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UMA LEITURA SIMBÓLICA DO ESPÍRITO EMPREENDEDOR

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Dado Salem

UMA LEI TURA SI MBÓLI CA DO

ESPÍ RI TO EMPREEN DEDOR

Mestrado em Psicologia Clínica

PONTI FÍ CI A UNI VERSI DADE CATÓLI CA DE SÃO PAULO

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Dado Salem

UMA LEI TURA SI MBÓLI CA DO

ESPÍ RI TO EMPREEN DEDOR

Dissert ação apresent ada à Banca Exam inadora da Pont ifícia Universidade Católica de São Paulo, com o exigência parcial para obt enção do t ít ulo de m est re em Psicologia Clínica, sob a orient ação da Professora Dout ora Liliana Liviano Wahba.

PONTI FÍ CI A UNI VERSI DADE CATÓLI CA DE SÃO PAULO

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AGRADECI M EN TOS

Est e est udo é o result ado de um proj eto iniciado no ano 2000 para conclusão de um curso de especialização em psicologia. Desde ent ão, m uit as pessoas, de um a form a ou de out ra, m e aj udaram nesse processo. Dent re elas eu dest acaria, em prim eiro lugar, m eus professores da PUC, Durval Faria, Maria Rut h Pereira, Heloisa Gallan, Noely Moraes, Marion Gallbach, Albert o P. Lim a F° , Denise Ram os e Ceres Araúj o.

Agradeço t am bém Eliane I ankelevich e Carlos Byingt on por t erem m e aj udado a viver na prát ica as t eorias que aprendi.

A I raci Galiás, José Ernesto Bologna e Boris Frenk, agradeço a oport unidade de part icipar de t rabalhos que foram , e t êm sido, m uit o im port antes para m inha form ação profissional.

A Vikt or Salis agradeço a aj uda na leit ura e na int erpret ação das principais obras da cult ura grega pois, sem esse conhecim ent o, não seria possível fazer um a leit ura adequada da obra de Cam ões.

Aos m eus queridos colegas e am igos, Lury Yoshikawa, Reinalda Malt a, Luisa Oliveira, João Bezinelli, Marilena Arm ando, Ligia Bonini, Lygia Molineiro, Marisa Penna, Márcia Baptista e Maria Lucia Ferreira, agradeço t udo o que m e ensinaram e, principalm ent e, a alegria de com part ilhar m om ent os t ão especiais.

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RESUMO

SALEM, Dado. Um a leit ura sim bólica do espírit o em preendedor. São Paulo, 2006. Orient adora: Dra. Liliana Liviano Wahba.

Palavras- chave: em preendedor, em presas, Os Lusíadas, psicologia analít ica, individuação, vocação.

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ABSTRACT

SALEM, Dado: A sym bolic reading of t he ent repreneurial spirit. São Paulo, 2006. Tut or: Dra. Liliana Liviano Wahba.

Key- words: Entrepreneur, businesses, The Lusiads, analytical psychology, individuat ion, vocat ion.

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Musas Piérias que gloriais com vossos cantos, vinde! Dizei Zeus vosso pai hineando.

Por ele m ort ais igualm ente desafam ados e afam ados, notos e ignotos são, por graça do grande Zeus. Pois fácil torna forte e fácil o forte enfraquece, fácil o brilhante obscurece e o obscuro abrilhanta, fácil o oblíquo aprum a e o arrogante verga

Zeus alt issonant e que alt íssim os palácios habit a.

Ouve, vê, com preende e com j ustiça endireita sentenças Tu! Eu [ ...] verdades quero cont ar.

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Sum ário

1. I ntrodução ... 1

2. Obj etivo ... 8

3. Estudos pesquisados ... 9

4. O em preendedor capitalista ... 12

4.1 Etim ologia ... 12

4.2 Perspectivas sobre o em preendedor ... 13

4.3 O em preendedor e a política econôm ica capitalista ... 16

4.4 Caracterização do em preendedor capitalista ... 19

4.5 Motivação para criação de novas em presas ... 29

5. Os poetas e a leitura da realidade ... 34

6. Psicologia analítica e o sím bolo do herói ... 41

6.1 O herói ... 41

6.1.1 O herói na Grécia arcaica ... 42

6.1.2 O herói em Cam pbell ... 46

6.2 O processo de individuação ... 49

7. Análise d’Os Lusíadas ... 57

7.1 Leitura de Cam ões ... 57

7.2 I ntrodução a'Os Lusíadas ... 60

7.3 Plano geral do texto ... 62

7.4 Os Lusíadas e a j ornada do herói ... 64

7.5 O significado sim bólico da viagem ao Oriente ... 68

7.6 Análise da obra ... 70

7.6.1 A partida ... 70

7.6.2 O gigante Adam astor ... 77

7.6.3 O cam inho de provas e a interferência divina ... 86

7.6.4 Chegada ao Oriente ... 100

7.6.5 O retorno - a ilha dos am ores ... 118

7.7 Apanhado geral ... 135

8. Discussão ... 138

9. Considerações finais ... 167

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1 . I nt rodução

Desde pequeno fui ensinado a ser dono de m eu próprio dest ino. Fui ensinado que o bom na vida era ser independent e, de pai, de pat rão, de governo ou de qualquer out ra coisa. Fui ensinado desde cedo a ser

um self m ade m an e segui essa idéia ao pé da let ra. Saí

frenet icam ent e ao t rabalho. Aos 14 j á t inha um pequeno negócio. Aos 18 ent rei no m ercado financeiro. Aos 22 est ava m orando sozinho pagando m inhas próprias cont as. Aos 27 j á t inha um pequeno grupo de em presas e aos 28 um a nam orada m e disse: “ Dado, acho que você precisa fazer análise” . Ela estava certa!

O obj et ivo desse est udo é com preender esse m it o. O m it o do herói cont em porâneo, o m it o do self m ade m an, do hom em realizador, o m it o do em preendedor.

Com o passar do t em po aprendi algum as lições e a m elhor delas foi que conseguim os enxergar m elhor as coisas quando nos afast am os das suas aparências. Talvez t enha sido o espírit o do m ít ico, cego e sábio Tirésias, expresso em todos os m eus grandes m estres, especialm ente os psicólogos, os filósofos e os poetas, que m e ensinou a ver assim . Por isso, decidi buscar a respost a para essa indagação dent ro da psicologia e especialm ent e no núcleo de est udos j unguianos, a quem devo m uit o e espero poder retribuir com essa reflexão.

Esse est udo t em um vínculo indissolúvel com a hist ória da m inha vida, assim com o o pequeno cont o com que Borges encerra seu livro

O Fazedor:

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de navios, de ilhas, de peixes, de casas, de inst rum ent os, de ast ros, de cavalos e de pessoas. Pouco ant es de m orrer, descobre que esse pacient e labirint o de linhas t em a im agem de seu rost o. ( BORGES, 1999, p.128) .

Essa visão faz lem brar a vivência dos alquim istas, que proj etavam seus cont eúdos aním icos na subst ância sobre a qual t rabalhavam ( JUNG 1994) . Para eles, o indivíduo som ent e seria capaz de fazer algo análogo a si m esm o, ou sej a, se não houvesse sem elhança profunda entre o autor e sua obra, a m et a não seria alcançada. Com o disse Cam pbell ( 1949, p.29) , “ antes que um a coisa possa ser feita na t erra, essa out ra coisa, m ais im port ant e e prim ária, t eve de passar pelo labirinto que todos conhecem os e visitam os nos nossos sonhos” , o inconscient e.

Na ant iguidade, os gregos, profundos conhecedores da psique hum ana, diziam que a nossa vida era regida por deuses. Na m odernidade, Freud descobriu que a vida racional não corre livrem ent e, que pensam entos, sentim ent os, vont ades, decisões e ações não pert encem unicam ent e à consciência, m as brot am , na m aioria das vezes, das profundezas do inconscient e ( ZWEI G, 1947, p.77) . Jung, post eriorm ent e, se aproxim ou dos conhecim ent os m ilenares e am pliou a quest ão levant ada por Freud. Dem onst rou que aqueles deuses da ant iguidade est ão vivos na psique, ou sej a, que além de m em órias pessoais, est ão gravadas no nosso inconscient e im agens prim ordiais às quais cham ou de arquétipos, e que esta cam ada m ais profunda igualm ent e influencia o indivíduo e conduz suas ações. ( JUNG, 2003) .

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de que cont eúdos inconscient es, produzem efeit os em pensam ent os e ações, t ant o nas pessoas sadias com o nas m ent alm ent e enferm as.

Essa im port ant e cont ribuição da psicologia parece não ter sido considerada no m undo em presarial. Gest ores de negócios, t ão preocupados na sua necessária caça ao lucro, acabaram ficando cegos a essas influências em suas at ividades. Cost um am ent ender, de acordo com o espírit o de nossa época, que só é verdadeiro aquilo que pode ser acessado pelos sent idos, o resto tratam com o ilusão. Valorizam a obj et ividade e a racionalidade, pressupondo que elas constituem a realidade últim a e confiam que a int eligência e a razão podem cont rolar sozinhas as principais variáveis que influenciam seus em preendim ent os. Est udiosos da psicologia analít ica, cient es do funcionam ent o da psique e das forças irracionais e ilógicas que at uam na vida hum ana, considerariam essa idéia algo ingênua, pois, para Jung ( 2000, par.385) , a relat ividade da consciência é um a const ant e: “ ent re o ‘eu faço’ e o ‘eu estou conscient e daquilo que faço’ há não só um a dist ância im ensa, m as algum as vezes até m esm o um a cont radição abert a” .

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A apreciação da psique inconscient e com o font e de conhecim ent o não é, de form a nenhum a, t ão ilusória com o nosso racionalism o ocident al pret ende. Nossa t endência é supor que qualquer conhecim ent o provém , em últ im a análise, do ext erior. Mas hoj e sabem os com cert eza que o inconscient e possui cont eúdos que, se pudessem t ornar- se conscient es, const it uiriam um aum ent o im enso de conhecim ento. ( JUNG, 2000, par.673) .

Por m ais est ranho que possa parecer para um m undo tão habit uado com um a visão racional e obj et iva quando se fala a respeit o de em preendim ent os, a psicologia analít ica e as art es est ão ai para com provar que um a viagem pelo universo sim bólico pode abrir novas perspect ivas concret as a respeit o desse t em a. Cassirrer ( 1997) e Eliade ( 1996) , por exem plo, afirm am que as art es e a linguagem sim bólica são m ais eficient es que out ros m eios para se chegar a níveis profundos de realidade. Jung ( 1991b) , t am bém garant e que o poet a confere um grau superior de clareza aos t em as que aborda e outros, com o verem os adiante, consideram os poet as com o aqueles que m ost ram a face verdadeira das coisas.

Exist em inúm eros casos em presariais relatados por adm inistradores de em presas. Eles podem ser encont rados aos m ilhares em livros e revist as de negócios que enchem as prat eleiras de livrarias e bancas de j ornal. Ocorre que um dos m aiores em preendim ent os da hist ória da hum anidade foi m agist ralm ent e ret rat ado por Luis de Cam ões.

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Apesar da escassa base docum ent al a respeit o de sua vida e de sua biografia t er sido t om ada por lendas, sabe- se que Cam ões era profundo conhecedor de m it ologia, lit erat ura, hist ória, geografia e ast ronom ia. Foi t am bém soldado, m as não do t ipo que ficava aquart elado em funções adm inist rat ivas, sim plesm ent e para at ender às at ribuições ideais do hom em daquele t em po. Sua profissão foi vivida no cam po de batalha. Além disso, Cam ões conheceu pessoalm ent e a rota naval do Oriente, onde m orou part e de sua vida, e part icipou at ivam ent e da exploração com ercial pat rulhando o m ar verm elho e post eriorm ent e ocupando a bizarra posição de "provedor-m or dos defuntos nas partes da China” . ( CASTRO, 2003) .

O texto d’Os Lusíadas narra a hist ória da expansão do im pério lusit ano na busca de um novo cam inho para as Í ndias, de onde os port ugueses trariam m ercadorias para serem com ercializadas na Europa. O que buscavam era considerado puro ouro com est ível - as especiarias. Com o naquela época não havia m ét odos eficient es de conservação dos alim ent os, esses t em peros eram ut ilizados para retardar o processo de deterioração e para disfarçar o gost o de apodrecim ento dos produtos. Por isso, consideravam que as especiarias renderiam fort una e poder a quem conseguisse obt ê- las em grande quant idade. Acont ece que os árabes not aram os extraordinários ganhos obtidos pelos europeus com o transport e dessas m ercadorias por suas terras e decidiram ent rar no negócio. A est rat égia foi sim ples: com o estavam no m eio do cam inho, fecharam a passagem do Mar Verm elho para navios crist ãos. Em pouco t em po controlaram o com ércio com o Oriente.

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Port ugal, com Bart olom eu Dias e Vasco da Gam a navegaram para o Sul, os espanhóis convocaram Colom bo e rum aram a Oest e. Houve at é quem navegasse para o Nort e.

Mares nunca ant es navegados, cheios de perigos e m edos, piratas, t raidores, guerras, host ilidades, doenças, calm arias e t em pest ades. O percurso era t ão perigoso que quando um a nave chegava sã e salva de volt a a Lisboa, se t ornava um event o nacional. Em alguns anos nenhum a nave ret ornava. Ent re os séculos 16 e 18 cerca de 3.000 em barcações naufragaram na rota entre a Europa e o Extrem o-Orient e ( SOURCOUF GROUP, 2003) .

Os Lusíadas é o relat o de um em preendim ent o não vist o por

conceit os gerenciais, econôm icos, históricos ou polít icos. Trat a- se do olhar de um art ista, que com unica aquilo que est á diant e de nós e não conseguim os enxergar. É um t ext o, com o verem os adiant e, que t raz em seu cont eúdo um a lição at em poral a respeit o dessa força dinâm ica de realização, que cham am os de “ espírit o em preendedor” .

O obj et ivo desse est udo é t ent ar com preender, com o auxílio da visão de Cam ões e dos fundam ent os da psicologia analít ica, o sent ido profundo da at it ude em preendedora, daí o t ít ulo Um a Leit ura

Sim bólica do Espírit o Em preendedor. Est e t rabalho vem preencher

um a lacuna pois, os est udos feit os sobre esse t em a geralm ent e abordam o perfil psicológico, o com port am ent o dos em preendedores, suas prát icas gerenciais, m ot ivações, o t reinam ent o e as polít icas de fom ent o para o desenvolvim ent o de em preendedores, m as deixam de lado um a quest ão de grande im port ância: a individuação.

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política econôm ica capit alist a, por alguns dos principais est udos j á produzidos sobre o assunt o, por um a tentativa de caracterização e, t am bém pela ident ificação das principais m ot ivações que levam alguém a em preender.

Em seguida, é feit a um a breve explanação a respeit o dos poet as revelando seu papel na ant iguidade e a form a com que enxergavam a realidade. Depois disso, são analisados a figura do herói e o processo de individuação j unguiano.

A obra de Cam ões é introduzida com a exposição de algum as leituras de cam onistas e com a indicação de alguns est udos consult ados. Posteriorm ente, são feitas observações sobre o contexto histórico em que a obra foi escrit a, algum as curiosidades do texto e é apresentado um breve resum o da obra.

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2 . Obj et ivo

O obj et ivo dest a dissert ação é invest igar, por m eio d’Os Lusíadas, o significado sim bólico do “ espírit o em preendedor” .

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3 . Est udos pesquisados

Não foram encont radas pesquisas que relacionassem a obra cam oniana e a psicologia analít ica. Tam bém não foram encont rados est udos sobre o em preendedor com base n’Os Lusíadas.

Quant o aos est udos da psicologia que t rat am de quest ões ligadas às em presas, pode- se verificar que cost um am abordar alguns t em as recorrentes:

Assuntos Assuntos

1 Saúde e qualidade de vida 20,0% 1 Cultura, ambiente e motivação 22,9%

2 Perfil e comportamento 12,8% 2 Práticas gerenciais 17,2%

3 Crises, mudanças e sucessões 9,7% 3 Perfil e comportamento 13,5% 4 Treinamento e seleção 8,7% 4 Psicologia do consumidor 9,4%

5 Práticas gerenciais 8,2% 5 Saúde e qualidade de vida 6,8%

6 Relações interpessoais 8,2% 6 Liderança 5,7%

7 Psicologia do consumidor 7,7% 7 Desenvolvimento humano 5,7% 8 Cultura, ambiente e motivação 6,2% 8 Treinamento e seleção 4,7%

9 Atuação do psicólogo 5,6% 9 Relações interpessoais 4,7%

10 Desenvolvimento humano 4,1% 10 Políticas de remuneração 2,6%

11 Outros 7,2% 11 Outros 6,8%

Banco de teses Capes Emerald (Electronic Management Research Library Database)

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An I nvest igat ion of Mot ivat ional Fact ors I nfluencing Perform ance

( ROCH, 2005) e, High Perform ance Organizat ions: Creat ing a Culture

of Agreem ent ( LEVI NE, 2006) , são est udos que exprim em a atenção

dedicada ao result ado da at ividade econôm ica em pesquisas ligadas à psicologia. I nt uit ion in Managers: Are I nt uit ive Managers m ore

Effective? ( ANDERSEN, 2000) , ilust ra t am bém esse aspect o quando a

pesquisa se refere a conceit os da psicologia analít ica. Est e est udo, feit o com m ais de 200 adm inist radores, sugere que o est ilo int uit ivo na tom ada de decisão parece estar relacionado à eficiência.

Quando observam os as pesquisas feitas no Brasil, os tít ulos A relação

de aj uda no contexto organizacional ( PEREI RA, 1992) , Qualidade de

vida no t rabalho: cont ribuições ao papel do psicólogo organizacional

( TANNHAUSER, 1994) e Const rução de ident idade num a em presa em

transform ação ( BRESSANE, 2000) , de cert a form a, exem plificam a

t em át ica encont rada em t errit ório nacional. I sso não quer dizer que aqui não exist am t rabalhos que t enham com o m et a a eficiência organizacional. A t ese de Lessa ( 2002) , por exem plo, Cooperação e com plem ent aridade em equipes de t rabalho: est udo com t ipos

psicológicos de Jung, visa o desenvolvim ent o de equipes. O que

parece ocorrer é que, no Brasil, esse t ipo de t rabalho é m inoria enquant o no ext erior, m aioria.

Quando procuram os t rabalhos que cruzam poesia ou arte com em presas verificam os, tanto no Brasil quanto no exterior, que est ão relacionadas com o desem penho econôm ico ou organizacional.

Solving Business Problem s Through the Creative Power of the Arts:

Cat alyzing Change at Unilever ( BOYLE; OTTENSMEYER, 2005) , por

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perspect iva, Ent repreneurs: t he Art ists of the Business World ( DAUM, 2005) , apresenta um a correlação entre o treinam ento artístico e o de em preendedores e sugere que em presários busquem as art es para o desenvolvim ent o de pot enciais. Em O bobo da cort e avisa ao rei que ele est á nu – um est udo de caso sobre o uso do t eat ro nas

organizações, Gonçaves ( 1999) busca, por m eio de t écnicas das art es

cênicas, m elhorar a com unicação ent re os funcionários de em presas visando o desenvolvim ento pessoal e da organização.

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4 . O em preendedor capit alist a

4 .1 Et im ologia

Segundo Swedberg ( 2000) , no final da I dade Média, um a pessoa criat iva e realizadora era cham ada de ent repreneur. Post eriorm ent e, os ingleses adotaram esse term o francês para designar os indivíduos que cont rolam e assum em os riscos de um negócio. Em port uguês ele foi t raduzido com o em preendedor.

A palavra ent repreneur, segundo o Trésor de la Langue Française, é com posta por ent re e prendre. Ent re t em t ant o sent ido de local quant o de int ervalo, ent re duas coisas, ou sej a, dent ro. Prendre quer dizer pegar. Mas esse pegar, não é apenas ter em m ãos, possuir, m as t am bém adquirir um conhecim ent o. No lat im prehendere, igualm ent e, além de significar segurar, quer dizer chegar a algum

lugar, aprender e com preender. ( PORTO, 2001) .

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A constatação de que a palavra em preendedor carrega, ocult am ent e, na raiz de seu significado, a busca de um a essência, é bastant e reveladora para esse estudo, com o verem os adiante.

4 .2 Perspect ivas sobre o em preendedor

Swedberg ( 2000) , professor de sociologia econôm ica da Universidade de Est ocolm o, fez um est udo aprofundado sobre a lit erat ura a respeit o do em preendedor. Em seu livro Ent repreneurship, Swedberg com ent a que os principais econom ist as, curiosam ent e, pouco escreveram a respeit o da figura do em preendedor. A explicação que o aut or encont rou para isso foi a dificuldade de inserir o em preendedorism o em m odelos econôm icos. O único dos grandes econom ist as que cent rou suas invest igações em t orno do em preendedor foi Schum peter em A t eoria do desenvolvim ent o

econôm ico. Nest a obra, o em preendedor é considerado o principal

agent e de t ransform ação no cenário econôm ico e social. É responsável pela int rodução de novos produt os e serviços, novos m ét odos de produção, abert ura de m ercados, desenvolvim ent o de m at eriais, e a criação de novas indúst rias. Além disso, com o verem os adiant e, Schum pet er ent ende que os em preendedores são m ot ivados pela vont ade de conquist a, pelo sonho de fundar um reino privado e pelo prazer de criar.

Nos estudos disponíveis no Em erald ( edit or de m ais de 160 j ournals

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1. educação e t reinam ent o, que buscam o desenvolvim ent o de m ét odos para ensinar indivíduos a se t ornarem em preendedores;

2. perfil psicológico e com port am ento, que procuram ident ificar caract eríst icas psicológicas e at it udes dos indivíduos considerados em preendedores;

3. prát icas gerenciais, que investigam as t écnicas de gest ão ut ilizadas pelos em preendedores.

Foi verificada um a diferença ao com parar os trabalhos feitos no ext erior e no Brasil. No Capes, além desses t rês t ópicos, const at am os que a m aior incidência das pesquisas t em com o assunt o o que denom inam os de

4. políticas de fom ent o e desenvolvim ento, cuj o obj et ivo central é ident ificar o papel do em preendedor no desenvolvim ent o econôm ico e encont rar alt ernat ivas para o est ím ulo da at ividade em preendedora com o form a de solucionar problem as sociais.

Acreditam os que isso deva ocorrer pelo fat o do Brasil ser considerado, na ót ica capit alist a, um país subdesenvolvido e, com o verem os a seguir, a at it ude em preendedora foi reconhecida com o um dos principais fat ores para o desenvolvim ent o de um a econom ia.

Se os econom istas, conform e apont ou Swedberg, encont raram dificuldades para t rabalhar com o em preendedor, os sociólogos, por sua vez, fizeram im port ant es cont ribuições para o t em a. Max Weber publicou em 1920 um “ m onum ento” cham ado A Ét ica Prot est ant e e o

Espírit o do Capit alism o, que foi considerado para a sociologia o que A

Origem das Espécies ( Darwin) foi para a biologia, e A I nt erpret ação

dos Sonhos ( Freud) foi para a psicologia. Nessa obra, Weber apont a

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ganho passou a ser um a finalidade de vida e não m ais um sim ples m eio de sat isfazer as necessidades m at eriais do ser hum ano. Em outras palavras, o ser hum ano passou a existir para o negócio e não o negócio para o ser hum ano.

Weber dem onst rou com o a ét ica prot est ant e propiciou um a visão posit iva do enriquecim ent o. A part ir de Lutero, com a valorização da vida int ram undana, a profissão com eçou a ser vist a com o um desígnio divino e o indivíduo deveria cum prir sua m issão com o um serviço ao cosm o social. Se Deus atua em todas as circunstâncias da vida, um a oport unidade de lucro é t am bém obra Sua. Cabe, portant o, ao suj eito de fé, aproveitar essa oport unidade divina. Dest a form a, o sucesso no t rabalho passou a ser um sinal da benção de Deus.

No ent ant o, se por um lado a ét ica prot est ant e “ liberou” o enriquecim ent o e a am bição de lucro ao encará- los com o queridos por Deus, por outro lado rest ringiu o desperdício, a dilapidação e a im probidade. Não tendo o que fazer com o dinheiro, os em preendedores passaram a re- investir o lucro excedente e as em presas cresceram até as proporções at uais. Para Weber, a idéia da ascese na profissão criou um a poderosa engrenagem econôm ica que passou a exercer um a pressão avassaladora no est ilo de vida do hom em cont em porâneo. ( WEBER, 2005) .

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Prot est ante serem m ais desenvolvidos econom icam ent e que os Cat ólicos, confirm ando a t eoria de Weber. Além disso, fez um grande levant am ent o da lit erat ura de algum as civilizações e not ou que havia um a correlação entre a ênfase dada à “ necessidade de realização” e o desenvolvim ento econôm ico. Nas culturas grega, espanhola e inglesa, quant o m ais esse t em a aparecia na lit erat ura, m aior era o crescim ento econôm ico e, inversam ent e, quando ele dim inuía acont ecia um período de decadência econôm ica e social. ( McCLELLAND, 1967) .

O t rabalho do sociólogo Robert Mert on ( 2002) , professor em érit o da Colum bia Universit y, publicado em seu livro Teoria e estrutura social, levant a um aspecto social im portant e diret am ent e vinculado às duas obras que acabam os de m encionar: a cult ura nort e- am ericana cont em porânea dá grande im port ância à riqueza com o sím bolo fundam ental de sucesso e realização pessoal, no entanto, não dedica a m esm a at enção às vias legít im as para se at ingir essa m et a cult ural. Essa dissociação, segundo Mert on, é geradora de anom ia ( ausência de regras, leis) e o que acaba sendo observado por t rás da fachada m oral das em presas é dificilm ente aquele ideal Protestante da riqueza vinculada à virt ude.

4 .3 O em preendedor e a polít ica econôm ica capit alist a

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40 m ilhões de em pregos. ( DRUCKER, 2003) . Em 1970 as ‘Fort une 500’ em pregavam cerca de 20% da força de t rabalho dos Est ados Unidos, em 1996 est a part icipação havia caído para 8,5% . ( GLOBAL ENTREPRENEURSHI P MONI TOR, 2001) .

Para avaliar a participação dos em preendedores independent es no processo econôm ico, foi feit a um a pesquisa em 29 países, prom ovida pela Organização das Nações Unidas ( ONU) e organizada pela London Business School. O relatório final ident ificou evidências conclusivas de que a at ividade em preendedora é o principal fat or para o desenvolvim ento econôm ico de um país. ( GLOBAL ENTREPRENEURSHI P MONI TOR, 2001) .

O Processo Em preendedor e Crescim ento Econôm ico

Contexto Social Político Cultur al Condições Econôm icas e Estru turais

- Financeiras

- Políticas governam entais - Program as governam entais - Educação e Treinam ento - Pesquisa Tecnológica - Com erciais e I nfra. Jurídica - Abertura do Mercado I nterno - Acesso a I nfraestrutura Física - Norm as Culturais e Sociais.

Oportunidad es para Em preender

Motivação e Habilid ades para Em preender

At ividade Em pr esar ial

Crescim ent o Econôm ico PIB

Geração de e m pregos

Fonte: Global Entrepreneurship Monitor 2001

At ent o à im port ância do espírit o em preendedor no desenvolvim ent o econôm ico, o governo britânico incluiu em seu docum ent o int it ulado

Our Com pet it ive Fut ure – Building t he Knowledge Driven Econom y,

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prom ovem o crescim ento e a geração de em pregos. Argum ent a ainda que em preendedores t êm senso de oport unidade e assum em riscos em m om ent os de incert eza para abrir novos m ercados, desenhar novos produtos e processos. O governo brit ânico, por acredit ar que esse espírit o é de sum a im port ância para o desenvolvim ent o do país, est á im plem ent ando um a série de program as para gerar as condições necessárias ao desenvolvim ento de novos em preendim entos. ( DEPARTMENT OF TRADE AND I NDUSTRY, 1998) .

Para o Banco I nt eram ericano de Desenvolvim ent o ( BI D) , organização criada para auxiliar o desenvolvim ent o social e econôm ico da Am érica Lat ina, que vem pesquisando o processo de criação de novos em preendim entos para orientar e priorizar ações governam entais, o em preendedorism o é um dos t em as que m erece at enção especial nos círculos políticos e universitários porque

novas em presas contribuem de form a significativa para o desenvolvim ent o econôm ico, m orm ent e nos países em desenvolvim ent o. Ao t er sucesso, os novos em presários criam em pregos, expandem segm entos de m ercado, aum entam a produção de bens e serviços e dinam izam a econom ia das com unidades onde operam . ( BI D, 2002, p.1) .

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4 .4 Caract erização do em preendedor capit alist a

O est udo da hist ória nos leva a presum ir que o prim eiro em preendedor, nos t erm os que hoj e conhecem os, t enha sido um guerreiro m edieval. Esses bravos e adm irados gladiadores eram oriundos de diversos segm ent os sociais. Tinham a m issão de defender a propriedade feudal e seus habit ant es. Eles eram prem iados com t erras, t ít ulos de nobreza e m uit as vezes com a m ão de adoráveis donzelas em m at rim ônio. Suas conquist as perm it iam a elevação de classe social, fato raro na I dade Média. Com o afirm a Hauser ( 2000, p.205) , “ príncipes e barões, condes e ricos- hom ens t inham sido out rora guerreiros” . A suposição de que a origem do em preendedor t em vínculos com a figura do guerreiro não é de se rej eitar, um a vez que no século XI I a palavra francesa ent repreneur

era designada t am bém a um suj eit o briguent o. ( DOLABELA, 1999) .

Os guerreiros, com o sabem os por m eio dos cant os Hom éricos, desde a ant iguidade represent aram aspectos heróicos e m it ológicos no im aginário hum ano. Sua essência, ligada ent re out ras coisas à ousadia, bravura, coragem , agressividade, força, dest reza, ast úcia, est rat égia, liderança, independência e à conquist a, era m at erial fért il para narrat ivas avent urosas cont adas, recont adas e fant asiadas com ent usiasm o. Para Benj am in ( 1985), os guerreiros sem pre foram pessoas ricas em experiências com unicáveis e se t ornaram excelent es narradores. Essa habilidade t ornava- os líderes de verdadeiros exércitos de seguidores dispostos a, j unto com eles, entregarem suas vidas por um a causa que os engrandecessem e pudessem com isso fazer part e desse rol de heróis im ortais.

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decência, a int egridade, o respeit o e a gent ileza para com as m ulheres e um a cert a indiferença com relação às oport unidades de lucro. ( HAUSER, 2000) . Um guerreiro nobre é capaz de ent regar sua vida e de um exércit o por um a causa, m as não faria com o m esm o entusiasm o se o obj etivo fosse o dinheiro. No ent ant o, exist iam os guerreiros corrom pidos, m ercenários, que invadiam brut alm ent e t errit órios alheios com vist as apenas nos lucros obt idos com as pilhagens.

Com o vim os, m uitos est udiosos do desenvolvim ento econôm ico reconheceram a im portância dos em preendedores com o ‘m ot ores da econom ia’, no ent ant o, poucos, por est ranho que pareça, se dedicaram a est udá- los. ( SWEDBERG, 2000) . “ Dent re todos os grandes econom ist as m odernos, som ent e Schum pet er abordou o em preendedor e o seu im pact o na econom ia” ( DRUCKER, 2003, p.18) . Em sua Teoria do Desenvolvim ento Econôm ico, ao invest igar esse personagem , Schum peter fez algum as observações que reforçam a suspeita de que o espírit o em preendedor t em ligações com características dos guerreiros m edievais. Nest a obra ele ident ificou três fatores que est im ulam a atuação do em preendedor. Argum ent a o aut or:

ant es de t udo, há o sonho e o desej o de fundar um reino privado, e com um ent e, [ ...] um a dinast ia. [ ...] O que pode ser alcançado pelo sucesso indust rial ou com ercial ainda é, para o hom em m oderno, a m elhor m aneira possível de se aproxim ar da nobreza m edieval ( SCHUMPETER, 1982, p.65)

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m edievos com o, o desej o pela nobreza, a lut a e a conquist a, além de um a certa indiferença com relação aos ganhos pecuniários. Vam os dar m ais alguns passos em nossa invest igação e logo adiant e encontrarem os o terceiro fat or percebido por ele.

O est udo da hist ória nos ensina t am bém que o ressurgim ent o das cidades foi ocasionado, em grande part e, pelos m ercadores que levavam produt os para serem vendidos ou t rocados em feiras m ontadas ao redor de igrej as ou castelos. Este outro tipo de em preendedor, não t ão fort e, com batent e, glorioso e cort ês, era, no entanto, extrem am ente ligeiro e espert o. Viaj ante por natureza, ele fazia a m ediação ent re produt ores e consum idores procurando oportunidades para com prar barato e vender caro os produt os que circulava com grande agilidade. Não t inha as habilidades t écnicas de um artesão nem a vocação para ficar horas a fio entretido com os det alhes da confecção de um art igo, no ent ant o, a nat ureza ext rovert ida fazia dele um hábil com unicador e negociador.

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Os negociantes, sobretudo, são os m ais sórdidos e est úpidos at ores da vida hum ana: não há coisa m ais vil do que a sua profissão [ ...] . São, em geral, perj uros, m ent irosos, ladrões, t rapaceiros, im post ores. No ent ant o, devido á sua riqueza, são tidos em grande consideração. ( ERASMO, 2001, p.91) .

O m ovim ento gerado pelos com erciantes nas cidades que se form avam , propiciou novas oportunidades de t rabalho fora dos dom ínios dos senhores feudais. Esses anim ados cent ros at raíam os agricultores descont ent es com a vida no cam po. Lá eles puderam encont rar novas possibilidades de vida usando suas habilidades e m uit os acabaram se t ornando art esãos.

A palavra art e, da qual deriva o vocábulo art esão, provém do lat im

ars que designava um a habilidade ou conhecim ent o t écnico adquirido at ravés do est udo ou da prát ica. O que ent endem os hoj e por arte tam bém não tinha term o específico em grego. Em seu lugar ut

ilizava-se t echné. Ferreiros, sapateiros e escultores eram t echnit és.

( DOBRÁNSZKI , 2002) .

Até o final da I dade Média, os ofícios que envolviam trabalhos m anuais não eram valorizados, m esm o a pint ura e a escult ura eram considerados t rabalhos rudes e vulgares. Os únicos que gozavam do respeito com o artistas eram os poet as. Os art esãos eram especialist as, verdadeiros engenheiros do desenvolvim ent o de m ét odos produt ivos para elaborar art efat os encom endados. Apenas no renascim ento com eçou a haver um a dist inção entre artistas e artesãos. Pintores e escultores foram elevados ao nível dos poet as, e os out ros seguiram a veia indust rial. ( HAUSER, 2000) .

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de pessoas habilidosas e fazedoras. Trat a- se da “ alegria de criar, de fazer coisas, ou sim plesm ente de exercitar a energia e a engenhosidade” . ( SCHUMPETER, 1982, p.65) .

Talvez a m elhor im agem para descrever esse t ipo de em preendedor é a do invent or. Quando pensam os nele, im ediatam ent e vêm em m ent e um suj eit o genial, int eligent e e criat ivo, m al pent eado e de óculos, t rancado horas e horas num a oficina cuj a organização só ele ent ende, repleta de ferram entas, instrum entos, soldas e restos de coisas desm ontadas. Lá ele fica criando coisas, a m aioria delas inút eis. No ent ant o, num a dada hora – EURECA! Sai ele excit ado com o um a criança com um brinquedo novo, com um produt o j am ais im aginado, pront o para ser pat ent eado e posteriorm ent e levado ao m ercado em escala indust rial. At ravés da figura do invent or, não é difícil not ar as afinidades, originais, ent re o indust rial e o art ist a. O invent or é o inovador, é o prim eiro a ter idéia de algum a coisa.

A inovação, ou a figura do invent or é um a caract erística tão preciosa e fundam ent al do em preendedor que o “ papa” da adm inist ração, Pet er Drucker, escreveu um livro cham ado I novação e espírit o

em preendedor, unicam ente para falar a respeito da im portância dest a

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Analisam os até agora 3 figuras que represent am o conj unt o de predicados, possivelm ent e originais e fundam ent ais, do espírit o em preendedor. Elas nos aj udarão a m apear as caract eríst icas essenciais desse indivíduo. Apenas recapitulando, são elas os guerreiros, os m ercadores e os artesãos. Vam os então dar um passo adiant e.

Quando est udam os econom ia aprendem os que ela gira em t orno de 4 grandes setores, além do Governo. São eles, Agricultura, Com ércio, I ndústria e Serviços. At é agora, ident ificam os a figura do em preendedor em dois deles: o m ercador com o figura cent ral do com ércio, e o art esão na raiz da indúst ria. A figura do guerreiro, com o j á vim os, é por natureza fundadora de reinos. O guerreiro pode não ser um gênio criador ou um espert o com erciant e, no ent ant o, ele possui os at ributos para ser o líder adm inist rador de est ados privados. As im agens da prosperidade do reino bem gerido e da decadência do que é m al cuidado são bast ant e conhecidas. Poderíam os dizer que a propriedade do guerreiro pode estar em qualquer um dos setores da econom ia. Podem os encont rá- lo chefiando em preendim ent os agrícolas, com erciais, indust riais ou de serviços. Falt a- nos, port ant o, descrever ainda o em preendedor agricultor e o prest ador de serviços.

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Desde que o hom em deixou o “ paraíso” , o que econom icam ente significa dizer: desde que deixou de viver das dádivas da nat ureza, passando de coletor e caçador para ser produtor de seus próprios alim ent os, ele com eçou a t rabalhar na lavoura e na criação de anim ais. As t ribos, originalm ent e nôm ades, passaram a se apegar ao lar e a desenvolver um estilo de vida com plet am ent e diferent e. O novo hom em passou a se organizar em grupos cooperativistas em penhados em m anter e preservar os m eios de produção, form ando cult uras bast ant e t radicionalist as. ( HAUSER, 2000) .

Da m esm a form a que a indust rialização, essa foi um a das m udanças m ais im portantes e profundas da hist ória da hum anidade. Um a das t ransform ações ocorreu porque no m esm o m om ento que o ser hum ano se viu dot ado de poderes sobre a nat ureza, not ou t am bém que sua sort e era regida por outros ainda m aiores, dos quais dependia im ensam ent e. Abundância ou escassez, fom e ou fart ura, bênçãos ou pragas, vinham de forças superiores ao controle hum ano. Esse out ro m undo, m aior, m ais pot ent e, m ist erioso e sobrenat ural passou a ser respeitado e reverenciado. Surgiu nesse m om ento o hom em religioso que se via dividido em duas m et ades, um a delas visível, corpórea, fenom ênica e out ra invisível, da alm a, dos espírit os e dos deuses. Para conhecer a nat ureza e prever seus m ovim ent os, o hom em precisou est udar o m undo divino. ( HAUSER, 2000) .

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essencial e básico, é o alim ent o para o sust ent o dele e da com unidade. O luxo nunca com binou com seu m undo.

Mas, não t eria sido a hist ória com o foi se o ser hum ano se cont ent asse apenas com o suficient e para seu sust ent o.

O m ais fort e t rabalhava m ais, o m ais espert o t irava m ais vant agem de sua t erra, o m ais habilidoso encont rava form as de abreviar o t rabalho [ ...] Assim , a desigualdade nat ural [ ...] m ultiplicada pelas das circunst âncias [ ...] com eçaram a influir, na m esm a proporção, sobre o dest ino dos part iculares. ( ROUSSEAU, 2002, p.22) .

Os sinais de riqueza, m edidos em t erras e rebanhos, e as diferenças ent re os que um dia haviam sido iguais, j á eram evident es, alguns j á eram ricos enquant o out ros m al t inham para viver. “ Quando as heranças aum ent aram em núm ero e ext ensão, a pont o de cobrir t odo o solo e encostarem um as nas outras, uns não podiam crescer m ais a não ser às cust as dos out ros” e assim aos pobres não rest ava alt ernat iva, “ foram obrigados a receber ou arrancar sua subsist ência das m ãos dos ricos” . ( ROUSSEAU, 2002, p.24) . Surgiram dessa form a as classes dom inantes, os servos, a violência e os guerreiros para defendê- los. I sso significa, com o j á sabem os, que o trabalho na t erra passava a ser feit o por prest adores de serviços – os servos.

Chegam os a um pont o im port ant e da nossa explanação: guerreiros, m ercadores e artesãos, que com o vim os, com põe a raiz do espírito em preendedor, possuem todos a m esm a origem servil. Servir significava t rabalhar com o servo. Servit iu, palavra lat ina de onde vem o vocábulo serviço, quer dizer escravidão e servu significa “ aquele que não dispõe de sua pessoa” , que foi feit o escravo ou que se vendeu por dinheiro.

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disso que se esperaria habitar sua alm a. O em preendedor é freqüentem ente caracterizado com o um indivíduo criativo, arroj ado, que t em vont ade de ser dono de seu próprio dest ino. Segundo essa visão, ele seria o com andant e, j am ais o com andado. Se servir pode ser vist o t am bém com o aj udar, auxiliar, ser oport uno, ser út il, prestativo, atencioso e proveitoso, o que se esperaria do em preendedor é j ustam ente que ele est ivesse recebendo esses serviços de alguém ao invés de prest á- los. No ent ant o, com um a visão fria e obj et iva, Ludwig von Mises, um dos líderes da escola austríaca do pensam ento econôm ico, considera o em preendedor j ust am ente um prest ador de serviços. Se por algum m ot ivo ele deixar de oferecer um bom produt o ou serviço, com o m enor cust o possível, poderá sofrer perdas e ser subst it uído por out ro que est iver at endendo m elhor o client e. Misses apont a ainda que t om ar decisões é a principal at ividade do em preendedor. A ele cabe dizer o quê fazer, com o fazer, onde, quant o e quando fazer. Se ele estiver corret o terá lucro, se por ventura ocorrer o contrário, ele deverá arcar com as conseqüências de seu equívoco, geralm ent e t raduzido com o prej uízo. ( MI SES, 1995) .

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m ovim entos da nat ureza ( ent enda- se hoj e m ercado) . Dele puxou t am bém do olho at ent o, o cuidado, a dedicação, a m anut enção e ainda a paciência, a perseverança e a sim plicidade. Finalm ente, do servo, o em preendedor carrega a capacidade de servir, de ser út il, oport uno e prest at ivo, m as t am bém um a t endência a se vender por dinheiro. Chegam os assim ao seguinte quadro figurat ivo:

Guerreiro

Mercador Art esã o

Espírit o Em preendedor

Agricult or Servo

N’Os Lusíadas, m uit as das caract eríst icas do em preendedor est arão

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4 .5 Mot ivação para criação de novas em presas

No ano de 2002, o Banco I nt eram ericano de Desenvolvim ento ( BI D) ( 2002) fez um a ext ensa pesquisa denom inada Em preendedorism o em Econom ias Em ergentes: Criação e Desenvolvim ento de Novas

Em presas na Am érica Lat ina e no Lest e Asiát ico. Foram ent revist ados

1271 novos em presários, 582 no Lest e Asiát ico e 689 na Am érica Lat ina. A pesquisa abrangeu Japão, Coréia, Singapura, Taiwan, Argent ina, Brasil, Cost a Rica, México e Peru.

Apesar de ser freqüente a classificação dos em preendedores em dois grupos, um daqueles que em preendem pela ident ificação de oport unidades e out ro dos que o fazem por necessidade, a pesquisa do BI D apont ou que a principal m ot ivação para iniciar um negócio é a busca da “ realização pessoal” .

Principal m ot ivação para iniciar um negócio

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realização plena dos pot enciais individuais. A busca de “ realização pessoal” faz part e desse im pulso inst int ivo e em preender pode ser visto com o um a form a de sua expressão sim bólica. Mas é int eressant e not ar que “ cont ribuir para a sociedade” , que aparece com o t ão m ot ivador quant o “ aum ent ar a renda” para se iniciar um em preendim ent o, possui igualm ent e um vinculo est reit o com a individuação. I ndividuação não significa individualism o, conform e afirm ou Jung ( 1991c, par.856) , “ O cam inho individual não pode ser um a oposição à norm a colet iva” , pois o individuo, em sua essência, está vinculado ao coletivo e à natureza cósm ica. Esse desej o de em preender, vinculando “ realização pessoal” com “ cont ribuição para a sociedade” , ou sej a, um com prom isso sim ult âneo do indivíduo consigo m esm o e com os outros, faz parte da busca pelo equilíbrio psíquico, no qual indivíduo e grupo tem seu papel e valor. Direit a e esquerda polít icas est ariam reunidas no ideal de individuação.

Quando os ent revist ados foram questionados sobre os fatores não econôm icos que influenciam a decisão de em preender, além da “ realização pessoal” e da “ cont ribuição para a sociedade” aparece pronunciadam ent e a “ vont ade de enfrent ar desafios” . Essa é, com o verem os, um a das principais características do herói ( o hom em em processo de individuação) . Existe um a predisposição int erna t ão fort e para a realização de seu dest ino que, at é m esm o a int egridade física é colocada em segundo plano. Para o herói, de nada vale a vida se ele não puder realizar o seu desígnio.

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coloca- o num a sit uação m uit o delicada: o abandono de seu Ser que é equivalente à m ort e. Esse im pulso de independência é necessário para que um indivíduo possa cum prir o seu dest ino.

Principais fat ores não econôm icos que influenciaram a decisão de iniciar o próprio negócio

Com o podem os ver nos quadros acim a, “ ser um a pessoa adm irada” , “ t er influência na com unidade” , “ obt er respeit o social” e m esm o “ aparecer bem na im prensa” são fat ores relevant es que figuram no im aginário dos em preendedores. Vries ( 1996) , psicólogo e im port ant e referência no círculo acadêm ico quanto à dinâm ica das organizações, relaciona este “ desej o de aplauso” da personalidade em preendedora a problem as de falt a de reconhecim ent o e at enção na infância. O aut or cit a um a m anifest ação dessa necessidade no que cham ou de “ com plexo de edifício” , um a t endência do em preendedor a querer const ruir m onum ent os que sim bolizem suas realizações.

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Olim po. O herói, conform e será expost o, era o hom em que alcançava a im ortalidade e se tornava divino por ter cum prido o seu destino. Fam a e glória eram conseqüências desse feito. A conquista do Olim po era o equivalent e sim bólico da realização pessoal. Mas, a busca da fam a, desvinculada de um a verdade interior profunda, corre o risco de desviar o indivíduo de seu cam inho aut ênt ico e fazer com que sua personalidade não se desenvolva, perm anecendo, port ant o, infant il com o observou Vries.

Por fim , t em os a figura do desem pregado. Ele aparece pequeno, no final das est at íst icas. O desem prego, com o sabem os, é um fant asm a que assom bra indivíduos e governos. O desem pregado é aquele que est á desocupado, ocioso, sem t er o que fazer. É aquele que não est á a serviço de nada e de ninguém , que est á sem desafios, que não é adm irado, que não tem respeito social, que se sente fracassado. É a represent ação do vazio e da ausência de sent ido da vida. O desem pregado que resolveu em preender por fatores não econôm icos pode represent ar, sim bolicam ent e, aquele que decidiu buscar um sent ido para a sua vida. Mais adiant e, na discussão, esse assunt o será retom ado e serão apresentadas out ras am plificações dest a pesquisa.

At é o m om ent o, vim os a im port ância da figura do em preendedor para a m anut enção do at ual sist em a político e econôm ico em que vivem os. Verificam os com McClelland ( 1967) e Weber ( 2005) que o at o de em preender est á ligado a um a necessidade de realização que é est im ulada cult uralm ent e. Por m eio de t ext os de historiadores e econom istas encontram os algum as caract eríst icas int im as desse personagem . I nvest igam os t am bém a et im ologia da palavra

em preendedor e por fim , expusem os um a pesquisa que procurou

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às suas em presas. I sso j á é algo int eressant e, m apeam os o t erreno e construím os um a im agem m ais clara de nosso prot agonist a.

A próxim a et apa, plagiando Lewis Carroll, é um a espécie de “ ent rada na t oca do coelho” . Com o dissem os, são inúm eros os casos em presariais relatados por m estres da adm inist ração que podem ser encont rados em livros e revist as de negócios. Esses t rabalhos t êm validade inquestionável e são im pecáveis para atingir as m et as que pret endem . O present e est udo, no ent ant o, t rat a de um a out ra visão desse assunt o. Ele adent ra o t em a por um a via de acesso diferent e e, por isso, chega a novas conclusões.

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5 . Os poet as e a leit ura da realidade

Só é poeta o hom em que possui a faculdade de ver os seres espirit uais que vivem e brincam em torno dele. Nietzsche

O est udo com parado de m it os indica que houve, logo após a pré-hist ória, um a visão m ít ica com um em t oda a hum anidade: O ser hum ano era considerado um m icrocosm o e deveria viver em harm onia com o m acrocosm o. ( SCHWARZ, 1985) .

A consciência dava ao hom em a possibilidade de perceber a beleza da nat ureza e do Universo em que est ava inserido. Tudo era um a coisa só, t udo est ava int erconect ado. Nada escapava à im ensa teia da vida, da qual o hom em era apenas um fio. Tudo o que fizesse a esse t ecido da vida faria a si m esm o. A consciência diferenciava o hom em dos outros seres, m as tam bém dava a ele um a m issão: ser o m ant enedor, o guardião da criação divina. O hom em não era dono da t erra, não devia explorar ou m andar na nat ureza, m as sim respeit á-la, reverenciá- á-la, aprender com ela. O cant o e a dança faziam part e do banquet e que os hom ens ofereciam aos deuses para celebrarem a vida, que era considerada um a dádiva. ( MUNDURUKU, 2000) .

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No Egit o ant igo, no Orient e e nas civilizações pré- Colom bianas os líderes eram seres hum anos com um a cosm ovisão, um a consciência superior que lhes dava a capacidade de ler e int erpretar a ordem arquet ípica que agia com o “ pano de fundo” da vida. Sua função era t ransm it ir essa visão de m undo para o hom em com um e procurar fazer com que todos vivessem de acordo com essas Leis não escritas. Assim com o Jung ( 2000) observou, sem essa cosm ovisão as coisas t endiam a não ir t ão bem .

No ent anto, na Hélade ( Grécia arcaica) , a invasão dórica ocorrida ent re os séculos XI I e VI I I a.C. dest ruiu definit ivam ent e aquele sist em a da realeza divina. Sobreviveram , contudo, alguns pequenos reinos agrícolas que m ant iveram fragm ent os da cultura arcaica. Nesse novo período, conhecido com o hom érico, os poet as t inham a função de recuperar a m em ória daquela visão de m undo, reunificando os hom ens aos deuses e à nat ureza. Os poet as eram pensadores religiosos, verdadeiros interpretes dos deuses e por isso ocupavam posição igual ou superior aos basileus ( reis que não t inham função sacerdot al) . ( VERNANT, 2003) .

Os poet as eram possuídos pelas Musas ( filhas de Zeus e Mnem osyne

- Mem ória) , pot ências divinas que t inham o poder de revelar os

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O ser hum ano que conseguia recuperar a m em ória dessa época ancest ral, em que os hom ens viviam em perfeit a harm onia com a nat ureza ( int erna e ext erna, m icro e m acrocósm ica) , era considerado um hom em perfeito, divinizado, pois agia de acordo com as Leis Universais, e suas obras, por est arem de acordo com a ordem cósm ica, eram consideradas belas e im perecíveis. Na Grécia arcaica, esse hom em era um poiet és ( poeta) e seu ato criador, a sua criação,

poiésis ( poesia) . ( MACHADO, 2003) .

A im port ância que se dava à Mem ória est ava t am bém ligada à Teoria

da Rem iniscência. Segundo essa visão, todo ser hum ano carregava

em germ e na sua alm a, um a m issão a realizar, um a personalidade celeste. Alinhar as pretensões pessoais com esse desígnio, que est ava indissoluvelm ent e associado ao colet ivo e ao plano cósm ico, era a m et a básica de t odo t rabalho de desenvolvim ent o individual. Era a Mem ória que aj udaria o indivíduo encont rar a sua nat ureza original. Essa pot ência divina fazia part e de um m ovim ent o inst int ivo em direção à essência do ser, bastant e sem elhant e ao processo de individuação j unguiano, que abordarem os adiant e. ( PLOTI NO, 2002) .

O estreito vínculo dos poetas com a Mem ória fazia deles, acim a de t udo, grandes educadores. Dedicavam - se a despert ar o indivíduo ( m it o platônico da caverna) , sint onizando- os aos desígnios de suas alm as e orient ando- os na busca da virt ude (arete) . O obj et ivo era transform á- los em verdadeiros heróis, conform e verem os.

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eles e deles com os hom ens. Um exem plo dessa prát ica m ilenar que foi preservado pela nossa cult ura foi o de Crist o, que ensinava por m eio de parábolas. Essa era a form a de educação na ant iguidade. Ao invés de conceitos, os poetas ofereciam estórias e im agens m et afóricas.

A visão m ítica, por não se fundam entar na lógica e na razão para conhecer o m undo, t em sido at acada no ocident e desde o século VI I a.C. ( LEÃO, 2002) . Ainda hoj e é considerada um est ágio prelim inar de consciência ou um a concepção infant il da realidade. A palavra m it o

se t ornou sinônim o de m ent ira, de est órias que não correspondem à realidade. No ent ant o, o fat o de m uitos desses conceitos continuarem válidos at é hoj e e de que boa part e do que a psicologia cont em porânea sabe a respeit o de arquétipos ter sido aprendido por m eio da m it ologia, é um a prova do sucesso que os poet as t iveram em usar o im aginário em suas int erpret ações e da im perecibilidade dos conhecim ent os que adquiriram .

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Mais t arde, em Rom a, m uitos poetas ainda eram respeitados pela sua capacidade de enxergar o invisível. Eram cham ados de vates, que significa adivinho, profet a, visionário. ( SI DNEY, 2000) .

Out ras cult uras t am bém procuraram desenvolver as faculdades poéticas. Um exem plo são os filósofos e int elect uais árabes, conhecidos com o Sufist as, que anunciaram a possibilidade de obter conhecim ent os im perecíveis, por m eio da im aginação. Segundo I bn Arabi, para se chegar à sabedoria perfeita, seria necessário enxergar com os dois olhos: o da razão e o do im aginário. Essa era considerada a base da sabedoria dos profet as e da realização plena das pot encialidades hum anas. ( JAROSZYNSKI , 1998) .

No renascim ent o, os poet as cont inuaram sendo glorificados por sua capacidade de acesso ao m undo das essências, com o podem os not ar em Shakespeare, na prim eira cena do quint o at o de Sonho de um a

Noit e de Verão:

O olho do poet a, num delírio excelso, passa da t erra ao céu, do céu à t erra, e com o a fant asia dá relevo a coisas at é ent ão desconhecidas, a pena do poeta lhes dá form a, e a essa coisa nenhum a aérea e vácua em prest a nom e e fixa lugar cert o. ( SHAKESPEARE, 1952, p.217) .

Foi apenas nesse período ( Renascim ent o) que pint ores e escult ores se int elect ualizaram e passaram a m anifest ar um a visão penet rant e da realidade em suas obras, conseguindo sair da condição de artesãos e, finalm ente, se elevar ao nível artístico dos poetas. ( HAUSER, 2000) . Ant es disso, não passavam de sim ples operários exercendo funções m ecânicas. ( BLUNT, 2001) .

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concreto e im aginário, o consciente e o inconscient e. A afirm ação do surrealist a Bret on ( 1997, p.76) , de que existe um ponto na m ente em que “ vida e m orte, real e im aginário, passado e futuro, com unicável e incom unicável, alt o e baixo, deixam de ser percebidos em t erm os cont radit órios” , é um bom exem plo desse j eito de perceber o m undo.

O filósofo rom eno Mircea Eliade ( 1996) , confirm a essa idéia considerando a linguagem sim bólica com o m ais eficient e que qualquer outro m eio de conhecim ento para chegar aos níveis profundos da realidade. Cassirrer ( 1997 p.236) , igualm ent e, defende no capít ulo nono de seu Ensaio Sobre o Hom em, que a poesia é a chave da realidade. Para ele, “ um dos m aiores t riunfos da art e é fazer com que vej am os as coisas corriqueiras em sua verdadeira form a e sob sua verdadeira luz” .

Se prestarm os atenção nas declarações de alguns art ist as, t erem os a confirm ação da exist ência de um a form a de perceber a realidade, m ais próxim a do inconscient e, que vai além da lógica e da razão.

Picasso, com sua conhecida irreverência, afirm ou:

m as o que é isso, realidade obj et iva? Ela não vale nem para o vest uário, nem para os t ipos hum anos, para nada [ ...] a realidade obj et iva é algo que se deve dobrar cuidadosam ent e com o se dobra um lençol e encerrá- la num arm ário de um a vez para sem pre. ( PI CASSO apud BRASSAÏ , 2000, p. 198) .

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Nest e sent ido [ ...] afast ando- se da realidade e elevando- se a um m undo sim bólico o hom em , ao volt ar à realidade, lhe apreende m elhor a riqueza e profundidade. At ravés da art e [ ...] dist anciam o- nos e ao m esm o t em po aproxim am o- nos da realidade. ( CANDI DO et al, 2002, p.49) .

Toda aut ênt ica obra de art e continua válida e não envelhece com o t em po. I sso acont ece porque o art ist a t em a capacidade de apresent ar, de form a visível e dizível, aspect os im ut áveis da vida hum ana. Elas t ocam , conform e o ant igo ideal grego, a et ernidade. Quando Sófocles escreve Édipo quat rocent os e t ant os anos ant es de Crist o e esse t ext o cont inua perfeit o at é hoj e; quando As Nuvens de Arist ófanes é represent ada em plena era da cibernética e os espectadores reconhecem os personagens no seu cot idiano; quando St evenson despert a de um sonho com a novela dr.Jeckle e m r.Hyde

descrevendo o lado som brio da alm a hum ana; quando Chaplin film a

Tem pos Modernos expondo as m azelas da indust rialização e do

sist em a capit alist a, percebem os o alcance da visão do art ist a. Por sua consciência diferenciada, são capazes de criar obras que nos em ocionam e tocam nosso coração, por isso, ficam gravadas na m em ória.

Est e est udo j ust ifica- se, fundam ent alm ent e, pelo fat o de ut ilizar a poesia e sua capacidade de penet ração no m undo não aparent e para chegar a um a m elhor com preensão da nat ureza do espírit o em preendedor.

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6 . A psicologia a nalít ica e o sím bolo do herói

6 .1 O herói

Talvez não exist a na hum anidade, em qualquer cult ura, um personagem t ão not ório quant o o herói. Seu m it o descreve as vivências de um ser hum ano diferenciado, com poderes especiais e coragem para superar as adversidades no int uit o de cum prir a m issão para qual foi escolhido. Ele segue sua própria paixão, im placavelm ent e, deixando de pensar priorit ariam ent e em si m esm o. Chega a considerar a m orte irrelevant e. Para ele, m ais vale m orrer t ent ando cum prir seu dever do que ficar vivo sem cum prí- lo.

Em seu cam inho, avent ura- se por regiões perigosas e desconhecidas, onde poucos se at revem a ir. Os obst áculos que enfrent a são representados por m onstros e anim ais ferozes, com os quais trava lut as quase fat ais, no ent anto, consegue vencê- las, para em seguida encont rar um t esouro difícil de ser at ingido e se unir a um a pessoa do sexo oposto.

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Em 1909 o psicanalista Ot t o Rank ( 1990) publicou um curt o t rabalho cham ado O Mito do Nascim ento do Herói, no qual apont a não só o padrão est rut ural dos m it os, com o t am bém os int erpret a. Para ele, t rat a- se da lut a do indivíduo para alcançar a independência, se afirm ar no m undo, e t am bém , da difícil t arefa de dom inar os próprios inst int os. Rank fez um a analogia do herói com o ego infant il e sua “ novela fam iliar” , dest acando as principais et apas do m it o. Os pais do herói, sem pre divinos ou nobres, são com parados à supervalorização dos pais na infância; as com plicações no nascim ent o são int erpretadas com o represent ações da at it ude host il do pai perant e aquele que o sucederá; a aj uda de anim ais no percurso é explicada com o um a form a infant il de ent ender o am paro m at erno, por fim , Rank enfat iza a relação do m it o do herói com algum as doenças m ent ais com o a paranóia e a anarquia.

Em 1912 Jung publicou Sím bolos da Transform ação, t razendo nova luz sobre o tem a, m as, antes de entrarm os na teoria j unguiana precisam os resgat ar o aspecto original do herói, para am pliarm os o ent endim ent o de seu significado. Um a rápida visit a à t radição helênica, na qual t odo quest ionam ento ético estava baseado na busca da excelência e que t inha a figura do herói com o seu exem plo essencial, nos dará essa noção m ais am pla.

6 .1 .1 O herói na Grécia arcaica

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Segundo a tradição helênica, os seres hum anos viveram originalm ente em perfeita com unhão com os deuses. Reunidos, hom ens e deuses celebravam diariam ent e a alegria e a beleza da vida. Partilhavam um a terra rica e fecunda, que não est ava suj eit a às int em péries. Tudo o que era necessário, a natureza colocava à disposição. Além disso, gozavam de perfeit a saúde e a velhice não lhes pesava. Est a é, segundo Hesíodo ( 2002) , a I dade de Ouro, um a raça de hom ens que viviam de acordo com a nat ureza, psíquica, física e cósm ica, que estava vinculada às leis universais e divinas (Dike) .

Por m eio do m it o de Prom et eu, Hesíodo ( 2002) descreve a queda da

Raça de Ouro. Esse Tit ã, além de ent regar um a cent elha do fogo

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invej a, a m alícia, a fraude, a vaidade e a ganância. Essa indiscrim inação fez com que se honrasse “ m uito m ais ao m alfeitor e ao hom em desm edido” ( HESÍ ODO, 2002, p.35) .

Quando os hom ens honravam os deuses e a ordem do universo, quando olhavam para si m esm os “ em ínt im a e viva conexão com a t ot alidade do m undo circundant e, com a nat ureza e com a sociedade” , a vida m at erial era sagrada, um a benção, e a t erra, um paraíso. ( JAEGER, 2001, p.151) .

Esse m it o do início perfeit o seguido da degeneração do hom em não se resum e à t radição grega, com o bem apont ou Eliade ( 2000) . A m esm a configuração das raças de ouro, prata, bronze, ferro é encont rada ent re persas, j udeus e hindus. Havia, no ent ant o, um a out ra raça. A Raça dos Heróis. Esses, por seu am or à ét ica, à dignidade, à honra, à verdade e à j ust iça; pelo seu respeit o à Dike, aos valores sagrados, iniciavam um a longa j ornada de purificação, de aperfeiçoam ent o pessoal, na t ent at iva de sair do ferro para retornar ao ouro prim ordial. Alguns poucos alcançavam essa difícil m et a, o que se dizia ser possível unicam ent e m ediant e um a boa educação.

Diant e dessa visão t rágica da hum anidade, os gregos arcaicos inst it uíram um program a de form ação de j ovens cham ado Paidéia

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Na visão de Sócrates ( PLATÃO, 1987) , cada ser hum ano t inha um a função específica a desem penhar na vida, m issão essa que est ava vinculada indissoluvelm ent e à polis e ao cosm os. Harm onizar as pret ensões individuais à essa ordem era o m esm o que at ingir a sabedoria e a perfeição da alm a.

“ Quem sou eu, o que vim fazer aqui?” Esse era o terrível enigm a propost o pela esfinge, que ainda finalizava com um a am eaça: “ decifra- m e ou te devoro” . Aquele que não soubesse resolver essa quest ão era considerado um suj eit o m orto- vivo, perdido por toda a vida. Por isso, a prem issa “ conhece- te a t i m esm o” est ava gravada na entrada do santuário de Delfos, local de peregrinação obrigat ória aos que buscavam o sent ido de suas vidas. ( SALI S, 2002) .

A chave para a solução desse enigm a est ava no despert ar da porção divina ( et erna e im ort al) de t odo ser hum ano, onde se dizia est ar guardada a m em ória adquirida do indivíduo - o daim on. Desvelar seu

daim on e servi- lo era, para o hom em arcaico, o suprem o

em preendim ent o. Realizar est e feito era o que significava form ar um herói.

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execução dessa t arefa, no ent ant o, ele não adm it e que nos afast em os m uit o dela. Se estam os seguindo a nossa traj etória, o daim on age com o um gênio, um “ anj o da guarda” que facilit a o percurso e nos im pulsiona at ravés de nossos t alent os. Em cont rapart ida, quando est am os fora de nosso curso ele tende a fazer o cont rário, procura “ infernizar” a nossa vida de várias m aneiras para que esse pot encial não desenvolvido possa ser realizado. Esse é um dos m otivos deste aspect o da psique ser cham ado de daim on, palavra da qual derivou o term o dem ônio. Nesse aspect o, Hillm an concorda com a t radição arcaica dizendo:

t alvez a t arefa do hom em sej a alinhar seu com port am ent o às int enções dele (daim on) , agir de acordo com ele, por ele. O que fazem os na nossa vida afeta nosso coração, nossa alm a e interessa ao daim on [ ...] O daim on ent ão t orna- se a font e da ét ica hum ana, e a vida alegre – o que os gregos cham avam de

eudaim onia – é a vida que é boa para o daim on. ( HI LLMAN, 1997,

p.277) .

Para Zoj a ( 1997, p.482) , a paidéia grega e sua m et a prim ordial de fazer despert ar o pot encial nat ural de cada indivíduo, pode ser vist a com o “ um a antecipação do que hoj e nos referim os com o individuação” .

À vist a disso, o sent ido original do herói, m uit o diferent e da leit ura m oderna que o ent endeu com o um im pulso pela aut o- afirm ação do indivíduo, sinaliza um im pulso inst int ivo da psique pela consagração do Ser, que carece, no ent ant o, de um a boa dose de educação e orient ação.

6 .1 .2 O herói em Cam pbell

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acordo com a nat ureza ( int erna e ext erna) , dedicou boa part e de seus estudos ao que cham ou de m onom it o. Segundo ele, apesar da infinit a possibilidade de variação encont rada nos m it os de diversas cult uras e épocas, um a vez int erpret ados, as diferenças ent re eles se t ornam sem elhanças e o t em a recorrente encontrado nessas obras é à t raj et ória do herói. Esse it inerário obedece a form ula dos rit os de iniciação com post a de 3 et apas fundam ent ais: separação, iniciação, retorno.

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em preendim ent o dirá se ele est á habilit ado a ser um verdadeiro herói.

Depois de ultrapassadas todas as provas, a últim a etapa é o encontro com um a figura do sexo opost o num casam ent o m íst ico. Para que isso sej a possível, é necessário que o indivíduo sej a dot ado de um “ coração gent il” , no qual prevaleça a verdade e a delicadeza. “ É o t est e final do talento de que o herói é dotado para obter a bênção do am or” . ( CAMPBELL, 2003, p.119) . A port a de ent rada, no ent ant o, encont ra- se j ust am ent e naquele ponto em que o herói é fragilizado. É o final de um longo cam inho de avent uras recheadas de árduos conflitos. É a hora se libertar da arm adura, de se despir, de se lim par, de se ent regar e de curar os ferim ent os. É a hora daquele que foi até então pura fortaleza abrir seu coração.

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Alcançada a ilum inação, depois desse êxtase, o herói, transform ado pela revelação, deve com eçar a fazer sua viagem de volta ao cotidiano, ao reino hum ano. Eis aí a últ im a grande m issão do herói para Cam pbell: com o conviver com a m ediocridade de um a sociedade m esquinha, hipócrit a e de curt a visão depois de t er sido apresent ado a algo t ão vast o? “ Com o com unicar, a pessoas que insist em na evidência exclusiva dos próprios sentidos, a m ensagem do vazio gerador de todas as coisas?” ( CAMPBELL, 2003, p.215) . Seria m ais fácil deixar t udo de lado e isolar- se, m as, para cum prir sua m issão o herói deve resist ir a esse choque do ret orno.

O herói deve saber viver num a realidade dinâm ica, que reside no pont o de encont ro ent re o m undo das essências, que lhe foi revelado, e o m undo das aparências da realidade obj et iva cot idiana. A confluência desses dois m undos cham a- se sím bolo e o t alent o do herói est á j ust am ent e na capacidade de enxergá- lo. Com o o sím bolo se t rat a de um a verdade em const ant e m ut ação, o saber do verdadeiro herói é nulo e reside j ustam ente em saber que não sabe. O verdadeiro herói não é um ser vaidoso, pelo cont rário, é um indivíduo cuj as am bições pessoais foram int eiram ent e dissolvidas, por isso, age desint eressadam ent e. Ele não t ent a viver, apenas vive livrem ent e o seu dest ino, sej a ele qual for. ( CAMPBELL, 2003) .

6 .2 O processo de individuação

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pleno das pot encialidades do indivíduo. Em alguns casos em que, além de ignorar, a pessoa inibe de form a unilat eral essa t endência à realização plena individual, desperdiçando seus pot enciais, o result ado pode ser desastroso:

Quant o m ais se alarga a brecha entre consciente e inconsciente, tanto m ais im inente a cisão da personalidade, que no indivíduo com t endência neurót ica leva à neurose, naquele com predisposição psicót ica leva à esquizofrenia, à desint egração da personalidade. ( JUNG, 1995, par.683) .

Em out ro t ext o Jung vai ainda além :

Se o dest ino se encarregar de fazer a um a pessoa a exigência do autoconhecim ento, e essa se recusar, neste caso a atit ude negat iva pode significar a m ort e real [ ...] O inconscient e t em m il cam inhos para ext inguir com surpreendent e rapidez um a existência j á sem sentido. ( JUNG, 1990, par.340) .

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