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Arranjos urbanos-rurais regionais : o rural paulista no século 21

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Filosofia e Ciências Humanas

NATÁLIA BELMONTE DEMÉTRIO

Arranjos Urbanos-Rurais Regionais: O Rural Paulista no Século 21

Campinas 2017

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Ficha catalográfica

Universidade Estadual de Campinas

Biblioteca do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Cecília Maria Jorge Nicolau - CRB 8/3387

Demétrio, Natália Belmonte,

D399a DemArranjos urbanos-rurais regionais : o rural paulista no século 21 / Natália Belmonte Demétrio. – Campinas, SP : [s.n.], 2017.

DemOrientador: Rosana Baeninger Aparecida.

DemTese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de

Filosofia e Ciências Humanas.

Dem1. População rural. 2. Urbanização. 3. Globalização. I. Baeninger, Rosana Aparecida,1963-. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Regional urban-rural arrangements : the rural in the state of São

Paulo in 21st century

Palavras-chave em inglês:

Rural population Urbanization Globalization

Área de concentração: Demografia Titulação: Doutora em Demografia Banca examinadora:

Rosana Aparecida Baeninger Alberto Riella

Irineu Rigotti Ricardo Castillo Roberto do Carmo

Data de defesa: 04-04-2017

Programa de Pós-Graduação: Demografia

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Instituto de Filosofia e Ciências Humanas

A Comissão Julgadora dos trabalhos de Defesa de Tese de Doutorado, composta pelos Professores Doutores a seguir descritos, em sessão pública realizada em 4 de abril de 2017, considerou a candidata Natália Belmonte Demétrio aprovada.

Profª Drª Rosana Aparecida Baeninger (Orientadora) – IFCH/Unicamp

Profº Drº Alberto Lorenzo Riella Eustechio - Universidad de La Republica Uruguai

Proº Drº José Irineu Rangel Rigotti – CEDEPLAR/UFMG

Profº Drº Ricardo Abid Castillo – IG/Unicamp

Profº Drº Roberto Luiz do Carmo – IFCH/Unicamp

Suplentes:

Profª Drª Vânia Rosa Pereira - CEPAGRI-UNICAMP Profº Drº Ricardo Rippel- Unioeste

Profª Drª Joice Melo Vieira - IFCH

A ata de Defesa, assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica da aluna.

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Dedico aos meus pais, José, Jôse e Osmair.

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Sem dúvidas, minhas palavras não farão jus a todos que contribuíram com a construção desse trabalho. Ao longo desses quatro anos de doutorado, não me faltou apoio e boas parcerias.

Em primeiro lugar, agradeço à orientação presente e cuidadosa da Profª Rosana Baeninger. Um privilégio e grande honra ser sua aluna. Por me ensinar a fazer pesquisa sem jamais esquecer de meu compromisso social. À senhora, minha gratidão sempre.

À Drª Roberta Peres, exemplo de como realizar um trabalho honesto e bem feito. Sou profundamente grata também a todos os colegas do Observatório das Migrações em São Paulo, em especial à Giovana Pereira, Pier de Maria, Lidiane Maciel, Joice Domeniconi, Luís Felipe Magalhães, Guilherme Botacini e Marília Calegari.

Faço um agradecimento particular ao Luís Antônio Chaves, pela generosidade acadêmica e colaboração na tabulação dos dados. Aos demais colegas da Pós-Graduação em Demografia, principalmente Késia Anastácio, Dafne Sponchiado, Heloísa Pereira, Pedro Andrade, Ana Camila, Guilherme Ortega, Flávia Longo, Fernanda de Lena, Chandie Baptiste, Caio Valentino, Arthur Ribeiro, Gustavo Brusse, Milena Oliveira, Maurílio Soares, Luiza Losco, Carla Craice, Kelly Camargo, Felipe Fazquez, Rodrigo Lira, Tathi Anazawa, Thiago Bonatti e Rosario Aparicio. Aos colegas egressos do programa, Alessandra Traldi, Sérgio Avelar, Aparecido Cunha e Bárbara Estanislau.

A todos os funcionários do Nepo, em especial à Raquel Jakob e Adriana Fernandes. Ao secretário da pós-graduação em Demografia, Leandro Maciel.

Aos professores do Departamento de Demografia: Drª Joice Vieira, Drª Tirza Aidar, Drª Marta Azevedo, Drª Gláucia Marcondes, Drº Alberto Jakob.

Dedico um agradecimento especial ao Profº Drº Everton Campos de Lima, por me apresentar ao universo das estatísticas multivariadas, instrumento fundamental na realização da tese. Ao Profº Drº José Marcos Pinto da Cunha, cujas questões colocadas ainda no mestrado permaneceram centrais também no doutorado. Ao Profº Drº Roberto do Carmo, pela contribuição nas bancas de qualificação e defesa.

Ao Profº Ricardo Castillo, agradeço a excelente disciplina e debate. Ao Profº Alberto Riella, por me receber tão bem na Universidad de La República Uruguay e por compor a banca de defesa. Ao Profº Irineu Rigotti, pela leitura atenta da tese.

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Por fim, agradeço todo o apoio, carinho e confiança de minha família. À minha mãe, em particular, pela fé inabalável em minha trajetória.

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“[…] a história de um conceito não é, de forma alguma, a de seu refinamento progressivo, de sua racionalidade continuamente crescente, de seu gradiente de abstração, mas a de seus diversos campos de constituição e de validade, a de suas regras sucessivas de uso, a dos meios teóricos múltiplos em que foi realizada e concluída sua elaboração”

(Arqueologia do Saber, Michel Foucault)

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Inserido no Projeto Temático Observatório das Migrações em São Paulo (FAPESP-CNPq/Nepo/Unicamp), essa pesquisa tem como objetivo discutir a consolidação de diferentes arranjos espaciais na rede urbana paulista, a partir da globalização do agronegócio. As transformações advindas da divisão internacional do trabalho associam-se a metamorfoses do espaço, sendo os processos de redistribuição de população e de transformação na estrutura do emprego dimensões fundamentais dessa mudança. Essa nova dinâmica socioespacial imprime a formação de arranjos urbanos-rurais regionais estruturados no âmbito dos circuitos espaciais produtivos de diferentes commodities. Tendo em vista a importância da produção de laranja, cana-de-açúcar e da pecuária no Estado de São Paulo, a tese centra-se na discussão dos arranjos urbanos-rurais regionais formados no entorno desses três segmentos. Para a sua delimitação, empregou-se técnicas estatísticas de sintetização e classificação das informações (análise fatorial e de agrupamentos). O Censo Demográfico de 2010 e o Censo Agropecuário de 2006 constituem as principais fontes de informação utilizadas. Ademais, foram consultadas as estimativas de vínculos empregatícios contidos na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego.

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As part of the Thematic Project Observatory of Migration in São Paulo (FAPESP-CNPq/Nepo/Unicamp), the objective of this research is to discuss the consolidation of new regional forms in the São Paulo urban network, based on the globalization of the agribusiness. The transformations arising from the international division of labor are associated with the space metamorphoses. The processes of population redistribution and transformation in the structure of employment are fundamental dimension for this change. This new socio-spatial dynamic implies the formation of regional rural-urban arrangements, structured within the productive space circuits of different commodities. Considering the importance of orange, sugar cane and livestock production in the State of São Paulo, the thesis focuses on the discussion of the regional urban-rural arrangements formed around these three segments. For its delimitation, this research used statistical techniques of synthesis and classification of information (factorial and cluster analysis). The main sources of information used were the 2010 Demographic Census and the 2006 Agricultural Census. In addition, in order to analyze the changes associated with the structure of employment in these arrangements, the estimates of employment links, contained in the Annual Report on Social Information (RAIS) of the Ministry of Labor and Employment, were consulted.

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Tabela 1 – Evolução da população total, urbana e rural, grau de urbanização e densidade demográfica (pop./Km²) – Estado de São Paulo – 1920, 1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010...63 Tabela 2 – Taxa de crescimento geométrica da população total, urbana e rural (em % a.a.) – Estado de São Paulo – 1920/1940, 1940/1950, 1950/1960, 1960/1970, 1970/1980, 1980/1991, 1991/200, 2000/2010...63 Tabela 3 – Estabelecimentos agropecuários segundo grupos de tamanho (em ha) – Brasil e Estado de São Paulo – 1970, 1975, 1980, 1996, 2006...86 Tabela 4 – Investimento direto no país (estoque em US$ milhões) e participação desse investimento no PIB (em %) – Brasil – 1995, 2000, 2005, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014...91 Tabela 5 – Fluxo de investimentos estrangeiros (em US$ milhões) no setor primário e participação de cada ramo de atividade no total de investimentos do setor (em %) – Brasil – 2007 a 2015...96 Tabela 6 – Estoque de Investimento Direto no País na indústria de transformação – Unidades da Federação, Grandes Regiões e Brasil – 2000, 2005, 2010...98 Tabela 7 – Classificação de regiões e dimensionamento da população residente no meio rural – Brasil – 2010...113 Tabela 8 – População segundo situação de setor e taxa geométrica de crescimento da população por situação de setor (em % a.a.) – Estado de São Paulo – 2000 e 2010….137 Tabela 9 – Valores mínimo, máximo, média e desvio padrão das variáveis selecionadas – Estado de São Paulo, segundo municípios – 2006 e 2010...158 Tabela 10 – Matriz de correlação de Pearson...160

Tabela 11 – Valores médios de cada fator (padronizado) por cluster...171

Tabela 12 – Evolução do abate de bovinos (por cabeça) em frigoríficos com selo de inspeção federal – Brasil, segundo unidades da federação – 2005, 2010 e 2015...211 Tabela 13 – População total, urbana, rural taxa de crescimento geométrico (em % a.a.) e grau de urbanização (em %) – Arranjo urbano-rural regional da laranja, da cana-de-açúcar, da pecuária e Estado de São Paulo – 2000 e 2010...217 Tabela 14 – População segundo situação de setor- Arranjo urbano-rural regional da cana-de-açúcar, laranja e pecuária – 2010...218 Tabela 15 – População residente em setores censitários especiais – Arranjo urbano-regional da cana-de-açúcar, laranja e pecuária – Estado de São Paulo – 2010...219

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pecuária – Estado de São Paulo – 2010 ...221 Tabela 17 – Saldo migratório anual – Arranjo urbano-rural regional da laranja, da cana-de-açúcar e da pecuária – Estado de São Paulo – 1991/2000 e 2000/2010...224 Tabela 18 – Crescimento absoluto, saldo migratório anual, crescimento vegetativo e participação relativa da migração no crescimento absoluto da população (em %) – Arranjo urbano-rural regional da laranja, da cana-de-açúcar e da pecuária – Estado de São Paulo – 2000/2010...224 Tabela 19 – População urbana, rural e total, grau de urbanização (em %) e taxa geométrica de crescimento populacional (em % a.a.) – Arranjo urbano-rural regional da laranja, segundo municípios – Estado de São Paulo – 2000 e 2010...227 Tabela 20 – População segundo situação de setor por município – Arranjo urbano-rural regional da laranja – Estado de São Paulo – 2010...228 Tabela 21 – População total, saldo migratório, crescimento absoluto, crescimento vegetativo e participação da migração no crescimento populacional (em %) – Arranjo urbano-rural regional da laranja, segundo municípios – Estado de São Paulo – 2000 e 2010...230 Tabela 22 – Volume de emigrantes, imigrantes, trocas e Índice de Eficácia Migratória intra arranjo urbano-rural regional da laranja, segundo municípios – Estado de São Paulo – 2005/2010...232 Tabela 23 – Volume de emigração e imigração intraestadual, trocas e Índice de Eficária Migratória (IEM) – Arranjo urbano-rural regional da laranja – Estado de São Paulo – 2005/2010...234 Tabela 24 – Volume de emigração e imigração interestadual, trocas e Índice de Eficácia Migratória (IEM) – Arranjo urbano-rural regional da laranja, segundo sub-região de Limeira, Matão/Araraquara e Bebedouro – 2005/2010...235 Tabela 25 – Volume de emigração e imigração interestadual (apenas Região Nordeste), trocas e Índice de Eficácia Migratória (IEM) – Arranjo urbano-rural regional da laranja – Estado de São Paulo – 2005/2010...237 Tabela 26 – População urbana, rural e total, grau de urbanização (em %) e taxa geométrica de crescimento populacional (em % a.a.) – Arranjo urbano-rural regional da cana-de-açúcar, segundo municípios – Estado de São Paulo – 2000 e 2010...241 Tabela 27 – População segundo situação de setor por município – Arranjo urbano-rural regional da cana-de-açúcar – Estado de São Paulo – 2010...242 Tabela 28 – População total, saldo migratório, crescimento absoluto, crescimento vegetativo e participação da migração no crescimento populacional (em %) – Arranjo

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Tabela 29 – Volume de emigrantes, imigrantes, trocas e Índice de Eficácia Migratória (IEM) intra arranjo urbano-rural regional da cana-de-açúcar, segundo municípios – Estado de São Paulo – 2005/2010...244 Tabela 30 – Volume de emigração e imigração intraestadual, trocas e Índice de Eficácia Migratória (IEM) – Arranjo urbano-rural regional da cana-de-açúcar – Estado de São Paulo – 2005/2010...245 Tabela 31 – Volume de emigração e imigração interestadual, trocas e Índice de Eficácia Migratória (IEM) – Arranjo urbano-rural regional da cana-de-açúcar – Estado de São Paulo – 225/2010...246 Tabela 32 – Volume de emigração e imigração interestadual (apenas Região Nordeste), trocas e Índice de Eficácia Migratória (IEM) – Arranjo urbano-rural regional da cana-de-açúcar – Estado de São Paulo – 2005/2010...247 Tabela 33 – População urbana, rural e total, grau de urbanização (em %) e taxa geométrica de crescimento populacional (em % a.a.) – Arranjo urbano-rural regional da pecuária, segundo municípios – Estado de São Paulo – 2000 e 2010...250 Tabela 34 – População segundo situação de setor por município – Arranjo urbano-rural regional da pecuária – Estado de São Paulo – 2010...251 Tabela 35 – População total, saldo migratório, crescimento absoluto, crescimento vegetativo e participação da migração no crescimento populacional (em %) – Arranjo urbano-rural regional da pecuária, segundo municípios – Estado de São Paulo – 2000 e 2010...252 Tabela 36 – Volume de emigrantes, imigrantes, trocas e Índice de Eficácia Migratória intra-arranjo urbano-rural regional da pecuária, segundo municípios – Estado de São Paulo – 2005/2010...253 Tabela 37 – Volume de emigração e imigração intraestadual, trocas e Índice de Eficácia Migratória (IEM) – Arranjo urbano-rural regional da pecuária – Estado de São Paulo – 2005/2010...254 Tabela 38 – Volume de emigração e imigração interestadual, trocas e Índice de Eficácia Migratória (IEM) – Arranjo urbano-rural regional da pecuária – Estado de São Paulo – 2005/2010...255 Tabela 39 – Volume de emigração e imigração interestadual (apenas Região Nordeste), trocas e Índice de Eficácia Migratória (IEM) – Arranjo urbano-rural regional da pecuária – Estado de São Paulo – 2005/2010...256 Tabela 40 – Taxa geométrica de crescimento da população total (em % a.a.), saldo migratório interestadual e intraestadual (Região Metropolitana de São Paulo e interior) –

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Tabela 41 – Volume de emigrantes, imigrantes e Índice de Eficácia Migratória (IEM) da migração interestadual e interestadual (RMSP e Interior) – Arranjo urbano-rural regional da laranja, da cana-de-açúcar e da pecuária – Estado de São Paulo – 2005/2010...258 Tabela 42 – Vínculos empregatícios ativos em 31 de dezembro, segundo ocupações do agronegócio qualificadas e não qualificadas – Estado de São Paulo – 2006, 2008, 2010, 2012 e 2014...265 Tabela 43 – Vínculos empregatícios ativos em 31 de dezembro, segundo ocupações do agronegócio qualificadas e não qualificadas – Arranjo urbano-rural regional da laranja, da cana-de-açúcar e da pecuária – Estado de São Paulo – 2006, 2008, 2010, 2012 e 2014...268 Tabela 44 – Vínculos empregatícios ativos em 31 de dezembro nos setores citrícola, canavieiro e de pecuária de corte – Arranjos urbanos-rurais regionais da laranja, da cana-de-açúcar e da pecuária – Estado de São Paulo – 2006, 2008 e 2010...270 Tabela 45 – Vínculos empregatícios ativos em 31 de dezembro nos setores citrícola, canavieiro e de pecuária de corte, segundo escolaridade – Arranjos urbanos-rurais regionais da laranja, da cana-de-açúcar e da pecuária – Estado de São Paulo – 2006, 2008 e 2010...271

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Figura 1 – Arranjos urbanos-rurais regionais – Brasil, com destaque ao Estado de São Paulo (sem data) ...44 Figura 2 – Principais vias de penetração em São Paulo – Séculos 16, 17 e 18...46

Figura 3 – Regionalização do Estado de São Paulo com base na dinâmica de incorporação de terras do complexo cafeeiro...57 Figura 4 – Volume de população rural por município – Estado de São Paulo – 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010...68 Figura 5 – Taxa geométrica de crescimento da população rural (em % a.a.), segundo municípios – Estado de São Paulo – 1970/1980, 1980/1991, 1991/2000 e 2000/2010..69 Figura 6 – Taxa geométrica de crescimento da população total (em % a.a.) – Estado de São Paulo, segundo municípios – 1970 a 2010...105 Figura 7 – Classificação dos municípios paulistas por prioridade de acesso ao Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável – Microbacias II – Acesso ao mercado – Estado de São Paulo – 2011 ...124 Figura 8 – Distribuição dos estabelecimentos agropecuários por tamanha de área (em ha), segundo municípios – Estado de São Paulo – 2006...146 Figura 9 – Distribuição dos estabelecimentos dirigidos por pessoas com ensino superior completo (V19) e por administradores (V20) – Estado de São Paulo, segundo municípios – 2006...149 Figura 10 – Participação do PIB agropecuário no PIB total do município (V21) e renda monetária bruta dos estabelecimentos agropecuários (V22) – Estado de São Paulo, segundo municípios – 2006...149 Figura 11 – Média de pessoal ocupado por estabelecimento agropecuário (em 31/12/2006) (V24) e Média de tratores por estabelecimento agropecuário (V25) – Estado de São Paulo, segundo municípios – 2006...151 Figura 12 – Quantidade produzida (em toneladas) (V26), valor da produção (em mil reais) (V27) e proporção de área plantada de laranja (V28) – Estado de São Paulo, segundo municípios – 2006 ...152 Figura 13 – Quantidade produzida (em toneladas) (V29), valor da produção (em mil reais) (V30) e proporção de área plantada de cana-de-açúcar (V31) – Estado de São Paulo, segundo municípios – 2006 ...153 Figura 14 – Efetivo de bovinos (V32), proporção de estabelecimentos com pecuária de corte (V33), proporção de área de pastagens (V34) e proporção de pastagens degradadas (V35) – Estado de São Paulo, segundo municípios – 2006 ...155

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Figura 16 – Distribuição dos fatores – Estado de São Paulo, segundo municípios ...168

Figura 17 – Distribuição dos clusters – Estado de São Paulo, segundo municípios ...174

Figura 18 – Evolução da produção de laranja – Estado de São Paulo, segundo municípios – 1991 a 2015...190 Figura 19 – Evolução da produção (em toneladas) da cana-de-açúcar – Estado de São Paulo, segundo municípios – 1991, 2000, 2005, 2010 e 2015...201 Figura 20 – Evolução espacial dos frigoríficos no Brasil Central Pecuário – 1920 a 1970...203 Figura 21 – Evolução do rebanho de bovinos (em cabeças) – Estado de São Paulo – 1980, 1991, 2000, 2005, 2010, 2015...213

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Mapa 1 - Os tempos da expansão cafeeira - Estado de São Paulo, séculos 18 a 20...47

Mapa 2 - Malha Ferroviária - Estado de São Paulo, 2008...51

Mapa 3 - Malha Rodoviária - Estado de São Paulo, 2008...54

Mapa 4 - Hierarquia da rede urbana paulista – 2007...59

Mapa 5 - Territórios Rurais e da Cidadania - Estado de São Paulo, 2012...108

Mapa 6 - Classificação dos municípios segundo a tipologia do IICA - Brasil, 2010...114

Mapa 7 - Regionalização dos municípios segundo a tipologia do IICA - Brasil, 2015...115

Mapa 8 - Regiões Rurais - Estado de São Paulo, 2015...118

Mapa 9 - Municípios participantes dos Consórcios Intermunicipais estudados - Estado de São Paulo, 2005...120

Mapa 10 - Distribuição percentual dos estabelecimentos de agricultura não familiar - Estado de São Paulo, segundo municípios – 2010...148

Mapa 11 - Valor dos financiamentos obtidos (em mil reais) - Estado de São Paulo, segundo municípios – 2006...150

Mapa 12 - Distribuição do cluster 1 e das usinas de produção e açúcar e etanol - Estado de São Paulo, segundo municípios...176

Mapa 13 - Área plantada (em ha) de cana-de-açúcar - Estado de São Paulo, segundo municípios - 2007/2008...176

Mapa 14 - Distribuição do cluster 2 e unidades industriais extratoras de suco de laranja - Estado de São Paulo, segundo municípios...177

Mapa 15 - Área plantada (em ha) de laranja - Estado de São Paulo, segundo municípios - 2007/2008...178

Mapa 16 - Distribuição do cluster 4 e unidades de abate de bovino com registro no SIF - Estado de São Paulo, segundo municípios...179

Mapa 17 - Rebanho de bovinos para corte (em cabeças) - Estado de São Paulo, segundo municípios...179

Mapa 18 - Arranjos urbanos-rurais regionais da laranja, cana-de-açúcar e pecuária - Estado de São Paulo, segundo municípios - 2006/2010...181

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Mapa 20 - Arranjo urbano-rural regional da cana-de-açúcar - Estado de São Paulo - 2006/2010...201 Mapa 21 - Arranjo urbano-rural regional da pecuária - Estado de São Paulo, 2006/2010...215 Mapa 22 - Municípios com assentamentos rurais com registro no INCRA - Estado de São Paulo, 2016...220 Mapa 23 - População total e taxa geométrica de crescimento da população total (em % a.a.) - Arranjo urbano-rural regional da laranja, sub-região Limeira, segundo municípios - 2000 e 2010...238 Mapa 24 - População total e taxa geométrica de crescimento da população total (em % a.a.) - Arranjo urbano-rural regional da laranja, sub-região Matão/Araraquara, segundo municípios - 2000 e 2010...239 Mapa 25 - População total e taxa geométrica de crescimento da população total (em % a.a.), segundo municípios - Arranjo urbano-rural regional da laranja, sub-região Bebedouro/SP - 2000 e 2010...240 Mapa 26 - População total e taxa geométrica de crescimento da população total (em % a.a.), segundo municípios - Arranjo urbano-rural regional da cana-de-açúcar/SP - 2000 e 2010...248 Mapa 27 - População total e taxa geométrica de crescimento da população total (em % a.a.), segundo municípios - Arranjo urbano-rural regional da pecuária/SP - 2000 e 2010...257

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Gráfico 1 - Evolução da população total - Estado de São Paulo - 1872 a 2010...61 Gráfico 2 - Participação relativa dos estabelecimentos agropecuários por grupos de área (em ha) - Brasil e Estado de São Paulo - 1970, 1975, 1980, 1996 e 2006...58 Gráfico 3 - Investimento estrangeiro direto (fluxo), em dólares americanos correntes (em milhões) - Brasil, 1970 a 2015...92 Gráfico 4 - Fluxo de investimentos estrangeiros (em US$ milhões) e participação de cada setor de atividade no total de investimentos (em %) – Brasil - 2007 a 2015...94 Gráfico 5 - Fluxo de investimentos estrangeiros (em US$ milhões) no setor primário e participação de cada ramo de atividade no total de investimentos do setor (em %) - Brasil - 2007 a 2015...95 Gráfico 6 - Q-Q plot da distribuição...157

Gráfico 7 - Delimitação do número de cluster de acordo com o BIC...170

Gráfico 8 - Evolução da produção (em toneladas) de laranja - Estado de São Paulo e Brasil - 1990 a 2015...190 Gráfico 9 - Evolução da produção (em toneladas) da cana-de-açúcar - Brasil e Estado de São Paulo - 1990 a 2015...196 Gráfico 10 - Área média de pastagem por cabeça de bovino (hectares) - Brasil, 1940 a 2006...212 Gráfico 11 - Evolução do rebanho de bovinos (em cabeças) – Brasil - 1974 a 2014...212 Gráfico 12 - Evolução do rebanho de bovinos (em cabeças) - Estado de São Paulo, 1974 a 2014...212 Gráfico 13 – Estrutura etária da população no arranjo urbano-rural regional da laranja, cana-de-açúcar e pecuária (sem população carcerária) – Estado de São Paulo –

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Quadro 1 - Distribuição regional dos imóveis cadastrados pelo Incra (totais e estrangeiros) e suas respectivas áreas por estados e regiões brasileiras - 2003 e 2007...87 Quadro 2 – Regionalização dos municípios segundo a tipologia do IICA – Estado de São Paulo – 2015 ...116 Quadro 3 – Descrição das variáveis utilizadas na delimitação dos arranjos urbanos-rurais regionais – Estado de São Paulo, segundo municípios – 2006 e 2010...132 Quadro 4 – Forma de construção e distribuição da variável população rural (exclusive população carcerária) – Estado de São Paulo, segundo municípios – 2010...134 Quadro 5 - Forma de construção e distribuição da variável grau de ruralização – Estado de São Paulo, segundo municípios – 2010...134 Quadro 6 - Forma de construção e distribuição da variável de densidade demográfica – Estado de São Paulo, segundo municípios – 2010...135 Quadro 7 - Forma de construção e distribuição das variáveis de proporção de população rural residente em setores rural expansão-urbana (V04) e rural exclusive aglomerados (V05) – Estado de São Paulo, segundo municípios – 2010...139 Quadro 8 - Forma de construção e distribuição da variável razão de sexo da população rural (sem presos) – Estado de São Paulo, segundo municípios – 2010...139 Quadro 9 - Forma de construção e distribuição das variáveis razão de dependência (V07) e índice de envelhecimento (V08) da população rural – Estado de São Paulo, segundo municípios – 2010...140 Quadro 10 - Forma de construção e distribuição da variável de pendularidade rural – Estado de São Paulo, segundo municípios – 2010...141 Quadro 11 - Forma de construção e distribuição da variável de proporção de população residente no perímetro urbano e ocupada no setor primário – Estado de São Paulo, segundo municípios – 2010...142 Quadro 12 - Forma de construção e distribuição da variável de proporção de população residente no rural e ocupada nos setores secundário e terciário – Estado de São Paulo, segundo municípios – 2010...143 Quadro 13 - Forma de construção e distribuição da variável de migrantes chegados nos últimos três anos no total de população não natural do município – Estado de São Paulo, segundo municípios – 2010...144

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municípios – 2010...144

Quadro 15 - Forma de construção e distribuição da variável de proporção de área de pastagens no município (V34) – Estado de São Paulo, segundo municípios – 2006...154

Quadro 16 – Comunalidades...162

Quadro 17 – Variância total explicada...163

Quadro 18 – Matriz de componente rotacionada...164

Quadro 19 – Interpretação dos fatores...167

Quadro 20 – Fatores que compõem cada cluster e total de municípios nos agrupamentos criados...173

Quadro 21 – Municípios que compõem os arranjos urbanos-rurais regionais da cana-de-açúcar, laranja e pecuária de corte...180

Quadro 22 – Ocupações relativas aos trabalhadores do agronegócio com maior qualificação de acordo com a Classificação Brasileira de Ocupações de 2002...262

Quadro 23 – Ocupações relativas aos trabalhadores do agronegócio com menor qualificação de acordo com a Classificação Brasileira de Ocupações de 2002...263

Quadro 24 – Classes de atividade consideradas do setor citrícola, sucroenergético e da pecuária de corte, de acordo com a Classificação de Atividades Econômicas (CNAE) versão 2.0...269

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ABIEC - Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes BNDS - Banco Nacional de Desenvolvimento Social

BRAZCOT - Sociedade Algodoeira Brasil-Japão Ltd CAI – Complexo Agroindustrial

CATI - Coordenadoria de Aperfeiçoamento Técnico Integrado CBO - Classificação Brasileira de Ocupações

CEDEPLAR - Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional de Minas Gerais CEMPRE - Estatísticas do Cadastro de Empresas

CEPAL - Comissão Econômica para a América Latina e Caribe CEPAM - Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal CGEE - Centro de Estudos e Gestão Estratégica

CIPT - Consórcio Intermunicipal dos Vales dos rios Tietê-Paraná CIVAP - Consórcio Intermunicipal do Vale do Paranapanema CMDR - Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural CNAE - Classificação Nacional de Atividade Econômica CODETER - Colegiados de Desenvolvimento Territorial

CODIVAR - Consórcio de Desenvolvimento Intermunicipal do Vale do Ribeira COMAM - Consórcio de Municípios da Alta Mogiana

CONDEPE - Conselho Nacional para o Desenvolvimento da Pecuária

CONDERG - Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento da Região de Governo de São João da Boa Vista

DIRA – Divisão Regional Agrícola

DRS - Desenvolvimento Rural Sustentável

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IAA - Instituto do Açúcar e do Álcool

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDP - Investimento Direto no País

IEA – Instituto de Economia Agrícola IED - Investimento Estrangeiro Direto

IICA - Instituto Interamericano de Cooperação para Agricultura INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INCRA - Instituto Nacional e Colonização e Reforma Agrária IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

LUPA - Levantamento das Unidades de Produção Agropecuária MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MDA - Ministério de Desenvolvimento Agrário

NESUR - Núcleo de Economia Social, Urbana e Regional

OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ONG – Organização Não Governamental

ONU – Organização das Nações Unidas PAM – Pesquisa Agrícola Municipal

PEMH - Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas PIB – Produto Interno Bruto

PPM – Pesquisa Pecuária Municipal

PRÓ-ÁLCOOL - Programa Nacional do Álcool

PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar RAIS – Registro Anual de Informações Sociais

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RMSP – Região Metropolitana de São Paulo SDR - Secretaria de Desenvolvimento Rural

SEADE - Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados SENAR - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural SIF - Selo de Inspeção Federal

SIG – Sistema de Informação Geográfica UF – Unidade da Federação

UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais UFSCar – Universidade Federal de São Carlos

UNCTAD - Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas UNIP - Universidade Paulista

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INTRODUÇÃO ... 29

CAPÍTULO 1: O processo de urbanização corporativa e a reconfiguração dos espaços ... 32

1.1Rede de cidades, rede de lugares... 32 1.2. As raízes da urbanização em São Paulo ... 45 1.3.O rural no contexto da rede urbana paulista ... 60

CAPÍTULO 2: A reestruturação da atividade agropecuária ... 75 2.1. A agricultura científica e globalizada ... 82 2.2. A estrutura fundiária e o mercado de terras ... 85 2.3. Cidades e agricultura científica e globalizada ... 100

CAPÍTULO 3:Globalização e Regionalização ... 106 3.1. Diferentes propostas de regionalização do rural paulista ... 106

3.1.1 Os Territórios Rurais e da Cidadania ... 106 3.1.2. O projeto “Repensando o Conceito de Ruralidade no Brasil” ... 109 3.1.3. As Regiões Rurais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ... 116 3.1.4 Políticas Estaduais Indutoras de Desenvolvimento ... 119

3.2. Arranjos urbanos-rurais regionais: apontamentos teóricos para sua construção sócioespacial na tese ... 124 3.3. Desenhando os arranjos urbanos-rurais regionais ... 130

3.3.1. Consideração sobre as variáveis utilizadas e as fontes de informação ... 131 3.3.2. Descrição das variáveis ... 133 3.3.3. Avaliação das variáveis ... 155 3.3.4. A análise fatorial ... 161 3.3.5. A análise de cluster ... 169 3.3.6. Os ajustes qualitativos e a delimitação dos arranjos urbanos-rurais regionais ... 175

CAPÍTULO 4: População e emprego nos arranjos urbanos-rurais regionais... 183 4.1.As raízes históricas e a reestruturação dos circuitos espaciais da produção ... 183

4.1.1. O setor citrícola ... 183 4.1.2. O setor sucroenergético ... 192 4.1.3. O setor da pecuária de corte ... 202

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4.3.Migração e crescimento da população nos arranjos urbanos-rurais regionais ... 223

4.3.1. O arranjo urbano-rural regional da laranja ... 225 4.3.2. O arranjo urbano-rural regional da cana-de-açúcar ... 240 4.3.3. O arranjo urbano-rural regional da pecuária ... 248

4.4.A redefinição dos espaços da migração nos arranjos urbano-rurais regionais .. 257 4.5.As transformações na estrutura do emprego ... 259

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 273

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 278

ANEXO I ... 290

ANEXO II ... 291

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INTRODUÇÃO

O objetivo dessa tese é estudar a dinâmica socioespacial rural-urbana a partir da produção de commodities no Estado de São Paulo, sua conformação regional, os processos de redistribuição da população e de transformação na estrutura do emprego nesses espaços. Tendo como pano de fundo a inserção do Brasil na divisão internacional do trabalho (BRANDÃO, 2007; CANO, 2011; CANALES; CANALES, 2013) e a consolidação da agricultura científica e globalizada (ELIAS, 2003), o trabalho tem como hipótese a consolidação de diferentes arranjos urbanos-rurais regionais na hierarquia da rede urbana paulista. Definidos como regiões competitivas (CASTILLO; FREDERICO, 2010) cujos vínculos transnacionais (SASSEN, 1998) remetem à produção de commodities, esses arranjos compreendem espacialidades onde a intensificação da urbanização corporativa e a redefinição das complementaridades socioespaciais, decorrente da instalação de processos globais (SANTOS, 2013), associam-se a reconfigurações na dinâmica demográfica e sócio ocupacional em nível local e regional. Como expressão socioespacial da globalização do agronegócio (ELIAS, 2003; HEREDIA et al, 2010), os arranjos urbanos-rurais regionais são eminentemente híbridos e multiescalares (MOURA, 2009). Representam espaços transnacionais (SASSEN, 1998) com múltiplos espaços da migração (BAENINGER, 1999) que imprimem uma nova dinâmica regional no interior do Estado de São Paulo.

Em especial no território paulista, a dinâmica urbana herdada do período cafeeiro reforça a interiorização do crescimento (GONÇALVES, 1998), potencializando a formação de frentes de expansão fora das regiões metropolitanas tradicionais. Iniciado no âmbito dos planos nacionais de desenvolvimento do período militar, esse fenômeno ganha outros contornos diante da crise econômica dos anos 1980, do relativo processo de desindustrialização e de fortalecimento do caráter agroexportador da economia brasileira (CANO, 2011; BRANDÃO, 2007; CANALES; CANALES, 2013). A recomposição das hierarquias na rede urbana estadual tonifica o espraiamento da população e da produção, principalmente no entorno dos históricos eixos de desenvolvimento (NEGRI; GONÇALVES; CANO, 1988). Surge, assim, variados arranjos regionais que, mesmo sem apresentar contiguidade da mancha urbana, estão integrados por fluxos cotidianos de pessoas, mercadorias e serviços, tanto em escala local e regional, como a nível global (MOURA, 2009).

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A recomposição das complementaridades regionais decorrentes da fragmentação do espaço (SANTOS, 2013) representa um desafio teórico e metodológico para os estudos regionais, na medida em que são rompidas as “fronteiras disciplinares e as barreiras espaço-temporais que protegiam os ritmos” das regionalizações tradicionais (RIBEIRO, 2009, p.196). É nesse sentido que Baeninger e Ojima (2008, p.132) discutem os limites das regionalizações político-administrativas, destacando a necessidade de identificação de espacialidades que façam “sentido não apenas do ponto de vista da correlação de forças políticas, mas que incorpore as dimensões sociais, econômicas e demográficas” (BAENINGER; OJIMA, 2008, p.132). Nessa linha, Moura (2009) apresenta os arranjos urbanos-regionais como resultado das metamorfoses do processo de metropolização. Se esse conceito avança no entendimento da questão regional em áreas que se destacam pelo oferecimento de serviços especializados, responsáveis pela regulação da economia globalizada, não contempla as reconfigurações do tecido urbano e rural associada ao agronegócio (ELIAS, 2003).

No propósito de melhor apreender essas transformações, a tese apresenta o conceito de arranjo urbano-rural regional. Estruturados na interface entre dinâmica da população e os circuitos espaciais da produção de commodities (CASTILLO; FREDERICO, 2010), esses arranjos constituem espacialidades heterogêneas entre si, desiguais não apenas em razão de suas raízes históricas, mas também em função das características intrínsecas a cada setor. Para esta pesquisa, foram selecionados três segmentos: laranja, cana-de-açúcar e carne bovina. As duas primeiras commodities representam os principais produtos agrícolas do Estado de São Paulo. Amplamente beneficiadas pela modernização agrícola dos anos 1970, e com forte inserção no mercado globalizado, cana e laranja estão entre os exemplos de complexos agroindustriais com maior densidade de vínculos entre agricultura e indústria processadora, com articulação de cidades do agronegócio especializadas no atendimento das necessidades de seus respectivos setores (ELIAS, 2003).

Já a pecuária destaca-se por apresentar uma trajetória fragmentada de inserção no mercado internacional. Originalmente, a criação de bovinos em território paulista atendeu às demandas internas (MAMIGONIAN, 1976). Entre 1920/1930, prosperaram no país inúmeros frigoríficos estrangeiros que passaram a comandar essa atividade. No período 1940/1970, em contrapartida, o Estado interviu ativamente nesse segmento, fomentando um processo de nacionalização do setor (MAMIGONIAN, 1976; BINI, 2010). A partir dos anos 1990, por sua vez, a pecuária volta a compor as cadeias globais

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de valor, com domínio crescente das grandes corporações de origem nacional (CÔRREA, 2012).

Organizada em quatro capítulos, a tese inicia-se pela discussão do enfoque analítico do trabalho: o tripé distribuição da população, economia regional e dinâmica espacial (BAENINGER, 1999). À luz dessa abordagem, são retomadas as raízes históricas da urbanização paulista (GONÇALVES, 1998) e as rugosidades do espaço que acomodam diferentes formas de inserção do lugar nos mercados globais (SANTOS, 2013; SASSEN, 1998). O segundo capítulo analisa a reestruturação da produção agropecuária, seus impactos no mercado de terras e na estrutura fundiária, além da complexidade trazida pelo processo de urbanização corporativa no contexto da agricultura científica e globalizada (ELIAS, 2003).

O terceiro capítulo concentra o debate da relação entre regionalização e globalização. Nessa parte da pesquisa, elabora-se um breve panorama de diferentes recortes espaciais que têm como preocupação central a temática rural. Como expressão das transformações regionais trazidas “pelo esgotamento do nacional desenvolvimentismo” (RIBEIRO, 2009, p.197), são apresentados os arranjos urbanos-rurais regionais. Junto à reflexão teórica do conceito, é a explicada a metodologia empregada: as fontes de informação utilizadas (Censo Demográfico de 2010 e Censo Agropecuário de 2006), os indicadores selecionados, as técnicas de análise multivariada e os ajustes qualitativos feitos no mapeamento dos arranjos urbanos-rurais regionais da cana-de-açúcar, laranja e pecuária.

Por fim, o quarto e último capítulo reforça a centralidade da dinâmica da população enquanto dimensão estruturante dessas espacialidades. Nessa reflexão, destaca-se as mudanças na estrutura do emprego (RIELLA; MASCHERONI, 2015; BERNARDES, 2007; SASSEN, 1998); a coexistência de tendências históricas e novos processos de redistribuição de população (BAENINGER, 2012); a globalização por cima (PORTES; GUARNIZO; LANDOLT, 2003) com os trabalhadores do conhecimento (MELLO, 2007); a globalização por baixo, com os trabalhadores rurais migrantes (MACIEL, 2016); e a formação de diferentes espaços da migração (BAENINGER, 1999) no tecido urbano-rural regional.

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CAPÍTULO 1

O processo de urbanização corporativa e a reconfiguração dos espaços

1.1 Rede de cidades, rede de lugares

O tripé distribuição da população, economia regional e dinâmica espacial constitui o enfoque analítico desse trabalho (BAENINGER, 1999). Ancorado no processo de urbanização, a apreensão do rural como estrutura socioespacial subsidia um debate a partir de dois conceitos principais: espaço (SANTOS, 2002) e rede urbana (CORRÊA, 1994). Por um lado, a consideração do espaço ajuda na reconstrução da dinâmica demográfica como processo heterogêneo e multifacetado (BAENINGER, 1999). Por outro, o enfoque da rede urbana reforça a divisão social e territorial do trabalho, as conexões entre as localidades rurais e os centros urbanos, em diversas escalas (SANTOS, 2002; CORRÊA, 1994). Desde essa perspectiva, o rural é reconstruído em suas múltiplas dimensões de tempo e espaço, como relação social em constante transformação, da qual emergem diferentes dinâmicas de complementaridade regional entre campo e cidade (WANDERLEY, 2000).

O ponto de partida das metamorfoses que estruturam as relações rurais-urbanas, a forma concreta das cidades e de seu campo, inicia-se pelo estudo das “heranças deixadas por uma história complexa”, das condições materiais que constrangem as possibilidades de mudança dentro de certos limites (BRANDÃO, 2007, p.90). Definido como um híbrido entre objetos e ações, forma e conteúdo, fixos que funcionam como moldura aos fluxos de cada lugar, o espaço geográfico representa um conjunto indissociável e conflituoso entre o novo e o velho: uma “síntese, sempre provisória e renovada, das contradições e da dialética social” (SANTOS, 1978, p.107-108). Ao mesmo tempo em que os sistemas de objetos condicionam a forma como as ações se dão, estas levam à criação ou reinvenção dos objetos existentes. “É assim que o espaço encontra sua dinâmica e se transforma” (SANTOS, 2002, p.63).

Santos (1978) discute a materialidade do espaço como processo histórico que se solidificou. Quanto mais antigo for o processo de ocupação capitalista de uma determinada região, maior será a contribuição dos diferentes tempos históricos em sua formação. Por conseguinte, maior será o estoque de material velho materializado no espaço (SANTOS, 1978). À luz desse enfoque, o espaço pode ser entendido como uma acumulação desigual de tempos, com possibilidades de desenvolvimento que fazem

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sentido somente no escopo das estruturas correspondentes de cada região (SANTOS, 1978). Daí a inviabilidade de uma teoria geral do desenvolvimento.

[…] se o entendimento deste processo exige uma formulação teórica, esta formulação não se confunde com leis gerais. Trata-se de um processo eminentemente histórico-genético […]. Isto não significa obrigatoriamente ancorar-se numa proposta historicista, mas significa reconhecer que a elaboração teórica sobre esse processo não tem como fugir da fixação de suas condições históricas” (PACHECO, 1996, p.32 apud BRANDÃO, 2007, p.68).

Embora as inovações possam ser universais como tendência, sua propagação está subordinada às condições sociais e materiais dos lugares que as recebem: “em nenhum caso a difusão dos objetos técnicos se dá uniformemente ou de modo homogêneo” (SANTOS, 2002, p.39). “Há, desse modo, uma receptividade específica dos lugares, ocupados ou vazios, aos fluxos de modernização ou inovação” (SANTOS, 1978, p.212). Por essa razão, o espaço não se trata de um mero “receptáculo da histórica”, mas uma condição objetiva “de sua realização qualificada” (SANTOS, 2002, p.126).

Incorporar a dimensão espacial na análise da dinâmica do desenvolvimento capitalista é, portanto, revelar suas múltiplas faces (BRANDÃO, 2007). É recompô-la como processo heterogêneo e histórico, de modo a refletir sobre os constrangimentos herdados (as rugosidades do espaço) que conferem a cada lugar uma capacidade única de acumulação. O desenvolvimento capitalista apresenta-se, desse modo, como um constante

[…] processo de busca e seleção por pontos do espaço que ofereçam maior capacidade de apropriação privada de rendimentos e onde “valorizar o valor” seja mais fácil. Cristalizam-se no espaço estruturas que “se materializam” enquanto fluxos e fixos diversos (Santos, 1985), reveladores de uma propagação não sequencial, de uma intermitência espacial no processo de valorização do capital. […] existe uma cumulatividade estrutural inerente a esse processo que irá determinar uma fixidez do arranjo espacial da reprodução da vida social. O peso da experiência passada – “o espaço construído” – afirma cicatrizes, sinais e vestígios que posicionam “rugosidades” no (e do) espaço […]. Ou seja, legados e “resíduos” nos pontos do espaço que obstaculizam a fluidez e a mobilidade, constituindo formas fixadas através do prolongamento do passado no presente (BRANDÃO, 2007, p.53).

A resistência do espaço na disseminação do novo condiciona uma espécie de tempo de cada lugar, uma valorização diferencial de porções do espaço geográfico, base das desigualdades regionais. É assim que a divisão social do trabalho se transforma em

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divisão territorial do trabalho (SANTOS, 1978), com a necessidade de abordagens que, além de destacar a questão das condições pretéritas, reforcem também as hierarquias da rede urbana (CORRÊA, 1994 e 2006) e as escalas espaciais (BRANDÃO, 2007).

Para Côrrea (1994, 2006), o processo de diferenciação funcional entre os centros urbanos, resultado da própria dinâmica de mercado (sempre guiada pela minimização dos custos e maximização dos lucros), é tanto reflexo como condição da divisão do trabalho. É reflexo na medida em que, as heranças históricas, resultantes de uma divisão do trabalho prévia, conduz a cidade a compor um tipo específico de urbano. Em contraste, é também

[…] devido à ação de centro de acumulação de capitais, as grandes metrópoles, cabeças de redes urbanas de extensão mundial ou nacional, que a divisão do trabalho aparece condicionada à rede urbana. Através dela, decisões, investimentos e inovações circulam descendentemente, criando e transformando, constante e desigualmente, atividades e regiões (CÔRREA, 2006, p.16).

Sem incorrer na homogeneização e na diluição das diferenças espaciais, o adensamento da rede urbana redefine, continuamente, os padrões de diferenciação do espaço, “alterando-os em termos da divisão territorial do trabalho” (CORRÊA, 1994, p.66-67). Este autor ressalta o amadurecimento do processo de urbanização como gerador permanente de novas articulações funcionais e centralidades. Seja em função da expansão territorial do capitalismo, seja em função das deseconomias de aglomeração (ou da propagação de novas formas de produção), a rede urbana encontra-se em constante recomposição. Para “cada atividade, nova ou transformada, há padrões locacionais específicos que melhor atendem à lógica capitalista” (CÔRREA, 1994, p.49). A dinâmica de acumulação se recompõe, se reconfigura, se expande e se adensa no espaço.

Sob o regime capitalista de produção, a divisão social do trabalho se aprofunda e se sofistica recorrentemente, as articulações entre espaços diferenciais se processam de forma regular e ordenada – embora com natureza desigual, complexa e de forma combinada e sujeita a um processo de evolução histórica hierárquica –, submetidas a leis, centros de controle e padrões diversificados e específicos de inserção (BRANDÃO, 2007, p.69).

Segundo Brandão (2007), na atualidade, com o acúmulo de inovações tecnológicas no ramo de comunicação, a hierarquia urbana transforma-se com impressionante rapidez. A maior capacidade do capital em explorar as desigualdades espaciais em seu proveito torna “impositivo estudar a natureza das hierarquias

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(impostas em variadas escalas) de geração e apropriação de riqueza” (BRANDÃO,

2007, p.52). “Quanto menos importante as barreiras espaciais, tanto maior a sensibilidade do capital às variações do lugar dentro do espaço e tanto maior o incentivo para que os lugares se diferenciem de maneiras atrativas ao capital” (HARVEY, 1989, p.267 apud BRANDÃO, 2007, p.52).

Essas diferenciações não são, contudo, aleatórias ou imediatas. A “inércia dinâmica das formas herdadas” (SANTOS, 2002, p.43) cristaliza, pelo menos durante um certo tempo, um “determinado padrão espacial de funcionalidades” (CÔRREA, 1994, p.50). A força dos processos passados, “especialmente em função de uma certa flexibilidade funcional das cidades, exerce um papel marcante nas redes urbanas no bojo de outros modos de produção, ou de fases distintas do capitalismo” (CÔRREA, 1994, p.71).

Nesse sentido, a perspectiva da rede urbana permite articular, em determinado momento histórico, as áreas urbanas às áreas rurais em diferentes recortes espaciais, propondo debates sobre região e lugar, redes e escalas (SANTOS, 2002). Expressão dialética da divisão social e territorial do trabalho, o enfoque do sistema de cidades reitera o processo de produção do espaço desde um caráter vertical (referente a mudanças estruturais que fluem de cima para baixo) e também segundo uma perspectiva horizontal (condizentes às características do lugar e às inovações que circulam de baixo para cima) (CÔRREA, 2006). Combina, assim, a dinâmica espacial local à ordem global, oferecendo uma reflexão simultânea do particular e do universal (CORRÊA, 2006).

À luz dessa discussão, Santos (2013) analisa a globalização conjuntamente à rearticulação da hierarquia do sistema urbano. O chamado curto circuito da rede de cidades, isto é, a conexão imediata entre o lugar da produção e os interesses do capital hegemônico globalizado, produz uma complementaridade expandida entre os lugares, inovadora por não prescindir de contiguidade espacial. Diferente das simultaneidades precedentes, os processos de globalização caracterizam-se

[…] pelo fato de ser movido por um único conjunto motor, a mais-valia em nível mundial, que é, em última análise, responsável direta ou indiretamente pela forma como os eventos se dão sobre os diversos territórios. Essa unificação […] conduz a uma reformulação do espaço a nível mundial (SANTOS, 1993, p.44).

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Até os anos 1970, as limitadas possibilidades de comunicação truncavam a acessibilidade entre as diferentes regiões. Por essa razão, a acumulação de capital dependia da estruturação de esferas intermediárias de acumulação, organizadas segundo parâmetros locais e regionais (SANTOS, 2013). O desenvolvimento das tecnologias da informação, ao possibilitar comunicação direta, conduziu a unificação de espaços não contíguos. Nas palavras do autor, a globalização seria impossível sem a “unicidade das técnicas, que levou à unificação do espaço em termos globais e à unificação do tempo em termos globais” (SANTOS, 2013, p.40).

Antes, as decisões estratégicas tomadas nos centros de acumulação também circulavam descendentemente por toda a rede urbana, mas isso era feito “com defasagens e perdas” (SANTOS, 2013, p.145). Faltavam “as condições de instantaneidade e simultaneidade que somente hoje se verificam” (SANTOS, 2013, p.145). A não possibilidade de comunicação imediata entre o local da produção e os interesses do capital hegemônico fortalecia “uma multiplicidade de instalações e uma pluralidade de comandos” (SANTOS, 2013, p.45). Hoje, ao contrário, tem cada vez mais o domínio de um “comando único”, com estratégias de organização da produção e do trabalho globalizadas que quebram referências costumeiras, históricas, tradicionais (SANTOS, 2013, p.45). Nas palavras de Gonçalves (1998, p.23),

[…] o capital globalizado introduz sobre as cidades por ele alcançadas uma determinação inteiramente nova e alheia às relações históricas que soldavam o sistema urbano; e, ao fazer isso, rompe o campo de referência que se tinha da divisão social do trabalho – nacional e territorializado, delimitado e comandado a partir de dentro do território nacional.

A globalização constitui, desse modo, “o estágio supremo da internacionalização” (SANTOS, 2013, p.45). Não se trata de uma “simples extensão das atividades econômicas através das fronteiras nacionais” (ORTIZ, 2003, p.15), mas de

[…] uma forma mais avançada, e complexa, da internacionalização, implicando um certo grau de integração funcional entre as atividades econômicas dispersas. O conceito se aplica, portanto, à produção, distribuição e consumo de bens e de serviços, organizados a partir de uma estratégia mundial. Ela corresponde a um nível e complexidade da histórica econômica no qual as partes, antes internacionais, se fundem agora numa mesma síntese: o mercado mundial (ORTIZ, 2003, p.15-16).

Sassen (1998) aponta que, apesar da existência de um sistema econômico internacional não ser recente, a situação atual é distinta por duas razões principais. Primeiramente, a própria formação dos mercados globais, decorrente tanto da

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radicalização do processo de fusão e aquisição entre diferentes capitais (HARVEY, 1991), como da unificação dos sistemas técnicos (SANTOS, 2013). Em segundo lugar, a globalização marca a articulação de espaços transnacionais, localizados em territórios controlados por Estados-Nação soberanos, porém estruturados pelos investimentos estrangeiros diretos e especializados no atendimento às demandas dos mercados globais (SASSEN, 1998). É desde essa perspectiva que a autora apresenta o transnacionalismo como aporte teórico fundamental da globalização: um enfoque que ressalta tanto a importância do lugar, de suas raízes históricas e da formação de diferentes vínculos transnacionais, como as redes de articulação política primordiais à inserção global (SASSEN, 1998).

A lógica de funcionamento dos mercados globais, combinado à hegemonia do capital financeiro (SASSEN, 1998), conduzem à reorganização das escalas de poder, com a emergência de novos atores (BRANDÃO, 2007). Esse processo ocorre conjuntamente à redefinição do papel do Estado e das políticas públicas que viabilizam a acumulação de capital (HERÉDIA et al, 2010). De acordo com Brandão (2007), a especulação financeira e elevação dos juros internacionais estrangularam a capacidade de iniciativa das instituições públicas, reforçando a centralidade da iniciativa privada (em especial, do capital transnacional) no financiamento do processo de modernização.

A crise do Estado, somado ao encarecimento do processo produtivo, alimentaram o poder hegemônico das empresas globalizadas. Sob a ação desses atores, muda-se as “regras do jogo”, baixa-se fronteiras, elimina-se quaisquer “obstáculos à circulação do dinheiro" (SANTOS, 2013, p.31). Nesse contexto, verifica-se o reforço das interações entre o global e o local. “De um lado, a hiperescala da circulação do capital e das informações, e de outro, a hipoescala da localidade, onde se estabelece as relações de produção” (DINIZ, 2003, p.102).

Ao discutir como as relações de produção globalizadas estão emaranhas no lugar, Sassen (1998) afirma que os espaços transnacionais não apresentam uma forma urbana necessária, sendo bastante heterogêneos entre si. Valendo-se das características herdadas, o capital globalizado seleciona lugares, inserindo-os desigualmente na “cadeia de produção de finanças” (SASSEN, 1998, p.70). Desse modo, os espaços transnacionais não podem ser entendidos apenas como lugares que competem entre si por investimentos. Representam, além disso, partes de uma rede de múltiplas localizações e funcionalidades, que revelam a variedade das formas de inserção nos mercados globais e os diversos vínculos entre o capital financeiro e outras frações de

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capital, como o mercantil, o agrário, o industrial, transnacionais ou não, (BRANDÃO, 2007). Cada espaço transnacional remete a raízes históricas específicas, refletem necessidades locacionais que lhes são particulares (SASSEN, 1998).

Os estudos de Sassen (1998, p.47) apontam o nascimento de “um novo tipo de sistema urbano” entre os distintos espaços transnacionais, uma nova hierarquia entre as cidades, que opera níveis regionais e globais. Formada pela ligação imediata entre o lugar e o mercado global, as redes urbanas globalizadas destacam-se pela não necessidade de contiguidade espacial, pelas verticalidades e solidariedades organizacionais que rompem o caráter orgânico, territorialmente compartilhado, dos sistemas de cooperação e controle anteriores (SANTOS, 2013). É no âmbito desse circuito que o fluxo de capital e trabalho tende a ser frenético, com o fortalecimento de “pólos de crescimento [populacionais e econômicos] situados fora das grandes aglomerações” tradicionais (SASSEN, 1998, p.56).

Tais frentes de expansão podem integrar tanto cidades de grande e médio porte, quanto micro municípios, uma vez que “há compridas cadeias de subcontratação que ligam os trabalhadores das pequenas localidades os mercados globais” (SASSEN, 1998, p.56). A inserção nas redes urbanas transnacionais não depende, portanto, do tamanho das cidades, de sua função na hierarquia regional (SASSEN, 1998; SANTOS, 2013). Ao atravessar as hierarquias tradicionais, a ação das corporações multinacionais rompe com a clássica diferenciação entre países e regiões ricas e pobres, impondo a multidirecionalidade dos fluxos (SANTOS, 1993). Com a globalização, mesmo as cidades de igual tamanho e função, em nível regional e nacional, podem estar inseridas de modo completamente distinto nos mercados locais, nacionais e globais. Assim,

[…] as categorias consideradas homólogas, os níveis tidos como paralelos, são cada vez mais diferenciados entre si. Há, pois, diferenciação extrema entre tipos urbanos. Houve um tempo em que se podia tratar a rede urbana como uma entidade onde as cidades se relacionavam segundo uma hierarquia de tamanho e de funções. Esse tempo passou. Hoje, cada cidade é diferente da outra, não importa o seu tamanho (SANTOS, 1993, p.53).

Os “vetores de integração hierárquica” (SANTOS, 1993, p.51), regulados à distância, reforçam a especialização produtiva, desencadeando mecanismos de desencaixe (GIDDENS, 1991) em nível local e a fragmentação do espaço (SANTOS, 2013). “Nessas condições, o que globaliza separa” (SANTOS, 2013, p.33). A impulsão característica dos sistemas técnicos provenientes dos mercados globais, “vinda de uma só fonte”, rompe com o caráter horizontal de diferenciação socioespacial do trabalho

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(SANTOS, 2013, p.118). A pressão exercida pelas corporações multinacionais, em um contexto de crise do Estado, acaba “por mudar as regras do jogo da economia e da sociedade” (SANTOS, 1993, p.51). Sob influência desses grupos, o espaço é “submetido a tensões muito mais numerosas e profundas, pulsações que, vindas de grandes firmas, se impõe sobre o território, levando a mudanças rápidas e brutais dos sistemas territoriais em que se inserem” (SANTOS, 1993, p.51). Inicia-se, assim, o processo de urbanização corporativa (SANTOS, 1993) através do qual a modernização do espaço e a instalação do meio técnico-científico e informacional é cada vez mais dependente dos financiamentos privados.

Sassen (1998) também pontua a tendência à fragmentação do território ao discutir os espaços transnacionais como lugares especializados no atendimento das demandas globais, em detrimento das necessidades internas das cidades que integram. Segundo a autora, a inserção global é acompanhada de um enfraquecimento dos vínculos regionais e nacionais, criando novas formas de desigualdade, distintas das existentes até então por resultarem da “implantação de uma dinâmica global” (SASSEN, 1998, p.56). As implicações socioespaciais dos processos de globalização condizem, assim, ao aumento da “separação ou desarticulação entre as cidades e setores existentes nessas cidades que se articulam com a economia global e os setores em que isso não ocorre” (SASSEN, 1998, p.56), impondo um desafio fundamental aos estudos sobre desenvolvimento regional: a reconfiguração da relação entre crescimento econômico e adensamento do sistema urbano.

No período nacional desenvolvimentista (1950/1970), a integração entre diversos setores da produção demandava uma complementaridade também do ponto de vista espacial, com reforço à tendência de concentração econômico-populacional e à conurbação urbana, tanto em regiões metropolitanas como em outros tipos de aglomerações (SANTOS, 2013; BAENINGER, 1997). Na globalização, o maior impulso à desintegração das empresas (cisão espacial entre gestão e produção, terceirizações e outras formas de subcontratação), somada à inovação tecnológica, condicionam circuitos espaciais produtivos cada vez mais dilatados (SANTOS, 2013). Esse processo, conjuntamente à escassa territorialidade dos atores globais (REBORATTI, 2003), reconfiguram as dinâmicas fordistas de produção do espaço (MOURA, 2009; SANTOS, 2013; REBORATTI, 2003; RIBEIRO, 2009).

Com uma estratégia de atuação voltada à valorização do capital financeiro globalizado e à menor materialização possível de qualquer tipo de fluxo, a ação das

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empresas transnacionais cria espacialidades que se destacam pela maior fluidez e efemeridade (REBORATTI, 2003). Embora tendam a apresentar onipresença territorial, o dinamismo gerado por esses processos de globalização, apoiado nos custos relativos de sua instalação, apresenta baixo nível de inversão em infraestrutura (BRANDÃO, 2007; REBORATTI, 2003). Ademais, a dotação tecnológica dessas corporações reduz significativamente o número de postos de trabalho criados e, sobretudo as empresas ligadas à produção agrícola, um grande número de trabalhos temporários (REBORATTI, 2003).

Nesse sentido, as empresas globais apresentam uma dinâmica espacial que, apesar de conter uma certa dimensão territorial, porque exploram recursos de áreas concretas, é também desterritorial pelo não compromisso com o lugar (REBORATTI, 2003). Por conformarem cadeias de valorização muito mais amplas que a região e muito mais alinhas à acumulação financeira em escala global (SANTOS, 2013; SASSEN, 1998), para esses atores, a fixação no território é uma limitação, antes que uma necessidade. Sem incorrer em critérios de semelhança e contiguidade, a espacialidade das dinâmicas globais “não delimita ‘regiões’, mas sobretudo ‘desfaz’ fronteiras territoriais, transborda limites” (BRANDÃO, 2007, p.71).

Ao discutir as espacialidades criadas no bojo de atuação das empresas transnacionais, Reboratti (2003) apresenta o conceito de territórios da globalização: amálgama de formas e funções cambiantes e privadas. Cambiantes porque guiadas por uma lógica não territorial. Privadas porque tentam, por todos os meios, excluir o Estado de suas decisões estratégicas. Distante do conceito tradicional de região – um espaço contíguo, organizado por redes funcionais hierárquicas – o autor propõe a reflexão dos territórios da globalização como nós, partes e franjas de territórios concretos, unidos por um sistema de fluxos que deixa um grande espaço intersticial de territórios excluídos (REBORATTI, 2003). Os nós correspondem a localizações concretas de empresas, enquanto suas franjas representam espaços concretos mais desarticulados, que ora inserem-se no mercado global, ora são excluídos, não por causas intrínsecas, mas por lógicas externas que regem todo o sistema (REBORATTI, 2003).

Já os espaços da globalização (SANTOS, 2013; SANTOS, 1993) remetem à aceleração do processo de urbanização causada pela maior espessura do sistema urbano. Essa densidade é produzida pelo uso intensivo da ciência, tecnologia e informação na construção do território, criando as condições para uma mais complexa divisão social do trabalho. De acordo com Santos (2013), esses espaços são costurados por uma

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