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Direito autoral em obra psicografada e o uso do nome de pessoa falecida

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA BRUNO SILVA MARINHO

DIREITO AUTORAL EM OBRA PSICOGRAFADA E USO DO NOME DE PESSOA FALECIDA

Tubarão 2017

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BRUNO SILVA MARINHO

DIREITO AUTORAL EM OBRA PSICOGRAFADA E USO DO NOME DE PESSOA FALECIDA

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarinacomo requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Linha de pesquisa: Justiça e Sociedade

Orientador: Prof.Terezinha Damian Antonio, MSc.

Tubarão 2017

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BRUNO SILVA MARINHO

DIREITO AUTORAL EM OBRA PSICOGRAFADA E USO DO NOME DE PESSOA FALECIDA

Esta Monografia foi julgada adequada à obtenção do título de Bacharel em Direito e aprovada em sua forma final pelo Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Tubarão, (dia) de (mês) de (ano da defesa).

______________________________________________________ Professora e orientadora Terezinha Damian Antonio, MSc.

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________ Prof. Nomedo Professor, Esp. Michel Medeiros Nunes

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________ Prof. Nomedo Professor, Esp. Agenor de Lima Bento

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Dedico esta pesquisa a minha esposa, Bianca de Souza e aos meus pais, grandes e verdadeiros amores da minha vida. A eles minha eterna gratidão.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me amparado em todos os momentos no decorrer da minha vida, dando-me força e sabedoria para conseguirrealizar grandes sonhos em pouco tempo.

Aos meus pais, por todo o amor, incentivo, educação e compreensão, fundamentais para que eu mantivesse o foco e o equilíbrio, e desse modo, chegar ao final desta pesquisa.

A minha esposa, Bianca de Souza, que durante todo o tempo esteve do meu lado me apoiando e dedicando seus dias à minha pessoa. Assim, sendo muito mais que uma esposa, uma grande parceira da vida.

A minha querida orientadora, Terezinha Damian Antonio, por ter me acolhido na construção deste trabalho, sendo generosa em suas considerações. Obrigado, por todo o tempo dedicado a mim. Obrigado, por toda força, todos os conselhos e por ter me ajudado quando estava pensando em desistir. Uma amiga que levarei sempre no meu coração, com muita gratidão. Espero que a senhora continue esse excelente trabalho por muito tempo.

Aos professores desta Universidade, grandes mestres, que tive a honra de compartilhar, ao longo dos semestres, inúmeras trocas de experiências e, sem dúvida, a obtenção de muito conhecimento que levarei por toda minha vida.

A todos que acreditarem em mim: muito obrigado. São vocês os verdadeiros motivadores da minha caminhada até aqui.

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“Se tiver que amar, ame hoje. Se tiver que sorrir, sorria hoje. Se tiver que chorar, chore hoje. Pois o importante é viver hoje. O ontem já foi e o amanhã talvez não venha” (Chico Xavier).

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RESUMO

OBJETIVO: Analisar teorias e bibliografias disponíveis a respeito da titularidade do direito autoral em obra psicografada, considerando-se a criação intelectual e o uso do nome do falecido. MÉTODO: Quanto ao nível de pesquisa, adotou-se o método de pesquisa exploratória; método dedutivo; quanto ao procedimento de coleta de dados, empregou-se o bibliográfico e documental, em livros, artigos e jurisprudência.RESULTADOS: Essa pesquisa nenhum momento visou promover nenhum tipo de religião, mas sim a busca de conhecimento. No primeiro momento foi abordado temas relacionados a doutrina espírita, tipos de psicografia e tipos de médiuns. Após foi feito um estudo a respeito do direito de personalidade, o direito vinculado diretamente a pessoa natural. Outro assunto abordado nessa segunda parte é a respeito dos direitos autorais. E por fim, uma ligação entre esses direitos, e a forma que o judiciário vem julgando questões relacionadas a este assunto. CONCLUSÃO: Os direitos autorais são concedidos para o médium que escreveu a obra; entretanto, o uso do nome de uma pessoa, mesmo falecida, sem uma prévia autorização familiar pode resultar em danos morais.

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ABSTRACT

OBJECTIVE: To analyze the available theories and bibliographies regarding the ownership of the copyright in psychographic work, considering the intellectual creation and the use of the deceased's name. METHOD: Regarding the level of research, the method of exploratory research was adopted; deductive method; As for the data collection procedure, the bibliographical and documentary was used in books, articles and jurisprudence. RESULTS: This research did not seek to promote any kind of religion, but rather the search for knowledge. In the first moment it was approached subjects related to the spiritist doctrine, types of psicografia and types of mediums. After a study was made regarding the right of personality, the law directly linked to the natural person. Another subject covered in this second part is about copyright. And finally, a link between these rights, and the way that the judiciary has been judging issues related to this matter. CONCLUSION: Copyright is granted to the medium who wrote the work; however, the use of the name of a person, even deceased, without prior family authorization can result in moral damages.

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SUMÁRIO

1 introdução ... 111

1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA ...11

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ...14

1.3 HIPÓTESE ...14

1.4 DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS OPERACIONAIS...14

1.5 JUSTIFICATIVA...15 1.6 OBJETIVOS...16 1.6.1 Geral...16 1.6.2 Específicos...16 1.7 DELINEAMENTO DA PESQUISA ... 16 1.8 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA ... 17 2 OBRA PSICOGRAFADA... 19

2.1 DOUTRINA ESPÍRITA E A MEDIUNIDADE ... 21

2.2 MEDIUNIDADE E A CIÊNCIA ... 23

2.3 PSICOGRAFIA ... 25

3 DIREITO AUTORAL EM OBRA PSICOGRAFADA e USO DO NOME DO FALECIDO ... 30

3.1 NOÇÕES GERAIS ACERCA DO DIREITO AUTORAL (LEI 9.610/98)... 30

3.1.1 Antecedentes históricos do direito autoral ... 30

3.1.2 Obras intelectuais protegidas ... 32

3.1.3 Direitos do autor... 33

3.1.4 Direitos conexos ... 37

3.1.5 Violação aos direitos autorais... 38

3.2 NOÇÕES GERAIS ACERCA DOS DIREITOS DE PERSONALIDADE ... 40

3.2.1 Pessoa natural: conceito, início e fim ... 40

3.2.2 Direitos de personalidade: conceito e características ... 41

3.2.3 Direitos de identidade pessoal: conceito e características ... 43

3.2.4 Direito de Identdade pessoal e princípio da dignidade humana...45

4 O JUDICIÁRIO E A PSICOGRAFIA ... 47

4.1 AUTOR E AUTORIA DE OBRA PSICOGRAFADA...47

4.1.1 Legislação internacional e autoria de obra psicografada ... 47

4.1.2 Lacunas da lei ... 49

4.1.3 Autoria na obra psicografada... 49

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4.1.5 Posicionamento doutrinário e jurisprudencial sobre autoria de obra

psicografada ... 51

4.1.6 O caso e Humberto De Campos ... 53

4.2 USO DO NOME DE FALECIDO EM OBRA PSICOGRAFADA ... 58

4.2.1 Direito de personalidade em obra psicografada ... 59

4.2.2 Uso do nome do falecido possibilidde de indenização por dano moral .. 59

4.3 DESTINAÇÃO FINAL DOS RENDIMENTOS DE OBRA PSICOGRAFADA ... 64

5 CONCLUSÃO ... 65

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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por objeto o estudo do direito autoral acerca das obras psicografadas, bem como o uso do nome do falecido na obra publicada. Assim sendo, este capítulo apresenta o tema e a delimitação da pesquisa, bem como o a formulação do problema e sua justificativa, os objetivos e procedimentos metodológicos, bem como a estruturação dos capítulos.

1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA

O presente trabalho não tem por objetivo discutir a veracidade das obras psicografadas, tão pouco analisar se as obras são de fato escritas ou ditadas por espíritos a quem os médiuns destinam a autoria. O trabalho tem por objetivo analisar a quem de fato pertence os direitos autorais resultantes das obras psicografadas, como também analisar os direitos que se originam desse tipo de obra; tanto os direito e deveres dos médiuns em relação à obra como também em relação à família do ente falecido.

As obras que estão diretamente relacionadas com o tema são escritas por meio do fenômeno da psicografia, onde os médiuns afirmam receber de espíritos, pensamentos e ensinamentos, que trazem para o mundo físico por meio da escrita. Dessa forma o espírito consegue então transcrever para o plano físico, através da psicografia, suas supostas criações intelectuais.

A palavra psicografia tem como origem a palavra “psyché”, palavra de origem grega que significa escrita da mente ou da alma.Segundo Allan Kardec (2013, p. 36), a psicografia significa:

A transmissão do pensamento dos espíritos por meio da escrita pela mão do médium. No médium escrevente a mão é o instrumento, porém a sua alma ou espírito nele encarnado é intermediário ou intérprete do espírito estranho que se comunica.

As obras psicografadas são escritas por médiuns, e ditadas ou escritas por espíritos. Os médiuns são as pessoas que possuem uma sensibilidade humana maior que o normal, considerado por muitos como um dom inato, o qual permite a comunicação com espíritos.

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Os médiuns psicográficos podem ser classificados em três espécies: intuitivos, semi-mecânicos e mecânicos. Os intuitivos apenas recebem ideias e transcrevem para o papel com suas palavras. Os semi-mecânicos transcrevem para o papel exatamente o que é dito pelo espírito, mas de forma totalmente consciente. Por fim os médiuns psicográficos mecânicos, são aqueles que transcrevem de forma idêntica o que é dito pelo espírito, mas neste caso no momento da psicografia o médium encontra-se totalmente inconsciente.

Existem pessoas que entendem que para esclarecer tal situação seria necessário um estudo grafológico, com a finalidade de analisar a escrita e descobrir se o material psicografado possui semelhança ao material deixado pelo espírito enquanto vivo. Mas alguns estudos já foram feitos em cima de obras de Francisco Candido Xavier, e alguns peritos que fizeram a análise confirmaram ser a mesma caligrafia. Logo, se assim fosse, estaríamos destinando direitos a um ser metafísico, com base em uma perícia grafológica. Algo que não seria possível uma vez que nosso ordenamento estabelece o término da personalidade jurídica com a morte.

As obras psicografadas são sem sombras de dúvidas obras intelectuais resguardadas pelo Direito Autoral, no Brasil, regulamentado pela Lei 9.6010, de 19 de fevereiro de 1998, segundo a qual, o autor é a pessoa física criadora da obra. A respeito do tema lecionam Paranaguá e Branco (2009):

O autor é titular, na verdade, de dois feixes de direitos. Um deles diz respeito aos direitos morais, que seriam uma emanação da personalidade do autor e que estão intimamente ligados à relação do autor com a elaboração, a divulgação e a titulação de sua obra. O outro se refere aos direitos patrimoniais, que consistem basicamente na exploração econômica das obras protegidas.

A referida lei visa que a criação do autor seja protegida, de forma a assegurar os direitos patrimoniais e morais sobre sua obra intelectual. A legislação dos direitos autorais assegura ao autor, por exemplo, a proteção de suas obras, o direito de obter os créditos por sua criação, de não ter suas obras alteradas sem autorização prévia e de ser remunerado por terceiros que queiram utilizar as obras produzidas.

A Propriedade Intelectual trata dos bens imateriais, intangíveis, fruto da criatividade humana. Esta propriedade intelectual é protegida juridicamente por normas constitucionais e infraconstitucionais. Assim toda a pessoa tem o direito de

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criar bens através de sua capacidade intelectual e sua criatividade, e ter a exclusividade na exploração de sua criação.

Um dos casos mais famosos a respeito do assunto é da viúva de Humberto de Campos, Catharina Vergolino de Campos. A demanda era em desfavor da Federação Espírita Brasileira e Francisco Cândido Xavier, em que pleiteava a cessar a publicação ou participar dos direitos autorais pela venda dos livros pelo reconhecimento da autoria da obra como sendo do falecido marido. A família também cogitava o direito de sucessão, que conforme defendido por Diniz (2007) e Venosa (2008) o direito das sucessões consiste na transferência de direitos e/ou patrimônios ao autor da herança, ou seja, a substituição do titular de um direito. Essa transferência normalmente acontece em razão da morte, e é regulamentada por disposições jurídicas a quais chamamos de direito das sucessões. O caso ficou muito famoso no Brasil e acabou no Supremo Tribunal Federal, por se tratar do nome de um grande escritor brasileiro, e também, por ser um assunto inédito no judiciário. Neste caso o juiz entendeu que não poderia atribuir o direito autoral a um ser que não possui personalidade jurídica, ou seja, estaria impossibilitado de atribuir a um ser metafísico direito autoral, decidindo pelo arquivamento do processo.

Não existe lei sobre a psicografia no Brasil, pois a Lei de Direito Autoral, nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, nada dispõe sobre o assunto.

Também é preciso analisar o uso do nome do falecido para promover a obra, ou seja, as pessoas compraram o livro do médium Chico Xavier porque foi psicografado por Humberto de Campos. Dessa forma, o médium deve levar em consideração que o uso do nome de uma pessoa já falecida requer cuidados para não desrespeitar sua memória e não caluniar, agredir ou ofender a reputação e a honra do falecido, assim como, não gerar engano aos consumidores, em relação à obra psicografada, sob pena de arcar com as sanções legais.

Nesse sentido, uma das sanções que os médiuns, autores de obras psicografadas, estão sujeitos está prevista no Código de Defesa do Consumidor (CDC), no Artigo 37, §1º, que trata a respeito de publicidade enganosa. Na obra psicografada é necessário que conste na capa do livro, que se trata de uma obra psicografada, ou seja, ditada pelo espírito, e escrita por intermédio do médium, pois é necessário que o comprador fique ciente que a obra não foi escrita enquanto o

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autor estava vivo e publicado por outra pessoa, mas sim que a obra foi criada após sua morte.

Além disso, o artigo 138, §2°, do Código Penal, tipifica como crime a calúnia contra a pessoa já falecida, logo é necessário que o médium honre o nome da pessoa já falecida, tomando todo cuidado para que não cause ofensa à reputação da pessoa.

Ante o exposto, busca-se resposta para a seguinte pergunta de pesquisa, como se passa a expor.

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

A quem pertence a titularidade do direito autoral ou do direito de personalidade em obra psicografada, considerando-se a criação intelectual e o uso do nome do falecido?

1.3 HIPÓTESE

Inicialmente assume-se a hipótese de que os direitos autorais são concedidos para o médium que escreveu a obra. Entretanto, o uso do nome de uma pessoa, mesmo falecida, sem uma prévia autorização familiar pode resultar em danos morais.

1.4DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS OPERACIONAIS

Para uma melhor compreensão do assunto a ser abordado no trabalho monográfico, é de extrema importância a definição de alguns conceitos operacionais, que a seguir são arrolados.

Obra psicografada: Obra psicografada é a criação intelectual produzida

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(1804-1869), segundo os quais, uma pessoa que possui dons mediúnicos tem a capacidade de se conectar com espíritos e transmitir seus sentimentos para a forma física, através de livros, quadros, músicas entre outros.

Direito autoral em obra psicografada: O direito autoral de obra

psicografada é o conjunto de direitos patrimoniais e morais atribuídos ao autor de obra escrita por pessoa com dons mediúnicos.

1.5 JUSTIFICATIVA

Os motivos que levaram a escolha do tema estão relacionados, primeiramente, ao intenso debate na aplicabilidade do direito autoral nas obras psicografadas e a falta de estudos e pesquisas relacionadas ao tema, como também o grande interesse e afinidade do autor desse estudo por questões que envolvem a doutrina espírita e a atual legislação.

Também se pretende esclarecer e preencher pontos lacunosos referentes ao tema, buscando-se estabelecer a relação da obra psicografada com o direito autoral, conhecer o posicionamento legal, doutrinário e jurisprudencial a respeito do assunto, opiniões favoráveis e contrárias, para que esse tema possa ser abordado com mais frequência, colaborando para fortalecer os estudos na área.

Ainda, busca-se elaborar uma pesquisa para sociedade de forma clara, de tão contraditório assunto, visando criar ou modificar opiniões a respeito em decorrência dos conhecimentos e teorias abordados.

Enfim, os estudos realizados a respeito do tema são poucos. O presente trabalho justifica-se por buscar uma resposta para a situação problema apresentada, buscando esclarecer todos os pontos, não somente a quem pertence o direito autoral de fato, mas sim demonstrar e esclarecer os reflexos que este tipo de obra traz para o ramo do direito.

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1.6 OBJETIVOS

1.6.1 Geral

Analisar teorias e bibliografias disponíveis a respeito da titularidade do direito autoral em obra psicografada, considerando-se a criação intelectual e o uso do nome do falecido.

1.6.2 Específicos

a) Caracterizar a obra psicografada.

b) Descrever sobre o direito autoral segundo a Lei 9610/98, os direitos de personalidade, segundo o Código Civil e as implicações legais e os cuidados do autor pelo uso do nome do falecido em obra psicografada.

c) Demonstrar aplicabilidade ou não da legislação brasileira em casos concretos que discutem o tema, bem como, fundamentos que estabeleçam uma relação entre as obras psicografadas e o direito autoral.

d) Identificar as implicações legais do uso do nome de uma pessoa falecida em obra intelectual.

e) Analisar estudos doutrinários, legais e jurisprudenciais, bem como, a legislação internacional, a respeito do tema.

1.7 DELINEAMENTO DA PESQUISA

O delineamento da pesquisa, segundo Gil (1995, p. 70), “refere-se ao planejamento da mesma em sua dimensão mais ampla”, ou seja, neste momento, o investigador estabelece os meios técnicos da investigação, prevendo-se os instrumentos e os procedimentos necessários utilizados para a coleta de dados.

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Para que a pesquisa realizada seja conduzida de modo coerente e objetivo, é necessário planejar os procedimentos e etapas a serem desenvolvidos.

Entende-se por planejamento da pesquisa a previsão racional de um evento, atividade, comportamento ou objeto que se pretende realizar a partir da perspectiva científica do pesquisador. Como previsão, deve ser entendida a explicitação do caráter antecipatório de ações e, como tal, atender a uma racionalidade informada pela perspectiva teórico-metodológica da relação entre o sujeito e o objeto da pesquisa. A racionalidade deve-se manifestar através da vinculação estrutural entre o campo teórico e a realidade a ser pesquisada, além de atender ao critério da coerência interna. Mais ainda, deve prever rotinas de pesquisa que tornem possível atingir-se os objetivos definidos, de tal forma que se consigam os melhores resultados com menor custo (BARRETO; HONORATO, 1998, p. 59).

Quanto ao nível de pesquisa, adotou-se o método de pesquisa exploratória, por melhor corresponder aos objetivos do presente estudo; Dessa forma, a natureza dessa pesquisa é bibliográfica e documental; e tem por base o método dedutivo, pois parte de ideais gerais para ideais específicos (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2009).

Quanto ao nível de pesquisa, adotou-se o método de pesquisa exploratória, por melhor corresponder aos objetivos do presente estudo; o objetivo principal deste tipo de pesquisa é o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições (GIL, 2002), o que se faz uso, pois este visa familiarização do tema abordado.

Do procedimento, empregou-se o bibliográfico e documental, visto ser o que mais permite ao investigador entender uma maior parte de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente (GIL, 2002); a pesquisa bibliográfica foi realizada através de leitura e fichamento, com anotações das referências especificadas nesse trabalho; já a pesquisa documental se constituiu de análise de jurisprudências.

1.8 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA

O presente trabalho está estruturado em cinco capítulos, sendo que o primeiro se trata desta introdução, no qual se apresentou o tema, a situação problema deste estudo, a justificativa, os objetivos e os procedimentos metodológicos utilizados nesta pesquisa.

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O segundo capítulo destaca alguns aspectos acerca da doutrina espírita e a mediunidade.

O terceiro capítulo apresenta as características dos direitos autorais, segundo a Lei 9.610/98, bem como, em relação aos direitos de personalidade previstos no atual Código Civil brasileiro.

O quarto capítulo contempla a questão central dessa monografia, expondo sobre os entendimentos legais, doutrinários e jurisprudenciais acerca da autoriza da obra psicografada, bem como, a respeito do uso do nome do falecido na criação do médium

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2 OBRA PSICOGRAFADA

Esse capítulo trata dos aspectos gerais acerca da obra psicografada, abordando-se aspectos relativos à doutrina espírita e a mediunidade, como se passa a expor.

Entende-se que se faz necessária uma abordagem conceitual em relaçãoao espiritismo, ao seu decodificador, Allan Kardec, e como essa doutrina surgiu, como também, conhecer os conceitos relacionados diretamente à doutrina, e classificar alguns fenômenos para que seja possível melhor compreensão do tema abordado. Destaca-se que todo o conteúdo abordado neste capítulo, bem como nesta monografia, não tem como intenção promover a doutrina espírita, e sim, dar embasamento teórico, pois, indubitavelmente, mesmo o estado sendo laico, o judiciário está sujeito a julgar questões relacionadas ao tema abordado, independente de crer ou não na doutrina espírita.

2.1 DOUTRINA ESPÍRITA E A MEDIUNIDADE

Espiritualistas são todas as pessoas que acreditam na existência de algo a mais que a matéria; isso não quer dizer, necessariamente, que esta pessoa acredita na existência de espíritos; entretanto, existem as que acreditam na existência de espíritos e, além disso, acreditam ainda em uma possível relação que esses espíritos podem ter com as pessoas. Assim, surge a necessidade de ser criar um termo para definir esse grupo de pessoas, para evitar confusão em relação à variedade das palavras (KARDEC, 2005).

A doutrina espírita ou espiritismo surgiu com a publicação do livro intitulado “O livro dos espíritos”, escrito por Allan Kardec, em Paris, no ano de 1857, com o objetivo de criar um termo adequado para esse grupo de pessoas. Segundo o autor, o termo espiritismo estabelece a relação de dois mundos:

Vivendo o mundo invisível no meio do visível — com o qual está em contato perpétuo — dá em resultado uma incessante reação de cada um deles sobre o outro, e bem assim demonstra que, desde que houve homens, houve também Espíritos, e que se estes têm o poder de se manifestar, deviam tê-lo feito em todas as épocas e entre todos os povos. Entretanto, nestes últimos tempos, as manifestações dos Espíritos tomaram grande

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desenvolvimento e adquiriram maior caráter de autenticidade, porque estava nas vistas da Providência pôr termo à praga da incredulidade e do materialismo, mediante provas evidentes, permitindo, aos que deixaram a Terra, vir atestar sua existência e revelar-nos sua situação feliz ou infeliz (KARDEC, 2013. p.91).

Dessa forma, foi estabelecida a diferença entre aqueles que acreditam nessa relação e os que não acreditam, entre o ser espiritual e o ser corporal, o que seriam as manifestações dos espíritos com pessoas no plano material e quem são os que acreditam apenas na existência de algo além da matéria, os denominados, espiritualistas.Segundo Kardec (2002) “o espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos, como qualquer filosofia espiritualista, pelo que forçosamente vai ter às bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma e a vida futura”.

A obra então criada pelo referido autor, para estabelecer e explicar esse novo termo, também veio para esclarecer diversas dúvidas a respeito dessa relação com espíritos; fundando, assim, a doutrina espírita.Allan Kardec não é considerado o fundador, ou criador da doutrina espírita, mas sim o decodificador; ele repetia que o mérito das obras escritas por ele era dos espíritos, pois ele apenas decodificava e organizava as respostas que os espíritos lhe davam de acordo com cada pergunta. Mas para os adeptos do espiritismo, ele é considerado o pai da doutrina, apesar do autor pedir que o mérito fosse dado somente aos espíritos, aqueles que ditaram a obra, referindo-se a todo o seu trabalho de elaboração das questões que compõem as obras, a sua precisão para distribuir os capítulos de forma didática com a finalidade de passar o verdadeiro significado da doutrina, seus comentários a cada resposta, bem como sua notável introdução (WANTUIL,2002).

O espiritismo no Brasil surgiu por volta de 1865, através de alguns fenômenos mediúnicos, ainda não muito conhecidos, mas já bem discutido na França, como as mesas girantes.

A respeito da tradução para a o português e divulgação do Livro dos Espíritos, Wantul (1998, p.26) explica:

Teles de Menezes, um dos pioneiros do Espiritismo no Brasil, publicava, em 1866, na Bahia, em português, a Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, por ele mesmo traduzida da 13a edição francesa de O Livro dos Espíritos. Foi ele também o responsável pela publicação do primeiro jornal espírita do Brasil: O echo d’além-túmulo, em março de 1869.

A publicação do referido livro já foi um grande passo para a doutrina espírita no Brasil, que ainda estava um pouco confusa e dividida. Após alguns anos

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da publicação da tradução do referido texto, aconteceu o primeiro congresso espírita, com a finalidade principal de unificar esses grupos espalhados pelo Brasil. Nesse sentindo explica Quintella (2010, p.2):

O primeiro passo em prol da unificação do movimento espírita brasileiro foi dado em 1881, quando a Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade promoveu, no dia 6 de setembro, no Rio de Janeiro, o 1º Congresso Espírita Brasileiro, cuja finalidade era reunir os grupos espíritas existentes na capital e, se possível, no país. Nesse Congresso foi criado o Centro da União Espírita do Brasil, a primeira instituição unificadora do movimento espírita nacional, cuja instalação oficial deu-se no dia 3 de outubro, sob a direção de Afonso AngeliTorteroli. A edição de novembro da Revista da Sociedade Acadêmica dá a relação dos grupos filiados até aquele mês.

Através da realização desse primeiro congresso, a Federação Espírita ganhou mais credibilidade; foi assim que então a doutrina espírita começou de fato a se espalhar por todo território brasileiro, e ganhar uma quantidade maior de seguidores. No ano de 1890, foi aprovado o Código Penal da República, que trouxe em seu artigo 157 a tipificação do espiritismo como crime:

Art. 157. Praticar o espiritismo, a magia e seus sortilégios, usar de talismãs e cartomancias para despertar sentimentos de ódio ou amor, inculcar cura de moléstias curáveis ou incuráveis, enfim, para fascinar e subjugar a credulidade publica:

Penas - de prisão celular por um a seis meses e multa de 100$ a 500$000. § 1º Si por influencia, ou em consequência de qualquer destes meios, resultar ao paciente privação, ou alteração temporária ou permanente, das faculdades psychicas:

Penas - de prisão celular por um a seis anos e multa de 200$ a 500$000. § 2º Em igual pena, e mais na de privação do exercício da profissão por tempo igual ao da condenação, incorrerá o medico que diretamente praticar qualquer dos atos acima referidos, ou assumir a responsabilidade deles (BRASIL, 1890).

O referido artigo foi o motivo de algumas prisões e revoltas para os adeptos do espiritismo; além desse, outros dois artigos também relacionados à proibição do espiritismo em relação aos tratamentos homeopáticos realizados em casas espíritas da época foram trazidos no mesmo código, como segue (BRASIL, 1890):

Art. 156. Exercer a medicina em qualquer dos seus ramos, a arte dentaria ou a pharmacia; praticar a homeopathia, a dosimetria, o hypnotismo ou magnetismo animal, sem estar habilitado segundo as leis e regulamentos: Penas - de prisão cellular por um a seis mezes e multa de 100$ a 500$000. Paragraphounico. Pelos abusos commettidos no exercicio ilegal da medicina em geral, os seus autores soffrerão, além das penas estabelecidas, as que forem impostas aos crimes a que derem causa.

Art. 158. Ministrar, ou simplesmente prescrever, como meio curativo para uso interno ou externo, e sob qualquer fórma preparada, substancia de qualquer dos reinos da natureza, fazendo, ou exercendo assim, o officio do denominado curandeiro:

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Paragraphounico. Si o emprego de qualquer substancia resultar á pessoa privação, ou alteração temporaria ou permanente de suas faculdades psychicas ou funcçõesphysiologicas, deformidade, ou inhabilitação do exercicio de orgão ou apparelhoorganico, ou, em summa, alguma enfermidade:

Penas - de prisão cellular por um a seis annos e multa de 200$ a 500$000. Si resultar a morte:

Pena - de prisão cellular por seis a vinte e quatro annos.

Após muitas revoltas a respeito do Código Penal, as coisas só pareciam piorar; em 1893 com a revolta armada, o governo endureceu ainda mais a aplicabilidade do código penal. Nesse contexto acentua Arribas (2008,p. 97):

Mas apesar das investidas estatais adversas ao espiritismo, o jeito mesmo foi o de se utilizar deste Estado que, se opressor de um lado, de outro passava a disponibilizar mecanismos legítimos – através da sua mais nova Constituição – para a existência, pelo menos de uma das facetas, do espiritismo. Assim, ainda que com prerrogativas, ou seja, desde que não afetasse a “saúde e a credulidade públicas” e não se intrometesse no âmbito legal dos esculápios, o Estado republicano brasileiro a partir de 1891 tornou-se defensor legal da liberdade de culto, e sob esse preciso direito o espiritismo conseguiria passar a atuarlidimamente.

Foi assim que os líderes da doutrina espírita tiveram que começar a organizar de todas as formas a doutrina espírita nos parâmetros das fundações religiosas, pois para que a mesma pudesse continuar de forma legal, era preciso que esses requisitos de fundações religiosas fossem preenchidos, porque era assegurada a liberdade religiosa e não a prática de cultos desconhecidos. Assim, passa-se a ter no Brasil, então, o espiritismo, agora definido como doutrina, mas nos moldes de uma religião.

Francisco Cândido Xavier (1996), em sua obra ditada pelo espírito de Humberto Campos, relata a diferença entre a recepção do espiritismo na Europa e no Brasil:

Enquanto na Europa a ideia espiritualista era somente objeto de observações e pesquisas nos laboratórios, ou de grandes discussões estéreis no terreno da filosofia, não obstante os primores morais da codificação kardequiana, o Espiritismo penetrava o Brasil com todas as suas características de Cristianismo redivivo, levantando as almas para uma nova alvorada de fé.

Hoje o Brasil é considerado um dos países com mais seguidores da doutrina espírita com cerca de 4 milhões de seguidores e 30 milhões de simpatizantes da doutrina, segundo pesquisa realizada em 2010, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,2010).

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2.2 MEDIUNIDADE E A CIÊNCIA

Mediunidade é o dom que a pessoa tem de se comunicar com os seres metafísicos, chamados de espírito. Kardec (2005) explica a respeito do surgimento desse dom:

O dom da mediunidade é tão antigo quanto o mundo. Os profetas eram médiuns [...] Todos os povos tiveram seus médiuns. E as inspirações de Joana D'Arc nada mais eram que a voz dos Espíritos benfeitores que a dirigiam. Esse dom que hoje tanto se expande havia se tornado mais raro nos tempos medievais, mas jamais desapareceu.

No Livro dos Espíritos, o autor traz a mediunidade como a faculdade humana para se obter a comunicação com um outro plano, sendo este o espiritual; entretanto, para que essa pessoa tenha acesso a esse tipo de comunicação com o outro plano, é necessário um processo de evolução espiritual, conforme escreve:

Para conhecer as coisas do mundo visível e descobrir os segredos da Natureza material, outorgou Deus ao homem a vista corpórea, os sentidos e instrumentos especiais. Com o telescópio, ele mergulha o olhar nas profundezas do espaço, e, com o microscópio, descobriu o mundo dos infinitamente pequenos. Para penetrar no mundo invisível, deu-lhe a mediunidade (KARDEC, 2005).

Conforme a doutrina espírita, o ser humano é formado por três partes, o espírito, o períspirito e o corpo material. Os espíritos “não são, como alguns acreditam, seres vagos e indefinidos, nem chamas; são seres, nossos semelhantes, tendo como nós um corpo, mas fluídico e invisível no estado normal” (KARDEC,2005,p.170); o espírito deixa o corpo material, mas nunca deixa de existir, apenas deixa de ser visível.A comunicação se estabelece então entre o espírito que permanece no plano material, e o períspirito, que é o espírito que já desencarnou do corpo material e está presente em outro plano. Sobre esse processo de comunicação, Zimmermann(2011, p. 36) ensina:

Registra-se, geralmente, na mediunização, um processo de gradativa e suave interiorização, seguido de um gradativo abrandamento ou entorpecimento da atividade consciencial própria, o qual vai se tornando mais significativo à medida que o perispírito do médium, em processo de desprendimento, passa a sofrer o influxo crescente do Espírito em via de comunicar-se. Com a conexão interperispirítica final (Espírito-médium), instala-se o processo do transe. Conforme já assinalado, na operação mediúnica não ocorre nenhumaegmentação ou ‘dissociação da personalidade’, mas sim, uma verdadeira gregação de personalidades (Espírito atuante e médium), por via dos respectivos perispíritos, produzindo conteúdos que, quase sempre, nem dizem com o modo de ser e os conhecimentos atuais do médium.

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A doutrina espírita nos revela que o dom da mediunidade é inato, como por exemplo, os cincos sentidos, a mediunidade seria mais um; entretanto, um sentindo que não é possível ver como uma forma física, mas um sentindo que o ser humano vai desenvolvendo com o passar do tempo. Algumas pessoas conseguem desenvolver esse dom ainda quando criança. Conforme Souto Maior (2003, p.22), por exemplo, Francisco Candido Xavier descobriu o dom da mediunidade aos quatro anos de idade, mas ainda tudo muito confuso para ele, e aos cinco anos, começou a se comunicar com sua mãe que já havia morrido, passando a desenvolver a mediunidade e a colocá-laem prática publicamente aos vinte e dois anos.

Para que o desenvolvimento desse dom ocorra é necessário que a pessoa se dedique a uma educação mediúnica, e que siga de fato todos os ensinamentos da doutrina espírita, agir em prol da caridade, fazendo sempre o bem sem esperar nada em troca. Esses ensinamentos devem ser realizados em grupos e em local adequado, e após um período de aperfeiçoamento se dá início aos treinamentos. Outro princípio espírita que deve ser seguido pelo médium é a recusa de bens materiais, ou até mesmo favores para o seu benefício pessoal, através dos seus dons mediúnicos (KARDEC,1996).

Nesse sentido a prática desses dons, como uma maneira de “trabalho”, ou qualquer outro meio para obter vantagensindividuais está completamente distante dos preceitos espiritas, foge do verdadeiro propósito do dom que foi concedidoa determinada pessoa. Nesse sentindo, afirma Kardec (2005, p.258):

A mediunidade, porém, não é uma arte, nem um talento, pelo que não pode tornar-se uma profissão. Ela não existe sem o concurso dos Espíritos; faltando estes, já não há mediunidade. Pode subsistir a aptidão, mas o seu exercício se anula. Daí vem não haver no mundo um único médium capaz de garantir a obtenção de qualquer fenômeno espírita em dado instante. Explorar alguém a mediunidade é, conseguintemente, dispor de uma coisa da qual não é realmente senhor. Afirmar o contrário é enganar a quem paga. Há mais: não é de si próprio que o explorador dispõe; é do concurso dos Espíritos, das almas dos mortos, que ele põe a preço de moeda. Essa ideia causa instintiva repugnância. Foi esse tráfico, degenerado em abuso, explorado pelo charlatanismo, pela ignorância, pela credulidade e pela superstição que motivou a proibição de Moisés. O moderno Espiritismo, compreendendo o lado sério da questão, pelo descrédito a que lançou essa exploração, elevou a mediunidade à categoria de missão.

Segundo o espiritismo, através da mediunidade, os espíritos desligados do corpo físico, dentre outros ensinamentos, podem convencer para aqueles que ainda permanecerem no plano físico, de que a morte não existe, podem também fornecer notícias de como se encontra, bem como, ensinar os médiuns como exercer

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esse dom de maneira correta. A mediunidade transforma a pessoa física em um veículo transmissor, com a finalidade de transmitir coisas boas, ensinamentos para a evolução do ser espiritual ou até mesmo um meio de consolar a pessoa que permanece no plano material e não consegue se conformar com a partida do ente querido.

Foi através desse dom, a mediunidade, que de fato a doutrina espírita emergiu, quando Allan Kardec conseguiu responder todas as questões que compõem suas obras e dão fundamento para a doutrina espírita; primeiro, ele elaborou todas as questões sobre as quais tinha dúvidas em relação à doutrina, organizando-as por livros e capítulos; depois, foi respondendo uma a uma através de um contato mediúnico; após obter todas as respostas ele as organizou e acrescentou alguns comentários quando necessário.

2.3 PSICOGRAFIA

A psicografia, segundo Zimmermann (2011,p.2017), “é a faculdade mediúnica que possibilita a manifestação do Espírito por meio da escrita”; é uma forma de comunicação entre o médium e o espírito, onde o médium pode transmitir a mensagem do espírito por meio da escrita; os pensamentos do espírito são transferidos para o papel por intermédio do médium. Na psicografia, o médium tem a função de materializar os sentimentos do espírito desencarnado através da escrita (KARDEC,1996).

A escrita é o meio mais simples e mais completo, pois sobre a escrita é possível diversos tipos de análise para a comprovação de sua veracidade; entretanto, para isso acontecer, o médium precisa ter a qualidade de médium escrevente ou psicógrafo.Os médiuns escreventes ou psicógrafos são divididos em outras espécies, sendo eles: médium mecânico, médium intuitivo e o médium semi-mecânico.

Os médiuns mecânicos são aqueles cujas mãos vão se movimentando independente da vontade deles, pois o espírito age diretamente sobre a mão do médium; durante o ato de escrever o médium não possui consciência do que está escrevendo, é apenas uma força mecânica que atua sobre sua mão, e quando a

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mensagem está completa o movimento cessa. Nestes casos, em que os médiuns têm inconsciência absoluta, eles apenas sabem o que escreveram após o término do transe mediúnico e leitura do material escrito(KARDEC,1996).

Explica Kardec (1996) que os médiuns intuitivos, são completamente conscientes, os espíritos transmitem pensamentos para os médiuns e eles transcrevem com suas palavras para o papel; o espírito que está se comunicando não age sobre a mão do médium de forma mecânica como mencionado anteriormente, apenas com pensamentos. Neste mesmo sentido, ainda escreve:

O médium intuitivo age como se fosse um intérprete. Com efeito, este, para transmitir o pensamento deve compreendê-lo, de certo modo dele se apropriar e o traduzir fielmente, embora tal pensamento não seja seu: apenas lhe atravessa o cérebro. Eis o exato papel do médium intuitivo (KARDEC, 1996, p. 149).

Na outra espécie de mediunidade, estão os médiuns semi-mecânicos; a respeito dessa modalidade, o mesmo autor, assim, explica:

No médium puramente mecânico o movimento da mão é independente da vontade. No médium intuitivo o movimento é voluntario e facultativo. O médium semi-mecânico participa daqueles dois: sente um impulso dado à mão, mau grado seu, mas ao mesmo tempo tem consciência do que escreve, à medida que as palavras se formam. No primeiro, o pensamento segue-se ao ato de escrever, no segundo, precede; no terceiro, acompanha (KARDEC, 1996, p. 150).

Nesse mesmo sentindo escreve Zimmermann(2011, p. 217-218):

Na psicografia semi-mecânica, o médium, manualmente, acompanha as comunicações em estado consciente. O comunicante, influenciando o cérebro do medianeiro, usa sua mão para se manifestar, enquanto este acompanha o processo em estado consciente, registrando, concomitantemente, o teor do que vai sendo escrito, além, naturalmente, das próprias vibrações do Espírito, a refletirem seu estado e condição. Dessa forma, o médium semi-mecâncio fica consciente, sabe o que está escrevendo, mas a força mecânica que atua sobre sua mão e cria o movimento da escrita é do espírito.

Os médiuns podem ser divididos, ainda, em maisalgumas espécies, que seriam os médiuns: polígrafo, aqueles que, além de transcrever o que o espírito vai ditando, tem o dom de escrever conforme a caligrafia que o espírito tinha quando estava vivo; os médiuns iletrados, que não sabem nem ler nem escreve, mas quando estão em transe mediúnico conseguem escrever perfeitamente; os médiuns poliglotas, que conseguem escrever em outras línguas, mesmo não tendo conhecimento da mesma quando estão fora do transe mediúnico (KARDEC, 1996).

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O meio mais comum de psicografia é através das cartas psicografadas. O médium transcreve para o papel mensagem de espíritos para consolar os entes queridos que permaneçam na terra. Normalmente essas cartas são escritas em seções de psicografias realizadas em casas espíritas, onde o médium antes de começar a seção, faz uma prece e pede que a comunicação seja possível com a finalidade de acalmar os corações saudosos que estão presentes nas seções.

Francisco Cândido Xavier escreveu cerca de 400 obrasdedicadas a espíritos, durante os primeiros quarenta anos da sua vida; depois, passou a se ocupar com a psicografia de cartas. Para isso, atendia os familiares em sessões de psicografia públicas; fazendo essa tarefa, por duas décadas, etapa mais exaustiva de sua vida, pois o contato contínuo com as famílias que buscavam desesperadamente alguma informação do ente que partiu, demandava muita energia para consolá-los, milhares de cartas foram psicografadas durante essas seções públicas (SOUTO,2003).

Muitas das cartas psicografadas pelo médium, durante essas sessões, foram alvos de estudos e perícias para verificar possível fraude; para ter a certeza de que aquele que escreveu de fato foi o ente falecido, as famílias atendidas também requerema grafoscopia, estudo aplicado às cartas com o fim de analisar se a grafia utilizada nesses documentos é da pessoa falecida, comparando-se com os escritos dessa quando viva.Entretanto, o exame grafotécnico só é possível realizar nas cartas psicografadas pelo médium polígrafo, pois, só esse tem o dom de escrever o que o espírito está ditando usando a mesma letra do ente falecido quando era vivo.

Perandréa (1991, p. 32) explica que a grafoscopia constitui “um conjunto de conhecimentos norteadores dos exames gráficos, que verifica as causas geradoras e modificadoras da escrita, através de metodologia apropriada, para a determinação daautenticidade gráfica e da autoria gráfica”. O mesmo autor também escreve a respeito de uma análise, destacando os seguintes resultados:

Após os exames efetuados, com base nos estudos técnicos-científicos de grafoscopia, conforme comentários, fundamentações e ilustrações em macrofotografias apresentadas, pôde a perícia comprovar, sem dúvidas, e chegar aos seguintes resultados categóricos:. A mensagem psicografada por Francisco Cândido Xavier, em 22 de julho de 1978, atribuída a Ilda Mascaro Saullo, contém, conforme demonstrações fotográficas (figs. 13 a 18), em ‘número’ e em ‘qualidades’, consideráveis e irrefutáveiscaracterísticas de gênese gráfica suficientes para a revelação e

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identidade de Ilda Mascaro Saullo como autora da mensagem questionada. Em menor número, constam, também, elementos de gênese gráfica, que coincidem com os existentes na escritura padrão de Francisco Cândido Xavier(PERANDREA, 1991, p.42).

Destaca-se que, nem todas as pessoas presentes na seção recebem cartas psicografas como solicitam, pois, o espírito deve estar preparado para escrever e o familiar deve estar sofrendo muito com a perda do ente querido.

Um caso de grande repercussão que envolveu uma carta psicografada e o judiciário aconteceu no dia 1º de março de 1980 na cidade de Campo Grande,MS. João Franciscode 25 anos e Gleide Maria Dutra com 24 anos eram casados e estavam chegando em casa por volta das 00:30 de sábado; Gleide estava sentada na cama, quando, no momento em que João Francisco foi retirar a arma da cintura para guardar, um disparo involuntário atingiu pescoço de Gleide. Após quatro meses, João procurouFrancisco Candido Xavier e recebeu uma carta com 41 páginas da esposa que havia falecido, na qual, um dos trechos dizia o que tinha ocorrido naquela noite:

“não pude saber e compreendo que nem você próprio saberia explicar de que modo o revólver foi acionado de encontro a qualquer pequenino obstáculo e o projétil me atingia na base da garganta. Somente Deus e nós dois soubemos que a realidade não foi outra. Recordo a sua aflição e o seu sofrimento buscando socorrer-me, enquanto eu própria me debatia querendo reconfortá-lo sem possibilidades para isso (...)”. Mais adiante disse: “O tempo cicatrizará as feridas que ainda sagram e você com a sua bondade triunfará... Um acidente do mundo não aniquila o sentimento da alma e para mim você é sempre o esposo amigo e devotado irmão que me proporcionou a maior felicidade, na alegria da esperança e na vontade de viver”(POLÍZIO,2009, p.108).

João Francisco foi acusado pela família, o advogado dedefesa de João Francisco juntou aos autos cópia da carta psicografada onde a vítima confirma a versão de João Francisco, que foi absolvido da acusação após cinco anos do ocorrido, por 7 votos; dessa decisão houve recurso e depois de mais de cinco anos saiu a nova sentença, condenando o réu a um ano de detenção (POLÍZIO, 2009).

Além das cartas psicografadas, os médiuns psicográficos também escrevem obras completas; nesse caso, tem pessoas que o auxiliam, pois essa atividade requer treinamento; Francisco Cândido Xavier, quando escreveu sua primeira obra completa com o espírito de André Luiz, permaneceu dois anos em treinamento e aperfeiçoamento do dom (XAVIER, 1996apud SCHUBERT, 1998). Nesse o sentido, Schubert (1998, p.98) explica que:

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Todas as precauções são tomadas. A tarefa não se inicia de imediato. O trabalho que ambos vão realizar não é um trabalho comum de psicografia. Não se realiza como os anteriores e nem como aqueles que viriam depois. Não se trata agora de páginas confortadoras, poéticas ou romanceadas. O labor que vão iniciar reveste-se de características especiais e exige de ambos a melhor identificação possível. Para maior afinização, André Luiz acompanha o médium em todas as suas tarefas e se demora em conversações.

Quando o médium escreve uma obra e dedica a autoria ao espírito escritor, constarão na capa dessa os nomes do espírito que ditou e do médium.

Nesse sentido, é que tem havido discussões na doutrina e na jurisprudência acerca dos direitos autorais da obra psicografada, principalmente, porque há entendimentos controversos a respeito da destinação dos rendimentos decorrentes, se pertencem ao médium que psicografou, ao espírito, aquele que não tem personalidade jurídica ou a família com base no direito sucessório.

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3 DIREITO AUTORAL EM OBRA PSICOGRAFADA E USO DO NOME DO FALECIDO

A legislação brasileira estabelece o início da personalidade jurídica com o nascimento com vida, e seu fim, com a morte. Neste sentindo o artigo 2º do Código Civil afirma: “A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro” (BRASIL, 2002).

Assim estamos diante de uma situação que o médium ao destinar a autoria do livro a um ente já falecido está atribuindo direito a uma pessoa que já não tem mais personalidade jurídica. Logo é preciso entender a quem de fato recai a responsabilidade sobre o uso desse nome, se o nome do falecido pode ser utilizado para promover a venda da obra e se resta à família algum direito em relação a essa situação.O médium ao escrever uma obra, segunda a doutrina espírita, está materializando o pensamento de outra pessoa. Porém, essa pessoa que ele diz ser o verdadeiro autor da obra já não possui personalidade, logo fica difícil definir a quem pertence a proteção intelectual dessa obra.

Assim, é que, antes de se adentrar no estudo da questão central desse estudo, esse capítulo trata do Direito Autoral e do Direito de Personalidade visando esclarecer os pontos controversos acerca do tema, como se passa a expor.

3.1 NOÇÕES GERAIS ACERCA DO DIREITO AUTORAL (LEI 9.610/98)

Esse tópico aborda as principais noções a respeito do Direito autoral, segundo a Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, destacando os antecedentes históricos, quais são as obras intelectuais protegidas, as limitações do Direito Autoral, o registro, os direitos conexos e as violações aos direitos do autor.

3.1.1 Antecedentes históricos do direito autoral

O Direito Autoral surgiu com o propósito de proteger as criações intelectuais das pessoas humanas, a exteriorização de seus entendimentos por

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diversos meios, como livro, músicas e outras formas utilizadas para materializar sua criação.

Micheli e Grace Kellen (2013) afirmam que o Direito Autoral apareceu na pré-história e Braun e Pellegrini (2013, p. 114) ensinam que a origem remota do instituto pode ser “atribuída à época em que os seres humanos desenhavam nas paredes das cavernas situações do seu cotidiano, em que a ideia, advinda do seu intelecto, era materializada e reproduzida, numa base concreta”. Já Santiago (1994, p. 13) leciona que a primeira obra que se conhece que foi remunerada é a do poeta Gringoire, que a escreveu sobre encomenda, tratando sobre a vida de MonseigneurSait-loys de France.

No Brasil colônia, todo e qualquer tipo de criação intelectual não era reconhecida, tão pouco protegida; na época do império, o sistema permaneceu por um período de forma parecida, quando só quem recebia remuneração eram aqueles que as confeccionavam (editoras e gráficas) e não o autor. Nesse sentindo, afirma Menezes (2007, p. 5) que:

Só tinham, portanto, direito sobre as obras, os editores e impressores, mesmo assim mediante outorga política de prerrogativas. Assim sendo, a Constituição do Império de 1824, enquanto a primeira Constituição brasileira, só protegia os direitos do inventor sobre a Propriedade Industrial, não trazendo qualquer referência ao Direito do Autor.

Após alguns anos, surgiu a necessidade de ser criar uma proteção para aquele que de fato criou a obra; sendo que, no Brasil, a primeira manifestação de proteção de criação intelectual ocorreu em 1827, em Pernambuco, onde os legisladores destinaram aos professores de Direito o período de 10 anos para gozar dos direitos sobre suas obras criadas.

Atualmente, o Direito Autoral está previsto na Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998 (LDA), cujo objetivo é defender os direitos do autor, seja, moral ou patrimonial; tem por finalidade garantir as necessárias prerrogativas para a tutela, defesa e difusão da obra, conforme descreve Menezes (2007, p. 66):

Devidamente entrelaçados, os direitos morais e patrimoniais de autor – ambos utilizados no plural, dada a sua multiplicidade – garantem ao criador as necessárias prerrogativas para a tutela, defesa e difusão de sua obra, criando um conjunto coordenado e lógico de princípios intrinsecamente relacionados e harmônicos, que constituem a própria essência do Direito Autoral.

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As diretrizes doutrinárias podem ser desdobradas nos seguintes tópicos: o direito de autor é um direito de coletividade; é um direito real de propriedade; é uma emanação do direito de personalidade; é um direito especial de propriedade, tendo por objeto um valor imaterial; é um direito sui generis, que sob essa perspectiva, abarca diversos elementos do direito público e privado; é um direito de clientela; é um direito dúplice de caráter real pessoal-patrimonial, essa teoria está atrelada ao fato do direito do autor ser composto por direito moral e direito patrimonial.

Ainda na definição de Afonso (2009, p. 10), o Direito Autoral compreende: O direito que o criador de obra intelectual tem de gozar dos produtos resultantes da reprodução, ou da representação de suas criações e outros como o conjunto de normas que estabelecem os direitos e deveres sobre as obras do espírito correspondentes a quem tenham criado ou sejam seus titulares, independentemente dos direitos e deveres de outras pessoas ou entidades.

A Lei em comento foi criada para agrupar e organizar as normas já existentes relacionadas aos direitos autorais, estabelecer de forma clara como e a quem deve ser aplicada, e definir alguns conceitos que ainda não estavam evidentes.

3.1.2 Obras intelectuais protegidas

As obras intelectuais protegidas pelo direito autoral são as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, segundo o que dispõe a Lei 9.610/98, em seu artigo 7º: “São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível oi intangível, conhecido ou que se invente no futuro” (BRASIL, 1998).

Dessa forma, segundo a legislação em comento (Art. 7º, I a XIII), são consideradas obras intelectuais protegidas:

Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais como:

I - os textos de obras literárias, artísticas ou científicas;

II - as conferências, alocuções, sermões e outras obras da mesma natureza; III - as obras dramáticas e dramático-musicais;

IV - as obras coreográficas e pantomímicas, cuja execução cênica se fixe por escrito ou por outra qualquer forma;

V - as composições musicais, tenham ou não letra;

VI - as obras audiovisuais, sonorizadas ou não, inclusive as cinematográficas;

VII - as obras fotográficas e as produzidas por qualquer processo análogo ao da fotografia;

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VIII - as obras de desenho, pintura, gravura, escultura, litografia e arte cinética;

IX - as ilustrações, cartas geográficas e outras obras da mesma natureza; X - os projetos, esboços e obras plásticas concernentes à geografia, engenharia, topografia, arquitetura, paisagismo, cenografia e ciência; XI - as adaptações, traduções e outras transformações de obras originais, apresentadas como criação intelectual nova;

XII - os programas de computador;

XIII - as coletâneas ou compilações, antologias, enciclopédias, dicionários, bases de dados e outras obras, que, por sua seleção, organização ou disposição de seu conteúdo, constituam uma criação intelectual (BRASIL, 1998).

A criação de espírito, a que ora se refere, não pode ser confundida com o espírito que mencionamos no primeiro capítulo. Criação de espírito que o capítulo menciona se refere a materialização do sentimento do ser humano, algum pensamento que de alguma forma consegue passar para algum tipo de suporte.

3.1.3 Direitos do autor

Denomina-se autor aquele que, seja pessoa física ou jurídica, que cria obra literária, artística ou científica, assim como, quem adapta, traduz, arranja ou orquestra obra caída no domínio público, desde que não se oponha a outra adaptação, arranjo, orquestração ou tradução, com exceção se for efetuada uma cópia da sua criação, conforme dispõe a Lei 9.610/98, como segue:

Art. 11. Autor é a pessoa física criadora de obra literária, artística ou científica.

Parágrafo único. A proteção concedida ao autor poderá aplicar-se às pessoas jurídicas nos casos previstos nesta Lei.

Art. 14. É titular de direitos de autor quem adapta, traduz, arranja ou orquestra obra caída no domínio público, não podendo opor-se a outra adaptação, arranjo, orquestração ou tradução, salvo se for cópia da sua (BRASIL, 1998).

O criador da obra literária, artística ou científica pode se identificar como autor utilizando seu nome civil, completo ou abreviado ou por suas iniciais, de pseudônimo ou qualquer outro sinal convencional, como prevê a legislação em comento.

Coautor é aquele cujo nome, pseudônimo ou sinal convencional for empregado na obra, não se considerando, para tanto, quem prestou auxílio ao autor na criação da obra intelectual, através de revisão ou atualização de conteúdo,

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fiscalização ou direção da edição, segundo o que preceitua a lei de direitos autorais, em seu artigo15 e parágrafo primeiro, como se apresenta:

Art. 15. A co-autoria da obra é atribuída àqueles em cujo nome, pseudônimo ou sinal convencional for utilizada.

§ 1º Não se considera co-autor quem simplesmente auxiliou o autor na produção da obra literária, artística ou científica, revendo-a, atualizando-a, bem como fiscalizando ou dirigindo sua edição ou apresentação por qualquer meio (BRASIL, 1998).

O direito autoral reserva para seus autores o direito de exploração exclusiva da propriedade. Entretanto, essa possibilidade não decorre de registro, mas da própria criação, bastando demonstrar que foi o primeiro criador.

Assim, o direito do autor, em relação às suas obras, conforme ensina Menezes (2007) se relacionam a um conjunto de direitos, que abrangem direitos morais e patrimoniais que advêm de sua criação; os primeiros que vinculam o nome do autor à obra e sua publicação, e os segundos, que se referem à sua comercialização ou exploração comercial da criação intelectual.

Para que seja possível essa proteção, a Lei dos Direito Autorais em comento dispõe sobre o assunto, definindo em que consistem os direitos morais e os direitos patrimoniais do autor.

Os direitos morais são inalienáveis e irrenunciáveis, compreendendo os seguintes, segundo a legislação em comento (art. 24) (BRASIL, 1998):

Art. 24. São direitos morais do autor:

I - o de reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da obra;

II - o de ter seu nome, pseudônimo ou sinal convencional indicado ou pronunciado, como sendo o do autor, na utilização de sua obra;

III - o de conservar a obra inédita;

IV - o de assegurar a integridade da obra, opondo-se a quaisquer modificações ou à prática de atos que, de qualquer forma, possam prejudicá-la ou atingi-lo, como autor, em sua reputação ou honra;

V - o de modificar a obra, antes ou depois de utilizada;

VI - o de retirar de circulação a obra ou de suspender qualquer forma de utilização já autorizada, quando a circulação ou utilização implicarem afronta à sua reputação e imagem;

VII - o de ter acesso a exemplar único e raro da obra, quando se encontre legitimamente em poder de outrem, para o fim de, por meio de processo fotográfico ou assemelhado, ou audiovisual, preservar sua memória, de forma que cause o menor inconveniente possível a seu detentor, que, em todo caso, será indenizado de qualquer dano ou prejuízo que lhe seja causado.

Os direitos morais garantem ao autor a vinculação do seu nome à sua obra, esse direito impede qualquer tipo de comercialização da autoria ou até mesmo a transferência para terceiro.Alguns desses direitos se transmite aos sucessores no

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caso de morte do autor e ao Estado cabe a defesa da integridade e autoria da obra caída em domínio público.

Os direitos patrimoniaissão do autor, cabendo-lhe o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra literária, artística ou científica (Art. 28, LDA); estão previstos na legislação de direitos autorais no artigo 29, I a VIII e sua utilização por quaisquer modalidades depende da autorização prévia e expressa do autor,como segue (BRASIL, 1998):

Art. 29. Depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da obra, por quaisquer modalidades, tais como:

I - a reprodução parcial ou integral; II - a edição;

III - a adaptação, o arranjo musical e quaisquer outras transformações; IV - a tradução para qualquer idioma;

V - a inclusão em fonograma ou produção audiovisual;

VI - a distribuição, quando não intrínseca ao contrato firmado pelo autor com terceiros para uso ou exploração da obra;

VII - a distribuição para oferta de obras ou produções mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para percebê-la em um tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda, e nos casos em que o acesso às obras ou produções se faça por qualquer sistema que importe em pagamento pelo usuário;

VIII - a utilização, direta ou indireta, da obra literária, artística ou científica, mediante:

a) representação, recitação ou declamação; b) execução musical;

c) emprego de alto-falante ou de sistemas análogos; d) radiodifusão sonora ou televisiva;

e) captação de transmissão de radiodifusão em locais de freqüência coletiva;

f) sonorização ambiental;

g) a exibição audiovisual, cinematográfica ou por processo assemelhado; h) emprego de satélites artificiais;

i) emprego de sistemas óticos, fios telefônicos ou não, cabos de qualquer tipo e meios de comunicação similares que venham a ser adotados; j) exposição de obras de artes plásticas e figurativas;

IX - a inclusão em base de dados, o armazenamento em computador, a microfilmagem e as demais formas de arquivamento do gênero;

X - quaisquer outras modalidades de utilização existentes ou que venham a ser inventadas.

Os direitos patrimoniais constituem uma forma de recompensar o esforço do autor na produção da obra, bem como, de se atribuir um valor ao seu intelecto, permitindo que esse comercialize sua criação, de forma exclusiva, com o fim de obter proveito pecuniário, conforme ensina Menezes (2007, p. 78), como segue:

Nem só de ligação afetiva com a obra vive o autor, que merece não apenas ser recompensado pelo seu esforço criativo, mas precisa, antes de tudo, sobreviver. Assim sendo, ao lado dos direitos morais sobre a criação, tem também o criador, direitos patrimoniais. Trata-se da possibilidade legal reconhecida ao autor de explorar economicamente sua obra, em caráter exclusivo, de modo a obter dela proveito pecuniário.

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Entretanto, esse direito patrimonial em relação à obra não é algo eterno, pois, após 70 anos da morte do criador a obra passa a ser de domínio público; após a morte do autor, os lucros advindos da propriedade intelectual permanecem para a família, como herança até que a obra caia em domínio público.

Para esclarecer o conceito, apresenta-se a diferença entre domínio público e propriedade pública, conforme ensina Hammes (2002, p. 129):

Domínio público significa que já não há um titular exclusivo da obra. Todos e cada um podem utilizá-la sem depender de autorização de um titular e sem ter que pagar algo pela utilização. Domínio público não deve ser confundido com propriedade pública pertencente ao estado.

Destaca-se que no caso de obra anônima ou pseudônima, os direitos patrimoniais do autor cabem a quem fizer a publicação.

Assim, os direitos de autor estão vinculados ao criador da obra e à obra em si; enquanto os direitos morais se referem ao nome do autor vinculado ao título da obra, os direitos patrimoniais dizem respeito à comercialização da criação intelectual.

Entretanto, a reprodução de obras literárias, artísticas ou científicas sem fins comerciais ou de pequenos trechos para uso privado sem finalidade lucrativa ou, ainda, a citação em livros, jornais ou revistas para fins de estudo, desde que indicado o nome do autor e a origem da obra, são situações que constituem ofensa aos direitos autorais, conforme estabelece a legislação em comento, nos artigos 46 a 48, como se expõe:

Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais:

I - a reprodução: a) na imprensa diária ou periódica, de notícia ou de artigo informativo, publicado em diários ou periódicos, com a menção do nome do autor, se assinados, e da publicação de onde foram transcritos; b) em diários ou periódicos, de discursos pronunciados em reuniões públicas de qualquer natureza; c) de retratos, ou de outra forma de representação da imagem, feitos sob encomenda, quando realizada pelo proprietário do objeto encomendado, não havendo a oposição da pessoa neles representada ou de seus herdeiros; d) de obras literárias, artísticas ou científicas, para uso exclusivo de deficientes visuais, sempre que a reprodução, sem fins comerciais, seja feita mediante o sistema Braille ou outro procedimento em qualquer suporte para esses destinatários;

II - a reprodução, em um só exemplar de pequenos trechos, para uso privado do copista, desde que feita por este, sem intuito de lucro;

III - a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicação, de passagens de qualquer obra, para fins de estudo, crítica ou polêmica, na medida justificada para o fim a atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra;

IV - o apanhado de lições em estabelecimentos de ensino por aqueles a quem elas se dirigem, vedada sua publicação, integral ou parcial, sem autorização prévia e expressa de quem as ministrou;

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