• Nenhum resultado encontrado

Universidade Tecnológica Federal do Paraná ANÁLISE COMPLEXA. Pós Graduação em Matemática / Cálculo Diferencial e Integral III WELLINGTON JOSÉ CORRÊA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Universidade Tecnológica Federal do Paraná ANÁLISE COMPLEXA. Pós Graduação em Matemática / Cálculo Diferencial e Integral III WELLINGTON JOSÉ CORRÊA"

Copied!
42
0
0

Texto

(1)

Campus Campo Mour˜ao

AN ´

ALISE COMPLEXA

os Gradua¸

ao em Matem´

atica / C´

alculo Diferencial e Integral III

WELLINGTON JOS´

E CORRˆ

EA

Campo Mour˜

ao, Paran´

a

(2)
(3)

0.1 N´umeros Complexos . . . 4

0.2 Propriedades Alg´ebricas de C . . . 8

0.3 Representa¸c˜ao Polar . . . 12

0.4 Ra´ızes n-´Esimas . . . 15

0.5 Conjuntos de Pontos no Plano Complexo . . . 17

0.6 Fun¸c˜oes Complexas . . . 21

0.7 A Fun¸c˜ao Exponencial Complexa . . . 22

0.8 Um Repasso `as Transforma¸c˜oes Complexas . . . 24

0.9 Fun¸c˜oes Trigonom´etricas . . . 26

0.10 A Fun¸c˜ao Logaritmo Natural de z . . . 28

0.11 Limite e Continuidade . . . 30

0.12 Fun¸c˜ao Anal´ıtica . . . 32

0.13 As Equa¸c˜oes de Cauchy-Riemann . . . 34

0.14 Integra¸c˜ao Complexa . . . 38

0.15 Teorema Integral de Cauchy . . . 40

(4)

0.1

umeros Complexos

Desde que algumas equa¸c˜oes alg´ebricas, tais como x2 + 1 = 0, n˜ao tem solu¸c˜ao em R, os

pri-meiros matem´aticos foram obrigados a considerar solu¸c˜oes puramente formais, envolvendo ra´ızes quadradas dos n´umeros negativos. Assim, Heron (Alexandria, 100 a. C.) obteve a solu¸c˜ao de √

−63, Girolano C´ardan (1545) escreveu 40 = (5 +√−15) · (5 −√−15). Esses n´umeros foram considerados sem utilidade e o termo imagin´ario foi aplicado a eles.

Se i ´e definido solu¸c˜ao da equa¸c˜ao x2 + 1 = 0, os n´umeros da forma a + i b, a, b ∈ R s˜ao

chamados N´umeros Complexos. O desenvolvimento moderno dos n´umeros complexos come¸cou com a descoberta por meio da interpreta¸c˜ao geom´etrica deles. Iniciada por John Wallis (1685), formalizada por Caspar Wessel (1799) e estabelecida e reconhecida a partir de 1806 com Jean Robert Argant e, finalmente, formalmente estudada por Carl Friedrich Gauss (1831).

Certamente, o seu primeiro contato com os n´umeros complexos foi por meio da obten¸c˜ao das ra´ızes de uma equa¸c˜ao do 2o

¯grau a2+ bx + c = 0 dada pela f´ormula

x = −b ± √

b2− 4ac

2a .

Quando o discriminante for negativo, sabemos que a f´ormula acima n˜ao leva a nenhuma raiz real. No entanto, os n´umeros complexos entraram na Matem´atica pela equa¸c˜ao do 3o

¯grau e n˜ao do 2o¯.

Defini¸c˜ao 0.1. Definimos o conjunto C (chamado de conjunto dos n´umeros complexos) como sendo o conjunto dos pares ordenados (a, b) com a, b∈ R com as opera¸c˜oes:

(a, b) + (c, d) = (a + c, b + d) (a, b)· (c, d) = (ac − bd, ad + bc)

As seguintes identifica¸c˜oes, ser˜ao de grande valia no nosso estudo. Estas ser˜ao justificadas no teorema (0.1).

Identifica¸c˜oes:Denotamos

(a, 0) = a (0, 1) = i . (1)

Observa¸c˜ao 0.1. Temos que

1. Dado z ∈ C, z = (a, b), chamamos a = <(z) como parte real de z e b = =(z) de parte imagin´aria de z.

(5)

2. O par (0, 0) ´e o elemento nulo para a opera¸c˜ao soma.

3. O par (1, 0) ´e o elemento nulo para a opera¸c˜ao multiplica¸c˜ao. 4. Temos que (a, b) = (c, d) ⇔ a = c, b = d.

Munidos dos conceitos apresentados acima, podemos obter o plano complexo, que ´e o conjunto de representa¸c˜oes de todos os n´umeros complexos z = x + iy pelos pontos P = (x, y) do plano.

A representa¸c˜ao dos n´umeros complexos por pontos do plano ´e muito ´util e de uso frequente. Por meio dela, o n´umero complexo z = x + iy ´e identificado com o ponto (x, y), ou com o vetor Oz de componentes x e y.

(6)

0 x

z = x + iy y

Figura 1: Representa¸c˜ao dos n´umeros complexos

Proposi¸c˜ao 0.1. Dados os n´umeros complexos z1, z2, z3 ∈ C, valem as propriedades:

1. Associativa: (z1+ z2) + z3 = z1+ (z2+ z3) .

2. Comutativa: z1+ z2 = z2+ z1.

3. Distributiva: z1· (z2+ z3) = z1z2+ z1z3.

Observa¸c˜ao 0.2. Usando a 1¯adefini¸c˜ao e as identifica¸c˜oes, temos:

1. (0, 1)· (0, 1) = (−1, 0) = −1, ou i · i = −1, o que nos mostra que i2 =−1.

2. Adi¸c˜ao

(a + ib) + (c + id) = (a + c) + i(b + d) . 3. Subtra¸c˜ao

(a + ib)− (c + id) = (a − c) + i(b − d) . 4. Multiplica¸c˜ao

(a + ib)· (c + id) = (ac − bd) + i(ad + bc) . 5. Divis˜ao a + ib c + id = a + ib c + id · c− id c− id = ac + bd + i(bc− ad) c2+ d2 = ac + bd c2+ d2 + i bc− ad c2+ d2 .

(7)

Exemplo 0.1. Sejamz1 = 1−i e z2 = 3+4 i . Calcule z1+z2, z1−z2, z1· z2, z1/z2 e represente-os

geometricamente.

O n´umero complexo c− id ´e chamado conjugado do n´umero complexo c + id. De modo geral, dado z = a + ib, denotamos por z = a− ib como sendo o conjugado de z.

Observa¸c˜ao 0.3. (Compara¸c˜ao com An´alise Real)

1. V´arias das propriedades do sistema de n´umeros reais R permanecem v´alidas no sistema deumeros complexos C, mas h´a algumas diferen¸cas not´aveis.

Por exemplo, o conceito de ordem do sistema de n´umeros reais n˜ao se aplica ao sistema de n´umeros complexos. Em outras palavras, n˜ao podemos comparar dois n´umeros complexos z1 = a1+ i b1, b1 6= 0 e z2 = a2+ i b2, b2 6= 0, por meio de desigualdades. Asser¸c˜oes como

z1 < z2, ou z2 ≥ z1 n˜ao tˆem qualquer significado em C.

2. Algumas coisas que sabemos ser imposs´ıveis na an´alise real, como ex = −2 e sen x = 5,

quando x ´e uma vari´avel real, s˜ao perfeitamente corretas e corriqueiras na an´alise complexa, quando x ´e interpretado como uma vari´avel complexa, como veremos posteriormente. Defini¸c˜ao 0.2. (Valor Absoluto) Seja z = a + ib um n´umero complexo. Definimos|z| =√a2+ b2

como sendo o valor absoluto de z.

Propriedades de conjuga¸c˜ao e valor absoluto. 1. z1± z2 = z1± z2. 2. z1· z2 = z1· z2. 3.  z1 z2  = z1 z2 . 4. Se z = <(z) ⇒ z = z . 5. Se z ==(z) ⇒ z = −z . 6. z + z = 2<(z) . 7. z− z = 2 =(z) 8. |<(z)| ≤ |z| . 9. |=(z)| ≤ |z| .

10. Se z1 = a1+ b1i e z2 = a2+ b2i ent˜ao|z1− z2| =p(a1− a2)2+ (b1− b2)2 ´e a distˆancia entre

(8)

11. z· z = |z|2. 12. |z| = |z|. 13. |z1· z2| = |z1| · |z2| 14. z1 z2 = |z1| |z2| , z2 6= 0. 15. |z1+ z2| ≤ |z1| + |z2| 16. |z1− z2| ≥ | |z1| − |z2| |

0.2

Propriedades Alg´

ebricas de C

Iniciemos esta subse¸c˜ao com a seguinte proposi¸c˜ao.

Proposi¸c˜ao 0.2. O conjunto dos n´umeros complexos C ´e um corpo.

Demonstra¸c˜ao: Basta usar a proposi¸c˜ao (0.1) e a observa¸c˜ao (0.2) para verificar a veracidade das propriedades de corpo.

 Corol´ario 0.1. Dados z1, z2 ∈ C, temos que z1 · z2 = 0 se, e somente se, z1 = 0 ou z2 = 0.

Demonstra¸c˜ao: Dados zi = (ai, bi), i = 1, 2 veja que

z1 · z2 = (a1a2− b1b2a1, b2+ b1a2) . Se z1 · z2 = 0, ent˜ao,    a1a2− b1b2a1 = 0 a1b2+ b1a2 = 0 ⇒    a1a2 = b1b2a1 a1b2 =−b1a2 (2)

Multiplicando a primeira equa¸c˜ao de (2) por b2 temos:

a1b2 | {z } =−b1b2 a2 = b1b22 −b1a22 = b1b22 ⇒ b1 (a22+ b 2 2) | {z } =| z2| = 0

Como a ´ultima igualdade envolve apenas n´umeros reais, a mesma nos diz que b1 = 0 ou | z2| = 0,

isto ´e, z2 = 0. Se b1 = 0, ent˜ao por qualquer equa¸c˜ao de (2) temos que a1 = 0, e assim, z1 = 0.

(9)

 Corol´ario 0.2. (Lei do Cancelamento)

Dados z1, z2, z3 ∈ C com z1 6= 0 e z1 · z2 = z2 · z3 ent˜ao, z2 = z3.

Demonstra¸c˜ao: De fato, se z1 · z2 = z2 · z3, ent˜ao,

z1 · z2− z2 · z3 = 0

⇒ z1 · (z2 − z3) = 0.

Assim, em virtude que z1 6= 0, pelo corol´ario precedente resulta que z2− z3 = 0, ou seja, z2 = z3.

 Observa¸c˜ao 0.4. Definindo seguinte multiplica¸c˜ao por escalar

· : R × C → C (k, z) 7→ k · z n˜ao ´e dif´ıcil verificar que (C, + , · ) ´e um R– espa¸co vetorial.

Proposi¸c˜ao 0.3. O conjunto{1, i} ´e uma base de C como R– espa¸co vetorial.

Demonstra¸c˜ao: Apenas como registro, o conjunto{1} ´e uma base de C como C– espa¸co vetorial. Agora, vamos a prova da proposi¸c˜ao. Com efeito, note que {1, i} gera C, pois, dado a + i b ∈ C,

a + i b = a · 1+ b · i.

E ainda, dados α, β ∈ R tivermos α · 1 + β i = 0, ent˜ao, pelas identifica¸c˜oes mencionadas anteriormente,

α · 1 + β i = 0 α · (1, 0) + β · (0, 1) = (0, 0)

(α, β) = (0, 0) ⇒ α = β = 0,

logo, o conjunto {1, i} ´e l. i. e, portanto, base de C como R– espa¸co vetorial.

(10)

A seguir, estudaremos produto interno em C.

Defini¸c˜ao 0.3. Considere V um espa¸co vetorial real, o produto interno ´e uma fun¸c˜ao h , i : V × V → R que satisfaz:

1. || v ||2 =hv, vi ≥ 0 e hv, vi = 0 se, e somente se, v = 0, para todo v ∈ V. 2. hα v, vi = α hv, vi, ∀ α ∈ R; ∀ v ∈ V.

3. hv1+ v2, v3i = hv1, v3i + hv2, v3i, ∀ v1, v2, v3 ∈ V.

4. hv1, v2i = hv2, v1i, ∀ v1, v2 ∈ V.

Observa¸c˜ao 0.5. Se, considerarmos agora v ∈ C, onde V ´e um espa¸co vetorial sobre C, de-ver´ıamos ter hv, vi ≥ 0 para todo v ∈ V, pela propriedade 1 da defini¸c˜ao anterior. Mas, se v = i w, note que hi w, i wi = i hw, iwi (propriedade 2) = ihi w, wi (propriedade 4) = i2 |{z} =−1 hw, wi | {z } ≥ 0 ≤ 0 (propriedade 2)

o que ´e uma contradi¸c˜ao.

Para driblar tal problema, precisamos de uma nova defini¸c˜ao de produto interno quando se considera o corpo dos complexos.

Defini¸c˜ao 0.4. Seja V um espa¸co vetorial complexo, o produto interno ´e uma fun¸c˜ao h , i : V × V → C que satisfaz:

1. || v ||2 =hv, vi ≥ 0 e hv, vi = 0 se, e somente se, v = 0, para todo v ∈ V.

2. hα v, vi = α hv, vi, ∀ α ∈ C; ∀ v ∈ V.

3. hv1+ v2, v3i = hv1, v3i + hv2, v3i, ∀ v1, v2, v3 ∈ V.

4. hv1, v2i = hv2, v1i, ∀ v1, v2 ∈ V.

Defini¸c˜ao 0.5. Seja V um espa¸co vetorial complexo, o produto interno ´e uma fun¸c˜ao h , i : V × V → C que satisfaz:

(11)

1. || v ||2 =hv, vi ≥ 0 e hv, vi = 0 se, e somente se, v = 0, para todo v ∈ V. 2. hα v, vi = α hv, vi, ∀ α ∈ C; ∀ v ∈ V.

3. hv1+ v2, v3i = hv1, v3i + hv2, v3i, ∀ v1, v2, v3 ∈ V.

4. hv1, v2i = hv2, v1i, ∀ v1, v2 ∈ V.

Terminaremos esta subse¸c˜ao, demonstrando que C ´e uma extens˜ao de R, isto ´e, C cont´em um subconjunto isomorfo a R. Este resultado, h´a de nos garantir a boa coloca¸c˜ao de nossas identifica¸c˜oes dadas em (1).

Teorema 0.1. C ´e uma extens˜ao de R.

Demonstra¸c˜ao: Com efeito, considere a aplica¸c˜ao ϕ : R → =(ϕ)

a 7→ ϕ(a) = (a, 0) Note que

(i) Para todo a, b∈ R e todo α ∈ R, ϕ ´e um homomorfismo:

ϕ(a + b) = (a + b, 0) = (a, 0) + (b, 0) = ϕ(a) + ϕ(b).

ϕ(α · a) = (α · a, 0) = (α · a, α · 0) = α · (a, 0) = α ϕ(a).

(ii) ϕ ´e sobrejetora.

Pela pr´opria constru¸c˜ao de ϕ, obtemos o desejado. (iii) ϕ ´e injetora.

De fato, note ϕ ´e linear e Ker(ϕ) ={a ∈ R, ϕ(a) = (0, 0)}. Seja x∈ Ker(ϕ). Ent˜ao, ϕ(x) = (0, 0), ou ainda,

(x, 0) = ϕ(x) = (0, 0) ⇔ x = 0, logo,

{ 0 } ⊂ Ker(ϕ) ⊂ { 0 } ⇒ Ker(ϕ) = { 0 }. Deste modo, por um resultado cl´assico de ´Algebra Linear, ϕ ´e injetora.

(12)

Portanto, ϕ ´e um isomorfismo e assim,

R ≈ =(ϕ) ⊂ C, o que prova o desejado.



0.3

Representa¸

ao Polar

Considerando a representa¸c˜ao geom´etrica de um n´umero complexo z 6= 0, chama-se argumento de z o ˆangulo θ formado pelo eixo Ox e o vetor Oz, no qual denotaremos por arg(z). Como em trigonometria, os ˆangulos s˜ao aqui orientados: consideramos positivo o sentido de percurso oposto ao dos ponteiros do rel´ogio.

Nesta defini¸c˜ao, o argumento n˜ao ´e ´unico e s´o fica determinado a menos de m´ultiplos inteiros de 2π, isto ´e, θ pode ser trocado por θ + 2kπ, k ∈ Z.

Deste modo, temos que o

arg(z) ≡ Arg(z) (mod 2π) ≡ Arg(z)

onde Arg(z) = θ quando 0≤ θ < 2 π.

Observa¸c˜ao 0.6. Aqui e somente aqui, Arg(z) significa a classe de equivalˆencia mod (2π). No restante do texto, como de costume na teoria envolvendo n´umeros complexos, z ser´a o conjugado de dado n´umero complexo z.

A menos que se diga o contr´ario, consideraremos o argumento de um n´umero complexo como θ = Arg(z), 0≤ θ ≤ 2 π.

Como a =|z| cos θ e b = |z| sen θ, temos a seguinte representa¸c˜ao polar ou representa¸c˜ao trigonom´etrica:

z = r (cos θ + i sen θ), r =|z|; (3)

de modo que r e θ s˜ao designados as coordenadas polares de z. A seguir, um resultado interessante:

(13)

0 a

b z = a + ib

θ r =|z|

Figura 2: Forma Polar do n´umero complexo z = a + b i Proposi¸c˜ao 0.4. Sejam z, w dois n´umeros complexos. Ent˜ao,

arg(z · w) = (arg(z) + arg(w)) (mod 2 π) e argz w



(14)

Observa¸c˜ao 0.7. (Compara¸c˜ao com An´alise Real)

1. Um argumento pode ser associado a qualquer n´umero complexo n˜ao nulo de z. Contudo, para z = 0 n˜ao ´e poss´ıvel dar a arg(z) qualquer defini¸c˜ao que fa¸ca sentido.

2. Se tomarmos arg(z) no intervalo (−π, π], a rela¸c˜ao entre um n´umero complexo z e seu argumento ´e un´ıvoca; ou seja, todo n´umero complexo n˜ao nulo tem precisamente um ˆangulo entre (−π, π]. Todavia, o intervalo (−π, π] nada tem de especial; tamb´em estabelecemos uma rela¸c˜ao un´ıvoca se usarmos o intervalo (0, 2 π] para definir o valor principal do argumento de z. Para o intervalo (−π, π], o eixo real negativo ´e an´alogo a uma barreira que decidimos n˜ao cruzar; a denomina¸c˜ao t´ecnica dessa barreira ´e corte de ramo ou linha de corte de ramo (branch cut). Se usarmos (0, 2 π], o corte de ramo ´e o eixo positivo. Veremos novamente este conceito ao tratar da fun¸c˜ao logaritmo complexa.

3. A parte “cosseno i seno” da parte da forma polar de um n´umero complexo ´e, `as vezes, abreviada por cis, ou seja,

z = r (cos θ + i sen θ) = r cisθ .

Esta nota¸c˜ao, empregada principalmente na engenharia, n˜ao ser´a utilizada neste texto. F´ormulas do Produto e do quociente

De posse da representa¸c˜ao polar, vamos deduzir uma regra conveniente para a multiplica¸c˜ao. Sejam

z1 = r1(cos θ1 + i sen θ1) e z2 = r2(cos θ2+ i sen θ2)

dois n´umeros complexos quaisquer. Ent˜ao

z1z2 = r1r2(cos θ1 + i sen θ1) (cos θ2+ i sen θ2)

= r1r2[(cos θ1cos θ2− sen θ1sen θ2) + i( sen θ1cos θ2+ cos θ1sen θ2)]

= r1r2[cos(θ1+ θ2) + i sen (θ1+ θ2)] .

Com isto, note que Arg(z1 · z2) = θ1+ θ2 = Arg(z1) + Arg(z2).

Vamos deduzir um resultado an´alogo para a divis˜ao, no entanto, note que 1

cos θ + i sen θ =

cos θ− i sen θ

(15)

temos: z1 z2 = r1 r2 · cos θ1+ i sen θ1 cos θ2+ i sen θ2 = r1 r2 · (cos θ

1+ i sen θ1)(cos θ2− i sen θ2)

= r1

r2 · [(cos θ

1cos θ2+ sen θ1sen θ2) + i( sen θ1cos θ2− cos θ1sen θ2)]

= r1

r2 · [cos(θ

1− θ2) + i sen (θ1− θ2)] .

Analogamente, Arg(z1/ z2) = θ1− θ2 = Arg(z1)− Arg(z2).

F´ormula De Moivre

A f´ormula da multiplica¸c˜ao estende-se para um n´umero qualquer de fatores, isto ´e, de demons-tra¸c˜ao simples, podemos obter

z1z2. . . zn = r1r2. . . rn[cos(θ1+ θ2+ . . . θn) + i sen (θ1+ θ2+ . . . θn)].

Quando todos os fatores s˜ao iguais e de m´odulo unit´ario, obtemos a f´ormula De Moivre:

(cos θ + i sen θ)n= cos nθ + i sen nθ .

Esta f´ormula tamb´em ´e v´alida tamb´em para expoentes negativos. De fato, (cos θ + i sen θ)−n = 1

(cos θ + i sen θ)n =

1

cos nθ + i sen nθ

= cos nθ− i sen nθ = cos(−nθ) + i sen (−nθ) .

0.4

Ra´ızes

n-´

Esimas

Diz-se que um n´umero z ´e raiz n-´esimade um dado n´umero complexo a, se zn= a. Como veremos

logo a seguir, um n´umero complexo n˜ao-nulo possui n ra´ızes distintas. Para isso, consideremos o n´umero dado a6= 0 em sua forma polar, bem como, a raiz que desejamos encontrar na sua forma polar, ou seja,

a = r(cos θ + i sen θ) e z = ρ(cos ϕ + i sen ϕ).

Utilizando com deleite a f´ormula De Moivre, a equa¸c˜ao zn= a assume a seguinte forma:

(16)

Como a igualdade de n´umeros complexos requer a igualdade das partes reais e das partes ima-gin´arias, separadamente, devemos ter

ρncos nϕ = r cos θ e ρnsen nϕ = r sen θ .

Estas equa¸c˜oes, por sua vez, equivalem a ρn = r e nϕ = θ + 2kπ, onde k ´e um inteiro. Daqui

segue-se que se ρ ´e a raiz n-´esima positiva de r, donde z = √na = √nr  cos θ + 2kπ n  + i sen  θ + 2kπ n  . (5)

Esta f´ormula produz n ra´ızes distintas, quando k se atribuem os valores de k = 0, 1, . . . , n− 1. No caso particular quando a = 1, temos que θ = 0 e a f´ormula (5) se reduz a

z = cos 2kπ n  + i sen  2kπ n  (6) que s˜ao chamadas ra´ızes n-´esimas da unidade.

Exemplo 0.2. Calcule as ra´ızes de z6 = 1 e esboce tais ra´ızes no plano complexo.

Solu¸c˜ao: Note que recorrendo `a (5) temos que z0 = 1,

z1 = cos(π/3) + i sen (π/3) = 1/2 + i

3/2, z2 =−z1, z3 =−1, z4 =−z1, z5 = z1.

A figura (3) ilustra as ra´ızes para a equa¸c˜ao z6 = 1:

Observa¸c˜ao 0.8. (Compara¸c˜ao com An´alise Real)

1. Como consequˆencia de (5), podemos dizer que o sistema de n´umeros complexos ´e fechado sob a opera¸c˜ao de extra¸c˜ao de ra´ızes. Isso significa que para qualquer n´umero z ∈ C, z1/n tamb´em est´

a em C. O sistema de n´umeros reais n˜ao goza de propriedade similar de fechamento, pois se x∈ R, x1/n ao est´a necessariamente em R.

2. Do ponto de vista geom´etrico, asn ra´ızes n-´esimas de um n´umero complexo z tamb´em podem ser interpretadas como os v´ertices de um pol´ıgono regular com n lados que est´a inscrito em uma circunferˆencia de raio √nr e centro na origem. A plausibilidade deste fato pode ser

comprovada por uma reinspe¸c˜ao da figura anterior.

3. Quandom e n s˜ao inteiros positivos sem fator comum, (5) nos permite definir uma potˆencia racional de z, ou seja, zm/n. Pode ser mostrado que o conjunto de valores (z1/n)m ´e igual

(17)

z0

z1

z2

z3

z4 z5

Figura 3: Ra´ızes da equa¸c˜ao z6+ 1 = 0

0.5

Conjuntos de Pontos no Plano Complexo

Defini¸c˜ao 0.6. Consideremos z0 = x0+ i y0. Como |z − z0| =p(x − x0)2+ (y− y0)2 representa

a distˆancia entre os pontos z = x + iy e z0 = x0 + i y0, os pontos z = x + iy que satisfazem a

equa¸c˜ao

| z − z0| = ρ, ρ > 0, (7)

est˜ao localizados na circunferˆencia de raioρ, centrada em z0, como ilustrado na figura a seguir.

Figura 4: Circunferˆencia de raio ρ.

Defini¸c˜ao 0.7. Dizemos que o conjunto de pontos definidos por |z − z0| ≤ ρ ´e um disco de raio

(18)

Defini¸c˜ao 0.8. Um pontoz0 ´e denominado ponto interior de um conjuntoS do plano complexo

se existir alguma vizinhan¸ca de z0 que esteja inteiramente contida em S. Se todo ponto z de um

conjunto S for um ponto interior, ent˜ao S ´e denominado conjunto aberto.

Figura 5: Conjunto aberto

Defini¸c˜ao 0.9. Se toda vizinhan¸ca de um ponto z0 contiver pelo menos um ponto que est´a em

S e pelo menos um ponto que n˜ao est´a em S, ent˜ao z0 ´e denominado ponto de fronteira. A

cole¸c˜ao de pontos de fronteira de S ´e chamada fronteira de S. Um ponto z que n˜ao ´e um ponto interior nem um ponto de fronteira de um conjunto S ´e chamado ponto exterior de S.

Interior S Exterior Fronteira y x

Figura 6: Interior, fronteira e exterior de S.

Defini¸c˜ao 0.10. Dizemos que z0 ´e um ponto de acumula¸c˜ao do conjunto S se qualquer

vizi-nhan¸ca de z0 cont´em infinitos pontos de C. Caso contr´ario, z0 ´e dito isolado.

Exemplo 0.3. Considere o conjunto  i +1 2, i + 1 3, . . . , i + 1 n  .

(19)

Temos que i +1 2, i +

1

3, . . . , i + 1

n s˜ao pontos isolados e o ´unico ponto de acumula¸c˜ao do conjunto ´

e i que n˜ao pertence ao conjunto.

Defini¸c˜ao 0.11. Se um par qualquer de pontosz1 ez2 de um conjuntoS puder ser ligado por uma

linha poligonal que consiste em segmentos de retas conectados e inteiramente contidos no conjunto, S ´e denominado um conjunto conexo. A figura a seguir, ilustra o conceito. Um conjunto conexo aberto ´e denominado dom´ınio.

z

1

z

2

Figura 7: Conjunto conexo

Observa¸c˜ao 0.9. (Compara¸c˜ao com An´alise Real)

No estudo de matem´atica ´e prov´avel que o aluno tenha se deparado com o conceito de infinito. Por exemplo, em um curso de c´alculo o aluno deve ter estudado limites no infinito, quando o comportamento de fun¸c˜oes ´e examinado `a medida que x aumenta ou diminui indefinidamente. Como h´a exatamente duas dire¸c˜oes em uma reta de n´umeros, ´e conveniente representar as no¸c˜oes de “aumentar” indefinidamente e “diminuir” indefinidamente de forma simb´olica por x → +∞ e x → −∞, respectivamente. No entanto, podemos nos sair muito bem sem a designa¸c˜ao ± ∞ usando um “ponto ideal” denominado ponto infinito e denotado simplesmente ∞. Para isso, associamos qualquer n´umero real a a um ponto (x0, y0) na circunferˆencia unit´aria x2+ y2 = 1 da

seguinte forma: tra¸camos uma reta do ponto (a, 0), no eixo x ou reta horizontal de n´umeros, ao ponto (0, 1), na circunferˆencia. O ponto (x0, y0) na circunferˆencia ´e a intersec¸c˜ao da linha reta

e da circunferˆencia. A figura (8) deixa claro que quanto mais distante o ponto (a, 0) estiver da origem, mais pr´oximo(x0, y0) se torna de (0, 1). Para completar a correspondˆencia com todos os

pontos na circunferˆencia , (0, 1) ´e associado ao ∞. O conjunto que consiste nos n´umeros reais R ´

e dito sistema de n´umeros reais estendido.

Em nosso estudo, o an´alogo `a reta de n´umeros ´e o plano complexo. Recordemos que como C n˜ao ´e ordenado, a no¸c˜ao de “aumento” ou “diminui¸c˜ao” de z n˜ao faz sentido. Contudo,

(20)

sabemos que se aumentarmos ou diminuirmos o m´odulo |z| de um n´umero complexo z o n´umero se distancia da origem. Se permitirmos que z cres¸ca indefinidamente, digamos ao longo do eixo real ao do eixo imagin´ario, n˜ao precisaremos distinguir “dire¸c˜oes” ao longo desses eixos, como z → +∞, z → −∞, z → +i ∞ ou z → −i ∞. Em an´alise complexa, usamos apenas a no¸c˜ao de ∞, pois podemos estender o sistemas de n´umeros complexos C de forma an´aloga `a que acabamos de descrever para o sistema de n´umeros reais R. Todavia, agora associamos um n´umero complexo a um ponto na superf´ıcie de uma esfera de raio unit´ario, denominada esfera de Riemann. Ao desenhar uma reta do n´umero z = a + ib no plano complexo, representado por A = (a, b, 0), ao polo norte N = (0, 0, 1) da esfera x2+ y2+ u2 = 1, determinamos um ´unico ponto A0 = (x

0, y0, u0)

na superf´ıcie da esfera unit´aria. Como mostra a figura (9), um n´umero complexo de m´odulo muito grande est´a distante de S = (0, 0, 0) e, por conseguinte, o ponto A0 est´a pr´oximo de N . Assim,

cada n´umero complexo ´e associado a um ´unico ponto na superf´ıcie da esfera. Como o pontoN n˜ao est´a associado a qualquer n´umero z no plano, o associamos a ∞. O resultante sistema consiste em C e no “ponto ideal” ´e denominado sistema de n´umeros complexos estendido.

Esta forma de associar ou mapear os n´umeros complexos a uma esfera – com polo norte em N ´e denominada proje¸c˜ao estereogr´afica.

Para um n´umero finito z, temos z +∞ = ∞ + z = ∞ e, para z 6= 0, z · ∞ = ∞ · z = ∞. Adicionalmente, para z 6=, 0, escrevemos z/0 = ∞ e, para z 6= ∞, z/∞ = 0. Express˜oes como ∞ − ∞, ∞/∞, ∞0 e 1ao podem ser definidas se s˜ao denominadas indetermina¸oes ou formas

indeterminadas. Reta de n´umeros (0, 1) (x0, y0) (a, 0)

(21)

Exemplo 0.4. Esboce os conjuntos de pontos dados. 1. |z| = 1 2. |z| < 1 3. |z| > 1 4. |z − 2| = 1 5. |z + 1 + 3i| = 4 6. z = z0+ (z1− z0)t, t ∈ R 7. <(z) < −3 8. =(z) ≥ 1 9. | z − 2 | = | z − 3i |

0.6

Fun¸

oes Complexas

Vamos considerar fun¸c˜oes definidas em conjuntos complexos, assumindo valores complexos. Mais precisamente, seja D um conjunto de n´umeros complexos e seja f a lei que faz corresponder, a cada elemento z do conjunto D, um ´unico n´umero complexo, que denotaremos por f (z). Nestas condi¸c˜oes, diz-se que f ´e uma fun¸c˜ao com dom´ınio D. O conjunto I dos valores w = f (z), correspondentes a todos valores de z em D, ´e chamado a imagem de D pela fun¸c˜ao f conforme ilustra figura a seguir: A cada fun¸c˜ao w = f (z) de uma vari´avel complexa z = u + iv est˜ao

z f f (z)

I D

Figura 10: Fun¸c˜ao de vari´avel complexa

associadas duas fun¸c˜oes reais de vari´aveis reais x e y,dadas por

u = u(x, y) =<(f(z)) : R2

→ R e v = v(x, y) ==(f(z)) : R2

→ R

Exemplo 0.5. Nas fun¸c˜oes de vari´avel complexa definidas abaixo, identifique a parte realu(x, y), a parte imagin´aria v(x, y), bem como o dom´ınio destas fun¸c˜oes.

1. f (z) = z2 2. f (z) = 3z + 2 3. w = z2+ z + 1 4. w = z2− 5z + 3 5. w = 1 z 6. w = 3 z− 5 7. w = ˆ +∞ 0 e−xtdt + i +∞ X n=0 yn

(22)

Observa¸c˜ao 0.10. (Compara¸c˜ao com An´alise Real) H´a uma grande diferen¸ca entre as an´alises real e complexa:

n˜ao ´e poss´ıvel desenhar o gr´afico de uma fun¸c˜ao complexa

De fato, se y = f (x) for uma fun¸c˜ao de valor real de uma vari´avel real x, o gr´afico de f ´e definido como o conjunto de todos os pontos (x, f (x)) no plano cartesiano bidimensional. Uma defini¸c˜ao an´aloga pode ser feita para fun¸c˜oes complexas. No entanto, se w = f (z) for uma fun¸c˜ao complexa, z e w residem no plano complexo. Por conseguinte, o conjunto de todos os pontos (z, f (z)) reside no espa¸co quadridimensional (duas dimens˜oes da entrada z e duas dimens˜oes da sa´ıda w). ´e ´Obvio que um subconjunto do espa¸co quadridimensional n˜ao pode ser ilustrado com facilidade. Em vez de usar um gr´afico, representaremos uma fun¸c˜ao complexa por meio de uma transforma¸c˜ao complexa com o uso de duas figuras: a primeira descreve um subconjunto S no plano complexo, e a segunda, a imagem S0 do conjunto S sob a transforma¸c˜ao complexa. A

figura a seguir, apresenta um exemplo de uma transforma¸c˜ao complexa.

S w = f (z) S ′ x y u v

Figura 11: Imagem de S sob a transforma¸c˜ao w = f (z).

A primeira fun¸c˜ao f : C→ C ser´a definida a seguir.

0.7

A Fun¸

ao Exponencial Complexa

Admitimos que o leitor, com sua familiaridade com as fun¸c˜oes trigonom´etricas, a constante de Euler e e a fun¸c˜ao exponencial ex, conceitos estes que s˜ao estudados nos cursos de C´alculo.

Lem-bramos, ainda, os desenvolvimentos dessas fun¸c˜oes em s´eries de MacLaurin, v´alidos para todos os valores reais da vari´avel x:

(23)

ex = +∞ X n=0 xn n! = 1 + x + x2 2! + x3 3! + . . . ; (8) cos x = +∞ X n=0 (−1)nx2n (2n)! = 1− x2 2! + x4 4! − x6 6! + . . . ; (9) sen x = +∞ X n=0 (−1)nx2n+1 (2n + 1)! = x− x3 3! + x5 5! − x7 7! + . . . (10)

Vamos tomar o desenvolvimento (8) como base para definir ez com z complexo. Formalmente,

assuma que este desenvolvimento seja v´alido para nossos prop´ositos e que ez para z complexo,

ent˜ao para y real, tem-se:

eiy = 1 + iy + (iy)2 2! + (iy)3 3! + (iy)4 4! + (iy)5 5! + (iy)6 6! + (iy)7 7! + . . . = 1 + iy y 2 2! − i y3 3! + y4 4! + i y5 5! − y6 6! − i y7 7! + . . . Ou ainda, eiy =  1 y 2 2! + y4 4! − y6 6! + . . . ...  + i  y y 3 3! + y5 5! − y7 7! + . . .  , ou seja, em vista de (9) e (10), obtemos:

eiy = cos y + i sen y.

Por outro lado, da defini¸c˜ao da exponencial no caso de um expoente qualquer z = x + iy temos

ez = ex+iy = exeiy,

doravante,

ez = ex+iy = ex(cos y + i sen y) . (11)

Propriedades:

1. e0 = 1. 2. ez1+z2 = ez

(24)

3. e−z = 1/ez;

4. (ez)n= enz, n inteiro;

5. ez 6= 0 para todo z;

6. |ez| = e<(z);

7. ez = 1 ⇔ z = 2kπi, k inteiro.

8. ez ´e peri´odica com per´ıodo puramente

imagin´ario 2π i.

Observa¸c˜ao 0.11. Se z = r (cos θ + i sen θ), ent˜ao eiθ = e0(cos θ + i sen θ) = (cos θ + i sen θ),

portanto, obtemos a conhecida f´ormula exponencial polar

z = reiθ. (12)

0.8

Um Repasso `

as Transforma¸

oes Complexas

Veremos a seguir, que a f´ormula exponencial polar dada em (12) ´e muito ´util quando queremos analisar transforma¸c˜oes complexas. Vejamos os exemplos a seguir.

1. Fun¸c˜oes Lineares: w = f (z) = z + c, c∈ C . Se z = x + i y, c = c1+ i c2, w = f (z) = x + c1+ i(y + c2) . x y z-plano x x+ c1 y y + c2 w-plano f

Figura 12: Imagem de S sob a transforma¸c˜ao w = f (z) = z + C.

2. Fun¸c˜ao Linear w = f (z) = c z, c∈ C.

Usando a f´ormula exponencial polar, z = r eiθ, c = r

1eiθ1, note que w = f (z) = r ·

(25)

z-plano w-plano f r r r · r1 θ θ θ + θ1 z w

Figura 13: Imagem de S sob a transforma¸c˜ao w = f (z) = z C.

3. Considere w = f (z) = (1+i)z +2−i de tal modo que dom´ınio de f ´e formado pelo retˆangulo de v´ertices 0, 1, 2i e 1 + 2i. Note que f (0) = 2− i; f(1) = 3; f(2i) = i; f(1 + 2i) = 1 + 2i . z-plano w-plano f 0 1 1 + 2i 2i f (2i) f (0) f (1 + 2i) f (1)

Figura 14: Imagem de S sob a transforma¸c˜ao w = f (z) = (1 + i)z + 2− i.

4. w = f (z) = i z onde o dom´ınio ´e a faixa cuja fronteira s˜ao as retas z = 0 e z = 1. Veja que i = 1 eiπ2, logo, para z = r ei θ, w = i z = r ei(θ+π/2).

5. Fun¸c˜oes zn.

(a) w = z2.

(26)

f

z-plano w-plano

0 1

Figura 15: Imagem de S sob a transforma¸c˜ao w = f (z) = i z com o dom´ınio dado.

f f 1 1 −1 1 z-plano w-plano

Figura 16: Imagem de S sob a transforma¸c˜ao w = f (z) = z2 com dom´ınios dados.

(b) w = zn. Temos que w = rn · ei n θ. Se θ = π n, ou seja, z = r e iπn, ent˜ao, zn= rnei π. (c) w = 1 z.

Recorrendo `a f´ormula exponencial polar z = r ei θ, temos que w = 1

re

−i θ

.

0.9

Fun¸

oes Trigonom´

etricas

Como vimos na se¸c˜ao anterior

eiy = cos y + i sen y e eiy= cos y

(27)

z-plano w-plano f r θ =π n z

Figura 17: Imagem de S sob a transforma¸c˜ao w = f (z) = zn com dom´ınio dado.

z-plano w-plano f r θ z −θ 1 r 1 z

Figura 18: Imagem de S sob a transforma¸c˜ao w = 1

z com dom´ınio dado. logo ´e natural definir

cos z := e iz+ e−iz 2 (13) sen z := e iz− e−iz 2i (14) tg z := sen z cos z (15) cotg z := cos z sen z, sec z := 1 cos z, cossec z := 1 sen z (16) Propriedades: 1. sen2z + cos2z = 1 .

(28)

3. sen z = sen x cosh y + i cos x senh y.

4. sen (z + 2π) = sen z e cos(z + 2π) = cos z .

5. sen (z + π) =− cos z, cos(z + π) = − sen z e tg (z + π) = tg z. 6. | sen z|2 = sen2x + senh2

y e| cos z|2 = cos2x + senh2

y.

7. sen (z1± z2) = sen z1cos z2 ± cos z1sen z2 e cos(z1± z2) = cos z1cos z2∓ sen z1sen z2.

8. sen (−z) = − sen z e cos(−z) = cos z.

9.      sen z = 0⇒ z = 0 ou z = ± nπ cos z = 0⇒ z =±(2n− 1)π 2

As fun¸c˜oes hiperb´olicas seno e cosseno, s˜ao definidas, como no caso de vari´aveis reais, pelas seguintes express˜oes: senh z = e z− e−z 2 , cosh z = ez + e−z 2 . Propriedades: 1. cosh2z− senh2 z = 1 .

2. sen z =−i senh (iz) e cos z = cosh(iz). 3. senh (−z) = − senh z e cosh(−z) = cosh z. 4. senh (z± w) = senh z cosh w ± cosh z senh w. 5. cosh(z± w) = cosh z cosh w ± senh z senh w.

0.10

A Fun¸

ao Logaritmo Natural de

z

O logaritmo de um n´umero complexo z = reiθ 6= 0, ´e definido assim:

ln z = ln r + iθ,

onde r denota o logaritmo real do n´umero r > 0. O logaritmo est´a definido para todo n´umero complexo z 6= 0, e se reduz ao logaritmo real quando θ = 0.

(29)

Na realidade, a f´ormula acima permite atribuir ao logaritmo v´arios valores distintos, depen-dendo do argumento usado para o n´umero z. Por causa disso, costuma-se dizer que o logaritmo ´e uma fun¸c˜ao multivalente. O ponto z = 0 ´e chamado ponto de ramifica¸c˜ao de ln z, justamente porque, descreve um c´ırculo centrado na origem e volta ao ponto inicial, a fun¸c˜ao ln z retorna aumentada de 2π i.

´

E claro que o valor de uma fun¸c˜ao tem de ser determinado univocamente. Para tanto, se considerarmos

ln z = ln r + iθ, −π < θ ≤ π,

teremos uma fun¸c˜ao univalente. A escolha de um valor prefixado para o argumento na defini¸c˜ao da fun¸c˜ao ln ´e chamado ramo de ln . Ent˜ao, como dizemos acima, a fun¸c˜ao ln est´a bem definida se, e somente se, o ramo da fun¸c˜ao estiver no intervalo (−π π]. Tal ramo ´e dito ramo principal de ln z, j´a que poder´ıamos admitir que arg(z) possuam valores num intervalo da forma (y0, y0+2π], y0 ∈ R.

Observa¸c˜ao 0.12. 1. Neste contexto, denotaremos

Ln z = ln r + iArg(z), Arg(z)∈, (−π, π]. (17)

2. Pode-se mostrar que com o logaritmo definido acima, a fun¸c˜ao exponencial e a fun¸c˜ao loga-ritmo s˜ao fun¸c˜oes inversas.

Propriedades: Dados z1, z2 ∈ C, temos:

1. ln(z1z2) = ln z1+ ln z2. 2. ln(z1/ z2) = ln z1− ln z2. 3. Ln zn 1 = n ln z1. 4. Ln(z1z2) = (Ln z1+ Ln z2) (mod 2 π i). 5. Ln(z1/ z2) = (Ln z1− Ln z2) (mod 2 π i). 6. Ln zn 1 = n Ln z1(mod 2π i).

Observa¸c˜ao 0.13. Podemos dar uma defini¸c˜ao ao n´umero complexo zα com z, α

∈ C. Seja z 6= 0, ent˜ao definimos zα

pela equa¸c˜ao

= eα ln z.

Observa¸c˜ao 0.14. (Compara¸c˜ao com An´alise Real)

(30)

2. ln x, x∈ R ´e uma fun¸c˜ao un´ıvoca, enquanto ln z ´e multivalente.

3. No caso complexo, ez =−2 e ln(−2) fazem sentido, o que n˜ao ocorre no caso real.

4. (zα1)α2 6= zα1α2 a menos que α

1, α2 ∈ Z.

5. |sen x|, | cos x| ≤ 1, ∀ x ∈ R, contudo, por exemplo, | cos(i)|, | sen (2 + i)| > 1.

6. Nas propriedades de fun¸c˜oes trigonom´etricas, item 6, pelo fato que as fun¸c˜ao seno hiperb´olica real ´e ilimitada, temos que as fun¸c˜oes seno e cosseno complexas s˜ao ilimitadas.

7. Diferentemente das fun¸c˜oes hiperb´olicas reais, as fun¸c˜oes hiperb´olicas complexas s˜ao peri´odicas e tˆem infinitos zeros.

0.11

Limite e Continuidade

A defini¸c˜ao de limite e continuidade que daremos agora ´e formalmente a mesma dos cursos de C´alculo.

Defini¸c˜ao 0.12. Seja z0 um ponto de acumula¸c˜ao do dom´ınio D de uma fun¸c˜ao f . Diz-se que f

tem limite L com z tendendo a z0 se dado qualquer ε > 0 existe δ > 0 tal que

z ∈ D, 0 < |z − z0| < δ ⇒ |f(z) − L| < ε > 0.

Escreve-se lim

z→ z0

f (z) = L .

(31)

Exemplo 0.6. Recorrendo `a defini¸c˜ao, mostre que a fun¸c˜ao f (z) = z + 3 i

2 ´e cont´ınua no ponto z0 = 2− i.

Exemplo 0.7. Ainda usando a defini¸c˜ao, mostre que lim

z→ 2 i(z

2+ 3 z) =

−4 + 6 i .

Observa¸c˜ao 0.15. A prova envolvendo ´epsilon–delta nos exemplos anteriores ilustra o importante fato de que, embora a teoria de limites complexos seja baseada na defini¸c˜ao (0.12), esta n˜ao fornece um m´etodo conveniente para o c´alculo de limites complexos. A seguir, o teorema 0.2 ´e uma ´

util ferramenta, n˜ao apenas no quesito computacional, mas, tamb´em estabelece uma importante conex˜ao entre o limite complexo de f (z) = u(x, y) + i v(x, y) e os limites reais de fun¸c˜oes reais das duas vari´aveis u(x, y) e v(x, y).

Teorema 0.2. Sejamf (z) = u(x, y)+i v(x, y), z0 = x0+i y0 eL = u0+i v0. Ent˜ao, lim z→ z0

f (z) = L se, e somente se,

lim

(x,y)→ (x0,y0)

u(x, y) = u0 e lim (x,y)→ (x0,y0)

v(x, y) = v0.

Exemplo 0.8. Use o teorema precedente para calcular lim

z→ 1+i(z 2

+ i) .

Teorema 0.3. (Crit´erio para a N˜ao existˆencia de um Limite) Se f se aproximar de dois n´umeros complexos L1 6= L2, ao longo de duas curvas ou percursos diferentes que passam por z0, ent˜ao

lim

z→ z0

f (z) n˜ao existe.

Exemplo 0.9. Usando o teorema anterior, mostre que lim

z→ 0

z

z n˜ao existe.

Observa¸c˜ao 0.16. De maneira an´aloga, as propriedades de limites e de continuidade (vistas a seguir) de n´umeros reais podem ser estendidas aos n´umeros complexos.

Defini¸c˜ao 0.13. Uma fun¸c˜ao complexa f ´e cont´ınua em z = z0 se

lim

z→ z0

f (z) = f (z0) .

Como no caso de fun¸c˜oes reais, para fun¸c˜oes complexas cont´ınuas tamb´em vale o seguinte crit´erio bem conhecido:

Crit´erio para Continuidade em um Ponto

Uma fun¸c˜ao complexa f ´e cont´ınua em um ponto z0 se cada uma das trˆes condi¸c˜oes forem

(32)

(i) lim

z→ z0

f (z) existe. (ii) f ´e definida em z0 e

(iii) lim

z→ z0

f (z) = f (z0).

Se uma fun¸c˜ao complexa f n˜ao for cont´ınua em um ponto z0, dizemos que f ´e descont´ınua

em z0.

Exemplo 0.10. Usando o teorema (0.2) prove que se f (z) = u(x, y) + i v(x, y) e z0 = x0+ i y0,

a fun¸c˜ao complexa f ´e cont´ınua no ponto z0 se, e somente se, as duas fun¸c˜oes reais u e v forem

cont´ınuas no ponto (x0, y0).

0.12

Fun¸

ao Anal´ıtica

A defini¸c˜ao de derivada de uma fun¸c˜ao de vari´avel complexa ´e formalmente a mesma que no caso de uma fun¸c˜ao de vari´avel real.

Defini¸c˜ao 0.14. Seja a fun¸c˜ao complexa f definida em uma vizinhan¸ca de um ponto z0. A

deri-vada de f em z0, denotada por f0(z0), ´e

lim

∆z→ 0

f (z + ∆z)− f(z)

∆z , (18)

desde que este limite exista.

Se o limite em (18) existir, a fun¸c˜ao f ´e dita diferenci´avel.

Defini¸c˜ao 0.15. Diz-se que uma fun¸c˜ao f ´e anal´ıtica numa regi˜ao D se ela ´e diferenci´avel em cada ponto de D.

Exemplo 0.11. Note que, 1. f (z) = (z + 2)(3z− 1)

2

z(z− 3)(z + i)2 ´e anal´ıtica exceto, nos pontos z = 0, 3 − i. Em tais pontos onde a

fun¸c˜ao n˜ao ´e anal´ıtica, daremos por abuso de nota¸c˜ao, o nome de singularidades.

2. Os polinˆomios f (z) = a0+ a1z + a2z2+ . . . + anzn s˜ao fun¸c˜oes anal´ıticas em todo o plano.

Neste caso, chamamos as fun¸c˜oes anal´ıticas em todo o plano de fun¸c˜oes inteira. 3. A fun¸c˜ao exp(z) ´e inteira.

(33)

Observa¸c˜ao 0.17. Todas as fun¸c˜oes com que o leitor se familiarizou em seu curso de C´alculo s˜ao anal´ıticas, quando convenientemente estendidas ao plano complexo. Assim,

• Uma fun¸c˜ao constante ´e anal´ıtica e sua derivada ´e zero.

• A fun¸c˜ao f(z) = zn, z ∈ Z ´e anal´ıtica e sua derivada ´e f0(z) = nzn−1.

• Se f e g s˜ao anal´ıticas, as fun¸c˜oes a seguir s˜ao anal´ıtcas e calcula-se com as conhecidas regras: 1. d dz(f (z) + g(z)) = f 0 (z) + g0(z) 2. d dz(f (z)· g(z)) = f 0 (z)g(z) + f (z)g0(z) 3. d dz  f (z) g(z)  = g(z)f 0(z) − f0(z)g(z) [g(z)]2 4. d dz(f (g(z))) = f 0 (g(z))g0(z) . 5. d dz(e z) = ez 6. d dz(cos z) =− sen z. 7. d dz( sen z) = cos z. 8. d dz(ln z) = 1 z.

Como na an´alise real, se uma fun¸c˜ao complexa for diferenci´avel em um ponto ´e necessariamente cont´ınua no ponto.

Teorema 0.4. Se f for diferenci´avel em um ponto z0, em um dom´ınio D, f ´e cont´ınua em z0.

Demonstra¸c˜ao: Inicialmente, observe que lim z→ z0 f (z)− f(z0) z− z0 = f0(z0) e lim z→ z0 (z− z0) = 0 .

Consequentemente, pela observa¸c˜ao (0.16), podemos escrever o seguinte limite de um produto como o produto de limites:

lim z→ z0 (f (z)− f(z0)) = lim z→ z0 f (z)− f(z0) z− z0 · (z − z 0) = lim z→ z0 f (z)− f(z0) z− z0 · limz→ z0 (z− z0) = f0(z0) · 0 = 0 . De lim z→ z0

(f (z)− f(z0)) = 0 conclu´ımos que lim z→ z0

f (z) = f (z0), isto ´e, f ´e cont´ınua em z = z0.

 Exemplo 0.12. O rec´ıproco do teorema anterior, no entanto, n˜ao ´e verdadeiro. Considere a fun¸c˜ao f (z) = x + i 4y.

(34)

1. Mostre que f ´e cont´ınua em todo o plano complexo (use o exemplo (0.10)). 2. Prove que f n˜ao ´e diferenci´avel.

Observa¸c˜ao 0.18. (Compara¸c˜ao com An´alise Real)

1. No c´alculo real, a derivada de uma fun¸c˜ao y = f (x) em um ponto x tem v´arias inter-preta¸c˜oes. Por exemplo, f0(x) ´e a inclina¸c˜ao da reta tangente ao gr´afico de f no ponto

(x, f (x)). Quando a inclina¸c˜ao ´e positiva, negativa ou nula, a fun¸c˜ao, por sua vez, est´a au-mentando, diminuindo ou, possivelmente, tem um m´aximo ou m´ınimo. Al´em disso, f0(x) ´e

a taxa de varia¸c˜ao instantˆanea def em x. Em um contexto f´ısico, esta taxa de varia¸c˜ao pode ser interpretada como velocidade de um objeto m´ovel. Nenhuma dessas interpreta¸c˜oes se aplica ao c´alculo complexo. Deste modo, vale a pergunta: “O que significa a deri-vada de uma fun¸c˜ao complexa w = f (z)?” Eis a resposta: na an´alise complexa, o interesse principal n˜ao ´e o que a derivada de uma fun¸c˜ao significa ou representa, mas sim se a fun¸c˜ao f realmente tem derivada, fato este, h´a de dizer muito sobre a fun¸c˜ao analisada. 2. Como outra consequˆencia de diferenciabilidade, a regra de L’Hˆopital para o c´alculo da forma

indeterminada 0/0 tamb´em se aplica `a an`alise complexa, isto ´e, se f e g forem fun¸c˜oes ana´ıliticas em um ponto z0 e se f (z0) = g(z0) = 0 e g0(z0)6= 0, ent˜ao,

lim z→ z0 f (z) g(z) = f0(z 0) g0(z 0) .

De modo geral, se f, g e suas n− 1 derivadas forem nulas em z0 e g(n)(z0)6= 0, ent˜ao,

lim z→ z0 f (z) g(z) = f(n)(z 0) g(n)(z 0) .

0.13

As Equa¸

oes de Cauchy-Riemann

Iniciaremos esta se¸c˜ao com um teorema que mostra que se uma fun¸c˜ao f (z) = u(x, y) + iv(x, y) for diferenci´avel em um ponto z, as fun¸c˜oes u e v devem satisfazer um par de equa¸c˜oes que relacionam suas derivadas parciais de primeira ordem.

Teorema 0.5. (Uma Condi¸c˜ao Necess´aria para Analiticidade) Suponhamos que f (z) = u(x, y) + iv(x, y) seja diferenci´avel em um ponto z = x + i y. Ent˜ao, em z as derivadas parciais de primeira ordem de u e v devem satisfazer as Equa¸c˜oes de Cauchy–Riemann

∂u ∂x = ∂v ∂y e ∂u ∂y =− ∂v ∂x. (19)

(35)

Demonstra¸c˜ao: Se f ´e anal´ıtica, ent˜ao, f0(z) = lim

∆z→ 0

f (z + ∆z)− f(z)

∆z . (20)

Escrevendo f (z) = u(x, y) + iv(x, y) e ∆ z = ∆ x + i ∆ y, (20) fica escrita como f0(z) = lim

∆z→ 0

u(x + ∆ x, y + ∆ y) + i v(x + ∆ x, y + ∆ y)− u(x, y) − iv(x, y)

∆ x + i ∆ y . (21)

Como, por hip´otese, o limite (20) existe, ∆ z pode se aproximar de zero ao longo de qualquer dire¸c˜ao conveniente. Em particular, se fizermos ∆ z → 0 ao longo de uma reta horizontal ∆ y = 0 e ∆ z = ∆ x, podemos, ent˜ao, escrever (21) como

f0(z) = lim ∆x→ 0 u(x + ∆ x, y)− u(x, y) + i[ v(x + ∆ x, y) − v(x, y) ] ∆ x = lim ∆x→ 0 u(x + ∆ x, y)− u(x, y) ∆ x + i lim∆x→ 0 v(x + ∆ x, y)− v(x, y) ∆ x . (22)

Veja que a existˆencia de f0(z) implica que cada limite em (22) existe. Esses limites s˜ao a defini¸c˜ao

das derivadas parciais de primeira ordem de u e v em rela¸c˜ao `a x, respectivamente. Portanto, mostramos duas coisas: que ∂u

∂x e ∂v

∂x existem no ponto z e que a derivada de f ´e f0(z) = ∂u

∂x + i ∂v

∂x. (23)

Agora, fa¸camos ∆ z → 0 ao longo de uma reta vertical, isto ´e, ∆ x = 0 e ∆ z = i ∆ y, (21) fica escrita como f0(z) = lim ∆y→ 0 u(x, y + ∆ y)− u(x, y) + i[ v(x, y + ∆ y) − v(x, y) ] i ∆ y = 1 i ∆y→ 0lim u(x, y + ∆ y)− u(x, y) ∆ y +i lim ∆y→ 0 v(x, y + ∆ y)− v(x, y)  i∆ y . (24)

Neste caso, (24) mostra que ∂u ∂y e ∂v ∂y existem em z e f0(z) =−i∂u ∂y + ∂v ∂y. (25)

Igualando as partes real e imagin´aria de (23) e (25), obtemos o par de equa¸c˜oes em (19).

 Exemplo 0.13. Mostre que a fun¸c˜ao complexa f (z) = 2x2 + y + i (y2 − x) n˜ao ´e anal´ıtica em

(36)

Observa¸c˜ao 0.19. A an´alise acima mostra que as equa¸c˜oes de Cauchy–Riemann s˜ao uma condi˜ao necess´aria para a existˆencia da derivada de uma fun¸c˜ao f . Mas, elas n˜ao s˜ao suficientes para garantir a existˆencia dessa derivada. Como exemplo disto, consideremos a fun¸c˜ao

f (z) =p| x y |,

onde, como de costume z = x + i y. Temos que v(x, y) = 0, portanto, vx = vy = 0.

Por outro lado, u =p| x y |, donde u(s, 0) = u(0, 0) = 0, logo, ∂ u

∂ x(0, 0) = lims→ 0

u(s, 0)− u(0, 0)

s = 0.

Analogamente, ∂ u

∂ y(0, 0) = 0. Vemos ent˜ao que as equa¸c˜oes de Cauchy–Riemann est˜ao satisfeitas no ponto z = 0.

N˜ao obstante, f n˜ao ´e diferenci´avel em z = 0. De fato, pondo ∆ z = r ei θ, obtemos:

lim ∆ z→ 0 f (∆ z)− f(0) ∆ z = p| cos θ sen θ | ei θ =  1 2 sen 2θ 1/2 e−i θ.

Fazendo ∆ z se aproximar de zero pelo eixo real, isto ´e, quando θ = 0, temos que lim

∆ z→ 0

f (∆ z)− f(0)

∆ z = 0.

Agora, tomando ∆ z se aproximar de zero quando a parte real x e a parte imagin´aria y s˜ao iguais , ou seja, se θ = π/4, resulta que lim

∆ z→ 0 f (∆ z)− f(0) ∆ z = √ 2 2 ei π/4.

Assim, pelo teorema (0.3), resulta que f0(0) n˜ao existe.

Teorema 0.6. (Condi¸c˜oes Suficientes para Diferenciabilidade) Se as fun¸c˜oes reaisu(x, y) e v(x, y) forem cont´ınuas e tiverem derivadas parciais de primeira ordem cont´ınuas em algum dom´ınio D, e s u e v satisfizerem as equa¸c˜oes de Cauchy–Riemann (19) em todos os pontos de D, ent˜ao, a fun¸c˜ao complexa f (z) = u(x, y) + i v(x, y) ´e anal´ıtica em D.

Demonstra¸c˜ao: Para a demonstra¸c˜ao desse teorema, usamos o Teorema de Taylor de fun¸c˜oes de duas vari´aveis reais. Seja a = α + i β ∈ D e s = γ + i δ ∈ C onde α, β, γ, δ ∈ R. Ent˜ao, recorrendo ao fato que as derivadas parciais s˜ao cont´ınuas, utilizando o Teorema de Taylor do curso de c´alculo temos que

u(α + γ, β + δ)− u(α, β) = ∂ u(α, β) ∂ x · γ +

∂ u(α, β)

(37)

onde 1(γ, δ) |γ| + |δ| → 0, quando γ, δ → 0. Da mesma forma, v(α + γ, β + δ)− v(α, β) = ∂ v(α, β) ∂ x · γ + ∂ v(α, β) ∂ y · δ + 2(γ, δ), (27) onde 2(γ, δ) |γ| + |δ| → 0, quando γ, δ → 0.

Pelo fato que f (a) = u(α, β) + i v(α, β), temos: ∂ f ∂ x = ∂ u ∂ x + i ∂ v ∂ x (28) ∂ f ∂ y = ∂ u ∂ y + i ∂ v ∂ y (29)

veja ao multiplicar (27) por i e somando com (26), iremos obter: f (a + s)− f(a) = ∂ f (a) ∂ x · γ + ∂ f (a) ∂ y · δ + (s), (30) onde (s) |s| → 0 quando s → 0.

Mas, com as equa¸c˜oes de Cauchy–Riemann, a nota¸c˜ao (29) fica ∂ f ∂ y = ∂ u ∂ y + i ∂ v ∂ y = ∂ v ∂ x+ i ∂ u ∂ x = i  ∂ u ∂ x + i ∂ v ∂ x  (31) = i  ∂ f ∂ x  . Deste modo, dividindo (30) por s e usando (32), temos que

f (a + s)− f(a) s = 1 s ∂ f (a) ∂ x · γ + 1 s ∂ f (a) ∂ y · δ + (s) s = =  s z }| { γ + iδ  s ∂ f (a) ∂ x + (s) s . Enfim, fazendo s→ 0 na ´ultima express˜ao, resulta que

f0(a) = lim s→ 0 f (a + s)− f(a) s = ∂ f (a) ∂ x + lims→ 0 (s) s | {z } =0 = ∂ f (a) ∂ x = ∂ u ∂ x(α, β) + i ∂ v ∂ x(α, β)

(38)

isto ´e, f0(a) existe (j´a que ∂ u

∂ x(α, β) e ∂ v

∂ x(α, β) existem) para todo a∈ D, portanto, f ´e anal´ıtica em D, pela arbitrariedade de a.

 Exemplo 0.14. Mostre que f (z) = ez ´e uma fun¸ao inteira e prove que f0(z) = ez.

Exerc´ıcio 0.1. Prove que em coordenadas polares,x = r cos θ, y = r sen , θ onde r =px2+ y2, θ =

tg−1(y/x), z = x + i y as condi¸c˜oes de Cauchy–Riemann s˜ao ∂ u ∂ r = 1 r ∂ v ∂ θ e 1 r ∂ u ∂ θ = 1 r ∂ v ∂ r .

Exemplo 0.15. Mostre que Ln z = ln r + i θ ´e uma fun¸c˜ao anal´ıtica e d

dz Ln z = 1 z .

0.14

Integra¸

ao Complexa

A teoria de integra¸c˜ao ´e um item extenso e importante da an´alise de fun¸c˜oes de uma ou diversas vari´aveis reais ou complexas. O dom´ınio de integra¸c˜ao de uma fun¸c˜ao de vari´avel real ´e um subconjunto de R. Na vari´avel complexa, o dom´ınio de integra¸c˜ao de uma fun¸c˜ao de vari´avel complexa ´e uma linha ou um dom´ınio em C, pois a varia¸c˜ao de uma vari´avel z no plano determina uma linha, um caminho, um arco ou um contorno. De modo an´alogo ao caso real, podemos definir a integral de linha complexa

ˆ

C

f (z) dz ou ˛

C

f (z) dz ´e a integral de f (z) ao longo da curva C.

Defini¸c˜ao 0.16. Uma curva, um contorno ou um caminho ´e uma fun¸c˜ao cont´ınuaγ : [a, b]→ R× R ou C. O caminho ´e diferenci´avel ou suave quandoγ ´e uma fun¸c˜ao diferenci´avel. Dizemos que a curva ´e fechada se γ(a) = γ(b).

Exemplo 0.16. Considere a fun¸c˜ao γ : [0, 1]→ R2 definida por

γ(t) =      t, 0≤ t ≤ 1 2 1− t, 1 2 ≤ t ≤ 1

No R2 podemos escrever a curva como γ(t) = (x(t), y(t)) onde x(t) = t, y(t) = t, 0 ≤ t ≤ 1 2 e x(t) = t, y(t) = 1− t,1

(39)

a em C, podemos representar a curva como γ(t) = t + i t, 0≤ t ≤ 1

2 eγ(t) = t + (1− t) i, 1 2 ≤ t ≤ 1.

Veja que a curva ´e cont´ınua, mas n˜ao ´e diferenci´avel em t = 1/2. Por´em, a curva ´e dita diferenc´ıavel (suave por partes), pois ela ´e considerada como a uni˜ao ou soma de duas curvas suaves, a saber, a curva t e 1− t.

Exemplo 0.17. Uma curva fechada, simples ´e dita curva de Jordan se toda curva fechada cujos pontos, a exce¸c˜ao das extremidades sejam todos simples.

n˜ao - simples

γ(a) = γ(b)

curva fechada

γ(a) = γ(b)

Curva de Jordan

Figura 20: Curva de Jordan na figura `a direita

Defini¸c˜ao 0.17. Seja f uma fun¸c˜ao cont´ınua e definida em um conjunto A seguir, vem a defini¸c˜ao de integral complexa.

Exemplo 0.18. Seja f uma fun¸c˜ao cont´ınua e definida num conjunto aberto A ⊂ C e que γ : [a, b] → C ´e uma curva suave por partes tal que γ([a, b]) ⊂ A. Definamos a integral de f sobre γ como o limite da soma de Riemann:

ˆ γ f (z) dz = lim n→ ∞ n−1 X i=1 ˆ ai+1 ai f (γ(t)) · γ0 (t) dt, (32)

onde a = a0 < a1 < . . . < an = b ´e a divis˜ao do intervalo [a, b] nos subintervalos (ai, ai+1).

Quando o limite existe, dizemos que f ´e integr´avel.

Tal integral pode ser ser definida e representada em termos das integrais reais, ou seja, fazendo-se

(40)

obtemos ˛ C f (z) dz = ˛ C

(u(x, y)dx− v(x, y)dy) + i ˛

C

(u(x, y)dy + v(x, y)dx), desde que existam as integrais reais do lado direito da equa¸c˜ao acima.

O caminho C pode ser aberto ou fechado, mas devemos especificar a dire¸c˜ao de integra¸c˜ao, pois uma mudan¸ca de dire¸c˜ao resulta em mudan¸ca no sinal da integral. As integrais complexas s˜ao, portanto, redut´ıveis a integrais reais curvil´ıneas e possuem as as an´alogas propriedades como no caso real.

0.15

Teorema Integral de Cauchy

As integrais de fun¸c˜oes anal´ıticas possuem algumas propriedades muito importantes. Provavel-mente a mais importante delas seja descrita pelo teorema integral de Cauchy. Para apresentar este teorema precisamos do conceito de conjunto simplesmente conexo. Um conjunto D ´e dito conexo se quaisquer dois de seus pontos podem ser unidos por uma linha totalmente pertencente a D. Um conjunto D ´e dito simplesmente conexo se qualquer curva simples fechada contida em D, pode ser deformada, sempre totalmente contida em D, at´e se tornar um ponto. A figura abaixo ilustra duas regi˜oes conexas A e B, dos quais A ´e simplesmente conexa, mas B n˜ao ´e, pois esta possui um “buraco”.

A

B

Figura 21: Exemplo de conjunto simplesmente conexo

Teorema 0.7. (Teorema Integral de Cauchy) Seja f (z) uma fun¸c˜ao anal´ıtica num dom´ınio simplesmente conexo D. Se C ´e um caminho fechado simples de D, ent˜ao

ˆ

C

(41)

Exemplo 0.19. Seja C a circunferˆencia unit´aria, centrada na origem, orientada positivamente. 1.

ˆ

C

ezdz = 0, pois f (z) = ez ´e uma fun¸ao anal´ıtica, para todo z complexo.

2. ˆ

C

1

z dz = 2π i 6= 0. Mas, isto n˜ao contradiz o teorema de Cauchy, pois f(z) = z

−1 ao ´e

anal´ıtica na origem, a qual pertence a regi˜ao R interior ao caminho C.

Teorema 0.8. Se f (z) ´e anal´ıtica em um dom´ınio simplesmente conexo D e, se F (z) for uma integral indefinida de f (z), ou seja, F0(z) = f (z), ent˜ao para todos os caminhos situados em D

que ligam dois pontos a e b em D, tˆem-se que ˆ b

a

f (z) dz = F (b)− F (a) .

Este teorema permite o c´alculo das integrais de linha de fun¸c˜oes complexas atrav´es de uma integral indefinida. Com isto, podemos chegar aos seguintes resultados, donde C ´e uma constante arbitr´aria: 1. ˆ zndz = z n+1 n + 1+ C, n6= −1 2. ˆ 1 zdz = ln z + C 3. ˆ ezdz = ez+ C 4. ˆ azdz = a z ln a+ C 5. ˆ sen z dz =− cos z + C 6. ˆ cos z dz = sen z + C 7. ˆ sec2 z dz = tg z + C

A consequˆencia mais importante do teorema de Cauchy ´e a f´ormula integral de Cauchy. Esta f´ormula ´e dada pelo teorema abaixo.

Teorema 0.9. (F´ormula Integral de Cauchy) Seja f (z) uma fun¸c˜ao anal´ıtica no interior e sobre um caminho fechado C. Se z0 ´e um ponto qualquer no interior de C, ent˜ao:

f (z0) = 1 2 π i ˆ C f (ζ) ζ− z0 dζ, (33)

onde a integra¸c˜ao ´e efetuada no sentido positivo ao longo de C.

A f´ormula integral de Cauchy, mostra que o valor de uma fun¸c˜ao anal´ıtica numa regi˜ao ´e determinado em toda a regi˜ao por seus valores na fronteira. A demonstra¸c˜ao deste teorema ´e

(42)

omitida. Devemos observar tamb´em que a f´ormula integral de Cauchy nos permite calcular uma integral de linha desde que a fun¸c˜ao a ser integrada tenha uma ´unica singularidade no interior do caminho C.

Derivadas de Todas as Ordens:

Como importante consequˆencia da f´ormula de Cauchy, enunciaremos um resultado que diz que uma fun¸c˜ao anal´ıtica possui derivadas de todas as ordens.

Teorema 0.10. Uma fun¸c˜ao anal´ıtica numa regi˜ao D possui derivadas de todas as ordens, as quais, por sua vez, s˜ao tamb´em anal´ıticas em D e

f(n)(z) = n! 2 π i ˆ C f (ζ) (ζ − z)n+1dζ,

onde n ´e um inteiro positivo qualquer.

Demonstrando-se alguns resultados por meio do uso do Teorema de Cauchy, obt´em-se o Teorema 0.11. (Teorema Fundamental da Algebra) Todo´ polinˆomio

P (z) = anzn+ an−1zn−1+ . . . + a1z + a0

de grau n ≥ 1 e coeficientes an

0

s complexos possui ao menos uma raiz.

Exemplo 0.20. Considere o polinˆomio p(x) = x2+ 1. ´E not´orio que que p n˜ao possui raiz real.

No entanto, ao considerarmos p(z) = z2 + 1, donde os coeficientes s˜ao complexos, o Teorema

Fundamental da ´Algebra nos diz que este polinˆomio possui ao menos uma raiz. Como se pode ver, tal polinˆomio possui duas ra´ızes, a saber i e −i.

Referências

Documentos relacionados

8 - Para efeitos de progressão nos vários níveis de venci- mento dos docentes, psicólogos, terapeutas da fala, terapeu- tas ocupacionais, fisioterapeutas e técnicos de serviço

A aferição de medidas das bicicletas, handbikes e triciclos, será feita em uma área delimitada e próxima ao local de entrada da rampa de largada, área na qual a bicicleta deverá

I - índices de produtividade, qualidade ou lucratividade da empresa; II - programas de metas, resultados e prazos, pactuados previamente. § 2º O instrumento de acordo

Este segundo navegador não poderá participar de outras equipes ou formar dupla com outros pilotos, caso participar sua pontuação não valerá para o CBR somente para a

- Grupo A: composto por três afirmações, que são as de números 01, 02 e 06, mostrando um índice de discordância igual ou acima de 50%.. - Grupo C: composto de duas afirmações,

Para determinar as assíntotas horizontais, vamos verificar os limites lim x--+±oo f

[r]

1) Uma garrafa de vidro tem a forma de dois cilindros sobrepostos. No interior deste triangulo existem 4 círculos de mesmo raio r. O centro de um dos círculos coincide com o