• Nenhum resultado encontrado

A atuação do conselho tutelar de Ijuí no acompanhamento de crianças e dolescentes vítimas de violência

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A atuação do conselho tutelar de Ijuí no acompanhamento de crianças e dolescentes vítimas de violência"

Copied!
95
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - UNIJUI

JANE MALDANER

A ATUAÇÃO DO CONSELHO TUTELAR DE IJUÍ NO ACOMPANHAMENTO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA

Ijuí (RS) 2014

(2)

A ATUAÇÃO DO CONSELHO TUTELAR DE IJUÍ NO ACOMPANHAMENTO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA

Monografia final do Curso de Graduação em Direito da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI, apresentado como requisito para a aprovação no componente curricular TCC.

DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: MSc. Anna Paula Bagetti Zeifert

Ijuí (RS) 2014

(3)
(4)

Dedico também aos meus dois lindos filhos, William Maldaner Montano e Rafael Maldaner Montano, amores da minha vida, que sempre, nas horas em que eu me encontrava triste por algum motivo, vinham abraçar-me e diziam: Não fica assim mãe, você vai coseguir!! William e Rafael, vocês são a razão da minha felicidade!!

Dedico também esse trabalho a professora e orientadora MSc. Anna Paula Bagetti Zeifert, que com muito carinho, apoio, dedicação e incentivo orientou-me nesta pesquisa, auxiliando e sugerindo as possibilidades para a realização da mesma, oferecendo sempre seu conhecimento e direção, servindo como exemplo.

E por ultimo, mas não menos importante, dedico esse trabalho de conclusão de curso à Luciana Bhorer, Coordenadora do Conselho Tutelar no ano de 2013, por sua atenção, paciência e disponibilidade no atendimento, possibilitando sempre que eu tivesse alguma dúvida recorrer a ela, a qual era prontamente sanada, e aos demais conselheiros.

(5)

Agradeço a Deus acima de tudo!!

Agradeço pela vida e oportunidade de trilhar esse caminho, e pelas pessoas maravilhosas que nele tive o privilégio de conhecer.

Agradeço a todos que, de uma maneira ou outra, colaboraram durante a trajetória de construção desse trabalho.

(6)
(7)

O presente trabalho estuda a violência enfrentada por crianças e adolescentes no âmbito do Município de Ijuí/RS, tendo como foco a atuação do Conselho Tutelar do referido Município, elucidando sua competência e atribuições. Também, é um trabalho que retrata a violência sofrida por crianças e adolescentes a partir de uma retomada histórica da temática. Estuda, ainda, as dificuldades encontradas pelos Conselheiros no momento que os mesmos lutam para garantir e efetivar os direitos fundamentais das crianças e adolescentes. Sabe-se, que o poder que a família tem de influenciar seus indivíduos, conferindo-lhes normas, e ditando padrões influencia muito na construção do caráter infantil. A ligação de respeito e carinho entre o pai e a mãe cria um ambiente no qual a criança busca se espelhar é para ela um ambiente perfeito, um ambiente confortável um lugar de sonhos. Porém, a família nem sempre é o centro de proteção de crianças e adolescentes, como normalmente se espera, podendo ser a origem de agressões e desequilíbrio emocional ocorrendo então o que conhecemos como violência doméstica. Quando a mesma ocorre, esse ambiente de conforto e segurança se rompe, trazendo consigo consequências graves no que se refere ao caráter e atitudes do menor. Fica o mesmo muitas vezes sem saber aonde buscar seu referencial, e não muito raramente, o busca e encontra em lugares nada aconselháveis, ou seja, sai do que deveria ser sua zona de conforto, da “proteção” do núcleo familiar e vai para as ruas, na intenção de se encontrar, se conhecer, vai para as ruas buscar o carinho que não encontra em casa. É aí, no desequilíbrio do lar que a violência acontece. Para efetiva garantia dos direitos das crianças e adolescentes, para ao menos tentar mudar esse lamentável e triste quadro de abandono, vê-se necessário uma interferência interdisciplinar. Essa interferência dá-se com a atuação do Conselho Tutelar, onde encontrasse conselheiros com capacitação técnica e científica, como também, políticas públicas por parte do Estado e Município voltados a esse fim. Para a efetivação da pesquisa, além de uma revisão bibliográfica a respeito do tema, foram feitas entrevistas com os Conselheiros tutelares do município de Ijuí/RS, buscado observar qual o procedimento adotado pelos mesmos no momento em que recebem uma denúncia e quais as medidas emergenciais tomadas.

(8)

This paper studies the violence faced by children and adolescents under the Municipality of Ijuí / RS, focusing on the role of the Guardian Council of said County, elucidating its powers and duties. Also, it is a work that portrays the violence suffered by children and adolescents from a historical resume of the subject. It also studies the difficulties encountered by the Directors at the time that they struggle to guarantee and to enforce the fundamental rights of children and adolescents. Interviews with council members were asked , which sought to observe the procedure adopted by them, when they receive a complaint , which the emergency measures taken. It is known, that the power that family has to influence their subjects , giving them norms and standards dictating much influence in the construction of children's character. Binding of respect and affection between father and mother creates an environment in which the child seeks to mirror, for it is a perfect environment , comfortable surroundings a place of dreams .But the family is not always the center of protection of children and adolescents , as usually expected , and may be the source of aggression and emotional imbalance occurring then what we know as domestic violence . When it occurs , the environment of comfort and security breaks down, bringing serious consequences with regard to the nature and attitude of the child. It is often not knowing where to seek your reference , and not very rarely , the search and finds nothing advisable places , ie , it should be out of your comfort zone , the "protection" of the nuclear family and goes to the streets , intending to meet, to know , going into the streets to seek the affection not find at home. It is there, in the imbalance of the home which violence occurs. To effectively guarantee the rights of children and adolescents, to at least try to change this unfortunate and sad situation of abandonment, seeing if necessary an interdisciplinary interference. This interference occurs with the action of the Guardian Council, where counselors met with technical and scientific training, but also public policy for the State and County geared to that end. For effective research, including a literature review on the subject, interviews with the guardianship of the municipality of Directors Ijuí / RS the emergency measures were taken, which sought to observe the procedure adopted by them at the time they receive a complaint and what taken.Keywords : children and adolescents ; tutoring assistance ; status of the child.

(9)

INTRODUÇÃO ... 09

1 ASPECTOS HISTÓRICOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE .11 1.1 Os direitos da criança e do adolescente na esfera internacional ... 11

1.2 A criança e o adolescente e os seus direitos no ordenamento jurídico pátrio...18

1.3 A criação da Instituição Conselho Tutelar sua estrutura e composição... 40

2 A ATUAÇÃO DO CONSELHO TUTELAR DO MUNICÍPIO DE IJUÍ/RS NO ACOMPANHAMENTO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA ...50

2.1 As políticas públicas desenvolvidas com intuito de resgatar a dignidade das crianças e adolescentes vítimas de violência no município de Ijuí/RS…...50

2.2 O acompanhamento dos conselheiros junto a crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social ...56

2.3 Dados quantitativos da violência contra criança e adolescentes no município...65

CONCLUSÃO...74

REFERÊNCIAS...77

ANEXO A – Autorização para realização da pesquisa... 82

ANEXO B – Entrevistas/respostas dos conselheiros tutelares... 83

APÊNDICE A – Instrumento de coleta de dados... 87

APÊNDICE B – Entrevista semi estruturada para conselheiros... 88

APÊNDICE C – Termo de consentimento livre e esclarecido... 89

APÊNDICE D – Declaração de responsabilidade dos pesquisadores responsáveis ... 91

APÊNDICE E - Termo de ciência do orientador ... 92

(10)

INTRODUÇÃO

O presente trabalho de Conclusão de Curso tem como objetivo estudar a atuação do conselho tutelar de ijuí no acompanhamento de crianças e adolescentes vítimas de violência e, ainda, identificar o perfil dos menores vítimas de violência no município de Ijuí/RS, quais os agentes causadores da violência e as políticas públicas criadas pelo município como forma de inclusão.

No primeiro capítulo, se analisará a história dos direitos da criança e do adolescente na esfera internacional e também quais os direitos da criança e o adolescente no ordenamento jurídico pátrio, fazendo uma breve comparação entre o Código de Menor e o ECA ( Estatuto da Criança e do Adolescente). Ainda, será realizado em breve relato da criação da instituição Conselho Tutelar, sua estrutura e composição.

Na sequência, a pesquisa de campo realizada no município de Ijuí/RS, através de entrevista com cinco conselheiros tutelares, tendo por objetivo conhecer o perfil dos conselheiros tutelares entrevistados, cuja legitimidade de atuação está ligada à aplicação de medidas pertinentes, conforme Estatuto da Criança e do Adolescente. Atuação essa que somente irá ocorrer quando houver falha da família, não comprimento com os deveres de educar, cometendo uma violação de direitos contra a infância e juventude; ou ainda, quando o Estado e/ou a sociedade se mostrarem omissos em suas obrigações.

Serão analisadas, também, as políticas públicas desenvolvidas no município de Ijuí/RS com o intuito de promover o processo de inclusão e de educação das crianças vítimas de violência.

(11)

Para atingir estes objetivos a pesquisa seguirá um modelo de estudo de campo, quantitativo e descritivo, tendo como base a coleta de dados e a realização de entrevistas com os conselheiros de maneira a esclarecer a atuação dos mesmos e as ações desenvolvidas para resgatar e incluir menores vítimas de violência.

Para o desenvolvimento desta pesquisa, foi solicitada a autorização junto ao Conselho Tutelar de Ijuí/RS para acessar o banco de dados da instituição. Também, foram convidados a participar do estudo os cinco conselheiros que desenvolvem atividades junto ao Conselho Tutelar de Ijuí/RS.

A partir do aceite inicial e após a aprovação do protocolo de pesquisa os conselheiros foram convidados a participar de uma entrevista mediante a assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A aplicação da entrevista e assinatura do TCLE aconteceu no próprio Conselho Tutelar de Ijuí/RS, com horários pré-agendados com os conselheiros, ou seja, no período em que os mesmos se encontram exercendo suas atividades junto ao Conselho Tutelar.

Cabe destacar, que a pesquisa foi norteada pelo que preconiza a Resolução CNS 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, portanto a identidade dos sujeitos envolvidos no estudo não será citada nos trabalhos que possam vir a ser apresentados ou artigos produzidos e publicados.

(12)

1 ASPESTOS HISTÓRICOS DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES

As crianças e os adolescentes, por si só, não podem lutar por uma sociedade mais humana, menos desigual, (não raramente humilhante). Necessitam de ajuda para alcançarem uma melhor qualidade de vida. Este trabalho inicia-se com a premissa de que a origem do progresso humano está na aceitação de que crianças e adolescentes também são sujeitos de direito. Tem-se, com o presente trabalho, a intenção de lembrar alguns direitos humanos que estão esquecidos pela sociedade local. Direitos esses que nós adultos devemos pôr em prática todos os dias.

1.1 Os direitos da criança e do adolescente na esfera internacional

A expressão direitos humanos das crianças e adolescentes parece ser tão comum algo que ocorre tão naturalmente que muitas vezes é pronunciada sem lhes darmos a devida importância. Simplesmente fala-se que a mesma tem direito, mas, não paramos para ver quais são esses direitos, e muito menos se os mesmos estão sendo respeitados e atendidos.

Cabe discutir o que são direitos humanos das crianças e adolescentes. Sabe-se que basicamente são direitos a ter uma família, direito a liberdade, direito de poder estudar, a brincar, direito ao convívio social, a uma vida digna. Os direitos humanos sempre foram o foco de muitas lutas, embora muitas vezes mascarando outros interesses, foi o objeto expresso de diferentes movimentos. E, através dessas lutas é que vamos alcançando pouco a pouco o objetivo maior que é dar as nossas crianças o seu verdadeiro reconhecimento de ser humano com Direitos.

A história da infância e adolescência no mundo variou consideravelmente ao longo dos tempos. Os significados dados a esta fase da vida foram modificando no decorrer do tempo e nas diferentes culturas. As pessoas de pouca idade eram reconhecidas como simples indivíduos, sem a devida proteção por parte do Estado e ou de seus familiares. Suas vidas não tinham valor, não eram considerados como merecedores de proteção especial. Esse grupo populacional era criado sob o domínio do medo, sendo objeto de todas as formas de negligencia, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão inimaginável.

(13)

Abordarei um pouco do tratamento dado aos pesquisados na pré-história, pois, como veremos, naquela época as crianças e adolescentes até onde se tem conhecimento, eram desconhecidos para o campo do Direito. Segundo Tavares (2001 apud ROBERTI, 2012, p. 3), [...] suas vidas não tinham valor, não eram considerados como merecedores de proteção especial. Em toda legislação antiga, observa-se estudando a história, uma preocupação constante pela obediência ao extremo, de rigor tão grande a ponto de o pai possuir o direito de amputar membros de seus filhos caso ousassem desobedecer. O que justificava toda essa crueldade era a autoridade incontestável no caráter sagrado do chefe de família. O poder paterno era absolutamente inquestionável, correspondendo a um poder de vida ou morte.

Exemplo desse direito dado aos pais é que, em Esparta as crianças nascidas com deformidade eram sacrificadas (mortas), pois alem de causarem vergonha, não seriam grandes guerreiros. Para Tavares,

[...] frente à necessidade de obter guerreiros, as crianças eram selecionadas desde cedo pelo porte físico, sendo objeto de Direito Estatal, servindo aos interesses da política preparatória na formação de seus contingentes guerreiros. Portanto, havia legitimidade no sacrifício do infante caso este fosse portador de malformações congênitas ou nascesse doente.

Observa-se que, o paganismo reinava e a criança e o adolescente eram vítimas das mais diversas e cruéis agressões, situação bastante frequente nos tempos mais antigos. Onde as crianças serviam apenas como servas patriarcal ou estatal. Por outro lado, se era o pai o causador da violência (caso estupra-se uma filha/filho), a ele só era dado o castigo de deixar sua cidade, nenhuma agressão física lhe ocorria. Percebe-se que à criança não era dado nenhum direito.

Segundo Day et al., (2003 apud BARROS, 2005, p. 70), no Oriente Antigo, o Código de Hamurábi (1728/1686 a.C.) também nos trás atrocidades cometidas contra criança e adolescente,

[...] previa também, o corte da língua do filho que ousasse dizer aos pais adotivos que eles não eram seus pais, assim como a extração dos olhos do filho adotivo que aspirasse voltar à casa dos pais biológicos (art. 193). Caso um filho batesse no pai, sua mão era decepada, (art. 195).

(14)

Observa-se que, a crueldade, o infanticídio eram práticas comuns nessa época. Bastava o “responsável” pela criança não aprovar certas atitudes da mesma, tinha todo o direito de aplicar-lhe severos castigos, não raramente mutilando-a.

Conforme Aires (1981 apud ASSIS et al., 2009, p. 20), em seu clássico livro História Social da Criança e da Família,

[...] até o final da idade média, os termos designativos de criança e adolescente eram empregados sem muito critério para meninos e meninas de diferentes idades. Não raro se via em textos da época, rapazes de 18 anos serem denominados de criança, tal o desinteresse pelos mesmos. Para o autor, a concepção de criança era misturada ao sentido de dependência e subalternidade.

Assim que a criança não dependesse mais dos cuidados de seus responsáveis, ingressava no mundo dos adultos e não havia entre eles qualquer distinção, sendo que,

A partir dos três ou quatro anos, as crianças já participavam de atividades adultas, inclusive orgias, enforcamentos públicos, trabalhos forçados nos campos ou em locais insalubres, além de serem alvos de todos os tipos de atrocidades praticados pelos adultos, não parecendo existir nenhuma diferenciação maior entre elas e os mais velhos (RAMOS, 2012, p. [?]).

Conforme nos fala Heywood (2004 apud ASSIS et al., 2009, p. 20), durante os séculos VI a VII, VIII, XIV, XVII ao XX, várias foram às denominações, e as descobertas para as fases de vida desses indivíduos. Em alguns momentos, por alguns historiadores eram considerados seres puro, inocentes, a ponto das crianças serem retratadas em pinturas, gordinhas e de bochechas rosadas como se fossem anjos. Em outros momentos, eram vistas como seres impuros, fruto do pecado, de vidas sem valor, dignas de maus tratos e ou de seres ignoradas. “Até mesmo o valor de suas vidas era relativo, [...] a morte de crianças muito pequenas não era fato inusitado ou mobilizador [...] devido ao fato de ser muito provável que morresse.” Foram séculos com essa oscilação no tratamento desses adultos em miniatura.

Na Idade Moderna começa a ocorrer uma pequena e visível distinção no tratamento às crianças em relação aos adultos. Esse foi um tempo de lutas em favor das necessidades, dos desejos, dos interesses e principalmente dos direitos fundamentais da pessoa humana. Percebe-se pela colocação do autor, que na idade moderna se começa a ter consciência desse pequeno ser, até então desamparado, invisível e marginalizado na sociedade e no convívio familiar (FONSECA, 2011, p. 3).

(15)

Nos ensinamentos de Fonseca, foi com a Convenção para Repressão do Tráfico de mulheres e crianças em Genebra no ano de 1921, e a Declaração de Genebra de 1924, que se observava pela primeira uma clara luz no fim do túnel para esses indivíduos até então invisíveis de atenção. Nota-se, a partir desse momento, a preocupação internacional em assegurar os direitos de crianças e adolescentes, como foco de discussão entre as nações.

Quando a Assembleia da Sociedade das Nações assinou a Declaração dos Direitos da Criança promulgada no ano anterior pelo Conselho da União Internacional de Proteção à Infância, o qual passou a ser conhecido por Declaração de Genebra, também foi declarada que “a criança em decorrência de sua pouca maturidade, física e mental, precisa de proteção e cuidados especiais, inclusive proteção legal, apropriada antes e depois do nascimento e que a humanidade deve à criança o melhor de seus esforços” (CHAVES, 1997, p. 33).

A Declaração dos Direitos da Criança foi proclamada pela Resolução da Assembleia Geral, em 20 de Novembro de 1959. E, tem como base e fundamento os direitos a liberdade, estudos, brincar e convívio social das crianças que devem ser respeitadas e preconizadas. A Declaração dos Direitos da Criança possui dez princípios qual seja: Toda criança é possuidora de direitos,

Princípio I - À igualdade, sem distinção de raça, religião ou nacionalidade.

A criança desfrutará de todos os direitos enunciados nesta Declaração. Estes direitos deverão ser respeitados sem qualquer tipo de ou discriminação por motivos de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de outra natureza, nacionalidade ou origem social, posição econômica, nascimento ou outra condição, seja inerente à própria criança ou à sua família.

Princípio II - Direito a especial proteção para o seu desenvolvimento físico, mental e social.

A criança gozará de proteção especial devido sua pouca idade, sua imaturidade, e disporá de oportunidade e serviços a serem estabelecidos em lei e por outros meios, de modo que possa desenvolver-se física, mental, moral, espiritual e socialmente de forma saudável e normal, assim como em condições de liberdade e dignidade, respeitando sempre seus interesses.

Princípio III – Direito a um nome e a uma nacionalidade.

Ao nascer, a criança já deve ser uma cidadã. Deve ter um nome próprio para ser reconhecida como um indivíduo de direitos.

Princípio IV – Direito à alimentação, moradia e assistência médica adequada para a criança e a mãe.

A todos os seres humanos é dado o direito de ter uma moradia, para a criança não podia ser diferente. Terá direito a crescer e desenvolver-se em boa saúde; para essa finalidade deverão ser proporcionados, tanto a ela, quanto à sua mãe, cuidados especiais, incluindo-se a alimentação pré e pós-natal. A criança terá direito a desfrutar de alimentação, moradia, lazer e serviços médicos adequados.

Princípio V – Direito à educação e a cuidados especiais para a criança física ou mentalmente deficiente.

(16)

A criança física ou mentalmente deficiente ou aquela que sofre de algum impedimento social deve receber o tratamento, a educação e os cuidados especiais que requeira o seu caso particular.

Princípio VI - Direito ao amor e à compreensão por parte dos pais e da sociedade. A criança necessita de amor e compreensão, para o desenvolvimento pleno e harmonioso de sua personalidade; sempre que possível, deverá crescer com o amparo e sob a responsabilidade de seus pais, mas, em qualquer caso, em um ambiente de afeto e segurança moral e material; salvo circunstâncias excepcionais, não se deverá separar a criança de tenra idade de sua mãe, ao contrário do acontecia nos tempos remotos. A sociedade e as autoridades públicas terão a obrigação de cuidar especialmente do menor abandonado ou daqueles que careçam de meios adequados de subsistência. Convém que se concedam subsídios governamentais, ou de outra espécie, para a manutenção dos filhos de famílias numerosas.

Princípio VII - Direito á educação gratuita e ao lazer infantil.

O interesse superior da criança deverá ser o interesse diretor daqueles que têm a responsabilidade por sua educação e orientação; tal responsabilidade incumbe, em primeira instância, a seus pais. A criança deve desfrutar plenamente de jogos e brincadeiras os quais deverão estar dirigidos para educação; a sociedade e as autoridades públicas se esforçarão para promover o exercício deste direito. A criança tem direito a receber educação escolar, a qual será gratuita e obrigatória, ao menos nas etapas elementares. Dar-se-á à criança uma educação que favoreça sua cultura geral e lhe permita - em condições de igualdade de oportunidades - desenvolver suas aptidões e sua individualidade, seu senso de responsabilidade social e moral. Chegando a ser um membro útil à sociedade.

Princípio VIII - Direito a ser socorrido em primeiro lugar, em caso de catástrofes. A criança deve, em todas as circunstâncias, figurar entre os primeiros a receber proteção e auxílio. Deve ser prioridade máxima, devido seu pouco discernimento em relação ao risco de vida.

Princípio IX - Direito a ser protegido contra o abandono e a exploração.

A criança deve ser protegida contra toda forma de abandono, crueldade e exploração, (tema deste trabalho). Não será objeto de nenhum tipo de tráfico. Deve ser tratada sem nenhum tipo de preconceito. Deve ter um lar, uma família que a acolha com segurança.

Princípio X - Direito a crescer dentro de um espírito de solidariedade, compreensão, amizade e justiça entre os povos.

A criança deve ser protegida contra as práticas que possam fomentar a discriminação racial, religiosa, ou de qualquer outra índole. Deve ser educada dentro de um espírito de compreensão, tolerância, amizade entre os povos, paz e fraternidade universais e com plena consciência de que deve consagrar suas energias e aptidões ao serviço de seus semelhantes (WIKIPÉDIA, 2014).

Percebe-se com essa declaração, que a preocupação com o bem estar das crianças estava começando a mudar. Nascia um olhar diferenciado para ela, respeitando sua dignidade, seu direito a ser vista como um cidadão, respeitando seus limites devido a pouca idade. A Declaração Universal dos Direitos da Criança é integralmente fiscalizada pela, UNICEF. Organismo unicelular da ONU, criada com o objetivo de integrar as crianças no meio social e zelar pelo seu convívio e interação social, cultural e até financeiro conforme o caso, dando-lhes condições de sobrevivência até a sua adolescência.

Nesse mesmo ano, segundo revista UNICEF, foi apresentada uma proposta pelo Governo da Polônia para que as Nações Unidas adotassem uma única Convenção sobre os

(17)

direitos da criança. Em um primeiro momento, o texto polaco não teve uma grande aceitação. Muitos criticaram não ser a linguagem do texto apropriada, e, que o texto não abordava uma série de direitos já existentes. Então, para tentar sanar o problema, a Comissão dos Direitos do Homem decidiu criar um Grupo de Trabalho de Composição Ilimitada para discutir a criação de uma Convenção sobre os Direitos da Criança onde todos os Estados membros poderiam participar e, os outros Estados membros das Nações Unidas poderiam enviar “observadores”, os quais teriam o direito de fazer intervenções.

Entre os anos de 1980 e 1987 o Grupo de Trabalho reuniu-se uma vez por ano, e em 1988 reuniu-se em duas ocasiões para finalizar o texto da Convenção, até a data do 10.º aniversário do Ano Internacional da Criança. A Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança foi finalmente adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas a 20 de Novembro de 1989. Esta data foi decretada pela ONU como Dia Universal da Criança.

A Convenção sobre os Direitos da Criança, através da Assembleia Geral das Nações Unidas em 1989, foi adotada pela Carta Magna e vale para as crianças de todo o mundo. É um documento oficial, é lei internacional, sendo um dos documentos mais aceitos na história universal. Entre muitas outras, está registrado que criança deve gozar de proteção especial e beneficiar-se de oportunidades e facilidades para desenvolver-se de maneira sadia, normal e em condições de liberdade e dignidade. Demonstra que a criança é um ser inocente, vulnerável e dependente. Também é curiosa, ativa e cheia de esperança. Seu mundo deveria ser perfeito, cheio de alegria e paz, de brincadeiras, de aprendizado e crescimento. Seu futuro deve ser de realizações e certezas. Seu desenvolvimento deve transcorrer na mediada que amplia suas perspectivas e adquire novas experiências (REVISTA UNICEF, 1991).

Em outro de muitos encontros que acabaram se sucedendo com líderes mundiais, durantes anos, todos na busca ferrenha de dar às crianças e aos adolescentes uma vida digna, ocorreu também outro encontro, agora o encontro de Cúpula Mundial Pela Criança, realizado em Nova Iorque em 1990, onde 157 países discutiram referente à preocupação quanto a Sobrevivência, a Proteção e o Desenvolvimento da Criança.

Alem de discutir a real situação das crianças e dos adolescentes, também foi realizado um balanço do 10° aniversário do Ano Internacional da Criança, onde foi possível verificar que nem todos os objetivos buscados com o Encontro de Cúpula Mundial Pela Criança foram

(18)

cumpridos, e ou alcançados. Segundo esse balanço, foi concluído que, a mortalidade infantil continuou diminuindo o que foi uma grande notícia, se por volta de 1990 morriam 15 milhões de crianças por ano, em 2000 esta cifra girava em torno dos 11 milhões, mas em alguns locais do planeta o objetivo dos 30% ainda não havia sido alcançado, sendo que em estado de miséria absoluta viviam 600 milhões de crianças no planeta. Mais de 250 milhões eram exploradas como mão de obra barata, na prostituição ou como soldados (ENGELBRECHT, 2014).

Ainda, segundo Engelbrecht, após o encontro, o relatório do UNICEF chegou a uma triste conclusão às portas do século 21, havia mais crianças na pobreza absoluta que em 1991. Constataram então que se todos os países industrializados mantivessem o que foi acertado e investissem 0,7% de seu PIB na ajuda ao desenvolvimento, a cada ano a arrecadação aumentaria em 100 bilhões de dólares, sendo mais do que o suficiente para garantir o abastecimento básico às crianças do planeta, mas não foi isso que aconteceu (internet).

Como se percebe, há anos vem ocorrendo congressos e ou reuniões, entre os povos na busca de melhores condições de vida às nossas crianças e adolescentes com o objetivo de proporcionar-lhes uma infância digna. Segundo disse o secretário - geral da ONU, Javier Perez de Cuellar na abertura do Encontro Mundial em Favor da Criança, realizado em Nova lorque, no dia 30 de setembro de 1990 promovido pela ONU, “a pobreza é o principal inimigo da criança. Fome, doença, analfabetismo e desespero são seus aliados.” E é com o objetivo de mudar esse quadro que o mundo está lutando. Percebe-se que, embora ocorressem mudanças nos últimos anos, muito ainda falta mudar, muito ainda falta fazer.

Ainda, segundo a revista que trata da Situação Mundial da Infância, em suas páginas azuis, “todos os dias, milhões de crianças sofrem os flagelos da pobreza e da crise econômica, da fome, da falta de um lar, de epidemias e do analfabetismo, da degradação do meio ambiente. Sofrem graves agressões tanto físicas quanto psicológicas.” Milhões de crianças estão impostas á vários tipos de perigo todos os dias, (desde seu acordar, e mesmo durante o se sono) que dificultam seu crescimento e seu desenvolvimento emocional. Sofrem profundamente, vítimas de todo tipo de violência e negligência (REVISTA UNICEF, 1991, p. 45).

(19)

Para Dimenstein, (1993, p. 14) “na Europa, e no resto do mundo até a pouco mais de cem anos, crianças eram tratadas como verdadeiros escravos, tanto por suas famílias quanto por pessoas fora de seu habitat”. Nos lares (se é que dá para chamar de lar), sofriam toda forma de violência, negligência e agressões. Atualmente, conforme consta no princípio II da Declaração dos Direitos Internacional, toda criança tem direito a especial proteção para o seu desenvolvimento físico, mental e social, aonde quer que esteja, deve ser sempre protegida.

Não podemos deixar de dar razão ao que falou James Grant, então atual chefe da UNICEF em um encontro mundial: “Se não somos parte da solução, então somos culpados”. O mundo precisa se unir. Somos todos responsáveis para acabar com esse sofrimento em que vivem nossas crianças e nossos adolescentes. Somos responsáveis para dar um fim, um basta, à indiferença com que viemos tratando o presente do nosso futuro: Nossos filhos! Devemos ajudar na construção de lares mais harmoniosos, cheios de carinho e respeito. Precisamos acabar com a violência doméstica.

1.2 A criança e o adolescente e os seus direitos no ordenamento jurídico pátrio

Para Assis et al. (2009, p. 22) “não podemos incorrer na ingênua ideia de evolução, isto é, na visão de que quanto mais remotas, mais atrasadas e quanto mais próximas do presente mais evoluídas são as concepções relacionadas à infância e à adolescência. Que nossas crianças e adolescentes hoje estão mais protegidas do que nos tempos passados.” Sabemos que não é bem assim, pois é só ligarmos a televisão para depararmos com atrocidades verdadeiramente inacreditáveis.

Autor de vários livros, Boff (1999, p.33) nos fala sobre a necessidade de cuidar das crianças “é preciso cuidar de nossas crianças, e esse cuidar segundo o mesmo é mais que um ato, é uma atitude que abrange mais que um momento de atenção, de zelo, e carinho.” Deve ser atitude de preocupação, e de responsabilização a fim de erradicar as inúmeras formas de violência que são reproduzidas, muitas vezes com certa banalidade, no cotidiano de muitas famílias brasileiras, de todas as classes sociais.

(20)

É preciso aceitar que a infância tal qual é entendida hoje, resulta inexistentes antes do século XVI. Obviamente, isso não significa negar a existência biológica desses indivíduos, mas sim, significa reconhecer que antes do século XVI, a consciência social não admite a existência autônoma da infância como uma categoria diferenciada do gênero humano.

Essa não existência de autonomia da infância como uma categoria diferenciada do gênero humano começa a mudar no início do século XX, com o acanhado desenvolvimento de políticas públicas sociais desenhadas pelo Estado, com objetivo de cuidar de nossas crianças com o carinho e respeito merecidos.

Já Veronese, escreve que,

Na intenção de salvar crianças abandonadas, fazia-se uma divisão em elas, sendo que, as mesmas eram divididas entre as que tinham família, e as sem família. Não raramente os hipossuficientes carentes eram entregues pelo Estado, aos cuidados da Igreja Católica através de algumas instituições, entre elas as chamadas Santas Casas de Misericórdia, também conhecidas como Rodas ou ainda Casa dos Expostos, que atuavam tanto com os doentes quanto com os órfãos e desprovidos (VERONESE, 1999, p. 15).

Também encontramos nos livros outra acanhada política, no ordenamento jurídico pátrio, onde se podiam identificar três modelos de proteção jurídico e social, voltados às crianças e adolescentes. Num primeiro momento, temos a soberania paterna associada ao Caritatismo religioso, que perdurou de 500 a 1800, Gilberto Freyre, (2005 apud ASSIS et al., 2009, p. 23) nos fala sobre a necessidade de cuidar das crianças significa um

Sistema econômico, social, político: de produção (a Monocultura Latifundiária); de trabalho (a escravidão); de transporte (o carro de boi, o banguê, a rede, o cavalo); de religião (o catolicismo de família, com capelão subordinado ao pater famílias, culto dos mortos etc.); de vida sexual e de família (o patriarcalismo polígamo); de higiene do corpo e da casa (o “tigre”, a touceira de bananeira, o banho de rio, o banho de gamela, o banho de assento, o lava pés); de política (o compadresco) (FREYRE, 2005, p. 36).

Aos pais cabia determinar o futuro de seus filhos, com quem e com que idade deveria casar (sendo que normalmente eram logo após os 12 anos), se deveriam estudar e o que deveriam estudar, obviamente, poucos tinham essa oportunidade. O Estado não via necessidade de intervir na família para garantir os direitos das crianças e adolescentes, que

(21)

muitas vezes sofriam castigos desumanos impostos por seus pais. Aos filhos, só restava à submissão, ou a fuga de casa.

O segundo modelo de proteção jurídico e social, voltados às crianças e adolescentes pobres, (com ou sem família, ou com famílias hipossuficientes, ou até crianças e adolescentes “problema”), diz respeito ao estado de bem estar social à Ação Filantrópica que durou de 1850 até a década de 1970. Nesse momento, desenvolve-se a ideia de que o Estado deve interferir no bem estar social das crianças e adolescentes como indivíduos autônomos das suas famílias, regulando a vida social da população e o relacionamento entre seus membros (ASSIS et al, 2009, p. 24).

Nesse período, há uma normatização das leis que cuidam dos interesses das crianças e adolescentes como exemplo, nos casos de adoção, no caso de morte dos responsáveis, na obrigação de matricular os filhos no colégio, quando ocorrer negligências, no caso de abuso e exploração sexual. O Estado tornou-se competente para retirar o pátrio poder dos pais se alguma coisa estava indo de encontro com os interesses de bem estar das crianças e dos adolescentes.

Num terceiro momento, temos o que foi chamado de Direitos da criança associados à Ação Emancipatória Cidadã. Esse movimento de democratização do país teve como objetivo, romper com o conceito “menor carente”; “menor abandonado” e adotar o conceito de crianças e adolescentes sujeitos de direitos e perdurou de 1970 até início dos anos de 1980 (ASSIS et al., 2009, p. 28).

O governo brasileiro, a fim de garantir que os direitos das crianças e adolescentes, fossem respeitados, montou um complexo sistema estatal e paraestatal, o chamado Pai Estado. “O judiciário passou a operar com as varas de família, e com o juizado de menores. Dessa forma, passa o Estado a normatizar o espaço social, atingindo a vida familiar no final do século XIX à XX, passando a regular o relacionamento entre seus membros.” (ASSIS et al., 2009, p. 25).

Para ter uma melhor ideia de como era o tratamento despedido às crianças e adolescentes nos tempos remotos e nos dias de hoje, será comparado, num quadro, duas leis essenciais, vigentes cada qual em sua época, o Código de Menores foi instituído pela lei 6.697

(22)

de 1979 e o Estatuto da Criança e do Adolescente/ECA de 1990, que foi instituído pela Lei 8.069/1990.

A primeira Lei Código de Menores tentava dar, já a segunda Lei, o Estatuto da Criança e do Adolescente, atualmente em vigor, dá o reconhecimento que a infância, não só a brasileira, mas a infância do mundo todo merece. Com essa segunda lei, crianças e adolescentes vislumbram uma real possibilidade de superar a tirania vivida nos anos de autoritarismo paterno, e do domínio do “Estado Pai”, com suas instituições, (lares gelados e sem amor), que mais pareciam prisões, onde as crianças e os adolescentes eram abandonados com a promessa de um dia voltarem ao convívio familiar, promessa essa dificilmente cumprida sendo não raramente enganosa e, onde o tratamento não raras vezes era à base de tirania.

Portanto, até 1979, entre muitas atrocidades cometidas contra as crianças e os adolescentes, também nasceram várias instituições chamadas de lar, de orfanato, de abrigos, que conforme os anos iam passando, percebia-se claramente, serem verdadeiros depósitos para menores, devido sua forma de administração e sua rigorosa disciplina. Foram várias as tentativas de dar ao menor uma melhor qualidade de vida. Porém, sempre obedecendo ao Código de menores, uma lei não muito justa para a idade do indivíduo que a estava recebendo. Um código para menores que mais parecia um Código Penal para adultos. Senão, vejamos o quadro:

Quadro 1 – Comparativo entre o Código de Menores de 1979 e o Estatuto da Criança e do Adolescente:

Aspecto considerado

Código de Menores (Lei n. 6697/79).

Estatuto da Criança e do

Adolescente – ECA (Lei n. 8069/90)

Base doutrinária Direito Tutelar do menor. Os menores eram objeto de medidas judiciais quando se encontravam em situação irregular, assim definida legalmente.

Proteção integral. A lei assegura direitos para todas as crianças e adolescentes sem discriminação de qualquer tipo.

Visão da criança e do adolescente

Menor em situação irregular, objeto de medidas judiciais.

Sujeito de direitos e pessoa em condição peculiar de desenvolvimento.

Concepção político-social implícita

Instrumento de controle social da infância e da adolescência vítima da omissão e transgressão da família, da

Instrumento de desenvolvimento social, voltado para o conjunto da população infanto-juvenil do país, garantindo proteção especial àquele segmento

(23)

sociedade e do Estado em seus direitos básicos.

considerado de risco social e pessoal.

Objetivo Dispor sobre a assistência a menores entre 0 e 18 anos em situação irregular, e entre 18 a 21 anos, nos casos previstos em lei, por meio da aplicação de medidas preventivas e terapêuticas.

Garantia dos direitos pessoais e sociais por meio da criação de oportunidades e facilidades, permitindo o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social em condições de liberdade e dignidade.

Efetivação em termos de política social

Medidas restringem-se ao âmbito da Política Nacional de Bem-Estar Social (Funabem e congêneres); segurança pública; justiça de menores.

Políticas sociais básicas; políticas assistenciais (em caráter supletivo); serviços de proteção e defesa das crianças e adolescentes vitimizados; proteção jurídica social.

Princípios da

política de

atendimento

Políticas sociais compensatórias assistencialismo e centralizadas.

Municipalização das ações; participação da comunidade organizada na formulação das políticas e no controle das ações. Estrutura da

política de

atendimento aos direitos da criança e do adolescente

O Código traz como retaguarda dos juízes a Funabem, as Febems e os programas comunitários. A Segurança Pública também tem papel central, além da Justiça de Menores.

Muda a concepção sistêmica de política e estabelece o conceito de rede. Cria os conselhos dos direitos, fundos dos direitos da criança e os órgãos executores das políticas básicas, incluindo entre elas os programas assistenciais.

Funcionamento da política

Traçada pela Funabem, executada pelas Febems e congêneres.

O órgão nacional traça as normas gerais e coordena a política no âmbito nacional.

Posição do

magistrado

Não exige fundamentação das decisões relativas à apreensão e ao confinamento de menores. É subjetivo.

Garante à criança e ao adolescente o direito à ampla defesa. Limita os poderes do juiz.

Mecanismos de participação

Não abre espaços à participação de outros atores que limitem os poderes da autoridade policial, judiciária e administrativa.

Instâncias colegiadas de participação (conselhos paritários, Estado-sociedade) nos níveis federal, estadual, e municipal. Vulnerabilidade

Sócio econômica

Menores carentes, abandonados e infratores devem passar pelas mãos do juiz.

Situação de risco pessoal e social propicia atendimento pelo Conselho Tutelar Caráter social Penaliza a pobreza através de

mecanismos como: cassação do poder familiar e imposição da medida de internamento a crianças e adolescentes pobres.

Falta/insuficiência de recursos deixa de ser motivo para perda ou suspensão do poder familiar.

O Conselho Tutelar desjudicionaliza os casos exclusivamente sociais.

Em relação à apreensão

É antijurídico. Preconiza (art. 99 parág. 4) a prisão cautelar, hoje inexistente para adultos.

Restringe a apreensão a: flagrante delito de infração penal; ordem expressa e fundamentada do juiz.

Direito de defesa Menor acusado de infração penal é “defendido” pelo curador de menores (promotor público).

Garante ao adolescente, autor de ato infracional, defesa técnica por profissional habilitado (advogado).

Infração Todos os casos de infração penal passam pelo juiz.

Casos de infração que não impliquem grave ameaça ou violência à pessoa podem sofrer remissão, como forma de exclusão ou suspensão do processo.

(24)

Internação provisória

Medida rotineira. Só em caso de crime cometido com grave ameaça ou violência à pessoa.

Internamento Medida aplicável a crianças e adolescentes pobres, sem tempo e condições determinados.

Só aplicável a adolescentes autores de ato infracional grave, obedecidos os princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.

Crimes/infrações ontra crianças e adolescentes

Omisso a respeito. Pune o abuso do poder familiar, das autoridades e dos responsáveis pelas crianças e adolescentes.

Fiscalização do cumprimento da lei

Não há fiscalização do Judiciário por nenhuma instância governamental ou não governamental. Órgãos do Executivo não promovem, em geral, uma política de participação e transparência.

Prevê participação ativa da comunidade e, por meio dos mecanismos de defesa e proteção dos interesses coletivos, pode levar as autoridades omissas ou transgressoras ao banco dos réus.

Fonte: Código de Menores (1927), Quadro sinóptico comparativo entre as leis 6.697/79 e 4.513/64 (Código de Menores e Política Nacional do Bem-Estar do Menor) e o projeto ECA – Projeto de Lei 1.506 (Câmara Federal/dep. Nelson Aguiar) e 193/89 (Senado Federal/sen. Ronan Tito). Quadro elaborado por Costa e reproduzido pelo Fórum Nacional DCA, com acréscimos de Pereira (1998) e Santos (1997).

O quadro mostra as mudanças ocorridas com o surgimento do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente. A expressão de um novo projeto político de nação e de País, profundamente marcado pelos quase 25 anos de ditadura militar (ASSIS et al., 2009, p.36).

Conforme se analisa, quando ocorria um problema que envolvesse um menor, o antigo código, duro, rígido em suas determinações, trazia-o para a esfera comum, igualando seus atos das crianças e dos adolescentes com os atos dos adultos, ignorando seu pequeno porte físico, sua pouca idade, sua imaturidade, comum da idade.

Percebem-se imensas mudanças do Código de Menor de 1927 para o Estatuto da Criança e do Adolescente, 1990. Inaugurava-se assim uma nova forma de ver a criança e o adolescente e que vem, ao longo dos anos, sendo assimilada e cobrada pela sociedade e pelo Estado.

Para Santos, (1996, p. 144), o ECA, “foi criado em meio ao conjunto dos movimentos sociais, para que fosse possível lutar contra a desumana, bárbara e violenta situação a que estava submetida a infância no Brasil”. Isso porque a realidade não se altera num único momento, ainda mais quando o que se propõe a uma profunda mudança cultural, o que certamente não se produz numa única geração. Para que haja mudanças, é preciso perseverança, paciência desejo e muitas lutas.

(25)

Na ânsia por mudança, com uma população indignada e mais consciente quanto à existência de um ser humano mais frágil, e necessitado de uma atenção especial, voltado a sua real faixa etária, e com objetivo de melhorar, reverter esse quadro de punição, ao quais as crianças e os adolescentes estavam sendo submetidos nas instituições, que deveria parecer-se com um lar, porém, que se encontravam muito longe disso, nos fala Assis et al (2009, p. 55).

O ECA foi elaborado com o peso de mais de um milhão de assinaturas, que não deixavam a menor sombra de dúvida quanto ao anseio da população por mudanças no Código de Menores. Mudando também a nomenclatura e a forma de dar atenção, e atendimento às Crianças e aos Adolescentes.

Já na opinião de Méndez (2994, p. 114), “o ECA nasceu devido à tradição do menor no Brasil na década de 80, e, foram os movimentos sociais, as políticas públicas e o mundo jurídico que demonstraram essa necessidade de mudança.”

Se foi o mundo jurídico, ou a população, que fez surgir o ECA, isso não tem grande importância. O que realmente importa, é que está visível a diferença no tratamento e no interesse de algumas pessoas em buscar uma melhor qualidade de vida para as crianças e os adolescentes. Esse tratamento diferenciado está se implantado no Brasil desde o ano de 1979 até os dias atuai. Destaca-se especialmente o paradigma da proteção integral, com o crescimento da noção de cidadania e de instituições com foco real, nos direitos fundamentais da criança e do adolescente, respeitando sua pouca idade e suas limitações. Para Veronese (p. 88) “[...] o Estatuto mudou radicalmente o enfoque dado pelo Código de Menores. O Estatuto protege todo o universo da criança e adolescente que passaram a serem sujeitos de direitos.”

Entre os direitos fundamentais da criança e do adolescente assegurados pela Constituição Federal de 1988 e pela ECA Estatuto da Criança e do Adolescente, estão o “direito a vida, à saúde, à liberdade, [...] entre estes, tem especial importância, o direito a convivência familiar e comunitária, que garanta à criança e adolescente, o direito a serem cuidados e educados pelos seus.” Portanto, o espaço da família deve proporcionar a eles um ambiente sadio, livres de drogas e seguro, para que se sintam protegidos e respeitados, livres de qualquer tipo de violência. (Texto extraído de um folder do CEDEDICAI – Centro de Defesa dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes).

(26)

No ECA, o jovem conhece seus direitos, principalmente o de ter um tratamento diferenciado devido ao momento que vive. Sua pouca idade passa a ser reconhecida e respeitada. O objetivo agora é conduzir, educar, readaptar e preparar o menor, respeitando sua dignidade e sua integridade física, para um convívio harmonioso em sociedade e consequentemente, no futuro um adulto saudável.

A seguir, farei uma breve comparação entre o Código do Menor e o ECA. No que cada um diferencia entre si, ou seja, como eram tratadas e vistas as crianças e os adolescentes pelo antigo código, e como é hoje com o ECA, na visão de Assis et al.(2009, p. 59).

No Código de menores, não havia o interesse de resolver, solucionar problema, interessando apenas às autoridades acabar logo com a crise, o objetivo era, abafar o caso. Já o ECA, trouxe uma nova visão da situação do menor, tratando-o de forma diferenciada, buscando dar uma solução definitiva e correta ao problema, não soluções paliativas.

No antigo código, o menor podia ser preso deixando de lado todas suas particularidades inerentes da idade. A prisão ocorria de acordo com as conveniências dos governos podendo o juiz por meio de decisões não fundamentadas determinava a apreensão e confinamento do menor, sendo que o Estado preferia prender seus jovens a gastar com sua educação. Mais uma vez o ECA traz a devida proteção ao menor, estudando o caso e, só em ultima solução é que o adolescente ( 12 a 18 anos), será privado de sua liberdade.A criança de até 11 anos que pratica ato infracional segundo o ECA, não deve ser levada à delegacia, mas ao conselho tutelar, que aplicará a medida de proteção cabível, em qualquer dos casos ambos terão todos seus direitos garantidos, respeitando suas particularidades e peculiaridades.

O Código de Menores não tinha a preocupação de resocializar o menor, sendo que no mais insignificante sinal de atrito familiar, transcrição do menor ou em casos em que a família era muito pobre, desestruturadas, onde havia violência familiar o destino das crianças e adolescentes eram as instituições, os orfanatos os lares, não raras vezes com seus familiares separados, ou seja, os irmãos eram colocados cada qual em uma instituição. Com isso os laços familiares consequentemente não se fortaleciam e no futuro, cada um seguia um rumo diferente. Para o ECA “a condição econômica infância não tem peço. A família só irá perder o direito de ter o menor sob seus cuidados se agir com violência contra a mesma.” Percebe-se com isso, que o objetivo do ECA não é separar os filhos de seus genitores, mas sim, o bem

(27)

estar do menor e a preservação da célula familiar. Como também, caso haja a real necessidade de separação dos menores de seus familiares, com a nova lei do ECA, aonde nos esclarece que “os irmãos não devem ser separados, mesmo numa adoção, deve-se fazer o impossível, para que os mesmos cresçam juntos.” Está-se pensando nessas crianças hoje, mas adultos amanhã, sendo assim, será possível manter o vínculo familiar, dando a esses indivíduos o direito de se sentirem amados e com uma família e não se sentindo abandonadas pelos seus.

O Estatuto da Criança e Adolescente, juntamente com o Conselho Tutelar ( esse nasceu junto com o ECA), buscam devolver o bem estar do menor. Percebe-se quão importante e revolucionário foi a elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente, pois nota-se com o mesmo uma concreta preocupação com o bem estar do menor, afastando de vez qualquer resquício de discriminação, respeitando as necessidades de cada idade. Tanto o ECA quanto o Estado como a sociedade em sua totalidade passaram a assumir um compromisso maior com nossa juventude.

Conforme vimos, até então, no Brasil, havia um tratamentos distinto para menores, sendo esses menores simples objetos da tutela do Estado, sob o arbítrio inquestionável da autoridade judicial. Essa política deu vazão a criação e a proliferação de grandes abrigos e internatos, onde ocorria toda a sorte de violações dos direitos humanos. Uma estrutura de uma cultura institucional perversa cuja herança ainda hoje se faz presente e que temos dificuldade em acabar completamente.

A partir da Constituição de 1988 e do Estatuto da Criança e do Adolescente, as crianças brasileiras, sem distinção de raça, classe social, ou qualquer forma de discriminação, passaram de objetos a seres sujeitos de direito, considerados em sua peculiar condição de pessoas em desenvolvimento e a quem se deve assegurar prioridade absoluta na formulação de políticas públicas e destinação privilegiada de recursos nas dotações orçamentárias das diversas instâncias político-administrativas do País.

Como é possível notar, a criação do ECA,

Regulamenta os direitos das crianças e dos adolescentes inspirada pelas diretrizes fornecidas pela Constituição Federal de 1988, internalizando uma série de normativas internacionais. Com ele, evidencia-se, a construção de novas formas de institucionalidades e o redesenho das políticas públicas sociais para as crianças e adolescentes do país. O objetivo das intervenções nesse momento, já não era mais

(28)

alterar as políticas de cunho paternalista e repressivo do Estado, mas, transforma-las em políticas públicas da construção de cidadania da criança e do adolescente, buscando diminuir, senão acabar com a violência (ASSIS et al., 2009, p. 62).

Outra mudança de grande valor com o surgimento do Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, e o fim do Código de Menores de 1979, é a nomenclatura e a proteção dispensada ás crianças e adolescentes. Enquanto aquele adota a doutrina de proteção integral, para quais todas as crianças e adolescentes são sujeitos de direito, esse foi concebido sobre as bases da doutrina de situação irregular, sendo um conjunto de regras jurídicas.

O Código de Menores refere-se a menores, e o Estatuto da Criança e do Adolescente se refere às crianças e adolescentes.

Tais leis dentro de seus contextos históricos referem-se a atores sociais diferentes. Para o Código de menores, os “menores” são abandonados e delinquentes menores de 18 anos. Para o ECA as crianças e adolescentes são todas as pessoas até 18 anos, ou seja, é considerada criança a pessoa com idade inferior a doze anos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. O menor, que era mantido, por uma doutrina de situação irregular, na condição de infrator, é transformado em criança e adolescente, por uma doutrina de proteção integral, na condição de sujeitos de direitos (REVISTA HISTEDBR, 2014).

Até esse momento, senão vejamos, antes do surgimento do ECA, crianças e adolescentes (como já vimos anteriormente) que muitas vezes nem eram órfãos ou desajustados, eram jogadas, abandonadas, em instituições como orfanatos, com outras tantas crianças, o qual deveria servir de lar. Bastasse que seus pais não dispusessem de condições financeiras para seu sustento. Eram simplesmente menores mal vistos, rejeitados pela sociedade, pelos seus familiares, filhos de pobre, a ponto de serem proibidos de brincar com as crianças da sociedade, crianças essas que tinham pai e mãe presentes.

As instituições de bem estar social, conforme observamos anteriormente, criadas para ser um lar e com isso ajudar, dar suporte na “resocialização dos menores carentes de rua”, mostravam-se muitas vezes perversas, severas, violentas, com ineficazes castigos. Não raramente, tornavam-se alvo de constantes criticas sociais, como também abandono de seus internos mediante fuga, tornando assim a resocialização desse “menor” fracassada. E, na ânsia de socializá-lo, o mesmo era literalmente caçado e devolvido para o “lar”, onde recebia os castigos dos quais achavam ser merecido. Castigos esses que muitas vezes deixavam

(29)

cicatrizes tanto físicas quanto psicológicas, nessa criança que só precisava de carinho e atenção.

Para Veronese (1997, p. 20), os maiores casos de violência, ocorrem no seio familiar,

No que tange a infância e juventude, quando se fala da violência logo a associamos ao fenômeno dos maus-tratos e da violência sexual. De fato, estas duas formas são, de certo modo, as mais visíveis. Esta violência que acontece no interior da família, no mais das vezes assinalada por um "pacto de silêncio", se apresenta como uma das maiores responsáveis pela vitimização da infância (em termos microcriminais). Estima-se que 70% dos casos de agressão contra as crianças e adolescentes ocorrem na entidade familiar. Não existem ainda no mundo, estatísticas precisas sobre maus-tratos na infância, mas o que tem chamado a atenção de pediatras, traumatologistas e psiquiatras é o fato de que as ocorrências têm se multiplicado. Estima-se que 1% a 2% da população infantil do planeta é submetida a alguma forma de agressão, sem diferença de classe social e de cultura.

Existem diversas formas de violência, tais como as guerras, conflitos étnico-religiosos, banditismo, negligência e a exploração. A violência, nas mais diferentes formas, sempre esteve presente, durante toda a constituição da sociedade brasileira. São vários os fatores que contribuíram para o seu aumento durante a história do Brasil. Entre eles, a escravidão (primeiro os índios e depois os negros), depois a colonização mercantilista, o coronelismo, as oligarquias, e ainda um Estado que tinha como característica o autoritarismo burocrático (CAMARGO, 2013).

Devido a todas essas circunstâncias, todas essas possibilidades de violência, ignorando a pouca idade, e a falta de respeito que se tinha com as crianças e com os adolescentes, os mesmos precisavam conviver com essa tal de violência, à qual frequentemente era submetida, assim também como seus familiares, principalmente suas mães.

Contemporaneamente, a violência é um dos maiores problemas enfrentados pela sociedade. Embora sempre presentes ao longo dos tempos como foi possível constatar no primeiro capítulo, só atualmente tornou-se prioridade combatê-la.

Para Assis et al., (2009, p. 216), destaca-se, que “um grande número desses indivíduos que vivem em elevado nível de pobreza e vulnerabilidade, é devido à violência estrutural à que são submetidas, violando assim seu direito básico.” Essa violência estrutural diz respeito às desigualdades sociais, a pobreza, a miséria, a várias formas de submissão que tendem a afetar as pessoas para o resto de suas vidas, e tornam essas mesmas pessoas vulneráveis e candidatas a no futuro praticar mais violências.

(30)

Para Brasil (apud CONSTANTINO, 2006, p. 163) a violência ocorre de várias formas e em todas as classes sociais, “qualquer ação ou omissão, realizada por grupos, classes, nação que ocasionam danos físicos, moral, emocionais a si próprios ou a outros, é uma violência”. Percebe-se que não é privilégio das classes menos abastadas, a convivência com a violência. Todos estão sujeitos, num momento ou outro, a depararmos com ela em qualquer classe social, muito embora, seja as famílias hipossuficientes que mais procuram ajuda em momentos de crise de violência, sendo que, a chamada classe alta, raramente recorre a um pedido de ajuda, pois os mesmos tem receio, vergonha de fazerem escândalo, de serem mal falados, mal vistos, de exporem seus problemas.

Essa cultura, pré-histórica de agir com violência contra crianças e adolescentes, tem se mostrado vergonhosa para a grande maioria das pessoas. Atualmente, devida uma consciência social que esta se desenvolvendo em torno do tema da proteção à infância e, também, a crescente mobilização em torno dos direitos humanos, não se vê mais possível ignorar essa violência no cotidiano de milhares de crianças e adolescentes.

Guerra (2001, p. 33) esclarece que é possível classificar em quatro principais tipos de violência, “violência física, violência sexual, violência psíquica e negligência”. Porem outros pesquisadores menciona outro tipo, que seria uma forma agravada da violência física: a violência fatal. No entanto nesse momento, irei conceituar apenas quatro tipos de violência, sendo elas: Violência física, violência psicológica, violência, sexual e, negligência. Essas violências ocorrem em geral dentro de casa, no âmbito familiar, quando é praticada contra a infância e seus principais agressores são mães, pais, tios, padrastos, enfim, são pessoas ligadas intimamente com as vítimas, são pessoas de sua mais inteira confiança.

Obviamente pode ocorrer em outros lugares, em outros ambientes, mas, nessa pesquisa será estuda somente a violência doméstica familiar. A violência familiar, segundo Dimenstein (1993, p. 32), “é considerada o maior motivo pelo qual crianças e adolescentes deixam suas casas e passam a viver nas ruas.” Essa violência pode ocorrer de várias formas, mas principalmente ocorre quando os direitos básico e fundamental desses indivíduos não são respeitados, pelos seus consanguíneos, como por exemplo, quando ocorrem maus tratos, agressão física, psicológico ou sexual.

(31)

A violência doméstica (tema desse trabalho), que abrange todos os tipos de violência contra os filhos ou contra a criança e o adolescente, é a mais cruel das culturas realizada pela maioria dos povos. É a que sem duvida causa mais sofrimento emocional, pois ela ocorre na maioria das vezes de forma velada, em um ambiente que deveria ser o refúgio da criança, seu porto seguro, ocorre dentro de sua própria casa, sendo praticados pelos indivíduos unidos por parentesco civil ou natural (pai, mãe, padrasto, madrasta, tia, irmão e etc.), indivíduos estes que as mesmas aprendem a confiar, novamente segundo Brum, (2013, p. 87) “A maior tragédia dessa história é que as crianças confiam nos adultos [...]”, e, o adulto, não raramente, é desmerecedor dessa mais pura confiança, fazendo com essa mesma criança, atrocidades.

Para Houaiss (2001, p. 2866), “Violência doméstica é o ato ou efeito de violentar, de empregar força física (contra alguém ou algo) ou intimidação moral contra (alguém).” É, sem dúvida, um prevalecimento perante uma pessoa mais fraca física ou mentalmente.

Segundo nos coloca Guerra (1998, p. 32),

Violência doméstica contra menores de idade […] representa todo ato ou omissão, praticados por pais, parentes ou responsáveis, contra crianças e adolescentes que, sendo capaz de causar dano físico, sexual e/ou psicológico à vítima, implica, de um lado, uma transgressão do poder/dever de proteção do adulto e, de outro, uma coisi-ficação da infância, isto é, uma negação do direito que crianças e adolescentes têm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condição peculiar de desenvolvimen-to.

Para a autora, quando os responsáveis se mostram negligentes aos cuidados de quem está sob sua proteção, menosprezando a infância, ocorre uma violência doméstica.

Para Assis et al. (2009, p. 218),

A violência física ocorre quando alguém causa ou tenta causar dano por meio de força física, de algum tipo de arma ou instrumento que possa causar lesões internas, externas ou ambas. Ocorre quando o corpo da criança/adolescente sofre as dores de uma surra, seja ela dada com as mãos do agressor, ou com uso de algum tipo de instrumento, para produzir traumas lesões, feridas, ou incapacidade em outrem.

Esse tipo de violência afeta a carne, a pele, o físico das crianças e adolescentes de todas as classes sociais, e normalmente é cometida pelas mesmas pessoas que deveriam zelar pelo seu bem estar, por alguém que as deveria amar acima de tudo.

(32)

Guerra (2001, p. 40) menciona que, “a violência física, é a que deixa marcas no corpo, embora cause muita dor física, com certeza dói menos que a violência psicológica, ou a negligência.” Quando essas duas últimas nascem no seio familiar, marcam a alma do individuo, contribuindo fortemente para uma formação negativa de seu caráter, seu desacreditar em si mesmo no futuro como ser de possibilidades.

As definições sobre violência domésticas e violências físicas, fazem-nos refletir que o campo conceitual do fenômeno aqui tratado é vasto, complexo e não pacífico. De um lado, há os que defendem que esse tipo de violência só pode ser assim encarado quando apresenta dano para a vítima, há os que incluem sob tal rubrica todos aqueles atos que causem dor física, e não apenas dano. Com certeza, só o próprio indivíduo pode falar o quão prejudicial foi às variadas formas de violência por ele sofrida.

Já, a violência sexual é toda ação na qual uma pessoa, em situação de poder, obriga outra a ceder a seus caprichos sexuais. Nem sempre é descoberta, pois tanto vítima quanto agressor tem vergonha, culpa ou medo de falar a respeito, transformando-a em um segredo que causa muita dor na alma para o resto da vida. Patrícia Calmon Rangel (2001, p, 46) segundo suas pesquisas nos trás que:

Ao manter o segredo e se adaptar à situação, a criança passa a sentir-se cúmplice do seu agressor. O sentimento de culpa que deriva do fato de ter sido participante no abuso explica a baixa autoestima e os males que daí advém para a vida adulta, quando pode se tornar vítima eterna daquele abuso sofrido na infância.

O segredo, o calar, como característica específica do abuso sexual, marca a diferença entre ele a as outras formas de violência na infância e talvez ajude a explicar suas consequências tão danosas.

Para Assis et al. (2009, p. 219),

Violência sexual diz respeito ao ato ou jogo sexual, ocorre nas relações homossexuais ou heterossexuais, onde o adulto incentiva a criança e ou adolescente a obter excitação sexual ou práticas eróticas, pornografia, e sexuais, imposta por meio de aliciamento, violência física ou ameaças.

(33)

Essa violência muitas vezes ocorre na própria casa da criança e ou do adolescente, e o aliciador, não raras vezes, é seu próprio pai, seu irmão, seu tio, enfim, é uma pessoa que tem a confiança desse menor.

A autora Carla Faiman, (2004, p.102) por sua vez, acrescenta:

Abuso sexual é todo relacionamento interpessoal no qual a sexualidade é veiculada sem o consentimento válido de uma das pessoas envolvidas. Quando se verifica a presença de violência física, o reconhecimento do abuso pode ser mais claro, pela objetividade dos fatos que indicam que o abusador fez uso de força para vencer a resistência imposta pela vítima.

Esse abuso, diz respeito ao aliciamento que muitas vezes acometem crianças e adolescentes. Ocorrem muitas vezes com colegas, vizinhos, e profissionais com quem a criança convive diariamente.

Segundo literatura médica, Furniss (1993, p. 10).

[…] abuso sexual consiste no uso de uma criança para fins de gratificação sexual de um adulto ou adolescente cinco anos mais velho, criança imatura em seu desenvolvimento e incapaz de compreender o que se passa, a ponto de poder dar o seu consentimento informado. O consentimento informado está vinculado à capacidade ou à incapacidade do indivíduo para tomar decisões de forma voluntária, correspondendo – direta ou indiretamente - ao grau de desenvolvimento psicológico e moral da pessoa. A autonomia ocorre quando o indivíduo reconhece as regras, que são mutuamente consentidas, as respeita e tem a noção de que podem ser alteradas.

Abuso sexual e violência sexual são sinônimos, combinam entre si, mas conforme estamos vendo, não combinam com criança e adolescentes. Um acriança não deveria nunca ser usada para nada, e o seu consentimento para participar de uma relação sexual inexiste, uma vez que a mesma não tem discernimento suficiente para saber do que se trata essa relação, ocorrendo aí o abuso ou a exploração.

Violência psicológica é uma violência que não trás dor fisicamente. “É incutida na mente do indivíduo em forma de medo, terror ou chantagem em relação a certas situações que nem sempre são verdadeiras.” Essa violência quando incutida nas crianças/adolescentes, pode mudar totalmente sua personalidade, destruindo sua autoestima dificultando até mesmo sua socialização, seu aprendizado. A violência psicológica inclui toda ação ou omissão que causa ou visa a causar dano à autoestima, à identidade ou ao desenvolvimento da pessoa (ASSIS et al., 2009, p. 219).

Referências

Documentos relacionados

Costa (2001) aduz que o Balanced Scorecard pode ser sumariado como um relatório único, contendo medidas de desempenho financeiro e não- financeiro nas quatro perspectivas de

Os interessados em adquirir quaisquer dos animais inscritos nos páreos de claiming deverão comparecer à sala da Diretoria Geral de Turfe, localizada no 4º andar da Arquibancada

2.1. Disposições em matéria de acompanhamento e prestação de informações Especificar a periodicidade e as condições. A presente decisão será aplicada pela Comissão e

Quando contratados, conforme valores dispostos no Anexo I, converter dados para uso pelos aplicativos, instalar os aplicativos objeto deste contrato, treinar os servidores

Aos sete dias do mês de janeiro do ano 2002, o Perito Dr. OSCAR LUIZ DE LIMA E CIRNE NETO, designado pelo MM Juiz de Direito da x.ª Vara Cível da Comarca do São Gonçalo, para proceder

•   O  material  a  seguir  consiste  de  adaptações  e  extensões  dos  originais  gentilmente  cedidos  pelo 

5 “A Teoria Pura do Direito é uma teoria do Direito positivo – do Direito positivo em geral, não de uma ordem jurídica especial” (KELSEN, Teoria pura do direito, p..

Ficou com a impressão de estar na presença de um compositor ( Clique aqui para introduzir texto. ), de um guitarrista ( Clique aqui para introduzir texto. ), de um director