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Apoio da intervenção precoce no domicílio: as perspetivas de mães do distrito de Braga

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Universidade do Minho

Instituto de Educação

Joana Lomba Macedo Mendes

outubro de 2019

Apoio da Intervenção Precoce no Domicílio:

As Perspetivas de Mães do Distrito de Braga

Joana Lomba Macedo Mendes

Apoio da Inter

venção Precoce no Domicílio: As P

er spe tiv as de Mães do Dis trito de Braga UMinho|20 19

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Joana Lomba Macedo Mendes

outubro de 2019

Apoio da Intervenção Precoce no Domicílio:

As Perspetivas de Mães do Distrito de Braga

Trabalho efetuado sob a orientação da

Doutora Ana Paula da Silva Pereira

Dissertação de Mestrado

Mestrado em Educação Especial

Área de Especialização em Intervenção Precoce

Universidade do Minho

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DIREITOS DE AUTOR E CONDIÇÕES DE UTILIZAÇÃO DO TRABALHO POR TERCEIROS

Este é um trabalho académico que pode ser utilizado por terceiros desde que respeitadas as regras e boas práticas internacionalmente aceites, no que concerne aos direitos de autor e direitos conexos. Assim, o presente trabalho pode ser utilizado nos termos previstos na licença abaixo indicada.

Caso o utilizador necessite de permissão para poder fazer um uso do trabalho em condições não previstas no licenciamento indicado, deverá contactar o autor, através do RepositóriUM da Universidade do Minho. Licença concedida aos utilizadores deste trabalho

Atribuição CC BY

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AGRADECIMENTOS

Quando iniciei o mestrado em Intervenção Precoce, nunca pensei que passariam tantos anos desde a matrícula, até à entrega da dissertação. O caminho nem sempre é fácil, mas está mesmo nas nossas mãos nunca desistir. Nas nossas mãos e na dedicação incansável de várias pessoas ao longo deste percurso. Assim, gostaria de agradecer o apoio que algumas pessoas me deram desde o primeiro dia.

Em primeiro lugar, à minha orientadora, a Doutora Ana Paula Pereira. Apesar das minhas várias ausências durante estes anos, nunca desistiu de me encorajar até ao fim. Em todos os momentos foi incansável para que pudesse terminar este projeto. Um grande obrigada!

Em segundo lugar agradeço aos meus pais e irmão. Também eles passaram por alguma angústia com o arrastar da conclusão da dissertação e também eles foram um pilar durante todo este processo. Obrigada por serem quem são e por tudo o que me ensinaram. Sou o que sou hoje, graças a vocês.

Em terceiro lugar, o meu agradecimento vai para os profissionais das ELI’s que me indicaram as famílias, e para as famílias entrevistadas. Foram, sem dúvida, essenciais à conclusão deste projeto. Obrigada por toda a disponibilidade demonstrada.

Por último, agradeço ao homem da minha vida. Ao melhor amigo, namorado, noivo e recém marido. Obrigada por toda a clareza em momentos mais escuros, por toda a calma em momentos mais stressantes, por todo o apoio nos momentos mais difíceis.

E como escreveu um autor brasileiro, “Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo”. Que comece assim, a construção de um novo castelo.

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DECLARAÇÃO DE INTEGRIDADE

Declaro ter atuado com integridade na elaboração do presente trabalho académico e confirmo que não recorri à prática de plágio nem a qualquer forma de utilização indevida ou falsificação de informações ou resultados em nenhuma das etapas conducente à sua elaboração.

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RESUMO

Apoio da Intervenção Precoce no Domicílio - As Perspetivas de Mães do Distrito de Braga

A Intervenção Precoce (IP) é um serviço que apoia todas as crianças até aos 6 anos de idade e as respetivas famílias, que estejam em risco ou com algum atraso no desenvolvimento.

Quando os profissionais trabalham com estas crianças e com as suas famílias, têm sempre de ter em atenção que a criança é um elemento pertencente a vários grupos e contextos (família, creche, comunidade), com os quais se relaciona diariamente. Neste sentido, o apoio deve sempre ser realizado nos contextos naturais da criança, ou seja, nos locais que a criança e a família deveriam frequentar naturalmente, caso não fosse necessário qualquer tipo de apoio.

O apoio que é realizado no domicílio está associado a um aumento da participação da família, promovendo assim, o reforço das suas capacidades.

Apesar de existirem vários contextos onde o apoio pode ser realizado, neste projeto, intitulado “Apoio da Intervenção Precoce no domicílio: Perspetivas de mães do distrito de Braga”, dá-se atenção ao apoio realizado no domicílio. Para estudo deste fenómeno utilizou-se uma metodologia qualitativa e recorreu-se à entrevista recorreu-semiestruturada como instrumento de recolha de dados. Foram entrevistadas 5 mães de crianças que estão a ser apoiadas pela IP, há pelo menos seis meses, pelo mesmo profissional, no distrito de Braga. Os dados foram analisados com recurso à técnica de análise de conteúdo.

Os resultados obtidos referem que as famílias estão disponíveis para receber os profissionais nas suas casas e consideram que este apoio é muito importante no acompanhamento dos seus filhos.

As mães identificaram vantagens associadas ao apoio no domicílio, nomeadamente: maiores níveis de participação da criança no apoio pelo facto de as crianças estarem no seu ambiente natural com os seus próprios materiais, maior partilha de informação e colaboração entre pais e profissionais, e integração dos objetivos definidos no plano individual de intervenção nas atividades e rotinas do dia-a-dia.

De um modo geral, as mães estão satisfeitas com o apoio da IP no domicílio, revelando ainda uma excelente relação de parceria com os profissionais das equipas e um papel ativo em todo o processo.

Os resultados deste estudo perspetivam uma melhor e maior compreensão das dinâmicas e benefícios que resultam do apoio da IP no domicílio, aspetos que se podem constituir como fatores promotores do apoio domiciliário, apoio este indicador de qualidade no atendimento às famílias na IP. Palavras-chave: Apoio Domiciliário; Família; Intervenção Precoce.

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ABSTRACT

Support for Early Intervention at Home: Mothers’ Perspectives in the District of Braga

Early Intervention (EI) is a service that supports all children up to the age of 6, and their families, who are at risk or with some delay in their development.

When professionals work with these children and their families, they need to take into account that the child is an element that belongs to several groups and contexts (family, kindergarten, community) with whom he/she interacts daily. In this sense, the intervention must always be carried out in the child’s natural contexts, that is, the places where the child and his/her family should be frequenting if there was no need for any type of intervention.

The intervention that is carried out at home is associated to an increased participation from the family, thus promoting the strengthening of their skills.

Even though there are several contexts where the intervention could be carried out, this project, named “Support for Early Intervention at home: Mothers’ perspectives in the district of Braga”, focuses on the intervention performed at home. In order to study this phenomenon, it was used a qualitative methodology and semi-structured interviews, as an instrument for data collection. The interviews were conducted on 5 children’s mothers that are being supported by EI for six months at least, by the same professional, in the district of Braga. The data was analyzed while resorting to a content analysis technique.

The results obtained show that the families are available to receive professionals in their homes and that they believe that this support is extremely important for their children’s development.

The mothers identified several advantages regarding support at home, in particular: higher participation from the child since the support is carried out in the children’s natural context with their own materials; a bigger sharing of information and collaboration between parents and professionals; and integration of the goals defined in the individual intervention plan in the daily activities and routines.

All in all, the families are pleased with this service at home, even displaying an excellent partnership with the team’s professionals and an active role throughout the whole process.

The results of this study aim to create a better and greater understanding of the dynamics and benefits resulting from EI at home, aspects that can be recognized as promoting factors for the support at home, which is a quality indicator of the assistance to families regarding EI.

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vii ÍNDICE AGRADECIMENTOS………..………iii DECLARAÇÃO DE INTEGRIDADE……….………iv RESUMO……….………v ABSTRACT……….………..vi INTRODUÇÃO………...11 Formulação do Problema……….12 Finalidade do Estudo……….……….12 Importância do Estudo………..13 Organização da Dissertação………14

CAPÍTULO I – REVISÃO DA LITERATURA……….………..15

1 – Intervenção Precoce……….………..15

1.1 – A Intervenção Precoce em Portugal……….……….…………..15

1.2 – A Evolução da IP para as Práticas Centradas na Família……….………..…….………17

2 – Os Contextos……….………..….………21

2.1 – A IP nos Contextos Naturais……….………...………21

2.2 – Os Pais como Mediadores da Aprendizagem……….………..…….25

3 – O Apoio no Domicílio………..…….……….……..……..………28

3.1 – A Intervenção Precoce no Domicílio……….………..………..…………28

3.2 – O Trabalho com as Famílias nas Visitas Domiciliárias……….………..………32

3.3 – A Participação dos Pais nas Visitas Domiciliárias………..………..………33

CAPÍTULO II – METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO……….……….…….36

1 – A Abordagem Qualitativa……….………..………..36

2 – Desenho da Investigação……….……….…………38

2.1 – Participantes ……….……….………..………38

2.2 – Instrumento de Recolha de Dados……….………..….………40

2.2.1 – A Entrevista………..…….……….………..……….………40

3 – Análise de Dados……….………..……….………42

4 – Critérios de Confiança………..………….………44

CAPÍTULO III – APRESENTAÇÃO DOS DADOS……….………46

• Mãe Daniela………..……….………..46

1 – Realização do apoio………..………..………..46

2 – Envolvimento das famílias………47

3 – Aspetos positivos do apoio no domicílio……….……….…………48

4 – Aspetos negativos do apoio no domicílio………49

• Mãe Alice………..……….………50

1 – Realização do apoio………..……….………50

2 – Envolvimento das famílias………51

3 – Aspetos positivos do apoio no domicílio……….……….………52

4 – Aspetos negativos do apoio no domicílio………..……….………53

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viii

1 – Realização do apoio………..……….………54

2 – Envolvimento das famílias………55

3 – Aspetos positivos do apoio no domicílio……….……….………57

4 – Aspetos negativos do apoio no domicílio………58

• Mãe Célia………..……….………59

1 – Realização do apoio………..……….………59

2 – Envolvimento das famílias………60

3 – Aspetos positivos do apoio no domicílio……….……….…61

4 – Aspetos negativos do apoio no domicílio………62

• Mãe Júlia……….………..………62

1 – Realização do apoio………..……….…………63

2 – Envolvimento das famílias………64

3 – Aspetos positivos do apoio no domicílio……….……….…………65

4 – Aspetos negativos do apoio no domicílio………66

CAPÍTULO IV – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS……….………..………67

1 – Realização do apoio………..………….………67

1.1 – Como é realizado o apoio……….….…………67

1.2 – Qual a frequência do apoio………..…….…………68

1.3 – Quem realiza o apoio………..………….………68

1.4 – Quem está presente nas sessões………..……….……69

2 – Envolvimento das famílias………70

2.1 – Avaliação………..………70

2.2 – Planificação……….………72

2.3 - Intervenção……….………..………73

3 – Aspetos positivos do apoio no domicílio……….……….………73

3.1 – Para a criança………74

3.2 – Para a mãe………..………74

4 – Aspetos negativos do apoio no domicílio……….………..……75

CAPÍTULO V – CONCLUSÕES, RECOMENDAÇÕES E LIMITAÇÕES……….………76

Limitações do estudo………..………..………80

Recomendações……….……….………81

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………..………82

ANEXOS……….……….………90

Anexo A – Guião da Entrevista………91

Anexo B – Carta ao Coordenador da ELI……….….……..…93

Anexo C – Carta às famílias……….……….…..………94

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LISTA DE SIGLAS

DEC – Division of Early Childhood EI – Early Intervention

ELI – Equipa Local de Intervenção IP – Intervenção Precoce

IPSS – Instituição Particular de Solidariedade Social PIIP – Plano Individual de Intervenção Precoce

SNIPI - Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – Quatro componentes fundamentais das práticas centradas na família Dunst, Trivette e Deal

(1988) citados por Dunst & Trivette, 2009; Serrano, 2012)………19

Figura 2 - Três fontes principais de oportunidades de aprendizagem na criança (Dunst & Bruder, 1999a; Dunst, 2001)……….………23

Figura 3 - Atividades contextualizadas como forma de promoção de expressão dos interesses, participação ativa, desenvolvimento de competências e domínio (Dunst, 2000; Dunst et al, 2001)…..…24

Figura 4 - Componentes das Práticas Mediadas pelo Contexto (Swanson, Raab, Roper, & Dunst, 2006).26 Figura 5 - Padrão de influência sobre os resultados da criança (McWilliam, 2003; 2010)………….……….28

Figura 6 - Oportunidades de Intervenção (Jung, McCormick, & Jolivette, 2004)……….32

Figura 7 - Variação da Intervenção de acordo com os contextos e com o foco da intervenção (Rantala, Uotinen, & McWilliam, 2009)………..34

Figura 8 – Sistema de categorias……….……….44

ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1 - Evolução da IP em Portugal: Uma Mudança de Paradigma (Carvalho, et al., 2018)……….35

Tabela 2 - Síntese Sobre a Forma como é Realizado o Apoio no Domicílio da Mãe Daniela………..…..47

Tabela 3 - Síntese Sobre o Envolvimento das Famílias Durante o Processo de Intervenção Precoce, para a Mãe Daniela………..……….48

Tabela 4 - Síntese Sobre os Aspetos Positivos do Apoio no Domicílio para a Mãe Daniela………..49

Tabela 5 - Síntese Sobre os Aspetos Negativos do Apoio no Domicílio para a Mãe Daniela……….49

Tabela 6 - Síntese Sobre a Forma como é Realizado o Apoio no Domicílio da Mãe Alice……….….51

Tabela 7 - Síntese Sobre o Envolvimento das Famílias Durante o Processo de Intervenção Precoce, para a Mãe Alice……….………52

Tabela 8 - Síntese Sobre os Aspetos Positivos do Apoio no Domicílio para a Mãe Alice………....53

Tabela 9 - Síntese Sobre os Aspetos Negativos do Apoio no Domicílio para a Mãe Alice………..53

Tabela 10 - Síntese Sobre a Forma como é Realizado o Apoio no Domicílio da Mãe Francisca……….…….55

Tabela 11 - Síntese Sobre o Envolvimento das Famílias Durante o Processo de Intervenção Precoce, para a Mãe Francisca………..56

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Tabela 12 - Síntese Sobre os Aspetos Positivos do Apoio no Domicílio para a Mãe Francisca………58

Tabela 13 - Síntese Sobre os Aspetos Negativos do Apoio no Domicílio para a Mãe Francisca………..58

Tabela 14 - Síntese Sobre a Forma como é Realizado o Apoio no Domicílio da Mãe Célia……….…..60

Tabela 15 - Síntese Sobre o Envolvimento das Famílias Durante o Processo de Intervenção Precoce, para a Mãe Célia……….………..61

Tabela 16 - Síntese Sobre os Aspetos Positivos do Apoio no Domicílio para a Mãe Célia………..……..62

Tabela 17 - Síntese Sobre os Aspetos Negativos do Apoio no Domicílio para a Mãe Célia……..……….62

Tabela 18 - Síntese Sobre a Forma como é Realizado o Apoio no Domicílio da Mãe Júlia………63

Tabela 19 - Síntese Sobre o Envolvimento das Famílias Durante o Processo de Intervenção Precoce, para a Mãe Júlia……….………65

Tabela 20 - Síntese Sobre os Aspetos Positivos do Apoio no Domicílio para a Mãe Júlia………..66

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INTRODUÇÃO

Em Portugal, a IP diz respeito a um conjunto organizado de entidades institucionais e de natureza familiar, com o objetivo de “garantir condições de desenvolvimento das crianças com funções ou estruturas do corpo que limitam o crescimento pessoal, social e a sua participação nas atividades típicas para a idade, cem como as crianças com risco grave de atraso no desenvolvimento” (Decreto-Lei 281/2009, artigo 1º). Segundo o mesmo documento legislativo, o trabalho desenvolvido pela IP deve-se à cooperação entre os Ministérios do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, da Saúde e da Educação. Estes devem garantir que as crianças com idades compreendidas entre os 0 e os 6 anos de idade e as suas famílias, beneficiem de medidas de apoio de natureza preventiva e reabilitativa, no âmbito da educação, saúde e ação social. Ao longo dos anos a IP foi evoluindo, no nosso país e no mundo, passando de um apoio centrado apenas na criança, para um apoio centrado na família. É agora sabido que a família tem uma enorme influência no desenvolvimento da criança, tendo o direito de referir preocupações, definir prioridades e objetivos que devem ser considerados ao longo do processo de intervenção (Pereira & Serrano, 2014).

Deste modo, a família tem um papel fundamental no que diz respeito à tomada de decisões que, direta ou indiretamente influenciam a sua criança e o apoio, decidindo o que é melhor para a criança e para a família enquanto unidade (Pereira & Serrano, 2014). No entanto, em IP, os conceitos de interdependência e de colaboração entre profissionais e família são de extrema importância, garantindo assim que o apoio possa atingir todo o seu potencial (Gallagher, LaMontagne & Johnson, 2002).

Tendo em conta que o papel da família, dos pais e/ou dos cuidadores é cada vez mais ativo no que diz respeito à IP, é importante perceber se o contexto em que decorre o apoio, nomeadamente, o apoio no domicílio, tem influência positiva na forma como estes se envolvem ao longo de todo o processo.

Segundo Dunst, Bruder e Espe-Sherwindt (2014), o apoio que é realizado no domicílio está associado a um aumento da participação da família, promovendo assim, o reforço das suas capacidades.

Este projeto incidirá essencialmente na importância da realização do apoio no domicílio e na participação dos pais, enquanto elementos pertencentes à equipa que acompanha os seus filhos. Para tal, serão apresentadas as entrevistas semiestruturadas realizadas às mães de crianças que recebem o apoio no domicílio e quais as vantagens associadas ao mesmo.

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Formulação do Problema

Atualmente, a investigação refere-nos que, todas as atividades que surgem no quotidiano da comunidade e da família de forma natural, são vistas como oportunidades de aprendizagem para a criança. É nos chamados contextos naturais que as crianças aprendem aptidões funcionais e de adaptação, que lhes permitem participar ativamente em atividades do dia-a-dia (Dunst, Raab, Trivette & Swanson, 2012). É também nestes contextos que as famílias compreendem a importância das atividades do quotidiano como importantes fontes de oportunidades de aprendizagem para as crianças (Shelden & Rush, 2012)

Segundo Dunst, et al. (2012), a probabilidade de existirem progressos e benefícios, não só para as crianças, mas também para os pais, é maior se forem os pais os principais criadores de oportunidades de aprendizagem no dia-a-dia. Esta criação de oportunidades de aprendizagem está relacionada com os próprios interesses das crianças.

Estando a família no centro da IP e, sendo os pais (ou os cuidadores) os principais mediadores no que diz respeito à aprendizagem das crianças, é fundamental falar em apoio domiciliário. Apesar de esta ser uma estratégia de enorme importância no que diz respeito ao trabalho com as famílias, existe pouca literatura que possa confirmar a importância e os benefícios deste contexto (McWilliam, 2012a). No nosso país, a literatura é ainda mais escassa. Neste sentido, este estudo procura aprofundar a prática da IP no domicílio, expondo dinâmicas e benefícios identificados pelas famílias, como fundamentais ao apoio neste contexto.

Finalidade do Estudo

Este estudo pretende analisar e compreender as dinâmicas e os benefícios que as famílias percecionam obter do apoio da IP. Neste sentido, os objetivos desta investigação são os seguintes:

a) Compreender como e por quem é realizado o apoio no domicílio;

b) Analisar e compreender como é que as famílias são envolvidas em todos os momentos do processo de apoio (avaliação, planificação e intervenção);

c) Identificar e compreender quais os aspetos positivos percecionados pela família, resultantes do apoio da IP no domicílio;

d) Identificar e compreender quais os aspetos negativos percecionados pela família, resultantes do apoio da IP no domicílio.

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Os objetivos propostos perspetivam a compreensão das dinâmicas e dos benefícios que resultam do apoio da IP no domicílio, aspetos que se podem constituir como fatores promotores da qualidade do atendimento às famílias pela IP.

Importância do Estudo

A literatura sobre a importância das visitas domiciliárias na IP é escassa e, no nosso país é praticamente inexistente. No entanto, são vários os autores que defendem que o apoio no domicílio acarreta inúmeras vantagens no processo de apoio, quer no que diz respeito à participação da família, quer no que diz respeito à própria evolução da criança.

De acordo com Cook e Sparks (2008), as visitas domiciliárias não são um tipo de apoio recente, pois desde há muitos anos que vários profissionais das áreas da saúde e da educação o usavam como forma de fornecer os seus serviços às crianças. Estes profissionais identificaram alguns aspetos importantes durante esta prestação de serviços, relacionada com a atitude das famílias e com a participação das crianças.

Para McWilliam (2012a), o principal objetivo das visitas domiciliárias é o de melhorar a qualidade de vida das famílias. No entanto, tal só é possível se a equipa tiver em atenção vários aspetos, nomeadamente, escutar as suas preocupações e prioridades, o fazer a família sentir-se como elemento participativo da equipa ou simplesmente o ouvir a família. Segundo o mesmo autor, o apoio no domicílio diz respeito a toda a família, e não apenas à criança.

Do mesmo modo, Cook e Sparks (2008) defendem que o estabelecimento de uma relação de proximidade entre profissionais e família, permite colocar a família no centro do apoio, que por sua vez, poderá agir e atuar da melhor maneira com a sua criança, tendo em conta os seus objetivos, valores e ideais.

Mcwilliam (2012a) defende que não existe um guião que seja uma linha orientadora aos profissionais da IP, relativamente às visitas domiciliárias. Contudo, estes profissionais devem salientar as forças da família e da criança, conhecer cada um destes elementos e respeitar as suas preocupações e prioridades. Neste sentido, os profissionais devem sempre procurar o envolvimento das famílias durante todo este processo pois, de acordo com Dunst, et al. (2014), a realização do apoio no domicílio está associado a um aumento da participação das famílias durante o processo de intervenção. Este aumento da participação das famílias poderá ser transformado em fortalecimento das capacidades das famílias, que por sua vez, irá potenciar as oportunidades de aprendizagem que a criança poderá experienciar ao longo do dia.

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Neste sentido, é fundamental perceber quais as vantagens identificadas pelas famílias apoiadas no domicílio pela IP no distrito de Braga, para que possa ser maximizada a qualidade do atendimento a estas mesmas famílias.

Organização da Dissertação

A presente dissertação de mestrado, intitulada “Apoio da Intervenção Precoce no Domicílio: Perspetivas de Mães do Distrito de Braga”, está organizada por vários capítulos, que de seguida se descrevem.

O primeiro capítulo corresponde ao enquadramento teórico, onde é feita a revisão da literatura sobre o tema em estudo: a IP em Portugal, a evolução da IP para as práticas centradas na família, a IP nos contextos naturais, os pais como mediadores da aprendizagem, a Intervenção Precoce no domicílio, o trabalho com as famílias nas visitas domiciliárias e a participação dos pais nas visitas domiciliárias.

O segundo capítulo aborda a metodologia utilizada para a investigação deste projeto e a sua justificação. Neste capítulo são abordados os seguintes temas: a abordagem qualitativa, desenho da investigação (participantes, instrumento de recolha de dados: a entrevista), análise de dados e critérios de confiança.

No terceiro capítulo são apresentados os dados recolhidos através das entrevistas semiestruturadas e separados com base nas categorias apresentadas.

O quarto capítulo tem como objetivo fazer a análise e discussão dos dados apresentados anteriormente. Por último encontra-se o quinto capítulo, onde são apresentadas as conclusões, as limitações do estudo e possíveis recomendações para futuras investigações.

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CAPÍTULO I – REVISÃO DA LITERATURA 1 – Intervenção Precoce

1.1 – A Intervenção Precoce em Portugal

Os primeiros anos de vida de uma criança têm uma importância fundamental no desenvolvimento humano, uma vez que constituem a base de todo o desenvolvimento posterior. O período entre as últimas semanas de gestação e os 3 anos de idade é designado como “período crítico”, representando uma janela de oportunidade para o mundo (Boavida, 2012; Whaley, 2005). Neste sentido, a Intervenção Precoce (IP) tem início com a esperança de que, quanto mais cedo a intervenção, maiores e mais duradouros serão os resultados dessa intervenção (Boavida, 2012). Segundo vários autores, a IP procura intervir diminuindo ou eliminando os fatores que constituem barreiras ao desenvolvimento das crianças mais pequenas que se encontram em risco de ter o seu desenvolvimento comprometido por qualquer motivo (Franco, 2007; Serrano & Boavida, 2011).

Para Dunst e Bruder (2002), a IP diz respeito ao conjunto de serviços, apoios e recursos necessários que permitem responder às necessidades de cada criança que participa no programa de IP. Para tal, a IP inclui atividades e oportunidades que permitem incentivar a aprendizagem e o desenvolvimento da criança. Diz respeito ainda, aos serviços, apoios e recursos necessários para que as famílias possam promover o desenvolvimento dos seus filhos, criando oportunidades para que estas tenham um papel ativo em todo o processo. Lucena e Curiel (2011) acrescentam ainda que, o facto de se guiar, ajudar e orientar o desenvolvimento infantil durante os primeiros anos de vida, poderá permitir, em algumas situações, prevenir e corrigir desvios e facilitar o desenvolvimento.

Em Portugal, IP é um sistema que abrange todas as crianças até aos 6 anos de idade (e as suas famílias), que apresentem alterações ao normal desenvolvimento ou que estejam em risco de sofrer alterações. O objetivo da IP é apoiar e promover o bem-estar e o desenvolvimento físico, emocional e cognitivo das crianças (Portugal & Santos, 2003; Saúde, 2019). Este sistema é enquadrado pelo Decreto-Lei nº281/2009 de 6 de Outubro que, a par da necessidade de se intervir o mais precocemente possível no que diz respeito aos fatores que interferem com o crescimento e com o desenvolvimento das capacidades humanas e, também no sentido de promover a autonomia, criou o Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância (SNIPI). O SNIPI tem como objetivo garantir as condições necessárias ao desenvolvimento da criança e da sua família, em colaboração com os Ministérios do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, da Educação e da Saúde, envolvendo a família e a comunidade (Dec. Lei nº281/2009 de 6 de Outubro; Saúde, 2019).

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Segundo o mesmo Decreto-Lei, o SNIPI atua ao nível do apoio às crianças e suas famílias, nomeadamente, através da proteção dos direitos e do desenvolvimento das capacidades das crianças; da deteção e da sinalização das crianças em risco de alterações ao desenvolvimento ou com alterações às funções do corpo; do apoio às famílias, no que diz respeito ao acesso a serviços e a recursos da comunidade; e do envolvimento da comunidade com a criação de mecanismos articulados (Artigo 4º).

Para operacionalizar todo o SNIPI, o mesmo Decreto-Lei criou as Equipas Locais de Intervenção (ELI), constituídas por profissionais de várias áreas, nomeadamente, educadores, assistentes sociais, terapeutas, médicos, enfermeiros e psicólogos (Carvalho et al., 2018; Saúde, 2019), que representam os profissionais dos três Ministérios acima identificados. Estas equipas desenvolvem as suas atividades a nível municipal, podendo estar sediadas em Centros de Saúde, IPSS’s ou outras instalações que lhes sejam atribuídas.

De acordo com Carvalho e colaboradores (2018) são os profissionais das ELI’s, os responsáveis pelo apoio nos contextos naturais e por facilitar o envolvimento das famílias em todo o processo de intervenção.

Para Franco (2007), a IP e os profissionais devem orientar-se de acordo com três áreas do saber, nomeadamente, as neurociências (quanto mais precocemente se intervir com uma criança pequena, maior será a probabilidade de alcançar objetivos, devido à enorme plasticidade e maleabilidade neurológica), a investigação na área do desenvolvimento infantil (no que diz respeito à importância da qualidade das interações dos bebés) e as perspetivas contextuais e ecológicas do desenvolvimento (no que diz respeito à importância dos contextos em que a criança interage e se desenvolve). Já Dunst, et al. (2012) defendem como características fundamentais para a prova do sucesso e eficácia das práticas da IP, o uso de atividades do dia-a-dia para a aprendizagem da criança, o papel dos pais nesse apoio e os objetivos de ampliação de competências.

Apesar da importância destes pressupostos para a contextualização da IP, estes nem sempre fizeram parte da sua definição. Os próximos capítulos abordam a evolução verificada no campo da IP até aos dias de hoje, não só no que diz respeito ao nível de participação das famílias, como à importância dos contextos onde o apoio é realizado.

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1.2 – A Evolução da IP para as Práticas Centradas na Família

Apesar de, nos dias de hoje, a IP se alicerçar nos princípios e nas práticas centradas na família, colocando a família no centro de toda intervenção, até finais do século passado, este apoio era visto como uma intervenção que deveria ser realizada apenas com a criança (McWilliam, 2005). Segundo o mesmo autor, o trabalho dos profissionais da IP consistia na identificação dos fatores de risco ou de fatores que poderiam ser causadores de eventuais problemas de desenvolvimento, para criar e desenvolver intervenções destinadas à diminuição ou eliminação do impacto que esses fatores poderiam causar na vida futura das crianças. Os profissionais eram vistos como os especialistas no que diz respeito à identificação e planeamento das melhores estratégias a serem utilizadas com as crianças, enquanto que os pais assumiam um papel passivo, não lhes sendo permitida qualquer opção de escolha ou de tomada de decisões (McWilliam, 2005; Serrano, 2008). Este tipo de abordagem, centrada unicamente na criança, tinha por base o modelo médico, que tinha como único objetivo tratar os défices que a criança apresentava, sem ter em conta os contextos em que está inserida e enquanto membro pertencente a uma família (Serrano & Correia, 2002).

No início dos anos 70 do século XX, a investigação realizada por Bronfembrenner e o desenvolvimento da Teoria Ecológica do Desenvolvimento (que será descrita adiante), teve um papel fundamental no que diz respeito à promoção da adoção, por parte dos profissionais, dos princípios centrados na família (Beckman, 1996; McWilliam, 2005). Segundo Allen e Petr (1996) citados por Serrano e Correia (2002), as constantes críticas ao modelo médico, o desenvolvimento de teorias e as políticas de apoio familiar foram alguns dos fatores que apoiaram a criação de legislação nos Estados Unidos da América, sobre o atendimento centrado na família.

Apesar do crescente envolvimento da família no processo de apoio na IP, somente na década de 80 é que a família e a criança passaram a ser vistas como o alvo da intervenção (Serrano, 2008; Serrano & Correia, 2002).

Com a passagem da abordagem centrada na criança para a abordagem centrada na família abandona-se a perspetiva de estimulação precoce, em que a criança surgia como o principal alvo de intervenção. A família passa assim a ser considerada como recetora e agente ativo do programa, participando em parceria com os profissionais (Almeida, 2004; Beckman, 1996).

De acordo com McWilliam (2005), foi possível definir alguns princípios base, que conduziram à alteração do foco da intervenção, nomeadamente:

1) A família deve ser encarada como a unidade de prestação de serviços;

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3) As prioridades identificadas pelas famílias são aquelas às quais deve ser dada uma resposta; 4) A prestação de serviços deve ser individualizada, tendo em conta que cada família é única; 5) A constante mudança das prioridades da família deve ser tida em conta e;

6) Devem ser apoiados e respeitados os valores e o modo de vida de cada família.

Além destes princípios, Dunst, Trivette e Hamby (2007) referem que nesta abordagem centrada na família devem estar presentes as competências relacionais (escuta ativa, compaixão, empatia, respeito, ausência de juízos de valor, entre outros) e as competências participativas (práticas individualizadas e flexíveis, que permitam dar resposta às preocupações e prioridades identificadas pelas famílias e que, consequentemente, permitam à família ter um papel ativo, quer no que diz respeito às decisões, quer à intervenção). Segundo os mesmos autores, estes elementos são o que permitem a diferenciação das práticas centradas na família, de outras abordagens que envolvem o trabalho com as famílias. Quando as competências relacionais e participativas estão presentes durante a intervenção, o sentimento de autoeficácia dos prestadores de cuidados é maior, o que terá influência positiva no trabalho desenvolvido com a família (Dunst et al., 2007).

Considerando os princípios apresentados, o principal objetivo das práticas centradas na família é melhorar o bem-estar de toda a família pois, uma situação que preocupe um dos elementos poderá ter influência na organização e no relacionamento entre todos os outros elementos (McWilliam, 2005). De acordo com Dunst e Trivette, (2009) a transformação na IP, com a passagem da abordagem centrada na criança para a abordagem centrada na família, permitiu que os pais ou prestadores de cuidados se tornassem ativos e competentes, onde através da disponibilização de recursos, quer formais, quer informais, pudessem contribuir para a educação e o desenvolvimento das suas crianças com algum tipo de necessidade educativa especial ou em risco. Estas práticas foram reconhecidas como a melhor abordagem para promover uma parceria eficaz entre a família e os profissionais (Hardin, Blanchard, Kemmery, Appenzeller, & Parker, 2014), uma vez que enfatizam a família como uma unidade de apoio, assegurando as escolhas e as decisões das famílias (Haksoon, Keyser, & Hayward-Everson, 2016). Pereira e Serrano (2010, 2014) referem ainda que este tipo de abordagem, além de reconhecer a família como o principal contexto para a promoção e desenvolvimento da criança, torna o apoio mais poderoso, do que se este fosse centrado na criança.

Tendo por base toda a investigação realizada no âmbito das práticas centradas na família, em 1985, Carl Dunst desenvolveu um modelo, que defende que a intervenção deve ter como principal objetivo apoiar os pais na procura e obtenção de serviços, que possam ser vantajosos para a família e para a criança, e na identificação e definição das preocupações e prioridades de cada família (Serrano, 2008).

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Este modelo defende que o fortalecimento do funcionamento familiar está relacionado não com a prestação de serviços, mas com o “capacitar” (diz respeito à criação de oportunidades para que os membros da família possam aplicar as suas competências e adquirir outras, para responder às necessidades dos seus filhos) e o “corresponsabilizar”/empowerment (consiste em melhorar a capacidade da família para satisfazer as suas preocupações e prioridades, de forma a promover o sentido de controlo e domínio da vida familiar) (Dunst, Trivette & Deal, 1988 citados por Dunst & Trivette, 2009). Dunst (2002b) acrescenta ainda que a corresponsabilização enquanto processo, diz respeito a um conjunto de oportunidades que, utilizadas para servir um determinado fim, resultam numa melhoria de competências.

A Figura 1 ilustra as quatro componentes do Modelo de Apoio Centrado na Família, desenvolvido por Dunst e colaboradores e a forma como todas as componentes se relacionam entre si.

As componentes deste modelo são interdependentes e a sua identificação permite ao profissional da IP iniciar o processo de avaliação e de intervenção centrado na família, nomeadamente:

1) identificar as preocupações e prioridades de cada família;

2) identificar os apoios e recursos na comunidade, isto é, as redes de apoio formal e informal de cada família;

3) identificar os pontos fortes existentes que permitam a obtenção de novos recursos e novas fontes de apoio; e

4) mobilizar os recursos identificados como forma de promover a aquisição de competências pela família (Dunst & Trivette, 2009).

Comportamento de ajuda Estilo de funcionamento da família Preocupações e prioridades da família Apoio e recursos da comunidade

Figura 1 – Quatro componentes fundamentais das práticas centradas na família (Dunst, Trivette & Deal, 1988, citados por Dunst & Trivette, 2009)

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De acordo com os criadores deste modelo, apesar de todas as suas componentes serem separadas mas interdependentes, a sua utilização permitiu organizar e estruturar todo o processo de intervenção destinado a apoiar famílias e a promover e melhorar as competências de pais e de crianças (Dunst, 2002a, 2002b; Dunst & Trivette, 2009; Serrano, 2012).

Além da investigação realizada por Dunst e colaboradores, a Division of Early Childhood (DEC) refere também aquilo em que consistem as práticas centradas na família. Este documento consiste num guia de orientação para profissionais e familiares de crianças com atrasos no desenvolvimento, ou em risco, apoiados pela IP, indicando quais as melhores formas e estratégias de promover e melhorar o desenvolvimento e as aprendizagens destas crianças. Neste sentido, em relação às práticas centradas na família, o DEC (2014) refere que estas se devem orientar da seguinte forma:

1) Promover a participação ativa das famílias quanto à tomada de decisões relacionadas com a sua criança; 2) Os objetivos identificados pela família devem estar incluídos no planeamento, assim como as estratégias utilizadas para atingir esses objetivos; e

3) Apoiar as famílias a alcançar os objetivos definidos para a sua criança.

No âmbito das práticas centradas na família, o DEC defende ainda o tratamento das famílias com respeito e dignidade, considerando sempre que cada família é única e autêntica, sendo necessário ser flexível e responsivo, de acordo com as suas características. Além disto, as práticas centradas na família implicam também o envolvimento de todos os membros da família no processo de intervenção, onde toda a informação deve ser partilhada, para que os membros possam tomar as decisões que consideram mais acertadas. Segundo o mesmo documento e, tendo em conta que as famílias são um elemento de enorme importância na equipa, a colaboração é destacada como fundamental, simultaneamente com o respeito, o apoio e suporte, o fortalecimento das suas capacidades e a sensibilidade cultural associada a cada família. Em Portugal, Carvalho e colaboradores (2018) defendem que a família é o principal prestador de cuidados da criança, com um papel fundamental na saúde e bem-estar da mesma. Neste sentido, a família deverá ser o alvo prioritário de apoio, assumindo simultaneamente um papel ativo na equipa. No entanto, é sempre necessário pensar em cada família como única, com as suas próprias forças, crenças, valores e expectativas, que têm sempre de ser respeitadas (Pereira & Serrano, 2014).

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2 – Os Contextos

2.1 - A IP nos Contextos Naturais

Segundo Dunst e Bruder (2002), entende-se por contextos naturais os ambientes e lugares onde as crianças desenvolvem habilidades do quotidiano e experienciam oportunidades de aprendizagem, como por exemplo, a casa ou a comunidade.

A relevância dos contextos naturais permitiu a alguns investigadores, como Bronfembrenner, Gabarino, Sameroff e Chandler, desenvolverem as suas teorias no campo do desenvolvimento infantil, com base na influência dos contextos.

De acordo com Pereira (2002), em 1979, Bronfembrenner criou o Modelo da Ecologia do Desenvolvimento, definindo que a evolução do ser humano está relacionada, de forma direta ou indireta, com todos os contextos em que o indivíduo interage, existindo sistemas e subsistemas que se influenciam e encaixam, como um conjunto de bonecas russas. Este autor defende que os contextos naturais são determinantes no que diz respeito ao desenvolvimento da criança, tendo construído o seu modelo de acordo com os seguintes sistemas, que se influenciam mutuamente:

1) Microssistemas, definidos como os contextos mais imediatos, em que ocorrem as relações diretas da criança, como as atividades na família, na escola, com amigos, etc.;

2) Mesossistemas, dizem respeito às relações entre os vários microssistemas. Apesar de cada microssistema ser distinto dos outros, eles interagem e influenciam-se mutuamente;

3) Exossistemas, correspondem aos contextos onde o indivíduo não participa de forma ativa, mas que ainda assim, o influenciam, como é o caso do local de emprego dos pais em relação às crianças, ou a comunidade em que a família está inserida, ou ainda as redes de apoio social; e

4) Macrossistemas são os sistemas que gerem a organização geral do mundo, como é o caso das crenças, dos valores e dos ideais pelos quais se guiam todas as culturas (Pereira, 2002; Thurman, 1997).

Esta teoria é a base de todas as alterações aos programas de Intervenção Precoce, criados para crianças em risco ou com problemas de desenvolvimento, a nível internacional (McCormick, 2014).

Gabarino (2000) citado por Pereira (2002) desenvolveu o modelo da Ecologia de Risco, atribuindo ao contexto grande relevância, na medida em que o ambiente em que a criança está inserida tem influência no seu desenvolvimento, assim como a criança tem influência sobre o meio. Este contexto não diz respeito apenas ao ambiente imediato no qual a criança está inserida, mas está relacionado também com as diferentes relações que se podem estabelecer entre diferentes ambientes e com as suas influências.

No que diz respeito ao Modelo Transacional, de Sameroff e Chandler, o desenvolvimento é visto como o produto da contínua interação entre as características da criança e as experiências proporcionadas pela

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família e pelo contexto social (Pereira, 2002), onde quer o ambiente, quer a criança se influenciam e são influenciados (Sameroff, 2009; Serrano & Correia, 2002).

Apesar de todos estes autores definirem diferentes modelos, as suas abordagens convergem na importância das relações das crianças com o ambiente físico e social, ao longo dos processos de aprendizagem e de desenvolvimento (Almeida et al., 2011).

Neste sentido, estes modelos serviram de base para o desenvolvimento dos programas de IP centrados nas famílias, onde os contextos têm uma influência significativa no desenvolvimento das crianças, devido à diversidade de oportunidades de aprendizagem a que estão sujeitas constantemente.

Todos os dias, a vida em família, na comunidade, na escola, e em todos os contextos em que a criança interage fornecem-lhe uma enorme variedade de experiências que lhe permitem vivenciar novas oportunidades, adquirir conhecimentos e melhorar competências. Estas experiências acontecem sempre que uma criança se depara com uma situação que a encoraja a interagir com pessoas, materiais ou objetos e que, de certo modo, promovem a sua aprendizagem (Dunst & Bruder, 1999b). Neste sentido, Dunst e Bruder (1999b) identificaram vinte e duas categorias de oportunidades de aprendizagem, quer em contexto familiar, quer em contexto da comunidade, como por exemplo, as rotinas familiares, as saídas familiares, os eventos na comunidade, as celebrações familiares, etc., que devem ser consideradas como formas onde a IP pode atuar, pois todas estas categorias constituem fontes de oportunidades de aprendizagem.

A figura 2 mostra-nos que, apesar de a criança estar inserida em programas de Intervenção Precoce ou no programa do pré-escolar ou da creche, sendo este o contexto de aprendizagem mais formal, diariamente a criança vive nos contextos familiar e da comunidade, onde são aprendidas experiências e práticas naturais, dada a diversidade de pessoas, locais, objetos e materiais (Serrano, Pereira & Carvalho, 2003). Estas situações encorajam-na a explorar o seu comportamento, a adquirir novas competências e a fortalecer as suas capacidades (Dunst & Hamby, 1999a). Estes três contextos (vida na comunidade, vida na família e o programa de educação que frequenta) são os principais contextos de aprendizagem para as crianças, constituindo as principais fontes de oportunidades de aprendizagem do dia-a-dia.

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A investigação realizada por Dunst et al., (2001) diz-nos que, todos os dias, as crianças estão expostas a inúmeras experiências que são fontes de oportunidades de aprendizagem. Atividades como rituais familiares, comemorações na comunidade, eventos e ocasiões especiais e, toda e qualquer atividade em que a criança possa participar, quer na comunidade, quer na família, constituem experiências que, de forma intencional ou não, permitem à criança a aquisição de novos conceitos e experiências (refeições, hora do banho, passear com os animais, brincar numa poça de água, entre outras) (Dunst & Bruder, 1999a; Dunst et al, 2001).

Tendo por base toda a investigação anterior, a perspetiva atual da IP defende uma prática nos contextos naturais da criança, como a casa, a comunidade e todos os espaços que as crianças frequentam e, que de algum modo contribuem para o desenvolvimento de competências e de capacidades (Almeida, et al., 2011; Rodrigues, Seixas & Piscalho, 2017).

Para Campbell (2004), o objetivo do apoio nos contextos naturais é o de promover a participação ativa das crianças nas atividades e rotinas que ocorrem nos diferentes contextos naturais.

O mesmo é defendido pelo DEC (2014) e Pacer Center (2010), uma vez que as suas orientações se apoiam na ideia de que o apoio deve ser realizado em ambientes naturais e inclusivos, garantindo que as crianças tenham uma participação ativa nos diferentes contextos. Os mesmos documentos referem que as crianças com atrasos no desenvolvimento ou em risco, que beneficiem do apoio nos contextos, têm uma maior participação nas atividades mais significativas das rotinas diárias e, consequentemente, um aumento da aprendizagem.

Vida na comunidade Fontes de oportunidade de

aprendizagem das crianças Vida familiar Aprendizagem da criança Programas de educação da criança

Figura 2 – Três fontes principais de oportunidades de aprendizagem na criança (Dunst, 2001, Dunst & Bruder, 1999a)

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A investigação realizada por Dunst e colaboradores revela que em todos os contextos existem atividades contextualizadas, que dizem respeito a situações específicas, que colocam a criança mediante oportunidades de aprendizagem, através da interação com pessoas e com o envolvimento físico. De acordo com os mesmos autores, estas atividades podem ser encontradas em qualquer situação da vida diária, onde o contacto com materiais, pessoas e objetos, encoraja a criança a desenvolver qualquer tipo de atividade, de modo a adquirir e a desenvolver competências. Estas atividades podem ser planeadas ou não planeadas, estruturadas ou não estruturadas, sendo que todas permitem à criança o contacto com novas experiências e, consequentemente, novas oportunidades de aprendizagem (Dunst, 2000; Dunst & Hamby, 1999a; Dunst & Hamby 1999b; Dunst & Bruder, 1999a; Dunst & Bruder, 1999b).

De acordo com o DEC (2014), quando a IP se refere à prática em contextos naturais, estão a ser referidos vários domínios, nomeadamente, o ambiente físico, como é o caso do espaço, dos equipamentos e dos materiais, o ambiente social, que inclui a interação com pares, membros da família, entre outros, e o ambiente temporal, onde se inclui a sequência das rotinas diárias. No entanto, o Pacer Center (2010) defende que os contextos naturais incluem os espaços, como a casa, o jardim, a escola, a livraria; os materiais com os quais as crianças podem interagir fisicamente, como os brinquedos, utensílios da casa, etc.; as pessoas, como os pais, pares, professores e; as atividades e rotinas da criança e da família.

Além da importância dos contextos, a investigação realizada por Dunst (2000) revela ainda que as crianças aprendem mais e desenvolvem-se mais, quando as interações sociais e não sociais, que lhes permitem praticar, explorar e aprender novas competências, se centram nos seus interesses específicos. Neste sentido, o autor identificou quatro características que existem tanto no contexto familiar como na comunidade, e que são fundamentais para a aprendizagem da criança, nomeadamente, participação ativa, competência, domínio e interesses.

Interesses

Contextos de

atividade Participação ativa

Competência Domínio

Figura 3 – Atividades contextualizadas como forma de promoção de expressão dos interesses, participação ativa, desenvolvimento de competências e domínio (Dunst, 2000; Dunst et al., 2001)

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A figura 3 demonstra a relação existente entre as quatro características apresentadas por Dunst (2000), como fatores essenciais para a aprendizagem das crianças nos contextos naturais: as atividades que são interessantes para as crianças, e que vão ao encontro das suas preferências, incentivam-na a interagir com pessoas e objetos; esta interação promove a participação ativa, dando oportunidade à criança de melhorar, desenvolver e adquirir novas competências; e as oportunidades para praticar, aprender e explorar são essenciais para a aquisição do domínio em relação às suas próprias capacidades que, por sua vez fortalecem os interesses da criança. Este ciclo repete-se sucessivamente em relação a cada atividade da criança.

De acordo com Dunst, Herter e Shields (2000), para que o ciclo verificado na figura 3 se repita com sucesso, é necessário reconhecer três passos: identificar os interesses da criança, identificar as atividades que se relacionam com os interesses da criança nos contextos e, por fim, envolver a criança nessas atividades, permitindo assim, o desenvolvimento da corrente da figura apresentada anteriormente.

Considerando todas as teorias desenvolvidas e toda a investigação que tem sido realizada ao longo dos últimos anos sobre a importância dos contextos no que diz respeito ao desenvolvimento da criança, é agora sabido que a IP deve ser desenvolvida nos contextos onde a criança deveria estar, caso não fosse necessária a intervenção deste tipo de apoio, como por exemplo o lar da criança, da comunidade e da creche ou jardim-de-infância que frequenta (McWilliam, 2000). Segundo o mesmo autor, o objetivo desta ideia é separar as crianças e as suas famílias de locais que não seriam frequentados, caso a criança e a família não necessitassem deste tipo de apoio, uma vez que, ambas as necessidades, quer da criança, quer da família, podem ser satisfeitas nos seus contextos naturais. De acordo com McCormick (2014), estes locais devem ser selecionados de acordo com vários aspetos, nomeadamente os valores e as regras culturais de cada família, a intensidade dos serviços, atendendo às necessidades da criança e da família e, também, com a acessibilidade geográfica de cada família.

2.2 - Os Pais como Mediadores da Aprendizagem

Segundo Lucena e Curiel (2011), os primeiros anos de vida de uma criança são de extrema importância, uma vez que é neste período que são adquiridas as bases que vão suportar todas as aprendizagens do futuro. Neste seguimento, é defendida a ideia de que os pais têm um papel fundamental neste período, podendo facilitar o desenvolvimento de algumas aquisições, nos contextos em que a criança se desenvolve (Lucena & Curiel, 2011; Rush & Shelden, 2011; Shelden & Rush, 2012).

O dia-a-dia das crianças nos seus contextos naturais é partilhado imediatamente com os pais, os familiares e/ou os cuidadores. Tendo em conta todo o tempo e todas as experiências partilhadas, os pais e

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os familiares podem promover uma enorme variedade de atividades baseadas nas rotinas e no interesse das crianças, que permitem a aprendizagem de novas competências e o aumento da sua participação (Swanson, Raab, Roper, & Dunst, 2006). Segundo os mesmos autores, as atividades que os pais constroem e que se centram nos interesses das crianças, permitindo a sua aprendizagem, são designadas por Práticas Mediadas pelo Contexto. Este modelo desenvolvido por Swanson, et al., (2006) inclui: as atividades diárias que constituem a vida familiar e na comunidade; os interesses e as competências das crianças, como forma de participação e aprendizagem; o aumento das oportunidades para colocar em prática competências adquiridas anteriormente e o desenvolvimento de novas; e a mediação por parte dos pais, no que diz respeito à aprendizagem diária dos seus filhos. Segundo os mesmos autores, o principal objetivo deste modelo consiste na promoção das capacidades dos pais, enquanto mediadores na participação da criança nas atividades do dia-a-dia, como será descrito de seguida.

O modelo apresentado na figura 4 identifica os contextos de atividades diárias que são promotores da aprendizagem, através da participação da criança em diferentes atividades, de acordo com os seus interesses e as suas competências (Swanson et al., 2006).

Apesar da enorme variedade de atividades às quais as crianças estão sujeitas diariamente, este modelo dá especial atenção às práticas e às atividades que os pais dinamizam para promover a aquisição de novas competências, e que os profissionais apoiam, no sentido de fortalecer as capacidades e a confiança das famílias (Swanson, Raab, Roper, & Dunst, 2006). A competência dos pais é reforçada quando estes usam atividades do dia-a-dia como fontes de oportunidades de aprendizagem para os seus filhos (Dunst et al., 2012). Interesses e competências da criança Aprendizagem Mediada pelos Pais Contextos diários de atividades Participação e conhecimento Aumento das Oportunidades

de Aprendizagem

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Para que os pais ou prestadores de cuidados possam desenvolver estas atividades, no sentido de criar novas oportunidades de aprendizagem, é necessário fortalecer as suas capacidades para a identificação de alguns aspetos, nomeadamente, identificar os interesses das crianças; identificar os contextos de atividades diárias; selecionar as atividades diárias que constituem momentos de aprendizagem infantil baseada nos interesses; aumentar as oportunidades de aprendizagem da criança; utilizar estratégias responsivas de educação; e criar novas oportunidades de aprendizagem (Raab & Dunst, 2006). Os pais que se sentem capacitados nas suas competências, são capazes de proporcionar aos seus filhos melhores oportunidades de aprendizagem para o seu desenvolvimento (Dunst et al., 2007; Swanson, Raab & Dunst, 2011).

De acordo com Mahoney e SungHee Nam (2011) citados por Serrano (2012), os pais são o principal agente de mudança dos seus filhos, contribuindo para a variabilidade do desenvolvimento e do funcionamento social e emocional. Neste sentido, os pais medeiam a aprendizagem das crianças quando aumentam o número, a frequência e a qualidade das oportunidades de aprendizagem baseadas nos interesses manifestados pelos seus filhos (Raab & Dunst, 2006). Tendo em conta estes aspetos, o papel dos profissionais deve consistir no apoio e no fortalecimento das competências dos pais para compreender, reconhecer e usar as práticas que se centram nos interesses das suas crianças, em vez de se centraram unicamente na intervenção direta com a criança (Raab & Dunst, 2006).

De acordo com as perspetivas dos autores apresentados, bem como da investigação realizada por McWilliam (2003), o apoio deve ser realizado nos contextos naturais da criança e da família, atribuindo à família um papel fundamental no que diz respeito ao processo de intervenção. Segundo o mesmo autor e considerando que a família é quem melhor conhece a criança, verifica-se que a aprendizagem da criança acontece de modo contínuo ao longo do tempo, com os seus principais prestadores de cuidados, e não apenas quando os profissionais da IP visitam a família e a criança.

Através da figura 5 é possível verificar que o apoio dos profissionais deve concentrar-se no fortalecimento das capacidades dos pais ou prestadores de cuidados, para que estes possam influenciar de modo contínuo e prolongado o desenvolvimento da criança. Por outro lado, a intervenção direta do profissional com a criança não permitirá a obtenção dos mesmos resultados, tratando-se de um apoio momentâneo (McWilliam, 2003).

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3 – O Apoio no Domicílio

3.1 - A Intervenção Precoce no Domicílio

Ao longo deste projeto, tem sido descrita a importância dos contextos naturais no que diz respeito ao desenvolvimento e também a importância da participação ativa dos pais/prestadores de cuidados durante o processo de intervenção. De acordo com Cook e Sparks (2008), os contextos naturais são os melhores contextos onde qualquer criança com necessidades especiais aprende e, de acordo com a legislação americana, estes contextos incluem a comunidade e a casa da família (domicílio).

Segundo vários investigadores, o domicílio é considerado um dos contextos mais importantes da aprendizagem, onde se encontram os pais das crianças. A evolução da IP defende que o apoio deve, por isso, ser realizado nos locais onde as famílias se encontram (Korfmacher, et al., 2008).

De acordo com a investigação realizada por McWilliam (2012a), as visitas domiciliárias são um método fundamental no que diz respeito ao apoio a famílias, tendo como principal objetivo a melhoria da qualidade de vida familiar. Por outro lado, Peterson, Luze, Eshbaugh, Jeon e Kantz (2007) e Machado, Santos e Espe-Sherwindt (2017) referem que o principal objetivo das visitas domiciliárias consiste no fortalecimento das capacidades das famílias, no sentido de continuarem a fornecer aos seus filhos oportunidades de aprendizagem nos intervalos entre visitas domiciliárias.

Segundo McWilliam (2003), as visitas domiciliárias tornaram-se na essência dos serviços prestados a crianças com necessidades especiais e às suas famílias, através da utilização de um modelo de apoio transdisciplinar. Este modelo é considerado como a melhor prática no que diz respeito à IP (King et al., 2009), assentando na teoria de que, para cada família, deve existir um responsável de caso, que deverá prestar apoio em todas as áreas que a família considerar prioridade (Carvalho, Filipe & Regêncio, 2012).

Competência e Confiança dos Pais/Prestadores de Cuidados

Apoio Profissional Resultados na Criança

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De acordo com Franco (2007), este modelo centra-se nas necessidades individuais e permite ultrapassar barreiras relacionadas com as diferentes áreas disciplinares, oferecendo uma metodologia de trabalho mais abrangente, ao mesmo tempo que permite trabalhar nos domínios da deteção, avaliação, intervenção e acompanhamento de crianças e famílias, diferindo dos outros modelos (multidisciplinar e interdisciplinar) nos seguintes aspetos:

1) O princípio da cooperação e articulação entre profissionais é fundamental, devendo a criança ser encaminhada para a equipa e não para um profissional específico;

2) A avaliação deve ser realizada por todos os membros da equipa de forma global e em conjunto com a família, sendo realizada apenas uma avaliação;

3) A família deve participar ativamente ao longo de todo o processo;

4) Todos os elementos da equipa são co-responsáveis por todos os momentos de intervenção, independentemente das tarefas de cada um;

5) Todos os elementos, incluindo a família, são responsáveis pela elaboração do plano de intervenção, em função das preocupações e prioridades da família;

6) Apesar de existir um responsável de caso, todos os elementos da equipa são responsáveis pela implementação do plano;

7) Todos os profissionais devem ser responsáveis por aprender, ensinar e trabalhar em conjunto com os restantes membros, implicando uma constante formação e aprendizagem;

8) A comunicação e a partilha de informação têm uma enorme importância, quer no que diz respeito a estratégias, quer a conhecimentos de outras áreas;

9) A formação dos elementos da equipa deve ser centrada nas problemáticas e não na formação de base de cada um;

10) E, por fim, a equipa deve partilhar responsabilidades, onde apenas o responsável de caso deve articular com a família.

Segundo a investigação realizada nesta área, o modelo transdisciplinar é considerado mais eficiente no que diz respeito ao apoio da IP, na medida em que se verifica ser menos intrusivo para a família. Este aspeto está relacionado com a articulação com o responsável de caso, permitindo um apoio mais coerente, centrado nas preocupações e prioridades que as famílias identificam e não na formação de base de cada profissional (Carvalho et al., 2012; Franco, 2007; King et. al, 2009).

Além do modelo transdisciplinar e, tendo em conta toda a investigação realizada sobre a importância dos contextos naturais e as suas vantagens para o desenvolvimento das crianças, McWilliam (2010) desenvolveu um modelo composto por cinco componentes, que constitui uma orientação para o trabalho com a família

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nos contextos naturais. Segundo o mesmo autor, as cinco componentes deste modelo permitem criar uma ligação entre toda a teoria e a prática, baseando-se nos seguintes pontos: 1) compreender a ecologia da família, 2) planeamento para uma intervenção funcional, 3) serviços integrados, 4) visitas domiciliárias efetivas e 5) consulta de colaboração para o cuidado da criança.

De acordo com a investigação realizada por McWilliam (2010), este modelo permite colocar em prática os conceitos associados à IP, uma vez que se trata de um modelo abrangente e um sistema coordenado de prestação de serviços:

1) A compreensão da ecologia da família passa pela elaboração do “Ecomapa”, um instrumento que permite visualizar a rede de apoio formal (médicos, terapeutas, professores) e informal (família, vizinhos, amigos) e o tipo de relação que se estabelece entre eles, nomeadamente, se são um bom apoio para a família, se representam apoio moderado, se estão presentes mas não são uma boa ajuda, ou se são uma fonte causadora de stress;

2) O planeamento para uma intervenção funcional foca-se na elaboração da entrevista baseada nas rotinas, que permite a obtenção dos objetivos funcionais que a família identifica como prioridades. Esta entrevista consiste na descrição das rotinas diárias, feita pelos pais ou prestadores de cuidados e, na identificação de aspetos que a família gostaria de ver melhorados. Se possível, a entrevista também deverá ser realizada juntamente com os educadores ou professores da criança, constituindo este o ponto de partida para o trabalho com as famílias;

3) Os serviços integrados referem-se aos serviços prestados apenas por um profissional, apoiado, no entanto, pelos outros profissionais da sua equipa. Este apoio normalmente é realizado no domicílio e a frequência e a intensidade destas visitas dependem da criança, da família e das necessidades apresentadas. McWilliam refere que o tipo de abordagem transdisciplinar dá ênfase à forma como a criança aprende, dá importância às necessidades funcionais da família, permite o uso dos recursos das equipas de modo mais eficaz, entre outros.

4) As visitas domiciliárias efetivas dizem respeito à forma como os intervencionistas devem encarar a família e o tipo de apoio prestado. Segundo um estudo realizado por McWilliam e Scott (2001) citados por McWilliam (2010), existem três tipos de apoio identificados nas visitas domiciliárias que implementam as práticas centradas na família: o apoio emocional, o apoio material e o apoio informativo. Em relação aos profissionais, existem cinco características que devem estar presentes nas visitas: a positividade, a capacidade de dar resposta, a orientação para toda a família, a amabilidade e a sensibilidade (McWilliam, 2010). Estas características definem a forma sobre as quais as visitas domiciliárias se devem apoiar, referindo qual o comportamento a ter com as famílias e sobre aquilo que deve ser conversado com elas.

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5) As consultas de colaboração para o cuidado da criança estão relacionadas com as visitas que os profissionais da IP poderão realizar à creche ou infantário da criança, para articular com os professores ou educadores, uma vez que estes, aliados aos prestadores de cuidados, passam muito tempo com a criança, conhecendo rotinas e comportamentos. Além da observação que os profissionais poderão fazer, estas visitas também poderão funcionar como uma troca de informações recíproca para a equipa e para educadores, articulando as estratégias que funcionam melhor com cada criança.

A aplicação destas cinco componentes no apoio realizado em contextos naturais, neste caso no apoio ao domicílio, deverá ser encarada como um apoio que permitirá às famílias promover os seus sentimentos de competência, o que, consequentemente, ajudará a proporcionar o maior número de oportunidades de aprendizagem à sua criança (McWilliam, 2010).

Apesar da existência deste modelo, por vezes, o apoio no domicílio pode ser confundido com o contexto clínico, em que o especialista trabalha de forma intensiva com a criança e onde a família aproveita esse momento para realizar outras tarefas, adquirindo o papel de observador (McWilliam, 2012a). Neste sentido, considerando a confusão que poderá existir entre a alteração do contexto clínico para o domicílio, o mesmo autor identificou quatro problemas ou erros que se podem verificar no momento das visitas:

1) as mudanças que se verificam nas crianças resultam das visitas domiciliárias e não das interações que ocorrem entre visitas;

2) as intervenções devem estar relacionadas apenas com o desenvolvimento da criança; 3) a necessidade de procurar um especialista para cada necessidade; e

4) o profissional exemplifica e espera que a família tenha observado atentamente, para posteriormente colocar em prática o que observou (McWilliam, 2012a).

Para que estes problemas identificados possam ser minimizados, McWilliam (2012a) identificou também cinco princípios-chave:

1) são as famílias que têm maior influência sobre a criança e não os profissionais; 2) as crianças aprendem ao longo do dia e não através de sessões de terapias;

3) as crianças pequenas aprendem através do contacto com novas experiências contextualizadas;

4) a intervenção deve basear-se no apoio aos cuidadores, pois todos os progressos ocorrem entre as visitas domiciliárias; e

5) se os primeiros quatro princípios se encontrarem cumpridos, as oportunidades de aprendizagem da criança serão maximizadas.

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3.2 - O Trabalho com as Famílias nas Visitas Domiciliárias

De acordo com McWilliam (2012a), nas visitas domiciliárias e, tendo em conta a abordagem centrada na família, o foco do apoio deve centrar-se nas interações entre o prestador de cuidados e o profissional, focando o assunto no que concerne à interação do prestador de cuidados com a criança. Nestas visitas, o profissional utiliza a maior parte do tempo para fornecer indicações e estratégias apropriadas aos pais/cuidadores, para intervir com a sua criança, trabalhando efetivamente com ela apenas para demonstrar estratégias de intervenção, verificar o que a criança consegue realizar, quais as estratégias que funcionariam melhor ou, para mostrar aos cuidadores que o visitante sente afeto pela criança.

Segundo Dunst e Swanson (2006), o principal objetivo destas práticas é promover as competências das famílias, uma vez que estas são os mediadores da participação da criança nas atividades do dia-a-dia, aumentando o número, a frequência e a qualidade das oportunidades de aprendizagem provocadas pelos seus interesses.

Este trabalho com a família permite multiplicar o tempo de apoio, tal como se verifica pela figura 6.

A figura 6 demonstra que o apoio que é realizado com a família, através do fornecimento de informação e de estratégias que podem ser utilizadas com as crianças, é muito mais eficaz do que o apoio realizado entre o profissional e a criança (Jung, McCormick, & Jolivette, 2004). Segundo os mesmos autores, quando a informação é fornecida aos prestadores de cuidados, estes podem maximizar as oportunidades de

Terapeuta Criança

Terapeuta Família Criança

1 hora

1 hora 84 horas

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Figura 1 – Quatro componentes fundamentais das práticas centradas na família (Dunst, Trivette & Deal,  1988, citados por Dunst & Trivette, 2009)
Figura 2  – Três fontes principais de oportunidades de aprendizagem na criança (Dunst, 2001,  Dunst &
Figura 3 – Atividades contextualizadas como forma de promoção de expressão dos interesses, participação  ativa, desenvolvimento de competências e domínio (Dunst, 2000; Dunst et al., 2001)
Figura 4 – Componentes das práticas mediadas pelo contexto (Swanson et al., 2006)
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Referências

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