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Pobreza, Desigualdades e Educação Volume I

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Academic year: 2021

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Simone Medeiros Maria Cecília Luiz (organizadoras)

Volume I

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Universidade Federal de São Carlos – UFSCar Reitora

Wanda Aparecida Machado Hoffmann

Vice-Reitor

Walter Libardi

SEaD – Secretaria Geral de Educação a Distância – UFSCar Secretária de Educação a Distância

Marilde Terezinha Prado Santos

Supervisão

Clarissa Bengtson

Douglas Henrique Perez Pino

Revisão Linguística

Letícia Moreira Clares Paula Sayuri Yanagiwara

Editoração Eletrônica

Bruno Prado Santos

Capa

Jéssica Veloso Morito

Colaboradores

Clarissa Galvão Bengtson Joana Darc de Castro Ribeiro Roseli Zen Cerny

Apoio Técnico

Eliciano Pinheiro da Silva

Comissão Científica

Karine Nunes de Moraes – Universidade Federal de Goiás

Marcos Macedo Fernandes Caron – Universidade Federal de Mato Grosso Odorico Ferreira – Universidade Federal de Mato Grosso

Célia Regina Teixeira – Universidade Federal da Paraíba Joelina Souza Menezes – Universidade Federal de Sergipe Maria Cecília Luiz – Universidade Federal de São Carlos Priscila Tavares dos Santos – Universidade Federal Fluminense Rolf Ribeiro de Souza – Universidade Federal Fluminense

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Com grande orgulho e alegria prefaciamos a coletânea Pobreza,

Desigual-dades e Educação volume 1, 2 e 3, afirmando-se de antemão, que os textos

que compõem a coletânea abordam com seriedade a temática e, em cada um dos seus três volumes, o leitor(a) vai se surpreender com a riqueza, inten-sidade e profundidade que, com certeza, produzirão impressões e aprecia-ções distintas.

Intenciona-se, nesta obra, superar dogmas e conceitos predefinidos sobre pobreza, desigualdades e educação, com a proposta de analisar o tema na perspectiva da diversidade e da possibilidade de contribuir com aspectos pluridimensionais. Compreende-se que nesta coletânea existe um olhar diverso, plural – tão característico de um país como o Brasil, com di-mensões continentais –, mas ao mesmo tempo, traz aspectos em comuns, com referenciais que se aproximam do problema, utilizando abordagens que descrevem os estados federativos brasileiros participantes.

Ao verificar a realidade social, com quadros preocupantes – agravando--se com o passar dos anos –, os temas tratados são atuais e desafiadores, com reflexões sobre o que será dos alunos (crianças e jovens) brasilei-ros que estão em situação de pobreza ou extrema pobreza? Como os(as) educadores(as) têm enfrentado a pobreza na escola?

A leitura desta coletânea proporcionará ao(à) leitor(a) um conhecimento inacabado, no sentido de contrariar a ideia de "pergunte e responderemos", devido à certeza de que muito ainda se deve refletir sobre o assunto.

Deixamos registrado, neste espaço, que segundo a Agência Brasil1, pesquisas feitas pelo SIS – Síntese de Indicadores Sociais –, divulgada pelo Instituto de Geografia e Estatística (IBGE), no final de 2019, no que se refere à 1

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com até 145 reais, representando 6,5% do total da população brasileira, com o indicativo de 72% serem pessoas pretas ou pardas.

Fica evidente que qualquer recuperação econômica não é igualitária para os diversos segmentos sociais e isso nos leva a pensar: como a educa-ção tem refletido sobre esta situaeduca-ção? Ou, como ela pode fazê-lo? Por isso, no decorrer da leitura, perguntamos mais do que damos respostas, o que nos faz pensar na urgência de mais estudos e pesquisas na área.

Esta coletânea, também, tem a finalidade de documentar o que foi a

Ini-ciativa Educação, Pobreza e Desigualdade Social (EPDS) em suas dimensões

estruturais, pois, teve um diferencial, além de oferecer formação continuada em cursos de especialização e aperfeiçoamento, possibilitou o desenvol-vimento de pesquisas acadêmicas. Neste contexto, esta mobilização, que começa com a extinta Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI), hoje denominada Secretaria de Modalida-des Especializadas de Educação do Ministério da Educação (MEC), orga-nizou várias ações em parceria com as Instituições Federais de Educação Superior (IFES) e obteve mais de 26 pesquisas acadêmicas, com presença e articulação de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), a partir de 4.000, e de Trabalhos Finais de Curso (TFC), a partir de 6.000.

Os três volumes da coletânea são divididos em: Volume 1, que tem o foco maior em sintetizar a implantação do Iniciativa Educação, Pobreza e

Desigualdade Social (EPDS), com parceria de quinze Universidades Federais

que iniciaram o projeto, além de reflexões sobre o processo de formação continuada (Curso de Especialização EPDS). O Volume 2 enfatiza os resulta-dos das pesquisas elaboradas no âmbito da Iniciativa Educação, Pobreza e

Desigualdade Social; e, o Volume 3 aborda as produções elaboradas no

âm-bito dos Cursos de especialização do EPDS, especificamente dos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), considerando as relações estabelecidas com o Programa Bolsa Família (PBF) e com as temáticas indígena, quilombola, educação para as relações etnicorraciais, campo, educação especial, juven-tude, EJA, alfabetização e educação em direitos humanos.

Ao refletirmos sobre essas temáticas tão desafiadoras, evidentemente nos preocupamos muito mais com a questão da fome e do abandono, do que com notas escolares de estudantes pobres. No entanto, a ausência de qualidade no ensino e na aprendizagem se tornou um dos principais efeitos

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soluções que não podem ser negligenciadas.

As crianças e jovens brasileiros ficam dentro da escola entorno de quatro a cinco horas diárias, sendo que 70% deles frequentam escolas públicas, e estas são regidas por políticas públicas diferentes que resultaram em dis-crepâncias entre os currículos de várias instituições. Por isso, levando em conta que a palavra "prefácio" em latim, significa "dito (fatio) antes (prae)", finalizamos este prefácio com uma frase do Herbert de Souza, o sociólogo Betinho, que tanto se empenhou para erradicar a fome no Brasil:

Essas crianças estão nas ruas porque, no Brasil, ser pobre é estar con-denado à marginalidade. Estão nas ruas porque suas famílias foram destruídas. Estão nas ruas porque nos omitimos. Estão nas ruas, e estão sendo assassinadas.

Ao transpormos "crianças abondadas nas ruas" por estudantes pobres abandonados à própria sorte nas escolas públicas, segundo o autor, a omis-são é crime. Com essa reflexão sobre o compromisso de cada brasileiro(a) que está envolvido(a) direta ou indiretamente com a educação e a situação de pobreza e desigualdades de estudantes pobres, desejamos uma excelen-te leitura a todos e todas.

Simone Medeiros Maria Cecília Luiz

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Apresentação . . . .9 1 A experiência do curso de especialização Educação, Pobreza e

Desigualdade Social na Universidade Federal do Maranhão . . . .13 Marli Alcântara Ferreira Morais

Silvia Fernanda Martins Dias Ribeiro

2 Ensino e pesquisa em Educação, Pobreza e Desigualdade Social: o

Programa Bolsa Família no Pará . . . .39 Marilena da Silva Loureiro

Pedro Chaves Baía Júnior Rosemildo Santos Lima Edma Maués Franco

3 Programa Nacional Educação, Pobreza e Desigualdade Social: a experiência da Universidade Federal de Santa Catarina . . . .67 Adir Valdemar Garcia

Danielle Torri

4 Formação Continuada de gestores do Programa Bolsa Família do Tocantins: intenção e resultados . . . .95 José Carlos da Silveira Freire

Juciley Silva Evangelista Freire

5 A iniciativa Educação, Pobreza e Desigualdade Social na UFMS:

implementação e trajetória de execução . . . .105 Daiani Damm Tonetto Riedner

Ana Carolina Pontes Costa

6 A implementação de políticas públicas: lógicas de ação das burocracias de rua . . . .123 Marisa R . T . Duarte

7 Educação, Pobreza e Desigualdade Social no Piauí: diálogos a partir de experiências formativas e de pesquisa . . . .137 Eliana de Sousa Alencar Marques

Josélia Saraiva Silva

Rosa Lina Gomes do Nascimento Pereira da Silva

8 Desafios Institucionais na promoção dos estudos sobre pobreza e educação: a execução da Iniciativa EPDS na Universidade Federal do Ceará . . . .157 Irapuan Peixoto Lima Filho

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Lygia de Sousa Viegas Elaine Cristina de Oliveira Hélio Messeder da Silva Neto

10 Curso Educação, Pobreza e Desigualdade Social na UFPR: uma análise da implementação, perfil dos cursistas e da avaliação do curso . . . .201 Adriana Dragone Silveira

Ana Lorena Bruel Andrea Polena Cristina Cardoso Simony Rafaeli Quirino

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Apresentação

O Pobreza, Desigualdades e Educação – Volume 1 é o primeiro, de uma coletânea de três livros, e busca refletir sobre a relação entre educação, po-breza e o Programa Bolsa Família (PBF). O foco maior está em sintetizar a implantação da Iniciativa Educação, Pobreza e Desigualdade Social (EPDS), com parceria de Universidades Federais que iniciaram o projeto, além de re-flexões sobre o processo de formação continuada (Curso de Especialização EPDS).

Na primeira seção, A experiência do curso de especialização Educação,

Pobreza e Desigualdade Social na Universidade Federal do Maranhão, as

professoras Marli Alcântara Ferreira Morais e Silvia Fernanda Martins Dias Ribeiro relatam como ocorreu o Curso de especialização oferecido pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e sua articulação no Estado do Maranhão.

A segunda seção, Ensino e pesquisa em Educação, Pobreza e

Desigual-dade Social: o Programa Bolsa Família no Pará, que tem como autores

Ma-rilena da Silva Loureiro, Pedro Chaves Baía Júnior, Rosemildo Santos Lima e Edma Maués Franco, traz os impactos do programa Bolsa Família na mini-mização das vulnerabilidades sociais de famílias beneficiárias residentes em oito diferentes municípios do Estado do Pará (Abaetetuba, Altamira, Belém, Castanhal, Itaituba, Marabá, Melgaço e Santarém), por meio de sua presença no sistema educacional.

A terceira seção, Programa Nacional Educação, Pobreza e Desigualdade

Social: a experiência da Universidade Federal de Santa Catarina, é escrita

por Adir Valdemar Garcia e Danielle Torri e relata a experiência do Curso de especialização vivenciada na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) no âmbito do Programa Nacional Educação, Pobreza e Desigualdade Social (PNEPDS).

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Na quarta seção, Formação Continuada de gestores do Programa Bolsa

Família do Tocantins: intenção e resultados, os autores José Carlos da

Silvei-ra Freire e Juciley Silva Evangelista Freire revelam a experiência de formação continuada do curso de especialização em Educação, Pobreza e Desigual-dade Social – EPDS – desenvolvida pela UniversiDesigual-dade Federal do Tocantins – UFT – no âmbito do Programa de Formação Continuada de Gestores da Educação do Programa Bolsa Família.

A quinta seção, A iniciativa Educação, Pobreza e Desigualdade Social

na UFMS: implementação e trajetória de execução, desenvolvida por Daiani

Damm Tonetto Riedner e Ana Carolina Pontes Costa, tem como objetivo mostrar um pouco da trajetória da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), com destaque para às etapas de implementação da proposta, à metodologia da oferta do curso e à realização da pesquisa institucional realizada na instituição, tendo como base as diretrizes nacionais discutidas no âmbito da Iniciativa do EPDS.

Na sexta seção, A implementação de políticas públicas: lógicas de ação

das burocracias de rua, texto de Marisa R. T. Duarte, sintetiza-se reflexões

sobre o tema, na participação da Universidade Federal de Minas Gerais, com exposição do significado, da distinção e da relevância do conceito de políti-cas públipolíti-cas; além da análise da chamada burocracia de rua e do conteúdo do projeto pedagógico do curso, com intervenções de cursistas, profissio-nais implementadores de políticas sociais, sobre a relação entre educação e pobreza.

Na sétima seção, Educação, Pobreza e Desigualdade Social no Piauí:

di-álogos a partir de experiências formativas e de pesquisa, os autores Eliana

de Sousa Alencar Marques, Josélia Saraiva Silva e Rosa Lina Gomes do Nas-cimento Pereira da Silva relatam parte dos resultados alcançados com a re-alização do curso de especire-alização realizado pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), tanto em seus aspectos relativos à formação continuada como em relação à pesquisa de campo realizada pela equipe de pesquisadores vinculados ao projeto, no Estado do Piauí.

Na oitava seção, Desafios Institucionais na promoção dos estudos sobre

pobreza e educação: a execução da Iniciativa EPDS na Universidade Federal do Ceará, os autores Irapuan Peixoto Lima Filho e Genilria de Almeida Rios

relatam a experiência de instalação e execução do curso de especialização na Universidade Federal do Ceará (UFC). Retratam como um projeto inova-dor, evolvendo de modo associado à pesquisa científica no tema.

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Na nona seção, Educação, Pobreza e Desigualdade Social: a construção

de um curso na contramão da medicalização, Lygia de Sousa Viegas, Elaine

Cristina de Oliveira e Hélio Messeder da Silva Neto apresenta um relato da experiência de construção do curso de especialização em Educação, Pobre-za e Desigualdade Social na Universidade Federal da Bahia. O texto compôs a construção deste curso de especialização com a importância de se discutir de uma universidade pública de um estado nordestino e pobre do país.

Na décima e última seção, Curso Educação, Pobreza e Desigualdade

So-cial na UFPR: uma análise da implementação, perfil dos cursistas e da avalia-ção do curso, as autoras Adriana Dragone Silveira, Ana Lorena Bruel, Andrea

Polena, Cristina Cardoso e Simony Rafaeli Quirino detalham a implemen-tação da iniciativa do curso de especialização na Universidade Federal do Paraná (UFPR), executada pelo Departamento de Planejamento e Adminis-tração da Educação (Deplae)/Setor de Educação, com ações desenvolvidas pelo Setor de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação.

Foi extremante prazeroso organizar este livro com temas tão afinados e bem conduzidos pelos seus autores. Desejamos a você uma ótima leitura!

Simone Medeiros Maria Cecília Luiz

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A experiência do curso de especialização

Educação, Pobreza e Desigualdade

Social na Universidade Federal do

Maranhão

Marli Alcântara Ferreira Morais Silvia Fernanda Martins Dias Ribeiro

O curso de especialização Educação, Pobreza e Desigualdade Social na Uni-versidade Federal do Maranhão (CEEPDS-UFMA) contemplou as diretrizes da Iniciativa Nacional Educação, Pobreza e Desigualdade Social (EPDS), do Ministério da Educação/Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi), atrelado à produção do conhecimento e desenvolvimento de pesquisa (BRASIL, 2014).

Desde a aula inaugural, realizada no dia 15 de agosto de 2015, buscamos atender a proposta da Iniciativa EPDS, que se pauta em uma densa reflexão teórico-prática em torno de três princípios político-éticos emancipatórios: direito à vida, direito à igualdade e direito à diversidade. Assim, seguindo o currículo proposto no Projeto Político-Pedagógico (PPP), desenvolvemos, nos cinco módulos, atividades que:

a ) contemplaram o desenvolvimento de reflexões (conteúdos) que partiram dos saberes dos(as) envolvidos (as);

b ) provocaram, metodologicamente, estratégias pedagógicas para que fossem informados os saberes que se desejava ampliar;

c ) proporcionaram mediações teóricas (com o material pedagógico-didáti-co e pedagógico-didáti-com as docências);

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d ) afetaram os(as) cursistas a ponto de ocasionar modificações das práticas político-pedagógicas no contexto educacional e nos demais contextos da realidade social que mantêm relações com o espaço da escola. Tais resultados, previstos no PPP do CEEPDS-UFMA (360h), foram al-cançados ao longo dos cinco módulos temáticos, os quais contemplaram atividades de reflexão-ação-reflexão. Dessa forma, a oferta do curso de especialização atrelou-se à pesquisa por meio do projeto "Modos de Vida e Processos Pedagógicos na Relação entre Educação, Pobreza e Desigual-dade Social, no Maranhão", do Grupo de Pesquisas e Estudos sobre Tempo, Trabalho, Identidade e Serviço Social (GPETISS-UFMA), responsável pela execução do CEEPDS-UFMA. A pesquisa focou na relação entre pobreza e desigualdade social e suas repercussões para a formação educacional de crianças e jovens em situação de pobreza.

Como destacamos no PPP CEEPDS-UFMA, a construção de saberes em sua relação com a prática, sob uma perspectiva interdisciplinar, é per-passada pelas dimensões política, teórico-metodológica e técnico--operativa; quanto à interdisciplinaridade, é esta que traz novas exigências teóricas e práticas para os profissionais das várias áreas do saber, quer seja quando estes têm que dividir o mesmo objeto, quer seja nas relações inter-pessoais que se estabelecem nos espaços de atuação, permitindo continu-amente a ampliação de conhecimento e a reflexão do como fazer. Assim, a construção de novas possibilidades de pensar e agir exige, de partida, que a busca metodológica pela unidade teoria/prática seja o elemento central de preocupação, na medida em que é preciso conhecer mais, problematizar a questão, para qualificar o como fazer. Com a especialização e a pesquisa articuladas, pretendeu-se a aproximação dos estudos teóricos aos contextos sociais empobrecidos, como uma oportunidade de reeducar e radicalizar o olhar também dos profissionais envolvidos sobre a realidade de crianças e adolescentes em situação de pobreza e de pobreza extrema.

O CEEPDS-UFMA também focou no desenvolvimento de práticas po-lítico-pedagógicas visando contribuir para a transformação das condições de vivência da pobreza e da extrema pobreza de crianças e adolescentes e, consequentemente, para um justo e digno viver definido socialmente, como coloca o PPP da Iniciativa EPDS. Nessa perspectiva, foram definidos os se-guintes objetivos específicos:

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a ) possibilitar a apropriação de conhecimentos científicos a respeito da po-breza e das desigualdades sociais e suas relações com questões étnicas, raciais, de gênero e de espaço;

b ) analisar a constituição dos direitos civis, políticos e sociais, caracteriza-dos de modo amplo como "direitos humanos";

c ) relacionar os conhecimentos sobre pobreza, desigualdades sociais e di-reitos humanos com as políticas educacionais e outras políticas sociais voltadas para a alteração do quadro de pobreza e pobreza extrema no Brasil;

d ) analisar o papel social da escola, seu currículo, suas práticas e as impli-cações em relação à manutenção ou à transformação da condição de pobreza de crianças, adolescentes e jovens;

e ) sensibilizar os(as) profissionais da Educação Básica e das áreas de assis-tência social e saúde, que estabelecem relações com a educação, para a necessidade de superar práticas escolares que reforçam a condição de pobreza e reproduzem as desigualdades sociais;

f ) promover o reconhecimento das realidades locais no que se refere às condições de pobreza e pobreza extrema e sua relação com a educação; g ) produzir, a partir dos Trabalhos de Conclusão de Curso e de pesquisas,

conhecimento a respeito da relação entre educação, pobreza e desigual-dade social;

h ) fomentar iniciativas voltadas para a alteração das condições de pobreza e pobreza extrema, especialmente a criação e o fortalecimento de redes com tal objetivo.

Neste relato, apresentamos os principais resultados dessa caminhada, que envolveu mais de 5 mil pessoas.

O início da jornada

Em dezembro de 2013, a Universidade Federal do Maranhão recebeu o convite para participar do processo de formação dos profissionais da Educação Básica que atuavam com o Programa Bolsa Família na Educação. Inicialmente, o convite foi para o Departamento de Educação da UFMA, que, por motivos de excesso de demandas de trabalhos, não aceitou assumir a coordenação e sugeriu à reitoria que buscasse o Serviço Social em razão da

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natureza da proposta. Em janeiro de 2014, contataram-nos, apresentando a importância da solicitação da Secadi/CGAIE.

Como destaca o Projeto Político-Pedagógico, o curso de especialização Educação, Pobreza e Desigualdade Social – CEEPDS (360h) é um processo formativo a distância e insere-se no contexto da Política Nacional de Forma-ção dos Profissionais do Magistério da EducaForma-ção Básica e da Rede Nacio-nal de Formação Continuada dos Profissionais do Magistério da Educação Básica Pública (Renafor), instituídas pelo Decreto no 6.755, de 29 de janeiro de 2009 e pela Portaria Ministerial no 1.328, de 23 de setembro de 2011. Ini-cialmente, essa demanda constituiu-se um grande desafio pessoal, tanto pela minha formação na área social quanto pela dificuldade de aceitação do Departamento de Serviço Social em abraçar uma demanda que também exigiria "tirar" o tempo de um profissional para uma ação desse porte.

Assim, após muitas reuniões e estudos sobre a temática, iniciamos o planejamento para implementação do CEEPDS-UFMA. Atentando para a centralidade da formação continuada de profissionais da Educação Básica e/ ou de outros profissionais envolvidos com políticas sociais que estabelecem relações com a educação de crianças, adolescentes e jovens que vivem em circunstâncias de pobreza ou extrema pobreza, compreendemos a impor-tância de inserir outros profissionais das áreas da Saúde e Assistência Social, além de pesquisadores interessados na temática para, junto à Educação Básica, ampliar esse olhar sobre as crianças e adolescentes que têm sua fre-quência escolar acompanhada e, consequentemente, sobre suas famílias e a comunidade, bem como sobre as escolas onde estudam.

Quanto à proposta da pesquisa, o que mais chamou a atenção foi o enfo-que do contexto escolar, em suas diferentes dimensões (políticas, pedagógi-cas, gestão, família etc.), sobre as vivências dos sujeitos em circunstâncias de pobreza e de extrema pobreza. Visando uma maior apropriação da temática, vinculamos a pesquisa a uma linha do Grupo de Pesquisas e Estudos sobre Tempo, Trabalho, Identidade e Serviço Social – GPETISS (responsável pela execução do CEEPDS-UFMA). Nesse sentido, as ações de ensino, pesquisa e extensão foram articuladas desde o início, reafirmando o compromisso de aproximação dos estudos teóricos aos contextos sociais empobrecidos como oportunidade de reeducar e radicalizar o olhar também das institui-ções formadoras, dos(as) profissionais e da comunidade sobre as crianças, adolescentes e jovens em situação de pobreza e de pobreza extrema (con-forme Projeto Político-Pedagógico do curso).

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Ao longo da realização do curso, as reflexões sobre essas questões enri-queceram a formação e alimentaram o princípio básico em que se ancoram as práticas na universidade: a indissociabilidade entre a tríade ensino, pes-quisa e extensão. O retrato gerado a partir da pespes-quisa permitiu identificar avanços e desafios dos sistemas educacionais no trato com crianças e jovens em situação de pobreza e de extrema pobreza.

O planejamento e a execução do curso e da pesquisa

Avançar na execução do projeto foi um desafio diário. Apesar da impor-tante parceria com a Undime-MA e Seduc/MA e gestão do Comfor, iniciamos o projeto com uma reduzida equipe de quatro professores pesquisadores, contando ainda com o trabalho de quatro bolsistas Pibic atrelados à propos-ta da pesquisa do CEEPDS e alguns voluntários do GPETISS.

Com mais de 700 inscrições, iniciamos o CEEPDS-UFMA com cursistas de cerca de 60% dos municípios maranhenses, com IDHM de até 0,599. Tal resultado indica tanto a grande demanda de formação continuada e de pes-quisa que se apresenta no estado como a credibilidade da Universidade Fe-deral do Maranhão e da proposta do curso e da pesquisa posta pela Secadi/ CGAIE, em parceria conosco e com as demais Ifes envolvidas.

Dos 217 municípios, o Maranhão conta com 158 municípios com IDHM inferior a 0,600. Durante anos, fomos governados por oligarquias que dificul-tavam o acesso à informação a muitos povoados, um quadro que, certamen-te, ainda permanece. Mas novas perspectivas estão postas para o estado, e, convidados pelo MEC/Secadi, nós, docentes e pesquisadores da UFMA, acreditamos nessa Iniciativa, com a certeza de que viriam muitos desafios. Por isso, entendemos a importância de qualificarmos cada etapa desse pro-cesso, ignoramos as dificuldades e utilizamos várias estratégias para avan-çarmos, como se destaca a seguir.

O CEEPDS foi organizado em torno de cinco módulos temáticos, os quais contemplaram atividades de reflexão, prática, estudos e pesquisas. Como atividades complementares, os cursistas assumiram, desde o início do curso, a condição de pesquisadores. Sob a orientação dos professores pesquisadores, dos professores formadores e dos tutores, a partir do Módu-lo I, desenvolveram as atividades práticas, seguindo um plano de trabalho articulado a um dos eixos propostos na pesquisa "Modos de Vida e Proces-sos Pedagógicos na Relação Educação, Pobreza e Desigualdade Social, no

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Maranhão". Este plano de trabalho foi desenvolvido ao longo do Módulo Introdutório, articulado às atividades propostas nos módulos.

Logo após a aula inaugural do CEEPDS, em agosto de 2015, iniciamos nossas viagens para os municípios onde nossos cursistas residem ou traba-lham (cerca de 150 municípios, das 21 microrregiões que compõem o estado do Maranhão). Contando com a participação da coordenação, dos pesqui-sadores, cursistas e alunos de graduação, até o final de setembro de 2015, viajamos para seis cidades do Maranhão: Miranda do Norte, Lima Campos, Barreirinhas, Santo Amaro, Cajari e Arari; visitamos, ainda, o povoado de Mocajituba, em Paço do Lumiar. Esse foi um primeiro movimento de aproxi-mação com a realidade das escolas públicas do Maranhão.

Como demanda de pesquisas anteriores (principalmente, por meio do Programa de Iniciação Científica Pibic-UFMA, com a pesquisa Modos de Vida e Processos de Trabalho das Famílias Usuárias do Programa Bolsa Família--GPETISS), a proposta das viagens logo no início do curso buscou identificar aspectos variados no entorno e no espaço das escolas públicas onde se encontravam os alunos do Programa Bolsa Família. Inicialmente, identifica-mos as demandas dos adolescentes e das famílias que vivem em situação de pobreza, reafirmadas por gestores, professores e outros profissionais que se relacionam com o Programa Bolsa Família na Educação (PBFE), nas escolas públicas. Tais demandas, na perspectiva da sustentabilidade e manutenção dos jovens em suas cidades, referiam-se à: geração de emprego e renda, melhoria nas estruturas e processos pedagógicos nas escolas, articulação escola/comunidade, realização de cursos técnicos e de cursos de graduação pelos institutos e universidades públicas do estado, nas modalidades pre-senciais e semiprepre-senciais, como ocorre com as instituições privadas.

Os resultados parciais da pesquisa Pibic-UFMA, envolvendo adolescen-tes sob a condicionalidade da educação, assim como as famílias que têm crianças e adolescentes na escola, indicaram importantes questões que nos direcionaram para a realização de atividades específicas de extensão a serem desenvolvidas pelos cursistas, incluindo a participação de alunos de graduação da UFMA e de outras instituições parceiras, sob a coordenação do GPETISS-UFMA. Além desses estudos, no Módulo I, os cursistas, a partir de um roteiro estabelecido, realizaram entrevistas com famílias que tinham alunos em escolas públicas. Os resultados caminharam na mesma direção dos resultados da pesquisa parcial sobre os Modos de Vida e Processos de Trabalho das Famílias Usuárias do Programa Bolsa Família.

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A maioria dos homens e mulheres dessas famílias, que chegam a ter até 15 filhos, apesar de demonstrar maior preocupação com a frequência es-colar dos filhos do que com o aprendizado, deseja que seus descendentes tenham um futuro diferente, principalmente quanto às condições de traba-lho. Eles sentem dificuldades em manter a disciplina sobre os adolescentes, que faltam ou largam a escola por motivos diversos (por acompanhar os pais no trabalho, por não realização das tarefas escolares, por gravidez, envolvi-mento com drogas ou por necessidade de trabalhar, dentre outros motivos). Quanto aos adolescentes que estavam frequentando a escola, estes afirma-ram que se sentiam inseguros quanto ao futuro.

Ao socializarmos os resultados das entrevistas nos 16 polos/municípios, durante atividade presencial do Módulo I, identificamos que, apesar das particularidades de cada família nos diferentes municípios, a maioria dos entrevistados trabalhava em atividades informais para garantir o sustento da família, ressaltando-se a importância do Benefício do Bolsa Família, como renda "certa" que possibilita a ida e permanência dos filhos na escola.

Outro aspecto constatado se referiu a atual geração com a de seus pais/ responsáveis: se estes, em sua maioria, são analfabetos, as crianças e jovens já não o são e, apesar da insegurança (pessoal e intelectual), sonham com um futuro diferente (montar um negócio, emprego formal, fazer faculdade).

De extrema relevância, surgiu a questão da afetividade nas famílias e no ambiente escolar, ambos marcados por situações de violência. De acordo com o psicólogo Jadir Lessa, que ministrou a aula inaugural do curso, tra-balhar essa afetividade na escola é fundamental na perspectiva de enfren-tarmos as diversas formas de violência que crescem assustadoramente em todos os municípios. Nessa perspectiva, os resultados das pesquisas apon-taram para a necessidade de se investir no fortalecimento da afetividade e no empoderamento das crianças e jovens em relação à construção do seu futuro pessoal/profissional, uma vez que estes serão os futuros responsáveis pelas novas famílias que irão surgir.

Considerando o início do curso e as possibilidades de ação postas pelo município de Santo Amaro (município com baixo IDHM, cujo acesso viário ainda era feito por trilhas), articulamos a realização imediata de uma expe-riência como projeto-piloto a ser ampliada para os demais municípios onde nossos cursistas estavam localizados.

A pesquisa apontou-nos que, neste município, cujo IDHM é 0,518, o grande contraste entre a riqueza natural e a pobreza da maioria de seus

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habitantes indicava a necessidade urgente de ações que, articuladas com outras iniciativas, apontassem perspectivas para as crianças e adolescentes que estavam na escola, assim como para os jovens que já terminaram o En-sino Médio e para as famílias do município.

Base para a extensão no CEEPDS-UFMA: a experiência-piloto em Santo

Amaro

Tomar o município de Santo Amaro como projeto-piloto para a I Ação de articulação entre ensino, pesquisa e extensão no âmbito do CEEPDS, como uma ação do GPETISS-UFMA, possibilitou a materialização da proposta

por meio da dimensão que trata da formação continuada, consideran-do os vários aspectos da vida e consideran-do trabalho consideran-dos indivíduos: políticos, ecológicos (qualidade do meio ambiente, sustentabilidade da ocupação humana dos espaços, lugares e ambientes), econômicos, sociais, nutri-cionais, culturais e éticos que visam a transformação da realidade escolar e social (PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO CEEPDS, 2014).

Iniciamos com a realização de duas atividades de ensino, pesquisa e extensão, com foco no empreendedorismo juvenil (atendendo a demanda dos próprios adolescentes), que demonstraram a importância de se aguçar a criatividade e despertar o conhecimento dessas crianças e jovens.

A primeira ação, realizada durante quatro dias, contou com a participa-ção de cerca de 35 pessoas da equipe (entre alunos CEEPDS, alunos de gra-duação, coordenadores, pesquisadores e técnicos da UFMA) e cerca de 200 alunos do Ensino Fundamental e Médio. Incluiu desde o planejamento da atividade em São Luís, um processo de formação da equipe, com visita aos povoados, dunas, lagoas e casa de farinha (com o propósito de conhecer o território a ser trabalhado, explorado e potencializado) até uma palestra so-bre "Estilos de Comunicação e Comportamento", envolvendo planejamento estratégico e convivência com o outro.

Em um dos dias, realizamos a primeira ação, intitulada "Santo Amaro para Santo Amaro". A atividade teve como objetivo principal explorar e incentivar as potencialidades educativas, econômico-produtivas, socioculturais, bem como estético-expressivas do município, na perspectiva do turismo susten-tável. Além disso, tinha-se como propósito o fomento a continuar as ações ali iniciadas, discutidas e propostas. A realização de cerca de dez oficinas foi considerada bastante positiva pelos jovens, pelos cursistas e alunos de

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graduação, além de resultar em um programa na rádio comunitária, prota-gonizado por jovens do Ensino Médio (o que foi interrompido, após seis me-ses, por um problema técnico na rádio). O depoimento de um dos cursistas bem expressa a experiência.

A I AÇÃO DE ENSINO/PESQUISA/EXTENÇÃO "DE SANTO AMARO PARA SANTO AMARO" foi uma atividade de extrema importância para vivenciarmos todas as questões que estamos tratando na especialização em Educação, Pobreza e Desigualdade. As reflexões que foram a tônica nos três dias de atividades (10, 11 e 12/09) servirão para a construção de entendimentos e questionamentos que são a base da especialização, e, mais, a imersão nesse universo tão próprio do santoamarense nos trouxe à luz muitas questões que, sem os estudos em que estamos mergulhan-do, jamais teríamos a sensibilidade para observar e propor políticas públicas que tragam, para todos os cidadãos, as mesmas condições de pelo menos escolher a forma e a intensidade de como viver (Isis Lucas Braga Machado – cursista CEEPDS/UFMA).

A II Ação em Santo Amaro ocorreu em março de 2016, por meio de uma formação com os adolescentes, com foco no empreendedorismo e no turismo sustentável. Com a realização da atividade, esperava-se que os jovens de Santo Amaro: aguçassem sua criatividade, raciocínio e gama de conhecimentos a respeito do mundo; despertassem o interesse por ações e ideias que pudessem ser continuadas na vida local, articuladas em torno do turismo como maior potencialidade; compreendessem as possibilidades de empreender, a partir de exemplos concretos (empresa júnior, na escola e ne-gócios sociais, para quem quer empreender de forma coletiva ou individual); e entendessem o elo entre o poder da comunicação no empreendedorismo e as ferramentas que estão a sua disposição (internet e outras). Além disso, trabalhou-se com a perspectiva de estimular a continuidade dos estudos em uma universidade. Muitos alunos estavam bastante focados no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

O evento de extensão contou com a participação de 57 adolescentes e foi desenvolvido por alguns cursistas, alunos de cursos de graduação e alunos de Ensino Médio de São Luís, de uma escola particular, com ex-periência em empreendedorismo. O apoio da Secretaria de Turismo e do empresariado local possibilitou uma troca de experiências ainda maior. Seguindo as diretrizes apontadas para a formulação e implementação das ações de extensão, na UFMA, destacamos que além da interação dialógica,

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da interdisciplinaridade, garantimos a efetivação da tríade ensino-pesquisa--extensão, com impacto na formação do cursista da especialização, dos es-tudantes de graduação e dos jovens de Ensino Médio. Para uma das alunas de Ensino Médio que levou a experiência da empresa júnior,

Santo Amaro não é apenas um lugar para visitar, mas uma nova oportuni-dade de ver o mundo, como uma cioportuni-dade acolhedora e cheia de pessoas extrovertidas e com muita força de vontade, principalmente os jovens, que têm o sonho de crescer e proporcionar uma vida melhor para eles e sua família, cuidando da cidade que tanto amam. Mostraram-nos, tam-bém, como futuros profissionais, o que realmente precisa para crescer, com humildade e simpatia; a cidade é rica em oportunidades e belezas naturais, onde, além de trabalhar, você aprende e se diverte. Um lugar inexplorado, mas com um grande potencial que eles próprios podem aproveitar para investir, sem ter que abandonar a cidade em busca de oportunidades, pois o que eles precisam encontram lá, e, com a palestra ministrada, eles aprenderam como começar uma empresa e levar adiante. Analisando a interação dialógica, entendemos que o diálogo e a troca de saberes entre os envolvidos foram evidenciados desde a apresentação, quando os graduandos disseram suas idades e que eram alunos da UFMA. Estabeleceu-se uma atenção para com os conteúdos apresentados, que fo-caram nos sonhos, desejos e realizações dos jovens, independentemente de sua condição socioeconômica. As dinâmicas propostas e realizadas foram o ponto alto de aproximação entre os jovens, que se envolveram plenamente no desenvolvimento e na socialização da atividade. O conhecimento que os graduandos levavam consigo interagiu com o saber dos jovens nativos, e ambos se reconheceram como jovens capazes de dizer que sonham e que podem empreender. Os não universitários demonstraram um conhecimento de realidade, com clara definição de objetivos e metas, para além da ativi-dade proposta. Um dos universitários destacou que percebeu o potencial inovador das propostas dos nativos e que eles não eram nem um pouco acomodados, estavam inquietos por mudanças em suas vidas. O reconheci-mento da importância da formação deu-se durante o desenvolvireconheci-mento das atividades, cujo formato pensado pelos jovens incluiu dinâmicas participa-tivas e dialogadas. Quanto à interdisciplinaridade e à

interprofissionalida-de, outra diretriz da extensão, houve a interação de modelos, conceitos e

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em teorias e nas experiências dos jovens, que eram de três áreas de conhe-cimento (Saúde, Sociais e Exatas).

A pesquisa foi inerente a todas as atividades do CEEPDS. A participação da equipe de coordenação e de um cursista, assim como dos alunos de graduação e do Ensino Médio, consubstanciou a indissociabilidade ensino--pesquisa-extensão; os estudantes de graduação reconheceram seu papel para a garantia de direitos e deveres e para a transformação social. Além das metodologias participativas, a participação do cursista CEEPDS-UFMA qualificou ainda mais a proposta do curso. A coordenação CEEPDS cumpriu o papel de professor orientador das ações, definindo, junto aos graduandos, pós-graduando e alunos do Ensino Médio, os objetivos da ação, as compe-tências de cada participante, assim como a metodologia de avaliação. Todos os envolvidos tiveram que conhecer o território de Santo Amaro, visitando, além dos povoados e lagoas, a zona primitiva do parque, um lugar quase intocado pelo ser humano. Dessa forma, puderam compreender o encanta-mento dos jovens nativos por esse território e a importância de se discutir a questão da sustentabilidade, considerando que a rodovia de acesso à ci-dade estava em construção e que esta poderia trazer graves impactos para todos.

Apesar das especificidades da realidade dos jovens de Santo Amaro, as pesquisas realizadas pelos bolsistas Pibic e as entrevistas dos cursistas indicaram que, embora existam diversas infâncias e adolescências (SOUSA, 2015), há um modelo de educação padronizado nas escolas públicas, para além das dificuldades enfrentadas no cotidiano das famílias pobres. Essas crianças e adolescentes, em sua maioria, são filhos de famílias pobres, sob a condicionalidade da educação, cujas dificuldades de aprendizagem po-dem estar diretamente relacionadas às suas condições de vida (famílias com pais analfabetos que não conseguem ajudar os filhos nas tarefas escolares, necessidade de ajudar nas tarefas domésticas ou em outras formas de tra-balho, dificuldade de acesso à escola, dentre outras situações apontadas pelas famílias).

Em sua maioria, os jovens e suas famílias demonstraram preocupação com o futuro pessoal e profissional de crianças e demais jovens dos municí-pios, principalmente para aqueles que não têm opção de sair para estudar em outras sedes.

A ação em Santo Amaro teve como propósito servir de referência para o curso. Todo o percurso formativo pautou-se na proposta metodológica,

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dialogada e participativa. Do processo, emergiram formas de expressão, oportunidades de participação, proposição e elaboração de produções variadas, por meio de várias linguagens, pesquisas e estudos mais com-plexos, impondo ao pesquisador a qualidade bem além de ser apenas um observador.

O conteúdo programático: as atividades de reflexão-ação como

ponte para a realidade

Ao longo de cinco módulos, os cursistas leram conteúdos específicos sobre a temática Educação, Pobreza e Desigualdade Social, assistiram a vídeos e realizaram atividades diversas. Entendeu-se que a apreensão destes conhecimentos não pode se dar distante da realidade das escolas e que somente o conhecimento de tais questões não era suficiente para a superação de práticas que reforçam a condição de pobreza e reproduzem as desigualdades sociais, quer seja no âmbito da família, da escola ou em outros espaços. Assim, além desse aporte teórico, o desenvolvimento do curso preconizou atividades de reflexão-ação-reflexão, propostas em todos os módulos, focadas no conhecimento das realidades das crianças e adoles-centes, bem como no fomento de iniciativas que visassem a alteração das condições de pobreza e extrema pobreza.

Cada cursista foi levado a refletir sobre a realidade que envolve a po-breza e a desigualdade social em seus municípios e sobre as possibilidades postas pela educação para que essa realidade possa ser transformada. As atividades foram desenvolvidas para que houvesse um reconhecimento de algum aspecto da realidade relacionado à temática do curso, numa sequ-ência reflexiva para que, ao final, o material produzido pela reflexão-ação proposta subsidiasse a escrita do Trabalho de Conclusão de Curso.

As atividades foram fundamentadas no referencial teórico desenvolvido em cada um dos módulos, mas tivemos a liberdade de indicar temáticas nas atividades de reflexão da realidade. Pretendia-se que, ao final, o conheci-mento produzido fosse socializado das mais diferentes maneiras.

Nos diferentes movimentos de aproximação com a realidade das esco-las, identificamos que há um modelo de educação padronizado nas escolas públicas do Maranhão, que não reconhece as dificuldades enfrentadas no cotidiano das famílias pobres. As crianças e adolescentes, em sua maioria, são filhos de famílias pobres, sob a condicionalidade do Programa Bolsa

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Família na Educação, cujas dificuldades de aprendizagem parecem estar re-lacionadas às suas condições de vida (famílias com pais analfabetos que não conseguem ajudar os filhos nas tarefas escolares, necessidade de ajudar nas tarefas domésticas ou em outras formas de trabalho, dificuldade de acesso à escola, dentre outras situações apontadas pelas famílias). Em sua maioria, os jovens e suas famílias demonstraram preocupação com o futuro pessoal e profissional de crianças e jovens dos municípios, principalmente para aque-les que não têm opção de sair para estudar em outras sedes. Nesse sentido, entendemos que a atividade de reflexão-ação precisava se materializar com o envolvimento das crianças e adolescentes no espaço das escolas.

Diversos fatores podem provocar mudanças na realidade, mas um deles se sobressai: o conhecimento e o modo como as pessoas o produzem, re-produzem e compartilham, incluindo alternativas de superação da pobreza. Aprofundando o olhar sobre a escola, dentre as várias possibilidades, enfatizamos a gestão empreendedora que se explicita na capacidade de identificar, analisar e viabilizar as oportunidades sustentáveis. Assim, um em-preendimento humano deve ser ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente diverso. No mundo do trabalho atu-al e naquele que as crianças e adolescentes ocuparão como responsáveis, há uma demanda que exige mais do que simplesmente fazer, mas aprender novos fazeres e novos modos de fazer. Consequentemente, a escola terá que aprender como apreender, o que valoriza a motivação e a capacidade dos estudantes para continuar aprendendo mais do que o próprio conteúdo trabalhado. Aprender a empreender, neste caso, significa tomar consciên-cia de que, a respeito da sua própria identidade e da sua subjetividade, é necessário estar atento às novas possibilidades, desde que ajudem no seu pleno desenvolvimento e em sua plena realização. O empreendedor de res-ponsabilidade tem como motivação a situação social e os frutos de sua ação que revertem em favor da melhoria da situação presente, diante de ideias e ações concretas como alternativa de sobrevivência, mas também como alternativa para criar possibilidades concretas de um futuro pleno de riqueza material e espiritual.

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Quadro 1 Módulos e atividades.

Ementa/CH/Atividade de reflexão-ação

Módulo Introdutório: Pobreza, desigualdades e educação Carga horária: 60 h

ATIVIDADES

- Revisão de literatura e registro do seu entendimento acerca de cada categoria, assim como das relações e vínculos que percebe entre pobreza /desigualdade/ educação.

- Destacar os tipos e graus de interferência da pobreza e da desigualdade social, étnica, racial, de gênero e espacial na dinâmica da escola pública (em que o cursis-ta atua ou em escolas que conhece).

- Destacar os desafios que essas relações colocam para o exercício do trabalho com as crianças e adolescentes nas escolas (principalmente, aqueles na faixa etária de 06 a 17 anos) e com as suas famílias.

- Leitura, participação no fórum; criação do Diário de Saberes e Dizeres (conforme Projeto Político-Pedagógico).

REFLEXÃO-AÇÃO – Construção do Mapa da Pobreza do seu município – essa atividade teve resultados surpreendentes para os próprios cursistas.

Módulo I: Pobreza e Cidadania ATIVIDADES

- Resumo (exclusivamente com as suas palavras), entre 15 e 20 linhas de um texto que se relacione a um dos 20 tópicos elencados ao longo das quatro unidades, - Todos os resumos deverão indicar a fonte do texto utilizado (preocupe-se com a clareza, coesão, concisão e correta grafia das palavras, utilizando o dicionário em caso de dúvidas). Todos os resumos comporão um Caderno de Atividades que será publicado nacionalmente, portanto, deve ser original (sem plágio).

- Conhecimento de si, conhecimento do território: construção de poesia inédita, com um mínimo de oito estrofes (utilizando o seu nome, o conhecimento que tem de si, a sua história de vida, o município onde vai pesquisar e a microrregião onde este se situa, construa uma poesia que destaque expressões de fraqueza, força, pobreza, riqueza, necessidades, suas potencialidades e do território, para a cons-trução da cidadania. Inclua o seu nome no texto e no título (com um adjetivo). Os conteúdos das unidades devem ser contemplados. Você poderá ilustrar a poesia, com desenhos, fotos e outros recursos.

- Leitura de legislação e exercícios sobre o Benefício do Programa Bolsa Família. ATIVIDADE DE REFLEXÃO-AÇÃO

Elaboração e realização de entrevista com família participante do Programa Bolsa Família na Educação/PBFE.

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Ementa/CH/Atividade de reflexão-ação

Módulo II: Pobreza, Direitos Humanos, Justiça e Educação ATIVIDADES

Fundamentando-se no conteúdo estudado, na entrevista que você realizou com as famílias e no conhecimento da realidade da educação nos municípios do Ma-ranhão, defina qual deve ser o papel dos(as) profissionais que atuam nas escolas públicas e de gestores(as) de políticas sociais com vistas à transformação da realidade da pobreza e da desigualdade social.

- Escolha duas respostas de colegas e dialogue com eles, concordando, discordan-do ou complementandiscordan-do o que foi postadiscordan-do por cada um (fundamente sua posição). Elaboração de memorial – elabore um texto com até 02 laudas, a partir das reflexões estabelecidas e das atividades realizadas até aqui, com suas impressões sobre a experiência vivenciada no processo formativo, destacando os desafios, as dificuldades, os avanços, momentos difíceis, dúvidas etc., podendo registrar seus sentimentos, reflexões estabelecidas, histórias vividas, descobertas, avanços e inquietações ao longo do caminho.

- Elaborar o esboço do projeto de pesquisa, com elaboração do tema.

Módulo III: Escola: espaços e tempos de reprodução e resistências da pobreza Carga horária: 75h

ATIVIDADES

- Avançar na elaboração do projeto de pesquisa.

- Destacar duas citações do módulo que tenham relação com o seu objeto de pesquisa, explicando essa relação em até cinco linhas para cada citação. - Participar da Oficina I com crianças ou adolescentes.

- Elaborar relatório das oficinas.

Módulo IV: Pobreza e Currículo: uma complexa articulação ATIVIDADES

- Participação no fórum do módulo.

- Elaboração das Oficinas II e III, relacionando com os conteúdos estudados no módulo.

- Elaborar um conto ou cordel, que deve ser uma história com início, meio e fim (retratar as atividades/experiência de todas as oficinas, as mudanças nas formas de pensar, sentir e agir de vocês e das crianças/adolescentes. Deve trazer os temas de pesquisa e uma boa dose de imaginação para criar a narrativa). Total de cinco a oito páginas, usar fotos, desenhos, frases e trechos das avaliações das crianças/ adolescentes, ao longo do conto/cordel (de seis a oito fotos). Um trabalho para cada grupo de cada escola. Se for mais de um grupo na mesma escola, fazer uma única cartilha. Quem estiver sozinho, pode fazer com outro colega, mesmo que seja em outro município, dentro da mesma região.

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O Trabalho de Conclusão de Curso – TCC

Trezentos cursistas foram habilitados para o desenvolvimento do Traba-lho de Conclusão de Curso, na modalidade Artigo Científico Original.

Os temas das pesquisas foram elaborados ao final do Módulo III (Esco-la: espaços e tempos de reprodução e resistências da pobreza), após duas importantes atividades de reflexão-ação, sendo elas: visita às famílias cujos filhos estavam sob a condicionalidade do Programa Bolsa Família na Edu-cação e levantamento dos problemas na escola relacionados à violação dos direitos humanos de crianças e adolescentes dessas e de outras famílias.

Como forma de aproximar os cursistas da realidade das escolas e criar um ambiente favorável à pesquisa, o curso promoveu a realização de ofici-nas sobre sonhos e educação financeira, com o tema gerador "Formas de Pensar, Sentir e Agir de Crianças/Adolescentes sob a Condicionalidade do Programa Bolsa Família na Educação, nas Escolas Públicas do Maranhão". A partir da realização das oficinas e do avanço dos estudos no Módulo IV (Pobreza e Currículo: uma complexa articulação), os alunos desenvolveram seus projetos.

Cada cursista teve a liberdade de abordar temas específicos, mas que, obrigatoriamente, deveriam ter como foco as escolas, preferencialmente onde realizaram as "Oficinas", definindo como público da pesquisa, inde-pendentemente da temática, as crianças e/ou adolescentes sob a condicio-nalidade do Programa Bolsa Família na Educação (o que não impedia de acrescentar outro público).

O nosso propósito era dar voz às crianças e aos adolescentes sob a con-dicionalidade do Programa Bolsa Família na Educação, acerca dos diferentes problemas que afetam suas vidas, principalmente no espaço escolar, marca-das pela pobreza e pela desigualdade social.

O resultado foi a elaboração de 258 artigos científicos, de caráter indi-vidual, considerando as relações entre educação, pobreza e desigualdade social, tendo como foco as escolas em contextos empobrecidos. Uma das constatações que subsidiou a elaboração da Iniciativa EPDS foi de que a te-mática da pobreza e da desigualdade social não é sistematicamente tratada no contexto escolar (PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO EPDS, 2014).

Além dos estudos específicos da pesquisa, visando ampliar o conhe-cimento sobre a realidade das escolas, os cursistas foram orientados para

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a coleta ou somente sistematização (pois muitos já haviam feito coletas ao longo dos módulos) de informações relativas:

a ) ao perfil dos(as) alunos(as), do corpo dos profissionais da Educação Básica e das famílias que compõem a comunidade escolar da escola, atentando para suas trajetórias;

b ) às práticas pedagógicas;

c ) às condições materiais e humanas das escolas;

d ) às relações entre o corpo docente, técnico e discente; e ) à infraestrutura da escola;

f ) aos recursos pedagógicos disponíveis;

g ) aos processos de gestão, entre outros temas relevantes.

Nos artigos elaborados, tais aspectos foram analisados considerando o contexto empobrecido no qual a escola se situa, assim como o lugar que ocupa nesses espaços diante de outras instituições. Entendeu-se que o re-conhecimento dessa realidade possibilitaria a proposição de ações no senti-do da sua transformação. A elaboração senti-dos artigos a partir da realização de pesquisa sobre um tema específico articulou os conhecimentos adquiridos nos cinco módulos do curso e nas diversas atividades de ação-reflexão-ação com a realidade escolar.

Nem todos os cursistas conseguiram se manter fiéis à proposta, con-fundindo pesquisa com ações pedagógicas de intervenção na escola. O momento de intervenção foi durante a realização das oficinas, em que pude-ram, inclusive, realizar uma parte da pesquisa de campo, conforme seu tema específico. Após essa etapa, eles avançaram no estudo do tema definido para a pesquisa e escreveram um artigo com os resultados.

Assim, seguindo o raciocínio de Barros e Lehfeld (2007), mesmo que os cursistas não tivessem elaborado o projeto conforme solicitado, eles já tinham um conhecimento sobre o método científico. O tema de cada um trouxe um problema interessante que, apesar de já ter uma revisão de lite-ratura (com maior ou menor profundidade), necessitava de aprofundamento e, na sua maioria, de complementação à pesquisa de campo a fim de en-contrar respostas para o problema que se dispuseram a investigar. Muitos já estavam com as respostas prontas, embora tenham sido alertados para a necessidade de orientação no processo de escrita e elaboração do artigo.

Aos orientadores, mestres e doutores em diversas áreas, alertou-se para a sua autonomia e liberdade para direcionar os caminhos da pesquisa,

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evitando os casos comuns de plágio ou de pesquisas superficiais que não trouxessem os resultados de uma investigação. Sabemos das dificuldades relativas ao tempo que enfrentam os(as) cursistas em Educação a Distância (muitos são professores nas escolas públicas, outros enfrentam dificuldades quanto ao acesso à internet), mas todos eram capazes de produzir. Ressalta--se que, além da parte bibliográfica, se optou pela pesquisa de campo, reali-zada obrigatoriamente nas escolas, com as crianças/adolescentes.

Os módulos do curso têm uma excelente fundamentação teórica a res-peito da temática Educação, Pobreza e Desigualdade Social. Por isso, como primeira atividade, fez-se necessário que todos voltassem aos materiais dos cinco módulos, procurando articulá-los com seus respectivos temas de pes-quisa. A escrita do TCC foi realizada sob orientação docente.

As defesas de TCC foram um momento importante de socialização das experiências desenvolvidas pelos(as) cursistas durante o curso de especiali-zação Educação, Pobreza e Desigualdade Social.

Atividades de Extensão: oficinas de sonhos e educação financeira

A atividade de extensão, ao articular reflexões teóricas com os contextos sociais empobrecidos, sinalizou perspectivas de enfrentamento das situ-ações de pobreza para esta nova geração. Entende-se que o empodera-mento infanto-juvenil, pela via da afetividade e do empreendedorismo, com foco em sonhos, educação financeira, inovação e em negócios sociais, pode contribuir para o enfrentamento das circunstâncias da pobreza. Assim, como atividade de extensão, o desenvolvimento de ações com crianças e ado-lescentes envolveu alunos de graduação de diversos cursos e instituições públicas e privadas do Maranhão, possibilitando oportunidades de obter competências em sua formação cidadã e pessoal. Para os cursistas CEEPDS, suas participações nas ações constituíram-se em uma oportunidade de de-senvolver atividades de pesquisa, no movimento de reflexão-ação-reflexão, com práticas político-pedagógicas relacionadas às condições de vivência da pobreza e da extrema pobreza de crianças e adolescentes.

A partir do desenvolvimento das atividades, o cursista teve a oportuni-dade de apreender como essas crianças e adolescentes pensam, sentem e agem quando são estimulados a falar sobre o futuro pessoal e profissional. As ações de extensão focaram na temática sobre sonhos e educação finan-ceira, incluindo conteúdos de inovação e negócios sociais. Como atividade

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secundária, destacou-se o fortalecimento da afetividade e motivação em crianças e adolescentes, visando potencializar sua capacidade de planejar o futuro pessoal e profissional. Para realizar as oficinas, houve um estímu-lo à capacidade dos cursistas e alunos de graduação na identificação de possibilidades de desenvolvimento pessoal e profissional que envolvessem ações empreendedoras, inovadoras, com perspectivas de geração de lucro em atividades materiais e imateriais, que tivessem impacto positivo sobre os modos de vida de toda a comunidade.

Desta forma, a Oficina I teve como propósito a aproximação com a reali-dade das crianças e adolescentes pobres nas escolas públicas do Maranhão, buscando conhecê-los por meio de seus sonhos, necessidades e desejos, bem como das atitudes e comportamentos que assumem perante o valor do dinheiro. Na Oficina II o objetivo foi despertar os sonhos de cada crian-ça e adolescente para acreditar no seu potencial e, por meio da educação, definir objetivos e metas que lhes permitissem obter sucesso ao longo da vida estudantil e profissional. Quanto à Oficina III, a intenção foi oferecer a oportunidade para que crianças/adolescentes compreendessem a sua res-ponsabilidade com o próximo e com o ambiente em que vivem em meio ao processo de geração de riqueza.

A realização das oficinas

Idealizada por um grupo de adolescentes em conjunto com a coordena-ção CEEPDS-UFMA, entre os meses de junho e setembro de 2016, antece-dendo a elaboração do TCC, cursistas e graduandos realizaram as oficinas de inovação, negócios sociais, sonhos e educação financeira, com crianças e adolescentes nas escolas públicas do Maranhão, cujos resultados extrapola-ram as nossas expectativas, alcançando um universo de cerca de 5 mil pes-soas em 70 escolas, nos 100 municípios onde os cursistas se encontravam. Como um primeiro momento da pesquisa de campo, as oficinas tiveram, dentre um de seus propósitos, a intenção de garantir o acesso dos cursistas às escolas, aproximando-os do seu público de pesquisa e servindo de base para repensar o próprio tema da pesquisa e o esboço do projeto.

Utilizando cadernos de campo para fazer seus registros, fotografando ou gravando, os cursistas tiveram a oportunidade de, após cada atividade, reunir-se com seus grupos para discutir e avaliar a atividade, tendo condi-ções de planejar de forma mais eficiente a próxima oficina. Com seus temas

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definidos, atentaram para as mudanças no comportamento das crianças e adolescentes, antes, durante e após as atividades.

Figura 1 Sonhos e motivos..

Fonte: Atividades dos Cursistas postadas no Ambiente Virtual do Curso EPDS.

As crianças e adolescentes foram bem receptivos e, sem exceção, desen-volveram uma relação afetiva com a equipe. Se havia alguma dúvida sobre o alcance dos objetivos, a cada oficina realizada, nos mais de 100 municípios onde os cursistas estavam, fomos surpreendidos com a riqueza afetiva e a capacidade de cada criança e adolescente em sonhar e compreender a im-portância da educação financeira em suas vidas. Em cada escola, a calorosa recepção e a satisfação expressa no rosto dos gestores reafirmaram o signi-ficado das oficinas.

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Figura 2 Sonhos e motivos.

Fonte: Atividades dos Cursistas postadas no Ambiente Virtual do Curso EPDS.

A realização da Oficina I foi um grande passo para cumprirmos os nos-sos objetivos em relação a iniciativas de enfrentamento à pobreza. Poderia ter sido outra proposta, mas trabalhar com sonhos, educação financeira, inovação e negócios sociais teve muitos resultados positivos. Ao assistir a muitas oficinas, ler os relatórios e conversar com muitas cursistas, tivemos a

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dimensão do alcance do nosso trabalho. Muitos resolveram inovar, acrescen-tar. Os graduandos foram essenciais e fizeram a diferença nessas oficinas.

Em todas as oficinas, solicitamos que se fizessem atividades e registros avaliativos com o propósito de elaborarmos os Cadernos CEEPDS, que se-rão entregues para cada escola.

Todos os cursistas assumiram, desde o início do curso, a condição de pesquisadores. Sob a orientação dos professores pesquisadores, dos pro-fessores formadores e dos tutores, a partir do Módulo I, desenvolveram as atividades práticas nas escolas e foram orientados a elaborar:

a ) Memorial – trata-se de um texto que o(a) cursista deveria elaborar, ao final de cada módulo, a partir das reflexões estabelecidas e das ativida-des realizadas, com suas impressões sobre a experiência vivenciada no processo formativo, destacando os desafios, as dificuldades, os avanços, momentos difíceis, dúvidas etc., podendo registrar seus sentimentos, reflexões estabelecidas, histórias vividas, descobertas, avanços e inquie-tações ao longo do caminho;

b ) Elementos de pesquisa bibliográfica – fichamento das leituras dos mó-dulos e de outras obras da revisão de literatura;

c ) Elementos de pesquisa de campo – observações de sua prática, resul-tados das ações na escola, das entrevistas, estudos de casos, reflexões e outros;

d ) Demais elementos que contribuam para sua formação no curso e formu-lação de seus projetos de pesquisa ao longo dos módulos, base para a elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso – TCC.

Durante os períodos indicados para os encontros presenciais, sempre ao final de cada módulo, os cursistas interagiram e socializaram as experiências práticas.

Radicalizando o olhar e as atitudes

Ao longo dos 18 meses do CEEPDS, além de dificuldades pessoais dos cursistas (família, trabalho em três turnos) e difícil acesso à internet em muitos locais, tivemos problemas que contribuíram para uma evasão de 36,95%, principalmente em três momentos. Inicialmente, como muitos cur-sistas tinham apenas contratos temporários em prefeituras, em virtude de um concurso para professor, dedicaram-se aos estudos do concurso. Isso

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ocasionou uma evasão de 13,86%. Em junho de 2016, com as atividades de reflexão-ação nas escolas, houve outro pico de evasão (atingindo 26,10% de evadidos desde o início do curso), quando muitos cursistas alegavam não ter condições de desenvolver atividades práticas, pois queriam apenas as atividades a distância, por falta de tempo ou interesse. No entanto, essas atividades foram fundamentais para nos aproximar das escolas e possibilitar uma abertura para as atividades de pesquisa de campo e elaboração de TCC que focaram nas formas de pensar, sentir e agir das crianças e adolescentes das escolas públicas do Maranhão (sobre temas como evasão escolar, gravi-dez na adolescência, relação família/escola, afetividade etc.), sensibilizando, ainda mais, todos os envolvidos no CEEPDS para a necessidade de com-preender e intervir sobre essa realidade. Outra fase que gerou um aumento no índice de desistência foi a de elaboração e defesas dos TCC. Um dos principais motivos foi o nível de exigência dos orientadores em relação ao cumprimento de prazos, desenvolvimento de pesquisa de campo e combate ostensivo ao plágio (inúmeros casos identificados). Em todas as situações, coordenação e tutores foram atuantes, dialogando com cada cursista, como já destacamos antes, interagindo por meio do ambiente virtual do curso e das redes sociais (principalmente nos grupos de cada turma). Recuperações e reposições de nota, com visitas aos polos e negociação de prazos, foram importantes para manter 270 cursistas até o final, cuja dedicação e empe-nho como pesquisadores foram exemplares. Quando olhamos a escolari-dade dos cursistas, identificamos que aqueles com outras especializações tiveram o menor índice de desistência (19,23%), por valorizarem o curso em uma universidade federal (conforme depoimentos); os maiores percentuais de desistência foram de cursistas ligados à rede municipal (40%), que eram maioria no início do curso (60% das matrículas), do sexo masculino (45%), sem maior expressão quanto à raça/etnia ou funções. Durante todo o percurso, a parceria UFMA, Undime e Seduc esteve fortalecida, e o Comfor apoiou o funcionamento do curso, agilizando processos, articulando reuniões com a reitoria, secretários de educação e demais instâncias que se fizeram neces-sárias para o êxito do curso.

O formato como o curso foi pensado e explicitado ao longo dos seus módulos possibilitou o desenvolvimento de metodologias participativas, estimulando o envolvimento dos cursistas nas atividades de reflexão-ação e acompanhamento do material escrito e dos vídeos. Tivemos abertura para ampliar essas atividades e adequá-las aos propósitos da equipe gestora no

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que se refere a garantir uma maior aproximação com as realidades das es-colas públicas que crianças e adolescentes do Programa Bolsa Família na Educação frequentavam. Os 270 cursistas que concluíram a especialização são de cerca de 100 municípios do estado do Maranhão (de um total de 217 municípios) e realizaram estudos sobre a realidade social e o contexto escolar de escolas públicas, com o desafio de compreender melhor essa realidade a partir da visão das crianças e adolescentes. Esse percurso meto-dológico despertou em nossos cursistas a necessidade de se envolver com iniciativas voltadas para o combate à pobreza e à desigualdade social. Além do material dos módulos do curso, os alunos, que em sua maioria são pro-fessores de escolas públicas, participaram das atividades de reflexão-ação, com a realização de visitas às famílias das crianças e adolescentes (de 6 a 17 anos de idade) que recebem o benefício do Bolsa Família para manter os filhos na escola. Nessas famílias, muitos pais são analfabetos, desejam uma vida diferente para seus filhos, embora outros não valorizem a educação e queiram que os filhos os acompanhem na pesca ou na roça. Nas escolas, os professores reclamam que as famílias não assumem sua parte e querem que a escola dê conta da educação dos filhos deles. Uma das atividades que teve maior impacto sobre os cursistas foi a realização de oficinas sobre sonhos e educação financeira, com o propósito de se aproximar da realidade das crianças e adolescentes pobres nas escolas públicas do Maranhão, desper-tando os sonhos de cada criança e adolescente para acreditar no seu poten-cial e, por meio da educação, definir objetivos e metas que lhes permitam obter sucesso ao longo da vida estudantil e profissional. Os resultados foram surpreendentes e mostraram que, ao instigar essas crianças e adolescentes, eles têm um grande poder de ação. O alcance das oficinas foi além do espa-ço da sala de aula onde cerca de 2 mil crianças e adolescentes interagiram com nossos cursistas e contribuíram efetivamente para o êxito da pesquisa para a realização dos TCC.

Cabe ressaltar o papel dos órgãos gestores e parceiros. O Comfor teve um papel essencial para o êxito do CEEPDS-UFMA. Desde a fase de elabo-ração e tramitação do Projeto Político-Pedagógico, articulou reuniões com a reitoria, secretarias estadual e municipais de educação, participando das reuniões com a Seduc e Undime. Em termos estruturais, foi responsável di-retamente pela estruturação de uma sala exclusiva para a especialização. Participou ativamente da realização do curso, com apoio logístico para as

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viagens aos municípios e realização dos encontros presenciais nos oito cam-pi da UFMA.

A competência do MEC na condução deste projeto, desde a sua ela-boração, foi exemplar. A Coordenação da Iniciativa Nacional acompanhou com responsabilidade cada etapa do planejamento e execução, agilizando as respostas às nossas demandas, dando suporte tecnológico e garantindo a liberação total dos recursos planejados.

Além de acompanhar intensivamente a realização do curso, via sistema e reuniões presenciais, a coordenação viabilizou a nossa participação em reunião com os coordenadores estaduais do Programa Bolsa Família na Educação e sempre nos sensibilizou para conhecer o acompanhamento e o significado do Sistema Presença. Além disso, foi incisiva na criação e manutenção do Grupo de Trabalho Interinstitucional (GTIL), garantindo que UFMA, Comfor, Seduc e Undime se articulassem para o desenvolvimento e êxito do CEEPDS. A realização desta especialização foi de grande relevância para o estado do Maranhão. Os 258 cursistas que finalizaram e defenderam seus TCCs têm uma grande oportunidade de propor ações que contribuam para alterar a realidade das crianças e adolescentes em situação de pobreza e extrema pobreza, nas escolas públicas. Com este curso, alcançamos cerca de 5 mil pessoas, entre coordenação, docente, cursistas, gestores, crianças, adolescentes e familiares.

Participar desse projeto foi, em primeiro lugar, uma lição de vida adquiri-da a caadquiri-da dia desses três anos, entre a elaboração adquiri-da proposta e execução do curso; aprendemos que as políticas públicas podem ser totalmente eficazes quando se tem um acompanhamento intensivo e próximo. A CGAIE, com sua competente equipe, por meio da Coordenação da Iniciativa Nacional EPDS, preza pela seriedade das ações e busca pela transformação da realidade. Dessa forma, seguindo o exemplo da coordenação nacional, aprendemos a caminhar com segurança, ousando nas ações de enfrentamento à pobreza no estado do Maranhão, idealizando e realizando oficinas de sonhos e edu-cação financeira com cerca de 2 mil crianças e adolescentes nas escolas pú-blicas de 70 municípios do estado. Aprendemos que cada um é responsável pela mudança dessa realidade de pobreza no estado do Maranhão, o qual dispõe de grandes riquezas (econômica, cultural e social) as quais não justifi-cam a situação que encontramos nas escolas públicas. Muitas vezes é apenas um problema de gestão local e de ausência de acompanhamento das secre-tarias de educação. Tanto os cursistas quanto a equipe gestora encontraram

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