• Nenhum resultado encontrado

Cultura do clique na Tribuna do Norte: clicks que pulsam, cultura que edita

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Cultura do clique na Tribuna do Norte: clicks que pulsam, cultura que edita"

Copied!
108
0
0

Texto

(1)

Wilson Galvão de Freitas Teixeira

CULTURA DO CLIQUE NA TRIBUNA DO NORTE: CLICKS QUE PULSAM, CULTURA QUE EDITA

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Programa de Pós-graduação em Estudos da Mídia

(2)

Wilson Galvão de Freitas Teixeira

CULTURA DO CLIQUE NA TRIBUNA DO NORTE: CLICKS QUE PULSAM, CULTURA QUE EDITA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Mídia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Estudos da Mídia.

Linha de pesquisa: Estudos da Mídia e

Produção de Sentido

Orientador: Profa. Dra. Kenia Beatriz Ferreira

Maia

(3)
(4)

Wilson Galvão de Freitas Teixeira

CULTURA DO CLIQUE NA TRIBUNA DO NORTE: CLICKS QUE PULSAM, CULTURA QUE EDITA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Mídia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Estudos da Mídia.

Data:

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Profa. Dra. Kenia Beatriz Ferreira Maia

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Orientador

________________________________________ Prof. Dra. Fernanda Ariane Silva Carrera

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Membro interno

________________________________________ Prof. Edgard Patrício de Almeida Filho

Universidade Federal do Ceará Membro externo

(5)
(6)

AGRADECIMENTOS

Nestes mais de dois anos de dedicação, muitas renúncias pessoais, nunca estive sozinho. Hélia, obrigado pela parceria e pela compreensão.

À minha família, com todas as minhas imperfeições e deficiências expressivas sentimentais, saibam: são presentes neste trabalho. Longe de ordem de importância, avós, pai, irmã, sobrinhas, tios e tias, primos e primas. De cada um, trago um pouco.

À professora Kenia Maia, pela confiança, paciência, ensinamentos e ajustes na trajetória.

Aos meus amigos da Assessoria de Comunicação da Reitoria da UFRN, não apenas colegas, mas cúmplices de histórias, pensamentos, posicionamentos e ideias.

Aos profissionais da Tribuna do Norte, solícitos, propiciaram a tranquilidade ideal para a pesquisa de campo.

(7)

Trabalhar com um processador de texto? Um forte “não!” ressoou nas salas de redação de muitos dos principais jornais uma década atrás. Logo depois veio um menos enfático “talvez”, depois um provocador “sim, mas”, um ambíguo “..se não há outro remédio...” Atualmente, muita gente da imprensa formula

a desafiante contrapergunta: “Que mais?”

Journalist, o jornal do Deustscher Journalisten Verband, Nov. 1985, p. 9

(8)

Resumo

Com o exarcebamento do papel de ferramentas tecnológicas digitais, tais quais mídias sociais e aplicativos para compartilhamento de conteúdo, programas que aferem métricas de audiência on-line invadiram redações, com um foco em dados de audiência, uma ‘Cultura do Clique’ (Anderson, 2009), com um risco, intrínseco, de entender os números de audiência como instrumento de aperfeiçoamento. A percepção empírica estimulou a investigação a respeito de como as rotinas jornalísticas são influenciadas e de que forma os jornalistas assimilam este novo ingrediente, observando quais estratégias são adotadas para a ratificação de um conhecimento sedimentado. Levanta-se a hipótese de que processos editoriais passam por ajustes jornalísticos, cuja raiz localiza-se na interferência das preferências dos usuários nas decisões editoriais. Para tanto, utiliza-se de metodologia com viés etnográfico na redação da Tribuna do Norte, conforme preceitos de Duarte (2008) e Rovida (2015), com a presença de técnicas atinentes, tais quais observação não participante e entrevistas em profundidade, para analisar o processo de construção do conteúdo, normas e textos dos profissionais jornalistas em produção para mídia on-line. Os resultados apontam que, ainda que clicks sejam ouvidos cotidianamente na redação, as decisões editoriais são acompanhadas por uma reflexão acerca da pertinência temática, mesmo que os jornalistas procurem agregar um sentido profissional ao comportamento dos usuários.

Palavras-chave: Rotinas no Jornalismo. Novas Tecnologias. Métricas de Audiência

(9)

Abstract

With the exaggeration of the role of digital technology tools, such as social media and content sharing applications, programs that measure online audience metrics have invaded essays, with a focus on audience data, a 'Click Culture' (Anderson, 2009), with an intrinsic risk of understanding audience numbers as an improvement tool. Empirical perception has stimulated research on how journalistic routines are influenced and how journalists assimilate this new ingredient, observing what strategies are adopted to ratify a settled knowledge. The hypothesis arises that editorial processes go through journalistic adjustments, whose root lies in the interference of users' preferences in editorial decisions. To do so, methodology with ethnographic bias is used in the writing of Tribuna do Norte, in accordance with Duarte (2008) and Rovida (2015), with the presence of pertinent techniques such as non-participant observation and in-depth interviews to analyze the process of content construction, norms and texts of professional journalists in production for online media. The results show that, although the clicks are heard daily in the newsroom, editorial decisions are accompanied by a reflection on the thematic pertinence, even if journalists seek to add professional meaning to users' behavior.

Keywords: Production of Meaning. Routines in Journalism. New technologies.

(10)

Resumen

Con el éxito del papel de herramientas tecnológicas digitales, tales como medios sociales y aplicaciones para compartir contenido, programas que miden métricas de audiencia en línea invadieron redacciones, con un enfoque en datos de audiencia, una 'Cultura del clic' (Anderson, 2009), con un riesgo intrínseco de entender los números de audiencia como instrumento de perfeccionamiento. La percepción empírica estimuló la investigación acerca de cómo las rutinas periodísticas son influenciadas y de qué forma los periodistas asimilan este nuevo ingrediente, observando qué estrategias se adoptan para la ratificación de un conocimiento sedimentado. Se levanta la hipótesis de que procesos editoriales pasan por ajustes periodísticos, cuya raíz se ubica en la interferencia de las preferencias de los usuarios en las decisiones editoriales. Para ello, se utiliza la metodología con sesgo etnográfico en la redacción de la Tribuna del Norte, según preceptos de Duarte (2008) y Rovida (2015), con la presencia de técnicas atinentes, tales como observación no participante y entrevistas en profundidad, para analizar el proceso de construcción del contenido, normas y textos de los profesionales periodistas en producción para medios en línea. Los resultados apuntan que, aunque los clicks sean escuchados cotidianamente en la redacción, las decisiones editoriales son acompañadas por una reflexión acerca de la pertinencia temática, aunque los periodistas busquen agregar un sentido profesional al comportamiento de los usuarios.

Palabras clave: Producción de sentido. Las rutinas en el periodismo. Nuevas

(11)

Lista de gráficos e figuras

Gráfico 01: Responsividade do leitor da plataforma digital da Tribuna do Norte ... 21 Gráfico 02: Faixa etária dos usuários que interagem nas mídias sociais ... 21 Gráfico 03: Faixa etária dos usuários que acessam o Portal ... 22 Figura 01: Tela inicial do Google Analytics para visualização de números gerais .... 24 Figura 02: Tela do Google Analytics com destaque para visualização de número relativo aos visitantes únicos ... 25 Figura 03: Print de tela com Manchetes jornalísticas sobre Lei do Estacionamento no mesmo link ... 81 Figura 04: Print de tela com Manchetes jornalísticas sobre Concurso da Polícia Militar no mesmo link ... 82 Figura 05: Print de tela com Manchetes jornalísticas sobre caso da prisão do Juiz Barros Dias no mesmo link... 82 Figura 06: Print de tela com Manchetes jornalísticas sobre Concurso de Agente Penitenciário no mesmo link ... 83 Figura 07: Print de tela com Manchetes jornalísticas sobre fuga do ABC do rebaixamento na série B do campeonato brasileiro no mesmo link ... 83 Figura 08: Chamada sobre recorde de acessos ao site compõe página inicial do Portal da Tribuna do Norte ... 90

(12)

Lista de tabelas e ilustrações figuras

Tabela 01: Lista com os dez sites mais acessados no Rio Grande do Norte ... 20 Tabela 02: Relação de personagens, suas funções e datas das entrevistas individuais... 38 Ilustração 01: Organograma organização funcional da redação ... 23

(13)

Sumário

Introdução ... 13

Tecnologia digital: computador e internet ... 14

A Tribuna do Norte ... 18

Taxa de clicks: a Cultura do Clique ... 23

Estrutura do trabalho ... 27

Capítulo I Método e objeto ... 29

1.1 Percurso Metodológico: a etnometodologia ... 29

1.2 Técnicas metodológicas: elo entre distintos universos de significação ... 33

Capítulo II Novas tecnologias: mudanças estruturais no jornalismo ... 41

2.1 Novos comportamentos... 46

2.2 Convergência de redações ... 47

2.3 Métricas on-line em ascensão ... 52

2.4 Quantificando o público ... 55

2.5 Converter importância em interesse ... 56

Capítulo III Um Click na Cultura ... 60

3.1 Amplitude limitada ... 66

3.2 Métricas de engajamento ... 74

3.2.1 Números que pedem contexto ... 85

3.2.2 Para além dos page views ... 87

(14)

Referências Bibliográficas ... 99 Apêndice A – Roteiro para entrevista ... 105

(15)

Introdução

Há transformação no trabalho de produção das notícias, quando pensamos em uma conjuntura que engloba o monitoramento do comportamento do leitor, em sites noticiosos, e novas ferramentas para geração de tráfego? Inicialmente, cumpre colocar que a evolução da prática jornalística e do jornalismo se liga ao aparecimento de novas tecnologias, até por ambos estarem imersos em uma sociedade que se redefiniu nos últimos séculos por meio de suas tecnologias da comunicação.

Além disso, processos externos à profissão do jornalista contribuíram para facilitar a circulação das notícias, permitir que jornais circulem em menores espaços de tempo, com impactos diretos em valores-notícia como atualidade e proximidade. Cito a implementação do sistema ferroviário, o desenvolvimento de veículos de transporte, a exemplo das diligências, e o surgimento do barco a vapor e das estradas de ferro, no século XIX. A própria diferenciação entre notícias locais, nacionais e estrangeiras se consolida a partir destas novas possibilidades de meios para trocas de informação. É simbólica, ainda, a criação do jornalismo impresso após a invenção dos tipos móveis de Gutemberg, no século XV.

Exemplo singular da importância destes processos dentro da evolução do jornalismo é a invenção do telégrafo, na primeira metade do século XIX, que, com suas especificidades técnicas, altera significativamente a velocidade da circulação das notícias, muda a percepção profissional a respeito dos valores-notícia, com modificações na escrita: o uso de palavras sem ambiguidade, períodos curtos, menos pontuação, uso de vocábulos do cotidiano em contraposição aos da linguagem culta, em uma nova relação com o texto.

Afinal, as transmissões iniciais, instáveis, que permitiam a passagem de informações a longas distâncias cotidianamente, geram a fragmentação do relato da notícia e, em consequência, o surgimento de dois dos maiores ícones da técnica jornalística: o lead e a pirâmide invertida. A busca incessante pela rapidez na divulgação dos fatos e pelo furo jornalístico foi condicionada em grande parte pelas inovações tecnológicas.

A contextualização da criação de inovações técnicas, e seu consequente uso no âmbito jornalístico, evidencia que o próprio jornalismo sempre sofreu alterações de ordem prática e institucional em decorrência disso: a busca incessante pela

(16)

rapidez na divulgação dos fatos e pelo furo jornalístico foi condicionada, em grande parte, pelas mudanças de ordem tecnológica. Por meio da retrospectiva, é possível visualizar que mudanças dentro da ação jornalística estiveram atreladas à emergência de novas tecnologias e que, a ingerência destas no campo jornalístico, faz emergir novas subjetividades, sensibilidades e sentidos dentro do fazer jornalístico, sendo inclusive um dos principais fatores que desencadeia transformações no jornalismo.

Ainda que alguns profissionais afirmem que o jornalismo é movido pela inventividade e expressividade do profissional, a realidade, percebe-se, é bem diversa. Em outras palavras, a inserção de novas tecnologias na rotina jornalística produz mudanças no fazer jornalístico. O acompanhamento instantâneo das métricas de audiência online, em redações de portais noticiosos, propiciado pelos aplicativos específicos para este fim, e em conjunto com a prática profissional, proporciona um entrelaçado e estimulante campo de estudo ainda incipiente em solo brasileiro.

Acompanhar e analisar as marcas que os usuários deixam, reveste-se de um robusto aspecto influenciador em redações jornalísticas. Então o conhecimento a respeito do comportamento da audiência é aspecto que tende a receber proeminência na atribuição de valor-notícia.

A linguagem jornalística para a internet, não obstante peculiaridades próprias, está afastada de um padrão. E o monitoramento do tráfego de pessoas na página atravessa a construção de uma possibilidade de padrão para a linguagem digital. A pesquisa busca identificar e compreender como os profissionais assimilam este novo ingrediente editorial e de que forma esse mecanismo repercute no fazer jornalístico.

Desta forma, desenvolvemos a pergunta orientadora desta pesquisa: o monitoramento do acesso nos sites de notícias projeta modificações sobre o processo de construção do conteúdo, normas e textos dos profissionais jornalistas em produção para mídia on-line?

Tecnologia digital: computador e internet

As ferramentas digitais dominam o debate atual sobre as interferências das novas tecnologias no âmbito do jornalismo. O computador e a internet carregam o

(17)

simbolismo universal deste momento digital. Datada da década de 1980 (BALDESSAR, 2005, p. 206), a informatização das redações dos jornais e revistas no Brasil acarreta grandes mudanças no cotidiano profissional dos jornalistas: uma nova realidade profissional incluía maior qualificação, atualização e intensificação do trabalho.

Já o quinquênio 2011-2015 é marcado por um exarcebamento do papel de ferramentas tecnológicas digitais, tais quais mídias sociais e aplicativos, fazendo com que a audiência estivesse, em determinadas plataformas, como sujeitos geradores de conteúdo. A conjuntura é reflexo também do aumento no acesso à internet, considerando que o número de internautas em 2015 chegou a 3,2 bilhões no mundo, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Há 15 anos, os usuários de internet eram apenas 400 milhões, o que correspondia a 6,5% da população mundial. Em 2015, esse índice sobe para 43%1.

O Brasil, segundo relatório do Banco Mundial2, ocupa o quinto lugar em número de usuários de internet, atrás da China, dos Estados Unidos, da Índia e do Japão. O levantamento divergiu metodologicamente do adotado pelo Ministério das Comunicações, o que ocasionou uma desavença no número de habitantes offline: para o órgão brasileiro, eram cerca de 78 milhões, enquanto que o Relatório do Banco Mundial registrou 98 milhões. Ainda segundo o Ministério, entre 2010 e 2014, o número de usuários de internet no Brasil passou de 65,9 milhões para 96,4 milhões3.

Assim, em duas décadas depois do uso comercial da internet, a plataforma atinge mais de três bilhões de usuários. O rádio e a televisão, em um espaço de tempo similar, alcançaram 50 milhões. Embora, à época, uma quantidade menor de habitantes na terra era registrada, não há como negar que o tempo de difusão da Internet é admiravelmente superior.

A nosso ver, algo parecido ocorre hoje no jornalismo. A ascensão daquilo que conhecemos por “imprensa” coincidiu com a industrialização da reprodução e da distribuição de material impresso. Quando o custo de levar uma coluna de texto a milhares de pessoas começou a cair, organizações jornalísticas puderam canalizar mais recursos para a produção diária de

1 https://nacoesunidas.org/em-15-anos-numero-de-usuarios-de-internet-passou-de-400-milhoes-para-32-bilhoes-revela-onu/ 2 http://documents.worldbank.org/curated/pt/788831468179643665/Relat%C3%B3rio-sobre-o-desenvolvimento-mundial-de-2016-dividendos-digitais-vis%C3%A3o-geral 3 http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-01/governo-e-banco-mundial-divergem-sobre-numero-de-usuarios-de-internet-no

(18)

conteúdo. Agora, estamos testemunhando uma mudança correlata: a automatização da coleta e da disseminação de fatos, e até de análise básica. Isso obviamente mexe com atividades que empregavam jornalistas não como artesãos, mas como meros braços – gente que desempenhava a função porque não havia máquina capaz disso. Mas também permite que meios de comunicação, tradicionais e novos, dediquem uma parcela maior de recursos ao trabalho de investigação e interpretação que nenhum algoritmo pode fazer – só o homem. (ANDERSON, BELL & SHIRKY, 2013, p. 45)

Nesta circunstância, aplicativos que medem métricas de audiência on-line invadiram redações. Anderson (2009) analisa que tal desenvolvimento culminou na mudança de padrões de julgamento de notícias entre produtores web on-line, ao observar que valores jornalísticos dominantes da autonomia e da escrita para outros jornalistas estavam sendo invadidos por um novo conjunto de valores profissionais, um foco em dados de audiência, uma ‘cultura do clique’. Para Freire (2014, p.7-8), desse contexto brota uma reflexão a respeito de que algoritmos nos propiciam a extração quantitativa de padrões massivos de comportamento humano e apontam para novas possibilidades.

Paradoxalmente, novas limitações, em uma perspectiva na qual “os índices de visitação dos sites atestam movimentos autônomos de busca e sistema de preferências múltiplas” (FRANÇA, 2012, p. 17). Compreender quais os reflexos, para os profissionais, dessa conjuntura de convergência entre processos produtivos e a nova dimensão do trabalho que metamorfoseia rotinas jornalísticas. Eis o desafio.

Este contexto carece de uma imprescindível revisão crítica dos conceitos clássicos do jornalismo, reexame enxergado como elemento importante para a compreensão do fenômeno, processo este permeado por lacunas de pesquisas sobre o impacto desta análise das métricas on-line e o quanto elas influenciam o processo de produção de notícias, tencionando novos significados.

Esses dispositivos de medição, característica de um viés tecnológico que vivenciamos nesta segunda década do século XXI, tem potencial para, na conceituação colocada por Cassirer (1994), criar engramas, espécies de ‘cicatrizes’: “todo estímulo que atua sobre um organismo deixa nele um ‘engrama’, [...] e todas as futuras reações do organismo dependem da cadeia desses engramas, do encadeado ‘complexo engrâmico’” (idem, p. 87-88).

Ao discorrer sobre a transformação da concepção de futuro, de imagem para um “ideal”, o mesmo Cassirer (1994) traz a acepção de que o significado de uma transformação manifesta-se na vida cultural do homem. Contudo, acaso ele

(19)

permaneça absorto em suas atividades práticas, a diferença não será claramente observável. Em outras palavras, exercitar a teoria e avaliar a prática é imprescindível, pois não percebemos o mundo da mesma maneira a partir dos novos dispositivos técnicos à nossa disposição, pois os sentidos são aguçados diferentemente (FRANÇA, 2012).

Para termos uma ideia, cerca de 80% das cem mais importantes editoras mundiais medem o tráfego de seus sites através do Chartbeat4– primeiro serviço de web analytics que mostra a audiência de um site em tempo real. Conceitos como os de Gatewatcher (BRUNS, 2011), Screenwork (BOYER, 2014) e De-selection (TANDOC JR., 2014) tem raiz nesta abertura de possibilidades.

Apesar da aparente efervescência conceitual, poucos estudos examinaram se as métricas de medição on-line estão moldando, ajustando ou modificando antigas convenções jornalísticas. Em um ambiente transmídia (JENKINS, 2006), cabe a reflexão a respeito do significado jornalístico adicional que atravessa uma produção de conteúdo inclinada para gerar cliques em ambientes multiplataformas, e em que essa inclinação atravessa o desenvolvimento de uma linguagem diferenciada para o fim de provocar cliques.

Analisarmos uma conjuntura com potencial para modificar as abordagens textuais, as práticas das rotinas de produção e a amplitude que isso acontece, bem como a possível inserção, por parte dos jornalistas, de alguma espécie de reflexão que seja combustível para uma decisão que equilibre a autonomia editorial e a influência da medição instantânea da audiência no dia-a-dia das específicas ações que deve empreender. Consideremos que esses indicativos de número podem ser utilizados na condução da correção de caminhos em coberturas noticiosas, com o viés enraizado em uma audiência produtora de conteúdo também.

Por outro lado, um conteúdo que não atraia cliques pode ser visto como fruto da produção de um material com ausência de habilidade para construir um texto jornalístico de proeminência, ou como falta de capacidade de um indivíduo para moldar-se às características peculiares do jornalismo online. Outro realce é que não há óbice à existência de um sistema de monitoramento de métricas, mas sim o foco em uma apreensão acerca do sentido que os profissionais jornalistas enxertam no contexto da prática de um jornalismo mais inclinado à reflexão, por exemplo.

4http://observatoriodaimprensa.com.br/monitor-da-imprensa/_ed842_o_jornalismo_que_nao_quer_saber_so_de_ cliques/

(20)

A advertência também é importante na perspectiva de que há inúmeras formas de obter cliques em um site – e que muitas delas nem sempre estão atreladas à qualidade de um texto ou ao tema suscitado durante a reportagem. O risco é entender os números de audiência como um instrumento de aperfeiçoamento praxiológico.

Tais tensões impactam na cultura e na prática do jornalismo online, contribuindo para a adoção de medidas desesperadas de atração da atenção do público, não devidamente ancoradas em valores jornalísticos ou sequer em estratégias comerciais[...] o que se identifica atualmente superdimensiona o papel e o valor das métricas no jornalismo online brasileiro. (CHRISTOFOLETTI & VIEIRA, 2015, p. 77)

A conjuntura, como se pode perceber, suscita questionamentos, percepções, interpretações dos profissionais jornalistas. Afinal, matéria boa é capaz de provocar reflexão, na audiência, sobre aspectos acerca do tema de que o texto trata, ou a que unicamente rende muitos cliques? Assim, faz-se necessário um estudo mais aprofundado, com métodos reconhecidos, para percebermos como o comportamento da audiência, sob a forma de métricas de audiência, está oscilando o fazer jornalístico e orientando decisões profissionais subsequentes.

No jornalismo, a mobilidade passa a ser uma marca distintiva na ação dos profissionais, gerando, através de novas experiências e interações com aplicativos, uma nova cultura do presente para o jornalismo, cotidiano no qual atividades tradicionais como redação, edição e publicação das notícias utilizam a ferramenta como instrumento de realização.

A denominada ‘Cultura do Clique’ (ANDERSON, 2009) intervém na produção de notícias e na edição, ocasionando reflexões adicionais que florescem nesta relação, como a compreensão de que o conteúdo produzido será repercutido em diferentes plataformas. Para os jornalistas, isso representa novas perspectivas e desafios.

Tribuna do Norte

A Tribuna do Norte é um jornal potiguar, com circulação na plataforma impressa desde o ano de 1950, e presente na internet a partir do ano de 1998. A empresa integra o Sistema Cabugi de Comunicação, ao lado de três emissoras de

(21)

rádio: Globo Natal e Difusora de Mossoró, ambas em AM, e a rádio 104, esta em FM.

O processo de informatização da redação do periódico iniciou em 1995 com a chegada dos primeiros computadores ao espaço. No ano seguinte, um novo projeto gráfico plenamente digital é lançado. Contudo, o portal do veículo na internet foi criado às portas do novo milênio: o portal TN Online (www.tribunadonorte.com.br), estreou em janeiro de 1999 (ver Maia & Agnez, 2015). Todavia, uma característica transbordava: a ausência de conteúdo direcionado.

A rigor, a situação era similar aos veículos nacionais, cuja estratégia de utilização de portais limitava-se à transposição do conteúdo impresso para o digital. A exploração das ferramentas de interatividade era diretamente proporcional à velocidade de conexão, usualmente em Kbps. O panorama modifica-se em 2005, intensifica-se em 2009, com a produção inclinada para o digital, criação de videorreportagens e o incremento do conteúdo digital da Tribuna do Norte ganhando importância, tanto para a redação, quanto para a direção do jornal. É neste momento que TN2, um dos nossos personagens, integra-se ao grupo de funcionários para atuar no âmbito do jornalismo on-line da empresa, junto com o também jornalista Fred Carvalho, este não mais funcionário da Tribuna do Norte no período da pesquisa.

O espaço, à época, é reestruturado para uma nova dinâmica, atravessada pela criação de um novo layout e mudanças no processo produtivo da rotina cotidiana do jornal impresso: a direção do veículo estabelece que todos os profissionais da redação, incluindo chefes e secretários de redação, editores, repórteres e fotógrafos, passam a introduzir em suas atividades a produção de conteúdos para o portal na internet. O movimento seguia assim uma tendência mundial, conforme os relatos intercontinentais estudados por Salaverría e Negredo (2008).

Atualmente, a Tribuna do Norte tem 18 profissionais, entre repórteres e editores. O portal da empresa é referência no estado como o mais acessado do Rio Grande do Norte, com mais de 50 milhões de page views e mais de três milhões e meio de usuários únicos, ambos números relativos ao mês de abril de 20185. Os sites top 10 no estado do Rio Grande do Norte tem um perfil editorial bastante variado: além da Tribuna do Norte, há outros portais noticiosos, blogs de notícias e

(22)

sites de conteúdo policial sensacionalista, bem como há representantes de endereços vinculados a variadas cidades, embora ausentes endereços de empresas de telejornalismo6.

Site Ordem no Ranking Endereço

Portal Tribuna do Norte 1º www.tribunadonorte.com.br

Passando na Hora 2º www.passandonahorarn.com/

Blog do BG 3º www.blogdobg.com.br

Portal AgoraRN 4º www.agorarn.com.br/

Mossoró Hoje 5º www.mossorohoje.com.br/

O Câmera 6º www.ocamera.com.br

Blog Robson Pires 7º www.robsonpiresxerife.com/

No Minuto 8º www.nominuto.com

Portal NoAr 9º www.portalnoar.com.br

Thaisa Galvao 10º www.thaisagalvao.com.br/

Tabela 01 – Lista com os dez sites mais acessados no Rio Grande do Norte. Fonte: https://www.similarweb.com/. Elaboração própria.

Mensuração feita em 01/02/20187.

Nas redes sociais, são 250 mil seguidores no Twitter, 230 mil no Facebook, 195 mil no Instagram e cinco mil contatos para envio de notícias via WhatsApp. O jornal trabalha com os seguintes números relativos à responsividade8 da sua audiência on-line:

6Os dados do site da emissora afiliada da Rede Globo no Estado, a InterTV Cabugi, http://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/, são computados para o Globo.com, portal nacional.

7

A mesma lista foi mensurada em outros sites com ferramentas similares, tais quais www.alexa.com e www.rankingdesites.com.br. Em todos, embora ocorra variação da atualização da base de dados, os resultados assemelham-se, possivelmente porque grandes mudanças no tráfego ou ranking dos websites são processos lentos. Os serviços que esses sites oferecem, usualmente, tem como período de referência, para mensuração, o bimestre anterior. Ainda assim, a Tribuna do Norte aparece sempre na primeira colocação do ranking, independente do portal utilizado para aferição.

8Termo originalmente criado no âmbito da psicologia, é uma denominação derivada da situação de caracterizar um determinado endereço na internet como responsivo ou não; um site responsivo detém a qualidade de, independente do tamanho e qualidade de tela em que esteja aberto, manterá um visual semelhante e igualmente agradável.

(23)

Gráfico 01 – Responsividade do leitor da plataforma digital da Tribuna do Norte9

Gráfico 02 – Faixa etária dos usuários que interagem nas mídias sociais10

Da audiência que interage pelas mídias sociais, 47% é do gênero feminino e 53% do masculino, números relativamente diferentes aos do acesso ao Portal. Neste caso, 58,96% da audiência é do gênero masculino e 41,22% do gênero feminino, enquanto que a maior parte dos acessos é de pessoas com idade entre 25 e 34 anos. 9http://www.tribunadonorte.com.br/tmp/downloads/midia_kit_2017.pdf. 10Idem. 0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 52,98 43,33% 3,69% Audiência Mobile Audiência Desktop Audiência Tablet 0% 10% 20% 30% 40% 8% 29% 34% 17% 7% 3% 1% 65+ 55-64 45-54 35-44 25-34 18-24 13-17

(24)

Gráfico 03 – Faixa etária dos usuários que acessam o Portal11

A divisão por editoriais é idêntica nas plataformas nas quais o material é veiculado: Natal, Esportes, Política, Geral, Economia, Cultura e Lazer e Famílias. Especificamente para o meio digital, há material disponibilizado por 16 blogs. A investigação transcorreu durante duas semanas, perfazendo oito dias úteis, quando fizemos anotações sobre as rotinas. A primeira metade no horário matutino e a segunda, no horário vespertino/noturno. O período de observação na redação foi marcado pela ausência de feriados ou efemérides, para evitar uma possível mudança na rotina produtiva.

Ilustração 01 – Organograma organização funcional da redação

Em pesquisa exploratória realizada no mês de março de 2017, verificamos que há duas equipes que trabalham em horários diferenciados e que fazem a gestão do site. A comunicação entre elas ocorre por diversos meios, dentre os quais o aplicativo de mensagens instantâneas WhatsApp.

11Idem. 0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 9,59% 40,60% 15,54% 14,85% 15,34% 4,08% Maior de 65 55-64 45-54 35-44 25-34 18-25 Diretor de Redação Editoria On-line Editoria Economia Editoria Esportes Editoria Cultura e Lazer Editoria

Famílias Editoria Geral Editoria de Natal

Editoria de Política Editoria Executiva Chefia de Reportagem Repórteres

(25)

Em virtude da necessidade de que alguns profissionais estejam à noite na redação, em função da plataforma impressa, parte deles não se encontra na Tribuna do Norte no início da manhã, o que torna o aplicativo o meio mais utilizado para dar coordenadas iniciais para as abordagens dos conteúdos, tanto para a plataforma digital como para a impressa. O período matutino é também o momento em que menos pessoas estão na redação, quando comparado ao vespertino e noturno.

Taxas de clicks: a Cultura do Clique

As métricas de medição de audiência são os números gerados a partir da medição do tráfego de usuários em determinado endereço eletrônico, por meio de ferramentas que realizam o monitoramento de tráfego e que fornecem, a partir dos dados, uma série de informações das quais decisões surgem com base na interpretação dos gráficos e das tabelas geradas. É “mensurar as preferências e hábitos da audiência no consumo de informação” (CANAVILHAS, TORRES & LUNA, 2016, p. 136). Na definição da Digital Analytics Association (2008, p. 3)12, associação que reúne profissionais que atuam na área nos Estados Unidos, “web analytics é medição, coleta, análise e produção de relatório de dados da internet com o objetivo de compreender e otimizar o uso da web”13

. Exemplos de ferramentas dessa natureza são o Chartbeat, Web Trends, Yahoo Web Analytics, IndexTolls e o Google Analytics.

A Digital Analytics Association identifica ainda dois tipos de métricas de análise da web: um que tem referência em contagens e outro que traz perspectivas de relação, como os dados com páginas vistas por visitante. Ambos são relevantes, haja vista permitirem inúmeros raciocínios com base no entrelaçamento dos dados.

Para a presente pesquisa, pertinente é o viés que a afirmação de Manovich realça, durante entrevista de 200914: “devemos seguir os internautas enquanto eles navegam por um site e analisar os caminhos pelos quais andam, em vez de apenas analisar o conteúdo do site. Com isso, poderemos usar a tecnologia para captar

12

Documento denominado “Web Analytics Definitions”, disponível eletronicamente em https://www.digitalanalyticsassociation.org/Files/PDF_standards/WebAnalyticsDefinitions.pdf.

13No original: “Web Analytics is the measurement, collection, analysis and reporting of Internet data for the purposes of understanding and optimizing Web usage”. Tradução livre.

14Disponível em http://link.estadao.com.br/noticias/geral,para-lev-manovich-falar-em-cibercultura-e-negar-a-realidade,10000046608.

(26)

traços de personalidade e emoções das pessoas enquanto interagem com as novas mídias”.

Objeto deste estudo, a Tribuna do Norte optou pelo uso do Google Analytics para obter os dados relativos ao monitoramento da audiência. Gratuito, o software permite a utilização de uma forma simples ou muito avançada, a depender do nível de conhecimento do utilizador da mesma, fornecendo informações detalhadas sobre os visitantes e conteúdo. No mundo, é uma das mais usadas e populares ferramentas de análise, por razões que a fizeram escolhida pela equipe da Tribuna do Norte: a integração da ferramenta ao site é bastante simples, uma vez que basta a incorporação de um pequeno código no website para que toda a informação passe a ser registrada pelos servidores do Google e disponibilizada, depois de processada, nos relatórios do aplicativo.

Figura 01 Tela inicial do Google Analytics para visualização de números gerais

Figura 02 Tela do Google Analytics com destaque para visualização de número relativo aos visitantes únicos

(27)

A presente pesquisa foi delimitada pelo acompanhamento das métricas fornecidas pelos sistemas de web analytics. Contudo, existem outras métricas que advém das mídias sociais digitais e que influenciam o monitoramento realizado no cotidiano da Tribuna do Norte, a exemplos das curtidas registradas no perfil da empresa no Facebook.

Tatuado por travessias e transições turbulentas para o jornalismo, o início deste milênio é recheado por questionamentos acerca da identidade e da legitimidade do profissional, consoante relatos indexados por Pereira e Adghirni (2011). Não obstante seja precipitado recomendar conclusões definitivas sobre a concepção que os jornalistas têm sobre seu trabalho, a partir de indagações que confrontam o status do jornalista, pretende-se neste estudo abastecer o debate acerca do confronto entre valores profissionais consagrados no jornalismo a partir da perspectiva do monitoramento do comportamento da audiência digital em tempo real dentro das redações.

Movimentos que Anderson (2009) e Anderson (2011), conceitualizou como “Cultura do Clique” e o “Jornalismo por Algoritmo”15

: criar material jornalístico e definir estratégias para sua veiculação tendo como referência as preferências quanti-qualificadas da audiência. McGregor (2007), em estudo precursor sobre o uso de softwares para geração de dados de acesso, em redações noticiosas, e cujos resultados advém de uma série de 19 entrevistas, trazia a inclinação de, por parte dos jornalistas, realizar adaptações instantâneas ao conteúdo oferecido on-line a partir da consulta aos dados de rastreamento. A partir dos depoimentos, o pesquisador advogou ainda que a mudança mais perceptível foi sobre a concepção do que é notícia. Para ele, agora “admite-se a checagem das suposições instintivas

(28)

com os dados de rastreamento. [...] Como resultado, emerge um enquadramento aparentemente mais empírico e menos intuitivo de como fazer escolhas do conteúdo. Os jornalistas verificam seus palpites com os dados estatísticos e às vezes adaptam suas ações"16.

Os resultados receberam corroboração na tese de doutoramento de Anderson (2009), na qual ele sustenta que o maior conhecimento do comportamento do público no consumo das notícias ocasiona alteração em como os jornalistas "decidem o que é novidade", com as formas de julgamento de notícias on-line afetadas por uma relação mais profunda e mais intensa entre jornalistas, audiência e as métricas utilizadas pelos editores e executivos para mapear o comportamento do público. Essa relação constroi o conceito de "Cultura do Clique", partindo do acompanhamento simultâneo das métricas de audiência online nas redações de portais noticiosos, em uma observação propiciada pelos aplicativos específicos.

O termo tem repercussão nos Estados Unidos em Bruns (2011), Boyer (2014) e Tandoc Jr. (2014). A pesquisa deste último indica que as métricas já são parte importante do processo de seleção de notícias, apesar da preocupação dos jornalistas em encontrar um meio termo entre jornalismo de qualidade e a atração de cliques.

No Brasil, o conceito de Cultura do Clique encontra desenvolvimento em Träsel (2014), Christofoletti e Vieira (2015), Canavilhas, Torres e Luna (2016), Antunes (2017), Torres (2017) e Vieira (2018). O estudo de 2016 traz, inclusive, conclusão similar ao de Tandoc Jr: um modelo de produção marcado pelo equilíbrio entre decisões editoriais referenciadas por critérios de noticiabilidade, cultura profissional e decisões marcadas pelos dados advindos dos web analytics.

Houve mudanças em rotinas tradicionais de notícias, bem como a emergência de novas formas de noticiar. As maiores mudanças, no entanto, pareciam estar ocorrendo no caráter e na natureza do julgamento de notícias on-line. A crença de que o julgamento de notícias depende principalmente de considerações profissionais - a noção de que "os jornalistas escrevem para outros jornalistas" em vez de para o mercado ou para a audiência - pode não mais ser verdade, pelo menos na maneira de trabalho representada pelo produtor da web. A maior disponibilidade das métricas de audiência as métricas estão levando a mudanças importantes nessas práticas de trabalho. Os produtores da Web estão sendo muito mais

16No original: “Some admit now that they double-check their instinctive guesses with tracking data. As a result, an apparently more empirical, and less intuitive framing of the method of how to make content choices is emerging. Journalists check their hunches against the statistical data, and sometimes adapt their actions”. Tradução livre.

(29)

constrangidos pelas forças primitivas do mercado e pela "cultura do clique" do que suas contrapartes off-line. (ANDERSON, 2009, p.267-268)17

No estudo, Anderson caracteriza como de intensidade “dramática” três grandes tendências entre jornalistas do on-line e seus leitores. Primeiro, uma transformação do discurso na redação em relação à noção de público produtor de conteúdo. Segundo, um uso crescente de tecnologias que permitiam a medição quantitativa da audiência a um grau incalculável. Por fim, uma ênfase na gestão de estratégias embasadas na disseminação generalizada de métricas de audiência.

Estrutura do trabalho

Após a apresentação, inclusa a descrição da metodologia a ser adotada e dos caminhos da pesquisa, apresentamos o arranjo de três capítulos, nos quais trilhamos a conjunção entre a base teórica da Cultura do Clique, para então desenvolvermos o conteúdo das entrevistas em profundidade, da pesquisa qualitativa e as consequentes reflexões.

No “Capítulo I: Método e objeto”, estabelecemos as bases metodológicas, a íntima relação entre entrevistas etnográficas e entrevistas jornalísticas, e a descrição de aspectos concernentes ao objeto empírico da pesquisa.

No “Capítulo II: Novas Tecnologias: mudanças estruturais no jornalismo”, refletimos sobre a influência tecnológica na sociedade atual e no jornalismo, e ao particularizar aspectos deste último, realçamos o papel do acompanhamento a respeito do tráfego de visitantes no portal on-line de notícia. Por conseguinte, apresentamos o campo teórico que floresceu diante do intenso uso, no cotidiano das redações, de aplicativos de métricas de audiência e dos espaços habitados pela audiência para geração de conteúdo.

No “Capítulo III: Um Click na Cultura”, discutimos a respeito do conteúdo das entrevistas em profundidades realizadas com os jornalistas, bem como sobre o acompanhamento realizado na redação e o diálogo que os apontamentos

17No original: There have been changes at the edge of more traditional news routines, as well as the emergence of new forms of newswork. The greatest shifts, however, seemed to be occurring in the character and nature of online news judgment. The belief that news judgment primarily depends on professional considerations—the notion that "journalists write for other journalists", rather than for the market or for the audience— may no longer hold true, at least in the particular form on online labor represented by the web producer. The increased availability of audience metrics is leading to major changes in these work practices. Web producers are much more constrained by primitive market forces and the "culture of the click" than their offline counterparts”. Tradução livre.

(30)

estabelecem com os conceitos que trabalhamos na pesquisa. Em seguida, apresentamos as últimas considerações da pesquisa.

(31)

Capítulo I

Método e Objeto

1.1 Percurso metodológico: a etnometodologia

Na presente proposta, vislumbramos a pertinência da utilização de técnicas inspiradas em preceitos etnográficos como parte do método de pesquisa mais apropriado para entendermos a ingerência que um processo de prática jornalística, focado em métricas de dados de audiência, tem sobre a produção jornalística e os valores jornalísticos, no sentido de que novas tecnologias de comunicação têm permitido não só formas diversas com as quais o público interage com a notícia, mas também novas formas com que os jornalistas possam monitorar o comportamento da audiência online (TANDOC JR., 2014).

Trago e ratifico a argumentação de Paterson (apud TANDOC JR., 2014, p. 7), de que apenas metodologias etnográficas apresentam a possibilidade de fornecer uma descrição adequada da cultura e da prática de produção de mídia e a mentalidade dos produtores de mídia, uma condição não apenas relativa à compreensão de culturas antigas, mas também na apreensão de formas sociais contemporâneas. Também partilho da assertiva de Singer (2008, p. 158), de que o enfoque cultural da etnografia é crucial para o estudo de como os jornalistas percebem e adaptam-se às mudanças na forma como fazem notícia. Pereira Júnior (2006), em estudo sobre rotinas produtivas no telejornalismo, afirma que a abordagem etnográfica permite uma observação coerente sobre as práticas sociais que resultam em produções culturais.

No primeiro ponto, sobre formas diversas com que o público interage com a notícia, pertinente é a análise de Foucault (1996) ao abordar características atinentes entre o texto primeiro e o texto segundo, este último marcado pela profusão de comentários a respeito do anterior, comentários estes que tendem a desnudar o que estava articulado silenciosamente no texto primeiro.

Concernente ao aspecto da relação do jornalista com as novas formas de monitoramento do comportamento da audiência online, o raciocínio de París (2002), ao estudar a subjetividade que aflora a partir da experiência técnica, leva ao entendimento de que o desenvolvimento de nossa consciência é atravessado por

(32)

uma relação particular com a experiência técnica. Portanto, “é preciso levar em conta a evolução do mundo técnico [...] produzida por outros aspectos da evolução cultural, na informação e na organização da vida social e política” (idem, p. 179).

Ao falar sobre a etnografia como instrumento de pesquisa, París (idem, p. 28) faz uma objeção pertinente, situando que, ao abordar comunidade cultural, setor, classe ou grupo intelectual, objeta que estas tendem a percebe-se considerando unicamente suas próprias vivências. Analogamente, é a Teoria do Espelho transposta para este âmbito: uma reflexão que nos devolve nossa própria imagem a partir da imagem já concebida. Acrescento: uma peculiaridade da pesquisa etnográfica é que os problemas encontrados no percurso e todas as interações constituem parte fundamental do material de pesquisa.

A pesquisa de campo com inspiração etnográfica implica em inserir-se em um mundo que não é seu – mas que você pode conhecê-lo-; ouvir pessoas em um ambiente de sociabilidade que você tem conhecimento superficial; sobretudo, observar para compreender aquilo que se passa. Insinua saber ouvir, ver, fazer uso de todos os sentidos e assim assimilar a ascendência de significados dentro do ambiente, no caso uma redação, e poder investigar a prática do jornalista a partir dos sentidos que lhe dá enquanto fala, descreve e relata o que faz.

No método etnográfico, o pesquisador entra em contato com a realidade vivida pelos pesquisados para poder apreender o universo do observado e, desta forma, obter subsídio para compartilhar uma leitura dele. Afinal, “o pesquisador não é um mero reprodutor de falas ‘nativas’. [...] é preciso problematizar o discurso” (TRAVANCAS, 2012, p. 25). De acordo com Duarte (2006), temos que considerar muito além das respostas proferidas nas entrevistas. É imprescindível ressaltar o ambiente da entrevista, a relação entre as pessoas nesse ambiente, o comportamento do entrevistado, movimentos e gestos, cruzando os dados com as respostas obtidas no contexto.

Percebe-se, assim, que um possível obstáculo é a dosagem da subjetividade na interpretação do pesquisador, pois cada experiência observada aponta possíveis especificidades. Outro imaginável entrave é a familiaridade do pesquisador com o objeto de estudo e suas rotinas. Não obstante seja óbvio que observar uma comunidade profissional cujas práticas são familiares ao pesquisador é um desafio adicional, trago a assertiva de Travancas (2012, p. 25): a função do investigador é se distanciar para poder refletir sobre o significado do que é dito e visto.

(33)

Na presente pesquisa, vivenciei situação similar à relatada pela estudiosa quando da pesquisa em sua dissertação de mestrado: pesquisar o seu próprio grupo profissional, encarando-o de uma nova forma, “experimentando o ‘estranhamento’ dentro da sua própria cultura, buscando transformar o ‘familiar em exótico” (idem, p. 24). Contudo, a prática etnográfica tem bases independentes da situação.

Posso ter um mapa, mas não compreendo necessariamente os princípios e mecanismos que o organizam. O processo de descoberta e análise do que é familiar pode, sem dúvida, envolver dificuldades diferentes do que em relação ao que é exótico. Em princípio dispomos de mapas mais complexos e cristalizados para nossa vida cotidiana do que em relação a grupos ou sociedades distantes ou afastados. (VELHO, 1978, p. 41).

Observamos que a etnografia constrói-se atravessada por um processo cujas atividades práticas são temas centrais dos estudos empíricos, pois é concedida às atividades corriqueiras do dia a dia a mesma atenção que aos acontecimentos extraordinários. Heritage (1999) defende que a tradição etnográfica caminha sempre atravessada pela percepção de que, para investigar um fenômeno social, é preciso compreender o sentido que os atores atribuem às suas ações. Segundo seu raciocínio, com o passar do tempo, uma nova sociologia do conhecimento se estabelece longe da camisa de força da racionalidade prescritiva.

Singer (2008) defende que a etnometodologia envolve a investigação aprofundada de um pequeno número de casos, talvez apenas um único, ao invés de tentar representar tendências gerais, reflexo do objetivo que é pinçar não o mundo, mas o caso, um sistema limitado e integrado com padrões de comportamento identificáveis. O sentido é sempre local, ou seja, uma palavra - ou mesmo uma instituição - só pode ser analisada considerando-se sua situação.

Neste sentido, a utilização de técnicas com vieses etnográficos tem como objetivo investigar, através de entrevistas em profundidade e observação não participante dentro do trabalho de campo, como uma produção jornalística com inclinação para gerar cliques influencia o fazer profissional. A conjunção entre as duas técnicas permite uma melhor asseveração a respeito das deduções traçadas.

A etnografia, inclusive, é a técnica usada num dos estudos clássicos do campo de pesquisa em jornalismo, quando, em 1950, David Manning White a utiliza para criar o suporte teórico para a Teoria do Gatekepper. As questões preparadas na presente pesquisa estavam abertas a abordar aspectos não previstos, como, por

(34)

exemplo, alguma funcionalidade nova nos aplicativos que seja inexistente quando da idealização das perguntas.

A prática da denominada ‘Cultura do Clique’ (ANDERSON, 2009) intervém na produção de notícias e projeta novos significados sobre o processo de construção do conteúdo, normas e textos dos profissionais jornalistas em produção para mídia on-line. Reflexões adicionais florescem nesta relação, como a compreensão de que o conteúdo produzido será repercutido em diferentes plataformas.

A "convergência das redações" é um termo problemático, tanto porque se tornou nos últimos anos, e porque inclui muitas atividades e estruturas de trabalho diferentes. É usado aqui para escrever uma mudança de jornalismo de plataforma única - criação de conteúdo para um jornal ou um programa de notícias de televisão, por exemplo - para o jornalismo multiplataforma envolvendo mais de um meio. (SINGER, 2008, p.157)18

Ainda dentro da observação não participante, necessitaremos, para uma precisa reflexão a respeito do sentido e significado que os produtores de conteúdo dão às novas práticas profissionais, considerarmos os textos veiculados como parte do meio, ao mesmo tempo em que integrante de mediações que se utilizam da linguagem para a produção de sentidos. Como frisa París (2002, p.174-179), analisar as novas tecnologias não basta, é preciso observar a subjetividade que desponta a partir dos seus usos. Singer (2008, p. 161) sublinha neste ponto a relevância do trabalho de campo.

O trabalho de campo da redação ajudou a minar a noção simplista do determinismo tecnológico, incorporando questões de cultura, ambiente e experiência situada [...] sendo especialmente úteis na exploração de questões de processo e explicando como os resultados são ou não alcançados.19

Ao relatar sua experiência no trabalho de campo, Anderson (2011) salientou que a perspectiva tecnologicamente determinista sobre a mudança da mídia, tomando como horizonte que comportamentos e mudanças na redação giram em torno da emergência de novos artefatos tecnológicos, atribui mudanças nas práticas

18

No original: “Newsroom convergence” is a problematic term, both because it has fallen out of favor in recent years and because it includes many different activities and workplace structures. It is used here to describe a change from single-platform journalism – creation of content for a newspaper or a television news program, for example – to cross-platform journalism involving more than one medium.

19

No original: Importantly, the newsroom fieldwork helped undermine the simplistic notion of technological determinism by incorporating issues of culture, environment, and situated experience. [...] They are especially useful in exploring issues of process and explaining how outcomes are or are not achieved.

(35)

editoriais no que tange às novas tecnologias. Segundo ele, a pesquisa de campo nos moldes etnográficos permitiu suplantar o simples paradigma do determinismo tecnológico.

1.2 Técnicas metodológicas de apuração: elo prático entre distintos

universos de construir significação

Vizeu (2014) propõe a adequação de preceitos etnográficos às investigações no universo jornalístico, através de um método de observação participante nas redações, o qual ele denomina etnojornalismo. Em outra perspectiva, Erik Neveu (2006), cunhou a expressão “jornalismo etnográfico”. Segundo o autor, são quatro as possibilidades de denominação deste jornalismo etnográfico: trata-se de um jornalismo de reportagem, fixa-se em cidadãos “comuns”, faz uso de procedimentos de citação de técnicas de encenação de estilos de vida, funciona sobre uma espécie de inversão das formas de cobertura comum, passando do ponto de vista dos que decidem para o dos efeitos de suas decisões (idem, p. 171).

As expressões aproximam, em diferentes contextos de abordagem, os termos etnografia e jornalismo, áreas distintas que utilizam técnicas similares de apuração de dados para construir seu produto. Aproximar os termos não é novidade. Tampouco um equívoco. Rovida (2015), em trabalho cujo objetivo é uma proposta para metodologia de pesquisa empírica aplicada ao campo da comunicação, salienta a similaridade da forma de trabalho presente na etnografia com as das rotinas de apuração jornalística, destacando que saber aproveitar um conhecimento já enraizado e as semelhanças atinentes ao trabalho de campo das duas áreas será vantajoso na proposta.

Uma vez que o pesquisador, em suas incursões a campo, terá de observar, entrevistar, conversar, dialogar com seus informantes para apreender as nuances que lhes escapam, é pertinente pensar como estabelecer esse contato. As técnicas de entrevista em profundidade –pensadas no âmbito da comunicação jornalística – podem auxiliar nesse processo (idem, p. 83)

O movimento de observar cenas e analisá-los, sob foco etnográfico, em uma ótica interpretativa na perspectiva do jornalismo, atividade que lida cotidianamente com processos de observação, também é tangenciado no estudo de Fraga da Silva (2013, p. 41).

(36)

A questão da interpretação e da subjetividade, próprias da etnografia e, portanto, do trabalho antropológico, visa a construção de uma leitura do que acontece. Do mesmo modo, na reportagem reinterpreta a realidade percebida ao captar o real sob múltiplos ângulos e observações. Em ambas as atividades, o que se vê é um constante ir e vir entre observador e o observado.

Ela sublinha que o trabalho do jornalista se assemelha ao do etnógrafo, no sentido de que ele tem de saber olhar e escutar para escrever uma bela história. E que precisa aguçar os dois sentidos como meio para livrar-se dos lugares-comuns e proporcionar ao leitor uma nova versão de um fato, mesmo esse fato já tendo sido muito explorado.

Pertinente à presente proposta de metodologia é a colocação de Wolf (2005, p. 193), quando ao falar em “etnografia da comunicação”, assevera que esta tem como característica “permitir a observação dos momentos e fases de crise, quando fenômenos e eventos ambíguos, incertos ou pouco claros, redefinem-se de modo incongruente; ou quando reorganizações parciais do trabalho ou ajustes da linha editorial introduzem equilíbrios instáveis a serem estabilizados”.

Rovida (2015, p. 86) também destaca as figuras de linguagem e o ritmo próprios à forma narrativa textual como aproximadores das duas áreas. Para ela, ambos profissionais se sobressaem em sua atuação através de processos que correspondem à imersão em campo ou ao contato com os protagonistas das ações, técnicas que propiciam substância ao estágio seguinte da ação: uma narrativa que cria relações entre as cenas observadas e o público. Fraga da Silva (2013, p. 43-44) também dialoga com essa interpretação.

Essa é a tarefa do jornalista: interpretar os relatos de seus informantes e criar uma narrativa a partir deles de modo a aproximar mundos. Tal aproximação de mundos é, aliás, um exercício do qual também se valem os etnógrafos. A partir da fusão de horizontes – seu e do grupo ou do indivíduo analisado – eles se situam entre o estranho. Esse processo, contudo, não requer abandono do próprio mundo do etnógrafo, mas implica na penetração do horizonte do outro. No caso do repórter, a imparcialidade preconizada do relato jornalístico é desmitificada, pois enquanto sujeito dotado de emoções e sentimentos, ao adentrar o universo do outro, ele se modifica ao mesmo tempo em que modifica o outro. Nesse sentido, a pesquisa etnográfica, assim como a reportagem, pode ser tomada enquanto experiência pessoal. (grifo meu)

Em forma de ressalva, Rovida (2015, p. 78) faz uma aproximação das áreas ao falar sobre o desconforto em objetivar os fenômenos pesquisados e o

(37)

distanciamento interpretado, em alguns casos, como necessário. Para a autora, ambos questionamentos são comuns às pesquisas. Feitas as considerações, escolhemos como uma das técnicas a entrevista em profundidade, que consoante Duarte (2006), serve para que se recolham respostas a partir da experiência de uma fonte, propiciando ao pesquisador outras maneiras de perceber e descrever os fenômenos. Para o autor, representa uma “técnica qualitativa que explora um assunto a partir da busca de informações, percepções e experiências de informantes para analisá-las e apresentá-las de forma estruturada” (DUARTE, 2006, p. 62).

Todavia, ato contínuo ao questionamento “como trazer a tona o sentido coletivo de um fenômeno social tendo como base um conjunto de narrativas geradas e analisadas em escala microssociológica?”, Pereira (2012, p. 42) defende que as situações narradas precisam ser confrontadas e contextualizadas a partir de valores institucionais e normas culturais.

Rovida (2015) ao referir-se ao aprimoramento da metodologia de pesquisa empírica desenvolvido por Geertz na obra O Saber Local (2004), também tangencia que as técnicas de entrevista em profundidade, no âmbito da comunicação jornalística, são frutíferas no jogo interpretativo, denominado “experiência próxima”. Nele, a interpretação, como fonte de informação do cientista, é substanciada a partir da leitura cultural dos próprios atores sociais que fazem parte dos grupos sociais pesquisados.

“Dessa forma, o antropólogo terá como objetivo entender o que as próprias pessoas envolvidas nas situações pesquisadas pensam sobre o assunto. [...] Com essa postura, o pesquisador amplia sua capacidade interpretativa de forma geral” (idem, 2015, p. 82). Entretanto, acrescenta a autora, isso não significa perder de vista o aspecto coletivo da construção de sentido, pois o processo grupal de arquitetar os significados continua como a origem da interpretação. O intuito é preencher espaços de subjetividade que porventura existiriam ao tentarmos relatar subjetividades de outro através da nossa. Assim, as entrevistas em profundidade com a prática etnográfica são pensadas em perspectiva de complementaridade neste estudo.

A escolha pela entrevista em profundidade, frise-se, não destoa da opção feita em um histórico de pesquisas sobre produção de notícia ( ver Wolf, 2005, p. 191). Pereira (2012, p. 43) afiança a entrevista como uma ferramenta de pesquisa que “agrega uma dimensão qualitativa aos fenômenos analisados, ao mesmo tempo em

(38)

que garante certa credibilidade aos dados gerados, sobretudo em pesquisa etnográfica”.

Trabalharemos com a perspectiva conceitual de entrevistas em profundidade adotada por Duarte (2006), para o qual as entrevistas, neste modelo, são geralmente individuais. Realizaremos as sessões de entrevista com uma fonte por vez, a fim de obter respostas espontâneas o tanto quanto possível, estimulando também a reflexividade dos participantes. A escolha tem amparo no raciocínio de Pereira (2012) ao defender que a entrevista é um espaço de produção de sentido por brotar de uma situação de interação simbólica. Acrescenta ainda: essa situação de interação deve ser recuperada durante a análise, com as reações engendradas e as condições de construção da narrativa.

Outra característica dessa técnica é a variedade de tipologias. As pesquisas qualitativas podem ter questões não estruturadas ou semiestruturadas; a entrevista pode ser aberta ou semi-aberta; o modelo pode ter uma questão central ou um roteiro; sendo assim, a abordagem sempre será em profundidade e as respostas indeterminadas. É o caminho inverso ao das pesquisas quantitativas, cujo modelo adotado é o de questionário e a abordagem é linear (DUARTE, 2006).

A realização de entrevistas qualitativas [...] envolve um preparo metodológico, que vai além do ato de elaborar um roteiro pertinente e de se apropriar de técnicas que ‘façam a pessoa falar ‘ – o que aparece frequentemente em manuais de metodologia. Inclui gerir diferentes aspectos de uma situação de interação e levá-los em consideração durante a interpretação de dados. Implica em analisar a própria atuação do pesquisador no processo de construção da narrativa. Requer ainda a capacidade de improviso, que permita redirecionar uma entrevista e repensar os limites de um problema de pesquisa a partir do relato dos sujeitos investigados. (PEREIRA, 2012, p. 43)

Escolhemos trabalhar com questões semi-estruturadas, cujo roteiro está disponível no apêndice A. Na visão de Duarte (2006), as questões devem ser amplas para não corrermos o risco de esgotá-las com facilidade. Ato contínuo, as perguntas são aprofundadas, encadeando outras. No nosso roteiro, o número inicial são 34. Contudo, a lista de questões-chave pode ser alterada no percorrer das entrevistas em profundidade e a depender da localização do entrevistado tomado como parâmetro seu uso do aplicativo.

A escolha da Tribuna do Norte aconteceu em virtude de sabermos da proeminência que a plataforma digital atingiu para a empresa, cujo portal é líder na

(39)

quantidade de acesso no Rio Grande do Norte, com uma redação para a plataforma digital com processo concluído de integração à plataforma impressa. Com relação aos instrumentos de coleta de dados, registramos os dados das entrevistas e da observação na redação por meio de gravações em áudio e anotações, com transcrição dos áudios em seguida.

O diário de campo é constituído por notas das observações registradas durante oito dias em que estivemos na redação, que perfizeram 32 horas de presença. Observamos editores on-line checando e-mails, escrevendo histórias, usando o Facebook20, interagindo com outros jornalistas para verificação de trabalho, anotando o que os editores faziam, diziam e que estava relacionado com as operações de notícias line. O trabalho foi focado sobre o processo de notícias on-line. Todo esse material constitui a base para nossa análise dos dados empíricos, bem como as impressões e interpretações dos gestos e falas dos entrevistados.

Para Duarte (2006), as fontes de uma pesquisa qualitativa, como a presente, devem ser poucas, porém de qualidade, considerando sua atuação dentro da perspectiva adotada para a pesquisa e o tema proposto. O autor defende que a escolha das fontes tende a ser um julgamento do entrevistador, e não partir de um sorteio, como é o caso de amostras probabilísticas. O primeiro critério adotado para a escolha dos sujeitos da pesquisa que viriam a atuar na etapa das entrevistas em profundidade foi a frequência na utilização dos dados para monitoramento das métricas. Na pesquisa exploratória realizada em 06 de março de 2017, identificamos três editores que trabalham mais proximamente com o aplicativo de métrica, a quem referenciaremos como TN1, TN2 e TN3 nesta pesquisa.

Embora a redação integrada21, em termos de plataforma digital e impressa, produzindo conteúdo para ambas, geograficamente as ilhas dos editores TN2 e TN3 não se confundem nem se ‘misturam’ às demais, estando delimitadas sem sinalização. Após ingressarmos no espaço da redação, um retângulo acessível apenas após um périplo no prédio da empresa, quando precisamos descer e subir escadas ligadas por halls onde vários setores estão disseminados aleatoriamente, em uma espécie de labirinto, chegamos em um espaço quase subterrâneo, no qual estão distribuídas cerca de 25 estações de trabalho, enxergamos as ilhas exclusivas

20Mídia social, cuja uma das características é o compartilhamento de conteúdo, seja em formato de texto, imagem, áudio ou vídeo. No final de 2017, o Facebook possuía mais de dois bilhões de perfis de usuários no mundo inteiro.

Referências

Documentos relacionados

Algumas Casas Legislativas publicam em seus sítios de Internet informações sobre a presença dos parlamentares nas reuniões da Casa para as quais são convocados, e a Transparência

09:15 - 10:00 Aula híbrida sobre: Para os alunos presenciais: atividade prática – E-Class Não é necessário enviar atividade Dodgeball e Rouba-bandeira. Para os alunos

O objetivo deste experimento foi avaliar o efeito de doses de extrato hidroalcoólico de mudas de tomate cultivar Perinha, Lycopersicon esculentum M., sobre

Seja o operador linear tal que. Considere o operador identidade tal que. Pela definição de multiplicação por escalar em transformações lineares,. Pela definição de adição

interlocução entre os professores/as de escolas públicas da Educação Básica e o Ensino Superior acerca das questões de gênero e sexualidade? É notória a existência de

Este trabalho teve como objetivo avaliar a desvulcanização de elastômeros oriundos de pneus usados por meio da técnica de desvulcanização por micro-ondas combinada com agentes

Há alunos que freqüentarão o AEE mais vezes na semana e outros, menos. Não existe um roteiro, um guia, uma fórmula de atendimento previamente indicada e, assim sendo, cada aluno terá

No contato elétrico traseiro geralmente é utilizada uma placa metálica de baixa resistência, ou materiais condutores flexíveis (MATHEW, X. Existem ainda as células