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PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA, POLINEURITE E DOENÇA DE CHAGAS CRÔNICA

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Arquivos de Neuro-Psiquiatria

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http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X1985000400014&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 13 nov. 2017.

REFERÊNCIA

FORTES-RÊGO, J. Paralisia facial periférica, polineurite e doença de Chagas crônica. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, São Paulo, v. 43, n. 4, p. 418-421, dez. 1985. Disponível em:

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P AR ALIS IA F A CI A L P ER IFÉR ICA, P OLIN EU R ITE E D OEN ÇA D E CH AGAS CR ÔN ICA

J. FORTES-RÊGO *

Independentemente de uma variação geográfica — fato incontestável — a paralisia facial periférica distribui-se universalmente, apresentando-se freqüen-temente como uma das condições mais presentes na prática neurológica ambu-lat ór ia^ . A forma predominante estatisticamente é aquela para a qual nenhum fator etiológico é encontrado, chamada "idiopática" ou "de Bell", que pode atingir até 93,62% de uma casuística global*. Como tais epítetos mostram-se por demais desgastados pelo uso inadequado que deles faz a quase totalidade dos autores que se ocupam do assunto, propusemos a substituição de ambos pelo termozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA isolada tomado aqui em dupla acepção: o acometimento do nervo facial é a única alteração perceptível ao exame neurológico, e não há conco-mitância de nenhuma outra entidade nosológica — focalizada ou sistêmica — de qualquer etiologia?. Não obstante o absoluto predomínio da forma isolada,

dezenas de situações são incriminadas, na literatura especializada, como agentes etiológicos da paralisia facial periférica, que passa a significar, em tais even-tualidades, mero sinal neurológico de um contexto sintomático mais amplo. A título de ilustração cabe citar as publicações de DrachmanS Pope Junior e Kenan 10 e May e Lucente^, nas quais são enumeradas, respectivamente, 40, 20 e 19 causas distintas de paralisia facial periférica.

As polineurites são outra patologia assaz freqüente na prática neurológica. Duas entidades mórbidas sobressaem aqui como fatores etiológicos: o alcoolismo crônico e o diabete melito. Além destas, muitas outras são responsabilizadas, destacando-se as carências vitamínicas (de causas outras que não o alcoolismo),

a insuficiência renal crônica e as colagenoses. Entre nós, e a despeito da grande resistência que ainda é oferecida pela grande maioria dos que lidam

com o tema, outro agente etiológico — de enorme importância — seria a doença de Chagas crônica, que propicia o surgimento de uma polineurite mista com predomínio do componente motorzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA 6, 0 que nos levou a propor uma

reclas-sificação para a tripanosomíase com a inclusão da forma neurítica, subdivisão

da forma n er vosa8.

A forma nervosa da doença de Chagas é quase tão antiga quanto a própria tripanosomíase, desde que nos reportemos aos conceitos originalmente formu-lados pelo descobridor da m oléstia1. Já em 1913 Carlos Ch a ga s2 afirmava

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ser esta doença "a que talvez provoque, em patologia humana, o maior número de afecções orgânicas do sistema nervoso central" e qüe, naquela época, pos-suía "mais de 200 observações desse tipo". Apesar da atenção inicial do ilustre cientista haver-se voltado particularmente para esse aspecto, parece-nos que Vie ir a1 2 situaria bem a questão ao escrever: "No que se refere à

sintoma-tologia (da forma nervosa crônica), queremos chamar a atenção para um ponto que nos parece de importância. iNa nossa experiência, as manifestações des-critas por Chagas são as menos freqüentes, constituindo quase um achado de exceção". Voltando-se especificamente para a sintomatologia polimorfa, de "cunho neurótico", que freqüentemente é apresentada pelos portadores da forma crônica da moléstia de Chagas, Vieira u interpretou-a fisiopatologicamente e reconheceu, nesse conjunto de sintomas aparentemente sem um substrato anatô-mico, forma clínica bem-individualizada, que denominou "forma neurovegeta-t i v e .

O objetivo superior desta publicação é — em relatando o caso de uma paciente que apresentou paralisia facial periférica, polineurite mista e sintoma-tologia "vaga" aparentemente de natureza psicológica, na vigência de doença de Chagas crônica — contribuir para que se vençam as barreiras erigidas na trajetória para o reconhecimento "oficial" da forma nervosa crônica da doença

de Chagas, principalmente no que concerne à subformazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA neurítica.

O B S ER VA ÇÃ O

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m e s e s h o u ve m e l h o ra s u b je t i v a , e n q u a n to o d é fice m o t o r m o s t ra v a s e in a lte ra d o . P o s -te rio rm e n -te a p acie n -te in -te rro m p e u o u s o d o b a rb i t ú ri co , d ize n d o -s e p i o r e p e d in d o p a ra s e r e n ca m i n h a d a à Ga s t re n t e ro l o g i a p o r co n s id e ra r s u a s q u e i x a s o riu n d a s "d o e s t ô m a g o ".

CO MEN T Á R I O S

Da análise da observação, três diagnósticos podem ser estabelecidos: (a) paralisia facial periférica direita residual; (b) polineürite mista; (c) síndrome psicofuncional. Estes diagnósticos, contudo, não devem bastar-se, pois nada mais são que expressões topográficas do envolvimento do sistema nervoso a diferentes níveis. Destarte, deve-se buscar um diagnóstico mais geral, que represente a base de tudo, a unidade patológica. Nesse sentido, orientamos o raciocínio para a doença de Chagas, fundamentando-nos nos seguintes pontos: (1) polineürite em paciente procedente de área endêmica, na qual ficaram excluídas as causas mais conhecidas; (2) a paralisia facial não pôde ser catalogada comozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA isolada, pela própria definição desta; o seu caráter sintomático estava reforçado ademais pela evolução insatisfatória; dissociá-la ecologica-mente da polineürite não pareceria atitude prudente ou lógica, uma vez que

as doenças causadoras de uma soem sê-lo também da outra, a exemplo do diabete, de carências vitaminicas e da lepra; (3) as manifestações psíquicas que compunham o quadro clínico ajustavam-se sem esforço à conceituação de sinto-matologia de "cunho neurótico", configurando assim a forma "neurovegetativa" da doença de Chagas. Seguiu-se eritão a etapa laboratorial da investigação, cujos resultados foram confirmatórios. Por oportuno deve-se frisar que mesmo a alteração eletrencefalográfica (que motivou uma prova terapêutica com feno-barbital) possa quiçá ser inserida no quadro geral da doença básica, embora as opiniões no particular sejam algo desencontradas, como se depreende do estudo de Faria 5. De qualquer modo, o caráter contínuo da tontura e a refratariedade à ação quase sempre eficiente do barbitúrico depõem contra a existência de epilepsia concomitante.

A título de conclusão, calcados na expressão sintomatológica da paciente e na firme convicção da realidade do acometimento do sistema nervoso na tripanosomíase — não só pelos dados ainda algo dispersos da literatura mas principalmente com supedâneo na própria experiência — achamos que o diag-nóstico de forma nervosa da doença de Chagas impõem-se no presente caso, traduzindo-se em duas subformas: neuritica (craniana e periférica) e neurove-getativa.

R E S U M O

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S U M M A R Y

Peripheral facial paralysis, mixed polyneuritis and chronic Chagas' disease.

The author reports the case of a 42-year-old woman who developed right peripheral facial paralysis and mixed polyneuritis in the course of an undiag-nosed Chagas' disease. The clinical diagnosis could be confirmed by sorological reactions for Chagas' disease. A likely relationship between chronic Chagas' disease, peripheral facial paralysis and mixed polyneuritis is discussed.

R E F E R Ê N CI A S

1 . CH A GA S , C. — As p e c t o clín ico ge ra l d a n o v a e n tid a d e m ó rb i d a p ro d u z i d a p e lo Sc h i z o t ry p a n u m cru z i . ( No t a p ré v i a .) Br a s i l -Mé d i c o 2 4 :2 6 3 , 1910.

2 . CH A GA S , C. — Le s fo rm e s n e rve u s e s d 'u n e n o u ve lle try p a n o s o m ia s e ( Try p a n o s o m a cru z i) in o cu lé p a r Tr y a t o m a m e g i s t a . No u v . Ic o n o g r . Sa lp ê t ri è re 2 6 :1 , 1913. 3 . D R A CH M A N , D .A. — Be l l 's p a l s y . A n e u ro lo gica l p o in t o f v ie w . Ar c h . Ot o l a

-r y n g o l . 8 9 :1 4 7 , 1969.

4 . E L- E B I A R Y, H . M. — Fa c i a l p a r a l y s i s : a clin ica l s t u d y o f 580 c a s e s . Rh e u m . P h s y . Me d . 1 1 :1 0 0 , 1971.

5 . F A R I A , M. A. M. — As s o c i a ç ã o e n tre i n fe cçã o c h a g á s i c a e s ín d ro m e s e p ilé p ticas . Te s e . Sã o P a u l o , 1972.

6 . F O R T E S - R Ê GO , J. — Po li n e u ro p a t i a s c h a g á s i c a s . Ar q . Ne u r o -Ps i q u i a t . ( Sã o P a u l o ) 3 7 :1 6 5 , 1979.

7 . F O R T E S R Ê GO , J. — Pa r a l i s i a fa cia l p e rifé rica i s o l a d a : u m a co n d içã o c o n t ro -v e rs a . Di p l o m a t a Ed i t o r a . Br a s í l i a , 1981. Di s t ri b u í d o p e la Ed i t o r a P e d a g ó g i c a e Un i v e rs i t á ri a - E. P . U . , Sã o P a u l o .

8 . F O R T E S R Ê GO , J. ; MA CED O , V. O. & P R A T A , A. — Al t e ra ç õ e s n e u ro ló gica s p e ri -fé rica s n a d o e n ça d e Ch a g a s crô n i ca . Ar q . Ne u r o -Ps i q u i a t . ( Sã o P a u l o ) 3 8 :4 5 , 1980. 9 . MAY, M. & L U CE N T E , F . E. — Be l l 's p a ls ca u s e d b y b a s a l ce ll ca rcin o m a . J. am e r.

m e d . As s o c . 220:1596, 1972.

1 0 . P O P E Jr . , T . H . & K E N A N , P . D . — Be l l 's p a l s y in p re g n a n c y . Ar c h . Ot o l a r y n g o l . 8 9 :9 3 0 , 1969.

1 1 . V I E I R A , C. B . — Ma n i fe s t a ç õ e s p s í q u i c a s n a fo rm a crô n i ca d a m o l é s t i a d e Ch a g a s , e xe m p lo d e h ip e ra tivid a d e o rgâ n i ca . Re v . g o i a n a Me d . 1 0 :1 2 7 , 1964.

1 2 . V I E I R A , C. B . — A fo r m a n e rv o s a crô n ica d a d o e n ça d e Ch a g a s v i s t a p e lo clín ico g e ra l . Re v . go i a n a Me d . 1 2 :3 1 , 1966.

1 3 . V I E I R A , C. B . — Ma n i fe s t a çõ e s clín ica s d a d e s n e rva çã o d a d o e n ça d e Ch a g a s . In J. Ro m e u Ca n ç a d o ( e d .) : Do e n ç a d e Ch a g a s . Be l o Ho ri z o n t e , 1968.

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