O FUTEBOL E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O
DESEMPENHO FUNCIONAL E SOCIAL DE INDIVÍDUOS
AMPUTADOS DE MEMBRO INFERIOR
DOUTORAMENTO EM CIÊNCIAS DO DESPORTO
Orientador: Professor Dr. Nelson Joaquim F. Sousa
Professora Dr.ª Luzia Iara Pfeifer
UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO VILA REAL, 2013
O FUTEBOL E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O
DESEMPENHO FUNCIONAL E SOCIAL DE
INDIVÍDUOS AMPUTADOS DE MEMBRO INFERIOR
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Dissertação foi expressamente elaborada com vista à obtenção do grau de Doutor em Ciências do Desporto de acordo com o disposto no Decreto-Lei 107/2008 de 25 Junho.
! ! Orientadores: Professor Dr. Nelson Joaquim F. Sousa
Professora Dr.ª Luzia Iara Pfeifer
UTAD Vila Real
Monteiro, Rogeria Pimentel de Araujo
O FUTEBOL E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O DESEMPENHO FUNCIONAL E SOCIAL DE INDIVÍDUOS AMPUTADOS DE MEMBRO INFERIOR / Rogeria Pimentel de Araujo Monteiro,
Orientadores: Professor Dr. Nelson Joaquim F. Sousa Professora Dr.ª Luzia Iara Pfeifer
Dissertação (Doutoramento) Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
PALAVRAS-CHAVE: Futebol de amputados. CIF. Instrumento de avaliação. Validação. Desempenho funcional. Desempenho social.
Agradecimentos
Muito tenho a agradecer por todo apoio e incentivo recebido durante a elaboração deste trabalho:
Em primeiro lugar agradeço a Deus, pelo dom da vida, pela presença constante em todos os meus dias, por sua imensa graça e pelas misericórdias que se renovam cada amanhecer.
Agradeço também:
Ao Profº Dr Nelson Sousa, que se dispôs a estar comigo nesta árdua jornada, compartilhando um pouco do seu tempo e de seus conhecimentos. Muito obrigada por suas orientações.
À Profª Doutora Luzia Iara Pfeifer, minha co-orientadora e amiga, por compartilhar comigo seus conhecimentos, pelo compromomisso irrepreensível durante todo o processo de construção desta pesquisa, pela paciência, respeito e ética. Muito Obrigada!
À Universidade do Estado do Pará, pelo apoio e incentivo à qualificação docente. Aos amigos do Departamento de Terapia Ocupacional da UEPA, à equipe gestora da UEAFTO e todo seu corpo técnico, pelo constante apoio e incentivo.
À Associação Brasileira de Desporto para o Deficiente Físico (ABDF), à Associação Paraense de Portadores de Deficiência (APPD), à Unidade de Referência Demétrio Medrado, ao Centro de Reabilitação do Amapá (CREAP), às equipes de futebol de amputados de Belém, Goiânia, Brasília, Belo Horizonte, Niterói, Praia Grande, Mogi das Cruzes e Maringá, por terem apoiado esta pesquisa e viabilizado a coleta dos dados.
Aos meus queridos amigos e auxiliares de pesquisa: Sabrina Queiroz, Natália Araujo e Otávio Folha, minha gratidão e carinho por todo apoio que me foi dedicado. Muito obrigada!
Ao meu querido Pai (in memorian) e a minhã mãezinha, meus primeiros mestres. A vocês devo tudo o que sou hoje.
Ao meu esposo (Romulo) e às minhas filhas (Livia e Lurian), pessoas que tanto amo e que estiveram ao meu lado. Obrigada pelo amor, pelo carinho e pela compreensão.
Às minhas irmãs (Roselaine e Rejane) pelo apoio e incentivo. À Renata Oliveira, pelo auxílio na coleta de dados em Maringá.
A Alex Santos, pela amizade e pelo apoio e dedicação no processo de análise estatística.
Aos amigos do cuso de Terapia ocupacional da UNAMA, pelo apoio e pela compreensão.
família, as angústias e dúvidas, mas também os momentos de descontração e lazer. À Rita, Marizete, Iraci, Simone, Moisés, Ivan, Divaldo, Gil, Josenaldo, Aderson, Emanuel e tantos e tantos outros. Foi bom ter vocês por perto. Vocês tornaram os dias longe de casa mais alegres.
Índice Geral
Índice de Quadros ... VIII Índice de Figuras ... XI Lista de Abreviaturas ... XIII Lista de Símbolos ... XVI Resumo ... XVII Abstract ... XVIII CAPÍTULO I ... 1 1. Introdução ... 2 1.1. Estrutura da Tese ... 6 1.2. Bibliografia ... 7
CAPÍTULO II – REVISÃO DA LITERATURA ... 11
2.1. Amputações de membro inferior ... 12
2.2. Esporte e Deficiência Física ... 17
2.2.1. A história do esporte adaptado no mundo e no Brasil ... 17
2.2.2. A importância do esporte adaptado e suas diferentes modalidades ... 24
2.3 A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) e suas possibilidades como instrumento de pesquisa. ... 29
2.4. Bibliografia ... 36
CAPÍTULO III – PARTE EXPERIMENTAL ... 47
3.1. Estudo 1 - Validação do Checklist Desempenho Funcional e Social - DFS-84: estudo preliminar ... 48 3.1.1. Introdução ... 48 3.1.2. Material e Métodos ... 52 3.1.3. Resultados ... 57 3.1.4. Discussão ... 69 3.1.5. Conclusões ... 73 3.1.6. Bibliografia ... 75
3.2. Estudo 2. Desempenho funcional e social de amputados de membro inferior: estudo comparativo ... 82
3.2.1. Introdução ... 82 3.2.2. Material e Métodos ... 86 3.2.3. Resultados ... 90 3.2.4. Discussão ... 122 3.2.5. Conclusões ... 131 3.2.6. Bibliografia ... 132
Quadro 1: Estrutura da Tese ... 6
Quadro 2: Níveis de Amputação ... 14
Quadro 3: Edições dos jogos olímpicos de 1960 a 2004 (Adaptado de “Introdução a como funcionam os Jogos Paraolímpicos”). ... 20
Quadro 4: Visão Geral dos componentes da CIF. (OMS, 2008) ... 30
Quadro 5: 1º Qualificador geral da CIF ... 31
Quadro 6: Qualificador comum ... 31
Quadro 7: Segundo qualificador para estruturas do corpo ... 32
Quadro 8: Terceiro qualificador para Estruturas do Corpo ... 32
Quadro 9: Escala para os qualificadores de Atividade e Participação. ... 32
Quadro 10: Escala negativa e positiva para especificar os Fatores Ambientais. . 33
Quadro 11: Fase 1 - Pontuação das questões ... 55
Quadro 12: Confiabilidade do instrumento avaliada pelo Alfa de Cronback. ... 58
Quadro 13: Avaliação da validade inter-avaliador do Domínio AO – Aspectos orgânicos, com a apresentação das medidas de tendência central e variação dos escores fornecidos pelos quatro avaliadores, n=30. ... 59
Quadro 14: Avaliação da concordância inter-avaliadores (replicabilidade) do Domínio AO – Aspectos orgânicos, avaliada através da correlação intraclasse dos resultados emitidos pelos avaliadores: avaliador 1 (n= 30), avaliador 2 (n= 30), avaliador 3 (n= 30), avaliador 4 (n= 30). ... 60
Quadro 15: Avaliação da validade inter-avaliadores do Domínio AC – Atividades Cotidianas, com a apresentação das medidas de tendência central e variação dos escores fornecidos pelos quatro avaliadores, n=30. ... 61
Quadro 16: Avaliação da concordância inter-avaliadores (replicabilidade) do Domínio AC – Atividades Cotidianas, avaliada através da correlação intraclasse dos resultados emitidos pelos avaliadores: Avaliador 1 (n= 30), Avaliador 2 (n= 30), Avaliador 3 (n= 30), Avaliador 4 (n= 30). ... 61
Quadro 17: Avaliação da validade inter-avaliadores do Domínio CD – Componentes do Desempenho, com a apresentação das medidas de tendência central e variação dos escores fornecidos pelos quatro avaliadores, n=30. ... 62
Quadro 18: Avaliação da concordância inter-avaliadores (replicabilidade) do Domínio CD – Componentes do Desempenho, avaliada através da correlação intraclasse dos resultados emitidos pelos avaliadores: Avaliador 1 (n= 30), Avaliador 2 (n= 30), Avaliador 3 (n= 30), Avaliador 4 (n= 30). ... 63
Quadro 19: Avaliação da validade inter-avaliador do Domínio PS – Participação Social, com a apresentação das medidas de tendência central e variação dos escores fornecidos pelos quatro avaliadores, n=30. ... 64
Quadro 20: Avaliação da concordância inter-avaliadores (replicabilidade) do Domínio PS – Participação Social, avaliada através da correlação intraclasse dos resultados emitidos pelos avaliadores: Avaliador 1 (n= 30), Avaliador 2 (n= 30), Avaliador 3 (n= 30), Avaliador 4 (n= 30). ... 65
escores fornecidos pelos quatro avaliadores, n=30. ... 66
Quadro 22: Avaliação da concordância inter-avaliadores (replicabilidade) do
Domínio FA – Fatores Ambientais, avaliada através da correlação intra-classe dos resultados emitidos pelos avaliadores: Avaliador 1 (n= 30), Avaliador 2 (n= 30), Avaliador 3 (n= 30), Avaliador 4 (n= 30). ... 66
Quadro 23: Avaliação da reproductibilidade intra-avaliador, expressa através do
Coeficientes de correlação Intraclasse. ... 67
Quadro 24: Estatísticas descritivas dos 5 domínios para o GP (n=69) e NP
(n=69). ... 68
Quadro 25: Resumo das principais regras do Futebol de Amputados. ... 83 Quadro 26: Demonstrativo do número de itens significantes em cada domínio do
checklist. ... 93
Quadro 27: Distribuição das categorias do Domínio AO – Aspectos Orgânicos,
componente Funções do Corpo em dois grupos: GP – Grupo de Praticantes
(n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 95
Quadro 28: Distribuição das categorias do Domínio AO – Aspectos Orgânicos,
componente Estruturas do Corpo em dois grupos: GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 96
Quadro 29: Distribuição das categorias do Domínio AC – Atividades Cotidianas,
componente Tarefas e Exigências Gerais em dois grupos: GP – Grupo de
Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 97
Quadro 30: Distribuição das categorias do Domínio AC – Atividades Cotidianas,
componente Aquisição do Necessário para viver, em dois grupos: GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 98
Quadro 31: Distribuição das categorias do Domínio AC – Atividades Cotidianas,
componente Tarefas Domésticas em dois grupos: GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 100
Quadro 32: Distribuição das categorias do Domínio AC – Atividades Cotidianas,
componente Cuidar dos objetos da casa e ajudar os outros em dois grupos: GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 101
Quadro 33: Distribuição das categorias do Domínio AC – Atividades Cotidianas,
componente Vida Econômica em dois grupos: GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 102
Quadro 34: Distribuição das categorias do Domínio AC – Atividades Cotidianas,
componente Auto Cuidados em dois grupos: GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 103
Quadro 35: Distribuição das categorias do Domínio AC – Atividades Cotidianas,
componente Andar e deslocar-se em dois grupos: GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 105
Quadro 36: Distribuição das categorias do Domínio AC – Atividades Cotidianas,
componente Deslocar-se Utilizando Transporte em dois grupos: GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 106
Quadro 37: Distribuição das categorias do Domínio D3 – Componentes de
Desempenho, componente Mudar e Manter a Posição do Corpo em dois grupos: GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 107
Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 109
Quadro 39: Distribuição das categorias do Domínio D4 – Participação Social,
ação Interações Interpessoais Gerais em dois grupos: GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 110
Quadro 40: Distribuição relativa (%) das categorias do Domínio D4 –
Participação Social, ação Relacionamentos Interpessoais Particulares em dois grupos: GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 112
Quadro 41: Distribuição relativa (%) das categorias do Domínio D4 – Participação
Social, componente Educação no GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 113
Quadro 42: Distribuição relativa (%) das categorias do Domínio D4 – Participação
Social, componente Trabalho no GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 114
Quadro 43: Distribuição relativa (%) das categorias do Domínio D4 – Participação
Social, componente Vida Comunitária Social e Cívica, no GP – Grupo de
Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 115
Quadro 44: Distribuição relativa (%) das categorias do Domínio D5 – Fatores
Ambientais, componente produtos e tecnologias, no GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 117
Quadro 45: Distribuição relativa (%) das categorias do Domínio D5 – Fatores
Ambientais, componente apoios e relacionamentos, no GP – Grupo de
Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 119
Quadro 46: Distribuição relativa (%) das categorias do Domínio D5 – Fatores
Ambientais, componente atitudes, no GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 120
Quadro 47: Distribuição relativa (%) das categorias do Domínio D5 – Fatores
Ambientais, ação Serviços, sistemas e políticas, no GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 121
Figura 1: Classificação das amputações. (Adaptado de Adams et al.,1985) ... 14 Figura 2: Fórmulas utilizadas para o cálculo dos domínios ... 56 Figura 3: Média e erro padrão do Domínio AO – Aspectos orgânicos dos
resultados emitidos pelos quatro examinadores (n= 30). ... 60
Figura 4: Média e erro padrão do Domínio AC – Atividades Cotidianas dos
resultados emitidos pelos quatro avaliadores (n= 30) ... 62
Figura 5: Média e erro padrão do Domínio AC – Atividades Cotidianas dos
resultados emitidos pelos quatro avaliadores (n= 30). ... 63
Figura 6: Média e erro padrão do Domínio PS – Participação Social dos
resultados emitidos pelos quatro avaliadores, (n= 30). ... 65
Figura 7: Média e erro padrão do Domínio FA – Fatores Ambientais dos
resultados emitidos pelos quatro avaliadores, (n= 30). ... 67
Figura 8: Média e Erro padrão dos 5 domínios do DFS, para os grupos: GP
(n=69) e NP (n=69) ... 69
Figura 9: Frequências relativas (%) das categorias do Domínio AO – Aspectos
Orgânicos, componente Funções do Corpo em dois grupos: GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 95
Figura 10: Frequências relativas (%) das categorias do Domínio AO – Aspectos
Orgânicos, componente Estruturas do Corpo em dois grupos: GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 96
Figura 11: Frequências relativas (%) das categorias do Domínio AC – Atividades
Cotidianas, componente Tarefas e Exigências Gerais em dois grupos: GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 98
Figura 12: Frequências relativas (%) das categorias do Domínio AC – Atividades
Cotidianas, componente Aquisição do que é necessário para viver, em dois grupos: GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 99
Figura 13: Frequências relativas (%) das categorias do Domínio AC – Atividades
Cotidianas, componente Tarefas domésticas, em dois grupos: GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 100
Figura 14: Frequências relativas (%) das categorias do Domínio AC – Atividades
Cotidianas, componente cuidar dos objetos da casa e ajudar os outros, em dois grupos: GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 101
Figura 15: Frequências relativas (%) das categorias do Domínio AC – Atividades
Cotidianas, componente vida econômica, em dois grupos: GP – Grupo de
Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 102
Figura 16: Frequências relativas (%) das categorias do Domínio AC – Atividades
Cotidianas, componente auto cuidados, em dois grupos: GP – Grupo de
Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 105
Figura 18: Frequências relativas (%) das categorias do Domínio AC – Atividades
Cotidianas, componente deslocar-se utilizando transporte em dois grupos: GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 106
Figura 19: Frequências relativas (%) das categorias do Domínio CD –
Componentes de Desempenho, componente mudar e manter a posição do corpo em dois grupos: GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não
Praticantes (n=69). ... 108
Figura 20: Frequências relativas (%) das categorias do Domínio CD -
Componentes de Desempenho, ação transportar, mover e manusear objetos em dois grupos: GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 109
Figura 21: Frequências relativas (%) das categorias do Domínio D4 –
Participação Social, componente Interações Interpessoais Gerais em dois grupos: GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 111
Figura 22: Frequências relativas (%) das categorias do Domínio D4 –
Participação Social, componente interações interpessoais particulares em dois grupos: GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 113
Figura 23: Frequências relativas (%) das categorias do Domínio D4 –
Participação Social, componente educação em dois grupos: GP – Grupo de
Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 114
Figura 24: Frequências relativas (%) das categorias do Domínio D4 –
Participação Social, ação trabalho em dois grupos: GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 115
Figura 25: Frequências relativas (%) das categorias do Domínio D4 –
Participação Social, ação vida comunitária social e cívica em dois grupos: GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 116
Figura 26: Frequências relativas (%) das categorias do Domínio D5 – Fatores
Ambientais, ações, produtos e tecnologias de apoio para uso pessoal na vida diária em dois grupos: GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 118
Figura 27: Frequências relativas (%) das categorias do Domínio D5 – Fatores
Ambientais componente apoios e relacionamentos GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 119
Figura 28: Frequências relativas (%) das categorias do Domínio D5 – Fatores
Ambientais componente atitudes no GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 120
Figura 29: Frequências relativas (%) das categorias do Domínio D5 – Fatores
Ambientais serviços, sistemas e políticas no GP – Grupo de Praticantes (n=69) e NP – Grupo de não Praticantes (n=69). ... 121
ABDA - Associação Brasileira de Desporto para Amputados
ABDC - Associação Brasileira de Desporto para Cegos
ABDEM - Associação Brasileira de Desporto para Deficientes Mentais
ABDF - Associação Brasileira de Desporto para Deficientes Físicos
ABRADECAR - Associação Brasileira de Desporto em Cadeira de Rodas
AC - Atividades Cotidianas
AIVD - Atividades Instrumentais da Vida Diária
ANDE - Associação Nacional de Desporto para Deficientes
ANDEF - Associação Niteroiense de Deficientes Físicos
ANOVA - Análise de Variância
AO - Aspectos Orgânicos
APPD - Associação Paraense dos Portadores de Deficiência
AVP - Atividades da Vida Prática
BASA - British Amputee Sports Association
BBS - Berg Balance Scale
BI - Barthel Index
BSAD - British Sports Association for the Disabled
CD - Componentes de Desempenho
CIDID - Classificação Internacional de deficiências, incapacidades e desvantagens
CIF - Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e
Saúde
CMSA - Chedoke McMaster Stroke Assessment Scale
CPB - Comitê Paraolímpico Brasileiro
CPISRA - Cerebral Palsy International Sports and Recreation Association
DEPED - DepartamentodeDesportosparaPessoasPortadorasde Deficiência
DFS-84 - Checklist do Desempenho Funcional e Social para Amputados
de Membro Inferior -84
DFS - Checklist do Desempenho Funcional e Social para o
Amputado de Membro Inferior
DVP - Doenças Vasculares Periféricas
FAI - Frenchay Activities Index
FIM - Functional Independence Measure
FMRP - Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
GP - Grupo Praticante
IBSA - International Blind Sports Federation
ICF - International Classification of Functioning, Disability and Health
ICIDH - International Classification of Impairment, Disabilities and Handicaps
IOSD - International Organization of Sport for the Disabled
IPC - International Paralympic Commite
IWAS - International Wheelchair and Amputee Sports Federation
MI - Membro Inferior
MIF - Medida de Independência Funcional
MMII - Membros Inferiores
MMSS - Membros Superiores
NHP - Nottingham Health Profile
NP - Não praticantes
OMERACT - Outcome Measures in Rheumatoid Arthritis Clinical Trials
OMS - Organização Mundial de Saúde
PAF - Projetil de Arma de Fogo
PS - Participação Social
PVA - Paralyzed Veterans of America
QQVA - Questionário de Qualidade de Vida para Atletas
RMA - Rivermead Motor Assessment
RMI - Rivermead Mobility Index
RS - Rankin Scale
SASIP30 - Stroke Adapted Sickness Impact Profile 30
SEDES - Secretaria dos Desportos da Presidência da República
SESPA - Secretaria de Estado de Saúde do Pará
SF36 - Medical Outcomes Study Short Form 36
TUG - Timed Up and Go test
UEPA - Universidade do Estado do Pará
USP - Universidade de São Paulo
WHA - World Health Assemby
N - População n - Amostra < - Menor
A prática do desporto tem contribuído para manutenção da saúde física, psíquica e social, refletindo-se também na melhoria da qualidade de vida dos indivíduos. As contribuições do desporto se estendem também aos indivíduos com deficiência. Nessa população, diversas modalidades desportivas têm sido utilizadas como ferramenta de reabilitação e inclusão social. Dentre os desportos praticados por pessoas com deficiências, destaca-se o futebol de amputados. Esse esporte assemelha-se ao futebol society; as regras sofrem, somente, pequenas alterações. O futebol de amputados vem sendo praticado em diversos países do mundo e em diferentes continentes, entretanto poucas pesquisas envolvendo esse esporte têm sido realizadas. Por isso, este estudo teve como objetivos: Elaborar, aplicar e validar um instrumento para avaliar o desempenho funcional e social de sujeitos amputados de membro inferior, baseado na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF); Identificar o nível de desempenho funcional de indivíduos adultos, amputados unilateral de MI, que praticam o futebol de amputados; Identificar o nível de desempenho social de indivíduos adultos, amputados unilateral de MI, que praticam o futebol de amputados. Participaram do estudo 138 sujeitos do sexo masculino, amputados de membro inferior, divididos em dois grupos: Grupo praticante do desporto - GP (n=69) e Não-praticante - NP (n=69). Como instrumento de pesquisa, utilizou-se um checklist baseado na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), contendo 108 itens, relacionados às funções músculo-esqueléticas, às atividades do cotidiano, aos relacionamentos interpessoais e aos aspectos ambientais. A aplicação do checklist foi feita individualmente com cada participante. No processo de validação do instrumento, realizado com 30 sujeitos do total da pesquisa, visando favorecer a análise estatística, agrupou-se os itens do instrumento em domínios, (Aspectos Orgânicos-AO, Atividades Cotidianas-AC, Componentes do Desempenho-CD, Participação Social-PS e Fatores ambientais-FA); em seguida, realizou-se filmagem da aplicação do instrumento. Posteriormente, quatro avaliadores assistiram aos filmes em dois momentos, realizando-se a pontuação. Na análise estatística, utilizou-se a Correlação Intraclasse para avaliar a reproductibilidade intra e inter-avaliador; para a consistência interna, calculou-se o alfa de Cronbach; para a validade de critério, aplicaram-se os testes t de Student e U de Mann-Whitney. Fixou-se o nível de significância de 0,01 para rejeição da hipótese de nulidade. A comparação do desempenho funcional e social dos dois grupos foi realizada por meio do teste Qui-quadrado de aderência para verificar a distribuição dos qualificadores entre os dois grupos e o Teste de Mann Whitney para comparar os escores de dois grupos independentes. No processo de validação do instrumento, os resultados demonstraram boa confiabilidade nos escores dos domínios AO, AC, CD e PS e razoável confiabilidade no FA. As diferenças entre avaliadores realizadas pela Análise de Variância não foram significantes, não mostrando real diferença entre eles. A Confiabilidade Intra-avaliador, realizada pelo método teste reteste, mostrou em todos os domínios altos níveis de correspondência intra-avaliador. Na comparação entre o GP e o NP, os resultados mostraram que quanto à função corporal e estrutura corporal, componentes do desempenho ocupacional e atividades do cotidiano, o GP apresentou um desempenho superior ao NP com resultados estatisticamente significantes. Quanto aos aspectos referentes à participação social e aos fatores ambientais, os resultados não mostraram diferenças estatisticamente significantes. Em suma, a prática de atividade desportiva contribui com a melhora do desempenho funcional de sujeitos amputados de membro inferior. O estudo mostrou ainda a replicabilidade do instrumento intra e inter-avaliador e sua consistência interna. Conclui-se, por fim, que instrumento baseado na CIF possibilita análise detalhada das múltiplas dimensões do processo de saúde e funcionalidade humana.
Palavras-chave: Futebol de amputados. CIF. Instrumento de avaliação. Validação. Desempenho
The practice of sports contributes to the maintenance of one’s physical, psychological, and social health, thus reflecting improved quality of life. Its benefits also favor individuals with disabilities. Various modalities of sports have been used in this population as a tool to facilitate rehabilitation and social inclusion. Amputee soccer stands out among the sports practiced by individuals with disabilities. This sport is similar to indoor soccer, with slightly different rules. Although the amputee soccer is practiced in various countries and on different continents, few studies address this sport. Therefore, this study’s objectives include: the development, application and validation of an instrument to evaluate the functional and social performance of individuals with lower limb amputation based on the International Classification of Functioning, Disability and Health (ICF); to identify the level of functional development of adult individuals, with unilateral lower limb amputation, who practice amputee soccer. A total of 138 male individuals with lower limb amputation were divided into two groups: the Sport’s Practitioner Group (GP) and the Non-practitioner Group (NP), with 69 individuals each. The checklist containing 108 items based on the ICF was used. Such items are related to musculoskeletal functions, daily activities, interpersonal relationships, and environmental aspects. The checklist was applied individually. The instrument was validated with 30 individuals from the total. To facilitate statistical analysis during this process, the instrument’s items were grouped into domains (Organic Aspects-AO, Daily Tasks-AC, Performance Components-CD, Social Participation-PS, and Environmental Factors-FA). The instrument’s application was videotaped. Afterwards, four evaluators watched the footage at two different points in time and scored the process. Intraclass correlation was used in the statistical analysis to evaluate intra- and inter-rater reproducibility. Cronbach’s alpha was computed to verify internal consistency and Student’s t test and the Mann Whitney U test were applied for criterion validity. The level of significance was fixed at 0.01 to reject the null hypothesis. Comparison of the functional and social performance of the two groups was accomplished through Chi-square adherence test to verify the distribution of qualifiers between the two groups, while the Mann Whitney test was used to compare the scores of the two independent groups. The results concerning the instrument’s validation showed good reliability in the scores of the domains AO, AC, CD and PS and reasonable reliability in the FA domain. The differences among the raters, verified through Analysis of Variance, were not significant; there were no real differences among them. Intra-rater reliability, verified through the test retest method, showed high levels of intra-rater agreement in all domains. The results, concerning the comparison between the groups, revealed that the GP presented a statistically significant better performance than the NP in relation to body function and body structure, which are components of the Occupational Performance and Daily Tasks domains. With regard to aspects concerning social participation and environmental factors, no significant differences were observed. In summary, the practice of sports contributes to improvement in the functional performance of individuals with lower limb amputation. The study also showed the instrument’s intra- and inter-rater reproducibility and its internal consistency. The conclusion is that the instrument based on the ICF enables a detailed analysis of multiple dimensions of the health process and human functionality.
Key words: amputee soccer. ICF. Evaluation instrument. Validation. Functional Performance.
CAPÍTULO I
IN
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O FUTEBOL E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O DESEMPENHO FUNCIONAL E SOCIAL DE INDIVÍDUOS AMPUTADOS DE MEMBRO INFERIOR
1. Introdução
A prática de exercício físico tem mostrado de uma forma evidente a sua eficácia na promoção e na manutenção da saúde física, psíquica e social, reflectindo-se na melhoria da qualidade de vida dos indíviduos.
As contribuições do exercício, ou do desporto organizado, não se restringem apenas às pessoas que não apresentam nenhum tipo de disfunção, mas também aos indivíduos com deficiência. Nesta população específica, o exercício físico, sob a forma de diversas modalidades desportivas, é utilizado como ferramenta de reabilitação e inclusão social, contribuindo fundamentalmente para reduzir os riscos de problemas secundários, aumentar a capacidade funcional, promover a autonomia e independência (Conde et al., 2006; Hidde et al. 2004).
Costa (2000) refere que o exercício físico, principalmente quando realizado em grupo, é de fundamental importância, por facilitar a aquisição da identidade social, por permitir aos participantes sentir e ter compromisso com algo e com o grupo, desenvolver um grande grau de amizade com outros participantes, viver sentimentos de confiança e relações de companheirismo e desenvolver comportamentos afetivos.
A literatura disponível refere que os indivíduos com deficiência motora que praticam atividades desportivas, paralela ou posteriormente ao programa de reabilitação, desenvolvem habilidades motoras e psicossociais que trazem grandes benefícios para suas vidas, principalmente quando comparados aos que não praticam tais atividades (Silva et al., 2005).
O desporto adaptado para indivíduos com deficiência tem-se desenvolvido desde os séculos XVIII e XIX, mas os primeiros registros datam de 1918, na Alemanha. Seu uso como ferramenta para reabilitação é atribuída, entre outros, a Per Henrik Ling (1776-1839), pesquisador sueco que estabeleceu um sistema de ginástica médica na Universidade de Estocolmo. Posteriormente, o termo ginástica médica foi transferido para outros países da Europa e para a América, entretanto não foi bem aceito. Os EUA passaram a utilizar, então, o termo ginástica corretiva e, mais
tarde, esportes para deficientes, educação física especial, educação física adaptada e, finalmente, atividade física adaptada – APA (Hutzler, 2010).
No Brasil, o desporto adaptado foi introduzido em 1958. No ano de 1969, o Brasil participou dos II Jogos Pan-americanos em Buenos Aires e, em 1972, teve a sua primeira participação nos jogos Paraolímpicos (Alemanha). Desde então, o Brasil vem participando em todos os jogos Paraolímpicos, e a prática do desporto por pessoas com deficiências vem crescendo consideravelmente.
Desde 1980, a Atividade Física Adaptada (APA) encontra-se fortemente associada a uma compreensão ecológica do desenvolvimento humano, que estuda as inter-relações mútuas entre a pessoa, o ambiente e a tarefa. Nessa, considera-se que os indivíduos possuem recursos que lhes permitem lidar com os desafios ambientais. O objetivo de uma tarefa pode ser determinado pela pessoa ou imposto por estímulos ambientais, tais como instrução, ensino ou tratamento terapêutico. Essa visão é consistente com a maior parte dos componentes incluídos na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), aceita entre os serviços de reabilitação em muitos países do mundo. O modelo da CIF tem sido proposto como um quadro de intervenção para conceituar o comportamento da atividade física, a classificação dos desportos e as modalidades de adaptação (Hutzler, 2010).
Na tentativa de compreender melhor a influência do esporte para a vida dos individuos com deficiência, nesta pesquisa recorreu-se à Classificação Internacional de Funcionalidade Incapacidade e Saúde – CIF (OMS, 2003), visto que essa classificação possui uma linguagem comum e universal que descreve a saúde e os estados relacionados com a saúde.
A CIF classifica os processos de funcionalidade e de incapacidade de um indivíduo e contextualiza essas variáveis com a interação entre uma condição de saúde e os fatores do contexto pessoal e ambiental. Nessa classificação, destacam-se três categorias, denominadas estrutura do corpo, funções do corpo e atividade e participação. As referidas categorias são interdependentes e todas sofrem influências dos fatores do contexto (OMS, 2003; Farias; Buchalla, 2005).
Os componentes de funcionalidade referentes à atividade e à participação descrevem as atividades diárias desempenhadas pelo indivíduo. O ambiente em que o indivíduo atua pode agir como facilitador ou como barreira para o seu desempenho funcional e social; devendo, portanto, ser considerado (OMS, 2003; Farias, Buchalla, 2005).
A CIF define o desempenho como as atividades realizadas por um indivíduo em seu ambiente habitual, o que inclui também seu contexto social. Assim, o desempenho pode também ser compreendido como o real envolvimento de cada sujeito nas diferentes situações da vida (OMS, 2003). Fundamentados na CIF, Rimmer et al. (2004) realizaram estudo que objetivou identificar uma série de barreiras e facilitadores para a participação das pessoas com deficiência em programas de recreação e desporto.
Vários outros estudos envolvendo a CIF e indivíduos deficientes foram publicados ao longo dos últimos anos: Enfocando a Artrite reumatóide, Coenen et al. (2006), e Stuki (2007). Relacionado à Esclerose Múltipla, destaca-se Khan e Pallant (2007). Envolvendo a Fibromialgia, destaca-se Prodinger (2008). E, por fim, relacionado à amputação, destaca-se Hebert et al. (2009) e Deathe (2009). Outros estudos, também relacionados à CIF, abordaram mais especificamente a construção de instrumentos de avaliação. Stam et al. (2005) validaram um Core para indivíduos com Artrite Reumatoide, enquanto que Kohler et al. (2009) desenvolveram um Core Sets para amputados.
Considerando-se que a própria OMS, através da 54ª Assembleia Mundial de Saúde, recomendou a utilização da CIF em pesquisas científicas (OMS, 2003), reconhece-se ainda a escassez de estudos nesta área, justificando-se, portanto, a importância de estudos desta natureza. Assim sendo, apresenta-se as seguintes questões de pesquisa:
! A CIF pode se mostrar eficiente para fundamentar construção de um instrumento para avaliação do desempenho funcional de amputados de membro inferior?
! A CIF possui elementos suficientes que possibilitem a elaboração de um instrumento para avaliação do desempenho social de amputados de membro inferior?
! Um instrumento determinado a avaliar o desempenho funcional e social de amputados de membro inferior, construído unicamente com os fundamentos da CIF, poderá mostrar Confiabilidade e Validade de Critério?
Visando responder a essas questões, o presente estudo tem como objetivo elaborar, aplicar e validar um instrumento para avaliar o desempenho funcional e social de sujeitos amputados de membro inferior (MI), baseado na CIF.
Muitos outros estudos investigaram a importância das variadas modalidades desportivas para pessoas com deficiências físicas diversas: Labroncini et al. (2000) ressaltaram a eficácia do esporte na inclusão social de pessoas deficientes; Romberg et al. (2004) procuraram estabelecer correlações entre capacidade respiratória e a atividade física de lazer em indivíduos com Esclerose Múltipla; Silva et al. (2005) procuraram identificar os efeitos da natação sobre as habilidades funcionais de lesados medulares; Gorla et al. (2005) avaliaram a capacidade motora de indivíduos com sequelas de Poliomielite; Strick e Diss (2005) avaliaram a capacidade de realizar o salto entre sujeitos com amputação transtibial; Yazicioglu et al. (2007) procuraram conhecer os efeitos do futebol americano para pacientes Amputados.
Apesar das várias pesquisas envolvendo o desporto adaptado e suas contribuições, outro ponto que merece destaque é a necessidade de estudos envolvendo os amputados, e mais especificamente o futebol de amputados. Estudos que possam comprovar as reais vantagens da prática dessa modalidade desportiva para sujeitos que possuem amputações de membro inferior. Dessas constatações, resultaram as seguintes questões de pesquisa:
! A prática do desporto pode contribuir para aumentar o nível de desempenho funcional de indivíduos que sofreram amputação unilateral de Membro Inferior (MI) ?
! A prática do desporto pode contribuir para aumentar o nível de desempenho social de indivíduos que sofreram amputação unilateral de MI?
! Quais são as habilidades funcionais e sociais que a prática do futebol tem favorecido aos indivíduos que sofreram amputação unilateral de MI?! Visando, assim, encontrar respostas para as questões formuladas, o presente estudo objetivou ainda identificar o nível de desempenho funcional de indivíduos adultos, amputados unilateral de MI, que praticam o futebol de amputados; e identificar o nível de desempenho social de indivíduos adultos, amputados unilateral de MI, que praticam o futebol de amputados.
1.1. Estrutura da Tese
A tese está estruturada em quatro capítulos, conforme se apresenta no quadro 1:
Quadro 1: Estrutura da Tese
Titulo Objetivo
Capítulo I Introdução Apresenta a introdução da temática e o enquadramento contextual da tese.
Capítulo II Revisão da Literatura Apresenta uma breve revisão de literatura. Capítulo III Parte Experimental É composto por dois estudos e procura
responder aos objetivos estabelecidos. Estudo 1 Validação do Checklist
Desempenho Funcional e Social - DFS-84: estudo preliminar
Tem o objetivo de descrever o processo de Validação do instrumento utilizado na pesquisa - (DFS-84).
Estudo 2 Desempenho funcional e social de amputados de membro inferior: Estudo comparativo
Apresenta o estudo comparativo do desempenho funcional e social de amputados de membro inferior que praticam o futebol, e de amputados que não realizam esportes.
Capítulo IV Conclusões e considerações finais
Este capítulo traz as principais conclusões e as considerações finais da tese .
1.2. Bibliografia
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CAPÍTULO II – REVISÃO DA LITERATURA
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O FUTEBOL E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O DESEMPENHO FUNCIONAL E SOCIAL DE INDIVÍDUOS AMPUTADOS DE MEMBRO INFERIOR
2.1. Amputações de Membro Inferior 2.2. Esporte e Deficiência Física
2.3. A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) e suas possibilidades como instrumento de pesquisa.
2.1. Amputações de membro inferior
Uma amputação pode ser definida como a remoção cirúrgica ou traumática de um órgão ou segmento dele (Garcia et al., 2002), ou como a ablação ou a remoção total ou parcial de um membro ou parte dele. Trata-se de um termo derivado do latim ambi que significa ao redor de, + putatio que significa podar ou retirar. A parte residual do membro após a amputação é denominada de coto (Sales, 2007; Chamlian, 2007; Pedrinelli, 1994; Carvalho, 2003).
Os registros de amputações datam do início da humanidade. Pesquisas encontradas em pinturas na Europa identificam o uso de prótese (pé de cabra) em esqueletos de 2300 a.C. (Lianza, 2007). Entretanto, maior número de amputações se deu após a 1ª Guerra Mundial, quando se estima que somente na Europa ocorreram em torno de 300.000 amputações (Santos et al., 2010).
Para Sales (2007), as amputações, entre os vários tipos de disfunções ortopédicas, são as que mais resultam em incapacidade física. Muitas são as causas que podem resultar em uma amputação, entre elas podemos citar: diabetes; doença vascular; infecção; neuropatias; trauma agudo, com ou sem infecção; sequelas traumáticas tardias, com ou sem infecção; tumores malígnos ou benígnos; a literatura salienta ainda que existem as amputações por má-formação congênita (Santos et al., 2010; Trautner, 2007; Carmona et al., 2005). Quanto à incidência, nos países que realizam o controle, esse número é considerável. Uma pesquisa efetivada nos Estados Unidos revelou que, em 2005,
havia 1,6 milhão de pessoas com amputação. Desses indivíduos, 42% eram
não-brancos e 38% tiveram uma amputação secundária à doença vascular, como comorbidade de diabetes mellitus (Ziegler-Graham, 2008). No Brasil, apesar de não existirem índices oficiais, estima-se que esse número seja mais elevado em virtude da incidência de doenças tropicais, como a Hanseníase, dos altos índices de acidente de trânsito e da baixa atenção dada aos indivíduos portadores de diabetes, que por vezes desenvolvem pé diabético, resultando em amputação do membro inferior (Pinto, 2007).
Keenan e Morris (2004) referem que a cada ano estimam-se 40.000 novos casos de amputação de membros entre os americanos. Os autores ressaltam ainda que
as principais causas de amputações de MI são as doenças vasculares periféricas (DVP), seguidas dos traumas, geralmente por acidentes automobilísticos, ou por lesões por projétil de arma de fogo (PAF). As incidências mostram ainda que as causas traumáticas acometem indivíduos adultos jovens e são mais incidentes no sexo masculino, enquanto que as DVP afetam mais os indivíduos acima de 60 anos e geralmente são comorbidades do diabetes mellitus (Pinto, 2007; Keenan; Morris, 2004; Dillinghan et al., 2002).
Sales (2007) compara as amputações de Membros Superiores e Membros Inferiores e ressalta que as primeiras representam apenas 20% do total, e que suas principais etiologias são traumáticas (causadas por acidentes de trabalho e por explosivos) e tumorais.
Uma amputação deve, sempre que possível, respeitar os princípios da funcionalidade, ou seja, o procedimento deve favorecer um melhor potencial funcional, assim como um bom potencial para futura protetização (Ramos; Salles, 2003). Para tanto, faz-se necessária a escolha, quando possível, de um bom nível de amputação, já que quanto mais alto for esse nível, ou quanto menor o comprimento do coto, maior será a perda funcional (Keenan, Morris, 2004; Ramos, Salles, 2003).
Ao mesmo tempo, durante a realização de uma amputação, é necessário observar se os tecidos se encontram sadios, visando proporcionar uma cicatrização adequada. Com frequência, os tecidos saudáveis localizam-se nas áreas mais próximas dos membros. Assim, durante o processo cirúrgico, ao se buscar eliminar as áreas afetadas, seja por processo infeccioso, seja por processo isquêmico, muitas ressecções são amplas e altas (De Luccia, 2003). Outro fator determinante para a boa funcionalidade diz respeito à adequada cobertura de pele e a boa cicatrização, o formato do coto e a ausência de proeminências ou espículas ósseas (Sales, 2007; Ramos; Salles, 2003).
Quanto à classificação das amputações, observa-se que muitos autores costumam utilizar uma nomenclatura própria. Com base em Keenan e Morris (2004), é possível se observar os seguintes níveis de amputação, conforme sintetiza o quadro 2.
Quadro 2: Níveis de Amputação
AMPUTAÇÕES DE MMSS AMPUTAÇÕES DE MMII
Desarticulação interescapulotorácica Quadril completo Desarticulação do ombro Coxa completa
Amputação transumeral Coxa parcial - terço superior Desarticulação do cotovelo Coxa parcial - terço intermediário Amputação transradial Coxa parcial - terço inferior Desarticulação do punho Desarticulação do joelho Amputação transmetacárpica Perna parcial - terço superior Ressecção de raios Perna parcial - terço intermediário Amputação de dedos. Perna parcial - terço inferior
Tarsal completa (amputação de Syme) Tarsal parcial
Falângica completa
Adams et al. (1985) também apresentam uma classificação das amputações conforme demonstra a figura 1:
! Figura 1: Classificação das amputações. (Adaptado de Adams et al.,1985)
Os indivíduos que sofreram amputações podem apresentar uma série de complicações e sequelas relacionadas ao coto, tais como: sensação fantasma, dor fantasma, dor no coto, neuroma doloroso, alterações dermatológicas, ulcerações associadas à isquemia focal, infecções, entre outras. Sales (2007),
Probstner e Thuler (2006), Ramos e Salles (2004), Wald e Alavaro (2004) esclarecem que as sensações do membro fantasma são experimentadas quase imediatamente após a amputação, e nelas os indivíduos referem sentir o membro amputado. Quanto à dor do membro fantasma, muitos amputados também experimentam, referindo sensação de queimação, compressão e perfuração no membro ausente. Os autores ressaltam ainda que, em alguns indivíduos, ambas as condições podem tornar-se crônicas, incapacitando-os, evoluindo em um ciclo difícil e vicioso de aflição e sofrimento psicológico.
Como sequelas das amputações, podem ser observados déficit de força muscular e hipotrofia, alterações do tônus muscular, edema, alterações posturais, alterações da sensibilidade, redução da amplitude de movimentos, alterações da coordenação motora nos casos de lesão nos MMSS e alterações no equilíbrio nas lesões de MMII (Keenan; Morris, 2004).
Outro aspecto relevante são os custos metabólicos energéticos observados nos amputados de MI, durante a locomoção. A literatura disponível destaca que os gastos energéticos relacionam-se, entre outros fatores, ao nível da amputação e à etiologia. Os custos de energia tendem a ser mais elevados em amputado transfemoral do que em amputado transtibial; e, para o mesmo nível de amputação, as causas vasculares têm um custo de energia mais elevado do que as causas traumáticas (Detrembleur et al, 2005). Salles (2007) destaca, entretanto, que os sujeitos que apresentam boa função cardio-pulmonar e bom estado nutricional apresentam os mesmos gastos energéticos, por unidade de tempo, que os indivíduos não amputados.
Yuen e Hansons (2002) referem que os indivíduos que apresentam rompimento repentino da mobilidade ou mesmo perda de partes do corpo apresentam alterações relativas à imagem corporal. Tais distúrbios afetam negativamente, levando à perda ou à disfunção de autoimagem, podendo interferir no desempenho das atividades da vida diária, assim como no desempenho do trabalho dos papéis sociais.
É possível concluir que a condição de amputado exige muitas vezes uma mudança no estilo de vida, quando os indivíduos podem apresentar dificuldades
para se enquadrar nos padrões de normalidade que são valorizados pela sociedade contemporânea. Paiva e Goellner (2008) referem que as pessoas amputadas trazem nos corpos inscrições e marcas que as identificam não somente como diferentes, mas também, muitas vezes, como incapazes e imperfeitas.
Para atender todas as necessidades dos indivíduos com amputações, o tratamento reabilitativo envolve uma equipe multiprofissional e interdisciplinar e deve ser instituído o mais precocemente possível. Geralmente as equipes são formadas por ortopedista, cirurgião vascular, fisiatra, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, psicólogo, enfermeiro, nutricionista, entre outros (Chamlian, 2007). O principal objetivo é resgatar a independência funcional do amputado e, para isso, o processo de protetização é de extrema importância.
A prótese (recurso tecnológico que tem por finalidade substituir o membro amputado) deve ser prescrita o mais cedo possível, porém tão logo o coto esteja pronto para recebê-la (Chamlian, 2007). Um coto adequado deve possuir algumas características, tais como: ser magro e forte, ter forma cônica, ter boa sensibilidade e boa cicatrização, não possuir queloides, neuromas ou espículas ósseas (Sales, 2007; Trombly, 2005; Keenan; Morris, 2004).
Quando as próteses são adquiridas tardiamente; muitas vezes, durante o período em que aguardam a prótese, os indivíduos passam a utilizar uma órtese (muleta canadense ou axilar) e com ela adquirem certo nível de independência funcional, podendo mesmo não se adaptarem à prótese quando a recebem, ou só as utilizarem para passeios (Dornelas, 2010).
Por outro lado, muitos indivíduos procuram nas próteses a possibilidade de recuperar aquilo que foi perdido no seu corpo, seja no sentido concreto, seja simbolicamente, através do aumento da autonomia e da sua independência (Paiva; Goellner, 2008).
Alguns autores enfatizam que o potencial reabilitativo de um indivíduo que sofreu amputação depende de sua capacidade física anterior, da presença ou não de co-morbidades, da idade desse indivíduo, de aspectos de ordem psíquica, emocional e espiritual, de relações familiares, de aspectos socioeconômicos, do período de
início dos tratamentos reabilitativos e da qualidade deles, entre outros (Chamlian, 2007; Sales, 2007; Keenan; Morris, 2004).
Wald e Alavaro (2004) referem ainda que o processo de ajuste à amputação frequentemente envolve adaptações cognitivas, emocionais e comportamentais. Assim, por motivos diversos, os indivíduos que sofreram amputação podem ter prejuízos em muitas áreas do seu desempenho ocupacional, apresentando dificuldades de se readaptarem às atividades anteriormente realizadas, sejam elas Atividades da Vida Diária (AVD), como independência no vestuário, alimentação ou na higiene, na deambulação e nas transferências, sejam Atividades produtivas e de trabalho ou ainda Atividades de lazer (Pedretti; Early, 2004).
Em contrapartida, muitos estudos comprovam que as pessoas com deficiência física que, paralelamente ao tratamento reabilitativo ou após, realizam atividades esportivas desenvolvem habilidades motoras, sociais e emocionais que podem trazer uma série de benefícios para a vida, marcando um diferencial entre estas e aquelas pessoas que não praticam atividades esportivas (Conde, 2006; Hidde, Allard, Luc, Willem, 2004; Garvei, 1989).
2.2. Esporte e Deficiência Física
2.2.1. A história do esporte adaptado no mundo e no Brasil
Historiadores e arqueólogos referem que os chineses, em aproximadamente 2500 a.C., foram os primeiros a utilizarem o exercício físico na prevenção e correção de doenças. Esses programas eram denominados de ginástica médica (Pedrinelli, 1994; Adams, 1985).
Os primeiros registros, entretanto, datam de 1918, na Alemanha, com as atividades de arco e flecha e tiro ao alvo, praticadas por deficientes físicos. A literatura aponta também a formação de uma associação de Jogadores de Golfe com um só braço em 1932. A maior ênfase ao esporte como ferramenta para Reabilitação foi dada somente a partir da década de 40, após a primeira guerra
mundial. O esporte, nesse período, já contribuía também para inserção social dos portadores de deficiência (Costa; Sousa, 2004; Itani, Araújo; Almeida, 2004). Nesse processo histórico, destaca-se o Dr. Ludwig Guttmann, um Neurologista alemão que em 1944, no Hospital de Reabilitação de Stoke Mandeville em Aylesbury, Inglaterra, introduziu diversas atividades esportivas nos programas de Reabilitação de lesados medulares (Thomas; Smith, 2008; Itani et al., 2004). Os Estados Unidos também se destacaram na introdução do esporte adaptado, mais especificamente no basquete em cadeira de rodas. Essa prática inicialmente foi desenvolvida com veteranos da guerra. Em 1945, foi realizado o 1º campeonato que teve a direção dos Veteranos Paralisados da América - PVA (Tsutsumi et al., 2004).
Tais atividades foram recebidas de forma bastante positiva, e em pouco tempo o esporte passou a ser desenvolvido em nível competitivo. Os primeiros jogos em cadeira de rodas foram realizados em 1948, em Londres, em Stoke Mandeville, paralelo aos Jogos Olímpicos, com uma única modalidade esportiva: o arco e flecha. Participaram dessa Olimpíada 14 homens e 2 mulheres das Forças Armadas britânicas (Thomas; Smith, 2008; Itani et al., 2004).
Os II Jogos Desportivos de Stoke Mandeville se deram em 1952. Nesses jogos participaram 130 atletas (Itani et al., 2004).
Outro fato marcante da história mundial do esporte adaptado foi a criação em 1952 do Comitê Internacional dos Jogos de Stoke Mandeville, que posteriormente tornou-se a Federação Internacional dos Esportes em Cadeira de Rodas de Stoke Mandeville.
Os primeiros Jogos paraolímpicos, nesse período, ainda denominado de Olimpíadas dos Portadores de Deficiência, ocorreram em Roma, logo após os jogos das XVI Olimpíadas no ano de 1960.
O termo Paraolimpíada só foi utilizado oficialmente em 1984. Esse termo é derivado da preposição grega “para”, que significa “ao lado, paralelo”, e do termo “olímpico”, referindo-se à ocorrência paralela entre os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos. Originalmente o termo “paraolímpico” era uma combinação de
paraplégico e olímpico, entretanto, com a inclusão de outros grupos de pessoas com deficiência e com a união das associações ao movimento olímpico, ele tomou outra conotação (Senatore, 2006).
A competição realizada em Roma em 1960 conseguiu reunir 23 países e 400 esportistas. Oito esportes foram disputados: snooker, arremesso, lançamento, basquete em cadeira de rodas, natação, tênis de mesa, arco e flecha e pentatlo (Ferraz, 2006; Senatore, 2006).
Em fevereiro de 1961, foi fundada pelo Dr. Guttmann a British Sports Association for the Disabled (BSAD) (Thomas; Smith, 2008).
A Organização Internacional de Esportes para Deficientes (ISOD) foi criada em 1964. Nesse período, as paraolimpíadas só ofereciam competições em cadeira de rodas, entretanto a ISOD já estimulava a participação de outros deficientes em eventos esportivos. Assim, através dessa Organização, nas Paraolimpíadas de 1976, garantiu-se a participação de amputados e deficientes visuais e, posteriormente, em 1980, incluíram-se também os portadores de paralisia cerebral.
Em 1978, foi formada a British Amputee Sports Association (BASA), incumbida na organização de um evento esportivo de elite para amputados (Thomas; Smith, 2008).
A criação do Comitê Paraolímpico só ocorreu em 22 de setembro de 1989 na cidade de Dusseldorf, Alemanha (Senatore, 2006; Itani et al., 2004).
Nos jogos de Sidney em 2000, foram disputadas 18 modalidades esportivas, sendo 14 delas paraolímpicas: arco e flecha, atletismo, basquetebol, bocha, ciclismo, equitação, esgrima, futebol de campo e de salão, golbol, halterofilismo, iatismo, judô, natação, rugby, tênis de campo, tênis de mesa, tiro e voleibol (Brazuna; Castro, 2001).
O quadro 3 apresenta um resumo das edições dos Jogos Paraolímpicos, desde 1960 até 2004.
Quadro 3: Edições dos jogos olímpicos de 1960 a 2004 (Adaptado de “Introdução a como
funcionam os Jogos Paraolímpicos”).
Jogos Paraolímpicos
1960 – Roma 400 atletas, apenas cadeirantes
1964 – Tóquio inclusão da corrida para homens e mulheres em cadeiras de rodas nos 60 m 1968 - Tel Avi intensa cobertura da mídia e quebra de 20 recordes mundiais
1972 – Heidelberg primeira participação dos brasileiros 1976 – Toronto jogos transmitidos ao vivo
1980 – Arnhem paralisados cerebrais disputaram pela primeira vez os Jogos Olímpicos 1984 – Nova Iorque
e Stoke Mandeville
participação de 1.700 atletas de 45 países
1988 – Seul marcou a história em função do avanço na tecnologia e profissionalização dos 3 mil atletas
1992 – Barcelona inclusão do tênis em cadeira de rodas em caráter competitivo e não mais demonstrativo; quebra de 280 recordes mundiais
1996 – Atlanta primeira participação de atletas deficientes mentais em caráter competitivo 2000 – Sidney os Jogos foram tão bem estruturados que a Paraolimpíada passou a ser o
segundo maior evento esportivo do mundo
2004 – Atenas organizado pela primeira vez pelo mesmo comitê organizador dos Jogos Olímpicos; disputado por quatro mil atletas; 19 modalidades
No Brasil, o esporte adaptado foi introduzido há aproximadamente 50 anos. Brazuna e Castro (2001) referem que esse início se deu no Rio de Janeiro, em 1958, com a criação do Clube do otimismo por Robson Almeida, um paraplégico que havia retornado de um tratamento reabilitativo nos Estados Unidos. Senatore (2006) e Itani et al. (2004) destacam também a participação de Sérgio Del Grande com a criação do Clube dos Paraplégicos de São Paulo.
Um ano após o início do esporte adaptado no Brasil, em 1959, foi organizada a primeira competição, através de um jogo de basquetebol em cadeira de rodas, quando participaram atletas do Rio de Janeiro e São Paulo (ABRADECAR, 2007). No ano de 1969, foram realizados os II Jogos Pan-americanos em Buenos Aires, onde o Brasil apresentou sua primeira equipe de basquetebol em cadeira de rodas e foi premiado com a medalha de bronze (Tsutsumi et al., 2004).