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Ciênc. saúde coletiva vol.15 número1

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Academic year: 2018

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vias promissoras o inegável aumento dos grupos

de pesquisa e a produção de conhecimento nas

úl-timas décadas no Brasil, evidencia-se a “quase

au-sência”, por assim dizer, da vertente “humana” nos

estudos localizados, ao menos na parcela

ilumina-da pelos descritores de busca que retratam o

cam-po. Mas não se trata de segurança alimentar e

nu-tricional da população “humana”?

H á algum tem po já vem sendo apontado o

predomínio do paradigma biomédico e dos

estu-dos quantitativo-descritivos nos estuestu-dos do

cam-po – não cam-por acaso, reconhecido com o

“Nutri-ção”

6,7

– e a consequente exclusão de outros

refe-renciais. Observando-se os “agrupamentos

temá-ticos”, tanto na polaridade do “alimento” como na

da “alimentação”, mais do que a concentração em

uma ou noutra direção, preocupa-nos a ausência

do componente humano que deveria ser realçado,

sobretudo porque se trata de alimentação

huma-na: assim, no que foge aos clássicos estudos de

outcom es, evidenciam-se estudos sobre políticas

como processos dessubjetivados; o direito

huma-no figurando em discursos abstratos, ainda

quan-do se pretende acoplá-los a uma sociedade

“triba-lizada”, complexa, “líquida”, demandando, cada vez

mais, compreensão dos processos comunicativos,

das imagens e do repertório, contexto no qual o

corpo e a alimentação estão na ordem do dia

8-10

.

No âmbito desse breve comentário, não é

pos-sível afirmar em que medida isso se dá nas

infor-mações detectadas pelos autores; nosso

posicio-namento, contudo, não é especulativo, uma vez

que se ampara nas evidências obtidas em anos de

pesquisa no âmbito da alimentação e nutrição que

confluem para muito do que os autores aportam

em seu artigo. Nesse campo, se a inserção das

ciên-cias sociais se dá com certa força no agrupamento

“alimentação”, quase nada se incorporou do

con-junto das disciplinas humanas (para usar a

termi-nologia adotada na base visitada pelos autores),

resultando na exclusão da subjetividade.

Do exposto se depreende que, ao lado (o grifo

importa, uma vez que não se pretende aqui

postu-lar a exclusão de quaisquer objetos que integram a

SAN) da integração entre os componentes

alimen-tar e nutricional, postulamos que a construção de

uma política de segurança alimentar e do direito

humano à alimentação não pode prescindir da

in-tegração de distintos paradigmas e enfoques na

investigação sobre suas temáticas. Caso contrário,

será difícil superar o descompasso, tão bem

ex-posto nesse artigo, entre os desafios que se

colo-cam nesse âmbito e os conhecimentos de que

dis-pomos para superá-los.

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3 Departamento de Nutrição, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal de Santa Catarina.

rossana@mbox1.ufsc.br

Da pesquisa sobre segurança alimentar e

nutricional no Brasil ao desafio de criação

de comitês de alimentação e nutrição

From research on food

security and nutrition

in Brazil to the challenge of creating

committees on feeding and nutrition

Rossana Pacheco da Costa Proença

3

O artigo “A pesquisa sobre segurança alimentar

e nutricional no Brasil de 2000 a 2005: tendências e

desafios” aborda tema de extrema relevância, que

vem sendo discutido cientificamente e incorporado

a políticas públicas no cenário mundial. Partindo

da base de dados do Diretório dos Grupos de

Pes-quisa no Brasil do CNPq (Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico), as

au-toras analisaram a área de origem e as temáticas

pesquisadas, sugerindo a necessidade de

investimen-tos na integração entre os componentes alimentar e

nutricional da SAN (segurança alimentar e

nutricio-Referências

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nal), diminuindo o intervalo entre as discussões

econômicas e sociais da questão.

Um primeiro ponto a ser destacado é a

inexis-tência do termo na árvore do conhecimento do

CNPq, demonstrando, mais uma vez, a

necessida-de necessida-de revisão e atualização necessida-deste material, tão

im-portante na classificação e sistematização de

infor-mações da pesquisa brasileira.

Esta questão aparece mais claramente ao

ana-lisar-se a temática SAN em relação aos comitês de

área que organizam o ensino de pós-graduação e a

pesquisa científica na Capes (Coordenação de

Aper-feiçoamento de pessoal de Nível Superior) e no

CNPq. Assim, conforme discutido pelas autoras

do artigo em debate, citando material recente

1,2

, na

Capes pode-se vislum brar as tem áticas da SAN

incluídas em vários comitês, espalhados por quase

todas as áreas do conhecimento. Em parte, este

fenômeno deve-se à própria natureza

multifaceta-da multifaceta-da SAN, bem funmultifaceta-damentamultifaceta-da pelas autoras. Mas

destaca-se a percepção de que isto ocorre,

tam-bém, em função da não-existência de uma área

específica de alimentação e nutrição no contexto

da grande área da Saúde. Assim , a inserção da

Nutrição como uma subárea da Medicina II na

Capes pode ser responsável por esta diluição de

grupos, diminuindo as possibilidades de

integra-ção para a formaintegra-ção e a pesquisa em SAN.

Já no CNPq, com o comitê Saúde Coletiva e

Nutrição, esta questão parece ser menos candente

nos aspectos referentes àquilo que as autoras

iden-tificaram como pesquisa de SAN relacionada

jus-tamente com a Saúde Coletiva. Contudo, no que

diz respeito à temática que as autoras

denomina-ram “componente nutricional da SAN”,

principal-mente nas discussões mais específicas sobre

ali-mentos, também nesta agência a ausência de um

comitê específico é sentida, pela necessidade de

com-preensão de conceitos e metodologias específicos

no momento de avaliação dos projetos

propos-tos. Neste sentido, salienta-se a percepção de que a

criação de comitês específicos de alimentação e

nutrição na Capes e no CNPq são estratégias

im-portantes para aglutinar esforços e recursos,

re-forçando a formação e a pesquisa em SAN.

Ao discutirem a distribuição dos grupos de

pesquisa em SAN por área predominante, as

au-toras identificaram a maioria dos grupos na área

de ciência e tecnologia dos alimentos,

relacionan-do esta produção científica com a denom inada

qualidade dos alimentos, fixando-se, contudo,

so-mente na questão sanitária. Ora, além da correta e

necessária discussão realizada pelas autoras das

políticas de ciência e tecnologia e da incorporação

do componente alimentar visto de maneira mais

abrangente, sugere-se também uma reflexão

so-bre o que seria esta qualidade do alimento, ou mais

especificamente, o que seria um alimento de

quali-dade. Como já discutido em vários momentos

3

,

ressalta-se a percepção de que, quando se discorre

sobre qualidade em alimentos e alimentação, está

ocorrendo uma supervalorização, praticamente no

mundo todo, da dimensão higiênico-sanitária da

qualidade. Sabe-se, entretanto, que diversos

auto-res salientam que a qualidade em um alimento pode

ser percebida pelo ser humano em múltiplas

di-mensões. Assim, parece pouco defensável que as

pesquisas, os diversos selos de qualidade e

meto-dologias de busca de qualidade se reportem

so-mente a uma destas dimensões, como se o fato de

o alimento estar limpo e não contaminado –

ele-mento essencial, mas não o único – garantisse que

todos os outros aspectos estejam satisfatórios.

Assim, considerando que a qualidade com

re-lação aos alimentos deve ser um processo

centra-do no ser humano, propõe-se que ela pode ser

percebida, pelo menos, sob as óticas nutricional,

sensorial, higiênico-sanitária, de serviço,

regula-mentar, simbólica e, mais recentemente, de

susten-tabilidade. As definições de SAN discutidas,

inclu-sive historicamente, pelas autoras, permitem esta

expansão do conceito, podendo refletir a

necessá-ria integração dos grupos que refletem e

pesqui-sam na temática.

Tam bém relacion ado a este con ceito m ais

abrangente de SAN, embora o artigo em debate

não tenha aprofundado este ponto, cabe citar a

questão metodológica das pesquisas, que ainda se

apresenta bastante centrada em estudos

quantita-tivos. Considerando, na palavra das autoras, “a

amplitude conceitual e a grandiosidade de

ques-tões relativas a SAN”, observa-se a necessidade de

incorporação da pesquisa qualitativa neste

con-texto. Em uma revisão sobre a pesquisa

qualitati-va em nutrição e alimentação, Canesqui

4

reforça

que muitos dos textos encontrados requerem um

“aperfeiçoamento teórico-metodológico para

su-perar os estudos descritivos, adequando o seu

en-tendim ento”. Concorda-se com esta autora que

observa, ainda, “a necessidade de apoiar a

forma-ção em Ciências Sociais e Humanas na Nutriforma-ção e

incentivar a prática da multidisciplinaridade para

aperfeiçoar aquelas pesquisas”, ponto também

dis-cutido no artigo em debate.

Outro destaque, lançado recentemente sobre o

tema, é representado pelo Suplemento da Revista

de Nutrição. Segundo inform ações da Nota da

Editora

5

e do Editorial

6

, este suplemento,

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4 Departamento de Nutrição Social, Instituto de Nutrição, UERJ.

lucastro@globo.com

para a temática de SAN, no mínimo, por dois

as-pectos. Um deles seria a questão em si, de editais

públicos estarem financiando tanto as pesquisas

temáticas quanto a divulgação delas, importante

prática ainda não muito incorporada à realidade

científica brasileira. Outro ponto é que este

suple-mento tenha sido lançado pela Revista de

Nutri-ção, periódico específico da temática de

alimenta-ção e nutrialimenta-ção que atualmente se encontra

indexa-do em duas das maiores e mais abrangentes bases

de dados internacionais, quais sejam, Web of

Sci-ence, do sistema ISI (Institute of Scientific

Informa-tion), e Scopus. Assim, pode-se prever um maior

destaque a esta produção nacional, uma vez que,

ao ser digitado o tema “alimentação e nutrição”

nestas bases, demonstra-se que no Brasil existe um

periódico científico que incorpora a questão da

SAN, inclusive na nomenclatura.

Finalizando, faz-se necessária um a reflexão

sobre aspectos da SAN ainda pouco trabalhados

na produção científica nacional, considerando o

apontado no artigo em debate. A alimentação fora

de casa é um deles, que representa uma

importan-te faceta do comportamento alimentar atual e, por

exemplo, somente na versão 2008-2009 está sendo

incorporada à Pesquisa de Orçam ento Fam iliar

(POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e

Esta-tística (IBGE)

7

. Então, pontos como a comida de

rua, a alimentação em restaurantes comerciais e

coletivos, os patrimônios gastronômicos regionais,

dentre outros, são, comumente, alvo somente de

pesquisas de qualidade sanitária, reduzindo o foco

da contribuição para a SAN.

Outra lacuna são os estudos relacionados ao

com portam en to do con sum idor de alim en tos,

considerando a sua segurança de maneira

abran-gente. Destacam-se aqui as possibilidades de

estu-dos de SAN com relação às diversas form as de

informação alimentar e nutricional, principalmente

a propaganda e a rotulagem de alimentos

indus-trializados e refeições.

Assim, as possibilidades de pesquisa em SAN

no país, a exemplo da construção da própria

polí-tica nacional sobre o tema

8

, ainda têm muitos

de-safios a serem enfrentados. Mas este enfrentamento

começa pelo reconhecimento do terreno, trabalho

tão bem realizado pelo artigo em debate.

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1.

Pesquisar sobre segurança alimentar

e nutricional no Brasil: a que viemos?

Researching about food security and nutrition

in Brazil: what is the purpose?

Luciana Maria Cerqueira Castro

4

O artigo “A pesquisa sobre Segurança

Alimen-tar e Nutricional no Brasil de 2000 a 2005:

tendên-cias e desafios”, de autoria de Prado e

colaborado-res, faz um diagnóstico da situação da pesquisa

em segurança alimentar e nutricional (SAN) no

Brasil e instiga-nos a perguntar: estamos

produ-zindo conhecimento sobre SAN no país? Temos

condições de produzir conhecimento e apresentar

propostas inovadoras para a SAN no Brasil ou

produzimos conhecimento somente sobre algumas

dimensões da SAN no Brasil?

A segurança alimentar e nutricional tornou-se

tema de discussão de âmbito mundial nas últimas

décadas, tendo sido debatida por inúmeros

orga-nismos internacionais, governamentais ou não. Da

mesma forma, o conceito de SAN passou por

vá-rias alterações. Na década de noventa, devido a

um forte movimento em direção à reafirmação do

direito humano à alimentação adequada, essa

di-m ensão, assidi-m codi-m o a da soberania alidi-m entar,

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7.

Referências

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