A LINGÜÍSTICA D E S C R I T I V A
P a u l o A. F r o e h l i c h
O presente trabalho c o n s t i t u i u m relatório das p r i n c i p a i s técnicas e princípios fundamentais d a lingüística d e s c r i t i v a usadas por vários pesquisadores, e m b o r a s e m a preocupação de estabelecer ligação f o r m a l c o m esta o u aquela orientação lingüística. E s t a s técnicas de análise d e s c r i t i v a são exemplifi- cadas através de problemas c o m base e m específicos corpus lingüísticos. Não constitui u m relatório crítico dos vários mé- todos paralelos o u divergentes de descrição lingüística existen- tes atualmente. I s t o r e s u l t a de absoluta falta de tempo p a r a a apresentação de u m trabalho de m a i o r fôlego, pois encontra-se o autor pressionado n a elaboração de u m outro trabalho c o m prazo curto e que exige m u i t o m a i o r atenção n a s circunstân- cias atuais. F i n a l m e n t e , serão apresentadas algumas conclu- sões práticas que a lingüística d e s c r i t i v a poderá sugerir p a r a o estudo das línguas v i v a s , s e m entretanto, prescrever regras absolutas e infalíveis.
I ) CONCEITUAÇÀO
P a r a conceituar b e m o que se entende p o r lingüística des- c r i t i v a são m u i t o apropriadas as seguintes afirmações proferi- das p o r Zellig S . H a r r i s no seu l i v r o Structural Linguistics
( c a p . 2, P r e l i m i n a r e s Metodológicas, p p . 5 - 6 ) :
" A Lingüística D e s c r i t i v a , c o m o o t e r m o está s e n d o usado, é u m c a m p o p a r t i c u l a r d e p e s q u i s a q u e t r a t a não d a t o t a l i d a d e d a s a t i v i d a d e s d a fala, m a s d a s r e g u l a r i d a - des e m c e r t o s traços tônicos. E s t a s r e g u l a r i d a d e s s e e n c o n t r a m n a s relações d e distribuição e n t r e o s traços tônicos e m questão, i.e., a ocorrência desses traços r e l a - t i v a m e n t e u n s a o s outros, d e n t r o d e enunciações. É c e r - t a m e n t e possível e s t u d a r a s várias relações e n t r e p a r t e s o u e n t r e traços tônicos, p. ex. semelhanças ( o u o u t r a s relações) de s o m o u de sentido, o u relações genéticas n a história d a língua. E n t r e t a n t o , a p r i n c i p a l p e s q u i s a d a
lingüística d e s c r i t i v a ( e a única relação q u e será a c e i t a c o m o r e l e v a n t e n a a t u a l análise), é a distribuição o u dis- posição n o fluxo fônico de c e r t a s p a r t e s o u traços e m relação a o u t r o s . ...
O único p a s s o p r e l i m i n a r q u e é e s s e n c i a l a e s t a ciên- c i a é a restrição d a distribuição c o m o d e t e r m i n a n t e d a relevância d a p e s q u i s a . O s métodos p a r t i c u l a r e s d e s c r i - tos neste l i v r o não são e s s e n c i a i s . E l e s são oferecidos c o m o p r o c e d i m e n t o s g e r a i s de análise d i s t r i b u c i o n a l apli- cável a m a t e r i a i s lingüísticos... A e s c o l h a de específicos p r o c e d i m e n t o s a q u i s e l e c i o n a d o s p a r a t r a t a m e n t o d e t a -
l h a d o e, e n t r e t a n t o , e m p a r t e d e t e r m i n a d a p e l a s pró- p r i a s línguas d a s q u a i s os e x e m p l o s são extraídos. A aná- lise de o u t r a s línguas p o d e r i a c o n d u z i r à discussão e e l a - boração de o u t r a s técnicas... I s t o s e r i a v e r d a d e i r o desde que a s n o v a s operações t r a t a s s e m e s s e n c i a l m e n t e d a dis- tribuição d o s traços fônicos r e l a t i v a m e n t e a o u t r o s t r a - ços n a s enunciações, e desde q u e f o s s e m executados expli- c i t a m e n t e e c o m r i g o r científico".
I I ) DEFINIÇÃO D E P R I N C I P A I S T E R M O S F U N D A M E N T A I S
a . Enunciação. É tudo o que u m falante nativo de u m a comunidade lingüística pode p r o n u n c i a r c o m finalidades de comunicação. V a i desde o simples " s i m " , "não", " t a l v e z " , até
às m a i s extensas mensagens lingüísticas, amiúde referidas como período, de vários tipos e duração. A s enunciações são geralmente i n t e r r o m p i d a s p o r espaços de silêncio que poderão ser de m a i o r o u m e n o r extensão. O procedimento geral d a l i n - güística d e s c r i t i v a é a n a l i s a r c a d a enunciação de per s i e nun- c a várias enunciações ao mesmo tempo. O pesquisador geral- mente a n a l i s a as inter-relações de elementos dentro de u m a enunciação n u m momento (i.e., separadamente). Poderá ( e geralmente a s s i m procede) entretanto, c o m p a r a r as inter- relações e m c a d a enunciação que se apresenta, p a r a estabele- cer princípios gerais de inter-relacionamento c o m relação a u m a determinada língua ou dialeto. I s t o porque geralmente os grupos de enunciações não p a s s a m de repetições de proces- sos que o c o r r e m e m cada simples enunciação. E s t e é o único método que possibilita a análise do m a t e r i a l e capacita o lin-
güista a descobrir os relacionamentos entre os vários elemen- tos que constituem a e s t r u t u r a das enunciações e possibilitar a formulação de princípios que regem a todas as enunciações c o m relação a u m a língua o u dialeto.
b . F l u x o Fônico. É a corrente, série, o u segmento de elementos o u unidades que se sucedem e m fluxos r e l a t i v a - mente curtos n u m a dada língua o u dialeto. A diferença entre enunciação e fluxo fônico é m a i s de aspecto o u de ponto de vis- ta do que de n a t u r e z a essencial, porque todas as enunciações são formadas de segmentos maiores o u menores de fluxo fôni- co. N o fluxo fônico temos a nossa atenção v o l t a d a p a r a o c a - ráter linear o u segmentai d a enunciação; que esta é constituí- da de unidades o u elementos que se sucedem u n s aos o u t r o s ; n a enunciação a nossa atenção está voltada p a r a os períodos audíveis limitados p o r períodos de silêncio, porém considera- dos globalmente; no fluxo fônico a n o s s a atenção está v o l t a d a p a r a os elementos constitutivos.
c. Traços Fônicos. São todos os possíveis elementos ió- nicos identificáveis a c u s t i c a m e n t e ) no fluxo fônico o u nas enunciações, e que podem ocupar u m lugar definido dentro d a e s t r u t u r a geral de u m a língua dada. N e m todos os traços acústicos ( o u fonéticos) são traços fônicos, pois apenas u m a parte é u t i l i z a d a p a r a fins de comunicação; o restante é igno- rado o u relegado à condição de traços irrelevantes. Os traços fônicos ( o u simplesmente fones) constituem, no nível fonético, o fundamento d a base articulatória, o u padrão fonético, que se caracteriza pela escolha toda especial que u m a língua o u dia- leto faz, d a totalidade de possíveis traços fônicos, e lhes con- fere u m status determinado e r e s t r i t o .
d . Distribuição. É a s o m a de ocorrências de u m o u m a i s traços fônicos e m relação a outros n a s enunciações de u m a determinada língua. É a descrição detalhada de todas as posi- ções onde u m dado elemento pode ocorrer. Corolário m u i t o importante é a relatividade d a distribuição de u m dado ele- mento n u m a língua. S o b o ponto de v i s t a puramente descri- tivo não podemos falar, p. ex., dos fonemas hipotéticos indo- europeus * p , * t , * k , quando se observa que cada língua e dia- leto ( m e s m o dentro do mesmo grupo o u sub-grupo lingüístico, historicamente f a l a n d o ) , constituem u m a e s t r u t u r a fonética toda p a r t i c u l a r e única n a s padronizações. Concomitante- mente, somente podemos dizer que u m elemento x é d e s c r i t i - vamente equivalente a u m elemento y quando d i s t r i b u t i v a - mente se correspondem e m todos os seus pontos, i.e., quando o c o r r e m e m contextos equivalentes e podem, portanto, ser substituídos u m pelo outro, indiferentemente. A s s i m , pode- mos dizer que n a língua inglesa os elementos fônicos p, t, k,
e m início de p a l a v r a , são descritivamente equivalentes, como podemos ver pelo seguinte:
[ i y t ] [ i t l [ i l ] [ i n ] [ ó t ] [ a e t ] [ e n t ] [ ó : l ]
p-eat p-it p-ill p-in p-ot p-at p-ent p-aul
t-eat t-it t-ill t-in t-ot t-at t-ent t-all
k-eats k n t k - i l l k-in c-ot c-at k-ent c-all
E m b o r a os exemplos a c i m a não i n c l u a m a totalidade de contextos de ocorrência e m posição vocábulo-inicial, demons- t r a m que, e m linhas gerais, os elementos fônicos p, t, k, são ( n o que se refere à ocorrência), d i s t r i b u t i v a m e n t e equivalen- tes, o u apresentam, nesta posição, distribuição livre, i.e., q u a l - quer desses elementos pode ocorrer c o m qualquer dos contex- tos fônicos ocorrentes, o u c o m qualquer dos demais elemen- tos fônicos c o m os quais f o r m a m seqüências padronizadas.
Quando a f i r m a m o s , que n a s enunciações de u m a língua d a d a temos a sequência x-y, isto quer dizer que o elemento y somente pode ocorrer n a posição i n d i c a d a , i.e., logo após o elemento x e n u n c a antes, salvo sob indicação explícita. Como podemos v e r através do seguinte c o rp u s d a língua m i w o k (Califórnia):
[ l o t - i - m ] — e u a g a r r o [ ? i n - i - m ] — e u v e n h o [ s i y i c h - i - m ] — e u vigio [ y i l - i - m ] — e u m o r d o
[lot-a-k] — vocês a g a r r a r a m [ ? in-a-k] — vocês f o r a m [ s i y i c h - a - k ] — vocês v i g i a r a m [ y i l - a - k ] — vocês m o r d e r a m
[lot-i-t] — êle m e a g a r r a [ ? in-i-t] — êle v e m a m i m [ s i y i c h - i - t ] — êle m e v i g i a [yil-i-tl — êle m e m o r d e [lot-i-k] — vocês a g a r r a m [ ? in-i-k] — vocês vão [ s i y i c h - i - k ] — vocês v i g i a m [ s i y i c h - i - k ] — vocês m o r d e m
A q u i observamos que estes itens léxicos são constituídos por elementos distintos que o c u p a m três posições respectivas ( o u r e l a t i v a s ) a-b-c. Os elementos lot-, ?in-, s i y i c h - y i l - , somente podem ocupar a posição " a " ; os elementos - a - o u - i - somente podem ocupar a posição " b " ; os elementos -m, - k , -t, somente podem ocupar a posição " c " . É esta u m a distribuição linear mandatória. E s t e s dois processos de comparação distribucio-
nal o r a apresentados, através do p r o b l e m a d a língua inglesa e d a língua m i w o k , p o d e r i a m também ser respectivamente des- critos como distribuição simultânea e distribuição linear.
S e n u m a língua dada temos os elementos fônicos x, x', x " . . . n, e observamos que c a d a u m desses elementos fônicos estão m u t u a m e n t e relacionados a u m certo padrão fônico; se também n e s s a língua temos os contextos fônicos y, y', y " . . . n, que também estão respectivamente relacionados a esse p a - drão fônico; se a f i r m a m o s que os elementos fônicos x, x' x " . . . n, respectivamente ocorrem c o m os contextos fônicos y, y', y " . . . n, então sabemos que os elementos fônicos x, x' x " n u n c a podem ser descritivamente equivalentes, m a s apresentam dis- tribuição complementar. Como podemos ver através do se- guinte corpus d a língua oneida ( E s t a d o de N o v a Y o r k ) :
[ z h ] — s u r d a b r a n d a
1. [zhátyi] — sente-se 2 . [zhayólhiye?] — o próxi-
m o d i a
3 . [ l á k z h a ] — m e n i n o 4. [ l ó h z h u ] — êle j á t e r m i -
n o u
5 . [tha?zhítha?l — êle o d e r r u b a a q u i
6. [tkakhawákzhi] — a p i o i c o m i d a
7. [ t z h á : k a t ] — o m e s m o 8. [ w á h z h e k e ] — você o
c o m e u
[ z ] — s o n o r a b r a n d a 9 . [ k a w i n e : z ú : z e ? ] — pala-
v r a s longas
10. [ k h a : w í z e ? ] — e s t o u le- v a n d o c o m i g o
1 1 . [ l á : z e l ] — deixe-o a r r a s - t a r
12. [tahá:zíhte?] — êle der- boU-o
13. [ t u z a h a t i t e :ní] — eles m u d a r a m de n o v o
14. [ w e z a : k i i — e l a o v i u [ s ] — s u r d a t e n s a
15. [ l á s h e t ] — deixe-o c o n t a r 16. [ l a ? s l u : n i ] — h o m e n s
b r a n c o s
17. [ l o y e s w á : t u ] — èle t e m b r i n c a d o
18. [skahnéhtat] — u m p i - n h e i r o
19. [thiska:tél — diferente 20. [ s n i m ú h e ] — v o c e c o m -
p r a .
2 1 . [ w a s h i s n i s t a k e ? ] — você c o m e u m i l h o
[ s h I — s u r d a t e n s a
22. [shvá:túhe?l — você es- c r e v e
23. [téhshya?k] — deixo vo- cê q u e b r a r
24. [ya?tisvatekhásshyahte?]
— d e repente, eles s e se- p a r a r a m n o v a m e n t e .
A q u i observamos que os elementos fônicos [ z ] , [ z h ] , [ s ] , [ s h ] , estão sistematicamente r e l a c i o n a d o s ; c o n s t i t u e m , descri- tivamente, u m padrão fônico. E s t e s vários elementos fônicos estão também sistematicamente relacionados c o m quatro con- textos fônicos distintos e m u t u a m e n t e exclusivos O elemento fônico [ z ] — sonora b r a n d a — ( i t e n s 9, 10, 1 1 , 12, 13, 14) so- mente ocorre e m posição silábico-inicial ( m a s não vocábulo- i n i c i a l ) ; o elemento f ô n i c o [ z h ] — s u r d a b r a n d a ( i t e n s 1, 2, 3,4, 5, 6, 7, 8 ) somente ocorre em posição i n i c i a l , o u m e d i a l quando precedido de u m elemento fônico surdo ( ? , h , k ) ; o elemento fônico [ s ] — s u r d a tensa — ( i t e n s 15, 16, 17, 18, 19, 20, 2 1 ) somente ocorre quando seguido de u m elemento fônico conso- nântico ( h , 1, w , n , t ) ; e finalmente o elemento fônico[sh] — s u r d a alveopalatal tensa — ( 2 2 , 23, 2 4 ) somente ocorre c o m o contexto fônico [ y ] . Os elementos Iónicos C z l , [ z ] , ( s ) , [ s ] , poderão ser substituídos pelos sub-rogados x, x', x" , x'", e os contextos fônicos correspondentes pelos sub-rogados y, y'» y"> y'"> e vemos que as ocorrências são efetivamente x-y, x'-y', x"-y", x"'-y"', e concluímos daí que os elementos fônicos x, x', x", x'", constituem u m único padrão fônico e que cada respectivo elemento fônico está e m distribuição complementar c o m os demais elementos fônicos. Está patente aqui a d i s t r i - buição complementar o u distribuição posicionai, i.e., onde u m elemento ocorre, n e n h u m dos outros ocorre, e vice-versa.
E s t e s dois exemplos o r a citados também d e m o n s t r a m a relatividade de distribuição de u m dado elemento x n u m a lín- gua o u dialeto. M a s poderemos também apresentar o m e s m o fato, tomando-se e m consideração três línguas distintas e ve- r i f i c a r que não podemos fazer p a r a l e l i s m o s s e m u m a análise bem detalhada. T a n t o no inglês ( E u r o p a O c i d e n t a l ) , como no y o r u b a (Nigéria, A f r i c a O c i d e n t a l ) , como no m a c h i p u ( B r a s i l C e n t r a l ) , existe u m elemento fônico, o [ n g ] ( o u n v e l a r ) , c o m características acústicas semelhantes. Porém de que vale d i - zer que estas três línguas possuem o m e s m o traço fônico [ ng ] ? E s t a afirmação não nos fornece n e n h u m a informação p r e c i s a sobre os relacionamentos deste determinado traço fônico [ n g ] nestas línguas. É necessário estudarmos a s u a distribuição.
V e m o s então, que no inglês, o elemento fônico [ n g ] somente ocorre n a posição final de raiz e precedido dos contextos fôni-
cos [ I ] , [ a e ] , [ o ] , t i ] , como o c o r r e u respectivamente n a s pa- l a v r a s sing, sang, song, sung; e também no sufixo v e r b a l -ing
[ n g ] , p . e x . , como e m sing-ing, rin-ing, long-ing, study-ing.
Já n a língua y o r u b a observamos que o elemento fônico [ n g ] s o m e n t e ocorre n a posição silábico-inicial, porém somente quando seguido dos elementos consonânticos [ k ] , [ g ] , [ w ] . Como podemos v e r através dos seguintes e x e m p l o s :
[ m b á ] — está alcançando [ n w á ] — está c h e g a n d o [ m b a ] — está e s c o n d e n d o [ n l o ] está indo [ m b à ] — está e m p o l e i r a d o
[njo] — e s t a l u t a n d o [ m f ó ] — está q u e b r a d o
[ n g k o ] - está e s c r e v e n d o Intél - está e s p a l h a n d o [ n g ú n ] — está s u b i n d o fndün] — está doendo
Ademais, notamos que o elemento fônico [ng] está de u m certo modo ligado ao sentido de "presente contínuo" dessas f o r m a s v e r b a i s .
Finalmente, n a língua m a c h i p u observamos que o elemen- tos fônico [ n g ] somente ocorre e m posição silábico-inicial, e m contexto c o m qualquer vogal, não sendo observada ocorrência e m n e n h u m a o u t r a posição. P. e x . :
[ n g o n g o l — pó, t e r r a fngúne] — l u a Ttúnga] — água [ h w i t ú n g u ] — cabeça [ o l ó n g u ] — p a s s a r i n h o
[ t h a w í n g a ] — jacaré [ h w ú n g e l — ôvo [ k á n g a l — peixe [ h w i n g i ] — m a n d i o c a [ y u m u t ú n g u ] — flor
Podemos, portanto, v e r pelo que ficou exposto a c i m a quão importante é a determinação d a distribuição de u m elemento dado n u m a língua. M a i s adiante iremos v e r como estas padro- nizações de ocorrência d e t e r m i n a m de u m modo m a r c a n t e o aprendizado de u m a segunda língua p o r nativos dessas línguas.
e. Contexto. O u posição de u m elemento dado é a pro- x i m i d a d e de outros elementos que estão e m relação c o m este elemento e m questão. I n d i c a ocorrência antes, o u depois, de determinados elementos e m relação c o m o elemento sob con- sideração. É, e m outras palavras, a contiguidade que sempre exerce certa influência sobre u m elemento e m questão. A s s i m , n a língua tolojabal (México), vemos que os elementos fôni- cos [ t ] e [ t h ] a p r e s e n t a m esta variação de traços fonéticos devido ao fato de estarem e m contextos fônicos mutuamente exclusivos, como podemos v e r através dos seguintes exemplos :
[ c h i t a m ] — p o r c o
[ m a k t o n ] — v e n d a ( d e o l h o s ) [ p o t o c h ] — n o m e de p l a n t a [ t i n a n ] — de p o n t a à cabeça
[ c h a t a t h ] — n o m e de p l a n t a [ m u t h ] — frango
[ n a h a t h ] — c o m p r i d o [ ? i n a t h ] — s e m e n t e
Onde vemos que o elemento fônico [ t ] está sempre segui- do de contexto vocálico, ao passo que o elemento fônico [ t h j está sempre seguido do contexto fônico [ 0 ] (silêncio). E m outras p a l a v r a s , poderíamos dizer que o elemento fônico [ t ] ocorre e m início e meio de palavras, ao passo que o elemento fônico [ t h ] somente ocorre e m f i m de p a l a v r a ( d i a n t e de u m a j u n t u r a ) . Pelo menos esta é a conclusão baseada no corpus a c i m a . É possível que c o m u m c o r p u s m a i o r tenhamos que m o d i f i c a r pelo menos e m parte a nossa conclusão.
Outro exemplo é o do dialeto bolonhês do i t a l i a n o . Há nessa língua os elementos fônicos 11], [ l y ] , [ lw] , [ l h ] . A acor- rência de c a d a u m desses elementos é condicionada por con- textos fônicos m u t u a m e n t e exclusivos, como podemos ver através do seguinte c o r p u s :
1. t r a g a s u l w ' ] — m e n i n a 2. [ v o : l w f ] — vezes 3. [ a c h k o : l w ' ] — chalé
4. l a l h - m i n ó m m ' ] — m e u n o m e 5. [ a l h - m i n u t : t ' l — o m i n u t o 6. [ a l h - m i d i a : t ' ] — i m e d i a t a m e n t e
7. [aly-iónt'] — o d e n t e 8. i a l - i u r a c h ' ] — a o r e l h a 9. [aly-ióra] — a h o r a
10. [ a v r i l : l ] — a b r i l 11. T frade :1] — irmão 12. [ f r a d e : 1 ] — irmãos 13. [ l i ] — e l a
14. [ l a t u : l w ' ] — ( ê l e ) pega 15. [ l u : s l — l u z
16. [ l o ] — êle 17. [ l e i — é
18. [ a t u l a n ] — ( n ó s ) p e g a m o s
Através dos exemplos a c i m a podemos v e r claramente co- m o o contexto exerce m a i o r ou menor influência sobre u m elemento dado. 1) Observamos que o contexto de ocorrência do elemento fônico [ 1 ] é somente quando precedido de vogais posteriores ( i t e n s 1, 2, 3 ) , e somente quando a vogal faz parte d a m e s m a sílaba; quando isto não se dá, i.e., quando a vogal precedente pertence à sílaba anterior, o elemento fônico e m
questão apresenta outros traços fonéticos, como podemos v e r pelas f o r m a s [ f a s u l a : t ' ]( t a - t u l a n ' ] , [ k u t u l a : t ' ] , onde a d i v i - são silábica é fa-su-la :t', a-tu-lan', k u - t u - l a :t'. 2 ) A ocorrência do elemento fônico [ l y ] se dá somente quando este é seguido do contexto vogal [ i ] (não silábica, o u e m ocorrência sonân- t i c a ) , ( i t e n s 7, 8, 9 ) . 3 ) A ocorrência do elemento fônico [ l h ] somente se dá quando seguido do contexto [ m ] , o q u a l pro- voca a variação, ( i t e n s 4, 5, 6 ) . 4 ) A ocorrência do elemento fônico [ 1 ] se dá 1º e m posição silábico-inicial, quando seguido de vogal e m ocorrência silábica; 2 " ) e m posição silábico-final quando precedido de vogal a n t e r i o r que pertença à m e s m a sílaba do elemento fônico e m questão ( i t e n s 10 a 1 8 ) . A i n - fluência do contexto é muitas vezes e x e r c i d a mesmo quando situados e m outras posições do vocábulo, que não a contingui- dade i m e d i a t a , como podemos v e r pelo seguinte c o r p u s d a língua t u r c a contemporânea:
1. [ b a s h i m l — m i n h a cabeça 2. l y a s h i m l — m i n h a i d a d e 3. [ k l z l m ] — m i n h a m e n i n a 4. I b a ü k l m ] — m e u peixe 5. [ k o l u m ] — m e u braço 6. [ k u s h u m ] — m e u pássaro 7. T d o s t u m ] — m e u a m i g o 8. f g u r u r u m ] — m e u o r g u l h o
9. [ d i s h i m ] — m e u dente 10. [ e v i m ] — m i n h a c a s a 11. [ e l i m ] — m i n h a mão 12. [ z i l i m ] — m e u s i n o
13. t g ü l ü m ] — m i n h a r o s a 14. [ g õ z ü m ] — m e u olho
15. [ s ü t ü m ] — m e u leite 16. [ g õ n ü l ü m ] — m e u coração.
Onde vemos que a ocorrência dos segmentos - i m , i m , -um, -üm, é d e t e r m i n a d a pelo segmento vocálico precedente:
se for [ a ] o u [ f ] o c o r r e H m ] ; se for [ e ] o u [f ] o c o r r e - i m ; se for [ o ] o u [ u ] o c o r r e - u m ; se for [ õ ] o u [ ü ] ocorre-üm. E s t e fato é geralmente denominado a r m o n i a vocálica t u r c a . Pelo que ficou exposto a c i m a podemos a q u i l a t a r a grande i m p o r - tância do contexto, i.e., do relacionamento exercido p o r u m elemento sobre outro quando e m contiguidade, o u mesmo e m outras posições. Resta-nos finalmente dizer que este fato l i n - güístico não deve ser entendido como u m a influência " n a t u - r a l " e x e r c i d a p o r u m elemento sobre outro, p. ex. por u m [ i ] sobre u m [ s ] precedente, tornando-o palatilizado, devido à articulação n o r m a l m e n t e palatal do elemento fônico [ i ] . I s t o
pode acontecer às vezes, m a s não é condição absoluta. O que parece " n a t u r a l " n u m a língua pode não o ser e m outra, e vice- v e r s a ; o u tome-se o mesmo exemplo do dialeto bolonhês, já citado, onde não há u m a explicação " n a t u r a l " articulatória
p a r a a ocorrência d a variante [ l h ] diante de contexto fônico L m ] . O fato importante é o relacionamento mútuo, e a restri- ção d a distribuição de u m elemento dado n u m a língua o u dia- leto.
f. F o n e m a . É u m dos conceitos m a i s importantes d a m o d e r n a lingüística d e s c r i t i v a . U m dos p r i m e i r o s passos p a r a a c l a r a compreensão do fato é entender o fonema como a mí- n i m a unidade de contraste. As enunciações m i n i m a m e n t e dife- rentes ( p a r e s mínimos), diferem e m apenas u m de seus ele- mentos (segmentos mínimos). E s t a s enunciações são segmen- tadas em unidades estruturalmente idênticas (porém não ne- cessariamente idênticas sob o ponto de v i s t a do " t e m p o " foné- t i c o ) . A s s i m , temos n a língua inglesa os seguintes itens léxi- cos :
1. pit [ p h i f ] 2 . b i t — [ b i t ' ] 3 . p a t — [ p a e t l 4. b a t — [ b a e t l 5. peat — [ p h i y t ' 1 6. b e a t — [ b i y t ' l 7. p i l l — [ p h i l ] 8. b i l l — [ b i l l 9. t i p — [ t h i p ' J 10. d i p — [ d i p ' ]
11. t o n — [ t h a n ] 12. done — [ d a n ]
13. t e a m [ t h i y m ] 14. d e e m — [ d i y m ] 15. t o w n — [ t h a w n ] 16. d o w n — [ d a w n ] 17. c u t — [ k h a f ]
18. gut — [ g a t ' l 19. c o m e — [ k h a m ] 20. g u m — [ g a m ] 21. c o l d — [ k h o w l d ' ] 22. gold [ g o w l d ' l 23. k i l t — [ k h i l f ] 24. guilt — [ g i l t ' ]
Onde vemos que os itens de número p a r e os itens de número ímpar se c o n t r a s t a m pela ausência, nos p r i m e i r o s , do traço acústico (fonético) d a sonorização das cordas vocais, e d a presença, nos segundos, desse traço. Os itens a c i m a são exemplos típicos de pares mínimos, c o m o traço fonético dife- renciador voz-sem voz.
Observemos, porém, m a i s os seguintes i t e n s :
25. top — [ t h o p ' ] 26. tap — [ t h a e p ' ] 27. t i c k — [ t h i k ] 28. tink — [ t h i n g k ] 29. pot — [ p h o t ' ] 30. pit — [ p h i f ]
37. t i c k — [ t h i k ' ] 38. t i n g — [ t h i n g ' ] 39. T o m — [ t h o r n ] 40. t i n — [ t h i n ] 41. p u r r — [ p a r ] 42. p i c k s — [ p h i k s ] 43. t i c k s — [ t h i k s ]
31. s t 6 p — [ s t o p ' ] 32. s t a p — [ s t a e p ' ] 33. stick — [ s t i k ' ] 34. s t i n k — [ s t i n g k ' ] 35. spot — [ s p 6 t ' ] 36. s p i t ' — [ s p i t ' ]
44. a t t i c — [ a e t i k ] 45. a c t i n g — [ a e k t i n g ] 46. a t o m — [ a e t a m ] 47. e a t e n — [ i y t a n ] 48. u p p e r — [ a p a r ] 49. s t i c k s — [ s t i k s ] 50. a t t i c s — [ a e t i k s ]
Onde vemos que há u m a identidade sob o ponto de v i s t a do " t e m p o " acústico, m a s não do ponto de v i s t a da padroni- zação fonética, entre os itens 25 e 3 1 ; 26 e 3 2 ; 28 e 3 4 ; 37 e 4 4 ; 39 e 4 6 ; 40 e 4 7 ; etc. Os itens [ s t i k ] , [ e ' t i k ' ] , [ t h i k ' ] , confron-
tados a i n d a c o m [ t h i k ] , [ p h i k s ] , [ s t i k s ] , áetiks, nos r e v e l a m que entre o segmento [ t h i k ' ] e o segmento [ s t i k ' ] como t a m - bém entre o segmento [ s t i k ' ] e o segmento [ e ' t i k ] , e e m ou- tros pares apresentados a c i m a , a mínima diferença é a pre-
sença de aspiração e m [ t h i k ' ] , [ t h i n k ' ] , etc., e ausência da mes- m a e m [ s t i k ' ] , [ s t i n k ' ] , etc. Observamos também que entre os segmentos [ s t i k ' ] e Ee' t i k ' ] as duas únicas diferenças são:
a presença, no i t e m [ s t i k ' ] do elemento fônico [ s ] , e a pre- sença, no i t e m [ e ' t i k ' ] do elemento fônico [ e ] ; que também
entre os segmentos [ p h i k ' ] e [ p h i k s ] , [ s t i k ' ] e [ s t i k s ] , [ t h i k ' ] e [ t h i k s ] , a mínima diferença é a presença, nos segun- dos, do elemento fônico [ s ] , o que nos l e v a a c o n c l u i r que a seqüência [ s t ] não é u m segmento mínimo, m a s formado de
[ s + t ] , e m v i s t a do corpus a c i m a . P o r outro lado, apesar do inglês apresentar também os i t e n s :
at [ a e f ] it [ i f ] ell [ e l ] o w l [ a u l ] e r r [ ã r ]
h a t [ h a e f ] h i t [ h i f ] h e l l [ h e i ] h o w l [ h a w l ] h e r [ h ã r ]
A distiibuição, e também o ponto de articulação dos dois traços fônicos ( o segmento h de [ h e t ' J e o segmento h de
[ p h a e t ' ] , são completamente diferentes, obrigando-nos a esta- belecer que stap = s + tap, e onde temos estruturalmente, no p r i m e i r o i t e m (tap), três segmentos, e no segundo i t e m (stap), quatro segmentos, enquadrando, portanto, o segmento [ t h l como e m tap e o segmento [ t ] como e m attic o u stap, como dois membros de u m a m e s m a classe, o u como dois pontos de u m mesmo padrão fônico, ou fonema. O fonema, sob este ponto de v i s t a é u m a mentalização o u ideação, u m a teorização necessária p a r a u m a simplificação d a descrição lingüística, pois, de outro modo permaneceríamos no nível puramente fo- nético e teríamos que estabelecer u m número m u i t o m a i o r de elementos mínimos, que poderia f a c i l i t a r a descrição de c a d a variante p a r t i c u l a r , impossibilitando porém, a visão de con- junto. E s t a sintetização de elementos tônicos é, e m última análise, a m a i s importante contribuição d a fonêmica à descri- ção lingüística.
São os seguintes os fatos fundamentais relativos aos fone- m a s sob o ponto de v i s t a d e s c r i t i v o :
1. segmentos mínimos ( c o n t r a s t e s )
2. identidade de " t e m p o " condicionado pelo padrão fo- nético.
3. distribuição complementar ( v a r i a n t e s p o s i c i o n a i s ) . g. Morfema. U m dos fatos fundamentais que a nossa observação assinala (depois de termos esgotado toda a seg- mentação e distribuição fonética de u m a língua d a d a ) , é que certas seqüências de fonemas r e c o r r e m e repetem-se e m cer- tos contextos ao longo das enunciações. Como podemos obser- var, p. ex.; através do seguinte corpus do alemão m o d e r n o :
m a c h e n fazer r i n g e n t o c a r gehen ir
l a c h e n r i r singen c a n t a r s e h e n v e r
w a c h e n v e l a r b r i n g e n t r a z e r s t e h e n e s t a r ( d e p é )
H a n d m ã o L i c h t luz W e i n v i n h o
L a n d t e r r a N i c h t noite B e i n p e r n a ' S a n d a r e i a W i c h t anão S e i n ser, e s t a i
Se tentarmos, dentro do mesmo nível de análise, desco- b r i r o condicionamento de certas alterações, verificamos p. ex., que c o m a alteração do contexto obtemos, não u m a alteração do fonema, m a s u m a alteração de todo o segmento de fone- m a s . Como podemos ver pelas seguintes enunciações:
1. E r w i r d d a s B u c h a u f m a c h e n 2. E r w i r d d a s B u c h a u f l a c h e n 3. E r w i r d a u f l a c h e n
4. E r i s s t d a s B r o t 5. E r m i s s t d a s B r o t
6. E r m i s s t d a s P u l t
Êle v a i a b r i r o l i v r o Êle v a i r i r o l i v r o Êle v a i d a r g a r g a l h a d a s Êle c o m e o pão
Êle sente falta d o pão Êle sente falta d a m e s a .
Onde observamos que enquanto a enunciação 1 é de acor- rência c o m u m , não se v e r i f i c a a ocorrência d a enunciação 2, e a 3, como a p r i m e i r a , é também de ocorrência freqüente. Fato semelhante se dá c o m as três enunciações seguintes. E n q u a n t o a 4 ' e a 6' são de ocorrência c o m u m , a 5^ poderia ocorrer so- mente e m circunstâncias m u i t o especiais. Podemos observar, pois, como já foi dito, que c o m a alteração do contexto Brot por Pult ( d u a s enunciações c o m u n s ) , obtemos, não simples- mente u m a alteração do fonema ( n a s formas isst e misst), m a s u m a alteração de toda a série de fonemas. Do mesmo modo, com a alteração do fonema, obtemos alteração de todo o con- texto ( p . e x ? : " E r w i r d das B u c h a u f m a c h e n " e " E r w i r d das B u c h a u f l a c h e n " ; o u " E r isst das B r o t " e " E r m i s s t das P u l t " ) . E s t e s fatos nos l e v a m a c o n c l u i r que temos que considerar esses p a r c i a i s recorrentes como unidades ou partes de u n i d a - des constituídas de u m a c e r t a seqüência de fonemas e perten- cendo a u m nível distinto de padronização, o nível morfêmico.
Os morfemas são, portanto, e m p r i m e i r o lugar, certos p a r c i a i s
recorrentes constituídos e m geral de u m a seqüência l i m i t a d a de elementos fônicos. E s s e s p a r c i a i s recorrentes ( o u p a r c i a i s mínimos) estão invariavelmente associados a u m sentido de- terminado (pois a alteração de u m desses elementos recorren- tes sempre i m p l i c a e m alteração de m e n s a g e m ) , e deste modo, são também definidos como os segmentos significativos míni- mos ( o u a mínima unidade c o m sentido).
U m dos procedimentos m a i s c o m u n s p a r a a identificação desses p a r c i a i s mínimos ou morfemas é v e r i f i c a r se u m a dada enunciação pode ser confrontada c o m outras e m seqüências fonêmicas idênticas, c o m exceção de apenas u m desses elemen- tos recorrentes. Como podemos v e r através das seguintes for- m a s do moderno dialeto asteca de V e r a c r u z ( M é x i c o ) :
1. n i c h o k a — e u c h o r o 2. n i c h o k a ? — e u c h o r e i 3. n i m a y a n a — e u e s t o u c o m
fome
4. n i m a y a n a ? — e u e s t a v a c o m f o m e
5. n i m a y a n a y a — e u tenho esta- do c o m f o m e
6. t i m a y a n a — você está c o m fome
7. n i m a y a n a s — e u e s t a r e i c o m f o m e
8. t i c h o k a — você c h o r a
9. n i c h o k a y a — e u tenho estado c o m f o m e
10. n i c h o k a s — e u c h o r a r e i 11. n i t e h k a w i — e u s u b o 12. n i t e h k a w i ? — você s u b i u .
O que temos a fazer é o seguinte:
1. C o m p a r a r f o r m a s e sentidos
2. Tendo isolado u m a possível f o r m a pertinente, con- f r o n t a r c o m os demais itens do corpus
3 . C l a s s i f i c a r as alterações e estabelecer as causas ( o condicionamento) das alterações.
Como podemos observar, os segmentos dos itens 1 e 2, 3 e 4, 11 e 12, diferem e m apenas u m ponto, o segmento - ? , e verificamos que a f o r m a v e r b a l m u d a de t e m p o ; do mesmo modo vemos que os itens 2 e 10, diferem e m apenas u m ponto, o segmento - s , e verificamos que a f o r m a v e r b a l também m u d a de t e m p o ; do mesmo modo vemos que os itens 1 e 8, 3 e 6, diferem e m apenas u m ponto, o segmento t i - ou ni-, e que esses segmentos i n d i c a m respectivamente mudança de p e s s o a ; etc.
Devido à exiguidade do corpus a c i m a , não podemos c o n c l u i r
definitivamente, m a s podemos estabelecer provisoriamente que a o c l u s i v a glotal ( ? ) está associada c o m a formação do passado dos v e r b o s ; a sibilante ( s ) está associada c o m a for- mação do futuro dos v e r b o s ; os segmentos n i - e t i - são pro- vàvelmente prefixos pessoais; e os segmentos coka, m a y a , teh- k a w i i n d i c a m respectivamente " c h o r a r " , " e s t a r c o m f o m e " , e
" s u b i r " .
Outro fato fundamental relativo a este nível de estrutura- ção é a o r d e m o u seqüência de posição dos respectivos seg- mentos recorrentes, u n s e m relação aos outros. C a d a u m dos segmentos recorrentes não t e m v a l o r absoluto, depende d a ocorrência c o m todos os demais elementos em u m a seqüência mandatória. É como o sistema de luzes do tráfego por meio das cores verde, amarelo, vermelho. Isolados, cada u m desses elementos não t e m v a l o r padronizado, são como farrapos de pano n u m fundo de quintal. Porém, n a seqüência verde-ama- relo-vermelho, e e m determinados pontos ( e s q u i n a s ) , trans- m i t e m sentido comunicativo. E m outros lugares, p. ex?, n u m a floresta, não t e r i a m sentido algum. O mesmo se dá c o m u língua, c o m a e s t r u t u r a morfêmica; o contexto de luzes é po- rém substituído pelos outros morfemas n u m a determinada ordem e c o m sentidos específicos e m situações específicas.
Como podemos observar c o m o seguinte corpus d a língua s u a - h i l i (África O r i e n t a l ) :
1. a t a n i p e n d a — êle gostará de m i m
2. a t a k u p e n d a — êle gostará de você
3. a t a m p e n d a — êle gostará dele
4. a t a t u p e n d a — êle gostará d e nós
5. a t a w a p e n d a — êle gostará deles
6. n i t a k u p e n d a — e u g o s t a r e i de você 7. n i t a m p e n d a — e u g o s t a r e i dele 8. n i t a w a p e n d a — e u g o s t a r e i deles 9. u t a n i p e n d a — você gostará de m i m
10. u t a m p e n d a — você gostará dele
11. t u t a m p e n d a — nós g o s t a r e m o s dele
12. w a t a m p e n d a — eles gostarão dele
13. a t a n i p i g a — êle m e baterá
14. a n a n i p i g a — êle está m e b a t e n d o 15. a m e n i p i g a — êle t e m m e b a t i d o 16. a l i n i p i g a — êle m e b a t e u 17. n i n a p i g a — e u e s t o u b a t e n d o 18. n i t a p i g a — e u b a t e r e i
19. n i l i p i g a —• e u b a t i
20. n i m e p i g a — e u t e n h o b a t i d o
R e s u m i n d o as conclusões baseadas nas confrontações dos vinte itens a c i m a , identificamos os seguintes segmentos perti- nentes : n l p r i m e i r a pessoa do singular, sujeito e objeto; u segunda pessoa do singular, s u j e i t o ; k u segunda pessoa do sin- gular, objeto; a t e r c e i r a pessoa do singular, s u j e i t o ; m tercei- r a pessoa do singular, objeto; tu p r i m e i r a pessoa do p l u r a l , sujeito e objeto; w a t e r c e i r a pessoa do p l u r a l , sujeito e objeto;
penda sentido de "gostar"; piga sentido de " b a t e r " . E s t e s vá- rios segmentos pertinentes ( o u significativos) o c u p a m posi- ções f i x a s; ou sucedem-se n u m a seqüência ordenada e m a n - datória. No co rp u s apresentado a c i m a , temos que assinalar quatro posições f u n d a m e n t a i s : d-c-b-a, onde "a" somente pode ser preenchido por segmentos da classe " a " , i.e., penda, piga;
a posição " b " somente pode ser preenchida por segmentos d a classe " b " , i.e., ni, ku, m, tu, w a ; a posição "c" somente pode ser preenchida por segmentos da classe " c " , i.e., ta, na, me, l i ; finalmente a posição " d " somente pode ser preenchida por elementos da classe " d " , i.e. ni, um, a, tu, wa. E s t a s quatro posições também i n d i c a m os seguintes sentidos básicos: " a "
significação fundamental da enunciação; " b " objeto; " c " tem- po da ação; " d " sujeito. E s t a é a seqüência mandatória e m formas verbais da língua suahili, c o m base no corpus a c i m a . Fato semelhante também é encontrado e m línguas euro- péias. Como podemos ver pelo seguinte corpus do l a t i m :
l a u d o l a u d a b a m l a u d a b o l a u d a s l a u d a b a s l a u d a b i s l a u d a t l a u d a b a t l a u d a b i t l a u d a m u s l a u d a b a m u s l a u d a b i m u s l a u d a t i s l a u d a b a t i s l a u d a b i t i s l a u d a n t l a u d a b a n t l a u d a b u n t
Onde vemos que os segmentos -o ou - m , - s , -t, -mus, -tis, -nt, são segmentos indicativos de p e s s o a ; que os segmentos -ba-, -bi-, -bu-, -b r , são segmentos indicativos de tempo ( b a * i m p e r f e i t o ; b, b i , b u = f u t u r o ) ; que o segmento - a - classifica o i t e m e m questão n u m a determinada classe, ( i . e . , p r i m e i r a conjugação); que o segmento laud- expressa a significação fundamental (i.e., sentido de " l o u v a r " ) . T e m o s , portanto, qua- t r o posições: a-b-c-d; a-b-d são de ocorrência mandatória, " c "
somente quando necessário. Como no outro exemplo, estas posições somente poderão ser preenchidas por elementos das
respectivas classes a-b-c-d. Pelo que já ficou exposto pode- mos também a f i r m a r que os segmentos significativos, as mí- n i m a s unidades desse nível de estruturação são também clas- ses de segmentos e que conferem ao conjunto certas caracte- rísticas comuns de significação. E s t a s classes identificadas a c i m a também são classificadas como 'categorias seletivas".
Outro fato fundamental c o m relação aos morfemas e m geral é a alternância ( o u variação) morfêmica. É fato seme- lhante à variação fonêmica. A s s i m , pois, os morfemas, como os fonemas, existem e m relação u n s c o m os outros, e de acor- do c o m o contexto, podem apresentar alternâncias descritiva- mente identificáveis e classificáveis e m vários tipos de acordo c o m o seu condicionamento. Como podemos observar pelo seguinte corpus do turco m o d e r n o :
1. a d a m — h o m e m 2. a d a m l a r — h o m e n s 3. b a s h — cabeça 4. b a s h l a r — cabeças 5. b a s h l m — m i n h a cabeça 6. b a s h l a r i m i z — n o s s a s cabeça
7. b a l i k i m — m e u peixe 8. b a l i k l a r — m e u s peixes 9. b a l i k l a r l m — m e u s peixes 10. chõller — desertos 11. d i s h i m — m e u dente 12. d i s h l e r — dentes 13. d o s t l a r — a m i g o s
14. d o s t u m u z — n o s s o a m i g o 15. e l — mão
16. e l i m — m i n h a mão 17. e l l e r — mãos
18. e l l e r i m — m i n h a s mãos 19. e l l e r i m i z — n o s s a s mãos 20. e l l e r i n i z — v o s s a s mãos 21. e v i m — m i n h a c a s a 22. gõnüllerimiz — n o s s o s co-
rações
23. gõnülüm — m e u coração 24. gõzlerim — m e u s olhos 25. gõzleriniz — v o s s o s olhos 26. gõzüm — m e u olho
27. g u r u r u n u z — v o s s o o r g u l h o 28. günler — d i a s
29. güller — r o s a s 30. gülüm — m i n h a r o s a
31. gülünüz — v o s s a s r o s a s 32. k a d i n l a r — m u l h e r e s 33. k i t a p — l i v r o 34. k i t a p i m — m e u l i v r o 35. k i t a a i m i z — n o s s o l v r o 36. k i t a p i m — s e u l i v r o
37. k i z l a r i m — m i n h a s m e n i n a s 38. k i z i m — m i n h a m e n i n a 39. k o l l a r l m i z — n o s s o s braços
40. k o l u m — m e u braço 41. k u s h l a r — pássaros
42. k u s h l a r i m — m e u s pássaros 43 k u s h u m — m e u pássaro
44. p u l u m — m e u selo ( d e Cor- r e i o )
45. p u l l a r l m — m e u s selos 46. s e s i m — m i n h a v o z 47. s e s l e r i n i z — v o s s a s vozes 48. süt — leite
49. sütüm — m e u leite 50. siitünüz — v o s s o leite 51. y a s h —> i d a d e
52. y a s h l n — s u a idade 53. y a s h i m — m i n h a idade
54. yüzüm — m e u r o s t o 55. yüzün — s e u rosto
56. y u z l e r i m i z — nossos r o s t o s 57. z i l i m — m e u sino
58. z i l i n — s e u s i n o 59. z i l l e r — s i n o s 60. z i l l e r i n — seus s i n o s
C o m base no c o r p u s a c i m a , vemos que nessa língua u m a das características fundamentais d a morfologia é a ocorrência de seqüências regulares de específicas classes de segmentos significativos ( o u m o r f e m a s ) . Observamos, através dos exem- plos a c i m a a ocorrência de três posições que c h a m a r e m o s de posições a-b-c, posições essas que somente poderão ser pre- enchidas p o r segmentos das respectivas classes " a " , " b " , " c " ; sendo que a classe " c " pode i n d i c a r c1 + c2, o u simplesmente c1, m a s n u n c a somente c2, como podemos v e r pelos seguintes
gõnül-ler-im-iz ( 2 2 ) a-b-ci-cs
el-ler-im ( 1 8 ) a-b-c1
ses-ler-in-iz ( 4 7 ) a-b-ci-c2
a d a m - l a r ( 2 ) a-b
b a s h f m a - c1
goz-üm ( 2 6 ) a - c1
Outro fato i m p o r t a n t e p a r a u m a c l a r a compreensão do m e c a n i s m o de alternância morfêmica é a dicotomia das vo- gais e m dois grupos distintos : 1. anteriores — i , e, õ, ü ; 2. pos- teriores — i , a, o, u . E s t a divisão é m u i t o importante porque há u m a série de relacionamentos mútuos entre as vogais dos segmentos d a classe " a " e as vogais dos segmentos das demais classes. 0 contexto condicionante é s e m p r e a última vogal dos segmentos d a classe "a" Q U E d e t e r m i n a que vogais ocorrerão nos segmentos d a classe " c " , quando não há ocorrência de seg- mentos d a classe " b " . Porém, quando há ocorrência de seg- mentos d a classe " b " , é a vogal destes que d e t e r m i n a a ocor- rência das vogais dos segmentos d a classe " c " .
A ) Quando não há ocorrência de segmentos d a clas- se " b " .
1. Quando a última vogal dos segmentos d a classe "a"
fôr anterior ( i , e, õ, ü ) , as vogais dos segmentos d a classe " c "
também serão anteriores, sendo que se a vogal fôr arredonda- d a no segmento d a classe "a" também serão arredondadas nos segmentos d a classe " c " . P. e x . :
e v - i m d i s - i m e l - i m
s e s - i m z i l - i m z i l - i n
gonül-üm gõz-üm gül-üm gül-ün-üz süt-ün-üz yüz-üm
2. Quando a última vogal dos segmentos d a classe "a"
fôr posterior ( i , a, o, u ) , as vogais dos segmentos d a classe
" c " também serão posteriores, sendo que se a vogal fôr arre- dondada no segmento d a classe "a" também serão arredonda- das nos segmentos d a classe "c". P. e x . .
b a l i k - i m b a s h - : i m kis-ím k i t a p - i m y a s h - i n
k o l - u m p u l - u m k u s - u m gurur-un-uz dost-um-uz
B ) Quando há ocorrência de segmentos d a classe " b " : 1. F u n c i o n a o m e s m o princípio exposto nos itens A - l e A-2, entretanto há apenas u m a f o r m a e m vez de d u a s ; quan- do a última vogal dos segmentos d a classe "a" fôr a n t e r i o r ( i , e, ö, ü ) a vogal dos segmentos d a classe " b " será também ante- r i o r ( f o r m a l e r ) ; quando a última vogal dos segmentos d a classe "a" fôr posterior ( i , a, o, u ) , a vogal dos segmentos d a classe " b " será também posterior ( f o r m a l a r ) . P. e x . :
dis-ler el-ler gün-ler göz-ler-im zil-ler
a d a m - l a r b a l i k - l a r koLlar-ím-íz dost-lar p u l - l a r - i m
2. F u n c i o n a o mesmo princípio exposto nos itens A - l e A-2, entretanto, quando houver ocorrência de segmentos d a classe "c" precedidos p o r segmentos d a classe " b " , a vogal condicionante será a dos segmentos d a classe " b " . P. e x . :
el-ler-im-iz göz-ler-in-iz ses-Ier-in-iz zil-ler-in yüz-ler-im-iz
b a s h - l a r - i m - i z kol-Iar-im-iz k u s - l a r - i m kíz-lar-im
p u l j a r - i m
Pelo que foi já exposto, vemos c l a r a m e n t e que a causa dessas alternâncias morfêmicas d a língua t u r c a está e m con- textos fonêmicos. O u em outras p a l a v r a s : as variações morfê- micas são fonêmicamente condicionadas e também obedecem ao princípio da distribuição c o m p l e m e n t a r ; onde u m a v a r i a n t e ocorre, os outros não ocorrem, e vice-versa. U m a vez estabe- lecidos os elementos e os contextos condicionantes, as v a r i a - ções poderão ser previstas p o r meio de regras que e x p r e s s a m essas regularidades. E s t e tipo de variação é geralmente des- c r i t a como variação morfo-fonêmica, e geralmente correspon- de às chamadas regularidades ( c o m o é o caso dos verbos re- gulares, p l u r a i s regulares, das línguas européias) das alter- nâncias morfêmicas.
Há, porém, u m outro tipo de variação morfêmica. Consi- deremos p a r a análise o seguinte corpus d a língua s u a h i l i :
1. m t o t o — criança w a t o t o — crianças 2. m t u — p e s s o a w a t u — p e s s o a s , gente 3. m p i s h i — c o z i n h e i r o w a p i s h i — c o z i n h e i r o s 4. m s w a h i l i — h o m e m s u a h i l i w a s w a h i l i — h o m e n s s u a h i l i s 5. m s h a l e — flexa m i s h a l e — flexas
6. m t i — árvore miti-árvores
7. m z i g o — c a r g a m i z i g o — c a r g a s 8. m k u f u — c o r r e n t e m i k u f u — c o r r e n t e s 9. mtego — a r m a d i l h a mitego — a r m a d i l a s 10. n g o m a — t a m b o r n g o m a — t a m b o r e s 11. ngao — e s c u d o n g a o — e s c u d o s 12. n d i z i — b a n a n a n d i z i — b a n a n a s 13. ndoto — s o n h o n d t o — s o n h o s 14. m b o g a — v e g e t a l m b o g a — vegetais 15. m b u — m o s q u i t o m b u — m o s q u i t o s 16. k ^ u k u — frango khu k u — frangos 17. kha m b a — c o r d a kha m b a — c o r d a s 18. t^embo — elefante the m b o — elefantes 19. phe m b e — c h i f r e phe m b e — c h i f r e s
20. nzige — gafanhoto nzige — gafanhoto
21. s a f a r i — v i a g e m s a f a r i — v i a g e n s
22. s i m b a — leão s i m b a — leões
E x a m i n a n d o o corpus a c i m a notamos que é constituído de itens dispostos e m duas colunas, respectivamente singular e p l u r a l . Observamos também que a grande m a i o r i a dos itens é f o r m a d a de dois segmentos e m duas posições de ocorrência, que podemos designar por posições b-a. P. e x . :
23. fiumba — c a s a n u m b a — c a s a s 24. f i u k i — a b e l h a fiuki — a b e l a s 25. k i k a p u — c e s t o v i k a p u — cestos 26. k i s u — f a c a v i s u — facas 27. k i t a b u — l i v r o v i t a b u — l i v r o s 28. k i p i n i — c a b o v i p i n i — c a b o s 29. k i t i — b a n c o v i t i — b a n c o s
30. k i t o t o — bebê vitoto — bebês
31. g a r i — carroça m a g a r i — carroças 32. s h o k a — m a c h a d o m a s h o k a — m a c h a d o s 33. k a s h a — armário m a k a s h a — armários 34. j e m b e — e n x a d a m a j e m b e — e n x a d a s 35. b o g a — abóboras m a b o g a — abóboras 36. u b a o — p r a n c a m b a o — p r a n c h a s 37. u b a w a — a s a m b a w a — a s a s 38. u d e v u — c a b e l o n d e v u — c a b e l o s 39. u g w e — b a r b a n t e n g w e — b a s b a n t e s 40. u w a n d a — c l a r e i r a m b a n d a — c l a r e e i r a s 41. ufagio — v a s s o u r a fagio — v a s s o u r a s 42. ufunguo — c h a v e funguo — c h a v e s 43. u v u m b i — u m p o u c o de poei-
r a v u m b i — m u i t a p o e i r a
44. u s i k u — noite s i k u — n o i t e s
45. u s h a n g a — c o n t a de c o l a r s h a n g a — c o n t a s de c o l a r 46. w a k a t i — estação ( d o a n o ) fiakati — estações ( d o a n o )
47. w a v u — r e d e fiavu — redes
48. w a y o — p e g a d a fiayo — pegadas 49. w e m b e — n a v a l h a fiembe — n a v a l h a s 50. w i m b o — canção n i m b o — canções
b
—
a b — am — toto w a — toto
m — t u w a — t u
k i — k a p u v i — k a p u k i — p i n i v i — p i n i
w — a v u n — a v u
w — i m b o fi — i m b o
Tentando descobrir u m condicionamento p a r a as a l t e r a - ções observadas, por m a i s que procuremos causas fonêmicas p a r a as várias alterações, não há o menor indício de r e g u l a r i - dade nessas alterações. O único fato que podemos estabele- cer é, como já foi dito, (de acordo c o m os procedimentos pro- postos à página 180) classificar os itens e m várias classes condicionados pelo mesmo procedimento de alternância.
T e m o s , portanto, os seguintes g r u p o s :
Classe I — itens c o m segmentos da classe " b " c o m a for- m a m - no s i n g u l a r e c o m a f o r m a w a - no p l u r a l . P. e x . :
b — a m — toto m — p i s h i m — t u
b — a w a — toto w a — p i s h i w a — t u
Classe I I — itens c o m segmentos da classe " b " c o m a for- m a m- no s i n g u l a r e c o m a f o r m a m i - no p l u r a l . P. ex. :
b — a m — s h a l e m — t i m — zigo
b — a m i — s h a l e m i — t i m i — zigo
Classe I I I — itens c o m segmentos d a classe " b " c o m a f o r m a k i - no s i n g u l a r e c o m a f o r m a v i - no p l u r a l . P. e x . :
b — a k i — k a p u k i — s u k i — t i
b — a v i — k a p u v i — s u v i — ti
Classe I V — itens c o m segmentos da classe " b " c o m as f o r m a s u - * w - no singular e c o m as f o r m a s m - n- ã ^ no p l u - r a l . P. ex. :
b — a b — a
u — bao m — b a o
u — b a w a m — b a w a
u — d e v u n — d e v u
u — gwe n — gwe
w — a k a t i fi — a k a t i
w — i m b o n — i m b o
Classe V — itens com segmentos d a classe " b " c o m a for- m a u - no singular e c o m a f o r m a 0 no p l u r a l . P. e x . :
b
—
a b — au — v u m b i 0 — v u m b i u — s i k u 0 — s i k u u — s h a n g a 0 — s h a n g a
Classe V I — itens c o m segmentos d a classe " b " c o m a for- m a 0 - no singular e c o m a f o r m a m a - no p l u r a l . P ex. :
b — a b — a
0 — gar i m a — g a r i 0 — s o k a m a — s o k a 0 — j e m b e m a — j e m b e
Classe V I I — itens c o m segmentos da classe " b " c o m a f o r m a 0 - tanto no singular como no p l u r a l . P. e x . :
b — a b — a
0 — n g o m a o — n g o m a 0 — the m b o o — the m b o 0 — n u m b a 0 — f i u m b a
E s t a s sete classes constituem sete procedimentos diferen- tes de alternância morfêmica (formação do p l u r a l dos n o m e s ) ,