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Os contrastes interior-litoral na base da diversificação cultural

No documento Trabalho de Projecto Cali 16 Abril 2012 VF (páginas 34-38)

2. ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO E SÓCIO-ECONÓMICO

2.2.2. Os contrastes interior-litoral na base da diversificação cultural

No caso da dicotomia interior/litoral trata-se apenas das características geomorfológicas do país, que condicionam em parte, alguns hábitos das populações residentes. Por isso se diz que “o estudo étnico de qualquer país ou região não conduz a

uma linha de acção estratégica clara, pelo que se torna necessário associar ao factor étnico o elemento linguístico, procurando as línguas nativas de raiz comum. (...) Deve também avaliar-se a projecção de alguns grupos étnicos-linguísticos para além e para aquém-fronteiras” (Atlas da Lusofonia, 2001, 51). O caso da Guiné-Bissau, nessa matéria, precisa de uma abordagem diferente, uma vez que mesmo dentro da região do litoral existe um mosaico etnográfico muito complexo e que consiste na diferença étnolinguistica claramente perceptível seja por qualquer visitante. Para exemplificar, temos “os grupos Diolas e Balantas que aparecem como aparentados em termos de usos e costumes, são por outro lado muito diferentes linguisticamente. Os Manjacos, Papeis e Brames linguisticamente aparentados, são diferentes nas técnicas de construção de habitações, práticas agrícolas” (SIDA,1981, 165) e de alguns ritos cerimoniais etc.. A figura-7 pode ajudar a compreender melhor a origem da designação “litoral/interior” a partir da compreensão dos fenómenos das marés, uma vez que, o limite superior da sua influência divide nitidamente o território.

Fig. 7 - Limite Interior das Marés

Fonte: Atlas da Lusofonia, 2001, 48.

O interior predominantemente habitado pelos Fulas e Mandingas, é mais ou menos homogéneo em termos de hábitos, usos e costumes desses povos. Apesar das pequenas rivalidades muito antigas entre eles, são no entanto muito aparentados em muitas coisas, a religião muçulmana por exemplo, embora em diferentes confrarias

(Cadjiria e a Tidjania). A formação de aglomerados populacionais de forma orgânica, construção típica de casas baixas por parte dos Fulas que os mandingas também já imitam, o fabrico de idênticos instrumentos para cultivar a terra, etc., são alguns dos exemplos.

Todos estes pormenores caracterizam o contraste interior/litoral. O litoral guineense alberga grupos étnicos na sua maioria animistas, que ainda acreditam na feitiçaria e obedecem aos tradicionais responsáveis religiosos, ou aqueles que se encarregam da realização das cerimónias e ritos sagrados. O fanado (circuncisão) que, para além do seu carácter meramente de higiene e cultural, praticado há vários Séculos, passou a ser encarado por muitos como cerimónia da iniciação de jovens para a vida adulta. Tornou-se num acto de pura especulação e subserviência por parte dos candidatos a favor dos responsáveis organizadores. Outra prática prende-se com o ritual pagão conhecido em crioulo por Toca-Tchur, como forma de reconhecer e dignificar um familiar falecido perante a sociedade. É entendido como um dever, onde cada membro da família em idade adulta, sente a obrigação de tomar parte nela, podendo sacrificar entre uma ou mais cabras ou vacas, para além de outros gastos com a alimentação de bebidas alcoólicas que por regra, devem fazer-se acompanhar.

São práticas deste tipo que, em meu entender, contribuem para a alta taxa de mortalidade no país, baixo índice de esperança de vida principalmente nos homens, promove o atraso no desenvolvimento, porque em muitas etnias só trabalha-se para o cumprimento dessas obrigações, mesmo vivendo em mais desumanas condições de vida.

No interior, ou chão de Mandingas e Fulas como se diz na Guiné-Bissau, não há dessas práticas mas em contrapartida, generalizou-se a prática da mutilação genital feminina, um fenómeno bem enraizado e que há muito, tenta contra a saúde e a dignidade da mulher como ser humano. Todas essas diferenças comportamentais entre os povos do litoral e do interior, refletem bastante na forma como são encarados os problemas da ocupação e transformação do uso do solo.

Foi sempre assim, levando o país a não encontrar até a presente data, caminhos para superar as suas debilidades económicas, continuando a depender fundamentalmente do sector primário e das ajudas externas como se afirma, nomeadamente, no (PICGB, 2007-2010) que fazemos menção de transcrever

longamente. “Ao longo da sua história como país independente, a Guiné-Bissau tem tido grande dificuldade em alterar substancialmente o tecido produtivo assente no sector primário. A economia guineense vem apresentando, cada vez mais, sinais de fragilidade, com destaque para uma balança comercial muito deteriorada e para os elevados valores da dívida externa. Na década de 80, por pressão da Comunidade Internacional, foram implementadas uma série de reformas no sentido da liberalização da economia, da promoção da estabilização financeira e monetária, reforço da administração fiscal e da melhoria da gestão dos recursos públicos.

Esta estratégia culminou, em 1997, com a adesão da Guiné-Bissau à União Económica e Monetária da África Ocidental (UEMOA), encontrando-se a sua política económica e monetária sob a chancela de um Banco Comum dos países membros. A adesão à UEMOA veio favorecer uma maior estabilidade cambial permitindo, simultaneamente, a sua melhor integração no mercado regional da África Ocidental. O conflito político-militar de 1998-1999 e as crises políticas que se lhe seguiram, afectaram negativamente o crescimento do PNB. A partir de 2003, começou a ser visível uma lenta recuperação da economia nacional, a qual acabou por não se revelar sustentável.

Devida a muitas práticas que conduzem á pobreza, o crescimento económico na Guiné-Bissau desceu de 3.5% de 2005 para 1.8% em 2006. No contexto africano, onde a média de crescimento se situa nos 5.7%, a Guiné-Bissau é um dos países com menor crescimento. As causas do fraco desempenho económico prendem-se com factores internos, instabilidade política e redução do preço da castanha de caju, produto responsável por 30% do RNB, e de factores externos, como a subida do preço do petróleo. A situação do atraso dos pagamentos à função pública é um problema repetente que provoca tensões sociais permanentes.

Com vista a estabelecer as suas prioridades, o Governo guineense elaborou o Documento de Estratégia Nacional de Redução da Pobreza (DENARP), o qual define a estratégia de acção do Governo para o período 2007-2010, sendo considerado uma peça indispensável para a retoma de iniciativas de apoio ao seu desenvolvimento por parte das agências especializadas do Sistema das Nações Unidas, que Portugal tem procurado acompanhar como doador. (…) A economia guineense está muito dependente da ajuda externa, sendo particularmente problemática a situação da dívida externa, a qual é bastante elevada para as capacidades financeiras do país.

Os sectores económicos mais importantes são a agricultura, onde se destacam a exportação da castanha de caju e a pesca, feita essencialmente por navios estrangeiros que actuam através da concessão de licenças de pesca. O subsolo guineense é rico em minerais, sendo uma área com um elevado potencial e que começa a ser estudado com mais atenção, sendo de destacar, os depósitos de fosfatos em Farim, as reservas de bauxite no Boé e as potencialidades petrolíferas no off-shore. O sector industrial é muito limitado” (PICGB- 2007- 2010, 16-17).

No documento Trabalho de Projecto Cali 16 Abril 2012 VF (páginas 34-38)