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2. Pressupostos teóricos

2.1. Teoria Funcionalista

2.1.2. Fluxo de informação

Na análise sobre a funcionalidade das expressões temporais formadas por haver, chama atenção a questão da ordenação dos elementos na sentença, que parece estar relacionada a aspectos discursivo-pragmáticos, como o fluxo informacional. Sendo assim, fazem-se de extrema importância os postulados sobre tal assunto neste trabalho. Dentre os autores que tratam o status

informacional, destacam-se Prince (1981) e Chafe (1984).

Prince contempla (a) a menção ou não do referente na sequência textual anterior ou (b) sua presença no contexto situacional, adota as noções de predicabilidade/recuperabilidade e conhecimento partilhado. Considera quatro possibilidades de status informacional: novo em folha, inferível, disponível e evocado. Por outro lado, Chafe não parte da menção no texto, mas centra-se na noção de consciência do falante, em como são tratados os conceitos. Reformula, então, a terminologia tradicional nova/velha e dado/novo em ativa, previamente inativa, informações acessíveis ou previamente semi-ativas.

Optou-se, para a análise dos dados, pela adoção das categorias propostas por Chafe (1984), focadas na consciência do falante. Segundo Furtado da Cunha (2003:43), “a informatividade manifesta-se em todos os níveis da codificação lingüística e diz respeito ao que os interlocutores compartilham, ou supõe que compartilham, na interação”. O falante, na situação comunicativa, pressupõe o que é ou não conhecido pelo ouvinte, e busca, a partir disso, moldar seu discurso marcando as informações mais relevantes e as que seriam desconhecidas do interlocutor.

Segundo Chafe (1984), o status informacional é relacionado a aspectos cognitivos, tem relação com o “empacotamento” da informação, ou seja, com a maneira como ela é armazenada na memória. O teórico preocupa-se, então, com o que se passa na cabeça do falante quando manipula informação nova e velha, tópico e comentário, sujeitos e predicados, unidades entonacionais, orações, períodos e parágrafos — conceitos que, segundo o autor, são manifestações de processos cognitivos básicos.

Ao analisar cognitivamente o fluxo de informação, Chafe reavalia os conceitos de dado e novo e propõe em seu lugar os termos informação ativa (que está no foco de consciência do falante), previamente inativa (localizados na memória de longo prazo) e adiciona o conceito de informação semi-ativa (está na consciência periférica, mas não no foco).

Afirma, também, que, embora a mente armazene muitas informações, a cada momento apenas uma pequena parte pode estar ativa ou estar em foco, devido a limitada capacidade do ser humano de ativar informações. Essas informações temporariamente ativas são verbalizadas pelo falante, uma após a outra, e cada porção dessas de informação compõe uma unidade entonacional.

Chafe define unidade entonacional como “uma seqüência de palavras combinadas sob um único e coerente contorno entonacional, geralmente precedido por uma pausa” (op. cit.: 22). As unidades entonacionais são, geralmente, orações e servem para desenvolver o fluxo informacional no discurso. Não ocorrem dois conceitos novos em uma única unidade entonacional e elas têm a função de fornecer orientação (temporal, espacial, epistêmica) para as adjacentes, seja anterior ou posterior. As ideias que são expressas em unidades entonacionais (objetos, eventos e propriedades) são denominadas pelo autor de conceitos. Os estados de ativação referem-se aos conceitos que residem nas partes de informações expressas na unidade entonacional.

Segundo Chafe, quando os conceitos estão ativados na mente do comunicante, o mesmo julga que estejam também ativos para o interlocutor, visto que são informações velhas. Esses conceitos são pronunciados de forma atenuada (átona) e são passíveis de pronominalização ou omissão. Porém, quando o comunicante reintroduz ou enfatiza uma informação já ativa, o pronome pode aparecer com acento forte para contrastar com o discurso anterior.

Os conceitos semi-ativos são aqueles dos quais os participantes têm consciência ou conhecimento. Um conceito pode tornar-se semi-ativo por

desativação de um estado ativo anterior ou por associação a esquemas cognitivos. Essa associação ocorre porque, quando um dado esquema é evocado no discurso, conceitos relacionados a ele passam ao estado de semi-ativação, podem ser inferíveis.

Os conceitos inativos são aqueles que não se tornaram ativos nem pelo discurso prévio nem por evocação de esquema cognitivo, são informações novas. Trazer esses conceitos não ativados requer um maior esforço cognitivo, por isso só se ativa um conceito por vez durante a pausa inicial, que tem uma duração maior.

Há duas formas de ativação de um conceito: passagem do estado previamente não ativo para o ativo ou do semi-ativo para o ativo (rememoração). E uma para a desativação de um conceito: passagem do estado ativo para o semi-ativo.

No trecho abaixo, há um exemplo de ativação de um conceito

previamente inativo. Trata-se da introdução de uma informação nova. Ainda não havia sido feita, no texto, qualquer referência à Guerra Mundial.

12. A Copa do Mundo do Brasil em 1950

A Segunda Guerra Mundial terminara havia cinco anos. E os países europeus, com as finanças arrasadas, não puderam bancar a realização da Copa do Mundo. O Brasil se apresentou como solução e pôs fim ao período de 12 anos sem o maior evento do futebol (o último Mundial tinha sido em 1938, na França). O país construiu o maior estádio do planeta na época, o Maracanã. [Jornal, O Globo]

No exemplo 13, por outro lado, a expressão representa um conceito semi- ativo. Já no título há informação sobre o grande número de assaltos. Então, devido a uma associação a esquemas cognitivos, torna-se acessível a informação de que “Há duas semanas, três homens armados invadiram, no início da manhã, um prédio na Rua General Roca”.

13. Assaltos sobem 87%

Os índices da violência de julho, os últimos divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), da Secretaria de Segurança, mostram que o número de assaltos a residências subiu 31% no estado, passando de 98 casos, em 2008, para 129 este ano. Na capital, o aumento foi maior: 87%, de 24 casos, em julho de 2008, para 45, em julho deste ano. Segundo a polícia, há quatro quadrilhas atuando na capital.

Há duas semanas, três homens armados invadiram, no início da manhã, um prédio na Rua General Roca, na Tijuca. Os criminosos saquearam cinco dos 14 apartamentos. (...) [Jornal, O Globo]

No trecho abaixo, há um exemplo de um conceito que estava

previamente ativo:

14. (...) Depois eu fui para casa do meu avó e passei o carnaval inteiro la foi muito legal e me diverti bastante e reencontrei meus amigos porque eu nasci e morei lá por bastante tempo, mas me mudei para o maracanã e tou morando lá a 2 anos e meio (...) [Redação, 9º ano EF]

O narrador primeiro afirma que se mudou para o Maracanã, assim ativa o conceito de que mora no Maracanã; depois afirma morar nesse lugar há 2 anos e meio, retomando o conceito.

Os autores afirmam que a forma mais comum de se apresentar uma informação é escolher um conceito como ponto de partida e adicionar informação acerca dele. A relação entre os conceitos de “ponto de partida” e “informação acrescentada” ocorre ao passo que, geralmente, aquele é um referente ativado (velho) ou acessível, só será novo no início do discurso, e este contém um conceito novo, pode conter conceitos acessíveis, ou mesmo velho, se expressar um contraste.

O conceito de oração aqui é ampliado (extended clauses), abrangendo orações simples ou acrescidas de fragmentos de orações, orientações, etc. As orações são unidades que os falantes encadeiam com marcas de conexão, tais como e, aí, então etc. Vale ressaltar que o estudo do autor é baseado na língua oral espontânea, e o presente trabalho centra-se na língua escrita; por isso, há adaptações dos conceitos.