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Revista Paulista de Pediatria ISSN: Sociedade de Pediatria de São Paulo Brasil

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Revista Paulista de Pediatria

ISSN: 0103-0582

rpp@spsp.org.br

Sociedade de Pediatria de São Paulo Brasil

Strehl Machado, Rodrigo; Menezes, Yara; Hanai Brito, Helena; Yamamoto, Érika; Viriato, Aírton

Contribuição das lesões não-erosivas ao diagnóstico endoscópico de esofagite em crianças e adolescentes

Revista Paulista de Pediatria, vol. 24, núm. 3, septiembre, 2006, pp. 233-238 Sociedade de Pediatria de São Paulo

São Paulo, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=406038917007

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Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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RESUMO

Objetivo: Avaliar a contribuição das lesões macroscópicas não-erosivas ao diagnóstico de esofagite.

Métodos: Foram avaliados 208 pacientes encaminhados ao serviço de endoscopia para endoscopia digestiva alta em um período de 33 meses. As lesões consideradas sugestivas de esofagite foram: edema, linhas verticais, erosões, hiperemia, friabilidade e prega sentinela. Coletou-se fragmento de terço distal de mucosa esofágica para avaliação histológica, a qual foi o padrão-ouro para o diagnóstico de esofagite. Sensibi-lidade, especifi cidade, razão de probabilidade e coefi ciente Kappa foram estimados para os achados macroscópicos em relação ao padrão-ouro.

Resultados: A idade dos pacientes variou de três meses a 19 anos (média 8,6 anos) e a razão feminino:masculino foi 120:88. A endoscopia digestiva alta mostrou exame normal em 124 pacientes (59,6%). As alterações mais freqüentes foram: esofa-gite (41/19,7%), nodularidade de mucosa antral (26/12,5%), hérnia de hiato (13/6,2%) e duodenite (9/4,3%). A esofagite foi não-erosiva em 30 pacientes, grau A de Los Angeles em nove e grau D em dois. A biópsia de esôfago mostrou esofagite em 39 casos (49,4%). Houve concordância entre os diagnósticos macroscópico e histológico em 144 (69,2%), 26 dos quais com esofagite (κ=0,259). A sensibilidade e a especifi cidade do exame endoscópico para o diagnóstico de esofagite foram, res-pectivamente, 34,7% e 88,7%. Os achados endoscópicos mais específi cos de esofagite foram: prega sentinela, hérnia de hiato, estenose esofágica, linhas verticais e friabilidade.

Conclusões: A concordância entre a histologia esofágica e a endoscopia quanto ao diagnóstico de esofagite foi fraca.

Palavras-chave: Esofagite péptica, endoscopia do sistema digestório, refl uxo gastroesofágico.

ABSTRACT

Objective: To evaluate the contribution of nonerosive macroscopic lesions to the diagnosis of esophagitis.

Methods: 208 patients with digestive symptoms referred to the endoscopy facility to perform an upper gastrointestinal endoscopy were evaluated during a period of 33 months. Endoscopic lesions suggestive of esophagitis evaluated were: edema, vertical lines, erosions, hyperemia, friability and sentinel fold. A fragment of distal esophagus was collected for histology. Histology was considered the gold-standard for esophagitis. Sensitivity, specifi city, likelihood ratio and Kappa coeffi cient were estimated for macroscopic fi ndings in relation to the gold-standard.

Results: Patients had a mean age of 8.6 years (Variation: three months to 19 years), 120 were females and 88 males. Endoscopy was normal in 124 (59.6%). The most common abnormalities were: esophagitis (41/19.7%), antral nodu-larity (26/12.5%), hiatal hernia (13/6.2%) and duodenitis (9/4.3%). Nonerosive esophagitis was diagnosed in 30 pa-tients. According to Los Angeles grades, the esophagitis was grade A in 9 and grade D in 2. Histological examination demonstrated esophagitis in 39 patients (49.4%). Agree-ment between histological diagnosis and endoscopy occurred in 144 (69.2%), of which 26 with esophagitis (κ=0.259). Sensitivity and specifi city of the endoscopy were 34.7% and 88.7% respectively. The most specifi c endoscopic fi ndings of esophagitis were: sentinel fold, hiatal hernia, esophageal stenosis, vertical lines and friability.

Conclusions: Agreement between esophageal histology and endoscopy was weak for the diagnosis of esophagitis.

Key-words: Esophagitis, peptic; endoscopy, digestive system; gastroesophageal refl ux.

Contribuição das lesões não-erosivas ao diagnóstico endoscópico

de esofagite em crianças e adolescentes

Contribution of nonerosive esophageal lesions to endoscopic diagnosis of esophagitis in children and adolescents

Rodrigo Strehl Machado1, Yara Menezes2, Helena Hanai Brito3, Érika Yamamoto3, Aírton Viriato3

1Mestre em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo – Escola

Paulista de Medicina (Unifesp/EPM), médico endoscopista do Hospital Infantil Cândido Fontoura de São Paulo

2Médico patologista do Instituto Adolfo Lutz de São Paulo

3Médico pediatra da Divisão de Apoio Diagnóstico e Terapêutica do Hospital

Infantil Cândido Fontoura de São Paulo

Endereço para correspondência: Dr. Rodrigo Strehl Machado

Avenida Doutor Altino Arantes, 894, apto. 101 – Vila Clementino CEP 04042-004 – São Paulo/SP

E-mail: rodrigo@gastroped.epm.br Recebido em: 4/4/2006

Aprovado em: 20/6/2006

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Introdução

O refl uxo gastroesofágico patológico, atualmente desig-nado como doença do refl uxo gastroesofágico (DRGE), tem importância epidemiológica crescente, sendo que complicações signifi cativas desenvolvem-se em 10% das crianças não-trata-das(1). Embora a doença seja reconhecida e bem defi nida

clinica-mente, não há métodos diagnósticos que permitam diferenciar com razoável certeza o refl uxo gastroesofágico fi siológico do patológico. A esofagite de refl uxo e suas conseqüências, como estenose e esôfago de Barrett, são as principais complicações da DRGE e seu diagnóstico geralmente é realizado pelo exame endoscópico e histológico da mucosa esofágica(2).

O diagnóstico histológico de refl uxo é estabelecido no pa-ciente com infi ltrado de polimorfonucleares, particularmente eosinófi los, alongamento do estroma papilar (papilomatose), hiperplasia da camada basal e congestão dos capilares, en-quanto o diagnóstico endoscópico baseia-se na verifi cação de lesões erosivas no terço distal ou de complicações, como estenose, ulcerações ou metaplasia especializada. Apesar de uma importante proporção dos pacientes que preenchem os critérios clínicos de refl uxo não possuir lesões erosivas, as principais classifi cações de esofagite baseiam-se na extensão da quebra de continuidade da mucosa(3). Em crianças, há

tendência à valorização de lesões não-erosivas, como edema, irregularidade do contorno mucoso e hiperemia. Devido a isso, classifi cações que levem em conta tais achados são propostas para uso em pediatria, por se considerar as erosões um evento tardio na evolução da doença(4). No entanto, a

única classifi cação de esofagite de refl uxo adequadamente validada é a de Los Angeles, que considera apenas quebras

de continuidade da mucosa esofágica, seja por erosão ou por estrias de hiperemia(5).

Faltam estudos que verifi quem a importância de cada sinal não-erosivo como evidência de esofagite de refl uxo e, quando esses sinais são considerados em conjunto, é reconhecida sua baixa acurácia para o diagnóstico, comparados à histologia(6).

Assim, o estudo teve por objetivo verifi car a relação entre ava-liação endoscópica e histológica da mucosa esofágica quanto ao diagnóstico de esofagite e investigar a contribuição de lesões não-erosivas ao diagnóstico da doença.

Métodos

Os prontuários de pacientes encaminhados ao serviço de endoscopia para endoscopia digestiva alta diagnóstica em um período de 33 meses foram revisados quanto à indicação do exa-me e quanto aos relatórios dos exaexa-mes endoscópico e histológico. Foram consideradas as primeiras endoscopias. Pacientes sem resultado da histologia de esôfago disponível foram excluídos.

Para a endoscopia, empregou-se o gastroscópio pediátrico convencional Fuginon 100 PE ou Pentax FG24X, ambos com canal de operação de 2 mm. Os exames foram realizados sempre pelo mesmo médico (RSM). O teste rápido da urease e as biópsias de outros locais foram indicados de acordo com a solicitação do médico assistente. Realizou-se o teste rápido da urease com solução aquosa de uréia a 10% e uma gota de vermelho de fenol, com resultado lido após uma hora e interpretado como positivo quando a coloração da solução passou de amarela à rósea.

As lesões sugestivas de esofagite endoscópica anotadas foram: erosões, edema (Figura 2), eritema, linhas verticais (Figura 2),

Figura 1 – Aspecto da mucosa esofágica normal, de cor rósea, superfície plana e vasos submucosos visíveis

Figura 2– Linha vertical visível em mucosa com superfície irregular e edema acentuado no terço médio do esôfago

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jun-ção esôfago-gástrica. A esofagite erosiva foi graduada conforme o sistema de Los Angeles(5), aqui especifi cado:

A. Uma ou mais soluções de continuidade da mucosa, cada uma com menos de 5 mm.

B. Pelo menos uma das soluções de continuidade com mais de 5 mm, mas não contínua entre os topos de duas pregas mucosas.

Tabela 1 – Indicações de endoscopia

Indicações N %

Dor epigástrica 74 35,6

Dor abdominal em outra localização 35 16,8

Vômitos recorrentes 30 14,4

Controle de tratamento 28 13,5

Dor retroesternal 12 5,8

Hematêmese 5 2,4

Outras 24 11,5

Tabela 2 – Diagnóstico endoscópico (há pacientes com mais de um diagnóstico)

Diagnóstico N %

Exame normal 124 59,6

Esofagite 41 19,7

Nodularidade da mucosa antral 26 12,5

Duodenite 9 4,3

Hérnia de hiato 13 6,2

Outras 10 4,8

Tabela 3 – Diagnóstico endoscópico de esofagite, em relação ao padrão-ouro histológico Esofagite n (%) Normal n (%) Total n (%) Esofagite 26 (63) 15 (37) 41 (100) Sem esofagite 49 (29) 118 (71) 167 (100) Total 75 (36) 123 (64) 208 (100)

Tabela 4 – Concordância (Kappa) e acurácia diagnóstica das alterações macroscópicas do esôfago, quanto ao diagnóstico histológico de esofagite n (%) S (%) E (%) RP- RP+ Kappa Edema 38 (92,7) 29,3 88,0 0,80 2,43 0,194 Eritema 14 (34,1) 14,7 97,7 0,87 6,50 0,151 Hérnia de hiato 13 (31,7) 13,3 97,7 0,89 5,91 0,135 Linhas verticais 12 (29,3) 12 97,7 0,90 5,32 0,119 Erosões 11 (26,8) 9,3 97,0 0,93 3,10 0,078 Friabilidade 7 (17,1) 5,3 97,7 0,97 2,36 0,038 Prega sentinela 2 (4,9) 2,7 100 0,97 – 0,033

S: sensibilidade; E: especifi cidade; RP-: razão de probabilidade para o teste negativo; RP+: razão de probabilidade para o teste positivo

C. Pelo menos uma interrupção da mucosa contínua entre os topos de duas pregas mucosas, mas não circunferencial. D. Solução de continuidade circunferencial da mucosa.

Quanto ao exame histológico, para todos os pacientes in-cluídos, coletou-se material de biópsia por punção da mucosa esofágica 3 cm acima da linha Z, com pinça convencional de 1,8 mm de diâmetro. Os fragmentos foram fi xados em formol a 10%. O diagnóstico de esofagite foi estabelecido quando havia hiperplasia da camada basal do epitélio e/ou extensão do estroma papilar e/ou infi ltrado com polimorfonucleares no epitélio ou lâmina própria(3).

Para a análise estatística, estabeleceu-se como padrão-ouro para o diagnóstico de esofagite o exame histológico. A concordância de cada uma das lesões endoscópicas sugestivas de esofagite com o padrão-ouro foi avaliada pelo cálculo do coefi ciente Kappa. Além disso, foram estimadas a sensibili-dade, a especifi cidade e a razão de probabilidade das lesões endoscópicas macroscópicas em relação ao padrão-ouro.

O estudo foi retrospectivo e não gerou intervenção, mo-tivo pelo qual não foi necessário o preenchimento de termo de consentimento livre e esclarecido, conforme avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Infantil Cândido Fontoura, em São Paulo (SP).

Resultados

Foram estudados 208 pacientes. A idade variou de três meses a 19 anos, com média de 8,6±4,5 anos. Quanto ao gênero, 120 pacientes eram do sexo feminino e 88 do mascu-lino. A principal indicação da endoscopia foi dor epigástrica (35,6%), conforme disposto na Tabela 1.

A endoscopia mostrou-se normal em 124 pacientes (59,6%). As alterações mais freqüentes foram: esofagite (n=41/19,7%) e nodularidade de mucosa antral (n=26/12,5%) (Tabela 2). O teste rápido da urease foi realizado em 122 pacientes (58,6%), com 36 positivos (29,5%). A esofagite foi não-erosiva em 30

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e havia nove pacientes com esofagite grau A e dois com grau D (um dos quais tinha estenose esofágica). O encontro de área de mucosa suspeita de esôfago de Barrett ocorreu em um paciente com esofagite grau D.

O diagnóstico histológico de esofagite se deu em 75 pacientes (36,1%). A idade média dos pacientes com eso-fagite foi 9,8±4,8 anos, enquanto naqueles sem esoeso-fagite foi 7,9±4,2 anos (p=0,005). Houve concordância entre os diagnósticos macroscópico e histológico em 144 pacientes (69,2%) (Tabela 3). A concordância entre os diagnósticos his-tológico e endoscópico foi fraca (coefi ciente Kappa: 0,259). A sensibilidade do diagnóstico endoscópico foi 34,7%, a especifi cidade 88,7%, a razão de probabilidades para o teste positivo foi 3,07 e para o teste negativo 0,73.

A lesão mais freqüente em pacientes com esofagite endoscó-pica foi edema (38/41, 92,7%), a menos específi ca em relação ao diagnóstico histológico de esofagite (87,9%). O achado de eritema, friabilidade, erosões e linhas verticais apresentou maior especifi cidade (Tabela 4). A hérnia de hiato ocorreu em 13 pacientes, dos quais seis tinham esofagite à endoscopia e à histologia. Dos sete pacientes com hérnia de hiato sem esofagite endoscópica, quatro tinham esofagite histológica (57%). Não houve associação entre o resultado do teste rápido da urease e o diagnóstico histológico ou endoscópico de esofagite.

Discussão

No presente estudo, algumas alterações macroscópicas não-erosivas da mucosa esofágica possuem alta especifi cidade, supe-rando 97% no caso de eritema, friabilidade e linhas verticais. No entanto, a razão de probabilidade para o teste positivo da endoscopia foi de apenas 3,07 e, ao avaliar cada uma das lesões em separado, a que apresentou maior razão de probabilidade para o diagnóstico foi o eritema, com valor de 6,5. A razão de probabilidades (ou razão de verossimilhança, likelihood ratio) descreve quanto um teste diagnóstico muda a chance de a doença estar realmente presente, o que a torna um instrumento impor-tante para orientar o médico a avaliar um método diagnóstico. Um teste produz grande aumento da probabilidade pós-teste de doença quando a razão de probabilidades for superior a 10 (para o teste positivo) ou grande diminuição da probabilidades pós-teste quando for inferior a 0,1 (para o teste negativo)(7). O

edema da mucosa, revelado pela perda da transparência dela, foi o sinal menos específi co e com menor razão de probabilidade no presente estudo (razão de probabilidades de 2,43). Gupta e colaboradores descreveram que linhas verticais na mucosa esofágica são altamente específi cas (98%) para o diagnóstico

de esofagite, comparadas à histologia, contra 95% dos demais achados e 45,3% de prevalência em pacientes com endoscopia considerada normal(8). No entanto, linhas verticais, edema,

nodularidade e eritema, bem como placas aderentes brancas, foram também descritos na esofagite eosinofílica(9).

A sensibilidade da endoscopia foi de apenas 34,7%, o que sublinha a necessidade de coletar fragmentos de biópsia para o diagnóstico de esofagite em crianças. Dahshan e Rabah descreve-ram, por outro lado, sensibilidade 81,6% e especifi cidade 41,6% da endoscopia para o diagnóstico de esofagite, se comparada à histologia, e a presença de friabilidade teve acurácia de 71% e a de eritema de 63%(10). Gupta e colaboradores, ao avaliarem

apenas as linhas verticais no diagnóstico de esofagite, mostraram sensibilidade de 37%(8). Há fraca concordância entre o

diagnós-tico endoscópico e histológico de esofagite, mesmo quando não consideradas as lesões não-erosivas, geralmente à custa de menor sensibilidade dos achados endoscópicos(11).

Apenas 11/41 (26,8%) dos pacientes com diagnóstico endoscópico de esofagite tinham lesões erosivas. A quebra de continuidade da mucosa é a lesão básica mais aceita de esofagite endoscópica nas classifi cações, mas diversos autores a consideram inadequada para avaliar crianças, pois a lesão pode ser um evento tardio na evolução da doença. A classifi cação de Hetzel e Dent considera como primeiro grau de esofagite lesões não-erosivas e é sugerida por Hassal como adequada à avaliação de crianças. No entanto, no estudo em que tal classifi cação foi inicialmente citada, um ensaio terapêutico de esofagite, o autor incluiu apenas pacientes com lesões erosivas (grau 2 ou maior) e foram considerados curados os pacientes que, após tratamento, apre-sentaram grau 0 ou 1(4,12). Outras classifi cações são propostas,

mas o sistema de graduação da esofagite de refl uxo mais aceito é a classifi cação de Los Angeles, sistema estabelecido em consenso, validado quanto à sua reprodutibilidade e baseado na extensão de quebras de continuidade da mucosa. No entanto, mesmo essa classifi cação é criticada, porque considerada como lesão básica as quebras de continuidade da mucosa (mucosal breaks) e descreve tanto estrias de hiperemia como erosões, além de desconsiderar complicações de esofagite, como o esôfago de Barrett, a estenose e as úlceras esofágicas(13). Contudo, as estrias vermelhas sem

erosão, em claro contraste com a mucosa adjacente normal, foram validadas em relação à histologia, tendo como controle a mucosa adjacente de aparência normal(5).

Os exames foram realizados sempre pelo mesmo endos-copista, o que garante a uniformidade da avaliação, mas não permite a verifi cação da reprodutibilidade dos achados. A variação interobservador é o principal motivo da não-adoção do critério de alterações mínimas da mucosa esofágica pela

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237 maioria das classifi cações de esofagite. Edema, eritema difuso

e friabilidade tiveram coefi ciente Kappa, respectivamente, de 0,55, 0,69 e 0,55 entre endoscopistas experientes em um estudo, mas, para endoscopistas em treinamento, os valores respectivos foram de apenas 0,19, 0,36, e 0,19, enquanto a concordância interobservador das quebras de continuidade da mucosa se situou entre 0,81 e 0,84 para ambos os grupos(14).

A classifi cação de Hetzel e Dent, na qual o primeiro estágio é reservado para alterações mínimas, possui um coefi ciente de concordância intraobservador apenas discretamente inferior à de Los Angeles em um estudo (Kappa 0,395 para a de Hetzel e Dent versus 0,436 para de Los Angeles), mas, no mesmo tra-balho, não foi descrita a reprodutibilidade do primeiro grau da classifi cação de Hetzel e Dent(15). Os exames na presente

pesquisa não foram gravados em vídeo, motivo pelo qual esse aspecto não foi avaliado. O processamento digital de imagens pode tornar objetiva a avaliação de alterações como hiperemia e edema no futuro, com programas de computador específi cos de análise de tonalidade(16,17).

A esofagite foi muito comum nos pacientes estudados, com 35% de prevalência, o que reforça a importância da coleta de fragmentos de esôfago durante o exame de crianças sintomáticas. Além disso, houve concordância ruim entre as lesões sugestivas de esofagite e o diagnóstico histológico de esofagite (Kappa 0,033 a 0,194). Leape, Bhan e Ramenofsky avaliaram 63 pacien-tes e verifi caram que 52% dos assintomáticos tinham esofagite histológica, enquanto que, em 31 pacientes com endoscopia normal, 18 tinham histologia esofágica anormal. No entanto, nos pacientes sintomáticos, a esofagite histológica teve associação com a clínica e a resposta ao tratamento(18). No estudo citado(18),

em 24 pacientes com histologia normal, 11 tinham esofagite à endoscopia e, na presente investigação, em 133 pacientes com histologia normal, 15 tinham esofagite à endoscopia. Vieira, Pisani e Mulinari, ao avaliarem 167 lactentes com idade até um ano e suspeita de doença do refl uxo gastroesofágico, relataram 42,5% de esofagite à endoscopia (com critério diagnóstico que incluiu lesões não-erosivas) e 83,2% de esofagite histológica, com sensibilidade da endoscopia para o diagnóstico de esofagite de 45% e especifi cidade 71%(19). De modo geral, o diagnóstico

histológico de esofagite é freqüente, mas falsos positivos podem resultar da coleta muito distal do fragmento e da maior exposição ao ácido. Além disso, os fragmentos obtidos por endoscopia são de tamanho reduzido devido à coleta tangencial do fragmen-to com pinça de pequeno calibre, particularmente quando o aparelho é pediátrico. Knuff e colaboradores, ao compararem a biópsia endoscópica com a biópsia de sucção, verifi caram que a última produz melhores fragmentos(20).

Mais da metade (59,6%) dos exames endoscópicos mostrou resultado normal, o que se aproximou dos resultados de outros estudos, principalmente dos realizados em adultos(6). O

prin-cipal achado foi esofagite, encontrada em 20,2% dos exames, semelhante ao observado por El-Serag e colaboradores em mais de 400 crianças neurologicamente normais(21).

Assim, a presente investigação demonstra que o diagnóstico endoscópico de esofagite apresenta concordância ruim com o diagnóstico histológico. Dentre as lesões não-erosivas avalia-das, o edema apresentou a pior especifi cidade. As demais lesões (eritema, linhas verticais, hérnia de hiato, prega sentinela, friabilidade e erosões), apesar de mais específi cas, também possuem associação ruim com o diagnóstico histológico.

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Referências bibliográfi cas

Rodrigo Strehl Machado et al.

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