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ANÁLISE DO NÍVEL DE DESIDRATAÇÃO EM ATLETAS DE BOXE CHINÊS

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Academic year: 2020

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ISSN 2179-5037

ANÁLISE DO NÍVEL DE DESIDRATAÇÃO EM ATLETAS DE BOXE

CHINÊS

Alex Bisotto Ferreira1 Valderi Abreu de Lima2 William Cordeiro de Souza3 Marcos Tadeu Grzelczak4 Luis Paulo Gomes Mascarenhas5 RESUMO: O objetivo desta pesquisa foi avaliar o nível de desidratação de atletas de

boxe chinês durante os treinamentos. Os integrantes desta pesquisa foram 15 atletas da cidade de Lapa – PR. Foi realizada a coleta de peso, estatura e percentual de gordura corporal (%GC). Avaliou-se o percentual de desidratação a partir da diferença entre massa corporal no início e final dos treinos, a frequência cardíaca e percepção subjetiva de esforço média durante os treinamentos para avaliar a intensidade do treinamento, a temperatura e umidade relativa para conhecer o clima. A apresentação dos resultados realizou-se com análise estatística descritiva dos fenômenos observados, utilizando-se o teste t de student para amostras independentes, com nível de confiança em p< 0,05 e correlação de Pearson nas variáveis: Frequência cardíaca, percepção subjetiva de esforço, perda de peso, temperatura e umidade relativa; programas utilizados para fazer a análise dos dados foram o Excel 2013 e ASSISTAT 7.7. Houve redução significativa do peso corporal de 0,93%±0,15, em intensidade de treinamento alta, duração de 1 hora à temperatura ambiente média de 24,7±1,8 graus Celsius e 69%±7,2 de umidade relativa do ar que se classifica em uma zona perigosa, houve correlação positiva entre a frequência cardíaca e a temperatura ambiente. A desidratação foi significativa em todas as sessões de treinamento, porém considerados como eu-hidratados, a perda hídrica desse estudo não é capaz de produzir redução no desempenho dos praticantes.

Palavras Chave: boxe chinês; desidratação; treinamento.

DEHYDRATION ANALYSIS OF LEVEL IN ATHLETES OF CHINESE BOXING ABSTRACT: The objective of this research was to evaluate the level of dehydration of

Chinese boxing athletes during training. The members of this research were 15 athletes from the city of Lapa – PR. The collected weight, height and body fat percentage was

1

Universidade do Contestado - UnC.

2

Mestrando em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná - UFPR.

3

Especialista em Fisiologia do Exercício com Ênfase em Treinamento Esportivo. williammixx@hotmail.com

4

Mestre em Desenvolvimento Regional. Professor da Universidade do Contestado - UnC. promarcostadeu@hotmail.com

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performed. It was evaluated the percentage of dehydration from the difference between body mass at the beginning and end of training, heart rate and subjective perception of effort during training average to assess training intensity, temperature and relative humidity to meet the climate. The presentation of the results was performed with descriptive statistical analysis of the observed phenomena, using the Student's t test for independent samples, with a confidence level of p <0.05 and. Pearson correlation in the variables: heart rate, subjective perception of effort, weight loss, temperature and relative humidity, programs used to make the analysis of data Excel 2013 and ASSISTAT 7.7. A significant decrease in body weight of 0.93 ± 0.15% in high-intensity training, duration of 1 hour average ambient temperature of 24.7 ± 1.8 degrees Celsius and 69% ± 7.2 relative humidity air that falls into a dangerous area; there was a positive correlation between heart rate and ambient temperature. Dehydration was significant in all the training sessions, but considered as hydrated individuals, the water loss in this study is not able to produce reduced performance of practitioners.

Keywords: Chinese boxing; dehydration; training. 1. INTRODUÇÃO

A desidratação pode ser definida como a perda excessiva de água corporal. Normalmente o corpo de uma pessoa perde diariamente em torno de 2,5 litros de água através dos pulmões como vapor, através do suor, da urina. Em escala de sobrevivência para o ser humano, a água perde apenas para o oxigênio. De acordo com Brouns (2005), o ser humano consegue ficar vários dias sem macro e micronutrientes, mas não sem a ingestão de água. Ao praticar uma atividade física, a sudorese é responsável por 90% da perda de água, sendo o principal modo de dissipação térmica durante o exercício (WILMORE; COSTILL; KENNEY, 2010).

São diversos os problemas relacionados à desidratação. Durante atividades físicas vigorosas, e com níveis altos de desidratação, podem ocorrer as chamadas lesões térmicas, tais como: cãibras, síncope induzida pelo calor, exaustão térmica (FOSS e KETEYIAN, 2000).

Já ocorrem indícios de desidratação em níveis tão baixos quanto 1%, mesmo em níveis baixos de perda hídrica corporal de 3% já podem ocorrer prejuízos no VO2 máx dos atletas, prejudicando seu rendimento e desempenho (WILMORE; COSTILL; KENNEY, 2010). Caso ocorra um grande aumento da temperatura corporal devido à desidratação, o organismo pode chegar ao estado de intermação (afecção causada por exposição excessiva ao calor) ou insolação, podendo gerar flacidez muscular,

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movimentos involuntários dos músculos, convulsões e em casos extremos até a morte do atleta (FOSS; KETEYIAN, 2000; WILMORE; COSTILL; KENNEY, 2010).

Outros fatores como temperatura ambiente e umidade relativa do ar podem intensificar e acentuar ainda mais a desidratação e suas consequências, quando em altas temperaturas e com umidade do ambiente alta, reduz-se a capacidade do organismo de manter a atividade física, reduzindo o rendimento do atleta sendo a desidratação fator importante e determinante da fadiga (MARQUEZI e LANCHA JUNIOR, 1998).

Sabe-se que em todos os esportes tanto individuais ou coletivos a desidratação pode acarretar prejuízos fisiológicos e no rendimento dos atletas, isso está diretamente ligado ao percentual de perda hídrica corporal (GONZÁLEZ-ALONSO et al., 1997).

A modalidade boxe chinês consiste de um esporte de combate, com regras e equipamentos muito semelhantes ao boxe ocidental, com algumas modificações utilizando golpes bem objetivos, técnicas de boxe e luta greco-romana (BAPTISTA et

al., 2005). Quanto aos fundamentos do boxe chinês, são utilizados socos, chutes,

cotoveladas, joelhadas e projeções ao solo.

Existem poucas pesquisas referentes à desidratação durante treinamentos de artes marciais em especial da modalidade de boxe chinês, isso provavelmente devido ao fato de que a modalidade não é tão difundida e divulgada pela mídia em comparação com outros esportes como futebol e voleibol. Então é necessário que se façam estudos que possam auxiliar na orientação de treinadores e atletas de boxe chinês quanto aos riscos da desidratação e como evitá-la minimizando suas consequências bem como melhorar o desempenho dos praticantes.

Sabendo dos riscos e dos problemas que a desidratação pode provocar ao desempenho e saúde dos atletas, torna-se importante esta pesquisa a fim de investigar o quanto estes atletas desidratam durante os treinamentos e se esta perda hídrica pode afetar ou não o desempenho e a saúde do praticante da modalidade. Sendo assim, o presente estudo objetiva-se em avaliar o nível de desidratação de lutadores de boxe chinês durante os treinamentos.

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2. METODOLOGIA

Esta pesquisa classifica-se como quantitativa e descritiva experimental. A amostra teve como critério de escolha fazendo o uso da não aleatoriedade e caracteriza-se como não probabilística (FACHIN, 2001). A amostra foi selecionada de forma intencional e foi constituída por 15 homens com idades entre 18 e 42 anos praticantes de boxe chinês há mais de 3 meses. Como critério de inclusão, os participantes não poderiam fazer uso de medicamento ou recurso ergogênico, e não possuir alguma patologia que pudesse influenciar nos treinamentos (diabetes ou hipertensão).

Foi realizada, inicialmente, uma avaliação da composição corporal dos atletas com medidas de massa corporal e estatura para obtenção do IMC, bem como da composição corporal através de compasso de dobras cutâneas da marca Neo Prime através do protocolo de Pollock 7 dobras para homens adultos 18 a 61 anos da raça branca, com a mensuração das dobras subescapular, tríceps, peitoral, axilar média, supra ilíaca, abdominal e coxa (GUEDES, 1985).

Foram coletados dados durante 6 semanas com frequência de duas vezes por semana, sempre no mesmo horário de 19:00 horas às 20:00. A pesquisa foi submetida para o comitê de ética da Universidade do Contestado – UnC, e aprovado sob parecer (CAAE: 34375214.6.0000.0117).

Foi analisado o percentual de desidratação a partir da diferença entre massa corporal no início e final do treinamento; a frequência cardíaca média durante os treinamentos foi utilizada para avaliar a média de intensidade da atividade; a temperatura ambiente foi aferida com um termo higrômetro em graus Celsius.

Em todas as sessões de treinamento, foi realizada a pesagem dos participantes utilizando uma balança Britânia digital, com grau de precisão de 100g, e os indivíduos estando em plano de Frankfurt: braços estendidos ao longo do corpo, olhando para frente. A pesagem foi realizada antes (Kg inicial) e após as aulas (Kg final) com os atletas somente de cueca. O volume de água ingerida durante os treinamentos foi avaliado por copos (com capacidade de 300 ml) ingeridos. Foi recomendado que duas horas antes das sessões de exercícios os

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atletas fizessem a ingestão de 500 ml de água para promover uma adequada hidratação e dar um intervalo para que o excesso de água fosse eliminado (ACMS, 2008).

Os atletas foram orientados a urinarem antes do início das aulas. Após este procedimento foram pesados vestindo somente cueca (MARINS; GIANNICHI, 1998). Para a análise, o nível de desidratação foi calculado a partir da diferença entre massa inicial e massa aferida ao final do treinamento, e classificado conforme o quadro 1.

Quadro 1. Índice do estado de desidratação.

Estado de hidratação % peso corporal

Eu-hidratação +1 a -1

Desidratação mínima -1 a -3

Desidratação significativa -3 a -5

Desidratação grave > -5

Adaptado de National Athletic Trainers Association (NATA) apud Machado-Moreira

et al., (2006).

Através de um monitor cardíaco da marca Beurer modelo PM25, foi aferida de forma aleatória a frequência cardíaca de três participantes, no início, meio e fim dos treinamentos, para avaliar a intensidade das sessões, na qual foi calculada a média das medições e, juntamente com a frequência cardíaca, utilizou-se a escala de Borg (1982) no início, meio e fim dos treinamentos.

A temperatura ambiente e umidade relativa podem interferir nos resultados, porque quanto maior a temperatura ambiente e a umidade relativa do ar maior pode ser o nível de desidratação dos atletas. Por isso, com a utilização de um termo-higrômetro marca ICEL modelo HT-208, foram analisados ambos durante os treinamentos com a aferição no início, meio e fim das atividades.

Para apresentação dos resultados, realizou-se uma análise estatística descritiva dos fenômenos observados e apresentados de forma percentual; foi feito o cálculo do teste “t de Student” para dados pareados, buscando-se verificar se existem diferenças significativas entre os dados a um nível alfa de confiança estipulado em p< 0,05, e correlação de Pearson, para ver se há correlação entre as variáveis: frequência cardíaca, escala de Borg, perda de peso, temperatura e

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umidade relativa. Os programas utilizados para fazer a análise dos dados foram o Microsoft Office Excel 2013 e o ASSISTAT 7.7 Beta.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Na tabela 1, abaixo, estão apresentados os resultados encontrados para a caracterização da amostra.

Tabela 1. Caracterização da Amostra.

Variáveis Média Desvio Padrão

Idade (anos) 27,93 +5,78 Peso (Kg) 82,24 +13,13 Estatura (m) 1,76 + 0,09 IMC (kg/m²) 26,64 +4,01 MLG (Kg) 70,92 +8,03 MG (Kg) 11,30 +6,52 % Gordura (%G) 13,04 +6,57

Nota: Baixo peso (IMC < 18,5kg/m2); Normal (IMC: 18,5-24,9kg/m2); Sobrepeso (IMC: 25-29, 9 kg/m2); Obesidade (IMC ≥ 30kg/m2). (OMS, 2000).

MLG= Massa Livre de Gordura. MG= Massa Gorda (DELGADO, 2004).

Notou-se um resultado médio de IMC em 26,64±4,01 que se caracteriza como sobrepeso (OMS, 2000). Na observação dos percentuais médios de massa livre de gordura e massa gorda notou-se o percentual de gordura corporal (%GC) médio de 13%, os quais estabelecem percentual de gordura (%G) adequado para atletas valores entre 5% a 13%, e ruim para os valores superiores (FOSS; KETEYIAN, 2000). Pela classificação, o %GC dos atletas encontram-se adequados e assemelham-se ao de atletas masculinos de tênis que apresentam entre 12 e 16% de gordura corporal (CARNAVAL, 1997).

Pode-se notar que, mesmo os indivíduos com uma classificação em sobrepeso, o %G dos indivíduos foi de 13%. Isso pode explicar o fato levando em consideração a maior quantidade de massa muscular dos praticantes, o que resultou num valor de IMC que os caracteriza como sobrepeso.

Em estudo semelhante, realizado por Rossi e Tirapegui (2007) com 12 atletas de caratê do Centro de Práticas Esportivas da Universidade de São Paulo, foi encontrado o valor médio de 10,5% de %G. Em análise sobre do %G de atletas de

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lutas, estes nos estilos Wushu, Boxe Chinês e Taulu, que são também estilos dos Kung Fu, com 7 atletas da I Copa Latino Americana de Wushu, o %G médio foi de 11,20% nos atletas (BAPTISTA et al., 2005). Levando em consideração que todos os estudos supracitados eram com atletas de artes marciais, pode-se dizer que há semelhança com o valor médio de gordura apresentado no presente estudo. A tabela 2 apresenta a comparação entre a pesagem pré e pós-treinamento.

Tabela 2. Comparação entre a pesagem pré e pós-treinamento.

Treinos Peso inicial Peso final Valor T Valor p

Treino 1 83,93±13,44 83,23±13,55 7,305 0,001 Treino 2 80,22±12,86 79,49±12,72 20,173 0,000 Treino 3 86,58±14,05 86,02±13,98 4,828 0,005 Treino 4 88,12±15,64 87,18±15,56 9,888 0,000 Treino 5 85,07±13,27 84,23±13,18 10,963 0,000 Treino 6 78,15±14,31 77,34±14,20 12,182 0,000 Treino 7 76,38±14,82 75,48±14,77 10,510 0,000 Treino 8 79,65±14,38 79,00±14,26 7,344 0,001 Treino 9 76,52±16,40 75,78±16,46 9,037 0,000 Treino 10 78,78±15,52 78,10±15,72 5,590 0,003 Treino 11 78,32±13,87 77,72±13,85 7,348 0,001 Treino 12 81,18±14,93 80,35±14,87 7,278 0,001

Em relação à aferição do peso corporal antes e após as sessões de treinamento, ocorreu diferença significativa em todas as sessões como demonstrado na tabela 2, em concordância com um estudo de Tagliari; Liberali e Navarro (2011), que realizaram pesagem pré e pós-treino numa sessão de treinamento, a amostra foi de nove atletas de jiu-jitsu, os quais sofreram uma perda significativa de peso ao final do treinamento. Vale ressaltar que neste estudo não houve grupo controle com relação à frequência de participação dos atletas, sendo avaliados 15 atletas por sessão, porém nem sempre os mesmos atletas, por isso as diferenças de massa inicial.

Em estudo realizado por Nobrega et al., (2011) com atletas de futsal amador, os autores evidenciaram não existir correlação das diferenças nas variáveis de peso corporal e gordura corporal no pré-treino e o pós-treino, fato este que justifica a não aferição de gordura corporal no pré e pós-treino deste estudo.

Monteiro et al., (2009) avaliaram 14 atletas de jiu-jitsu em apenas uma sessão de treinamento, e verificaram que não existem diferenças significativas após a

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sessão de treinamento. O estudo supracitado demonstra que uma única sessão não foi capaz de produzir modificações sobre o peso corporal desses atletas, resultado que contrasta com o presente estudo, o qual demonstrou diferença em todos os treinos. No estudo de Monteiro et al., (2009) porém, os atletas nos intervalos das lutas podiam hidratar-se ad libitum, o que pode explicar o fato de não ter sido encontrada diferença significativa. Vale ressaltar que o jiu-jitsu tem sua vestimenta diferenciada do boxe chinês, o que pode influenciar nas diferenças de resultados.

Num treinamento de caratê com duração de 4 horas, com atletas universitários de elite em um evento internacional, foi analisada a perda de peso após treinamento e foi encontrada diferença estatisticamente significativa (p>0,05) (ROSSI; TIRAPEGUI 2007). O mesmo foi verificado no presente estudo. Vale ressaltar que num treinamento mais longo, como esse, a perda hídrica é mais acentuada em comparação com a duração do treino.

Em estudo realizado por Perrella; Noriyuki e Rossi (2005) com atletas do sexo feminino praticantes de rúgbi com idade média de 18,9±3, de um clube em São Paulo, constatou também que a redução em relação ao peso foi estatisticamente significativa. Tanto no rúgbi quanto no boxe chinês os atletas na maior parte do tempo realizam atividades aeróbicas, mas em parte do treino alternando com atividades anaeróbicas. O gráfico 1 mostra o percentual médio de redução da pesagem corporal após cada treinamento.

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Ao analisarmos a porcentagem média de peso perdido por sessão de treinamento, encontrou-se uma perda de 0,93%±0,15. Os resultados da presente pesquisa coincidem com um estudo semelhante realizado com atletas de uma equipe masculina de voleibol, realizado por Vimeiro-Gomes e Rodrigues (2001), os quais encontraram uma variação percentual no peso na faixa de 0,13% e 2,78% após treinamento. No estudo de Rossi e Tirapegui (2007), foi encontrado um percentual de redução hídrica em relação ao peso inicial de 1,4 ± 0,3 %, o que pode afetar o desempenho dos atletas.

Foss e Keteyian (2000) destacam que quando o valor percentual ultrapassa 1% de diminuição do peso corporal pode afetar o desempenho do atleta. Não foi o que aconteceu no presente estudo, pois os atletas perderam em média 0,93%. Segundo Wilmore, Costil e Kenney (2010), quando a desidratação chega a 2% ou mais do peso corporal ocorre comprometimento no desempenho em exercícios aeróbios e, se essa perda chegar de 9% a 12 %, pode levar o indivíduo à morte.

Em estudo realizado por Leão e Rossi (2011), com atletas masculinos de rúgbi, os autores encontraram uma redução média de peso corporal em 2%, após 90 minutos de treinamento, concordando com os achados do presente estudo, onde houve perda significativa de peso corporal.

Um deficit hídrico, mesmo que seja 1% da massa corporal, pode reduzir o desempenho, podendo aumentar o esforço cardiovascular, o que pode limitar a transferência de calor dos músculos para a pele (MACHADO-MOREIRA et al., 2006). Segundo Fleck e Figueira Junior (1997), através da redução do peso corporal após treinamento é uma das melhores formas de avaliar a perda hídrica em atletas.

Portanto, ao analisar-se a classificação de acordo com o quadro 1 da National Athletic Trainers Association (NATA) constatou-se que os indivíduos avaliados na presente pesquisa, ao término dos treinamentos tiveram um nível de desidratação considerado como Eu-hidratados, que é de +1 a -1% do peso corporal. A desidratação não tão acentuada pode ser também devida à vestimenta, visto que as aulas se dão de calção, camiseta regata ou camiseta curta, o que ajuda na facilitação de perda de calor para o ambiente. Outro fator importante é o tempo de

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atividade. Como as aulas foram de apenas uma hora, não levaram os indivíduos a uma desidratação mínima, que seria de -1 a 2 %.

Há diversos fatores que podem influenciar diretamente na desidratação dos atletas, que seriam: a temperatura ambiente, a intensidade do treinamento e a umidade relativa do ar, como já foram citadas anteriormente. A análise estatística revelou a existência de relação entre essas variáveis, como mostra a tabela 3.

Tabela 3. Correlação entre o variável Peso, Temperatura Ambiente, Umidade Relativa do ar, Frequência Cardíaca e Escala de Borg.

Matriz de Correlação Diferença de peso Temperatura ambiente Umidade relativa do ar Frequênci a cardíaca Escala de Borg Diferença de peso 1 0,1685 -0,3614 0,0266 0,2504 Temperatura ambiente Ns 1 -0,5310 0,6831* 0,5163 Umidade relativa do ar Ns Ns 1 -0,0345 0,0242 Frequência cardíaca Ns * Ns 1 0,5603 Escala de Borg Ns Ns Ns Ns 1

* significativo ao nível de 5% de probabilidade (p < 0.05) Ns= não significativo (p>= 0.05)

A Tabela 3 mostra uma correlação positiva significativa entre temperatura ambiente e frequência cardíaca, ou seja, quanto maior a temperatura ambiente maior foi a frequência cardíaca em exercício. De acordo com Dos Santos et al., (2005), quando exercícios feitos em ambientes quentes há um desvio no fluxo sanguíneo do músculo para a periferia, tentando controlar a temperatura corporal interna e transferindo o calor para o meio externo. Com esse ajuste, menos sangue fica disponível nos músculos ativos, ocasionando diminuição no aporte de oxigênio (O2), resultando no aumento da frequência cardíaca para suprir as necessidades do organismo. O Gráfico 2 mostra o resultado médio da frequência cardíaca de três atletas escolhidos aleatoriamente durante cada sessão de treinamento.

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Gráfico 2. Média da frequência cardíaca a cada treino.

A média da frequência cardíaca na totalidade dos treinamentos foi de 153 ± 7 bpm, com uma média de batimentos durante os treinos entre 70% a 89% da frequência cardíaca máxima dos atletas. De acordo com Pollock et al., (1998) os treinamentos se classificaram como hard intensity (Intensidade difícil).

Resultados semelhantes foram encontrados por De Castro César et al., (2002) onde os resultados sugeriram que a luta de caratê consiste em uma atividade física de alta intensidade independentemente do sexo, idade e peso corporal do atleta. Desta forma, nos treinamentos de lutas devem-se respeitar as características de alta intensidade. A frequência cardíaca média encontrada sugeriu que a predominância dos treinamentos foi de intensidade aeróbica. No Gráfico 3 está representada a média da percepção subjetiva de esforço em cada treino através da escala de Borg.

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Gráfico 3. Média da escala de Borg durante os treinos.

Foi encontrada uma média da percepção subjetiva de esforço no valor de 13±1, o qual, na escala de Borg, se classifica como uma percepção de esforço ligeiramente cansativo. Durante uma sessão de treinamento convencional de caratê, oito atletas realizaram uma sessão em média 91,9 minutos de treinamento, na qual foi obtida a percepção de esforço e foi encontrado um valor de 12,2 ± 2,2 (MILANEZ

et al., 2009a). Em outro estudo, realizado por Milanez (2011b), onde 7 atletas foram

avaliados em uma competição oficial de caratê, obteve-se a percepção de esforço 12±3. Dados esses que se assemelham ao presente estudo. Nos gráficos 4 e 5 estão representadas as médias obtidas de temperatura ambiente e humidade relativa do ar.

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Gráfico 4. Média da temperatura ambiente durante os treinos.

Gráfico 5. Média da umidade relativa do ar durante os treinos.

A temperatura ambiente durante os treinamentos se manteve em uma média de 24,7±1,8 graus Celsius, e a umidade relativa do ar com uma média de 69%±7,2 de umidade.

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Figura 2. Temperatura ambiente e umidade relativa do ar.

De acordo com a Figura 2 de Maughan e Shirreffs (1998), o treinamento nessas condições encontra-se numa zona perigosa. Estas condições são consideradas de alto risco para hipertermia. A soma entre a temperatura do ambiente e a umidade relativa do ar é um fator determinante na intensidade do estresse ao indivíduo ocasionado pelo aquecimento. Sabemos que um atleta desidratado pode ter perda de rendimento, e isso pode ser agravado com o aumento da temperatura ambiente e da umidade do ar, porque o corpo tem maior dificuldade de perder calor para o ambiente, e é dificultada a evaporação do suor. Em ambiente quente e úmido, há a necessidade de aclimatizar o atleta. Nesse caso, é interessante dar atenção à ingestão correta de líquidos (NOBREGA et al., 2011).

Foram encontradas algumas dificuldades e limitações no presente estudo. Como fator limitante, foi o tempo de aplicação das avaliações, sendo como total 12 sessões de treinamento; e também o clima, pois a coleta de dados foi realizada em um período de transição entre inverno e primavera. Como dificuldade no estudo, foi encontrar estudos semelhantes com as mesmas variáveis do estudo atual para devidas comparações e maior discussão entre estudos. É necessário que se façam mais estudos para investigar através de outras condições climáticas, com duração

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diferente de treino, com maior tempo de coleta de dados para ter como parâmetro diferentes situações e o que elas causam.

4. CONCLUSÃO

Os resultados demonstraram que existe desidratação significativa durante as sessões de treinamentos de boxe chinês com intensidade alta, obtendo-se uma classificação de esforço sendo relativamente cansativa, predominância aeróbica e duração de 60 minutos. A desidratação apresentou uma média de 0,93%±0,15 de redução de peso corporal, sendo considerados como eu-hidratados ao final dos treinamentos, que, de acordo com o que se tem na literatura atual, a perda hídrica encontrada neste estudo não é capaz de produzir redução no desempenho dos praticantes.

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Tabela 1. Caracterização da Amostra.
Tabela 2. Comparação entre a pesagem pré e pós-treinamento.
Gráfico 1. Percentual de redução média de peso por treinamento.
Tabela  3.  Correlação  entre  o  variável  Peso,  Temperatura  Ambiente,  Umidade  Relativa do ar, Frequência Cardíaca e Escala de Borg
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Referências

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