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A macrocefalia de Bissau: a desigual distribuição geográfica da população e das

No documento Trabalho de Projecto Cali 16 Abril 2012 VF (páginas 41-47)

2. ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO E SÓCIO-ECONÓMICO

2.2.4 A macrocefalia de Bissau: a desigual distribuição geográfica da população e das

Segundo os últimos censos gerais da população e habitação de 2009, conforme o Gráfico-2, os dados finais mostram que o Sector Autónomo de Bissau (SAB) continua a ser a preferência de muita gente para habitar. Em termos populacionais, conta actualmente com 387.909 habitantes ou seja, 25,5 % do contingente nacional. É claro que esse resultado seria de outra dimensão caso fosse em relação à população urbana nas principais povoações. Seguem-se as regiões de Oio com 224.644 habitantes ou 14,77%, Gabu com 215.530 habitantes ou 14,17%, Bafatá com 210.007 habitantes ou 14,80% e Cacheu com 192.508 habitantes ou 12,76%. As regiões de Tombali, Quinara, Bolama Bijagós e Biombo, ainda se situam abaixo dos 100.000 habitantes cada, contudo os dados mostram indícios de crescimento e de abertura ao mercado nacional.

Gráfico: 2 - Distribuição da População por Regiões Administrativas (%)

Fonte: Autoria própria, com dados do INEC, (Junho de 2011)

A questão da macrocefalia do Sector Autónomo de Bissau, já enfatizada, não obsta a análise de outras tendências que começam a manifestar-se. A preferência pelas regiões de Oio, Gabu, Bafatá e Cacheu para a fixação de residência, podem estar associadas às questões da mobilidade, levando à emergência das suas Cidades Capitais na dinâmica da economia nacional, nestes últimos anos. A construção das duas pontes regionais sobre os rios Cacheu e Mansoa, em substituição das antigas travessias por jangadas em S. Vicente e João Landim respectivamente, assim como o melhoramento das suas estradas, foram fundamentais para o desenvolvimento da região de Cacheu e em particular, uma mais-valia para as pequenas povoações emergentes de Ingoré e S. Domingos, na fronteira com a República do Senegal a norte do país.

A região de Oio, actualmente a segunda mais populosa do país, talvez por razões históricas em termos da distribuição étnica, continua a deparar-se com a profunda falta de estradas alcatroadas, em particular os eixos rodoviários Farim-Ingoré e Bissorã- Barro. A construção de uma ponte regional sobre o Rio Farim podia impulsionar a economia local, atraindo mais pessoas para a cidade de Farim. É por esta e por outras razões que o sector de Mansoa está cada vez mais dinâmico, com mais infraestruturas do que a própria Capital regional.

Bafatá e Gabú são duas regiões que beneficiam de um importante eixo rodoviário que as liga à Capital, Bissau. Aliás, como fontes de receitas, Gabú e Bafatá

detêm as três principais portas de entrada das mercadorias vindas do Senegal e Guiné Conakry, para o abastecimento do mercado nacional, através de Pirada, Buruntuma e Cambaju, seguidos de Jeguê em S. Domingos, região de Cacheu, também a porta mais procurada em termos da travessia de pessoas e bens para o Senegal. De salientar que todas estas portas fronteiriças têm o controlo permanente das delegações regionais desconcentradas dos serviços alfandegários de Bissau.

No que toca a distribuição geográfica das fontes de riqueza, sabe-se que o setor primário ocupa o primeiro lugar, contudo, apenas as cidades de Bissau, Bafatá e Bolama possuem algumas pequenas-indústrias transformadoras, ainda que em estado de degradação. O serviço bancário só abrange o SAB, regiões de Cacheu, Bafatá e Gabú. O fluxo de mercadorias no mercado guineense, é garantido por três meios de transporte (marítimo, terrestre/rodoviário e aéreo), pois, ainda não existem caminhos-de-ferro. Sobre esta matéria, o Sr. António Vaz, Técnico Aduaneiro da Direção Geral das Alfândegas, nosso entrevistado em Bissau, recorreu aos dados estatísticos dos Serviços Alfandegários de Bissau para o ano de 2009, para melhor se posicionar. Das 81.000 toneladas importadas nesse ano, o transporte por via marítima representou 68% do total; o transporte por via terrestre (rodoviário) atingiu os 21%, e o transporte por via aérea apenas 1%. As exportações no valor de 41.000 toneladas, o transporte por via marítima representou 92%, o transporte por via terrestre (rodoviário) 7% e o transporte por via aérea também 1% apenas. Em 2008, as importações atingiram cerca de 70.000 toneladas contra 26.000 toneladas de produtos exportados, ainda com o transporte marítimo a ocupar o primeiro lugar.

A Cidade de Bissau continua a concentrar as actividades de importação e exportação por ser detentora do único porto marítimo do país; há, por isso, um grande desequilíbrio em matéria de infra-estruturas de transporte, em relação ao resto das regiões que compõem a rede urbana nacional. Como se sabe, ”as infra-estruturas de transporte marítimo e fluvial na Guiné-Bissau são particularmente condicionadas pela existência de diversas rias muito para o interior, permitindo assim a circulação de navios de longo curso em muitos locais do litoral, mas quando cessa a navegabilidade destes, as lanchas asseguram a continuidade do transporte fluvial. Existem diversos portos rudimentares, dos quais se destacam os de Cacheu, Bolama, Bubaque e Buba; cinco portos fluviais, mais destacados são os de Binta, Bambadinca e Cacine com capacidade

até 300 toneladas, todavia estes portos não dispõem sobretudo de uma elevada capacidade de armazenamento” (Atlas da Lusofonia, 2001, 45-46).

Perante tudo isso, e sabendo que a população da Guiné-Bissau maioritariamente rural, quer agrícola ou pastoril, depende muito da terra que “por não ser fertilizada tem vindo progressivamente a empobrecer, além de que não lhe tem assegurada a desejada produtividade por carência de técnicas actualizadas de trabalho, de selecção de sementes, de ensilagem de pastos, de implantação de novas culturas”, etc. (A. Spínola in PROVINCIA DA GUINÉ,1973), o que obrigou as actividades agrícola e pastorícia tornarem-se itinerantes e consequentemente a dispersão dos aglomerados populacionais. Daí que, os Fulas e Mandingas habitantes em maior número das regiões de Gabú e Bafatá, especializaram-se na criação do gado ovino, caprino e bovino por possuírem terras com boas condições para pastagem.

Quando assim é, as questões culturais acabam por deixar as suas marcas. Por isso, o caprino e ovino fazem parte não só da fonte de riqueza para as famílias, mas de grandes valores para as práticas religiosas e culturais como dotes em casamentos ou para as cerimónias do fanado (circuncisão), festas do calendário muçulmano ou Tabasqui, conhecida como (festa do carneiro). A questão climática deve ser tida em conta nesta macrocefalia de Bissau, por ser responsável em parte, pelo acentuado êxodo rural para as grandes cidades com poderemos ver no próximo ponto.

2.3- Efeitos das alterações climáticas na distribuição da população e nos recursos naturais;

Os efeitos das alterações climáticas constituem hoje uma preocupação de índole internacional contudo desde a assinatura do Protocolo de Quioto a 11 de Dezembro de 1997 (Japão) em que “foram fixadas metas concretas que estabelecem onde as emissões devem ser reduzidas e o volume de tal redução: até 2012, os países da União Europeia devem diminuir suas emissões em 8% em comparação ao ano-base de 1990; os Estados

Unidos, em 7% e o Japão, em 6%” (http://www.dw-world.de/dw/article; 05-10-2011).

Segundo o mesmo artigo, muitas outras conferências que se seguiram sobre este tema foram marcadas pela busca de como fugir das metas estabelecidas em 1997 por parte de muitos países industrializados com os Estados Unidos da América em primeiro lugar. Para confirmar aquela pretensão, lembrar de que a Administração dos EUA

recusou-se a ratificar o documento que entrou em vigor em 2005, condicionando desta forma a não concretização do estabelecido em Quioto, segundo a mesma fonte.

Partindo desta realidade, importa salientar que os países mais pobres e em particular os da sub-região em que a Guiné-Bissau se insere, são os mais atingidos uma vez que os seus recursos naturais endógenos ou exógenos não estão a ser bem explorados nem bem geridos para o benefício de todos, tudo por falta de equipamentos e conhecimentos tecnológicos. Sendo os recursos naturais os bens que a própria natureza disponibiliza ao homem para a satisfação das suas necessidades e que podem ser agrupados em endógenos e exógenos, nem sempre foram bem tratados de forma a garantir a saúde ambiental desses países. É bom lembrar que a intervenção do homem na transformação daquilo que a natureza lhe proporciona, entra inevitavelmente os fatores vivência, cultura, sociedade e sua história que também diferem de país para país.

Falando de países pobres como a Guiné-Bissau, a mitigação desse tipo de fenómenos naturais, requer custos insuportáveis para os cofres dos Estados, o que pode dificultar ainda mais os orçamentos desses países do terceiro mundo, com profundos problemas financeiros. Os valores do volume da precipitação expressos na figura-8, mostram o grau da vulnerabilidade e riscos com a seca que cada um desses países da África Ocidental pode vir a enfrentar.

Fig. 8- Volume da Precipitação Anual na África Ocidental e Central em mm, 2003.

Neste âmbito, a Guiné-Bissau ainda resiste à falta de água graças ao recurso “água-doce” que abunda no litoral e da pluviosidade que se situa entre os 1500 a 2000 mm por ano. Nos países onde existem secas intensas que levam à escassez da comida e de outros bens da primeira necessidade, a tendência sempre foi no sentido do abandono do campo, onde já não existem condições para garantir a sobrevivência, rumo à cidade, à procura de melhores condições de vida. Essas migrações podem piorar os locais de acolhimento, porque quando falham as expectativas, começam as frustrações que podem traduzir-se na exclusão social e às formas de comportamento marginal (delinquência, prostituição, assaltos ou outras práticas não recomendáveis). Muitas cidades da nossa sub-região já enfrentam esta realidade onde, em cada dia que passa, se assiste à proliferação dos sem-abrigo, ao aumento de ilhas de pobreza extrema, à criminalidade e ao crescimento descontrolável dos Bairros de lata etc.

A forma natural como foi feita a distribuição da população em todo território guineense é ainda bem visível, porque baseou-se na constante busca de boas terras que garantam a produtividade. Para além de muitos outros fatores, já se notam algumas alterações no coberto florestal em certas regiões do interior, alguns rios secam por completo durante a estação seca do ano. As migrações sazonais aumentaram abrangendo muitas etnias, para além do tradicional nomadismo do grupo fula. Contudo, assim que começa a estação das chuvas, muitos tendem a voltar para os lugares de origem a fim de se ocuparem das suas terras.Sabe-se no entanto, que muitos acabam por fixar a sua residência na cidade com espectativas de ali encontrar novas e melhores condições de vida. Esta prática fez disparar a taxa da população urbana em Bissau, Bafatá e Gabu nos últimos anos, para além das repercuções sentidas com a liberalização do comércio e a integração do país na UEMOA em 1997, que aumentou a invasão estrangeira no cumprimento das obrigações de um espaço comunitário. Como exemplo disso, é bom lembrar que o aumento da delinquência juvenil que as principais cidades da Guiné-Bissau têm estado a enfrentar nos últimos dez anos, não resulta das alterações climáticas mas sim da introdução da utilização do território nacional pela rede internacional de tráfico de droga, como porta de saída para o mercado europeu, das drogas vindas da América latina.

3. O SISTEMA URBANO GUINEENSE NOS ÚLTIMOS 50 ANOS

No documento Trabalho de Projecto Cali 16 Abril 2012 VF (páginas 41-47)