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CURSO TÉCNICO PROFISSIONALIZANTE EM MUSICA DO COLÉGIO DEPUTADO MANOEL NOVAES: Formação e Inserção de alunos no nível superior da Universidade Federal da Bahia.

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ESCOLA DE MÚSICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

CLEUDSON PAULA PASSOS

CURSO TÉCNICO PROFISSIONALIZANTE EM MÚSICA DO

COLÉGIO DEPUTADO MANOEL NOVAES:

FORMAÇÃO E INSERÇÃO

DE ALUNOS NO NÍVEL SUPERIOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA.

Salvador

2016

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CURSO TÉCNICO PROFISSIONALIZANTE EM MÚSICA DO

COLÉGIO DEPUTADO MANOEL NOVAES:

FORMAÇÃO E INSERÇÃO

DE ALUNOS NO NÍVEL SUPERIOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Música da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para o grau de Mestre em Música. Área de Concentração: Educação Musical.

Orientador: Prof.Dr. Luiz César Magalhães

Salvador

2016

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP).

P289c Passos, Cleudson de Paula.

Curso técnico profissionalizante em música do Colégio Deputado Manoel Novaes: formação e inserção de alunos no nível superior da Universidade Federal da Bahia [manuscrito] / Cleudson de Paula Passos; orientador, Luiz César Magalhães – Salvador, 2016.

135 p. ; il; 30 cm.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2016.

1. Música. 2. Ensino Profissionalizante. 3. Democratização. 4. Inserção. I. Universidade Federal da Bahia – UFBA, Escola de Música. II. Magalhães, Luiz César. III. Título.

CDU 78.06 CDU 027.7:659.1

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(5)

Dedico este trabalho especialmente a todos os colegas, os chamados “músicos de alma”, pertencentes a “raça da pedra dura”, contemporâneos da primeira turma de formandos do curso de música do CEDMN.

(6)

A Deus, por ter me dado saúde física e mental para superar todas as barreiras que foram aparecendo no decorrer do trabalho.

A minha mãe D. Noemia, pela educação que me proporcionou e que muito contribuiu para minha formação atual.

A minha irmã Catarina, que sempre me apoiou nos momentos mais difíceis dessa jornada.

Aos meus filhos Júnior e Laiara, que tanto me inspiram a querer aprender e progredir cada vez mais!

A Rosa Fortes pelas sugestões, contribuições e apoio dispensados a este trabalho! A Prof.ª Lydia Hortélio, por sua paciência, simpatia e disponibilidade durante as entrevistas concedidas a essa pesquisa. Orgulho-me profundamente e sou eternamente grato por ter sido seu aluno e do curso de música do CEDMN!

Ao Profº. Jailson Coelho, pela honra de ter sido seu aluno, de ser seu amigo e pela sua generosa e constante contribuição para que esse trabalho fosse realizado. Meus sinceros gestos de agradecimento!

Ao meu grande amigo Jailson de Souza Corrêa, pela ajuda no momento certo e suas palavras de conforto e incentivo.

Ao meu orientador, Profº. Dr. Luiz César Magalhães, que abraçou e confiou nesse projeto desde o início até o final.

Aos professores e egressos entrevistados do curso de música do CEDMN.

Aos professores entrevistados da EMus/UFBA.

A todos e todas que colaboraram direta ou indiretamente para a realização deste trabalho.

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“Para que tenhamos lugar no concerto dos povos nós queremos nesta escola: ouvir o mundo e cantar o Brasil”.

(8)

135f. il. Salvador, 2016.

RESUMO

Essa dissertação investiga o curso profissionalizante em música do Colégio Estadual Deputado Manoel Novaes (CEDMN) e a participação deste, na preparação e inserção de alunos no nível superior em música da Universidade Federal da Bahia, considerando os aspectos históricos, culturais e políticos do ensino profissionalizante. A pesquisa também analisa a formação e discute a relevância do referido curso no processo de democratização do ensino de música (principalmente para as classes de baixa renda) rumo à universidade. A metodologia utilizada é de natureza qualitativa, se aproximando do estudo de caso. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, bem como aplicados questionários sócios demográficos seguidos de perguntas fechadas e abertas com nove egressos e treze professores do CEDMN. Outro questionário formado também por perguntas abertas e fechadas, foi aplicado a seis professores da EMus/UFBA.Utilizou-se também como fonte de pesquisa, diversos documentos (leis, decretos, atos e pareceres) sobre a legislação educacional, principalmente aqueles destinados a cursos técnicos profissionalizantes, impressos e ou publicados na Web. Ao analisar a importância do fenômeno investigado, tornou-se necessário realizar um levantamento preciso da história do curso, desde a sua criação até os dias atuais. Esta análise foi feita de acordo às respectivas mudanças nos modelos de políticas públicas educacionais a que foi submetido todo ensino técnico profissionalizante do país, nos governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, através da fundamentação teórica que norteou o foco principal deste trabalho. Os resultados apontam para necessidade de aprofundamento destes estudos em outras instituições (comunidade científica) de forma a dar continuidade a pesquisas como esta, com o intuito de apontar saídas para grande escassez de novos modelos de formação musical a nível profissionalizante, como as do curso em música do CEDMN.

(9)

135f. il. Salvador, 2016.

ABSTRACT

This dissertation investigates the music professional course at Deputado Manoel Novaes High School in the preparation and insertion of students from the Music College of the Federal University of Bahia, considering the historical, cultural and political aspects of profetional education. The research also examines the formation and discusses the relevance of the course in the process of democratization of music education (primarily for the low-income classes) toward the University. The methodology used is qualitative in nature,

approaching the case study. Semi-structured interviews were conducted as well as applied socio demographic questionnaire with closed and open questions with nine leavers (ex students) and with thirteen teachers from Deputado Manoel Novaes High School. Another questionnaire formed also by open and closed questions was applied to six teachers from the Music College of the Federal University of Bahia. It was also used as a research source many documents (laws, decrees, acts and opinions) about the educational legislation, especially those addressed to the technical professional courses, published on the Web and / or in print. By analyzing the importance of the investigated phenomenon, it was necessary to carry out a survey of the history of the course, since its implementation until the present day. The analysis was done according to the respective changes in the models of public educational policy that has undergone by every professional technical teaching in the country, in the Government of Fernando Henrique Cardoso and Luiz Inácio Lula da Silva, through the theoretical foundation that has guided the main focus of this work. The results point to the need for further development of these studies in other institute (the scientific community) in order to continue the researches like this, with the intention of pointing solutions to the severe shortage of new models of music training in the professional level, as the course in the Deputado Manoel Novaes High School.

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Gráfico 1 - Época / Turma. 31

Gráfico 2 - Época / Turma... 32

Gráfico 3 - Cursos... 32

Quadro 1 - Estrutura das disciplinas de formação técnica profissionalizante do CEDMN.. 54

Gráfico 4 - Nível de Qualidade do Corpo Docente... 61

Gráfico 5 - Nível musical dos entrevistados... 63

Gráfico 6 - Saberes musicais dos entrevistados... 64

Gráfico 7 - Número de entrevistados que possuíam renda... 79

Gráfico 8 - Motivação dos alunos entrevistados para o trabalho... 80

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AID Agency for Internacional Development BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

CAB Centro Administrativo da Bahia

CEEPS Curso de Especialização em Educação Profissional CETEB Centro de Educação Tecnológica do Estado da Bahia CEDMN Colégio Estadual Deputado Manoel Novaes

CEE Conselho Estadual de Educação

CFE Conselho Federal de Educação

CEFETs Centros Federais de Educação Tecnológica

CEPOMP Centro de Estudos em Pós-Graduação Olga Meeting

EMUS Escola de Música

ENEM Exame Nacional de Ensino Médio

EPI Ensino Profissional Integrado

FMI Fundo Monetário de Educação

FUNAI Fundação Nacional Indígena

FUNCEB Fundação Cultural do Estado da Bahia

IAT Instituto Anísio Teixeira

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia Estatística

LDB Lei de Diretrizes Básicas

LEM Literatura e Estruturação Musical MEC Ministério da Educação e Cultura

ONU Organização das Nações Unidas

PPGMUS Programa de Pós-Graduação em Música

PROEP Programa de Expansão da Educação Profissional

PROEJA Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Jovens e Adultos

OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico PROUNI Programa Universidade para Todos

SEC Secretaria da Educação e Cultura

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SUPROF Superintendência de Educação Profissional UFBA Universidade Federal da Bahia

UNE União Nacional dos Estudantes

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

USAID United States Agency for Internacional Development

WEB World Wide Web

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1 INTRODUÇÃO... 15

1.1 MEMÓRIAS DO PERCURSO... 17

1.2 QUESTÃO DA PESQUISA... 20

2 PERSPECTIVAS METODOLÓGICA... 22

2.1 COLETA E ANÁLISE DE DADOS... 27

2.1.1 Sobre a aplicação de questionários e realização de entrevistas... 29

2.1.2 Aplicação dos questionários com os ex-alunos do CEDMN... 29

2.1.3 Aplicação de questionários com os professores do CEDMN e Mus/UFBA.... 33

2.1.4 As entrevistas e os entrevistados... 33

2.2 O PESQUISADOR E EX- ALUNO EM CAMPO... 34

2.3 FONTES DE PESQUISA... 36

2.4 REFERENCIAIS TEÓRICOS... 37

3 O ENSINO PROFISSIONALIZANTE E A CRIAÇÃO DO CURSO DE MÚSICA DO CEDMN... 39

3.1 O ENSINO PROFISSIONALIZANTE E O MUNDO DO TRABALHO... 39

3.2 O ENSINO PROFISSIONALIZANTE NO BRASIL ... 41

3.2.1 Reforma Capanema: consolidação da estrutura elitista brasileira... 45

3.2.2 Os reflexos da LDB Nº 4.024/1961 no ensino profissionalizante... 48

3.2.3 O ensino profissionalizante no Brasil de 1964... 48

3.2.4 A LDB Nº 5. 692 de 11 de agosto de 1971... 50

3.3 IMPLEMENTAÇÃO DO CURSO DE MÚSICA DO CEDMN E O PARECER CFE 1.299/73... 51

3.4 OS PRIMEIROS PASSOS PARA A CRIAÇÃO DO CURSO PROFISSIONALIZANTE EM MÚSICA DO CEDMN... 54

3.5 SOBRE O CORPO DOCENTE E DISCENTE... 58

3.5.1 Contratação e efetivação dos professores... 61

3.5.2 Sobre os egressos (discentes)... 62

4 DAS OFICINAS MUSICAIS AO CURSO TÉCNICO PROFISSIONALIZANTE EM MÚSICA... 65

4.1 INAUGURAÇÃO E OS PRIMEIROS ANOS DO CURSO... 65

4.2 PROPOSTAS PEDAGÓGICAS VERSUS INCOMPATIBILIDADE IDEOLÓGICAS... 65

4.3 A EXPERIÊNCIA DO CEDMN FRENTE À PLURALIDADE E DIVERSIDADE DE GÊNEROS MUSICAIS... 70

4.3.1 Ensino do violão no CEDMN e os métodos utilizados... 72

4.4 OUTRAS DIFICULDADES ENFRENTADAS PELO CURSO... 76

5 DESATIVAÇÃO E REATIVAÇÃO: repercussões e impactos... 85

5.1 DESATIVAÇÃO DO CURSO TÉCNICO PROFISSIONALIZANTE EM MÚSICA DO CEDMN... 85

5.2 A REATIVAÇÃO DO CURSO PROFISSIONALIZANTE EM MÚSICA DO CEDMN NO MODELO EPI... 91

5.3 CONSIDERAÇÕES ATUAIS SOBRE O CURSO DE MÚSICA DO CEDMN.. 96

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6 CONCLUSÃO... 108

REFERÊNCIAS... 117

APÊNDICE A - Questionário sócio demográfico e roteiro de entrevista... 125

APÊNDICE B - Questionário sócio demográfico e roteiro de entrevista... 130

APÊNDICE C - Questionário sócio demográfico e roteiro de entrevista... 132

APÊNDICE D – Termo de Compromisso... 135

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1 INTRODUÇÃO

A legislação educacional vem estabelecendo há mais de 40 anos, um espaço para a arte nas escolas regulares de educação. No entanto, a presença desta tem sido marcada pela indefinição e ambigüidade, uma vez que as legislações para diretrizes educacionais não definiam o que de fato entendiam por educação artística, muito menos, os modos como essa disciplina e o ensino da arte deveriam ser realizados. Prevaleceu nas escolas um ensino difuso, com ênfase nas artes plásticas, teatro e dança. Sendo assim, não era exigida formação específica por parte do docente para lecionar cada uma dessas referidas disciplinas.

O fato, é que a educação no Brasil passou a ser um investimento para o ingresso no mercado de trabalho capitalista a partir de 1930, quando foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública. No ano seguinte foram aprovados decretos para organizar o ensino secundário e o ensino superior.

A partir de 1961, com a criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) nº 4024/61, o ensino profissionalizante foi incorporado ao sistema regular de ensino formal. Os cursos técnicos então passam a equivaler à formação de nível médio. Há que se considerar, entretanto, que a formação profissionalizante no Brasil ocupa um lugar inferior em relação aos outros cursos de nível médio. Os cursos profissionalizantes correspondem à opção de muitos jovens pela inserção no campo de trabalho, em oposição àqueles que podem dispor de mais tempo sem trabalhar, ascendendo socialmente através da formação superior. (FERNANDES, 1998).

Apenas em 1971, a LDB garantiu o ensino das artes no currículo das escolas de nível fundamental. Em meados da década de 80, vão sendo adotadas medidas governamentais, que visam à adequação do sistema educacional do país às transformações de ordem econômica, política, sociais e culturais que se expressam na interferência das agências multilaterais. Nesse contexto, se insere a democratização do Brasil e a promulgação em 1988 da nova Constituição Federal. Também nesse mesmo ano, tem início a discussão da nova LDB, com ampla participação das escolas públicas do país. (FERNANDES, 1998).

Na década de 90, ocorre um amplo processo de reorganização no campo político do país, com repercussões expressivas sobre a educação. Organismos internacionais, como Banco Mundial, passam a exigir projetos de reestruturação significativos para a garantia dos investimentos internacionais no Brasil e demais países em desenvolvimento.

Ainda em 1990, ocorre a “Conferência Mundial de Educação para Todos”, que resulta na elaboração do “Plano Decenal de Educação para Todos”, em 1993. Estava em curso nesse

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momento um amplo debate que envolvia diversos setores da sociedade brasileira, visando à busca de garantias a diversidade de interesses. A nova LDB é o espelho dessa realidade. A política desenvolvimentista, implementada pelo governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, pretendia responder aos interesses das agências internacionais. Então, em 1996 foi aprovada a nova LDB da Educação Brasileira, em detrimento das propostas discutidas pelos setores populares e da classe dos educadores. (HERMIDA, 2012).

Nessa época, no estado da Bahia, estava em curso o governo de Antônio Carlos Magalhães. O estado despontava como um dos mais críticos em termos educacionais, com índices muito inferiores a “baixa” média nacional”.

A reestruturação da educação era uma porta de entrada para o investimento do capital necessário para modernização proposta pelo governo do estado. Ao tempo que ocorria uma ampla divulgação midiática referente à produção musical baiana, o governo através da assessoria da Secretaria de Educação e Cultura investiu na criação do primeiro curso profissionalizante em música da Bahia e do Brasil, o qual foi implantado no Colégio Estadual Deputado Manoel Novaes (CEDMN).

Embora a proposta principal deste curso fosse o de formar profissionais bem qualificados para o mundo do trabalho, o mesmo surpreendeu com o alto índice de aprovação dos seus discentes através da primeira turma de concluintes do ano de 1996, após exames de seleção para o nível superior em música da UFBA no início de 1997.

Atualmente, o nível superior da EMus/UFBA1, ainda recebe alunos advindos do curso profissionalizante em música do CEDMN, o que demonstra a real necessidade de uma investigação voltada para a contribuição desse curso nesse aspecto. Sendo assim, o foco principal dessa pesquisa, é discutir a relevância do curso técnico profissionalizante em música do CEDMN, principalmente para as classes de baixa renda, no processo de democratização do ensino acadêmico de música na Bahia.

É importante esclarecer que, como fonte referencial desta pesquisa, busquei autores que já houvessem tratado a respeito do meu objeto de investigação em questão. Entretanto, o único trabalho mais denso, mais intenso, que envolvia diretamente o nome desta instituição (CEDMN), foi a da Prof.ª Jaqueline Câmara Leite2·. Trabalho consistente, que já indicava o

sucesso referente à inserção dos estudantes no nível superior em música. Porém, o foco da sua

1Escola de Música da Universidade Federal da Bahia.

(17)

pesquisa era:“Avaliar a importância da formação musical de nível técnico na atuação profissional dos técnicos egressos do CEDMN.” (LEITE, 2007, p.16).

Para um melhor entendimento, apresento o conjunto de fatores que motivaram a pesquisa e as escolhas teóricas e metodológicas daí decorrentes.

1.1 MEMÓRIAS DO PERCURSO

Para justificar o meu interesse como pesquisador sobre o objeto de pesquisa em questão julguei pertinente, fazer um breve relato sobre o processo inicial da minha relação com o curso técnico profissionalizante em música do CEDMN.

Aos quatorze anos de idade despertei interesse por música, como a maioria dos jovens da minha faixa etária, escolhendo o violão como instrumento. Comecei a praticar alguns acordes através de cifras de revistas e segui aprendendo também, por meio da “tradição oral”. Press (2004) e Pinto (2002) explicam a tradição oral em música popular, principalmente em se tratando do violão: “... como uma forma de aprendizagem que ocorre, geralmente, dentro do contexto familiar, ou entre vizinhos e amigos mais próximos. Os primeiros acordes, balanços rítmicos das músicas são transmitidos por quem possui maior conhecimento”.

Durante esse período ainda cursava o 2º grau do curso técnico profissionalizante em Contabilidade, na Escola Estadual Rômulo Almeida, situada no bairro Guilherme Marback, em Salvador-Ba. Concomitante à minha formação em Contabilidade senti a necessidade de uma formação musical mais consistente, tendo como objetivo futuro o ingresso no nível superior no curso de música da Universidade Federal da Bahia. Sendo assim, passei a procurar meios de aprendizagem formal, no intuito de obter conhecimento em leitura, harmonia e percepção musical. Foi aí que começou meu dilema: Como estudar música sendo eu um aluno de baixa renda?

Iniciei então a minha procura por cursos gratuitos, porém não obtive êxito na minha jornada. O que se via eram cursos de extensão (oficina e básico) na EMus/UFBA e no Instituto de Música da UCSAL3, além de pequenos conservatórios ou cursos informais espalhados pela cidade, bem como, professores particulares que preparavam de uma forma intensiva os indivíduos interessados a ingressar no nível superior em música. Nenhum desses meios eram gratuitos e o custo financeiro de certa maneira era caro, principalmente para as classes de baixa renda, coincidentemente a que eu me encaixava.

3 Universidade Católica de Salvador.

(18)

Passei um ano desdobrando-me com livros emprestados de teoria musical, harmonia e improvisação. Porém, sem acompanhamento de um professor particular ou um curso formal, sentia muitas dificuldades e a todo o momento surgiam muitas dúvidas que não conseguia esclarecer. Foi então, que no final desse mesmo ano (1992), descobri através de outro colega do mesmo bairro em que morávamos, a existência do surgimento de um curso profissionalizante em música, pioneiro na Bahia e no Brasil. Para ingressar nessa referida instituição, a pessoa interessada era submetida a um exame de seleção que tinha por objetivo avaliar o seu nível de aptidão musical, grau de interesse pelo curso e o perfil de classe social a que pertencia. Caso o candidato fosse aprovado, cursaria o 2º grau profissionalizante junto com as outras disciplinas propedêuticas, tendo como área de concentração “Instrumentista em Música”. O nome desta escola era “Colégio Estadual Deputado Manoel Novaes” (CEDMN). Aos dezessete anos (1993) então, ao ser aprovado nessa seleção, iniciei meus estudos de violão no Conservatório de Música da Escola Deputado Manoel Novaes, situada na Av. Araújo Pinho, nº 30, no bairro do Canela, em Salvador/BA. Sob a orientação do Prof. Jailson Coelho4, comecei a estudar o instrumento de uma maneira mais sistemática, lendo e entendendo música por meio da pauta musical, através do estilo erudito e popular.

Sendo assim, a cada ano que abria o processo de seleção de candidatos ao curso profissionalizante do CEDMN, informava amigos e pessoas ao meu redor, principalmente aos que se enquadravam num perfil de classe social de baixa renda e almejavam estudar música seriamente, com o intuito até mesmo de prestar vestibular para um nível superior.

Em 1996, ao final de quatro anos de curso, conclui o segundo grau profissionalizante em música do CEDMN, junto a 79 colegas de turma. No início de 1997, após prestar exame no processo seletivo para o vestibular em música da EMus/UFBA, 25 alunos advindos do CEDMN ingressaram na graduação do curso de música dessa mesma instituição. Desses alunos, 11 foram aprovados em composição e regência, seis em licenciatura e oito em instrumento. (LEITE, 2007, p.55).

Um fato significativo é que a maioria dos egressos daquela época especificamente, advindos do CEDMN, já havia realizado a formação de nível médio, o que configurava o real interesse e necessidade desse tipo de formação. O trabalho de Leite (2007, p.55), constata ainda que 30% dos formandos abandonaram o curso de música do CEDMN antes da conclusão, ingressando no nível superior em música da UFBA.

4Professor graduado em Licenciatura pelo Instituto de Música da UCSAL (Universidade Católica de Salvador), um dos fundadores do curso de música do CEDMN e titular da cadeira de violão desse mesmo curso.

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Nesse mesmo ano (1997) ao ser aprovado no curso de instrumento (violão), fui orientado pela Prof.ª Cristina Tourinho5. No segundo ano, a partir de 1998, fui transferido para a classe de alunos do Profº. Mário Ulloa6, estudando com o próprio os quatro anos finais que se seguiram.

Logo no início da minha formação acadêmica soube com enorme pesar, da desativação do curso profissionalizante em música do CEDMN. Começou nesse momento então, a minha inquietação. A pergunta que não se calava era: Qual motivo levou a finalização de um curso de música como o do CEDMN?

O fato é que o curso de música do CEDMN atendia a uma demanda antiga, que se traduzia nas queixas sobre a escassez de cursos gratuitos de nível secundário em música com grau de preparo suficiente para o ingresso à universidade e que formava profissionais capacitados para o mercado de trabalho. Portanto, só existia ele com esse perfil e nesse formato na Bahia e no Brasil, naquele momento.

Naturalmente, as deduções que levava a alguma resposta sobre o acontecimento, apontavam para o momento político vivido pelo país em relação às políticas públicas de ensino, como fator determinante para aquele episódio.

Ainda durante a graduação, como instrutor, lecionei durante quatro anos nos cursos de extensão de violão clássico e popular da EMus/UFBA (Oficina e Básico). Enquanto isso, depois da desativação dos cursos profissionalizantes, o curso de música do CEDMN continuou a funcionar sob regime de oficinas, travando enormes dificuldades de existência, alicerçando-se principalmente no compromisso e engajamento pessoal de cada professor ou profissional envolvido com aquele projeto. Vale ressaltar, que ainda assim, alguns alunos advindos dos cursos de oficinas do CEDMN, conseguiam aprovação no exame de seleção do vestibular para música da EMus/UFBA, só que agora em bem menor quantidade.

No início de 2005 fui aprovado para lecionar na graduação, como professor substituto do curso de instrumento (Violão) da Universidade Federal da Bahia, durante dois anos. Nesse mesmo ano através do Decreto nº 5.154 de 23 de julho de 2004, o governo do estado da Bahia inicia um projeto piloto de implantação do ensino médio integrado a educação profissional, ocorrendo assim, a reativação do curso profissionalizante em música do CEDMN, no modelo Ensino Profissional Integrado - EPI.

5 Doutora em Educação Musical, titular da cadeira do curso superior de violão da EMus/UFBA 6 Doutor em Instrumento, titular da cadeira do curso superior de violão da EMus/UFBA.

(20)

Portanto, durante todos esses anos de vida acadêmica, percebi então, que os alunos egressos do CEDMN, aprovados no vestibular em música da UFBA, estavam sendo considerados agentes transformadores, uma vez que representavam um “divisor de águas”, segundo o qual, professores da EMus/UFBA, podiam dizer antes e depois.“Entrevistas concedidas por professores do Colégio Manoel Novaes, referem o entusiasmo dos professores universitários, em receber alunos com instrução musical adequada para o nível de formação exigido pelo exame de seleção da UFBA” (LEITE, 2007).

Deste modo, observei que o CEDMN ao longo desse tempo, vem assumindo um papel de grande relevância, não só para o preparo bem capacitado dos seus alunos para o mundo do trabalho, bem como, para a democratização do ensino acadêmico na Bahia, no que diz respeito a inserção de alunos no nível superior de música da EMus- UFBA.

Assim sendo, tendo como fonte de inspiração o relato sobre a trajetória de existência e resistência do curso profissionalizante em música do CEDMN, desde a sua criação até os dias atuais, comecei a dar os primeiros passos em direção a elaboração de um anteprojeto que me permitisse o ingresso no mestrado em Educação Musical, do curso de pós-graduação da EMus/UFBA.

No segundo semestre de 2011, como aluno especial da disciplina “A Educação Musical no Brasil” ministrada pela Prof.ª Conceição Perrone7, entreguei como trabalho final

um artigo, no qual já se configurava o meu real interesse através do conteúdo apresentado, sobre o tema de pesquisa do meu anteprojeto.

Logo em seguida, no primeiro semestre de 2013, mediante aprovação desse anteprojeto, ingressei com minha pesquisa no Mestrado Acadêmico em Educação Musical da EMus/ UFBA, sob a orientação do Prof.Luiz César Magalhães8.

1.2 QUESTÃO DA PESQUISA

As inquietações apontadas acima conduziram a questão central dessa pesquisa, que ora apresento em forma de pergunta:

“Como vem sendo a participação do curso profissionalizante em música do Colégio Deputado Manoel Novaes, na preparação e inserção de alunos no nível superior

7Doutora em Etnomusicologia (leciona disciplinas da graduação e pós-graduação na EMus-UFBA).

8 Doutor em Educação Musical (leciona disciplinas da área de Educação Musical na graduação e pós-graduação na EMus/UFBA).

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em música da Universidade Federal da Bahia, considerando os aspectos históricos, culturais e políticos do ensino profissionalizante no próprio estado? ”

Segundo Yin (2001), sobre estudo de caso:

[...] questões do tipo como e porque, são mais explanatórias, e é provável que leve ao uso de estudos de caso, pesquisas históricas e experimentos como estratégia de pesquisas escolhidas. Isso se deve ao fato de que tais questões lidam com ligações operacionais que necessitam serem traçadas ao longo do tempo, em vez de serem encaradas como meras repetições ou incidências. (YIN, 2001, p.25).

Como resposta a essa pergunta, apresento os objetivos específicos necessários à sua consecução:

• Conhecer a história de implantação do curso profissionalizante em música do CEDMN;

• Identificar modelos pedagógicos de educação musical que fundamentaram o ensino do curso profissionalizante do CEDMN;

• Conhecer a visão de alunos egressos sobre a formação musical do CEDMN e sobre o papel deste colégio no acesso ao nível superior, para as classes de baixa renda da população;

• Conhecer a visão de professores do CEDMN e da EMus/UFBA sobre o papel da formação musical profissionalizante dessa referida escola, para acesso ao nível superior;

• Discutir o modelo de formação educacional musical e políticas públicas para ensino médio, a partir da experiência do CEDMN.

(22)

2 PERSPECTIVAS METODOLÓGICAS

Nesse capítulo, busco definir e justificar a minha escolha metodológica, bem como os métodos, técnicas e instrumentos de investigação utilizados. Não pretendo realizar um tratado sobre a metodologia, mas apresentá-la como um elemento importante na trajetória dessa investigação e na minha própria, como pesquisador dedicado ao aperfeiçoamento da prática investigatória.

Premido pela necessidade de estudar, produzir e pelo pouco conhecimento sobre pesquisa científica, que me possibilitasse empreender uma análise crítica das diretrizes metodológicas do meu trabalho, busquei ler e me apropriar minuciosamente, dos métodos de pesquisa em ciências sociais que se adequassem aos interesses deste trabalho. Não queria ser eu um estudante a reproduzir de forma inconsistente e desarticulada os caminhos dessa investigação.

O problema agora era saber como proceder para conseguir certa qualidade de informação, como “explorar o terreno” para conceber a investigação. Entendi então, que os métodos existem para ajudar o pesquisador a adotar uma abordagem mais penetrante do objeto de estudo e assim chegar a idéias e pistas de reflexão mais esclarecedoras. Compreendi que as técnicas de pesquisa se encontram condicionadas a orientação teórico-metodológica da investigação, do objeto e da real necessidade de dados e informações a serem coletadas.

Para Flick (2009, p.23) a pesquisa para ser bem-sucedida, depende muito da escolha correta de métodos e teorias compatíveis a compreensão da investigação em questão, bem como no reconhecimento e análise de diferentes pontos de vista, na reflexão do pesquisador em relação ao seu objeto de pesquisa, dentro da sua gama de conhecimentos e variedade de abordagens e métodos.

Por conta disso, enfatizo que as técnicas e os instrumentos de pesquisa aqui utilizados não possuem autonomia para reger e definir sua própria utilização. Foram escolhidos de acordo com a orientação teórico-metodológica dessa pesquisa. Por isso opto por narrar a trajetória de sua escolha.

A partir de sugestões de amigos, conversas informais e indicações bibliográficas do meu orientador, realizei leituras de autores variados, com abordagens diversas e selecionei o modelo teórico que me pareceu atender a multiplicidade de aspectos que a minha questão de pesquisa suscitava.

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Sendo assim, já havia percebido que necessitava fazer um breve exame da realidade social dos atores envolvidos nessa pesquisa, para compreender o papel do CEDMN na inserção de estudantes de baixa renda no nível superior do curso de música da UFBA. Deveria buscar informações sobre: renda, nível de escolaridade anterior ao seu ingresso no CEDMN, nível de escolaridade dos pais, que tipo de influências musicais já tinham absorvidos anteriormente ao ingresso no CEDMN, se tinha músicos na família, se moravam com os pais, se já eram casados, religião, etc. Mas isso não era tudo! Precisava saber como os atores envolvidos, faziam a leitura da trajetória do colégio, deles mesmos e dos demais grupos envolvidos na história da Instituição desde sua fundação até o momento atual.

A nossa pesquisa se enquadrava de alguma forma, na perspectiva da sociologia compreensiva, que aponta para a necessidade de observar além dos fatores econômicos estruturais das relações sociais, as idéias, valores e crenças que dão sentido a ação social de indivíduos e grupos. Na perspectiva compreensiva, que tem como representante maior, Max Weber:

[...] as estruturas sociais não existiam fora ou independentemente dos indivíduos. Pelo contrário, as estruturas da sociedade eram formadas por uma complexa inter-relação de ações. E era trabalho da sociologia entender os significados por trás dessas ações. (GIDDENS, 2012, p. 28).

Ora, tal abordagem se adequava a busca de entendimento acerca da trajetória do CEDMN. Assim, quando fui apresentado pelo meu orientador às pesquisas que vem sendo realizadas pelo sociólogo inglês Stephen Ball9 e seus colaboradores, sobre políticas públicas de educação, imediatamente achei pertinente e o escolhi para guiar o quadro conceitual do meu trabalho. Seu modo de encarar o fenômeno de criação, implantação e realização das políticas públicas em educação, poderia dar luz a minha pesquisa e se alinhava a perspectiva compreensiva que almejava alcançar.

Tendo em vista a minha orientação teórica e consecução dos objetivos propostos, verifiquei que a minha pesquisa se ajustava à metodologia qualitativa próxima do estudo de caso, método de pesquisa que tem bastante prestígio no âmbito da pesquisa social.

Sobre a pesquisa qualitativa, autores como Carspecken (1996); Carspecken e Walford, (2001) afirmam:

9Sociólogo inglês e ocupa a cátedra Karl Mannheim de Sociologia da Educação (“Karl Mannheim Professor off Sociology of Education”: cátedra em homenagem a Mannheim, que foi para Londres em 1933, em virtude do nazismo. Mannheim morreu em 1947. Essa cátedra foi ocupada inicialmente por Basil Bernstein até 1990, de 1992 a 2000 por Geoff Whitty – diretor do IOE e, a partir de 2001, por Stephen Ball). (MAES, 2014, p.1)

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A pesquisa qualitativa crítica compreende relações entre as questões investigadas e o sistema social mais amplo com o objetivo de apreender a totalidade de suas determinações, bem como os de explicar os sistemas de opressão, dominação, ideologia e discursos com a finalidade de contribuir para que tais situações sejam alteradas. São pesquisas que fortalecem grupos e pessoas em situação de marginalidade e opressão, propondo assim transformações nos contextos políticos e sociais. (CARSPECKEN, 1996; CARSPECKEN e WALFORD, 2001).

Para Flick (2009), a pesquisa qualitativa está pautada em quatro considerações fundamentais:

a) Apropriabilidade de métodos e teorias: Os métodos tornaram-se ponto de referência para averiguação da adequação de idéias e de questões para uma investigação empírica. Sendo assim, os critérios principais da pesquisa qualitativa consistem mais em confirmar se as descobertas estão embasadas no material empírico, ou se os métodos foram adequadamente selecionados e aplicados, assim como na relevância das descobertas e na reflexividade dos procedimentos.

b) Perspectivas dos participantes e sua diversidade: Para pesquisadores qualitativos o conhecimento e as práticas dos participantes são os objetos de grande relevância no seu estudo. A partir daí, são avaliadas todas as informações que rodeiam o objeto de estudo e as mais variadas maneiras de lidar com esse objeto em uma determinada área. As formas de reflexão e as experiências de campo para o pesquisador qualitativo são situações dissociadas por conta das mais variadas perspectivas e conjunturas sociais a eles relacionados.

c) Reflexividade do pesquisador e da pesquisa: dentro dos métodos qualitativos, a parte mais importante para produção do conhecimento de uma pesquisa é a comunicação do pesquisador com o campo e seus membros. Os pesquisadores qualitativos quando em campo, devem observar as impressões, irritações, sentimentos dos envolvidos, interpretando-os e documentando-os em diários de pesquisa ou em protocolos de contexto.

d) Variedade de abordagens e métodos da pesquisa qualitativa: na pesquisa qualitativa os conceitos teóricos e metodológicos podem ser dissociados, importando mais a diversificação de abordagens teóricas e metodológicas que caracterizam as discussões e prática da pesquisa. (FLICK, 2009, p. 23- 25).

Desse modo, entendo que, se por um lado, a pesquisa qualitativa permite a ampliação da percepção e análise do fenômeno estudado, tendo em vista a possibilidade de relacionar contextos e confrontar variáveis relativas ao fenômeno, aprofundando a qualidade e variedade das informações, por outro lado, se faz mais desafiadora para o pesquisador. A pesquisa qualitativa se constrói a partir da relação mais próxima entre pesquisador e objeto. Exige, por isso, maior vigilância na aplicação das técnicas, bastante rigor na análise e interpretação do conteúdo e a apresentação sincera da trajetória em campo.

Para Flick (2009, p. 29), é interessante que na pesquisa qualitativa os caminhos metodológicos obedeçam às seguintes etapas: entrevistas semiestruturadas ou narrativas, coleta de dados e análises de dados a partir de grupos focais, etnografia, observação (participante) e de gravações audiovisuais (análise de conversas através de entrevistas com câmeras ou gravadores) e também de material visual, como fotografia e desenhos. Estes dados serão interpretados através da análise de discurso ou de conversação.

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Considerando que existem diversas questões que pesam no momento da escolha dos métodos qualitativos a utilizar, como: prazo para entrega, recursos financeiros, equipe técnica preparada para a aplicação dos instrumentos de pesquisa e posterior categorização e análise dos dados, adequação da pesquisa aos métodos, técnicas e objetos. Cada pesquisa de caráter qualitativo possui um movimento próprio, que faz com que o investigador vá e volte muitas vezes às etapas. A realidade surpreende o pesquisador e seus instrumentos de pesquisa. Por isso mesmo, a pesquisa qualitativa oferece possibilidade de apreensão de fenômenos mais complexos, pois ela não engessa o pesquisador.

Em relação ao estudo de caso Yin (2001), afirma ainda:

A essência de um estudo de caso, a principal tendência em todos os tipos de estudo de caso, é que ela tenta esclarecer uma decisão ou um conjunto de decisões: o motivo pelo qual foram tomados, como foram implementadas e quais resultados. (YIN, 2001, p. 31).

Para Yin (1994) o estudo de caso se apresenta também como uma abordagem metodológica adequada à compreensão, exploração, ou descrição de acontecimentos e contextos complexos, nos quais estão simultaneamente envolvidos diversos fatores e por isso:

[...] esta abordagem se adapta à investigação em educação, quando o investigador é confrontado com situações complexas, de tal forma que dificulta a identificação das variáveis consideradas importantes, quando o investigador procura respostas para o “como” e o “por que”, quando o investigador procura encontrar interações entre fatores relevantes próprios dessa entidade, quando o objetivo é descrever ou analisar o fenômeno, a que se acede diretamente, de uma forma profunda e global, e quando o investigador pretende apreender a dinâmica do fenômeno, do programa ou do processo. (YIN, 1994, p.73).

Por outro lado, Bell (1989) define o estudo de caso como um termo guarda-chuva para uma família de métodos de pesquisa cuja principal preocupação é a interação entre fatores e eventos. Já Fidel (1992) salienta que o método de estudo de caso, é um método específico de pesquisa de campo e define que a pesquisa de campo como um modelo de investigação dos fenômenos que são registrados à medida que ocorrem, sem qualquer interferência significativa do investigador. Em realidade não concordo com a observação de Fidel (1992). Ao contrário, o papel do pesquisador em campo é fundamental no resultado da pesquisa, seja ela positiva ou negativa. Embora possam ocorrer situações que fujam ao controle do pesquisador, a sua presença e ação sempre darão um tom particular ao acontecimento.

Para Coutinho (2003), quase tudo pode ser um “caso”: um indivíduo, um personagem, um pequeno grupo, uma organização, uma comunidade ou mesmo uma nação.

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Essa certa maleabilidade e amplitude do estudo de caso dilatam o seu alcance em pesquisas de cunho social.

Da mesma forma, Ponte (2006) considera que o estudo de caso:

É uma investigação que se assume como particularista, isto é, que se debruça deliberadamente sobre uma situação específica que se supõe ser única ou especial, pelo menos em certos aspectos, procurando descobrir o que há nela de mais essencial e característico e, desse modo, contribuir para a compreensão. (PONTE, 2006, p.2).

Yin e Ponte (1994) destacam que o objetivo do estudo de caso é explorar, descrever ou explicar, enquanto Guba & Lincoln (1994) salientam que além desses objetos, o estudo de caso visa comprovar ou contrastar efeitos e relações presentes no caso. A estes objetivos, Merriam (1998) acrescenta um terceiro: avaliar de forma a sistematizar estes vários objetivos. Gomez, Flores & Jimenez (1996, p. 99) referem que o objetivo geral de um estudo de caso é: “explorar, descrever, explicar, avaliar e/ou transformar”.

Por outro lado, Coutinho e Chaves (2002) atentam ainda para alguns pontos importantes da investigação em educação tais como:

• É “um sistema limitado”, e tem fronteiras “em termos de tempo, eventos ou processos” e que “nem sempre são claras e precisas” (CRESWELL, 1994. In: COUTINHO & CHAVES, 2002, p.224);

• É um caso sobre “algo”, que necessita ser identificado para conferir foco e direção à investigação (COUTINHO & CHAVES, 2002, p.224);

• É preciso preservar o caráter “único, específico, diferente, complexo do caso” (MERTENS, 1998. In: COUTINHO & CHAVES, 2002, p.224);

• A investigação decorre em ambiente natural;

• O investigador recorre a fontes múltiplas de dados e a métodos de recolha diversificados: observações diretas e indiretas, entrevistas, questionários, narrativas, registros de áudio e vídeo, diários, cartas, documentos, entre outros (COUTINHO & CHAVES, 2002, p.224).

Tais apresentações do estudo de caso, pelos autores acima citados, serviram para fazer-me compreender que esse método se adequava perfeitamente a problemática da minha pesquisa e seus objetivos. Ele parecia permitir avançar o entendimento sobre a realidade específica do CEDMN e, por outro lado, alcançar esferas mais gerais das questões relativas ás políticas públicas voltadas para o ensino profissionalizante em música e sua relação com o ingresso de alunos de baixa renda nas Universidades Públicas.

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É importante acrescentar que o enquadramento do “estudo de caso” dentro dos planos qualitativos é uma questão controversa, não havendo consenso entre os investigadores. Como referem Coutinho & Chaves (2002):

Se é verdade que na investigação educativa em geral abundam, sobretudo os estudos de caso de natureza interpretativo-qualitativa, não menos verdade é admitir que, estudos de caso existem em que se combina com toda a legitimidade métodos e qualitativos. (COUTINHO e CHAVES, 2002, p. 180).

Ainda segundo estes autores, que se apóiam numa vasta revisão de literatura, o fato de o investigador estar pessoalmente implicado na investigação, confere aos planos qualitativos um forte aspecto descritivo, daí que a grande maioria dos investigadores considere o estudo de caso como uma modalidade de plano qualitativo.

Para Ponte, (1994):

Em educação têm-se tornado cada vez mais comuns os estudos de caso de natureza qualitativa. No entanto, isso não é uma característica essencial deste tipo de investigação. Embora não sejam muito frequentes, podem ser realizados estudos de caso recorrendo a abordagens preferencialmente quantitativas ou de caráter misto. Assim, por exemplo, tratando-se “o caso” de estudo de uma escola ou de um sistema educativo pode certamente tirar-se importantes informações de variáveis quantitativas de natureza demográfica como o número de alunos, as taxas de reprovação, a origem social, entre outros. (PONTE, 1994, p. 89).

Entendido que a utilização da metodologia qualitativa, não exclui em absoluto o uso de dados quantitativos, parti para a investigação, disposto a utilizar de todo tipo de dado e informação que colaborasse para o entendimento do meu objeto, mas, consciente de que a abordagem central dessa investigação é de cunho qualitativo.

Há muito, se estende um debate entre os pesquisadores da área de Ciências Sociais, acerca da confiabilidade dos dados coletados em entrevistas, formulários, questionários e aqueles provindos do trabalho de campo. Parti para a construção dos instrumentos de pesquisa consciente da função dos mesmos. Na minha experiência em campo, quando da aplicação desses instrumentos e técnicas, pude vivenciar um pouco o que vem motivando o debate, sempre atual na “Pesquisa Social”. Percebi que me localizava dentro de um problema epistemológico básico dessa área: a relação sujeito/objeto, neutralidade/ subjetividade.

Munido dessas assertivas, relato os caminhos dessa experiência.

2. 1 COLETA E ANÁLISE DE DADOS

Para essa pesquisa foram coletados e analisados dados secundários e primários. Os dados primários dessa pesquisa foram obtidos através de entrevistas exploratórias, entrevistas semi-estruturada, questionários com perguntas abertas e fechadas, conversas informais com os

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informantes, visitas ao Colégio e minha própria memória como ex-aluno. Vale ressaltar, que todos os dados coletados, foram analisados e explanados no decorrer de todo trabalho, não só por meio das estratégias abaixo descritas, bem como, através da apresentação de alguns gráficos explicativos. Para melhor organização, dividi as atividades em etapas.

A primeira etapa fundamentou-se na pesquisa bibliográfica sobre ensino profissionalizante em música no Brasil, algumas leituras de autores da sociologia, filosofia e pedagogia, entrevistas exploratórias com “informantes-chave” e registros no caderno de notas.

Na segunda etapa, foram efetuadas análises de documentos, de fontes secundárias sobre a criação do CEDMN. Realizei estudo das leis de diretrizes educacionais de cursos profissionalizantes e ensino de música, material de divulgação das políticas públicas de educação e matérias de televisão.

Nessas pesquisas, tive a intenção não só de coletar material que permitisse contextualizar o surgimento do curso profissionalizante em música na Bahia, como também, verificar a influência das mudanças das políticas de educação na prática educacional, ao longo da existência do curso.

Na terceira etapa, foram construídos e aplicados questionários com questões abertas e fechadas, para alunos de quatro turmas do CEDMN. Busquei dados de ordem sócio demográfico e cultural acerca dos mesmos e suas percepções sobre a experiência no CEDMN e na EMus/ UFBA. Os alunos foram escolhidos, consoante as transformações pelas quais passou este curso profissionalizante.

Na quarta etapa, construí e apliquei questionários de questões abertas e fechadas com os professores do CEDMN e da EMus/UFBA, visando maior conhecimento sobre a história do colégio e suas observações sobre o impacto do CEDMN na habilitação de alunos para ingresso na graduação em música.

Na quinta etapa elaborei os roteiros de entrevista e realizei as entrevistas semi-estruturada com os profissionais que participaram da construção do projeto de criação do curso e com professores que vêem acompanhando as várias etapas pelas quais o CEDMN passou.

Na sexta etapa, retornei a campo para observar melhor a situação atual do colégio. Fiz algumas visitas complementando informações e novos registros no caderno de notas.

2.1.1 Sobre a aplicação de questionários e realização de entrevistas

Ao longo do trabalho, algumas modificações ocorreram em relação aos instrumentos de investigação a serem utilizados. Após algumas visitas a campo (CEDMN), realização de

(29)

algumas entrevistas exploratórias e conversas informais com professores e ex-alunos, percebi a necessidade de elaborar inicialmente, questionários sócios demográficos e roteiros de entrevista para todos os colaboradores. As entrevistas seriam realizadas através de perguntas abertas e gravadas com o auxílio de câmeras, para logo em seguida serem transcritas.

Porém, após reflexão mais apurada do que seria o melhor para garantir um resultado mais eficiente para pesquisa, considerando o fator tempo e características das informações almejadas, decidi aplicar questionário sócio demográfico (anexado a um questionário de perguntas fechadas e abertas com os estudantes), um questionário de perguntas abertas e fechadas para professores da CEDMN e outro questionário de perguntas abertas e fechadas para os professores da EMus/UFBA.

Os questionários garantiriam as respostas de questões mais objetivas, que demandassem menos interpretação e pudessem oferecer uma resposta de ordem quantitativa acerca da realidade e nas questões abertas visava obter as informações de caráter mais subjetivo e de maior complexidade.

Mantive a realização de entrevistas apenas com professores selecionados segundo critério de importância na criação e manutenção do curso. Posteriormente, foi também escolhido um ex-aluno do curso para a realização de entrevista.

2.1.2 Aplicação dos questionários com os ex-alunos do CEDMN

Os primeiros questionários foram aplicados aos alunos egressos do CEDMN, que ingressaram posteriormente nos cursos de graduação em música, oferecidos pela Universidade Federal da Bahia, tendo eles concluído ou não o curso nesta referida instituição. Foram escolhidos alunos de quatro turmas do CEDMN, de acordo com as transformações pelas quais passou este curso profissionalizante. Turmas de:

a. Ex-integrantes da primeira turma de formandos dos quatro primeiros anos, em que funcionou como curso profissionalizante;

b. Ex-integrantes da turma de estudantes do período em que o colégio funcionou em regime de oficinas, após a desativação do curso profissionalizante;

c. Ex-integrante da turma que reiniciou a retomada do curso profissionalizante, no modelo EPI;

d. Ex-integrante de uma turma mais recente de alunos do CEDMN, que ingressaram na EMus/UFBA, também na modalidade EPI.

(30)

Após apresentação de uma carta concedida pela coordenação do Programa de Pós-Graduação em música da EMus/UFBA, foram iniciados os primeiros passos para contatar os egressos colaboradores, através de buscas na secretaria do CEDMN. Em seguida recorri às redes sociais, enviando e-mails, mensagens pela face book e whatsapp.

No que diz respeito aos ex-alunos investigados através dos questionários, consoante o ano de ingresso, tive maior ou menor facilidade de acesso. Para entrevista dos alunos provenientes da primeira turma (ingresso em 1993- conclusão em 1996), referente a modalidade de curso profissionalizante, encontrei maior facilidade de acesso. Os três informantes foram colegas de curso no CEDMN e posteriormente na graduação.

O acesso aos três informantes que estudaram sob o regime de oficinas, no período de desativação do curso profissionalizante (1997 a 2004), foi facilitado pelo contato mais próximo promovido pelas relações de trabalho. Freqüentemente realizávamos shows e eventos ou nos encontrávamos nos corredores da EMus/UFBA.

Trabalhoso mesmo foi encontrar os egressos do CEDMN mais recentes, de 2006 até os dias atuais. Nos anos subseqüentes a 2005 não era mais aluno ou professor da EMus/UFBA, o que não me garantia fácil acesso ao conhecimento desses alunos aprovados para os cursos de nível superior, oferecidos pela EMus/UFBA.

Por conta dessas dificuldades, busquei a “Secretaria do Colegiado” 10 da

EMus/UFBA para solicitar ajuda de uma das funcionárias. Muito simpática, a funcionária “X”, como vou chamá-la, ajudou-me a coletar informações sobre esses alunos. Foi um trabalho árduo e minucioso. Através dos arquivos no computador da secretaria da EMus/UFBA, coletamos informações sobre o histórico de cada aluno egresso advindo do CEDMN que adentraram na EMus/UFBA nos últimos anos. A coleta de informações durou três dias.

Busquei em seguida, através dos nomes levantados na secretaria do Colegiado da EMus, localizar os estudantes egressos do CEDMN, referentes ao período de 2006 aos dias atuais. Utilizei mais uma vez as redes sociais (“e-mail”, “face book”, “whatsapp”) e contatos por telefone fixo e celular para localizar os informantes.

Posso considerar que obtive sucesso com a aplicação dos questionários, mesmo tendo que enviá-los por e-mail. A ampla maioria dos alunos respondeu satisfatoriamente ao mesmo. Apenas um aluno deixou de responder às questões abertas constantes no questionário.

10Local onde ocorrem matrículas dos alunos (as) e aonde se pode encontrar informações sobre o histórico escolar

(31)

Por conta do compromisso firmado no questionário de pesquisas, os nomes verdadeiros dos estudantes não serão citados. Ao todo foram nove (alunos) egressos colaboradores e serão identificados por nomes fictícios. Os nomes fictícios escolhidos foram:

• Gilberto, Moura, Lula (1993) e Toinho (1995) da turma dos primeiros quatro anos do curso “Profissionalizante”;

• Ricardo (1997), Arthur (2000) e Franciel (2002) da turma de “Oficinas”; • Roberto (2006) da turma de pós-reativação do curso no modelo “EPI”; • Joyce (2013) de uma turma mais recente, também no modelo “EPI”.

Os gráficos a seguir, evidenciam informações iniciais relacionadas ao número de egressos entrevistados, seus respectivos sexos e a idade de cada um deles de acordo a época e turma que cursaram. Também informam os respectivos cursos que os entrevistados ingressaram na EMus/UFBA.

Gráfico 1 - Época / Turma.

Fonte: Produção do próprio autor

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Fonte: Produção do próprio autor

Gráfico 3 - Cursos

Fonte: Produção do próprio autor

Vale ressaltar através desse último gráfico: a qualidade, consistência e versatilidade da aprendizagem musical adquirida pelos egressos advindos do curso de música do CEDMN,

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ao observar o ingresso destes na maioria dos cursos oferecidos pela graduação da EMus/UFBA.

2.1.3 Aplicação de questionários com os professores do CEDMN e EMus/ UFBA.

O envio do questionário de entrevistas aos professores do CEDMN e aos professores da EMus/UFBA foi realizado com facilidade. Ressalte-se que o CEDMN e a EMus/UFBA estão situadas bem próximas um do outro, na mesma rua. Obtive os contatos dos professores nas próprias instituições em que trabalham (telefone, “e-mail”, “face book” ou até mesmo “whatsapp”). Em seguida ligava e após maiores informações sobre a pesquisa, solicitava o preenchimento do questionário, enviando-lhes através de e-mail ou face book.

Considero que o questionário garantiu o acesso a informações fundamentais nessa pesquisa, muito embora alguns professores do CEDMN e da EMus/UFBA, não o tenham enviado há tempo para inclusão de suas respostas na análise dessa dissertação.

2.1.4 As entrevistas e os entrevistados

Ao todo 13 professores do curso profissionalizante em música do CEDMN colaboraram com a pesquisa, sendo três através de entrevista gravada e dez por meio de questionário de entrevistas. Os professores colaboradores da EMus/UFBA totalizaram seis, somente através de questionário de entrevistas. Enfatizo mais uma vez que de acordo com o termo de compromisso, que consta no Apêndice D (p. 133) desta pesquisa, todos terão suas identidades preservadas e serão identificados por números, exceto dois: Prof.ª Lydia Hortélio11e Profº. Jailson Coelho. A razão desta conduta é justificada pelo fato de que ambos os professores, aceitaram colaborar com a pesquisa sem restrições quanto à exposição das suas identidades. Três professores e um ex-aluno foram entrevistados em suas residências com o auxílio de câmera e gravador. O episódio justifica-se por conta da importância do papel

11Idealizadora e mentora do curso técnico profissionalizante do CEDMN, Prof.ª Lydia é graduada em piano na Escola de Música da Bahia, na classe da prof.ª Maria Rosita Salgado Góes e em Canto Orfeônico no Conservatório Baiano de Canto Orfeônico. Logo em seguida estudou nos Seminários Livres de Música da Bahia sob a orientação do Prof. H. J. Koelreuterr e nas Escolas Superiores de Música de Freiburg e Academia de Música de Detmold, ambas na Alemanha. Estudou também no Conservatório de Porto, em Portugal. De volta ao Brasil, integra o Departamento de Educação Artística da Escola de Música e Artes Cênicas da UFBA, onde iniciou suas pesquisas e projetos de Educação com identidade cultural. Após dois anos, retorna a Europa para estudar Etnomusicologia e Educação Musical na Universidade de Berna e no Conservatório de Música daquela cidade. Em seguida casou-se e fixou residência em Frankfurt (Alemanha). No Brasil desde 1979, vem exercendo sua atuação profissional na Pesquisa e Documentação da Cultura da Criança e da Cultura Popular. Têm registrado a Música Tradicional da Infância em Serrinha desde o séc.XX. Criou a Casa das Pedrinhas, um lugar de Brinquedo: de prática, pesquisa e educação, estudo e irradiação da Cultura da Criança. (HORTÉLIO, 2012, p. 125 e 126).

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destes, dentro do processo de elucidação na reconstrução da história dessa instituição, bem como pela disponibilidade de acesso aos mesmos, no período de realização da investigação.

A primeira colaboração com entrevistas gravadas foi da Prof.ª Lydia.

Logo no início do primeiro semestre como mestrando, em alguma das aulas iniciais de uma das disciplinas do curso, retomei o contato (telefones de casa e do celular) da Prof.ª Lydia, através de outra mestranda, que pesquisava a vida e obra desta referida professora. Algumas semanas depois, entrei em contato com Prof.ª Lydia, que ao saber que o curso de música do CEDMN era o objeto da minha pesquisa, demonstrou imensa simpatia pelo trabalho, disponibilizando-se várias vezes para entrevistas e qualquer tipo de ajuda que pudesse acrescentar à pesquisa. Foram encontros memoráveis, que me remeteram a momentos especiais e felizes, que desfrutei naquela escola.

O segundo colaborador foio Profº Jailson Coelho, também um dos fundadores da escola e que leciona até os dias atuais na instituição. Com ele compactuei todas as minhas idéias iniciais e expectativas sobre o trabalho. Sempre que precisava retornar a pesquisa de campo, gentilmente cedia-me informações complementares, mesmo que informalmente.

O terceiro colaborador foi um professor, que iremos chamar de Prof. nº 3. Junto a Prof.ª Lydia esteve envolvido desde as primeiras reuniões ligadas a criação e implantação do curso, até 1998, ano em que se afastou da escola.

Por último foi realizada entrevista semi-estruturada com um ex-aluno, da primeira de turma de concluintes que posteriormente graduou-se como bacharel na EMus/UFBA. Para manter sua identidade preservada, iremos também usar um nome fictício. Ele será mencionado nessa pesquisa por nome “Lula”.

A entrevista com esse ex-aluno não estava prevista para essa etapa do trabalho. Entretanto, em função das suas posturas políticas dentro do colégio, além do seu excelente desempenho como estudante de música, fez desse informante, uma peça importante para compreensão da realidade sobre a trajetória do curso de música do CEDMN.

2.2 O PESQUISADOR E EX-ALUNO EM CAMPO

Analisando as características da investigação percebi o duplo desafio que se fazia para mim. Além das dificuldades próprias para o cumprimento de uma abordagem qualitativa, começava eu a desvendar os passos de um trabalho científico, através de uma pesquisa, da qual, eu mesmo, poderia ter sido escolhido como objeto.

(35)

Os informantes da minha pesquisa são ou foram também, em sua maioria, colegas e ou professores, com forte influência sobre a minha trajetória profissional e sobre a minha formação. Isso se apresentava ora como problema, ora como vantagem ao meu trabalho.

Encarei esse desafio como estímulo em busca de maior rigor e fiz o que era possível fazer, com as memórias da minha trajetória do CEDMN. As utilizei para buscar maior aprofundamento durante as entrevistas e possibilitar que os informantes ficassem mais à vontade. Problematizei as questões que iam surgindo e primei pela descrição fiel dos seus relatos. Essa investigação opta por revelar também a trajetória do pesquisador, como mecanismo de entendimento da própria pesquisa.

Como pesquisador procurei, desde a introdução, deixar visível o meu posicionamento neste trabalho, através de relatos sobre a minha trajetória como aluno do curso profissionalizante em música do CEDMN e minha vida acadêmica na EMus/UFBA. Sendo assim, por muitas vezes, como ex-aluno do CEDMN, encontrei facilidades no meu envolvimento com a pesquisa. Porém, a todo o momento, procurei ter cuidado para que o meu olhar de pesquisador, não fosse subsumido por emoções mais próximas, que poderiam vir dificultar uma análise mais crítica sobre o universo a ser pesquisado.

O acesso aos colaboradores, tanto alunos, quanto professores de ambas as instituições (EMus/UFBA e CEDMN), foi bem-sucedido. Estabeleceu-se uma relação de confiança, na maioria dos encontros. Vi na reação da maioria dos entrevistados, seja por redes sociais ou através de entrevistas em suas próprias residências, uma imensa boa vontade e alegria em contribuir com a pesquisa, pesquisa essa que fazia parte direta ou indiretamente do decorrer da vida musical e pessoal de cada um deles.

Considero que as lembranças de ex-aluno desta instituição contribuíram muito para a busca de um trabalho mais consistente, principalmente para a elaboração de um bom questionário de entrevistas e a elucidação de possíveis dúvidas que doravante apareciam nas respostas dos entrevistados quanto a ano, data ou fatos de grande relevância na trajetória individual de cada um deles, seja aluno ou professor.

Em muitas ocasiões, me vi ajudando-os a resgatar momentos memoráveis e importantes da história do colégio. A cada entrevista, principalmente aquelas em que ia à residência do colaborador, procurava ao máximo manter meu olhar de pesquisador. Distanciava-me a todo instante das fortes emoções a que estava exposto, apenas tentando complementar ou reconstruir fatos referentes às perguntas que contribuíssem para a comprovação e fidedignidade das respostas.

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2.3 FONTES DE PESQUISA

Os dados foram coletados das seguintes fontes:

• Entrevistas semi-estruturadas com alguns professores e alunos: nestas constam informações sobre aspectos relacionados à história de criação e existência até os dias atuais do curso técnico do CEDMN, relatos sobre perfis de corpo docente e discente, conflitos internos e externos que afetaram o processo de existência do curso, relatos dos impactos causados pela desativação e reativação do curso; • Questionário sócio demográficos: informações sobre religião, renda, estado civil,

nível de escolaridade anterior ao ingresso no curso, (Apêndice A, p.123);

• Questionário de entrevistas com questões fechadas e abertas com professores e alunos do curso de música do CEDMN e professores da EMus/UFBA,(Apêndice B, p.128);

• Pesquisa bibliográfica sobre a história do ensino técnico profissionalizante no Brasil desde os seus primórdios até os dias atuais;

• Pesquisa em documentos sobre a legislação educacional para cursos técnicos profissionalizantes, impressos e ou publicados na Web: leis, decretos, atos, pareceres;

• Grade curricular inicial da escola;

• Informações coletadas na secretaria do CEDMN: coleta de dados relacionados a quantidade de alunos que cursam atualmente o curso profissionalizante em música, nos modelos EPI e PROEJA;

• Dados levantados na secretaria da EMus/UFBA: levantamento de lista de egressos advindos do curso de música do CEDMN de 2006 até os dias atuais, número de vagas oferecidas nos cursos superiores da EMus/UFBA, porcentagens disponibilizadas para programas de incentivo a acesso ao nível superior (Enem, Prouni, Sisu) e política de cotas;

• Matéria de televisão: reportagem sobre a criação da primeira orquestra filarmônica de estudantes de escolas públicas da Bahia.

2.4 REFERENCIAIS TEÓRICOS

Essa dissertação fundamenta-se em contribuições teórico-metodológicas de autores não apenas da área de Educação e História da Música, mas também entre outras, das áreas de Filosofia e Sociologia. Na área da sociologia da educação e políticas educacionais, este

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