o verbo fazer, defende que esse verbo, ao atuar na indicação de tempo passado, apresenta um comportamento gramaticalizado: “como operandum/operador temporal, possuiria propriedades que o relacionam às categorias de verbo predicador, operandum/operador causativo e constituinte gramatical de expressão adverbial”.

14 As expressões formadas sem que assemelham-se às formadas por haver verificadas no

(42)

Segundo ela, fazer junto de um SN temporal assume uma unidade com o significado específico de “ter passado um determinado lapso de tempo, desde certo fato”; “apresenta uma estrutura sintática e semântica previsível”; pode ser substituído apenas por um número reduzido de verbos que tenham comportamento sintático-semântico semelhante.

Por fim, Paiva, no trabalho Variação de HAVER, FAZER e TER em expressões temporais15, apresentado na XXIX Jornada Giulio Massarani de

Iniciação Científica, Artística e Cultural da UFRJ, verificou que “a variante HAVER é a mais produtiva em expressões temporais, seja na modalidade escrita ou oral”. Nesse estudo, 81,8% das expressões foram formadas por haver, 13,1% por ter e 5,1 por fazer.

15 Trabalho de iniciação científica desenvolvido por Paiva, em 2007, juntamente com o grupo do

projeto de pesquisa PREDICAR – coordenado pela Professora Doutora Marcia dos Santos Machado Vieira.

(43)

2. Pressupostos teóricos

Essa pesquisa baseia-se fundamentalmente em conceitos e pressupostos da Teoria Funcionalista. Não obstante, lida ainda com teorizações da Linguística Textual relativas aos conceitos de gêneros e tipos textuais e com orientações teórico-metodológicas desenvolvidas no âmbito dos estudos sociolinguísticos e relacionadas ao estudo das atitudes dos falantes de uma língua e/ou das avaliações subjetivas de certas formas/estruturas linguísticas.

Recorreu-se a tópicos da Linguística Textual a fim de se obter conhecimento sobre as diferenças de usos das expressões temporais em estudo nos gêneros adotados e a métodos/técnicas e/ou materiais característicos dos estudos sociolinguísticos com o intuito de se somar à análise qualitativa o tratamento empírico e quantitativo de aspectos envolvidos no estudo do fenômeno linguístico em foco.

2.1. Teoria Funcionalista

Na Teoria Funcionalista, concebe-se a língua como um instrumento de interação social. Nessa corrente teórica, importa explicar as regularidades observadas no uso com base no exame das circunstâncias discursivas em que se dão as estruturas linguísticas e seus contextos prototípicos. Desta maneira, no Funcionalismo rejeita-se a dissociação entre sistema e uso, ou língua e fala, já que entende que pressões de ordem funcional moldam a estrutura da língua.

Conforme Martelotta & Áreas (2003: 20), “a língua não pode ser analisada como objeto autônomo, mas como uma estrutura maleável, sujeita a pressões oriundas das diferentes situações comunicativas, que ajudam a determinar sua estrutura gramatical”.

Numa análise funcionalista, é relevante levar em consideração, além dos fatores discursivos, os cognitivos e interacionais, tais como as intenções comunicativas, o conhecimento de mundo partilhado entre falante e ouvinte e o conhecimento a respeito do assunto. Moura Neves (1997:113) considera a

(44)

competência comunicativa como “a capacidade que os indivíduos têm não apenas de codificar e decodificar expressões, mas também de usar e interpretar estas expressões de uma maneira interacionalmente satisfatória.”

Por haver várias correntes, cada qual com suas particularidades, a caracterização do Funcionalismo torna-se tarefa complexa. Porém, embora haja vertentes distintas, todas apresentam pontos em comum, como aponta Moura Neves (1997:2):

Qualquer abordagem funcionalista de uma língua natural, na verdade, tem como questão básica de interesse a verificação de como se obtém a comunicação com essa língua, isto é, a verificação do modo como os usuários da língua se comunicam eficientemente.

Este trabalho segue pressupostos do funcionalismo norte-americano, cujos textos pioneiros datam de 1970 e visam a observar a língua baseando-se na situação de produção linguística. Alguns de seus principais representantes são Talmy Givón, Paul Hopper, Sandra Thompson, entre outros.

Givón (apud Martellota et alii 2003: 28) apresenta um grupo de premissas que caracterizam a visão funcionalista da linguagem:

i) A linguagem é uma atividade sociocultural;

ii) A estrutura serve a funções cognitivas e comunicativas; iii) A estrutura é não-arbitrária, motivada, icônica;

iv) Mudança e variação estão sempre presentes;

v) O sentido é contextualmente dependente e não-atômico; vi) As categorias não são discretas;

vii) A estrutura é maleável e não-rígida; viii) As gramáticas são emergentes;

(45)

Segundo essa concepção, a sintaxe é influenciada pela situação comunicativa; isto é, a sintaxe, a semântica e a pragmática são interdependentes e estão sempre relacionadas. Conforme Givón (1979), a sintaxe origina-se no discurso, este considerado como o conjunto de estratégias aplicadas pelo falante na organização funcional do seu texto para um dado ouvinte em determinada situação comunicativa.

As questões principais investigadas na vertente norte-americana são as circunstâncias discursivas envolvidas na utilização de diversas estruturas linguísticas, a relação entre as estruturas e as necessidades/funções comunicativas, os processos envolvidos na mudança linguística, entre outras.

Entre os temas presentes em estudos funcionalistas, vale destacar alguns que interessam mais especificamente a esta pesquisa. São eles: transitividade, planos discursivos, fluxo da informação e processo de gramaticalização.

2.1.1. Transitividade e planos discursivos

A relação entre transitividade e planos discursivos mostra-se importante para o presente trabalho, pois eles correspondem a parâmetros que são aqui analisados para a caracterização do comportamento das expressões temporais em estudo. Em outras palavras, interessa verificar qual o contexto prototípico para as expressões temporais, figura ou fundo. Parte-se da hipótese de que as expressões, por indicarem circunstâncias, sejam mais produtivas em trechos de fundo.

Segundo Hopper & Thompson (1980), o discurso narrativo apresenta as duas estruturas, figura (foreground) e fundo (background), cada qual caracterizada por determinados traços semântico-gramaticais. Esses conceitos relacionam-se à noção de porção de texto central e periférica em termos de estrutura.

Figura é a parte na qual são apresentados os pontos importantes do discurso, caracterizada por sequência temporal de eventos concluídos, pontuais, afirmativos, realis, sob a responsabilidade de um agente. Fundo, por

(46)

sua vez, é a parte que contém as informações que comentam ou ampliam o que está sendo destacado pelo falante, correspondendo a localizações dos participantes ou das situações, comentários avaliativos, descrições de ações, estados e eventos simultâneos à porção textual de figura (Cunha, Oliveira & Martelotta, 2003).

Conforme Hopper (1979), o plano discursivo figura está relacionado ao que é narrado, é o conjunto das sequências narrativas; já fundo diz respeito a fatores que estão fora da sequência em si, embora, de certa maneira, a completem.

Esse conceito de planos discursivos está diretamente relacionado, de acordo com Hopper e Thompson (1980), ao de transitividade. Dado isso, ambos serão tratados em conjunto. Segundo esses autores, uma cláusula com alta transitividade tende a funcionar no discurso no plano de figura, enquanto uma com baixa transitividade tende a funcionar no discurso no plano de fundo.

De acordo com esses autores, a transitividade está relacionada à efetividade de uma dada ação; isto é, quanto mais efetiva a ação, mais transitiva é a sentença. Relaciona-se, também, à transferência, que se dá de um agente para um paciente. Dessa forma, uma sentença transitiva envolve, ao menos, dois participantes. Segue abaixo um quadro com os componentes considerados para a verificação do grau de transitividade para os autores supracitados.

Referências

Documentos relacionados

Outro ponto importante referente à inserção dos jovens no mercado de trabalho é a possibilidade de conciliar estudo e trabalho. Os dados demonstram as

Como assinala Lévi-Strauss (2003), os mitos, que, aparentemente, são arbitrários, reproduzem-se de forma semelhante em todas as regiões, ou seja, com os mesmos caracteres,

[r]

A presente dissertação é desenvolvida no âmbito do Mestrado Profissional em Gestão e Avaliação da Educação (PPGP) do Centro de Políticas Públicas e Avaliação

— Proposta de Emenda Constitu- cional (PEC) para recriar o Conselho Nacional de Seguridade Social - que participará da formulação e fiscali- zação da proposta orçamentária da

In Theatrical Joyce, my aim will be to explore how this theatrical influence had a central effect on Joyce’s writing and led to a creative tension running through his work

As cadeias laterais variam em certo nível entre as diferentes formas de clorofila encontradas em diferentes organismos, mas todas possuem uma cadeia fitol (um terpeno ) ligada

Tese apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Doutor pelo Programa de Pós-graduação em Direito da PUC-Rio.. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo