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A extradição no ordenamento jurídico brasileiro

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Academic year: 2021

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GRANDE DO SUL

BERNARDO LUIS DE ARAÚJO

A EXTRADIÇÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Três Passos (RS) 2018

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A EXTRADIÇÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: MSc. Marcelo Loeblein dos Santos

Três Passos (RS) 2018

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Dedico este trabalho à minha família, pelo incentivo, apoio e confiança em mim depositados durante toda a minha jornada.

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À minha família, que sempre esteve presente e me incentivou com apoio e confiança nas batalhas da vida e com quem aprendi que os desafios são as molas propulsoras para a evolução e o desenvolvimento.

Ao meu orientador Marcelo Loeblein dos Santos, com quem eu tive o privilégio de conviver e contar com sua dedicação e disponibilidade, me guiando pelos caminhos do conhecimento.

Aos meus colegas de faculdade, com quem tive o privilégio de conviver durante os cinco anos de curso, que me auxiliaram sempre que precisei, com boa vontade e generosidade, enriquecendo o meu aprendizado.

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“O direito deve ser um ativo promotor de mudança social tanto no domínio material como no da cultura e das mentalidades.” Boaventura de Sousa Santos.

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O presente trabalho de conclusão de curso faz uma abordagem sobre a extradição no ordenamento jurídico brasileiro, como forma de cooperação internacional entre Estados e suas peculiaridades. Para o desenvolvimento da pesquisa foi utilizado o método de abordagem hipotético-dedutivo. Sendo que o objetivo do estudo é buscar um melhor entendimento dessa temática, tendo como foco principal os aspectos gerais da extradição e como funciona o processo de extradição no Brasil. Utilizando-se de pesquisas bibliográficas nos meios físicos e virtuais, na rede mundial de computadores – internet, apresenta-se um estudo sobre o instituto e seu procedimento no sistema jurídico brasileiro, desde sua evolução histórica até a análise do polêmico caso de Cesare Battisti.

Palavras-Chave: Extradição. Ordenamento jurídico brasileiro. Cooperação. Supremo Tribunal Federal. Tratado de Extradição.

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The present work of conclusion of course makes an approach on the extradition in the Brazilian legal order, as a form of international cooperation between States and their peculiarities. For the development of the research the hypothetical-deductive approach was used. The purpose of the study is to seek a better understanding of this issue, focusing on the general aspects of extradition and how the extradition process works in Brazil. Using bibliographical research in the physical and virtual media, in the world-wide computer network - internet, a study is presented on the institute and its procedure in the Brazilian legal system, from its historical evolution to the analysis of the controversial case of Cesare Battisti.

Keywords: Extradition. Brazilian legal system. Cooperation. Federal Court of Justice. Treaty of Extradition.

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INTRODUÇÃO ... 8

1 ASPECTOS GERAIS DA EXTRADIÇÃO ... 10

1.1 Resgate histórico da extradição ... 10

1.2 Conceitos e princípios da extradição ... 12

1.3 Diferenças entre expulsão, deportação e a extradição como uma medida de cooperação internacional ... 14

1.4 Espécies de extradição ... 17

2 PROCESSO EXTRADICIONAL NO BRASIL ... 22

2.1 O papel do Ministério da Justiça e do Supremo Tribunal Federal ... 22

2.2 A prisão do extraditando e a competência da extradição ... 27

2.3 Requisitos para a entrega do extraditando ... 31

2.4 Estudo de caso concreto (Cesare Battisti) ... 34

CONCLUSÃO ... 37

REFERÊNCIAS ... 40

ANEXO I – PARECER DO PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA ANTONIO FERNANDO DE SOUZA... 43

ANEXO II – DECISÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA CONCEDENDO O ASILO POLÍTICO A CESARE BATTISTI ... 48

ANEXO III – TRATADO DE EXTRADIÇÃO ENTRE A REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL E A REPÚBLICA ITALIANA ... 50

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INTRODUÇÃO

O instituto da extradição é uma das principais e mais antigas formas de cooperação internacional, entretanto as relações entre Estados mudaram com o passar do tempo. Cabe, nesse momento, entender a Extradição a partir da relação entre o Brasil e demais Estados da Sociedade Internacional.

A extradição existe entre os países basicamente para que uma pessoa que cometeu um determinado crime não venha a ficar livre, impune sem sofrer as devidas consequências pelo ato cometido. A mesma se fundamenta na existência de um Tratado de Extradição entre o Brasil e o país requerente, ou, inexistindo este documento, na promessa de reciprocidade entre os Estados federados envolvidos.

Diante dessa temática o problema central da pesquisa é no que consiste e qual é o principal objetivo do instituto da extradição? Também, saber quais são os requisitos legais para que o Brasil conceda a extradição a outro Estado? e quando concedida a extradição, quais são os compromissos que o Estado solicitante deverá assumir com o Brasil?

Para o desenvolvimento deste estudo será utilizado o método de abordagem hipotético-dedutivo, que consiste em coleta de dados em fontes bibliográficas, disponíveis em meios físicos e na rede de computadores.

A pesquisa visa o estudo da extradição no ordenamento jurídico brasileiro, tendo como foco principal os aspectos gerais da extradição e como funciona o processo de extradição no Brasil. Verificando-se as formas de extradição, as

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hipóteses permitidas pela legislação nacional, abordando-se os requisitos para a entrega do extraditando e da competência do estado requerente com o Brasil.

No primeiro capítulo, será feito um resgate histórico da extradição, posteriormente, o conceito e os princípios que regem este instituto. Ainda, serão abordadas as diferenças entre a repatriação, expulsão, deportação e a extradição como medida de cooperação internacional, percebendo que apenas o instituto em estudo é que se trata de medida de cooperação, para atender interesse de outro Estado federativo, enquanto a expulsão e a deportação atendem interesse do Estado federativo brasileiro.

Enfim, estudar-se-á no primeiro capítulo, as espécies de extradição, compreendendo a ativa, a passiva, a voluntária, a extradição simplificada, e a extradição temporária quando o Estado requerente assume a responsabilidade de devolver a pessoa após a realização de determinado ato processual.

No segundo capítulo, será abordado especificamente o processo extradicional no ordenamento jurídico brasileiro, embasado pela Lei de Migração, sob o nº. 13.445, de 24 de maio de 2017, e com forma procedimental regida pelo Manual de Extradição emitido pela Secretaria Nacional de Justiça, vinculada ao Ministério da Justiça.

Nesta fase a abordagem apresenta a atuação do Ministério da Justiça e do papel do Supremo Tribunal Federal no processo extradicional. Ainda é enfocado acerca da prisão do extraditando e a competência da extradição.

Por fim, será feita uma sucinta análise do caso concreto de extradição, entre Brasil e Itália, que envolve o ativista Cesare Battisti, bem como, demonstrados atos do Supremo Tribunal Federal que contrariam as regras de extradição, tanto no ordenamento jurídico brasileiro, quanto o disposto no Tratado de Extradição vigente entre os dois países.

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1 ASPECTOS GERAIS DA EXTRADIÇÃO

A extradição desde que começou a ser realizada é considerada como título de cooperação internacional, se concretizando com o envio de uma pessoa a outro país para que nesse ela possa ser processada ou cumpra pena, não ficando impune por ato que tenha cometido. A extradição só ocorre porque após o fato ocorrido a pessoa vai a outro país buscando refúgio para tentar se livrar das penas.

O instituto da extradição é aquele em que o Estado devolve ou não, por meio de um tratado entre governos, o indivíduo que tenha cometido algum crime em outro país e tem como objetivo evitar que o acusado venha a ficar impune, sem sofrer as devidas consequências dos delitos praticados.

Doutrina Carlos Roberto Husek (2003, p. 86):

Extradição – É a entrega de um indivíduo de um Estado a outro, a pedido deste, para responder a processo penal ou cumprir pena. Nesse caso, envolve o Poder Judiciário. Normalmente, a extradição tem por fundamento um tratado entre os países envolvidos ou o princípio de reciprocidade. (HUSEK, 2003, p. 86).

Para que o Brasil conceda a extradição, primeiramente é preciso que haja um tratado recíproco de extradição, para depois serem analisados os requisitos e se o criminoso será ou não extraditado. Depois de analisado o caso, para a extradição ocorrer, o crime que tenha sido cometido no país requerente também deverá ser considerado crime no Brasil, o crime não deve estar prescrito, ainda, o extraditando não pode ser um brasileiro nato, e a condenação não deve ultrapassar o limite para a pena máxima que é aplicada no Brasil.

1.1 RESGATE HISTÓRICO DA EXTRADIÇÃO

A extradição foi impulsionada, na antiguidade, pela punição os presos políticos, olvidando-se dos criminosos comuns e possui alicerce no dever moral de mútua assistência entre Estados para entregar os criminosos ao seu juiz natural para serem julgados ou para o cumprimento da pena imputada.

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Conforme Florisbal de Souza Del´ Olmo (2010, p. 94), conhecida desde a Antiguidade, a extradição visava, nos seus primórdios, aos presos políticos e não aos criminosos comuns, sendo o Tratado de Paz de Amiens, entre França, Inglaterra e Espanha, de 1802, que deu a extradição seu rumo quase definitivo. Desde então, posteriormente a esse Tratado, foi que a extradição começou a ocorrer em diversos casos.

A evolução histórica da extradição foi dividida em três períodos distintos: o primeiro abrangendo a antiguidade, a idade Média e uma parte dos tempos modernos; o segundo, compreendendo todo o século XVIII e a primeira metade do século XIX; o terceiro, com início na segunda metade do século XIX, chegando aos dias atuais. (SGOBI, Flávia Lias, 2004, p. 11-12).

Há autores que citam que a extradição foi instituída antes de Cristo (a.C), contudo, tornou-se conhecido com “o tratado de paz, celebrado no Egito, entre Ramsés II e Hattisuli, rei dos Hititas, no século XIV a.C. Este documento diplomático, alusivo à consagração da extradição, é tido como o mais antigo da humanidade.”. (CARNEIRO, Camila Tagliani, 2002, p. 23).

Para alguns doutrinadores, é na Idade Moderna que a extradição nasce como instituto jurídico, isto é, apenas no século XVIII, com o tratado firmado entre a França e os Países Baixos, prevendo a entrega de criminosos e enumerando os crimes por estes cometidos. (CARNEIRO, 2002, p. 23).

A Constituição Francesa em 1973, foi a primeira que reconheceu o direito ao asilo à um criminoso, tornando essas características definitivas a partir do século XIX.

No Brasil, os primeiros indícios da extradição se deram a partir do Decreto Régio de 02 de dezembro de 1820, onde foi expedido pelo rei D. João VI, o direito de expulsar pessoas que não apresentassem passaportes ao entrar e sair do Brasil.

Ensina Carneiro (2002, p. 29) que somente a partir de 1906 o Poder Judiciário passou a questionar a competência do Poder Executivo na concessão dos pedidos extradicionais, quando não baseados em tratados internacionais, apenas em acordos de reciprocidade.

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A primeira lei no Brasil que trouxe algo sobre a extradição foi a Lei nº 2.416 de 28 de junho de 1911, que traz:

Art. 1º E' permitida a extradição de nacionaes e estrangeiros:

§ 1º A extradição de nacionaes será concedida quando, por lei ou tratado, o paiz requerente assegurar ao Brazil a reciprocidade de tratamento.

§ 2º A falta de reciprocidade não impedirá a extradição no caso de naturalização posterior ao facto que determinar o pedido do paiz onde a infracção for commettida. (BRASIL, Lei nº. 2.416, de 28 de junho de 1911).

A maioria das doutrinas aprova a extradição e defendem a sua legitimidade, pois os estados devem manter entre si a cooperação indispensável, manifestando-se inclusive no combate ao crime, evitando que o delinquente encontre, fora do alcance da justiça do país cuja lei violou, a impunidade. Alguns doutrinadores consideram a extradição como o mais eficaz dos institutos de cooperação internacional contra o crime.

Até 2002, o Brasil possuía tratado internacional de extradição com dezessete países, conforme dados apurados junto à Chefia do Ministério da Justiça (CARNEIRO, 2002, p. 32).

No mundo moderno, com a criminalidade crescendo de forma avassaladora, os países vislumbram na extradição, não apenas a possibilidade de julgar ou punir um foragido para outro Estado federativo, mas a cooperação entre os Estados, o que gera uma sensação de paz mundial.

1.2 CONCEITOS E PRINCÍPIOS DA EXTRADIÇÃO

A extradição ocorre que alguém a tentar se safar de uma provável punição, foge buscando amparo em outro país, tentando não pagar na forma da lei pelo que tenha cometido, e com isso, o local de onde tenha praticado a desordem vem requer a entrega do mesmo, pagar pelo ato que tenha feito. Isso então, se chama de extradição.

A extradição não é recente como instrumento para a cooperação jurídica internacional. A internacionalização das finanças, a intensificação do trânsito de pessoas e bens, o aprofundamento da interdependência entre

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países, a redefinição de fronteiras, o desenvolvimento em geral, enfim, o contexto mundial no início do século XXI trouxe grandes conquistas para humanidade, mas com isso grandes desafios. A expansão do crime transnacional é um deles. (TUMA Júnior, Romeu, 2008, p. 1).

Ensina Florisbal de Souza Del’Olmo (2010, p. 94) que “o instituto da extradição visa repelir o crime, sendo aceito pela maioria dos Estados, como uma manifestação da solidariedade e da paz social entre os povos.”.

Entendemos a extradição como o processo pelo qual um Estado entrega, mediante solicitação o Estado interessado, pessoa condenada ou indiciada, nesse país requerente, cuja legislação é competente para julgá-la pelo crime que lhe é imputado. Destina-se a julgar autores de ilícitos penais, não sendo, em tese, admitida para processos de natureza puramente administrativa, civil ou fiscal. (DEL’ OLMO, 2010, p. 94).

A extradição dá-se pela entrega de estrangeiro ao seu território de origem por ele ser acusado da prática de um determinado crime ou ainda ter sido condenado pela prática do crime, existindo um pedido de outro estado para naquele território ser julgado e lá cumprir pena. A extradição é vedada ao brasileiro nato, no entanto ela é excepcionalmente permitida ao brasileiro que é naturalizado se ouve a prática do delito antes da naturalização ou envolvimento em crime de tráfico de drogas.

A extradição deve destinar-se, em tese, a crimes graves. Alguns autores defendem que constem nos tratados a relação dos delitos passíveis de extradição, ou que se delimite a pena mínima de tais crimes, como é o caso da pena de morte, que residindo em país que não admite essa pena, pode dificultar a extradição, que costuma ser concedida mediante compromisso do Estado solicitante de não aplicar uma pena tão severa.

A concessão extradicional possui dois princípios norteadores, que devem ser observados e estritamente respeitados quando da análise da legalidade do pedido de extradição, sendo eles: princípio da especialidade e princípio da dupla incriminação.

A extradição obedece a dois requisitos – o da especialidade, o indivíduo não pode ser julgado ou castigado por um delito diverso do que ensejou o pedido – e o da identidade ou da dupla incriminação – não se concederá a extradição quando no Estado requerido não se considerar crime o fato que alicerçou a solicitação [...] não obstante o extraditando possa ser entregue

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ainda que responda a processo ou esteja condenado por contravenção [...]. (ARAÚJO, Luis Ivani de Amorim, 2002, P. 94).

O princípio da especialidade diz respeito à condenação do extraditando não ultrapassar a do delito que ensejou o pedido, ou seja, somente poderá ser julgado ou punido pelo crime que fundamentou o pedido extradicional. Já o princípio da dupla incriminação visa que o delito pelo qual o indivíduo está sendo requisitado seja tipificado como crime, tanto no país requerente, quanto no país requerido.

A observância de ambos os princípios pelo país requerente possibilita a concessão do pedido de extradição, desde que cumpridas as demais formalidades, preenchidos os requisitos de admissibilidade e legalidade

1.3 DIFERENÇAS ENTRE EXPULSÃO, DEPOSTAÇÃO E A EXTRADIÇÃO COMO UMA MEDIDA DE COOPERAÇÃO INTERNACIONAL

Além do instituto da extradição, temos a expulsão e a deportação que não devem ser confundidas com a extradição, mesmo sendo semelhantes uma da outra. A expulsão consiste num ato pelo qual o estrangeiro, com entrada ou permanência regular no Brasil, é obrigado deixar o País.

Isso ocorre quando ele atenta contra a segurança nacional, a ordem pública ou social, e a todos os atos que sejam contrariados aos interesses da nação. A expulsão seria uma medida político-administrativa, mas, para que ela ocorra, o acusado deve ser condenado. O ato de expulsão deve partir do Presidente da República por meio de um decreto.

Aqui também se cuida de exclusão do estrangeiro por iniciativa das autoridades locais, e sem destino determinado – embora só o Estado patrial do expulso tenha o dever de recebê-lo quando indesejado alhures. seus pressupostos são mais graves, e sua consequência é a impossibilidade – em princípio – de retorno do expulso ao país (REZEK, 2002, p. 187-188).

Na expulsão tem-se a entrega do estrangeiro em face de uma conduta tentatoria aos interesses nacionais. Essa conduta pode se configurar como a prática de um crime no país, e com isso, poderá ser expulso, não sendo somente a prática de algum crime que pode configurar a expulsão. A expulsão não será possível a

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estrangeiro se ele for casado com brasileira a mais de cinco anos ou possuir filhos sobre sua guarda ou dependência. Se o estrangeiro não estiver casado, mas sim uma união estável com uma brasileira a mais de cinco anos, que no caso já configuraria uma união estável, ele nesse caso poderá sim ser expulso do país, pois existe um entendimento na norma jurídica brasileira onde ela é clara no sentido em exigir o casamento, não mencionando a união estável e não sendo possível em face dos interesses nacionais estender uma opção a outra.

Conforme o art. 54, da Lei de Migração trata do instituto da expulsão:

Art. 54. A expulsão consiste em medida administrativa de retirada compulsória de migrante ou visitante do território nacional, conjugada com o impedimento de reingresso por prazo determinado.

§ 1o Poderá dar causa à expulsão a condenação com sentença transitada

em julgado relativa à prática de:

I - crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo Decreto no 4.388, de 25 de

setembro de 2002; ou

II - crime comum doloso passível de pena privativa de liberdade, consideradas a gravidade e as possibilidades de ressocialização em território nacional.

§ 2o Caberá à autoridade competente resolver sobre a expulsão, a duração

do impedimento de reingresso e a suspensão ou a revogação dos efeitos da expulsão, observado o disposto nesta Lei.

§ 3o O processamento da expulsão em caso de crime comum não

prejudicará a progressão de regime, o cumprimento da pena, a suspensão condicional do processo, a comutação da pena ou a concessão de pena alternativa, de indulto coletivo ou individual, de anistia ou de quaisquer benefícios concedidos em igualdade de condições ao nacional brasileiro. § 4o O prazo de vigência da medida de impedimento vinculada aos efeitos

da expulsão será proporcional ao prazo total da pena aplicada e nunca será superior ao dobro de seu tempo. (BRASIL, Lei nº. 13.455, de 24 de maio de 2017).

Também, segundo o artigo 55 da Lei nº 13.445/2017, não será expulso o estrangeiro quando tal ato implicar em extradição inadmitida pela lei brasileira, ou seja, caso de crimes políticos, quando ele tiver cônjuge brasileiro ou filho brasileiro que dependa de sua economia. Uma vez cessadas tais situações, poderá proceder-se à expulsão.

Outra questão relevante que diz respeito sobre a expulsão, é sobre o filho brasileiro sob guarda ou dependência de estrangeiro. Se for filho adotivo o tratamento deve ser idêntico, não existindo diferenças entre o filho adotivo e

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biológico, desse modo se o estrangeiro possuir filho brasileiro sob sua guarda e ele for adotivo, não existe qualquer problema, pois o tratamento entre ambos deve ser idêntico.

Deve-se ficar ciente sobre os pedidos de extradição, deportação ou expulsão. A extradição se dá por um pedido de outro estado, que faz o pedido para entrega do refugiado para que naquele território seja julgado ou cumpra pena. Na deportação e na expulsão, a iniciativa é do próprio estado, não é outro estado que precisa solicitar. Tanto na extradição quando na deportação, poderá o estrangeiro retornar ao território nacional, e no caso de expulsão o estrangeiro jamais poderá retornar ao território nacional, existindo apenas uma exceção de ação rescisória, más é dificilmente e praticamente impossível o estrangeiro voltar ao território que o expulsou.

Embora concebida para aplicar-se em circunstâncias mais ásperas, e mediante um ritual mais apurado, a expulsão se assemelha à deportação na ampla faixa discricionária que os dois institutos concedem ao governo. (REZEK, 2002, p. 188)

Já a deportação, trata do processo de devolução de estrangeiro com permanência irregular no Brasil, ele deverá retornar compulsoriamente para o seu Estado ou para aquele de onde proveio. A Polícia Federal é quem faz esse processo, dando a possibilidade de o estrangeiro sair por conta própria, e, não havendo isso, a autoridade o encaminhará para o seu Estado de origem.

A deportação é uma forma de exclusão, do território nacional, daquele estrangeiro que aqui se encontre após uma entrada irregular – geralmente clandestina -, ou cuja estada tenha se tornado irregular – quase sempre por excesso de prazo, ou por exercício de trabalho remunerado, no caso do turista. Cuida-se de exclusão por iniciativa das autoridades locais, sem envolvimento da cúpula do governo: [...]. (REZEK, 2002, p. 187).

Conforme consta no art. 50 da Lei de Migração, nos casos de entrada ou estada irregular de estrangeiro, se este não se retirar voluntariamente do território nacional no prazo fixado em Regulamento, será promovida sua deportação. A mesma norma jurídica prescreve os preceitos a serem seguidos no processo de deportação, sendo de oito dias o prazo concedido ao estrangeiro para sua saída do País. No caso de ingresso irregular, esse prazo é de três dias, improrrogáveis.

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A lei também permite o reingresso do estrangeiro que foi deportado, bastando o pagamento de despesas e multas emergentes de sua deportação. Contudo, isso só ocorrerá se e quando o estrangeiro preencher os requisitos para sua entrada regular no Brasil.

De acordo com Hildebrando Accioly, Geraldo Eulálio do Nascimento e Silva e Paulo Borba Casella (2009) na deportação o estrangeiro penetra no país de forma irregular, ou a sua permanência se torna irregular pelo vencimento do prazo de seu visto. Na expulsão, o estrangeiro tem permanência regular, mas esta se torna inconveniente ao país anfitrião, por crime ou atitude cometida por ele.

Na deportação, existem várias formas de um estrangeiro ser deportado, mesmo ele tendo ingressado regularmente no país, como por exemplo, se o mesmo estiver no país legalmente com um visto de turista e acabou permanecendo por mais tempo do que aquele permitido pela legislação interna, ou seja, ingressou regularmente e posteriormente se tornou irregular no território. Também, o estrangeiro que ingressar com visto para o trabalho, se ele for demitido ele deverá retornar ao estado de origem sob pena de deportação, pois o mesmo também se encontrava regular e acaba ficando irregular.

Também, conforme o art. 49 da Lei de Migração, a repatriação seria um caso em que um brasileiro (a) que tenha sido levado ao exterior e que em determinado momento está em uma situação que precise voltar ao Brasil, como por exemplo o caso de tráfico de mulheres, onde descobrem que uma mulher foi levada ao estrangeiro sem seu consentimento, ela então terá todos os direitos e garantias de voltar para o Brasil.

1.4 ESPÉCIES DE EXTRADIÇÃO

Conforme Florisbal de Souza Del’ Olmo (2010) quanto a classificação da extradição, ele pode ser compreendido de várias formas, em que o instituto está subdividido. Dentre as os métodos de extradição, existem duas espécies de maior

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valor, sendo elas a espécie ativa e a passiva. A ativa é em relação ao Estado que a reclama e a passiva em relação ao Estado que a concede.

Também, temos presente no âmbito do nosso ordenamento jurídico, outras espécies que não apresentam tanta relevância, sendo a espontânea e requerida, imposta e voluntária, administrativa e judicial, extradição em trânsito, reextradição e extradição de fato, sendo essa última uma forma de deportação.

Em o brasileiro nato sofrerá a extradição passiva, mas ele pode sofrer a extradição ativa. Quando o Brasil quer a extradição de alguém que fugiu, ele então faz um pedido de extradição ativa.

A extradição passiva o brasileiro não seria extraditado do território brasileiro, mas para o território nacional, o país não exerce a extradição, mas a requer. O Brasileiro nato não pode ser extraditado do país, mas o pode para o país, quer dizer: se um brasileiro nato matar alguém em outro país e fugir para o Brasil, ele não poderá ser extraditado para esse país, sendo julgado aqui. Mas se ele matar alguém aqui no Brasil e fugir para outro país, o Brasil pode sim pedir que ele seja extraditado para o Brasil.

A extradição voluntária seria aquela onde o extraditando precisaria ter vontade e concordar em ser entregue, más, ele ficará resguardado de todos os direitos diante das autoridades. Aqui no Brasil esse tipo de extradição ela não tem efetividade quando a pessoa estiver naquele momento sendo processada por ter cometido um crime em território nacional.

[...] consiste em autorizar o extraditando, com a devida assistência jurídica, e perante a autoridade judicial competente, a manifestar-se expressamente pela anuência em ser entregue ao Estado requerente, ocasião em que será informado sobre seu direito a um procedimento formal de extradição e da proteção que tal direito encerra, sem prejuízo ao controle de legalidade pela autoridade competente, conforme jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.

A modalidade voluntária reduz a duração média dos processos de extradição [...]. (BRASIL, SNJ, 2012, p. 36).

Já na extradição temporária, tem como característica principal permitir que o estrangeiro seja devolvido ao seu país, porém, temporariamente, sendo que para

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que isso ocorra, o país de onde partiu a solicitação deverá se comprometer em entregar o delinquente ao Estado que o requereu, após as determinações processuais do estrangeiro serem devidamente todas cumpridas. Esses casos ocorrem, para que o criminoso cumpra o fim da sua pena que lhe foi imposta pelo Brasil.

[...], concessão de extradição temporária, ou seja, a extradição em que o Estado requerente assume o compromisso de devolver a pessoa reclamada após a realização de determinado ato processual.

Ordinariamente, ocorre quando o extraditando responde a processo tanto no país requerido como no requerente, mas neste segundo é necessária a sua presença para ser submetido a procedimento urgente e imprescindível à instrução do processo em curso no Estado requerente. (BRASIL, SNJ, 2012, p. 36).

Outra forma de extradição seria sobre a possibilidade da entrega de brasileiros natos e naturalizados, que perante a Constituição Federal de 1988, no artigo 5º, LI, diz que: “nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins”.

No geral, a maioria dos Estados negam a extradição de seus membros, sendo o Brasil também um desses. As exceções de países que liberam a extradição de nacionais seria o Reino Unido, os Estados Unidos e a Colômbia, que admite extraditar colombianos natos por delitos cometidos no estrangeiro. A Itália, mediante reciprocidade, admite também a extradição de cidadãos italianos.

A concessão da extradição em nosso país tem tratamento constitucional, cabendo ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar originariamente, a extradição solicitada por um Estado estrangeiro, segundo o art. 102, I, G, da Constituição Federal. Essa determinação visa ao estudo, no mais alto tribunal brasileiro, do caráter da infração, uma vez que crimes políticos não ensejarão o deferimento da extradição. A decisão será tomada pelo plenário, após examinada a legalidade e procedência do pedido, não cabendo, por óbvio, qualquer recurso.

A extradição é feita por via de Governo a Governo, onde o Ministério das Relações Exteriores enviará o documento ao Ministro da Justiça, que posteriormente encaminhará ao Supremo Tribunal Federal, que caberá ao relator do processo no

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STF expedir a ordem de prisão do extraditando, e caso o estrangeiro já se encontre preso, o pedido será encaminhado diretamente ao Supremo Tribunal Federal.

Conforme William Junqueira Ramos (2010), a extradição se dá por três etapas: Sendo a primeira a fase governamental, onde é recebido o pedido através do Ministério das Relações Exteriores. A segunda é a fase judiciária, no qual o Supremo Tribunal Federal examina o pedido, e a terceira fase, que também se denomina governamental, irá ocorrer a concessão da entrega ou não do estrangeiro ao país que o requisitou, poderes estes que são atribuídos pelo Presidente da República.

As referidas atribuições do Ministério da Justiça, de como ela atua e quais são as funções da Secretaria Nacional de Justiça, estão grifadas no Manual de Extradição (2012, p.21), que diz:

[...] providenciar o recebimento e envio de documentos; examinar a viabilidade dos pedidos de extradição, procedendo ao juízo da admissibilidade nos termos dos Acordos ou da legislação interna; adotar as medidas necessárias visando agilizar da tramitação de pedido de extradição até sua finalização; otimizar as eventuais diligências; assessorar as autoridades competentes; autorizar a entrega e o trânsito de extraditandos, entre outros.

Enquanto o pedido de extradição estiver sendo analisado, o estrangeiro poderá ter a prisão extradicional acionada. O art. 82 da Lei 12.878 de 04 de novembro de 2013, traz quem tem competência para exercer a prisão do criminoso.

Art. 82. O Estado interessado na extradição poderá, em caso de urgência e antes da formalização do pedido de extradição, ou conjuntamente com este, requerer a prisão cautelar do extraditando por via diplomática ou, quando previsto em tratado, ao Ministério da Justiça, que, após exame da presença dos pressupostos formais de admissibilidade exigidos nesta Lei ou em tratado, representará ao Supremo Tribunal Federal. (BRASIL, Lei nº. 12.878, de 04 de novembro de 2013).

Conforme o que diz Flávia Lias Sgobi (2004), a entrega do extraditando se dá ou pela negação do pedido, ou pelo deferimento do pedido, no qual imcumbe-lhe efetiva-lo, não antes de exigir a assunção de certos compromissos. Nesses aspectos, o Estado Requerente deve prometer ao Requerido

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que não punirá o extraditando por fatos anteriores ao pedido, e dele não constantes, que descontará da pena o período de prisão no Brasil, que transformará em pena privativa de liberdade uma eventual pena de morte, que não entregará o extraditando a outro Estado que o reclame sem prévia autorização do Brasil e não levando em conta motivação política para agravar a pena.

Formalizado o compromisso, o governo, pela voz do Itamaraty, coloca-o à disposição do Estado Requerente, que dispõe de um prazo inflexível de sessenta dias, salvo disposição diversa em tratado bilateral, para retira-lo, às suas expensas, do território nacional, sem o que será solto, não se podendo renovar o processo.

O legislador atribuiu ao processo extradicional uma tramitação simples e célere, no qual apenas será apreciado o juízo de admissibilidade e a legalidade do pedido de extradição, tema do próximo capítulo.

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2 PROCESSO EXTRADICIONAL NO BRASIL

O processo extradicional no Brasil é constituído por um sistema misto, que envolve a esfera administrativa, desenvolvida no Poder Executivo, e a esfera judicial, que ocorre no Poder Judiciário, especificamente, no Supremo Tribunal Federal (STF), cúpula do poder judiciário brasileiro.

O pedido de extradição deve ser feito ao Poder Executivo, no Brasil, uma vez que a este está vinculado o órgão das relações exteriores, ou seja, relações entre Estados. Para chegar à Suprema Corte, o pedido deve ser formal; será instruído no poder executivo e encaminhado ao Supremo Tribunal Federal que procederá a análise dos requisitos e julgará a legalidade do pedido, deferindo-o ou não.

2.1 O PAPEL DO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

O ordenamento jurídico brasileiro delineia o processo extradicional como misto, uma vez que tem seu início na esfera administrativa, através do Ministério da Justiça, e seu trâmite e decisão no âmbito judicial, especificamente no Supremo Tribunal Federal.

1ª) administrativa – tem início com o recebimento do pedido e se conclui com o encaminhamento do processo ao Supremo Tribunal Federal, órgão competente para seu julgamento;

2ª) judicial – fase destinada a verificação da legalidade do pedido, assim como ao seu julgamento;

3ª) final – quando ocorre a entrega do extraditando. (CARNEIRO, 2002, p. 76).

O Ministério da Justiça, enquanto órgão do Poder Executivo receberá o pedido de extradição, oriundo do país requerente, por meio do Ministério das Relações Exteriores e executará o que lhe compete no processo em questão.

A lei que regulamenta a extradição, no ordenamento jurídico brasileiro, é a Lei nº. 13.455, de 24 de maio de 2017, que institui a Lei de Migração, especificamente no Capítulo VIII, a partir do art. 81 e seguintes. O §1º deste artigo dispõe sobre os

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órgãos competentes para o requerimento: “Art. 81 [...]. § 1o A extradição será

requerida por via diplomática ou pelas autoridades centrais designadas para esse fim.”.

Ainda, no mesmo dispositivo, contudo, no §2º, está determinado que a rotina de comunicação seja realizada pelos órgãos competentes do Poder Executivo, juntamente com as autoridades judiciárias e policiais competentes.

Conforme disciplina o Manual de Extradição, editado pela Secretaria Nacional de Justiça (SNJ), no ano de 2012, a atuação do Ministério da Justiça, no processo de extradição será por meio desta secretaria, através do Departamento de Estrangeiros, sendo a Autoridade Central para tanto.

A Secretaria Nacional de Justiça, do Ministério da Justiça, por meio do Departamento de Estrangeiros, é a Autoridade Central em matéria de extradição, sendo responsável por formalizar os pedidos de extradição feitos por autoridades brasileiras a um determinado Estado estrangeiro (ativa) ou, ainda, processar, opinar e encaminhar as solicitações de extradição formuladas por outro país à Suprema Corte brasileira (passiva). (BRASIL, Secretaria Nacional de Justiça, 2012, p. 21-22).

O papel do Ministério da Justiça é desenvolvido por meio da Secretaria Nacional de Justiça, a qual tem a atribuição de formalizar os pedidos de extradição oriundos do Brasil e, processar, opinar e encaminhar as solicitações de extradição originadas de outros Estados federativos.

Especificamente, sobre a extradição passiva, aquela requerida por outro país ao Brasil, dentre as atribuições da Secretaria Nacional de Justiça está a de receber a documentação e verificar a viabilidade dos pedidos, além de adotar medidas necessárias à agilidade do trâmite, bem como assessorar as autoridades competentes.

O juízo de admissibilidade é realizado no Departamento de Estrangeiros, vinculado à Secretaria Nacional de Justiça, no qual se observarão os documentos apresentados, os requisitos legais necessários, bem como, prestará auxílio ao Estado requerente para a correta formalização do pedido.

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Atua, ainda, no sentido de agilizar os trâmites dos pedidos de extradição, agindo em parceria com outros órgãos, incluindo o Ministério das Relações Exteriores, a INTERPOL, e o Supremo Tribunal Federal. (BRASIL, Secretaria Nacional de Justiça, 2012, p. 22).

Com o pedido devidamente formalizado, formado o juízo de admissibilidade, o pedido é encaminhado pelo Departamento de Estrangeiros ao Supremo Tribunal Federal, para a competente análise da legalidade da medida.

O Supremo Tribunal Federal constitui a cúpula do Poder Judiciário brasileiro, caracterizado como a Corte Suprema, ou, de forma mais simples, a última instância do poder judiciário. E, sua principal prerrogativa é a guarda da Constituição Federal, por isso é considerado o Guardião da Constituição Federal, pelo art. 102, caput, da CF/88.

A primeira competência originária do Supremo Tribunal Federal é declarar a constitucionalidade ou não de leis e atos normativos federal ou estadual, conforme prevê o art. 102, I, alínea “a”, da Constituição Federal de 1988.

Neste mesmo dispositivo legal, na alínea “g”, está disposto que dentre as competências originarias do STF está a de processar e julgar a extradição solicitada por Estado estrangeiro.

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:

I – processar e julgar, originariamente: [...];

g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro;

[...]. (BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988).

Cabe ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar os pedidos de extradição de estrangeiros, requeridos às autoridades brasileiras, conforme prevê o art. 207 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal:

Art. 207. Não se concederá extradição sem prévio pronunciamento do Supremo Tribunal Federal sobre a legalidade e a procedência do pedido, observada a legislação vigente. (BRASIL, Supremo Tribunal Federal, 2017, p. 99).

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O pedido de extradição, devidamente documentado e instruído, é remetido diretamente ao presidente do STF, que determinará sua autuação e distribuição. O procedimento de extradição possui rito próprio, célere e especial, não havendo produção de provas, oitiva de testemunhas, ou qualquer instrução processual.

O rito do processo extradicional é previsto constitucionalmente e constitui-se em um rito célere e especialíssimo. Não contempla a produção de provas, a oitiva de testemunhas, ou qualquer outra circunstância procedimental prevista no processo cognitivo ordinário (CARNEIRO, 2002, p. 80).

Por se tratar de um procedimento de natureza especial, com regras procedimentais próprias, estabelecidas em lei ordinária, especificamente, na Lei nº. 13.445, de 24 de maio de 2017, que institui a Lei de Migração, há necessidade de fixação de juiz natural para seu conhecimento e julgamento, uma vez que é direcionado diretamente à Corte Suprema.

Leciona Carlos Eduardo Rios do Amaral (2009, p. 5) que o ministro do STF que receber o pedido de extradição, encaminhado pelo Ministério da Justiça, será o seu relator e, deverá de imediato designar o interrogatório do extraditando, que deverá estar acompanhado de advogado ou defensor público, ato que será dado conhecimento ao Estado requerente.

Tal interrogatório não abrange o mérito da acusação e/ou condenação, limitando-se a informações sobre a identidade do extraditando, vícios de forma, ausência de documentos, ou ilegalidade da extradição.

Porque, deveras, a resposta do extraditando deverá se limitar à discussão da identidade da pessoa reclamada, vícios de forma ou ausência de documentos apresentados pelo Estado requerente ou ilegalidade da extradição. (AMARAL, 2009, p. 5).

Em caso de ausência de documentação, o Tribunal poderá converter o julgamento em diligência, pelo prazo de sessenta dias, após o qual o pedido será julgado independente do cumprimento da diligência, assim, preconiza os parágrafos 2º e 3º da Lei 13.445/2017.

Em caso de insuficiência documental, prevê a lei que o julgamento seja convertido em diligência, concedendo-se ao Estado requerente o prazo de

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sessenta dias (contados da notificação de sua embaixada pelo Itamaraty), para completar o acervo. Esgotado o prazo, o pedido voltará ao julgamento, cumprida ou não a diligência. (REZEK, 2002, p. 193).

O manual e extradição deixa claro qual o papel do Supremo Tribunal Federal no processo de extradição: o controle da legalidade.

O Supremo Tribunal Federal realiza um rígido controle de legalidade do pedido, verificando, por exemplo, se o fato imputado é punível na legislação de ambos Estados, se já era tipificado anteriormente a seu cometimento, se já foi extinta a punibilidade do delito praticado em qualquer dos Estados – requerente e requerido –, e se o crime é ou não de natureza política ou militar. (BRASIL, STF, 2017, p. 22-23).

Nota-se que a competência não se limita ao julgamento do pedido de extradição, mas é estendida ao processamento do pedido, contudo, sem apreciar o mérito da causa, apenas a legalidade e o atendimento aos requisitos legais para a concessão do pedido.

Ensina Camila Tagliani Carneiro (2002, p. 79) que a competência do julgamento do extraditando é do país requerente, não sendo de competência do Supremo Tribunal Federal o julgamento do mérito do pedido. O STF limita-se, apenas, a observar e julgar a legalidade do pedido e da extradição.

O julgamento da extradição passiva se dará pelo Plenário desta excelsa corte constitucional, que se limitará a analisar a legalidade e procedência do pedido extradicional. Dessa decisão colegiada não caberá recurso, apenas embargos de declaração, para os fins de aclaramento do acórdão proferido. Se julgado improcedente o pleito extradicional, novo pedido só poderá ser formulado se fundado em outro fato. (AMARAL, 2009, p 1-2).

Todo o processamento judicial do pedido de extradição acontece no Supremo Tribunal Federal, o guardião da Constituição Federal brasileira, ou seja, na Corte Suprema, e, por isso, da decisão deste não cabe recurso, apenas embargos de declaração, quando verificada omissão, obscuridade ou contradição.

Ainda, quando o pedido for julgado improcedente, não será admitido novo pedido de extradição pelo mesmo fato, apenas poderá ser apresentado novo pedido por fato novo.

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Contudo, vale dizer que a Corte Suprema apenas autoriza o Poder Executivo a conceder a extradição; este poderá optar pela extradição ou não. A decisão de concessão é do chefe do poder executivo, uma vez que se trata de ato inerente à soberania nacional.

Caso o Supremo Tribunal Federal se manifeste favoravelmente ao pedido, este decisium não vincula, de qualquer forma a decisão do Chefe do Poder Executivo, que poderá optar pela extradição ou não da pessoa reclamada, por ser o representante político da nação. Seu poder de decisão é discricionário, eis que se trata de um ato inerente à soberania nacional. A lei brasileira dispõe que ninguém será extraditado sem que o processo seja analisado pelo poder judiciário, porém, o Supremo Tribunal Federal não concede a extradição, mas sim, autoriza o Executivo a fazê-la. (CARNEIRO, 2002, p. 81).

Assim sendo, o Supremo Tribunal Federal apenas observa a legalidade e possibilidade de ocorrer a extradição, autorizando-a, mas não a concede, cabendo ao chefe do Poder Executivo, ou seja, ao Presidente da República em exercício, concedê-la ou não, atuando assim, o STF como órgão consultor da legalidade.

2.2 A PRISÃO DO EXTRADITANDO E A COMPETÊNCIA DA EXTRADIÇÃO

A prisão é o cerne do cumprimento da extradição. Uma vez deferida, somente será efetivada se o indivíduo for entregue ao país requerente, e, para tanto, é necessário que esteja preso, para que não fuja a outro país durante o trâmite do pleito de extradição contra si instaurado.

A Lei de Migração que rege a extradição no ordenamento jurídico brasileiro é de 2017, posterior ao manual de extradição. A legislação vigente adota a nomenclatura de prisão cautelar para a privação da liberdade do extraditando, prevista no art. 84:

Art. 84. Em caso de urgência, o Estado interessado na extradição poderá, previamente ou conjuntamente com a formalização do pedido extradicional, requerer, por via diplomática ou por meio de autoridade central do Poder Executivo, prisão cautelar com o objetivo de assegurar a executoriedade da medida de extradição que, após exame da presença dos pressupostos formais de admissibilidade exigidos nesta Lei ou em tratado, deverá representar à autoridade judicial competente, ouvido previamente o Ministério Público Federal.

§ 1o O pedido de prisão cautelar deverá conter informação sobre o crime

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fax, mensagem eletrônica ou qualquer outro meio que assegure a comunicação por escrito.

§ 2o O pedido de prisão cautelar poderá ser transmitido à autoridade

competente para extradição no Brasil por meio de canal estabelecido com o ponto focal da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) no País, devidamente instruído com a documentação comprobatória da existência de ordem de prisão proferida por Estado estrangeiro, e, em caso de ausência de tratado, com a promessa de reciprocidade recebida por via diplomática.

§ 3o Efetivada a prisão do extraditando, o pedido de extradição será

encaminhado à autoridade judiciária competente.

§ 4o Na ausência de disposição específica em tratado, o Estado estrangeiro

deverá formalizar o pedido de extradição no prazo de 60 (sessenta) dias, contado da data em que tiver sido cientificado da prisão do extraditando. § 5o Caso o pedido de extradição não seja apresentado no prazo previsto

no § 4o, o extraditando deverá ser posto em liberdade, não se admitindo

novo pedido de prisão cautelar pelo mesmo fato sem que a extradição tenha sido devidamente requerida.

§ 6o A prisão cautelar poderá ser prorrogada até o julgamento final da

autoridade judiciária competente quanto à legalidade do pedido de extradição. (BRASIL, Lei nº. 13.445, de 24 de maio de 2017).

Como a prisão tem o objetivo de assegurar a executoriedade da medida de extradição, em caso urgência, a mesma pode ser requerida antes ou juntamente com o pedido extradicional, desde que devidamente instruído e fundamentado.

A autoridade do poder executivo recebe o pedido de extradição, acompanhado ou posterior ao pedido de prisão cautelar, o mesmo apenas verifica a admissibilidade do pedido e, através do Departamento de Estrangeiros, representa pela prisão o Supremo Tribunal Federal, depois de ouvido o Ministério Público Federal.

Acordos atuais preveem que a prisão preventiva seja requerida por meio da INTERPOL. Neste sentido, o Governo brasileiro vem buscando incluir esta possibilidade em todos os Acordos em negociação, uma vez que a tramitação do pedido de prisão preventiva, via de regra, torna-se mais célere e dificulta a fuga da pessoa procurada. (BRASIL, SNJ, 2012, p. 24).

A Lei de Migração já prevê, no §2º, do art. 84, supra transcrito, a possibilidade de o pedido ser realizado por meio da Interpol, no Brasil, o que garante celeridade e agilidade no processo, uma vez que, somente após de efetivada a prisão do extraditando é que o pedido é remetido para análise e julgado ao Supremo Tribunal Federal.

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Ensina Carneiro (2002, p. 84) que “a decretação da prisão ocorre liminarmente para que a extradição seja processada. É um pressuposto essencial para o julgamento do pedido.”. E é assim mesmo que dispõe o §3º do art. 84, acima colacionado.

Quando o pedido de prisão cautelar antecede o pedido de extradição, a legislação vigente prevê o prazo de sessenta dias para o Estado requerente formalizar este pedido às autoridades brasileiras (§4º, art. 84), sob pena de ser o extraditando posto em liberdade e inadmitida nova prisão pelo mesmo fato (§5º, art. 84).

A cautelaridade da prisão extradicional não infringe o princípio constitucional da presunção de inocência. Esta segregação tem cunho instrumental, pois a própria lei brasileira dispõe que nenhum pedido de4 extradição terá andamento sem que o extraditando seja preso, isto é, seja colocado à disposição do Supremo Tribunal Federal. (CARNEIRO, 2002, p. 85).

Com a promulgação da Lei de Migração, foi admitida a excepcionalidade da prisão em albergue ou domiciliar, ou ainda que o extraditando responda ao processo em liberdade, com algumas restrições, conforme prevê o art. 86, da lei em questão. Tal autorização somente pode ser concedida pelo Supremo Tribunal Federal:

Art. 86. O Supremo Tribunal Federal, ouvido o Ministério Público, poderá autorizar prisão albergue ou domiciliar ou determinar que o extraditando responda ao processo de extradição em liberdade, com retenção do documento de viagem ou outras medidas cautelares necessárias, até o julgamento da extradição ou a entrega do extraditando, se pertinente, considerando a situação administrativa migratória, os antecedentes do extraditando e as circunstâncias do caso. (BRASIL, Lei nº. 13.445, de 24 de maio de 2017).

Após o trâmite processual do pedido de extradição, se indeferido o pedido extradicional, o Estado requerente não poderá apresentar novo pedido pelo mesmo fato, conforme preconiza o art. 94, da Lei nº. 13.445/2017: “Art. 94. Negada a extradição em fase judicial, não se admitirá novo pedido baseado no mesmo fato.”.

Em caso de concessão da extradição dada pelo Supremo Tribunal Federal, é de responsabilidade do país requerente a competência para retirar o extraditando do território nacional, conforme preconiza o art. 92, da Lei de Migração.

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Art. 92. Julgada procedente a extradição e autorizada a entrega pelo órgão competente do Poder Executivo, será o ato comunicado por via diplomática ao Estado requerente, que, no prazo de 60 (sessenta) dias da comunicação, deverá retirar o extraditando do território nacional. (BRASIL, Lei nº. 14.445, de 24 de maio de 2017).

Como o interesse na extradição é do Estado federativo requerente, assim é a responsabilidade e dispêndios com a transferência do extraditando para o território do país requerente. Contudo, igualmente é de interesse do Brasil a retirada do extraditando da prisão, já que, enquanto estiver privado de liberdade no país, é este que arca com as despesas da prisão.

Se concessória, entregando de imediato o paciente reclamado, não só esperando igual presteza em eventual pedido que vier a fazer ao requerente, mas também desonerando o Estado brasileiro dos gastos de manutenção do extraditando sob sua custódia. (RAMOS, 2010, p. 4)

Ademais, a Lei de Migração prevê, em seu art. 93, a liberdade do extraditando acaso o Estado requerente não proceder a retirada do mesmo no prazo determinado; e, obviamente, se o mesmo não responder por delitos que ensejam sua prisão cometidos no território nacional:

Art. 93. Se o Estado requerente não retirar o extraditando do território nacional no prazo previsto no art. 92, será ele posto em liberdade, sem prejuízo de outras medidas aplicáveis. (BRASIL, Lei nº. 14.445, de 24 de maio de 2017).

Portanto, excluindo-se qualquer excepcionalidade impeditiva de entrega do extraditando ao país requerente, dispostas no art. 95, da Lei de Migração, o mesmo deve proceder a retirada o indivíduo no prazo de sessenta dias, como dito anteriormente, sob sua responsabilidade e despesas.

Art. 95. Quando o extraditando estiver sendo processado ou tiver sido condenado, no Brasil, por crime punível com pena privativa de liberdade, a extradição será executada somente depois da conclusão do processo ou do cumprimento da pena, ressalvadas as hipóteses de liberação antecipada pelo Poder Judiciário e de determinação da transferência da pessoa condenada.

§ 1o A entrega do extraditando será igualmente adiada se a efetivação da

medida puser em risco sua vida em virtude de enfermidade grave comprovada por laudo médico oficial.

§ 2o Quando o extraditando estiver sendo processado ou tiver sido

condenado, no Brasil, por infração de menor potencial ofensivo, a entrega poderá ser imediatamente efetivada. (BRASIL, Lei nº. 14.445, de 24 de maio de 2017).

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Dentre as excepcionalidades referidas, está o estado de saúde do extraditando, em caso de enfermidade grave. Sendo que o mesmo somente será entregue ao país requerente após atestado por laudo médico oficial que a transferência não lhe causa risco à vida.

Outra excepcionalidade diz respeito à vida delitiva do indivíduo, ou seja, se o extraditando não estiver respondendo a processo criminal ou cumprindo pena restritiva por crimes cometidos em território brasileiro.

2.3 REQUISITOS PARA A ENTREGA DO EXTRADITANDO

A legislação vigente que versa sobre a extradição é silente quanto aos requisitos específicos para a entrega do extraditando. Como visto anteriormente, o principal requisito é a autorização, pelo Supremo Tribunal federal, da concessão da extradição, e a decisão do chefe do Poder Executivo em concedê-la.

A Lei de Migração, sob o nº. 13.445/2017, no art. 92, determina que julgada procedente a extradição e autorizada a entrega pelo órgão competente do Poder Executivo, o Estado requerente será comunicado, por via diplomática, e terá o prazo de sessenta dias para retirar extraditando do território nacional, sob pena de ser posto em liberdade o indivíduo reclamado.

A extradição se efetiva com a entrega do indivíduo reclamado, ao Estado requerente, para responder a processo penal, ou para cumprir pena de processo já julgado. Para tanto, é mister haver entre o Estado requerente e o Brasil um tratado que regulamenta o instituto.

Portanto, pode-se dizer que o primeiro requisito é a existência de um tratado de extradição firmado entre o Brasil e o país requerente. Na ausência de tratado, é necessário que seja firmada a promessa de reciprocidade, que consiste na obrigação deste Estado extraditar brasileiro, se requerido pelo Brasil.

A promessa de reciprocidade do Estado estrangeiro, por sua vez, deve consistir no reconhecimento por este de que, apesar da falta de previsão

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normativa internacional para entrega de seu súdito reclamado, quando o Brasil se deparar com situação semelhante (inversão de papéis), desejando seu cidadão que se encontra em solo estrangeiro do país requerente (extradição ativa), este providenciará sua entrega com fundamento na obrigação assumida solenemente com o Brasil, apesar da falta de tratado entre os países envolvidos. Mas, é preciso que o ordenamento jurídico do Estado requerente lhe permita honrar a obrigação no futuro com o Brasil, não podendo aquele país estrangeiro, comprovadamente, estar segundo suas próprias leis e sua Constituição impedido de oferecer a reciprocidade prometida. (AMARAL, 2009, p. 2).

A normativa, em seu art. 96, arrola critérios para não ser efetivada a entrega do extraditando, permitindo presumir que, se o Estado requerente se comprometer em não expor o indivíduo a tais situações, a extradição será concretizada.

Art. 96. Não será efetivada a entrega do extraditando sem que o Estado requerente assuma o compromisso de:

I - não submeter o extraditando a prisão ou processo por fato anterior ao pedido de extradição;

II - computar o tempo da prisão que, no Brasil, foi imposta por força da extradição;

III - comutar a pena corporal, perpétua ou de morte em pena privativa de liberdade, respeitado o limite máximo de cumprimento de 30 (trinta) anos; IV - não entregar o extraditando, sem consentimento do Brasil, a outro Estado que o reclame;

V - não considerar qualquer motivo político para agravar a pena; e

VI - não submeter o extraditando a tortura ou a outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes.

Para a realização da entrega do extraditado o Estado requerente deve assumir o compromisso de cumprimento aos itens elencados no art. 96, ora transcrito. Iniciando pelo descrito no inciso I: “não submeter o extraditando a prisão ou processo por fato anterior ao pedido de extradição”.

Significa dizer que, se o extraditando cometeu atos delituosos em seu país de origem anteriores ao pedido de extradição, e estes não acompanharam o pedido, ou seja, não foram objeto do pedido extradicional, o país requerente não poderá processá-lo ou prendê-lo por tais delitos.

O inciso II preconiza como requisito, que o Estado requerente deve “computar o tempo da prisão que, no Brasil, foi imposta por força da extradição”. Ou seja, calcular, na pena imposta, o tempo de prisão que o indivíduo esteve preso no Brasil em face do pedido de extradição.

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O inciso II refere-se à detração penal em relação ao tempo em que o extraditando permaneceu preso no Estado requerido exclusivamente por força do pedido de extradição formulado pelo Estado requerente. Neste caso, deverá o país requerido computar o tempo de prisão em relação ao tempo de pena que haverá de cumprir naquele país. (BRASIL, SNJ, 2012, p. 32-33).

Em observância ao disposto no inciso XLVII, do art. 5º, da CF/88, o Brasil impõe que não seja aplicada ao extraditando, pelo Estado requerente, pena de corporal, perpétua ou de morte, devendo ser substituída por pena privativa de liberdade, respeitado o limite máximo de cumprimento de trinta anos.

O inciso III impõe que não seja aplicada pena corporal, ou de morte, se for o caso, substituindo-a por pena privativa de liberdade. Observe-se que a pena corporal aqui tratada refere-se à que atinja a integridade física e a saúde do preso, consubstanciada em sofrimento físico. Isto porque o ordenamento jurídico reprime as penas de morte, de caráter perpétuo, de trabalhos forçados, de banimento e cruéis, conforme dispõe o inciso XLVII, do artigo 5º, da Constituição Federal, pelo que não se entregam pessoas por meio da extradição a países que possam aplicá-las. (BRASIL, SNJ, 2012, p. 33).

Ainda, o Estado requerente, deve comprometer-se à não entregar o extraditando a outro país que o requisite, sem o consentimento do Brasil, conforme disciplina o inciso IV, do art. 96, em análise. Ou seja, é vedada a reextradição sem avaliação e consentimento do país inicialmente requerido.

O inciso V proíbe considerar qualquer motivo político para agravar a pena do extraditando no processo penal a que é réu ou condenado, no Estado requerente. Ou seja, “que a motivação política não seja considerada como circunstância majorante de pena.”. (Amaral, 2009, p. 6).

Por fim, o inciso VI determina como condição para entrega, que o extraditando não seja submetido a tortura, ou tratamento ou penas cruéis, desumanos ou degradantes. Novamente, a preocupação do legislador brasileiro na integridade física e na proteção da vida do indivíduo.

Sendo aceitas tais imposições pelo Estado requerente, o extraditando será entregue com seus pertences pertinentes ao crime, encontrados em seu poder, conforme determina o art. 97, da Lei de Migração.

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extraditando será entregue com os objetos e instrumentos do crime encontrados em seu poder, nos termos das leis brasileiras, e sempre respeitando-se eventuais direitos de terceiros. Os objetos e instrumentos do crime poderão, inclusive, ser entregues ao Estado estrangeiro independentemente da entrega do extraditando. (AMARAL, 2009, p. 6-7).

Ainda que aceitos os compromissos impostos pelo Brasil, é importante deixar claro que cada Estado possui soberania dentro do seu território. Mesmo se tratando de extradição, e o extremo zelo da legislação quanto ao interesse dos envolvidos, cumpre dizer que não há interferência por parte do Estado requerido no poder jurisdicional do Estado requerente.

Em havendo acordo vigente entre os países envolvidos, pode ser dispensada a apresentação formal dos compromissos, uma vez que já expressos no tratado que autoriza a realização do procedimento extradicional.

2.4 ESTUDO DE CASO CONCRETO: CESARE BATTISTI

O caso chama a atenção internacional em face da conduta do Supremo Tribunal Federal – Corte Suprema da justiça brasileira, ao decidir pela legalidade da extradição do ex-terrorista de extrema esquerda, Cesare Battisti, mas deixar a critério do chefe de Estado decidir sobre a extradição em si.

Cesare Battisti foi condenado pela justiça italiana por quatro homicídios atribuídos ao grupo PAC – Proletários Armados pelo Comunismo, no fim da década de 70. Viveu foragido na França até fevereiro de 2004, quando foi autorizada sua extradição, antes que o Decreto fosse assinado, fugiu para o Brasil aonde está desde então.

Ubiratan Pires Ramos (2010, p. 5) denomina a como imbróglio a conduta adotada pelo Supremo Tribunal Federal, no caso em tela. Uma vez que Cesare Battisti é reclamado pela Itália desde 2007, baseado no tratado de extradição firmado entre Brasil e Itália e vigente desde 1993.

Uma situação delicada, muito principalmente porque o quanto decidido a seu respeito, certamente, influirá na imagem de nossa Nação perante a comunidade internacional. Poderá se constituir tanto como título que

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ratifique a honradez do País, como também que o desacredite perante as demais nações. Trata-se da extradição do senhor Cesare Battisti, cidadão de nacionalidade italiana, foragido da justiça de seu país, que - por encomenda, a não ser que as evidências sejam traidoras - aqui se encontra de há muito homiziado (quando livre acobertado por autoridades; e depois de preso não lhe faltaram a solidariedade e os afagos dessas mesmas autoridades). Não fossem os misteriosos interesses nela envolvidos, essa questão seria, à luz da lei brasileira, de fácil solução. Esse cidadão é reclamado pela Itália, pela via de processo extradicional, fundado em tratado de extradição que o Brasil mantém com aquela nação e que vigora desde o dia 1º de agosto de 1993. (RAMOS, 2010, p. 5).

Em síntese, o pedido extradicional foi apresentado na vigência do Estatuto do Estrangeiro – Lei nº. 6.815, de 19 de agosto de 1980. O Supremo Tribunal Federal decidiu pela extradição do indivíduo reclamado, contudo, adotaram uma postura incomum, de questionar a quem compete cumprir a decisão, ou seja, conceder a extradição.

A Lei nº 6.815/80, no art. 77, parágrafo 2º, e art. 83, defere ao STF competência exclusiva para se pronunciar sobre a legalidade e procedência da extradição requerida. Em momento algum é atribuída competência ao Presidente da República para emitir pronunciamento sobre o pleito. E não poderia ser diferente. (RAMOS, 2010, p. 6).

Ainda que a orientação do STF ao então Presidente da República na época era de cumprir o Tratado de Extradição entre Brasil e Itália, o chefe de Estado, com fulcro no art. V do Tratado, não concedeu a extradição sob fundamentação da violação dos direitos fundamentais do extraditando. (Folha de São Paulo, 2011).

No final do ano de 2008, o então Ministro da Justiça brasileiro, concedeu a Cesare Battisti o status de refugiado político, sob o argumento do temor de perseguição, o que foi considerado ilegal, pelo Supremo Tribunal Federal.

Novo desdobramento no caso se apresenta, em decorrência da afirmação da Procuradora-geral da União que afirma que o atual Presidente da República pode extraditar o ex-ativista Cesare Battisti.

Como escreve Letícia Casado (2018), de acordo com a Procuradora-geral Raquel Dodge, a decisão sobre a extradição é política e não do Judiciário, ainda, afirma que não há ilegalidade na ação civil pública em curso na Justiça Federal, promovida pelo Ministério Público Federal.

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Conforme art. XIV, nos itens 2 e 3, do Tratado de Extradição entre Brasil e Itália, uma vez concedida a extradição a parte requerida informará a requerente, especificando o lugar e data da entrega do extraditando, não podendo ser num prazo superior a vinte dias.

Porém, ao decidir quanto á legalidade da extradição no caso em tela, o Supremo Tribunal Federal, informou ao presidente da República sobre a decisão, ao invés de adotar o procedimento legal e informar o Ministério das Relações Exteriores para as devidas providências.

Não se encontra em texto legal pertinente que tem o Supremo de noticiar a extradição por si concedida diretamente ao Presidente da República e muito menos que o STF faculte ao Presidente da República o cumprimento ou não de decisão por si prolatada em processo extradicional, ou outro qualquer. A notícia da decisão, segundo se depreende do quanto contido na lei 6.815/80, art. 86, deve ser transmitida ao Ministério das Relações Exteriores. Mas no tratado Brasil-Itália estabeleceu-se, no art. 10, que a comunicação pode ser feita ao Ministério da Justiça ou ao Ministério das Relações Exteriores. (RAMOS, 2010, p. 6).

Atualmente, Cesare Battisti vive em Cananéia, cidade de São Paulo – SP com sua esposa. O caso ainda não está encerrado, portanto, ainda há como remediar a situação posta, para permitir que a Itália possa impelir seu condenado à pena imposta. Para o país requerente, o alívio de se fazer cumprir suas decisões, ao país requerido, a busca pela honradez de sua justiça.

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