• Nenhum resultado encontrado

A pesquisa do EPDS-UFC

No documento Pobreza, Desigualdades e Educação Volume I (páginas 176-181)

Um dos diferenciais do EPDS foi permitir aos docentes desenvolverem uma pesquisa em consonância com o conteúdo do curso. A equipe de pes- quisa foi liderada pelo professor Domingos Sávio Abreu e contava com o professor Jakson Alves de Aquino, a professora Rafaela Silveira (responsável pela reflexão-ação do curso) e um corpo de quatro bolsistas de iniciação científica, estudantes de graduação em Ciências Sociais.

Com isso, produziu-se um grande levantamento de dados relacionando as famílias que cumprem as condicionalidades do Programa Bolsa Família (PBF) e a temática da pobreza, da desigualdade social e da eficácia das polí- ticas públicas. O objetivo da pesquisa foi identificar e mensurar os obstácu- los que as crianças e adolescentes cearenses beneficiárias do PBF enfrentam para alcançar o sucesso escolar.

A pesquisa começou a ser elaborada em março de 2015, em decorrência da assinatura do termo do EPDS-UFC, e começou as atividades um ano de- pois, em março de 2016, prosseguindo até outubro de 2017. O trabalho de campo ocorreu em duas etapas: a primeira em junho de 2016, com entrevis- tas de famílias que atendiam ou não a condicionalidade do PBF em mais de 90 municípios do Ceará, e a segunda em agosto e setembro de 2017, com a aplicação dos questionários em 5 municípios, finalizando com um Seminário de Pesquisa que contou com a apresentação dos dados parciais e discussão sobre as temáticas propostas, inclusive com pesquisadores de outras inicia- tivas do EPDS (no caso, da UFPR e UFMG), que ocorreu em 27 de setembro de 2017. Em seguida, os dados foram consolidados e continuam sendo ava- liados até a presente data, para compor publicações futuras.

Em termos metodológicos, para alcançar o objetivo proposto, a pes- quisa foi dividida em duas etapas: uma qualitativa e outra quantitativa. A coleta de dados qualitativos foi realizada em parceria com os cursistas du- rante a atividade de reflexão-ação. Melhor explicando: durante o curso de especialização houve uma disciplina voltada para a compreensão da relação da família e o universo escolar (BRASIL, 2014). Como já dito, foi solicitado que cada cursista fosse às casas de duas famílias beneficiárias do PBF com

filhos na escola, uma das quais cumpria a condicionalidade e a outra não, para a realização de uma entrevista semiestruturada. Como o EPDS-UFC atingiu grande parte do território cearense, a amostra foi estratificada por municípios e bastante relevante. As entrevistas foram feitas com questões "abertas" e gravadas em áudio, que foram utilizadas em um dos portfólios dos cursistas e disponibilizadas à equipe de pesquisa, que as transcreveu.

As respostas foram tipificadas e classificadas quantitativamente, permi- tindo uma análise detalhada.

O roteiro de entrevista havia sido montado e testado junto a beneficiá- rios do município de Maracanaú, localizado na região metropolitana de For- taleza. Os cursistas foram treinados por vídeos postados pela coordenação e pelos tutores do curso na plataforma Solar. O vídeo mostrava como e por que utilizar a técnica da entrevista semiestruturada, a forma de realizar a entrevista e a importância do conteúdo de cada uma das perguntas feitas.

Mesmo que a qualidade das entrevistas em si tenha sido variável, ao final foram consideradas 371 entrevistas, que reuniram os primeiros dados da pesquisa.

Em seguida, veio a segunda etapa da pesquisa, com a realização de 624 questionários em cinco municípios cearenses (Fortaleza, Aracati, Tianguá e Crateús) por um grupo de 10 estagiários de pesquisa e os três professores pesquisadores.

Desta vez, foram analisadas como as questões domésticas influenciam ou não na condicionalidade do PBF, abordando variados temas, desde a pre- sença ou ausência de figura paterna (ou outra que o substitua) até o engaja- mento materno na vida escolar dos filhos. Os resultados da pesquisa estão sendo publicados em livros e artigos, como Abreu e Aquino (2017) e Abreu, Aquino e Souza (2017). Outros mais estão em preparação ou em avaliação por pareceristas de periódicos nacionais e internacionais.

No momento em que este texto é escrito, a coordenação do EPDS-UFC está preparando uma coleção de 5 livros a serem publicados pela Editora Pontes.

Além das publicações, a coordenação e a equipe do EPDS-UFC organi- zaram o Seminário de Pesquisa do EPDS como uma maneira de apresentar os dados e as análises à comunidade universitária local. O evento contava com a presença também de pesquisadores da Iniciativa EPDS das outras universidades brasileiras. O evento transcorreu no dia 26 de setembro de 2017 nos três turnos, começando com uma mesa de abertura realizada no

Auditório José Albano (no Centro de Humanidades, Área I, Campus Benfica), com as presenças do vice-reitor Custódio Almeida, do pró-reitor Antônio Gomes Filho, do coordenador Irapuan P. Lima Filho e do coordenador da pesquisa, Domingos Abreu.

Às 10h ocorreu a 1a mesa, Condicionalidades educacionais do progra-

ma brasileiro de transferência de renda a famílias pobres, que contou com

o debate entre o professor Domingos Abreu e a professora Marisa Ribeiro Teixeira Duarte, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A 2a mesa ocorreu no mesmo local, às 14h30, com o título A efetividade da política

educacional na garantia do direito à educação da população em situação de pobreza, e contou com Jakson Aquino e Gabriela Schneider, da Universida-

de Federal do Paraná.

Por fim, o evento transferiu-se para o Auditório Luiz de Gonzaga (no De- partamento de Ciências Sociais, no Centro de Humanidades, Área III), onde, após um coffee break, se iniciou a 3a mesa, Escola para alunos do Bolsa Fa-

mília: notas sobre as condições e as disposições subjetivas da relação social,

com Domingos Abreu e Gabriela Schneider.

O Seminário de Pesquisa não foi obrigatório aos cursistas do EPDS, que àquela altura estavam envolvidos demais com a produção de seus TCCs, porém, um número significativo deles compareceu, juntamente aos pesqui- sadores de outras universidades, além de professores e estudantes da UFC.

Algumas considerações finais

Garantir uma baixa evasão não é apenas a tentativa de "manter bons índices", mas fazer bom uso do dinheiro público e, ainda, se esforçar para o cumprimento do objetivo do curso em si, que é formar especialistas com qualidade. Pensamos que o maior legado do EPDS-UFC é o que ele cons- truiu por meio daqueles que participaram, entre professores e estudantes, e o efeito (positivo e duradouro) que causou em cada um.

Porém, os números são indicativos de como esse processo foi realizado e expressam de maneira sistemática o que conquistamos.

Com 283 cursistas diplomados, 30 reprovações (27 nas disciplinas e 3 nos TCCs) e 136 evadidos (99 nas disciplinas e 37 nos TCCs), excluindo as repro- vações, isso coloca a taxa de evasão do EPDS-UFC em 30,2%, um número muito abaixo da média nacional, que é de 50%, e isso foi considerado um

grande feito para o projeto. Considerando os 450 ingressantes, isso dá uma taxa de aprovação de 62,8%.

Isto só pôde ser atingido pelo trabalho constante de monitoramento dos cursistas e pelo atendimento individual para a solução de problemas e en- traves, nos quais atuavam diretamente tutores, supervisoras e a formadora de formadores.

Além desse resultado, o projeto atingiu bom desempenho também na formação ampliada de seus cursistas e da sociedade em geral, tendo em vis- ta os grandes eventos realizados de modo associado ao curso em si, como a aula inaugural, a aula de encerramento e o Seminário de Pesquisa, que reuni- ram não somente a equipe do EPDS e os cursistas, mas também professores e estudantes da UFC e interessados da sociedade em geral. Esses eventos combinaram discussões sobre EaD, familiarização com o Solar, discussões do projeto de pesquisa vinculado ao curso, interação presencial entre cur- sistas, tutores e orientadores, e conferências temáticas que aprofundaram muitos dos temas discutidos nos módulos/disciplinas.

Gostaríamos de ressaltar, ainda, que conseguimos evitar ao máximo o desperdício de dinheiro público, de modo que economizamos no pagamen- to das bolsas sempre que possível. Por isso, a despeito das atividades reali- zadas e do planejamento, conseguimos que fossem pagas apenas 94,8% das bolsas de professor formador e 98,5% das de tutor, sem nenhum prejuízo ao curso, o que representou uma economia de 5,2% e 1,5%, respectivamente, aos cofres públicos.

A boa articulação com o MEC foi fundamental para o bom desenvolvi- mento do projeto, e, desde o início, a equipe da Secadi mostrou-se muito acessível e disposta a ajudar, o que foi determinante para que o EPDS-UFC pudesse ser instalado, a despeito dos desafios burocráticos que já aborda- mos em outro texto (LOPES et al., 2017). Ao longo da execução procuramos manter essa proximidade, e a competência da equipe do MEC ajudou na so- lução de muitos problemas, enquanto também fornecia apoio aos desafios, soluções para problemas e incentivava as boas práticas.

A presença de representantes da Secadi/MEC na aula inaugural e na aula de encerramento foi de grande ajuda e simbolizou o envolvimento da equipe, ao mesmo tempo em que dava aos cursistas a presença física do Ministério e empoderava o sentimento de pertença a algo maior. A presença também permitiu estreitar laços e promover ações mais ágeis e o esclareci- mento de dúvidas.

As duas reuniões da Iniciativa EPDS em Brasília, reunindo as 15 Univer- sidades parceiras, também foram grandes momentos que permitiram a so- cialização entre as equipes dos estados e a troca de experiências que auxi- liaram na criação de uma rede de pesquisadores sobre o tema da pobreza e da educação, iniciativa que está germinando ainda, porém, já começa a dar frutos, representados na troca de dados e difusão de pesquisas em artigos de revistas científicas e nas coleções de livros do EPDS que começam a ser publicados pelos projetos.

Neste momento em que o EPDS prossegue suas atividades em outro formato, como curso de aperfeiçoamento, e no qual continuamos a desen- volver tanto o curso quanto a pesquisa, as perspectivas tornam-se ainda melhores. Por exemplo, no nosso caso, estreitamos os laços com a equipe da Universidade Federal do Paraná (UFPR), na qual o professor Domingos Abreu vem realizando um estágio pós-doutoral que amplia o aprofunda- mento da pesquisa do curso e constrói a ponte para a nova etapa, na qual a parceria se manterá.

Esses esforços são fundamentais não apenas para a formação de um corpo mais qualificado de técnicos que ocupem os postos do Estado, mas também para aprofundar o campo de pesquisa em educação e pobreza, um cruzamento de temas que é essencial ao Brasil em vista de sua história e dívidas com o passado. Dessa forma, podemos acreditar que o resultado das políticas públicas que combatam a pobreza, tendo a educação como mote, se revela promissor.

Referências

ABREU, D. S.; AQUINO, J. A. Contexto familiar e cumprimento da condicionalidade de frequência escolar no Programa Bolsa Família no Ceará. Educar em Revista, Curitiba, v. 33, n. esp. 2, p. 55-69, set. 2017.

ABREU, D. S.; AQUINO, J. A.; SOUZA, F. A. P. Representações sociais de beneficiárias do Programa Bolsa Família no Ceará. In: GARCIA, A. V.; TORRI, D.; CERNY, R. Z.; OLIVEIRA, S. M. (Org.). Forma-

ção e pesquisa no âmbito da Iniciativa Educação, Pobreza e Desigualdade Social. Brasília: MEC,

2017. Coleção Educação, Pobreza e Desigualdade Social, v. 3. p. 201-242.

BRASIL. Curso de Especialização em Educação, Pobreza e Desigualdade Social: Projeto Político Pedagógico. Brasília: MEC/Secadi: 2014.

LOPES, V.; ABREU, D. S.; LIMA FILHO, I. P.; RIOS, G. A.; AGUIAR, R. S.; SANTOS, M. L. Ações em contextos institucionais: o caso do PNEPDS na Universidade Federal do Ceará. In: GARCIA, A. V.; TORRI, D.; CERNY, R. Z.; OLIVEIRA, S. M. (Org.). Formação e pesquisa no âmbito da Iniciativa

Educação, Pobreza e Desigualdade Social.  Brasília: MEC, 2017. Coleção Educação, Pobrza e Desi-

Educação, Pobreza e Desigualdade

No documento Pobreza, Desigualdades e Educação Volume I (páginas 176-181)