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Trabalho de Projecto Cali 16 Abril 2012 VF

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Academic year: 2019

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DEDICATÓRIA PESSOAL

A história recente da Guiné-Bissau na procura da consolidação da democracia e os desencontros neste processo ao longo das últimas 3 décadas levam-me a dedicar este trabalho a todos os activistas, cidadãos comuns, técnicos e políticos que, honesta e abnegadamente, continuam a lutar por um país melhor, por um território organizado, com perspectivas de modernidade, dentro quer do espaço regional em que se insere, quer do espaço lusófono, como porta para o resto do Mundo.

Dedico aos que já morreram, levando consigo o sonho de um dia poderem respirar o ar da verdadeira independência, de verem a sua pátria transformada, com uma urbanização de tipo Ocidental, onde os planos de urbanismo mais formalistas tornem preponderante o alargamento dos antigos centros, com malha ortogonal ou radial e de forte expressão geométrica e com todas as infra-estruturas básicas instaladas.

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AGRADECIMENTOS

A todos os que, de uma forma directa ou indirecta, contribuíram para este projeto; Aos Professores Nuno Pires Soares e Maria Júlia Ferreira, orientadores oficiais deste projecto, muito particularmente às Professoras Maria Júlia Ferreira e Margarida Pereira pela consolidação da proposta de realizar um trabalho relacionado com o meu país e aplicando os meus conhecimentos, de quase vinte anos na área da Cartografia e cadastro, por se tratar de uma ferramenta fundamental para o Planeamento Físico do Território.

Agradeço igualmente, e sem excepção, a todos os Professores deste departamento de Geografia e Planeamento regional da Faculdade das Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa que participaram no meu processo de aprendizagem e preparação, nesses dois ciclos. Conscientes das minhas dificuldades como trabalhador estudante, souberam acompanhar-me e sempre me encorajaram a não desistir.

Aos Professores Henrique Souto, Pedro Casimiro e Dulce Pimentel que, incondicionalmente, se prontificaram a disponibilizarem-me alguns dos seus livros para consulta e aprendizagem.

A todos os “irmãos”, companheiros e colegas que iniciaram comigo a licenciatura e que contribuíram bastante para a minha caminhada nesses cinco anos de formação superior. Uns mais que outros foram colegas muito próximos, contudo a todos devo facilidades em matéria de inserção, a lealdade, o respeito e a compreensão que sempre manifestaram.

Ao Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (INEC) da Guiné-Bissau, ao Ministério das Infra-estruturas, com todas as suas Direcções Gerais, à Direcção Geral das Alfândegas, do Ministério das Finanças, aos delegados regionais pelas áreas de planeamento, em Gabu e Quebo, aos governadores da região de Bafatá e do Sector de São Domingos, ao Presidente da Câmara Municipal de Bissau, a todos agradeço os documentos e informações disponibilizados.

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A REESTRUTURAÇÃO DA REDE URBANA E O SEU CONTRIBUTO PARA O ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO DA GUINÉ-BISSAU

[TRABALHO DE PROJECTO]

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RESUMO

O objetivo principal deste projeto consiste em refletir sobre a rede urbana e o seu contributo para o ordenamento do território da Guiné-Bissau e propor soluções para a sua reestruturação como forma de facilitar as vias do desenvolvimento do país. É sobejamente sabido que a Guiné-Bissau se encontra numa posição muito rudimentar em termos de planeamento físico, ordenamento e urbanização das cidades, tal como muitos países da região onde se insere e, por isso, são campos onde quase tudo está por fazer. Em termos de atratividade, no contexto da competitividade inter-regional, a República da Guiné-Bissau é dominada pelas actividades agro-silvo-pastoris, sendo nos últimos quinze anos predominante a produção e comercialização da castanha de caju, no sector primário, continuando o Estado com o controlo do terciário e da economia de mercado. À luz da integração do país na Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), o objectivo deste trabalho passa também por compreender a situação da Guiné-Bissau, entre os países membros, em matéria de Ordenamento do Território, sobretudo do sistema urbano, sabendo que, desde a independência, pouco se fez para o melhoramento do habitat e das condições de habitabilidade das populações.

Os problemas sociocultural, étnico, religioso, acompanhados por uma alta taxa de analfabetismo e de pobreza, sobretudo das populações camponesas, são também abordados neste projecto, como consequências da inércia, por parte dos órgãos de soberania, em matéria de urbanização; os tradicionais hábitos de viver junto das explorações agrícolas ainda prevalecem em todos os grupos étnicos do país, em particular em todo o litoral. É urgente inverter as tendências e iniciar, muito rapidamente, a reestruturação da nossa rede urbana.

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ABSTRACT

The main objective of this project is to reflect on the urban network and its contribution to the planning of Guinea-Bissau and propose solutions for their restructuring in order to facilitate the process of development of the country. It is well known that Guinea-Bissau is in a position very rudimentary in terms of physical planning, land use and urbanization of the towns, like many countries in the region where inserts and therefore are fields where almost everything is done. In terms of attractiveness, in the context of inter-regional competitiveness, the Republic of Guinea-Bissau is dominated by agro-silvo-pastoral activities, being predominant in the last fifteen years the production and commercialization of cashew nuts, in the primary sector, continuing the State with the tertiary control and the market economy. In the light of the country's integration in the economic community of West African States (ECOWAS), the objective of this work is also to understand the situation in Guinea-Bissau, between Member countries in the area of town planning, especially urban system, knowing that, since independence, little has been done to improve habitat and the conditions of habitability of populations. The sociocultural problems, ethnic, religious, accompanied by a high rate of illiteracy and poverty, especially peasant populations, are also addressed in this draft, as consequences of inaction on the part of the organs of sovereignty, in terms of urbanization; the traditional habits of living together of farms still prevail in all ethnic groups in the country, particularly around the coast. There is an urgent need to reverse trends and start very quickly, the restructuring of our urban network.

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Índice

1. INTRODUÇÃO ... 10

1.1- O Tema e a pertinência da escolha ... 10

1.2- Os objectivos ... 15

1.3- As metodologias ... 16

2. ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO E SÓCIO-ECONÓMICO ... 16

2.1- A Guiné-Bissau no contexto da África Subsariana Ocidental: problemas e desafios ... 16

2.2- As dinâmicas socioeconómicas na Guiné-Bissau: debilidades e potencialidade 30 2.2.1. A diversidade étnica e cultural ... 30

2.2.2. Os contrastes interior-litoral na base da diversificação cultural ... 34

2.2.3. Impactos da dependência da ajuda externa ... 38

2.2.4 A macrocefalia de Bissau: a desigual distribuição geográfica da população e das fontes de riqueza ... 41

2.3- Efeitos das alterações climáticas na distribuição da população e nos recursos naturais ... 44

3. O SISTEMA URBANO GUINEENSE NOS ÚLTIMOS 50 ANOS ... 47

3.1 - Uma breve história sobre o povoamento da Guiné-Bissau... 47

3.1.1. O povoamento no território da Guiné-Bissau antes da independência ... 48

a) O período anterior à “descoberta” pelos portugueses ... 48

b) O povoamento da Guiné-Bissau no tempo dos portugueses ... 49

3.1.2. O povoamento da Guiné-Bissau no período após a independência ... 56

a) Factores da distribuição geográfica da população e mudanças em curso ... 59

b) A actual fase de crescimento urbano e a (sub) urbanidade... 62

3.2 - O sistema urbano guineense: as principais regiões e aglomerados populacionais do passado à actualidade ... 65

3.2.1. As regiões e a divisão administrativa actual ... 65

3.2.2. A hierarquia das aglomerações urbanas guineenses ... 68

a) A capital do país e as capitais das oito regiões ... 71

b) As outras aglomerações urbanas... 83

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3.4 – Os problemas da gestão urbana: infra-estruturas, equipamentos colectivos, rede viária e sistema de transportes ... 87 4. PERSPECTIVAS E PROPOSTAS DE DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA URBANO GUINEENSE ... 91 4.1- A evolução do modelo de sistema urbano: papel da descentralização e das

acessibilidades ... 91 4.2 – As necessidades de alojamento e de infra estruturas urbanas básicas nos pólos do sistema urbano: os recursos financeiros e o reequilíbrio ambiental ... 100 4.3- A intervenção na Cidade de Bissau, principal pólo do sistema urbano guineense ... 93 4.4. Propostas para a melhoria do ordenamento e da gestão do território guineense, tendo por base a reestruturação da rede urbana ... 97 5. CONCLUSÃO: o contributo da reestuturação do sistema urbano guinenense para a reorganização do território, culturalmente complexo, e para a integração regional da Guiné-Bissau ... 110 BIBLIOGRAFIA ... 110 ANEXOS ... 118

SIGLAS E ACRÓNIMOS IMPORTANTES

APD - Ajuda Pública para o Desenvolvimento

BCEAO – Banco Central dos Estados da África Ocidental

CEDEAO – Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental CMB – Câmara Municipal de Bissau

CE – Comunidade Europeia

DENARP – Documento de Estratégia Nacional para Redução da Pobreza ECOWAS - Economic Community of West African States

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IHPC – Índice Harmonizado de Preço no Consumido INEC – Instituto Nacional de Estatísticas e Censos INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa

IPAD – Instituto Português de Ajuda para o Desenvolvimento MOPCU – Ministério das Obras Públicas Construções e Urbanismo MU – Ministério do Ultramar

NEPAD – Nova Parceria para o Desenvolvimento em África

OHADA – Organização para a Harmonização do Direito dos Negócios em África ONG – Organismo Não Governamental

ONU – Organização das Nações Unidas

PAIGC – Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde PALOP – Países Africanos da Língua Oficial Portuguesa

PASI – Programa de Ação Social e Infraestrutura PRS – Partido de Renovação Social

PIB – Produto Interno Bruto

PIC – Programa Indicativo da Cooperação

PMBB – Projeto de Melhoramento de Bairros de Bissau

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento POS – Planos de Ocupação do Solo

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1. INTRDUÇÃO

1.1- O Tema e a pertinência da escolha;

O tema REESTRUTURAÇÃO DA REDE URBANA E O SEU CONTRIBUTO PARA O ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO DA GUINÉ-BISSAU” implica, por um lado, um trabalho vasto e complexo por incidir sobre um país com profundos problemas em matéria de Urbanismo e Ordenamento, mas por outro, um grande desafio, exatamente por esses motivos. As principais palavras-chave estão contidas no próprio título: Reestruturação, Rede Urbana, Ordenamento do Território e Guiné-Bissau. Na utilização dos conceitos centrais reportar-nos-emos sobretudo ao projeto PROVINCIA DA GUINÉ, 1973, MENDY, 2006 e BALDÉ, 2008.A escolha da temática do projecto resultou de incentivos feitos por alguns professores e vem na sequência de alguns trabalhos práticos levados a cabo ao longo da licenciatura, que proporcionaram uma reflexão sobre vários problemas que dificultaram o arranque do Ordenamento do Território guineense e da urbanização integrada em figuras de planeamento definidas e reconhecidas oficialmente

Da pesquisa feita sobre a Guiné-Bissau, sobretudo online, nomeadamente em repertórios de teses e dissertações e documentação de Centros de Estudos Africanos, concluímos que as publicações versam, quase sempre, questões políticas, sociais e económicas (a governação, a pobreza, os níveis de desenvolvimento, a saúde e a educação) e que as preocupações do ordenamento estavam praticamente ausentes. Assim, a temática que nos propomos estudar parecia ser de inquestionável pertinência. Nas instituições oficiais e respetivos programas de ação (nomeadamente, ONU, NEPAD, Parceria Europa-União africana, CEDEAO, INEC-Guiné, INEP) encontramos documentos interessantes para enquadrar esta reflexão.

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carências em Bissau e, em 3º lugar, na dissertação de mestrado de Saico Baldé, 2008, Buba-Quebo: Corredor de Desenvolvimento no Sul da Guiné-Bissau, que estudou uma área específica mas enquadrando-a no conjunto do país.

A urbanização intensiva, devida ao grande aumento dos quantitativos da população, em curso nos países em desenvolvimento, nomeadamente nos que constituem a África Ocidental, onde se situa a Guiné-Bissau, torna ainda mais pertinente esta abordagem sobre o sistema urbano.

Esta urbanização, acelerada e intensiva, tem vindo a exercer uma pressão muito forte sobre os recursos naturais ainda disponíveis, apelando à intervenção no sentido de inverter situações que podem comprometer a nossa sobrevivência. Segundo um relatório divulgado a 13 de Março de 2007 pela ONU (Organização das Nações Unidas), o Mundo terá um aumento de 2,5 mil milhões de habitantes nos próximos 43 anos, passando dos 6,7 mil milhões, em 2007, para alcançar os 9,2 mil milhões em 2050, passando os países em desenvolvimento dos 5,4, em 2007, para 7,9 mil milhões de habitantes, em 2050. Os motivos apresentados para esse aumento são os saldos fisiológicos e a longevidade (aumento da esperança de vida) que traduz um conjunto de condições em que se destaca a melhoria no acesso à saúde, nomeadamente ao tratamento do VIH/SIDA. (http://www1.folha.uol.com.br, 20-09-2010).

O êxodo do campo para a cidade, sem que esta oferecesse condições de acolhimento e de emprego, exerceu grande pressão sobre a organização urbanística dos centros populacionais desenvolvidos já no período colonial. Nos arredores dos “centros asfaltados” da época colonial, todos os dias surgem bairros sobrelotados, sem condições de habitabilidade, ou estendem-se progressivamente os existentes. No entanto, segundo Augusto Trindade (2000: 164), estas “migrações são indiscutivelmente um fenómeno muito importante na vida como nas relações entre os povos. Por serem o resultado da articulação entre vários factores, onde as desigualdades de desenvolvimento e as perturbações políticas endémicas de certas regiões sobrepõem, repercutindo-se muitas vezes de forma negativa no desenvolvimento”.

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desenvolvimento, principalmente os de descolonização ainda recente, têm vindo a adotar novas políticas em matéria da organização e planeamento do território (ou pretendem fazê-lo), como forma de ultrapassar alguns constrangimentos e irracionalidades na ocupação e transformação de uso do solo e apostar na preservação do meio ambiental.

Acreditamos que a definição de uma rede urbana adequada ajudará a programar as outras redes que fazem parte de um território estruturado, como sejam as dos transportes e dos equipamentos colectivos e, por isso, decidimos fazer esta reflexão em torno do sistema urbano tendo em vista o ordenamento do território guineense.

Desde a independência, a expansão das povoações na Guiné-Bissau tem sido dominada pela informalidade, levando à “luta pela urbanização”; esta luta tornou-se uma das principais apostas em quase todos os países do Terceiro Mundo nos últimos tempos, particularmente em toda a África subsariana, como uma das medidas para a redução da pobreza, controlo de doenças endémicas, como a malária, e de outros factores que comprometem o seu desenvolvimento sustentável; por esse facto, iremos abordar a temática da “informalidade urbana” num dos subcapítulos deste trabalho.

Na Guiné-Bissau os problemas urbanos são muito graves e estão associados a um dos mais baixos níveis de desenvolvimento humano e, por isso, exigem aos órgãos de soberania daquele país, uma tomada de consciência e a mudança de paradigma no que se refere à gestão urbana e à utilização dos recursos naturais não renováveis.

Depois do golpe militar de 14 de Novembro de 1980, o país nunca mais conheceu um período de paz suficiente para se poder organizar e acompanhar os parceiros económicos na dinamização da região onde se insere, situando-se hoje nos últimos três lugares de pobreza no ranking mundial.

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Nas últimas décadas da era colonial pretendeu-se desenvolver um pouco mais este território, nomeadamente através do Estatuto dos Indígenas das Províncias da Guiné, Angola e Moçambique, apresentado “em 20 de Maio de 1954, regulamentado pelo Decreto-Lei n.º 39.666. No seu Capítulo III, artigo 56, estavam definidas as condições para que o “indígena” alcançasse a condição de cidadão: ter mais de 18 anos; falar correctamente a língua portuguesa; exercer profissão, arte ou ofício de que aufira rendimento necessário para o sustento próprio e das pessoas de família a seu cargo, ou possuir bens suficientes para o mesmo fim; ter bom comportamento e ter adquirido a ilustração dos hábitos pressupostos para a integral aplicação do direito público e privado dos cidadãos portugueses; não ter sido notado como refractário ao serviço militar nem dado como desertor” (ANDRADE, M. 1976) citado por (FRANCO, 2009, 75) decreto esse que foi difícil implementar na Guiné porque até a presente data, ainda se regista uma alta taxa de analfabetismo. Sob olhares de vários especialistas relativamente a resistência guineense, “René Pélissier considerou a cobrança de impostos como causa essencial das principais acções militares, no período de 1841 a 1936 e constatou que a “fiscalidade” vinha em primeiro lugar. Sistematizando para esse período, um total de 89 intervenções, a cobrança de impostos e a pressão administrativa causaram o maior número de conflitos, com cinquenta e três casos (59,6%). As demais causas estavam assim distribuídas: defesa dos vassalos contra a repressão (treze ocorrências ou 14,6%); pirataria ou pilhagem (oito casos ou 9%); a oposição à expansão dos fulas (seis ocorrências ou 6,6%); hostilidade comercial (cinco casos ou 5,6%); insatisfação dos grumetes (três ocorrências ou 3,5%); combate ao trabalho forçado (um caso ou 1,1%). (…) A Guiné, observou-se “um quase contínuo estado de guerra até os anos 20, apenas interrompido esporadicamente: 1893, 1896, 1898-99, 1905-06, 1910-11, 1916” (FRANCO, 2009, 50-51). Tudo isso trilhou o que até hoje se constata na Guiné em termos de urbanismo e da promoção social.

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urbanismo, planeamento e ordenamento do território, quer ao nível da definição da rede urbana nacional quer da urbanização efectiva e da gestão urbana, ao nível local.

“Depois de um Plano Geral Urbanístico de Bissau, ainda da época colonial, que contemplava um território urbanizado para cerca de 20.000 habitantes, no princípio dos anos 1970, só nos meados dos anos 1990, ou seja, cerca de 20 anos mais tarde e com uma população urbana de quase 300.000 habitantes, o governo fez aprovar o novo Plano Director de Bissau e o respectivo Regulamento Geral da Construção e Habitação, assim como a Lei do Ordenamento Territorial e Urbano. Relativamente aos principais centros urbanos, nomeadamente para as Sedes Regionais, o Governo mandou elaborar Planos de Ocupação do Solo (POS) que deveriam servir como instrumentos de base no uso e ocupação do solo das respetivas cidades” (RAMOS, 2005, 148).

No entanto, aquele pacote legislativo nunca entrou em vigor, pelo que não se aproveitou a sua operacionalidade para o processo de gestão urbanística nem para o desenvolvimento do sistema urbano Guineense em geral. Por isso nos finais dos anos oitenta e ao longo da década de noventa do século passado, viveu-se na Cidade de Bissau e nos principais centros urbanos regionais que compõem a rede urbana nacional, um intenso crescimento urbano e de forma desordenada, um crescimento que aumentou a pressão sobre os recursos e pôs em causa a capacidade de carga da Capital, levando à proliferação dos bairros precários nos seus arredores e pondo em risco o equilíbrio ambiental e o bem-estar das populações.

No capítulo das políticas externas, a Guiné-Bissau tem beneficiado de ajudas importantes para reverter a situação, nomeadamente de Portugal no contexto da cooperação bilateral; o Programa Indicativo da Cooperação Portugal/Guiné-Bissau (PIC 2007-2010), que assume os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) e tendo em conta o Documento de Estratégia Nacional de Redução da Pobreza (DENARP) e o Plano de Combate ao Narcotráfico, traduz essas preocupações, concentrando-se sectorialmente nos seguintes eixos:

a) Boa Governação, Participação e Democracia;

b) Desenvolvimento Sustentável e Luta contra a Pobreza.

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melhor gerir os recursos disponíveis. Este trabalho pretende ser uma pequena ajuda para a boa governação no que se refere ao território, sobretudo “urbano”, o que envolve princípios de participação pública e de democracia, e para o desenvolvimento sustentável, pois se conseguirmos uma rede urbana equilibrada, poderemos controlar melhor o desgaste dos recursos naturais não renováveis.

1.2- Os objetivos

Atendendo ao estado em que se encontra o sistema urbano guineense, com o trabalho deste projecto pretende-se:

a) - Dar um contributo para os compromissos que se advinham em matéria de Planeamento Territorial;

b) – À luz da integração do país na Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), compreender a situação da Guiné-Bissau, entre os países membros, em matéria de Ordenamento do Território, sobretudo do sistema urbano;

c) – Propor ou reformular o modelo de ordenamento do sistema urbano adequando-o à realidade sociocultural, étnica e religiosa guineense.

Como objetivos específicos do Projecto, pretende-se:

a) - Efectuar um levantamento das potencialidades e debilidades do território, das oportunidades e ameaças que possam existir, principalmente nos grandes centros urbanos;

b) - Valorizar a utilização da Cartografia e do Cadastro no processo de gestão territorial, nomeadamente no conhecimento e controlo, a urbanização anárquica dos novos bairros (sobretudo em Bissau) e na execução dos instrumentos de gestão territorial pela Câmara Municipal de Bissau;

c) - Analisar os impactes ambientais em relação à falta de ordenamento de território, no que se refere sobretudo à gestão urbana e ao sistema de transportes, nas oito regiões do país;

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1.3- As metodologias

Da revisão bibliográfica, ao trabalho de campo e ao uso das tecnologias de informação e cartografia no processo de planeamento territorial e na gestão urbana, a pesquisa a levar a cabo irá apoiar-se numa metodologia que consistirá em:

a) - Revisão bibliográfica sobre a informação de referência (livros, projectos, revistas ou outros documentos) sobre os problemas e os modelos de intervenção nos diferentes tipos de sistemas urbanos na África subsariana e, em particular, o da Guiné-Bissau, para compreender a situação desta em matéria de Planeamento e Ordenamento do Território.

b) - Recolha da documentação referente ao último recenseamento geral da população e habitação, realizado pelo INEC/Guiné-Bissau, em 2008 e os dados sobre a cartografia em uso para fins cadastrais e como base do processo de Gestão do Território.

c) - Levantamento cartográfico da situação dos principais centros urbanos, nomeadamente dos perímetros urbanos, avaliando o peso do crescimento informal em torno deles.

d) - Realização de trabalho de campo com a deslocação ao país, para recolha de informações indispensáveis para o projecto, junto das entidades e instituições responsáveis pelo Planeamento e Ordenamento do Território, em matéria sobretudo do sistema urbano, da sua organização e gestão e dos instrumentos considerados adequados para uma intervenção eficaz e adequada às condições sociais, económicas, culturais e políticas do país.

2. ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO E SÓCIO-ECONÓMICO

2.1- A Guiné-Bissau no contexto da África Subsariana Ocidental: problemas e desafios;

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periodicamente submerso por águas pluviais. Em frente á parte continental encontra-se o Arquipélago dos Bijagós e várias outras ilhas costeiras, incluindo Jeta, Bolama e Melo. Estende-se por 336 km (209 mi) N-S e 203 km (126 mi) E-W. A Guiné-Bissau faz fronteira ao Norte com o Senegal, a Este e Sudeste com a Guiné-Conacri e Oeste e Sudoeste pelo Oceano Atlântico, com uma extensão fronteiriça de 1,074 km (667 mi) ” (http://www.onu-guineebissau.org/profil.htm, 21-09-2010). Ainda sobre a localização geográfica, uma outra nota diz que “A atual Guiné-Bissau corresponde a um pequeno território, afinal o remanescente das antigas áreas de influência portuguesa, muito mais vastas antes do século XIX. Da Gorea e Casamansa, no Senegal e Gâmbia, e ao Golfo da Guiné com as suas ilhas, inúmeras possessões lusas se foram perdendo até Oitocentos. Os núcleos urbanos com significado neste último período serão pois apenas os incluídos no actual território da Guiné-Bissau”, (Fernandes e Janeiro, 2005, 30).

Quanto aos conceitos e teorias, poderão encontrar ao longo deste trabalho, conceitos como “reestruturação”, “rede urbana” e “ordenamento do território” que servirão de suporte teórico por aquilo que se pretende desenvolver. A “reestruturação” é um termo que segundo o dicionário da língua portuguesa da Porto Editora, significa restruturação, sendo esta por sua vez, o ato ou efeito de restruturar; tornar a estruturar; dar nova estrutura a; remodelar; reformar etc.; Ainda segundo o dicionário online de Português, é sinónimo de reforma, regeneração, renovação, reorganização e restruturação, podendo ter outro significado noutras áreas do saber. Ou seja, o que se pretende levar concretizar neste trabalho.

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Por fim, “ordenamento do território”, um outro termo que tem vinda a ganhar espaço na problemática de planeamento territorial, muito embora, “não existem grandes reflexões sobre o que abrange este conceito” (ALVES, 2007, 48). De seguida, entende que “ordenamento do território é um neologismo, cujo significado etimológico tem a ver com todas as temáticas que dizem respeito à evolução, conceção e gestão da organização do território” (Idem). Muitas outras obras se seguiram com a de Merlin e Choay (1996) citado em, (ALVES, 2007, 48), que considera ordenamento do território “um processo que tem em vista a disposição no espaço e no tempo dos homens e das suas atividades, dos equipamentos, as infraestruturas e os meios de comunicação que eles podem utilizar, numa visão prospetava e dinâmica, tendo em conta as condicionantes naturais, humanas e económicas”.

Jorge Gaspar, 1995, p.5 citado em (http://www.igeo.pt/conceito_ot.org.pdf, 19-03-2012), sublinha que “o ordenamento do território é a arte de adequar as gentes e a produção de riqueza ao território numa despectiva de desenvolvimento”. Mas ainda sobre este tema, um documento oficial muito relevante, a Carta Europeia do Ordenamento do Território (Conselho da Europa, 1988, p. 9 e 10) citado pelo mesmo artigo, diz que o ordenamento do território “ é a tradução espacial das políticas: económica, social, cultural e ecológica da sociedade. (…) É, simultaneamente, uma disciplina científica, uma técnica administrativa e uma política que se desenvolve numa perspetival interdisciplinar e integrada tendente ao desenvolvimento equilibrado das regiões e à organização física do espaço segundo uma estratégia de conjunto”. De acordo com estes pressupostos, entende que “o ordenamento do território deve ter em consideração a existência de múltiplos poderes de decisão, individuais e institucionais que influenciem a organização do espaço, o caracter aleatório de todo o estudo prospetivo, os constrangimentos do mercado, as particularidades dos sistemas administrativos, a diversidade das condições socioeconómicas e ambientais”.

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acentuado aumento da população urbana, o que fez com que em 2000, já contava com muitas cidades onde vivem mais de 50.000 habitantes cada, conforme os estudos das Nações Unidas, ver a figura-1. Qualquer país daquela comunidade da sub-região conserva as características próprias, problemas e desafios, sendo alguns mais similares conforme as políticas herdadas dos seus colonizadores. Relativamente aos costumes e modo de vida, quase, se não todos eles, comungam da mesma realidade; muitos apresentam ainda altas taxas de analfabetismo, pobreza profunda, falta de segurança, equidade e bem-estar social.

No capítulo da hierarquia das cidades no sistema urbano, nesta região de África, nota-se a existência de um considerável número de Cidades onde vivem entre 2.000.000 a 4.500.000 habitantes, mais do que em qualquer outra sub-região do continente. Existem três Cidades com 4.500.000 a 10.000.000 habitantes e uma Mega Cidade de Lagos que alberga entre 10.000.000 a 18.500.000 habitantes. Essa dinâmica demográfica pode ser reflexo de muitas situações desde a viragem no capítulo das estruturas familiares, do saldo migratório por um lado e por outro, o acesso às novas tecnologias no controlo dos efeitos da degradação climática e do melhoramento das condições básicas da vida das populações.

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Fig.1: Cidades africanas com população acima dos 50.000 habitantes em 2000

Fonte: UNHABITAT, 2010

A Guiné-Bissau é um país da sub-região da África Ocidental constituída esta por um conjunto de 17 países incluindo Santa Helena: Benim, Burkina Faso, Cabo Verde, Costa de Marfim, Guiné Conakry, Guiné-Bissau, Gambia, Gana, Libéria, Mali, Mauritânia, Níger, Nigéria, Santa Helena, Senegal, Serra Leoa e Togo. O Mesmo documento das Nações Unidas sobre a África, declara que em 1950, aquela sub-região apenas contava com 6,6 milhões de indivíduos a viverem nas Cidades. Alguns anos mais tarde tudo mudou, obrigando a taxa de crescimento da população urbana aproximar-se da média continental, situando-se em 92,1 milhões de habitantes em 2000, prevendo que tenha atingido 137,2 milhões em 2010. Sobre esse assunto, podemos afirmar que “a África Ocidental constitui um espaço imenso, de cerca de 6,7 milhões de km2, com uma população estimada em quase 200 milhões de habitantes. O incremento demográfico é rápido em função de taxas de crescimento anual situadas acima dos2,5% que fazem prever a população, em condições normais, duplique nos próximos 20 anos, passando os 400 milhões” (NÓBREGA, 2003: 37).

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nas estimativas do Observatório das Nações Unidas para a África, aquela região, da África Ocidental, poderá tornar-se predominantemente urbana, podendo atingir 195.3 milhões de citadinos até 2020, sendo que até 2050, essa cifra poderá atingir os 427.7 milhões, equivalente 68,36% do total da população. A figura-2 mostra os Estados que compõem a região da África Ocidental sem Santa Helena.

Fig. 2: Estados da África Ocidental (2011)

Fonte: http://www.google.pt/imgres?q=afrique+de+l%27ouest (24-10-2011)

No contexto da África Subsaariana Ocidental, a Guiné-Bissau é membro da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), uma organização de integração económica regional que engloba quinze países de África Ocidental: Benim, Burkina Fasso, Cabo Verde, Costa de Marfim, Gâmbia, Gana, Guine Conakry, Guiné-Bissau, Libéria, Mali, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa e Togo.

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e a Comunidade Económica de Desenvolvimento da África Ocidental (CEDEAO). Desde a adesão à UEMOA, a Guiné-Bissau tem desenvolvido esforços com vista à efectiva implementação de leis adotadas pelos vários órgãos da União nos capítulos monetário, institucional e económico. Estas medidas são complementadas por outras no âmbito da estrutura da Organização para a Harmonização do Direito dos Negócios em África (OHADA) e da Nova Parceria para o Desenvolvimento de África (NEPAD) “ (PIC 2007-2010).

Sobre as tendências da população urbana Quadro-1, a África Ocidental detinha em 1950, 6.629.000 habitantes nas Cidades, correspondentes a 9,79% da população total, sendo esse valor de 14,40%, no total do continente Africano. Cinquenta anos mais tarde, ou seja, em 2000, a população urbana passou dos 6.629.000 habitantes para 92.162.000 habitantes, equivalente a 38,76 %, ultrapassando os 35,95% verificados no total do continente para o mesmo período. A variação aritmética da população é, em média, de 5.79%, de dez em dez anos, prevendo-se que esse valor aumente para 6,09 %, até 2010. Caso se mantenha as tendências apresentadas, a população desta sub-região poderá atingir os 427.675.000 habitantes, em 2050. O estudo mostra ainda, em termos percentuais, a tendência para o aumento populacional na sub-região, situando-se acima do esperado para toda África, desde 1990.

Quadro-1: Tendências da População Urbana na África Ocidental, 1950-2050.

Fonte: UNHABITAT, 2010, 61.

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Burkina Faso e Níger, sendo ultrapassada por catorze países, tendência que se previa manter até 2010. Para o ano 2050, a tendência mostra que a Guiné-Bissau será ultrapassada por Burkina Faso, passando para a penúltima posição apenas acima de Níger que atingirá os 36,81%, mas mesmo assim, a sua população urbana ficará nos 52,74 % no total.

Atendendo as desproporcionalidades territoriais e populacionais existentes entre os países da região, essas tendências analisadas reflectem a realidade que se vive pelo menos na Guiné-Bissau do pós independência, quanto a matéria de urbanização e do planeamento das cidades. Pelo facto de ser um país territorialmente pequeno, teoricamente poder-se-ia supor que seja de fácil urbanização, desde que se possa contar com a boa vontade dos seus governantes. Porém, não foi o que se viu, porque outras estratégias mereceram mais atenção dos sucessivos governos em detrimento da implementação de uma política de cidades que passe pelo desenvolvimento sustentável. Quadro - 2: Tendência da Urbanização nos países da África Ocidental, 1950-2050

(%)

Fonte: UNHABITAT, 2010, 100.

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ano 2000, todavia, segundo os últimos dados do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (INEC) sobre o recenseamento geral da população e habitação em 2009, a Guiné-Bissau já ultrapassou o valor previsto para 2020 pela ONU, passando a contar com nove das suas cidades com mais de 10.000 habitantes cada.

Quadro - 3: Número de Cidades com a população acima de 10.000 (1960-2020)

Fonte: UNHABITAT, 2010, 103.

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constituir o grupo dos países com menos cidades com população acima dos 10.000 habitantes.

Os estudos realizados sobre as dinâmicas da população urbana dessa sub-região apontavam para uma possível duplicação até 2020. No entanto, essa previsão poderá ser antecipada graças ao rápido crescimento populacional na região junto ao golfo da Guiné, com tendência para seguir o ritmo de crescimento das cidades de Lagos (Nigéria) e Kinshasa (República Democrática de Congo, que embora pertença a sub-região da África Central, é uma cidade com um crescimento populacional muito forte). Ou seja, as conurbações junto ao golfo da Guiné constituem uma sub-região com potencialidades de, em breve tornar-se anfitriã de duas maiores aglomerações urbanas em África, caso se mantiver as intensas concentrações demográficas já referidas de Lagos e Kinshasa. Esta é uma realidade subjacente, porque com a rápida subida destas duas grandes aglomerações ao topo da hierarquia urbana africana, as pequenas ações de crescimento demográfico das cidades abaixo de um milhão de habitantes em primeiro lugar, acabarão por serem absorvidas e em seguida as de 500.000, onde se situam cerca de três quartos do total daquelas que preveem algum crescimento, conforme o relatório das Nações Unidas.

Não se esquecer que dependendo das potencialidades históricas, políticas, culturais e das oportunidades de desenvolvimento, as grandes cidades da África Ocidental manifestam tipos de urbanização bem diferentes ver a figura-3. Exceptuando as regiões desérticas do Mali, Mauritânia e Níger, o estudo mostra ainda que, em termos gerais, a sub-região tem vindo a crescer de uma forma muito acelerada a partir dos últimos trinta anos. O mapa mostra igualmente quatro subgrupos ou sub-regiões com cidades relativamente homogéneas entre si, em termos de urbanização. A área número um, na legenda, corresponde àquela cuja mais alta densidade populacional da África Ocidental, sendo a Nigéria o principal país com mais centros urbanos que constituem a rede de cidades dessa área. Em segundo lugar, a região que se estende ao longo do golfo da Guiné, a área número dois na legenda, com uma densidade populacional urbana inferior a primeira área, apresentando no entanto uma razoável rede de cidades importantes na hierarquia urbana da sub-região.

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populacional, estagnação dos espaços urbanos e da ausência das grandes cidades. Níger é um dos demais países com as mais baixas taxas de urbanização dessa área, o que torna a sua rede de cidades mais fraca em relação à segunda área. Por último, temos a área número quatro na legenda, como a mais pobre de todas, em termos de urbanização. “Esta é uma área particularmente inóspita onde as cidades são escassas. Os assentamentos ali existentes como Zouerate, Chinguetti e Taoudeni (Noroeste de Sahara) experimentam novo tipo de desenvolvimento devido às condições climáticas, falta de conexões funcionais e ausência de um reservatório demográfico rural para alimentar as cidades” (UNHABITAT, 2010, 103). Realmente trata-se de uma região desértica situada numa faixa climaticamente muito hostil a vida humana e que se estende desde o mar vermelho a Este, até ao Oceano Atlântico, a Oeste, funcionando como zona geográfica de transição entre o Magreb e a região subsariana. O clima muito árido, para além das tensões políticas, económicas e a insegurança que se vive em muitos países dessa área, são acima de tudo, os entraves para a urbanização e ao crescimento da rede de cidades com algum peso funcional que garanta a integração da sub-região.

Fig. 3: Tipologia da Urbanização na África Ocidental (2010)

Fonte: UNHABITAT, 2010, 103.

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Regionais, para ano 2020, como forma de ajudar a compreender como Bissau se distancia do resto das principais “cidades económicas” da sub-região.

Do ponto de vista do importante papel que uma cidade desempenha no desenvolvimento local ou regional, os Clusters regionais merecem uma especial atenção, principalmente quando resultam de espontâneos processos espaciais ou geográficos. De salientar que a par dos Clusters regionais, “os Clusters urbanos são importantes centros principalmente de actividades económicas mas também da tomada de decisões por parte dos stakeholders locais e de mais agentes com cargos públicos” (UNHABITAT, 2010, 102-106). Por isso, a concentração das cidades, pessoas e das actividades económicas pode ser benéfica e deve ser promovida levando em linha de conta que essa concentração cria ou poderá criar confiança nos agentes de produção, ou seja, “uma economia de aglomeração onde os problemas com as ligações entre os mercados e as deslocações às grandes distâncias dos centros não se colocam, a proximidade da logística assim como boas acessibilidades aos nós das infra-estruturas de transportes tais como portos, estações de caminhos-de-ferro, aeroportos etc., tornam por assim dizer, um Cluster num grande polo de atracção” (idem).

Fig. 4 - Prospectiva para a Rede Urbana e Clusters Regionais (2020)

Fonte: UNHABITAT, 2010, 105.

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com potencialidades económicas tanto nos mercados formais e informais locais ou regionais, a Guiné-Bissau só pode contar com a relativa vizinhança do mercado senegalês, cuja grande região de Dakar desenvolveu um Cluster local de atracção regional. Por outro lado, apresentando uma profunda falta de infraestruturas de transportes, uma fraca capacidade organizativa na economia de mercado, a conurbação urbana da ilha de Bissau constitui per si, o único Cluster regional, do país. Este vai ser um grande desafio para os próximos governos até 2020, uma vez que até à data presente, a Guiné-Bissau não possui nenhum terminal portuário com as características normais exigidas internacionalmente. Vai precisar de apostar rapidamente nessa infraestrutura para consolidar esse Cluster. Ainda faltam autoestradas e vias rápidas de interligações regionais, tendo atualmente quase 75% da sua rede viária por asfaltar. Daí, a urgência na reestruturação da rede urbana com base no que já existe, melhoramento de conectividade intrarregionais para que haja condições aceitáveis ou indispensáveis para um desejável desenvolvimento sustentável na sub-região.

O êxodo rural tem contribuído para o aumento da população urbana nas principais cidades guineenses, cerca de 39,6% da população do país nos últimos trinta anos, onde 60,4% ainda representa o contingente rural, segundo os dados dos últimos censos de 2009. Em todos os países da África Ocidental predomina o sector primário, reflectindo um conjunto de constrangimentos que não foram ultrapassados pelos governantes, talvez por falta de visão ou de interesse pelos problemas de urbanismo. Muitos dos países desta região, incluindo a Guiné-Bissau, caso não mudem de paradigmas em matéria de urbanização sustentável rumo ao desenvolvimento, poderão comprometer as obrigações do milénio assumidas junto das Nações Unidas para o horizonte de 2015, com destaque a redução da pobreza urbana e a melhoria das condições de vida das populações.

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Gráfico:1- Proporção da População Urbana que vive em Bairros Degradados (1990-2010; %)

Fonte: ONU, Relatório sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, 2010: 64

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sub-região e a definição de estratégias para cada país e conjuntas sobre as políticas sectoriais e espaciais coerentes com os projectos de NEPAD baseados em mais integração, foram ainda definidos os seguintes “objectivos específicos:

a) Gestão da população e da sub-região;

b) Organização do sistema de transportes e suas transformações;

c) Desenvolvimento das Cidades secundárias e dos territórios produtivos; d) A promoção das Metrópoles competitivas á escala da economia regional e

mundial;

e) Definição e implementação de programas de cooperação transfronteiriça; f) Gestão de recursos no quadro de um desenvolvimento sustentável”

(Ouagadougou, 2004).

Apesar de todo esse esforço, as fragilidades políticas e socioeconómicas, a falta da cultura de tolerância e o abuso do poder prevalecem em alguns desses países, o que torna cada vez mais necessária a conjugação dos esforços para o melhoramento das condições de vida das populações, pautada pela política de habitação na defesa da habitabilidade condigna para todos, com o recurso às matérias-primas locais. A Guiné-Bissau pode servir de porta de entrada dos PALOP nos mercados da vasta região económica da África Ocidental. Este assunto merecerá mais detalhes no ponto seguinte, principalmente no que se refere às debilidades e potencialidades.

2.2- As dinâmicas socioeconómicas na Guiné-Bissau: debilidades e potencialidade.

2.2.1. A diversidade étnica e cultural;

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Na figura-5, podemos ver como é formado o mosaico da localização espacial das principais etnias que habitam o território guineense e além-fronteiras.

Fig. 5- Localização Espacial das principais Etnias Transfronteiriças

Fonte: Atlas da Lusofonia, 2001, 53.

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Fig. 6 - Localização Espacial das principais Etnias Interiores

Fonte: Atlas da Lusofonia, 2001, 54.

O interior, ou seja as regiões a montante dos limites das marés, é mais habitado pelos Fulas e Mandinga, comunidades étnicas islamizadas, resultado da difusão do Islão na antiga Senegâmbia e na faixa Sul do Sahel, desde o século VII. Sabe-se que esses povos pertenciam a uma sociedade altamente estratificada de nobres e aristocratas, homens livres e escravos, pastores, ferreiros, ourives, tecelões, griô etc., todos fiéis e praticantes dos ensinamentos do alcorão. Normalmente organizados em torno dos chefes religiosos coadjuvados pelos anciãos, ou seja, também possuíam uma política centralizada e caracterizada por uma forte hierarquia social. Em termos de acumulação de riquezas, os Fulas e Mandingas têm por hábito apoderarem-se de terras para a criação de gados, com destaque ao bovino, ovino e caprino.

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Recuando um pouco na história da ocupação estrangeira, vale a pena lembrar que antes da chegada dos Portugueses à costa Ocidental africana, em 1446, o litoral das terras da Guiné-Bissau já tinha sido habitado por grandes grupos étnicos vindos do interior do continente, mais concretamente do Vale do Níger. “A população do litoral da Guiné compõe-se de numerosos grupos étnicos. Estes estavam já todos estabelecidos nesta região, quando os Portugueses chegaram a estas terras (século XV). Foram empurrados para o litoral numa época antiga (sem dúvida, séculos XIII e XIV) com a chegada dos Mandingas. As suas tradições dizem frequentemente que vieram do interior do continente onde ocuparam antigamente, territórios mais ou menos vastos. (…) A maior parte eram animistas (não muçulmanos). São em geral, excelentes agricultores (de arroz). Uns viviam e vivem ainda em comunidades independentes, sem classe dominante ou chefes dominadores, outros tinham uma organização hierarquizada e estavam organizados em Estados, como os Mandingas” (PAIGC, 1974, 48). São assim quatro, os grandes grupos que habitam o litoral, subdivididos da seguinte forma:

a)- Grupo Diola (Felupes, Baiotes) Balantas

São excelentes cultivadores de arroz, especialistas de cultura irrigada de arroz nas zonas marítimas, estavam em geral organizados em comunidades familiares livres, sem a dominação de classe. Os Felupes e os Baiotes constituem os ramos do povo Diola, que ocupa as duas margens da baixa Casamansa, e estão instalados sobretudo na margem esquerda, entre Casamansa e o rio Cacheu.

Os Balantas (160.000 indivíduos no recenseamento de 1950) compõem o grupo étnico mais numeroso do litoral; ocupam a região central e florestal do litoral e dividem-se em vários ramos, alguns dos quais são estreitamente aparentados aos Mandingas. Encontram-se também ao Sul e ao Norte do rio Geba.

b)- O Grupo Manjaco (Brame, Papel) e Banhum (Cassangas, Cobianas)

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de substituição das culturas todos os três anos e na utilização do estrume. Os Papeis ocupam a ilha de Bissau. Os Banhuns (na sua língua, lágar), os Cassangas (na sua língua, lhadjá), os Cobianas, estabelecidos entre Foghy e o rio Cacheu, que são hoje muito pouco numerosos, desempenharam no entanto, no passado um papel importante.

c)- O Grupo Beafadas e Nalús

Estes povos são muito marcados pela influência dos Mandinga, com os quais, provavelmente, são aparentados. Os Beafadas estão estabelecidos no sul do rio Geba. Os Nalús, que se encontram também na República da Guiné Conakry, vivem no extremo sul, no litoral. São excelentes cultivadores de arroz.

e) - O Grupo de Bijagós, Cocoli, Padjadincas

Os Bijagós vivem no arquipélago com o mesmo nome. Ocupavam-se principalmente de palmeiras e da pesca, não conheciam a cultura de arroz. São igualmente aparentados aos Nalús, Cocoli e Padjadincas que se encontram também na República da Guiné Conakry, vivem isolados, em pequenos grupos, no interior. Os Cocoli viviam antigamente no litoral” (PAIGC, 1974, 48-51).

Esta análise mostra como não é fácil estruturar a população guineense através de um ordenamento do território de tipo europeu porque este “procura determinar as condições de equilíbrio dinâmico na estrutura biofísica de território tendo em conta aspetos económicos, sociais, culturais e políticos, no sentido de as entender com pré-condições ao processo de planeamento de território” (ALVES, 2007, 49), o que vai levar muito tempo até que o cidadão comum consiga entender e aceitar qualquer que seja mudança na s estruturas do seu habitat. Por causa de contrastes ainda prevalecentes, vai continuar a existir por muito tempo as pequenas tabancas dispersas por todo território, tanto no litoral como no interior, o que só vai fragilizar a hierarquização no sistema urbano.

2.2.2. Os contrastes interior-litoral na base da diversificação cultural;

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uma linha de acção estratégica clara, pelo que se torna necessário associar ao factor étnico o elemento linguístico, procurando as línguas nativas de raiz comum. (...) Deve também avaliar-se a projecção de alguns grupos étnicos-linguísticos para além e para aquém-fronteiras” (Atlas da Lusofonia, 2001, 51). O caso da Guiné-Bissau, nessa matéria, precisa de uma abordagem diferente, uma vez que mesmo dentro da região do litoral existe um mosaico etnográfico muito complexo e que consiste na diferença étnolinguistica claramente perceptível seja por qualquer visitante. Para exemplificar, temos “os grupos Diolas e Balantas que aparecem como aparentados em termos de usos e costumes, são por outro lado muito diferentes linguisticamente. Os Manjacos, Papeis e Brames linguisticamente aparentados, são diferentes nas técnicas de construção de habitações, práticas agrícolas” (SIDA,1981, 165) e de alguns ritos cerimoniais etc.. A figura-7 pode ajudar a compreender melhor a origem da designação “litoral/interior” a partir da compreensão dos fenómenos das marés, uma vez que, o limite superior da sua influência divide nitidamente o território.

Fig. 7 - Limite Interior das Marés

Fonte: Atlas da Lusofonia, 2001, 48.

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(Cadjiria e a Tidjania). A formação de aglomerados populacionais de forma orgânica, construção típica de casas baixas por parte dos Fulas que os mandingas também já imitam, o fabrico de idênticos instrumentos para cultivar a terra, etc., são alguns dos exemplos.

Todos estes pormenores caracterizam o contraste interior/litoral. O litoral guineense alberga grupos étnicos na sua maioria animistas, que ainda acreditam na feitiçaria e obedecem aos tradicionais responsáveis religiosos, ou aqueles que se encarregam da realização das cerimónias e ritos sagrados. O fanado (circuncisão) que, para além do seu carácter meramente de higiene e cultural, praticado há vários Séculos, passou a ser encarado por muitos como cerimónia da iniciação de jovens para a vida adulta. Tornou-se num acto de pura especulação e subserviência por parte dos candidatos a favor dos responsáveis organizadores. Outra prática prende-se com o ritual pagão conhecido em crioulo por Toca-Tchur, como forma de reconhecer e dignificar um familiar falecido perante a sociedade. É entendido como um dever, onde cada membro da família em idade adulta, sente a obrigação de tomar parte nela, podendo sacrificar entre uma ou mais cabras ou vacas, para além de outros gastos com a alimentação de bebidas alcoólicas que por regra, devem fazer-se acompanhar.

São práticas deste tipo que, em meu entender, contribuem para a alta taxa de mortalidade no país, baixo índice de esperança de vida principalmente nos homens, promove o atraso no desenvolvimento, porque em muitas etnias só trabalha-se para o cumprimento dessas obrigações, mesmo vivendo em mais desumanas condições de vida.

No interior, ou chão de Mandingas e Fulas como se diz na Guiné-Bissau, não há dessas práticas mas em contrapartida, generalizou-se a prática da mutilação genital feminina, um fenómeno bem enraizado e que há muito, tenta contra a saúde e a dignidade da mulher como ser humano. Todas essas diferenças comportamentais entre os povos do litoral e do interior, refletem bastante na forma como são encarados os problemas da ocupação e transformação do uso do solo.

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longamente. “Ao longo da sua história como país independente, a Guiné-Bissau tem tido grande dificuldade em alterar substancialmente o tecido produtivo assente no sector primário. A economia guineense vem apresentando, cada vez mais, sinais de fragilidade, com destaque para uma balança comercial muito deteriorada e para os elevados valores da dívida externa. Na década de 80, por pressão da Comunidade Internacional, foram implementadas uma série de reformas no sentido da liberalização da economia, da promoção da estabilização financeira e monetária, reforço da administração fiscal e da melhoria da gestão dos recursos públicos.

Esta estratégia culminou, em 1997, com a adesão da Guiné-Bissau à União Económica e Monetária da África Ocidental (UEMOA), encontrando-se a sua política económica e monetária sob a chancela de um Banco Comum dos países membros. A adesão à UEMOA veio favorecer uma maior estabilidade cambial permitindo, simultaneamente, a sua melhor integração no mercado regional da África Ocidental. O conflito político-militar de 1998-1999 e as crises políticas que se lhe seguiram, afectaram negativamente o crescimento do PNB. A partir de 2003, começou a ser visível uma lenta recuperação da economia nacional, a qual acabou por não se revelar sustentável.

Devida a muitas práticas que conduzem á pobreza, o crescimento económico na Guiné-Bissau desceu de 3.5% de 2005 para 1.8% em 2006. No contexto africano, onde a média de crescimento se situa nos 5.7%, a Guiné-Bissau é um dos países com menor crescimento. As causas do fraco desempenho económico prendem-se com factores internos, instabilidade política e redução do preço da castanha de caju, produto responsável por 30% do RNB, e de factores externos, como a subida do preço do petróleo. A situação do atraso dos pagamentos à função pública é um problema repetente que provoca tensões sociais permanentes.

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Os sectores económicos mais importantes são a agricultura, onde se destacam a exportação da castanha de caju e a pesca, feita essencialmente por navios estrangeiros que actuam através da concessão de licenças de pesca. O subsolo guineense é rico em minerais, sendo uma área com um elevado potencial e que começa a ser estudado com mais atenção, sendo de destacar, os depósitos de fosfatos em Farim, as reservas de bauxite no Boé e as potencialidades petrolíferas no off-shore. O sector industrial é muito limitado” (PICGB- 2007- 2010, 16-17).

2.2.3. Impactos da dependência da ajuda externa;

A Guiné-Bissau continua a depender muito do exterior por “fazer parte dos vinte países mais pobres do mundo. As frequentes crises políticas que têm afectado o país desde 1998 destabilizaram o Estado e reduziram muito a sua capacidade de governação. Acresce que, nos últimos anos, surgiu outro factor de instabilidade política e social: o narcotráfico. A economia guineense é bastante frágil, caracterizando-se por fracos recursos internos e por depender fortemente do sector primário” (Avaliação do PIC 208-2010, 13). Desta forma condiciona o cumprimento das estratégias destacadas no (PICGB-2007-2010) sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio saídos da declaração de Paris sobre a eficácia da ajuda ao desenvolvimento e da Conferência Internacional de Lisboa (2007).

O Quadro-4 demonstra essa dependência e, de alguma forma, testemunha os momentos de instabilidade já referidos. Os dois momentos negativos verificados na balança comercial dos anos 2001 e 2004, de 15,9 e 9,8 mil milhões de Fcfa (moeda local) respectivamente, reflectem claramente as crises provocadas pela guerra civil de 1998-1999 que derrubou o Presidente Nino Vieira e pelo levantamento militar que também culminou com o afastamento do Presidente Kumba Yalá a 14 de Setembro de 2003.

Quadro: 4- Comercio externo - Balança comercial (em mil milhões de FCFA)

GUINÉ-BISSAU 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Exportação FOB 27,09 29,2624 34,8704 28,109 39,9158 45,2623

Importação CAF 42,945 28,9311 29,2095 37,8832 33,9411 29,21

Balança comercial -15,9 0,3 5,7 -9,8 6,0 16,1

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Ainda segundo os dados do último Recenseamento Geral da População e Habitação de 2009, a Importação para esse ano foi de 54,9 mil milhões de Fcfa, sendo a Exportação ficou em 34,5 mil milhões de Fcfa. No ano de 2010, o PIB foi de 418,8 mil milhões de Fcfa, com a taxa de Crescimento real em 3,5%, e a taxa de Inflação anual a situar-se em 1,9%. O país cria poucas riquezas a partir das suas potencialidades internas; Importa muito mais do que consegue Exportar, o que é negativo para o desenvolvimento que se pretende levar a cabo. Vale a pena lembrar que entre muitos parceiros de cooperação internacional com a Guiné-Bissau, Portugal ocupa o primeiro lugar no quadro do Comité da Ajuda Bilateral, fruto “de um encontro de vontades centrado, por um lado, nas mais-valias (língua, matriz jurídica e passado comuns) e na estratégia da cooperação portuguesa (CP) e, por outro, nas prioridades de desenvolvimento da Guiné-Bissau” (Aval. PICGB 2008-2010, 25), como se pode ver no quadro-5 que se segue.

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De 1999 a 2008, a Ajuda Pública para o Desenvolvimento (APD) de Portugal, através do IPAD, tem disponibilizado anualmente Milhares de Dólares Americanos para no âmbito da cooperação ajudar no desenvolvimento da Guiné-Bissau. Apesar do quadro-5 contemplar apenas três anos (2006, 2007 e 2008), apenas a União Europeia no âmbito da ajuda multilateral ultrapassa a participação portuguesa num universo de dezoito parceiros entre Estados e Organismos não-governamentais. A Espanha ocupa o terceiro lugar no cômputo geral de doadores e o segundo no âmbito bilateral. A França que em 2006 contribuiu com 9,9 Milhões de Dólares, baixou muito em 2007 para 3,4 milões e com uma ligeira subida no ano seguinte. Contrariamente a ajuda da França, IDA, que em 2006 participou com 1,7 Milhões, teve um aumento exponencial nos dois anos que se seguiram. O FMI, que claramente deixou de acreditar na consistência fiscal da economia guineense, tem, no entanto, continuado a ajudar, uma vez que diminuiu de -3,8 Milhões em 2006 para -2,0 Milhões de Dólares em 2008.

Mesmo em diferentes níveis de contribuição entre parceiros, o total de 334,7 Milhões de Dólares durante esses três anos ou seja, uma média de mais ou menos 111,5 Milhões de Dólares por ano, constituem um forte impacte na manutenção e na credibilização da economia guineense na sub-região.

Quadro: 6- Distribuição Sectorial da APD bilateral Portuguesa

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Infra-estruturas e Serviços Económicos por serem talvez os mais considerados prioritários, a Educação tem absorvido importantes somas, uma média de 30% durante os três anos referidos. O Governo e Sociedade Civil assim como Outras Infra-estruturas e Serviços Sociais foram outras áreas que mais beneficiaram. A Ajuda aos Refugiados (no País Doador) assim como a Ajuda Humanitária foram as áreas que menos beneficiaram das verbas da APD bilateral portuguesa, ficando em 0,01% e 0,03% respectivamente do total doado em três anos referenciados.

Após esta análise sobre o grau de dependência do país das ajudas externas, não deixa dúvidas de que ainda está tudo por fazer. Alguns dos antigos centros urbanos estão a perder o tradicional peso funcional, pelas reduzidas condições de conectividade com Capital, o que faz deslocar as suas atratividades para vizinhos centros mais acessíveis. É imperativo revitalizar as redes de comunicações, a equidade regional com a ajuda do poder central, para que essas cidades voltem a ter uma expressão condigna na coesão do sistema urbano nacional. A Cidade de Bissau foi sempre a mais beneficiada de todas as ajudas pela sua macrocefalia e onde muitos organismos internacionais estão sediados como se poderá constatar no próximo ponto.

2.2.4 A macrocefalia de Bissau: a desigual distribuição geográfica da população e das fontes de riqueza;

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Gráfico: 2 - Distribuição da População por Regiões Administrativas (%)

Fonte: Autoria própria, com dados do INEC, (Junho de 2011)

A questão da macrocefalia do Sector Autónomo de Bissau, já enfatizada, não obsta a análise de outras tendências que começam a manifestar-se. A preferência pelas regiões de Oio, Gabu, Bafatá e Cacheu para a fixação de residência, podem estar associadas às questões da mobilidade, levando à emergência das suas Cidades Capitais na dinâmica da economia nacional, nestes últimos anos. A construção das duas pontes regionais sobre os rios Cacheu e Mansoa, em substituição das antigas travessias por jangadas em S. Vicente e João Landim respectivamente, assim como o melhoramento das suas estradas, foram fundamentais para o desenvolvimento da região de Cacheu e em particular, uma mais-valia para as pequenas povoações emergentes de Ingoré e S. Domingos, na fronteira com a República do Senegal a norte do país.

A região de Oio, actualmente a segunda mais populosa do país, talvez por razões históricas em termos da distribuição étnica, continua a deparar-se com a profunda falta de estradas alcatroadas, em particular os eixos rodoviários Farim-Ingoré e Bissorã-Barro. A construção de uma ponte regional sobre o Rio Farim podia impulsionar a economia local, atraindo mais pessoas para a cidade de Farim. É por esta e por outras razões que o sector de Mansoa está cada vez mais dinâmico, com mais infraestruturas do que a própria Capital regional.

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detêm as três principais portas de entrada das mercadorias vindas do Senegal e Guiné Conakry, para o abastecimento do mercado nacional, através de Pirada, Buruntuma e Cambaju, seguidos de Jeguê em S. Domingos, região de Cacheu, também a porta mais procurada em termos da travessia de pessoas e bens para o Senegal. De salientar que todas estas portas fronteiriças têm o controlo permanente das delegações regionais desconcentradas dos serviços alfandegários de Bissau.

No que toca a distribuição geográfica das fontes de riqueza, sabe-se que o setor primário ocupa o primeiro lugar, contudo, apenas as cidades de Bissau, Bafatá e Bolama possuem algumas pequenas-indústrias transformadoras, ainda que em estado de degradação. O serviço bancário só abrange o SAB, regiões de Cacheu, Bafatá e Gabú. O fluxo de mercadorias no mercado guineense, é garantido por três meios de transporte (marítimo, terrestre/rodoviário e aéreo), pois, ainda não existem caminhos-de-ferro. Sobre esta matéria, o Sr. António Vaz, Técnico Aduaneiro da Direção Geral das Alfândegas, nosso entrevistado em Bissau, recorreu aos dados estatísticos dos Serviços Alfandegários de Bissau para o ano de 2009, para melhor se posicionar. Das 81.000 toneladas importadas nesse ano, o transporte por via marítima representou 68% do total; o transporte por via terrestre (rodoviário) atingiu os 21%, e o transporte por via aérea apenas 1%. As exportações no valor de 41.000 toneladas, o transporte por via marítima representou 92%, o transporte por via terrestre (rodoviário) 7% e o transporte por via aérea também 1% apenas. Em 2008, as importações atingiram cerca de 70.000 toneladas contra 26.000 toneladas de produtos exportados, ainda com o transporte marítimo a ocupar o primeiro lugar.

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até 300 toneladas, todavia estes portos não dispõem sobretudo de uma elevada capacidade de armazenamento” (Atlas da Lusofonia, 2001, 45-46).

Perante tudo isso, e sabendo que a população da Guiné-Bissau maioritariamente rural, quer agrícola ou pastoril, depende muito da terra que “por não ser fertilizada tem vindo progressivamente a empobrecer, além de que não lhe tem assegurada a desejada produtividade por carência de técnicas actualizadas de trabalho, de selecção de sementes, de ensilagem de pastos, de implantação de novas culturas”, etc. (A. Spínola in PROVINCIA DA GUINÉ,1973), o que obrigou as actividades agrícola e pastorícia tornarem-se itinerantes e consequentemente a dispersão dos aglomerados populacionais. Daí que, os Fulas e Mandingas habitantes em maior número das regiões de Gabú e Bafatá, especializaram-se na criação do gado ovino, caprino e bovino por possuírem terras com boas condições para pastagem.

Quando assim é, as questões culturais acabam por deixar as suas marcas. Por isso, o caprino e ovino fazem parte não só da fonte de riqueza para as famílias, mas de grandes valores para as práticas religiosas e culturais como dotes em casamentos ou para as cerimónias do fanado (circuncisão), festas do calendário muçulmano ou Tabasqui, conhecida como (festa do carneiro). A questão climática deve ser tida em conta nesta macrocefalia de Bissau, por ser responsável em parte, pelo acentuado êxodo rural para as grandes cidades com poderemos ver no próximo ponto.

2.3- Efeitos das alterações climáticas na distribuição da população e nos recursos naturais;

Os efeitos das alterações climáticas constituem hoje uma preocupação de índole internacional contudo desde a assinatura do Protocolo de Quioto a 11 de Dezembro de 1997 (Japão) em que “foram fixadas metas concretas que estabelecem onde as emissões devem ser reduzidas e o volume de tal redução: até 2012, os países da União Europeia devem diminuir suas emissões em 8% em comparação ao ano-base de 1990; os Estados Unidos, em 7% e o Japão, em 6%” (http://www.dw-world.de/dw/article; 05-10-2011).

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recusou-se a ratificar o documento que entrou em vigor em 2005, condicionando desta forma a não concretização do estabelecido em Quioto, segundo a mesma fonte.

Partindo desta realidade, importa salientar que os países mais pobres e em particular os da sub-região em que a Guiné-Bissau se insere, são os mais atingidos uma vez que os seus recursos naturais endógenos ou exógenos não estão a ser bem explorados nem bem geridos para o benefício de todos, tudo por falta de equipamentos e conhecimentos tecnológicos. Sendo os recursos naturais os bens que a própria natureza disponibiliza ao homem para a satisfação das suas necessidades e que podem ser agrupados em endógenos e exógenos, nem sempre foram bem tratados de forma a garantir a saúde ambiental desses países. É bom lembrar que a intervenção do homem na transformação daquilo que a natureza lhe proporciona, entra inevitavelmente os fatores vivência, cultura, sociedade e sua história que também diferem de país para país.

Falando de países pobres como a Guiné-Bissau, a mitigação desse tipo de fenómenos naturais, requer custos insuportáveis para os cofres dos Estados, o que pode dificultar ainda mais os orçamentos desses países do terceiro mundo, com profundos problemas financeiros. Os valores do volume da precipitação expressos na figura-8, mostram o grau da vulnerabilidade e riscos com a seca que cada um desses países da África Ocidental pode vir a enfrentar.

Fig. 8- Volume da Precipitação Anual na África Ocidental e Central em mm, 2003.

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Neste âmbito, a Guiné-Bissau ainda resiste à falta de água graças ao recurso “água-doce” que abunda no litoral e da pluviosidade que se situa entre os 1500 a 2000 mm por ano. Nos países onde existem secas intensas que levam à escassez da comida e de outros bens da primeira necessidade, a tendência sempre foi no sentido do abandono do campo, onde já não existem condições para garantir a sobrevivência, rumo à cidade, à procura de melhores condições de vida. Essas migrações podem piorar os locais de acolhimento, porque quando falham as expectativas, começam as frustrações que podem traduzir-se na exclusão social e às formas de comportamento marginal (delinquência, prostituição, assaltos ou outras práticas não recomendáveis). Muitas cidades da nossa sub-região já enfrentam esta realidade onde, em cada dia que passa, se assiste à proliferação dos sem-abrigo, ao aumento de ilhas de pobreza extrema, à criminalidade e ao crescimento descontrolável dos Bairros de lata etc.

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Fig. 2: Estados da África Ocidental (2011)
Fig. 3: Tipologia da Urbanização na África Ocidental (2010)
Fig. 4 - Prospectiva para a Rede Urbana e Clusters Regionais (2020)
Fig. 5- Localização Espacial das principais Etnias Transfronteiriças
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Referências

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